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O capítulo II do livro Justiça Restaurativa e Emergência da Cidadania da Dicção do

Direito: a construção de um novo paradigma de justiça criminal, da escritora Raquel


Tiveron, trata da questão da prisão como fator criminógeno e da morte dos ideais de
ressocialização.

A autora inicia o capítulo destacando o fato de que a prisão é um fenômeno


relativamente recente na história da humanidade. Até o século XVIII, a punição mais
comum para os crimes era a pena corporal, como açoitamento, mutilação ou morte. A
prisão, por sua vez, era usada apenas para casos de alta periculosidade ou para proteger
a sociedade de criminosos perigosos.

No século XIX, a prisão passou a ser usada de forma mais generalizada, como forma de
controlar a criminalidade crescente. Nesse período, o sistema penal foi baseado na ideia
de retribuição, ou seja, o criminoso deveria sofrer uma pena proporcional ao crime que
cometeu. A prisão, portanto, era vista como uma forma de punir o criminoso e de
dissuadir outros de cometer crimes.

No século XX, o sistema penal passou a ser baseado na ideia de prevenção, ou seja, o
objetivo do sistema penal é prevenir que os crimes aconteçam. Nesse período, a prisão
passou a ser usada de forma mais intensiva, como forma de incapacitar os criminosos
de cometer crimes e de proteger a sociedade.

A autora argumenta que a prisão não é eficaz na prevenção do crime. Pelo contrário, a
prisão pode até mesmo aumentar o risco de reincidência. Isso ocorre porque a prisão é
um ambiente de violência e de privação de liberdade, que pode levar os presos a se
envolverem em mais crimes quando saírem da prisão.

A autora também argumenta que a prisão é um fator criminógeno. Isso ocorre porque
a prisão pode levar os presos a se envolverem em atividades criminais dentro da prisão,
como o tráfico de drogas e o contrabando de armas. Além disso, a prisão pode levar os
presos a desenvolverem problemas de saúde mental e de dependência química, que
podem torná-los mais propensos a cometer crimes quando saírem da prisão.

A autora conclui o capítulo argumentando que a prisão não é uma solução para o
problema da criminalidade. Pelo contrário, a prisão é um problema social que precisa
ser resolvido. A autora defende a adoção de políticas públicas que promovam a justiça
restaurativa, como a mediação, a conciliação e a negociação, como alternativas à prisão.

A seguir, estão alguns dos subtítulos do capítulo II e uma breve análise de cada um:

 A prisão como um fator criminógeno


A prisão é um ambiente de violência e de privação de liberdade, que pode levar os
presos a se envolverem em mais crimes quando saírem da prisão.

A prisão é um ambiente de violência e de privação de liberdade, que pode levar os


presos a se envolverem em mais crimes quando saírem da prisão. Isso ocorre porque a
prisão é um ambiente onde as pessoas estão constantemente expostas à violência e à
criminalidade. Além disso, a prisão pode levar os presos a desenvolverem problemas de
saúde mental e de dependência química, que podem torná-los mais propensos a
cometer crimes quando saírem da prisão.

Um estudo realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2019 mostrou que 40%
dos presos no Brasil têm algum tipo de transtorno mental. O mesmo estudo mostrou
que 22% dos presos são dependentes de drogas. Esses problemas de saúde mental e de
dependência química podem ser agravados pelo ambiente prisional, o que torna os
presos mais propensos a cometer crimes quando saírem da prisão.

 A morte dos ideais de ressocialização


A prisão não é eficaz na ressocialização dos presos. Pelo contrário, a prisão pode levar
os presos a se envolverem em atividades criminais dentro da prisão, como o tráfico de
drogas e o contrabando de armas. Além disso, a prisão pode levar os presos a
desenvolverem problemas de saúde mental e de dependência química, que podem
torná-los mais propensos a cometer crimes quando saírem da prisão.

A prisão não é eficaz na ressocialização dos presos. Pelo contrário, a prisão pode levar
os presos a se envolverem em atividades criminais dentro da prisão, como o tráfico de
drogas e o contrabando de armas. Além disso, a prisão pode levar os presos a
desenvolverem problemas de saúde mental e de dependência química, que podem
torná-los mais propensos a cometer crimes quando saírem da prisão.
Um estudo realizado pela Universidade de Cambridge em 2016 mostrou que a prisão
tem um impacto negativo na reincidência criminal. O estudo mostrou que os presos que
são condenados a penas de prisão têm uma probabilidade 20% maior de serem
recondenados do que os presos que são condenados a penas alternativas, como a
liberdade condicional.

 A realidade carcerária

A perversidade no cumprimento da pena faz com que o ofensor se torne, uma nova
vítima, pois, a resposta à violência, é outro tipo de violência, a estatal. O sistema penal
acaba por endurecer o condenado, jogando-o contra a ‘ordem social’.

ZAFFARONI cita alguns problemas humanos do recluso:

- Insegurança
- Embrutecimento
- Solidão
- Ociosidade
- Abando da família
- Desajuste sexual
“Síndrome de vitimização do cárcere” – o condenado tende a sentir credor da sociedade.

A pena de prisão em certa medida, fomenta a exclusão e o crime, estigmatizando o


condenado, incentivando a “aprendizagem da prática criminosa”.

Desvantagens do cárcere:

1- Utilitária – custo de construção e manutenção de sua estrutura administrativa.


2- Moral – a prisão seria puro castigo.
3- Social – não desempenha seu papel ressocializador.

Nesses moldes a prisão é mais do que forma abstrata de liberdade, pois, ela tem
momentos de aflição física e psicológica. Esse cenário é gerador da reincidência,
desmoronando a ideia de ressocialização.

 O Brasil possui uma das maiores populações carcerárias do mundo, com mais de 700 mil
pessoas presas.

 As prisões brasileiras estão superlotadas, com uma taxa de ocupação média de 170%.
 As condições de higiene e segurança nas prisões são precárias.

 O pessimismo do Nothing Works

A teoria nothing works, ou "nada funciona", é uma teoria criminológica que defende que
a prisão não é eficaz na prevenção do crime. Essa teoria é baseada em pesquisas que
demonstraram que a prisão não tem um efeito dissuasório sobre a criminalidade.

Os principais argumentos da teoria nothing works são os seguintes:

 A prisão não é um tratamento eficaz para a criminalidade.

 As prisões são ambientes violentos e destrutivos, que podem levar à reincidência.

 A prisão não aborda as causas da criminalidade, como a pobreza, a desigualdade social


e a falta de oportunidades.

A teoria nothing works ganhou força nos anos 1970, quando um grupo de pesquisadores
americanos, liderados por Robert Martinson, publicou uma série de estudos que não
encontraram evidências de que a prisão fosse eficaz na redução da criminalidade.

Esses estudos foram amplamente divulgados pela mídia e tiveram um impacto


significativo no debate sobre a pena de prisão. Eles contribuíram para a queda do
consenso sobre a eficácia da prisão e para o crescimento do movimento pela reforma
do sistema carcerário.

A ideia de Robert Martinson com essa pesquisa era obter o esvaziamento das prisões,
entretanto, o efeito foi contrário. O sistema carcerário Norte Americano, entendeu que
se nada funciona e não se pode ressocializar, então serão aplicadas penas mais duras
para neutralizar o infrator.

Crítica ao nothing works – destruição da construção do pensamento criminológico, uma


vez que houve uma concentração maior no que não funciona do que na construção do
conhecimento.

 O endurecimento via pena de morte


A pena de morte é uma punição cruel, desumana e degradante que viola o direito à vida,
um direito fundamental de todos os seres humanos. Ela é, portanto, incompatível com
os princípios de justiça e decência.

A pena de morte é cruel porque implica a privação arbitrária da vida de uma pessoa. A
vida é um direito inalienável e intransferível que não pode ser tirado por ninguém,
mesmo pelo Estado. A pena de morte é também desumana porque causa sofrimento
físico e emocional intenso ao condenado. O processo de execução, seja por injeção letal,
cadeira elétrica ou outro método, é sempre doloroso e degradante.

Além disso, a pena de morte é frequentemente aplicada de forma discriminatória.


Estudos mostram que os negros e os pobres são mais propensos a serem condenados à
pena de morte do que os brancos e os ricos. Isso ocorre porque o sistema de justiça
criminal é falido e perpetua as desigualdades sociais.

A pena de morte também não é eficaz na redução da criminalidade. Estudos mostram


que não há evidências de que a pena de morte seja mais eficaz do que penas alternativas
na prevenção do crime. Na verdade, alguns estudos sugerem que a pena de morte pode
até mesmo aumentar a criminalidade.

Por todas essas razões, a pena de morte é uma punição que deve ser abolida em todos
os países. Ela é um anacronismo que não tem lugar em uma sociedade civilizada.

Aqui estão alguns argumentos específicos contra a pena de morte:

 A pena de morte é irreversível. Se um inocente for condenado à morte, não há como


corrigir o erro.

 A pena de morte não é um dissuasor eficaz do crime. Não há evidências de que ela leve
as pessoas a cometerem menos crimes.

 A pena de morte é cara. O custo de executar um condenado é muito maior do que o


custo de mantê-lo na prisão por toda a vida.

 A pena de morte é cruel e desumana. Ela causa sofrimento físico e emocional intenso
ao condenado.

 A pena de morte é aplicada de forma discriminatória. Os negros e os pobres são mais


propensos a serem condenados à pena de morte do que os brancos e os ricos.
A abolição da pena de morte é um passo importante para a construção de uma
sociedade mais justa e humana.

 Just deserts

A teoria do just deserts (no sentido de “apenas o merecido”) defende que a punição
deve ser proporcional à gravidade da infração cometida. Assim como o nothing works
de Robert Martinson, os princípios retributivos do just deserts influenciaram a retirada
da ideia de reabilitação do modelo americano (VON HIRSCHI, 1985, p. 19- 26).

Os defensores desta filosofia enfatizam:

- A importância do devido processo legal

- Sentenças com prazos determinados

- Remoção da discricionariedade judicial no momento de sentenciar.

Ao contrário das correntes preocupadas em prevenir futuras infrações (como a


dissuasão, a reabilitação ou a incapacitação), a vertente retributiva se importa com a
punição dos crimes já cometidos (quia peccatum).

O modelo do just deserts passa a ser aplicado de forma diversa da inicialmente


pretendida, de modo a alterar o foco da proporcionalidade para a aplicação de castigos
mais severos e sentenças mais longas (nos moldes da tree strikes law), tornando as
sentenças desproporcionalmente graves.

O tratamento igualitário para crimes semelhantes, não leva em conta fatores estruturais
e econômicos, tais como a pobreza.

Algumas das principais críticas incluem:

- Falta de Contexto e Circunstâncias Mitigantes: O sistema penal baseado no just


deserts muitas vezes desconsidera os fatores atenuantes que podem ter influenciado o
comportamento criminoso de uma pessoa. Traumas passados, condições mentais, falta
de oportunidades e outros elementos contextuais podem não ser devidamente
considerados ao determinar as punições, resultando em sentenças desproporcionais.
- Desigualdade e Discriminação: A aplicação rígida do conceito de just deserts pode
exacerbar as disparidades existentes no sistema penal. Minorias étnicas, pessoas de
baixa renda e outros grupos marginalizados são frequentemente afetados de maneira
desproporcional. O sistema penal já demonstrou tendências discriminatórias, e aderir
rigidamente ao just deserts pode agravar essas disparidades.

- Falta de Flexibilidade: Um sistema penal baseado na just deserts pode não permitir
ajustes adequados às circunstâncias individuais. Isso pode levar a situações em que
penas mínimas obrigatórias são aplicadas indiscriminadamente, mesmo quando casos
específicos exigiriam soluções mais justas e eficazes.

- Ênfase na Punição em Detrimento da Reabilitação: O foco na retribuição e punição


em detrimento da reabilitação pode perpetuar um ciclo de reincidência. Se o sistema
penal não abordar as causas subjacentes do comportamento criminoso e não oferecer
oportunidades de reabilitação, a sociedade pode enfrentar um aumento contínuo de
crimes.

- Perpetuação de Vingança em Vez de Justiça: A busca pela just deserts pode, em alguns
casos, se transformar em uma busca por vingança. Isso não só prejudica o indivíduo
condenado, mas também não contribui para a construção de uma sociedade mais
segura e coesa.

Em última análise, a aplicação cega e inflexível do conceito de just deserts no sistema


penal pode resultar em consequências prejudiciais para a sociedade como um todo. Um
sistema de justiça verdadeiramente eficaz deve equilibrar a retribuição com a
reabilitação, a equidade e a preocupação com as circunstâncias individuais e sistêmicas
que contribuem para o comportamento criminoso.

Teorias como o just deserts — que em tese poderiam garantir um sistema justo e
imparcial de justiça por meio da aplicação dos princípios de coerência e de
proporcionalidade — necessitam ser cuidadosamente equilibradas com outras mais
flexíveis, como a justiça restaurativa, que permitam a consideração de circunstâncias
individuais e do impacto das desigualdades estruturais, tanto no comportamento
ofensivo quanto no processo de criminalização (BARTON, A., 2004, p. 2).
 Poderia a pena de prisão ser abolida?

“Apesar do seu fracasso, a prisão não desaparece. Por quê?”.

“(...)a prisão se mantém porque introduz um elemento no seu autor: o estigma,


representado pelos antecedentes penais do ofensor. A prisão não pretenderia, assim,
acabar com o cometimento de infrações penais, mas distinguir umas das outras,
definindo a “verdadeira delinquência”.” CORRESPONDE AO ETIQUETAMENTO.

O medo da impunidade faz com que “A população desesperada, totalmente incrédula


[…] pede o irracional (pena de morte), o inconstitucional (prisão perpétua), o absurdo
(agravamento de penas, mais rigor na execução) e o aberrante (diminuição da
maioridade penal)”.

 Luisa de Marillac Passos e Maria Aparecida Penso (2009, p. 80 e 89) acrescentam


que, em geral, a sociedade não consegue perceber uma alternativa de punição
que não seja a prisão. Caso adote outros meios de resolução de conflitos, o
sistema de justiça criminal é visto como ineficiente e promotor da impunidade.

Maíra Rocha Machado atribui parte da responsabilidade por essa desinformação pública
aos próprios operadores do direito, que poderiam valer-se de oportunidades em que
estão em evidência para esclarecer à população sobre meios alternativos e mais eficazes
que a prisão.

Thomas Mathiesen arrisca uma conclusão:

Devemos, então, concluir que a abolição das prisões é “um sonho


impossível”? À primeira vista, parece que sim. No mínimo, o
presente e o futuro imediato parecem sombrios. O clima político
favorece enormemente a prisão; realmente, o clima político
aprova o ressurgimento de algo tão medieval quanto a sentença
de morte. Hoje em dia, nos Estados Unidos, não existe mais o
político manifestando-se contra a sentença de morte. A ordem do
dia é: “três vaciladas e você está fora (MATHIESEN, 2003, p. 81-
82).
Em conclusão, pode-se afirmar que, se no atual estágio ainda não podemos prescindir
das prisões, a pena privativa de liberdade deve ser deixada como um último e extremo
recurso, visto que ela evidencia, de forma cada vez mais inequívoca, o seu esgotamento
histórico sem cumprir as promessas de retribuição e de “ressocialização” com um
mínimo de humanidade ou plausibilidade.

García-Pablos de Molina (2012, p. 437) comenta o potencial rejuvenescedor da justiça


restaurativa como alternativa à crise ora identificada: “Representam ou parecem
representar a nova seiva rejuvenescedora do sistema, capaz de apresentar, com seu
discurso positivo e otimista, alternativas válidas ao niilismo do nothing works que
caracteriza o referido sistema.”

Um estudo realizado pela Universidade de Toronto em 2018 mostrou que a justiça


restaurativa é mais eficaz na prevenção do crime do que a prisão. O estudo mostrou que
os jovens que participam de programas de justiça restaurativa têm uma probabilidade
40% menor de serem recondenados do que os jovens que não participam de programas
de justiça restaurativa.

A justiça restaurativa é uma alternativa promissora para o problema da criminalidade.


Ela é mais eficaz na prevenção do crime do que a prisão e ela busca reparar o dano
causado pelo crime, em vez de punir o criminoso. A justiça restaurativa é uma solução
que merece ser mais amplamente adotada.

“Não precisamos de um Direito Penal melhor, mas de algo melhor do que o Direito
Penal”.

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