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ATUALIZAÇÃO

INFORMATIVOS

STF / STJ

COMENTADOS

RESUMIDOS

Setembro/2020

Atualização – Informativos STF e STJ


Olá, gente!

Estes são os julgados referentes


ao ano de 2020 que eu extraí do
site Dizer o Direito a fim de
atualizar os estudos de vocês com
os informativos do STF e do STJ
ainda não contemplados no Vade
Mecum de Jurisprudência mais
recente.

Bons estudos!

Gustavo @diaskershaw

Atualização – Informativos STF e STJ


DIREITO ADMINISTRATIVO

• SERVIDORES PÚBLICOS
Constitucionalidade do art. 40, § 18 da CF/88 e do art. 9º da EC
41/2003
É constitucional o art. 40, § 18, da CF/88, incluído pela EC 41/2003:
Art. 40 (...) § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de
aposentadorias e pensões concedidas pelo regime de que trata este
artigo que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios
do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, com
percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de
cargos efetivos. Também é constitucional o art. 9º da EC 41/2003:
Art. 9º Aplica-se o disposto no art. 17 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias aos vencimentos, remunerações e
subsídios dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes
políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais
ou de qualquer outra natureza.
STF. Plenário. ADI 3133/DF, ADI 3143/DF e ADI 3184/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2020 (Info 983).
• RESSARCIMENTO AO ERÁRIO
É prescritível a pretensão de ressarcimento ao erário fundada em
decisão do Tribunal de Contas.
Importante!!!
STF. Plenário. RE 636886/AL, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 899) (Info 983 – clipping).

• SERVIDORES PÚBLICOS
Servidor público municipal, que se aposenta pelo INSS (em razão de
o Município não ter RPPS), é afastado do cargo pelo fato de a
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aposentadoria ser hipótese de vacância, não podendo ser reintegrado
para ficar recebendo, simultaneamente, a aposentadoria e os
proventos.
Servidor público municipal (geralmente, de pequenas cidades do
interior do Brasil) apresenta requerimento de aposentadoria. O
Município não dispõe de regime próprio de previdência social. Logo a
aposentadoria é solicitada perante o INSS. O Estatuto dos Servidores
do Município prevê que a aposentadoria constitui hipótese de
vacância do cargo público. Afastado do cargo, o servidor ajuíza ação
buscando voltar aos quadros do Município, acumulando os
vencimentos do cargo público com os proventos do RGPS. Esse
pedido deve ser acolhido?
NÃO. A legislação dispõe que a aposentadoria é causa de vacância do
cargo público, o que determina o afastamento do servidor dos
quadros da Administração.
O acesso a cargos públicos rege-se pela Constituição Federal e pela
legislação de cada unidade federativa. Se o legislador estabeleceu
que a aposentadoria é causa de vacância, o servidor não pode, sem
prestar novo concurso público, ser reintegrado ao mesmo cargo
depois de se aposentar.
Além disso, a acumulação de proventos e vencimentos somente é
permitida quando se tratar de cargos, funções ou empregos
acumuláveis na atividade, na forma permitida pela Constituição.
STF. 1ª Turma. ARE 1234192 AgR/PR e ARE 1250903 AgR/PR, rel.
orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgados em 16/6/2020 (Info 982).
• SERVIÇOS PÚBLICOS
Em regra, é imprescindível prévia licitação para a concessão ou
permissão da exploração de serviços de transporte coletivo de
passageiros.
Salvo situações excepcionais, devidamente comprovadas, o
implemento de transporte público coletivo pressupõe prévia licitação.
STF. Plenário. RE 1001104, Rel. Marco Aurélio, julgado em
15/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 854) (Info 982 – clipping).

• ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

Nomeação de dirigentes e desnecessidade de prévia aprovação da ALE.

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Atualize o Info 755-STF

É inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição


e aprovação da Assembleia Legislativa para que o Governador do Estado
nomeie os dirigentes das autarquias e fundações públicas, os presidentes
das empresas de economia mista e assemelhados, os interventores de
Municípios, bem como os titulares da Defensoria Pública e da
ProcuradoriaGeral do Estado.

STF. Plenário. ADI 2167/RR, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/6/2020 (Info 980).

• RESPONSABILIZAÇÃO DE AGENTES PÚBLICOS


Análise da constitucionalidade da MP 966/2020, que dispõe sobre a
responsabilização de agentes públicos por atos relacionados com a
pandemia da covid-19.
Importante!!!
Covid-19
A MP 966/2020, que dispõe sobre a responsabilização de agentes
públicos por ação e omissão em atos relacionados com a pandemia
da covid-19.
O STF decidiu que a MP é, em princípio, constitucional, mas deverá
ser feita uma interpretação conforme à Constituição.
Desse modo, o Plenário do STF deferiu parcialmente a medida
cautelar para:
1) conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 2º da MP
966/2020, no sentido de estabelecer que, na caracterização de erro
grosseiro, deve-se levar em consideração a observância, pelas
autoridades:
a) de standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como
estabelecidos por organizações e entidades internacional e
nacionalmente conhecidas; bem como
b) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção; e
2) conferir, ainda, interpretação conforme à Constituição ao art. 1º
da MP 966/2020, para explicitar que, para os fins de tal dispositivo, a
autoridade à qual compete a decisão deve exigir que a opinião técnica
trate expressamente:

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(i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria,
tal como estabelecidos por organizações e entidades reconhecidas
nacional e internacionalmente;
(ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da
prevenção. Foram fixadas as seguintes teses:
1. Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar violação
ao direito à vida, à saúde, ao meio ambiente equilibrado ou impactos
adversos à economia, por inobservância:
i) de normas e critérios científicos e técnicos; ou
ii) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção.
2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir que as opiniões
técnicas em que baseará sua decisão tratem expressamente:
i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal
como estabelecidos por organizações e entidades internacional e
nacionalmente reconhecidas;
ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da
prevenção, sob pena de se tornarem corresponsáveis por eventuais
violações a direitos.
Vale ressaltar que a MP não trata de crime ou de ato ilícito.
Assim, qualquer interpretação do texto impugnado que dê imunidade
a agentes públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser
excluída.
STF. Plenário. ADI 6421 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 20 e 21/5/2020 (Info 978).

• CONSELHOS PROFISSIONAIS
É inconstitucional a suspensão do exercício profissional em razão do
inadimplemento de anuidades devidas à entidade de classe
Importante!!!
O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê que o advogado que
deixar de pagar as contribuições devidas à OAB (anuidades) pratica
infração disciplinar (art. 34, XXIII, da Lei nº 8.906/94) e pode ser
suspenso do exercício, ficando proibido de exercer a advocacia

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enquanto não pagar integralmente a dívida, com correção monetária
(art. 37, § 2º).
O STF entendeu que esses dispositivos são inconstitucionais porque
representam medida desproporcional que caracteriza sanção política,
além de ofender a livre iniciativa e a liberdade profissional.
É inconstitucional a suspensão realizada por conselho de fiscalização
profissional do exercício laboral de seus inscritos por inadimplência de
anuidades, pois a medida consiste em sanção política em matéria
tributária.
STF. Plenário.RE 647885, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/04/2020 (Repercussão Geral –Tema 732) (Info 978).

• CONCURSO PÚBLICO
A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior
constitui ascensão funcional, vedada pelo art. 37, II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3199, Rel. Roberto Barroso, julgado em
20/04/2020 (Info 977).

• SERVIDORES PÚBLICOS
Lei estadual pode exigir que servidor more no Município onde atua,
mas não pode exigir que ele peça autorização todas as vezes em que
for sair da localidade.
A regra que estabelece a necessidade de residência do servidor no
município em que exerce suas funções é compatível com a
Constituição de 1988, a qual já prevê obrigação semelhante para
magistrados, nos termos do seu art. 93, VII.
Por outro lado, viola a Constituição a lei estadual que proíba a saída
do servidor do Município sede da unidade em que atua sem
autorização do superior hierárquico. Essa previsão configura grave
violação da liberdade fundamental de locomoção (art. 5º, XV, da
CF/88) e do devido processo legal (art. 5º, LIV).
STF. Plenário. ADPF 90, Rel. Luiz Fux, julgado em 03/04/2020 (Info
977).

• AUTOTUTELA

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Mesmo depois de terem-se passado mais de 5 anos, a Administração
Pública pode anular a anistia política concedida quando se comprovar
a ausência de perseguição política, desde que respeitado o devido
processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidas.
Importante!!!
No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração
Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica
com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a
ausência de ato com motivação exclusivamente política,
assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o
devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.
Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política,
concedida por meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a
AGU emitiu nota técnica fazendo alguns questionamentos sobre a
forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias políticas,
dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da
Justiça determinou que fossem revistas as concessões de anistia de
inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo
administrativo para examinar a situação de João e, ao final,
determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se
passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força
da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99, seja porque o prazo
decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato
a ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
16/10/2019 (repercussão geral – Tema 839) (Info 956).
É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública,
evidenciada a violação direta do art. 8º do ADCT, mesmo quando
decorrido o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99.
STJ. 1ª Seção. MS 19.070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

• CONCURSO PÚBLICO
O prazo para se questionar a preterição de nomeação de candidato
em concurso público é de 5 anos, contado da data em que o outro
servidor foi nomeado no lugar do aprovado.
Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso
público, o termo inicial do prazo prescricional quinquenal recai na

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data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no
certame.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.643.048-GO, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 05/03/2020 (Info 668).
• INFRAÇÕES DE TRÂNSITO
É obrigatória a comprovação do envio da notificação da autuação e da
imposição da penalidade de trânsito, mas não se exige que sejam
acompanhadas de aviso de recebimento.
No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são
necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena
decorrente da infração. Tais notificações, se feitas por remessa
postal, não precisam ser acompanhadas de aviso de recebimento
(AR). Não há essa exigência no Código de Trânsito Brasileiro nem nas
Resoluções do CONTRAN.
STJ. 1ª Seção. PUIL 372-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
11/03/2020 (Info 668).
• DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR
Se a mulher passar a conviver com alguém em união estável após a
morte do ex-combatente, ela perde a condição de viúva (art. 2º, V,
da Lei nº 8.059/90) e, portanto, não terá mais direito à pensão.
A definição de viuvez do art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90 contempla a
viúva de militar que passa a conviver em união estável, após a óbito
do beneficiário, mesmo sem contrair novas núpcias, porquanto já
constituída instituição familiar equiparável ao casamento.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.386.713-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 10/03/2020 (Info 668).

• PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela
prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão.
Não há inconstitucionalidade na previsão da penalidade de cassação
de aposentadoria de servidores públicos, disposta nos arts. 127, IV, e
134 da Lei nº 8.112/90. A aplicação da penalidade de cassação de
aposentadoria ou disponibilidade é compatível com o caráter
contributivo e solidário do regime próprio de previdência dos
servidores públicos.

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A perda do cargo público foi prevista no texto constitucional como
uma sanção que integra o poder disciplinar da Administração.
É medida extrema aplicável ao servidor que apresentar conduta
contrária aos princípios básicos e deveres funcionais que
fundamentam a atuação da Administração Pública.
A impossibilidade de aplicação de sanção administrativa a servidor
aposentado, a quem a penalidade de cassação de aposentadoria se
mostra como única sanção à disposição da Administração, resultaria
em tratamento diverso entre servidores ativos e inativos, para o
sancionamento dos mesmos ilícitos, em prejuízo do princípio
isonômico e da moralidade administrativa, e representaria indevida
restrição ao poder disciplinar da Administração em relação a
servidores aposentados que cometeram faltas graves enquanto em
atividade, favorecendo a impunidade.
STF. Plenário. ADPF 418, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
15/04/2020.

• PROCESSO ADMINISTRATIVO
O cadastro e o peticionamento no Sistema Eletrônico de Informações
denotam a ciência de que o processo administrativo tramitará de
forma eletrônica.
O cadastro e o peticionamento no Sistema Eletrônico de Informações
denotam a ciência de que o processo administrativo tramitará de
forma eletrônica.
Caso concreto: determinada interessada estava participando de
processo administrativo no âmbito da administração pública federal;
o processo “físico” foi migrado para “eletrônico”; a interessada fez
cadastro neste sistema eletrônico, aceitou as condições e chegou a
peticionar eletronicamente; ela foi, então, intimada eletronicamente
para apresentar documentos e não o fez; diante disso, perdeu o
direito de contratar com o Poder Público; em seguida, alegou, em
mandado de segurança, que não foi oficialmente informada de que a
comunicação dos atos administrativos do seu processo seria realizada
exclusivamente por meio eletrônico; o STJ não aceitou a
argumentação.
STJ. 1ª Seção. MS 24.567-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado
em 11/03/2020 (Info 667).

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• CONCURSO PÚBLICO
Candidato só pode ser excluído de concurso público por não se
enquadrar na cota para negros se houver contraditório e ampla
defesa.
A exclusão do candidato, que concorre à vaga reservada em
concurso público, pelo critério da heteroidentificação, seja pela
constatação de fraude, seja pela aferição do fenótipo ou por qualquer
outro fundamento, exige o franqueamento do contraditório e da
ampla defesa.
STJ. 2ª Turma. RMS 62.040-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 17/12/2019 (Info 666).

• CONCURSO PÚBLICO
Em casos excepcionais, em que a restauração da estrita legalidade
ocasionaria mais danos sociais que a manutenção da situação
consolidada pelo decurso do tempo, a jurisprudência do STJ é firme
no sentido de admitir a aplicação da teoria do fato consumado.
Importante!!!
Em regra, o STJ acompanha o entendimento do STF e decide que é
inaplicável a teoria do fato consumado aos concursos públicos, não
sendo possível o aproveitamento do tempo de serviço prestado pelo
servidor que tomou posse por força de decisão judicial precária, para
efeito de estabilidade.
Contudo, em alguns casos, o STJ afirma que há a solidificação de
situações fáticas ocasionada em razão do excessivo decurso de tempo
entre a liminar concedida e os dias atuais, de maneira que, a
reversão desse quadro implicaria inexoravelmente em danos
desnecessários e irreparáveis ao servidor.
Em outras palavras, o STJ entende que existem situações
excepcionais nas quais a solução padronizada ocasionaria mais danos
sociais do que a manutenção da situação consolidada, impondo-se o
distinguishing, e possibilitando a contagem do tempo de serviço
prestado por força de decisão liminar, em necessária flexibilização da
regra. Caso concreto: determinado indivíduo prestou concurso para o
cargo de Policial Rodoviário Federal e foi aprovado nas provas
teóricas, tendo sido, contudo, reprovado em um dos testes práticos.
O candidato propôs mandado de segurança questionando esse teste.

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O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse, o que
ocorreu em 1999. Em sentença, o magistrado confirmou a liminar e
julgou procedente o pedido do autor. Anos mais tarde, o TRF, ao
julgar a apelação, entendeu que a exigência do teste prático realizado
não continha nenhum vício. Em virtude disso, reformou a sentença.
O servidor, contudo, continuou cautelarmente no cargo até 2020,
quando houve o trânsito em julgado da decisão contrária ao seu
pleito. O STJ assegurou a manutenção definitiva do impetrante no
cargo.
STJ. 1ª Turma. AREsp 883.574-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666).
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1569719/SP, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 08/10/2019.

• PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela
prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão.
Importante!!!
A pena de cassação de aposentadoria é compatível com a
Constituição Federal, a despeito do caráter contributivo conferido
àquela, especialmente porque nada impede que, na seara própria,
haja o acertamento de contas entre a administração e o servidor
aposentado punido. Assim, constatada a existência de infração
disciplinar praticada enquanto o servidor estiver na ativa, o ato de
aposentadoria não se transforma num salvo conduto para impedir o
sancionamento do ilícito pela administração pública. Faz-se
necessário observar o regramento contido na Lei n. 8.112/1990,
aplicando-se a penalidade compatível com as infrações apuradas.
STJ. 1ª Seção. MS 23.608-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 27/11/2019 (Info 666).
STF. 2ª Turma. AgR no ARE 1.092.355, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 17/5/2019.

• PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

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A estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no
cargo, não sendo suficiente que o membro da comissão goze de
estabilidade no serviço público.
No PAD, vigora a independência relativa das esferas penal e
administrativa, havendo repercussão apenas em se tratando de
absolvição no juízo penal por inexistência do fato ou negativa de
autoria.
A estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no
cargo, não sendo suficiente que o membro da comissão goze de
estabilidade no serviço público.
O art. 149 da Lei nº 8.112/90 determina que a comissão condutora
do processo administrativo disciplinar seja composta por servidores
estáveis e se exige que, no momento da designação, estes já tenham
atingido a estabilidade no desempenho do cargo que exercem e que
os legitima participar da comissão.
Não haverá, contudo, nulidade do PAD se, no caso concreto, a
Administração Pública, ao perceber o vício formal, substituiu o
servidor em estágio probatório por outro estável, sem aproveitar
qualquer ato decisório do servidor substituído. Isso porque, nesta
hipótese, não terá havido qualquer prejuízo concreto à defesa.
STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
17/3/2020 (Info 970).
No PAD, vigora a independência relativa das esferas penal e
administrativa, havendo repercussão apenas em se tratando de
absolvição no juízo penal por inexistência do fato ou negativa de
autoria.
A sentença proferida no âmbito criminal somente repercute na esfera
administrativa quando reconhecida:
a) a inexistência material do fato; ou
b) a negativa de sua autoria. Assim, se a absolvição ocorreu por
ausência de provas, a administração pública não está vinculada à
decisão proferida na esfera penal.
STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
17/3/2020 (Info 970).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Para que o Município seja responsável por acidente em loja de fogos
de artifício, é necessário comprovar que ele violou dever jurídico
específico de agir (concedeu licença sem as cautelas legais ou tinha
conhecimento de irregularidades que estavam sendo praticadas pelo
particular).
Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por
danos decorrentes do comércio de fogos de artifício, é necessário que
exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá
quando for concedida a licença para funcionamento sem as cautelas
legais ou quando for de conhecimento do poder público eventuais
irregularidades praticadas pelo particular.
STF. Plenário. RE 136861/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/3/2020 (repercussão
geral – Tema 366) (Info 969).

• SERVIDORES PÚBLICOS
Escrevente notarial do Estado de São Paulo que se aposentou
segundo as regras da Lei estadual nº 10.393/70 pode ser atingido
pelas regras da Lei estadual 14.016/2010, que alterou a forma de
reajuste das aposentadorias e aumentou as alíquotas da contribuição
previdenciária.
Baixa relevância para concursos
Escrevente notarial do Estado de São Paulo que se aposentou
segundo as regras da Lei estadual nº 10.393/70 pode ser atingido
pelas regras da Lei estadual 14.016/2010, que alterou a forma de
reajuste das aposentadorias e aumentou as alíquotas da contribuição
previdenciária.
A Lei estadual nº 14.016/2010 previu novos critérios para os
reajustes futuros da aposentadoria e, conforme jurisprudência do
STF, não existe direito adquirido à manutenção de regime jurídico
anterior.
A Lei estadual 10.393/70 indexava a aposentadoria ao valor do
salário-mínimo, o que é expressamente vedado pelo art. 7º, IV, da
Constituição Federal. Nesse sentido também é a Súmula Vinculante 4.
A alíquota da contribuição previdenciária também é perfeitamente
possível considerando que não existe direito adquirido a regime
jurídico e, a contribuição previdenciária possui natureza jurídica
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Atualização – Informativos STF e STJ


tributária, não havendo norma jurídica válida que confira o direito ao
não recolhimento de tributo. Vale ressaltar que, na ADI 4420, o STF
garantiu a situação jurídica de quem já tinha se aposentado ou
preenchido os requisitos para a obtenção do benefício.
Não houve, contudo, a intenção de se assegurar o direito à
manutenção da indexação de benefício de aposentadoria ao salário
mínimo ou impedir a majoração das alíquotas da contribuição
previdenciária. Esses assuntos não foram discutidos na ADI 4420.
STF. 1ª Turma. Rcl 37892 AgR/SP, rel. orig. Min. Alexandre de
Moraes, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2020 (Info
969).

• BENS PÚBLICOS
As terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros,
com exceção daquelas indispensáveis à defesa das fronteiras, das
fortificações e construções militares, das vias federais de
comunicação e à preservação ambiental, que são de propriedade da
União.
As terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com
exceção daquelas indispensáveis à defesa das fronteiras, das
fortificações e construções militares, das vias federais de
comunicação e à preservação ambiental, que são de propriedade da
União (art. 20, II, da CF/88).
As terras devolutas pertencem aos Estados-membros desde a
Constituição de 1891, que delas excetuava apenas a porção do
território indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações,
construções militares e estradas de ferro federais.
Esse mesmo tratamento jurídico foi mantido, com pequenas
variações, nas Constituições de 1934, 1937, 1946, 1967, EC 1 de
1969 e, finalmente, na Constituição Federal de 1988.
Caso concreto: no Estado de São Paulo havia uma grande área que
era considerada como terra devoluta. Diante disso, em 1939, o
Estado ajuizou ação discriminatória para regularizar essa área, tendo
o pedido sido julgado procedente, com a expedição de títulos de
domínio das terras em favor do autor.
A União, posteriormente, propôs ação anulatória alegando que as
referidas terras seriam de sua propriedade desde 1872, por
anexação.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O Estado de São Paulo, por sua vez, alegou que eram terras
devolutas, e, por isso, passíveis de alienação a particulares. Apesar
de inexistente, à época, qualquer registro imobiliário no sentido de se
cuidar de terras devolutas, não se exigiria prova nesse sentido, pois a
regra então vigente era no sentido da presunção da natureza
devoluta dessas terras.
Assim, havia presunção de que eram terras devolutas e cabia à União
o ônus de provar que adquiriu as terras por meio de compra ou
anexação; que as terras lhe eram úteis; e a exata individuação para
fins de saber se elas coincidem com as áreas em relação às quais o
estado de São Paulo expediu os títulos que se pretende anular. É
possível concluir que a União adquiriu terras na região, mediante
compra ou anexação. Entretanto, não há provas de que essas terras
tenham sido efetivamente úteis para o suposto fim original a que se
prestariam.
Além disso, não há qualquer precisão na individuação dessas terras à
época da aquisição. A União não se desincumbiu de seu ônus
probatório.
STF. Plenário. ACO 158/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
12/3/2020 (Info 969).

• PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


Súmula 641-STJ Súmula 641-STJ: A portaria de instauração do
processo administrativo disciplinar prescinde da exposição detalhada
dos fatos a serem apurados.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020.

• CONCURSO PÚBLICO
Cabe à Justiça Comum (estadual ou federal) julgar ações contra
concurso público realizado por órgãos e entidades da Administração
Pública para contratação de empregados celetistas.
Importante!!!
Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias
relacionadas à fase pré-contratual de seleção e de admissão de
pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração

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Atualização – Informativos STF e STJ


Pública, direta e indireta, nas hipóteses em que adotado o regime
celetista de contratação de pessoal.
STF. Plenário. RE 960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4
e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

• APOSENTADORIA
O Tribunal de Contas tem o prazo de 5 anos para julgar a legalidade
do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão,
prazo esse contado da chegada do processo à Corte de Contas.
Importante!!!
Atualize seus livros!
Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança
legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos
para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo
à respectiva Corte de Contas.
STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445) (Info 967).

• LEI DA RELICITAÇÃO
As normas previstas na Lei da Relicitação (Lei 13.448/2017) para a
prorrogação antecipada dos contratos de concessão são compatíveis
com os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da
impessoalidade, da moralidade e da competitividade.
As normas previstas na Lei da Relicitação para a prorrogação
antecipada dos contratos de concessão não violam os princípios
constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da impessoalidade, da
moralidade e da competitividade.
As regras complementam os requisitos da legislação geral (Lei nº
8.987/95) sobre o regime de concessão de serviços públicos, que
exige a regularidade, a continuidade, a eficiência, a segurança e a
fixação de tarifas em valores razoáveis (modicidade). A prorrogação é
analisada caso a caso e está sujeita à fiscalização da agência
reguladora. Vale ressaltar, ainda, que o contrato deve ser submetido
à consulta pública, havendo ainda a necessidade de encaminhar ao
TCU o termo aditivo para análise final.

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. ADI 5991 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
20/2/2020 (Info 967).

• RESPONSABILIDADE CIVIL
Pretensão dos acionistas de serem indenizados pela União e pela
Petrobrás pelos prejuízos causados em decorrência da desvalorização
dos ativos da Companhia, por conta da Lava Jato, deverá ser ajuizada
na Justiça Federal de 1ª instância (e não por arbitragem).
Importante!!!
A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não
pode ser submetida à cláusula compromissória arbitral prevista no
Estatuto Social da Companhia, seja em razão da ausência de lei
autorizativa, seja em razão do próprio conteúdo da norma
estatutária.
Caso concreto: um grupo de acionistas da Petrobrás formulou
requerimento para instauração de procedimento arbitral perante a
Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM-BOVESPA) contra a União e
a Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos
decorrentes da desvalorização dos ativos da Petrobras, em razão dos
desgastes oriundos da Operação Lava Jato.
O procedimento foi instaurado com base no art. 58 do Estatuto Social
da Petrobrás, onde consta uma cláusula compromissória dizendo que
as disputas que envolvam a Companhia, seus acionistas,
administradores e conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por
meio de arbitragem.
A União afirmou que não estava obrigada a participar dessa
arbitragem, argumento que foi acolhido pelo STJ.
STJ. 2ª Seção. CC 151.130-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019 (Info 664).

• ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
É inconstitucional lei estadual que obrigue a participação de
representante da seccional da OAB em órgão colegiado da
Administração Pública estadual.

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Atualização – Informativos STF e STJ


É possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em
consenso com a OAB, um representante da Ordem para integrar
órgão da Administração.
Isso é válido. No entanto, a lei não pode impor a presença de
representante da OAB (“autarquia federal”) em órgão da
Administração Pública local.
STF. Plenário. ADI 4579/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/2/2020
(Info 966).

• CONCURSO PÚBLICO
Não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a
participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito
ou a ação penal, salvo se essa restrição for instituída por lei e se
mostrar constitucionalmente adequada.
Importante!!!
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não
é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a
participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito
ou a ação penal.
STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
5 e 6/2/2020 (repercussão geral – Tema 22) (Info 965).

• AGENTES PÚBLICOS
Os médicos cooperados estrangeiros não possuem direito adquirido
de permanecer no Projeto Mais Médicos Inexiste direito adquirido
para os médicos cooperados estrangeiros de permanecer nos quadros
de agentes públicos da saúde pública, ainda que já tenham sido
vinculados ao Projeto Mais Médicos para o Brasil.
STJ. 2ª Turma. RO 213-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 05/12/2019 (Info 663).

• SERVIDORES PÚBLICOS
STF modulou os efeitos da decisão que afirmou que os servidores
públicos federais não possuem direito aos quintos no período de
08/04/1998 a 04/09/2001; com isso, o Tribunal resguardou a

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Atualização – Informativos STF e STJ


situação daqueles que recebiam as verbas por força de decisão
judicial ou administrativa.
Os servidores públicos federais, quando desempenhavam funções
gratificadas tinham direito de incorporar, em sua remuneração, a
vantagem decorrente do cargo em comissão ou da função de direção,
chefia e assessoramento.
Isso estava previsto na redação original do art. 62 da Lei nº
8.112/90. Isso ficou conhecido como incorporação de quintos em
razão do exercício de funções gratificadas. Houve uma discussão se
os servidores públicos federais tiveram direito à incorporação dos
quintos no período que vai de 08/04/1998 a 04/09/2001.
Após várias decisões favoráveis aos servidores, o STF decidiu em
sentido contrário. Em 2015, o STF decidiu que não era permitida a
incorporação dos quintos nesse período e que essa possibilidade
acabou com a edição da MP 1.595-14 (convertida na Lei nº
9.527/97).
Ocorre que muitos servidores estavam recebendo os quintos
referentes ao período de 08/04/1998 a 04/09/2001 por força de
decisões judiciais ou administrativas. Como ficou a situação dessas
pessoas?
O STF, em embargos de declaração, decidiu modular os efeitos da
decisão e afirmou o seguinte:
• é indevida a cessação imediata do pagamento dos quintos quando
houve uma decisão judicial transitada em julgado em favor do
servidor. Neste caso, o servidor já incorporou definitivamente os
quintos ao seu patrimônio jurídico;
• se o servidor estava recebendo os quintos em razão de decisão
administrativa ou de decisão judicial não definitiva, o pagamento dos
quintos é indevido. No entanto, os efeitos da decisão foram
modulados, de modo que aqueles que recebem a parcela até a data
de hoje terão o pagamento mantido até a sua absorção integral por
quaisquer reajustes futuros concedidos aos servidores.
Em outras palavras, a remuneração ou os proventos não diminuirão
de valor imediatamente.
No entanto, quando houver um aumento, esse valor dos quintos
sumirá, sendo absorvido pelo aumento.
STF. Plenário. RE 638115 ED-ED/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 18/12/2019 (Info 964).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• SERVIDORES PÚBLICOS
É inconstitucional o pagamento de subsídio mensal e vitalício a ex-
Vereadores, assim, como o pagamento de pensão por morte aos
dependentes dos ex-ocupantes deste cargo.
Importante!!!
Algumas leis municipais preveem que a pessoa que tiver exercido o
cargo de Vereador fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio
mensal e vitalício.
Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e
outros de pensão civil.
A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88? NÃO.
O STF fixou a seguinte tese a respeito do tema: Lei municipal a
versar a percepção, mensal e vitalícia, de “subsídio” por ex-vereador
e a consequente pensão em caso de morte não é harmônica com a
Constituição Federal de 1988.
STF. Plenário. RE 638307/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
19/12/2019 (Tema 672 – repercussão geral) (Info 964).

• FUNDEF
União deverá indenizar Estados prejudicados com o cálculo incorreto
do VMNA.
O valor da complementação da União ao Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (Fundef) deve ser calculado com base no valor mínimo
nacional por aluno extraído da média nacional.
A complementação ao Fundef realizada a partir do valor mínimo
anual por aluno fixada em desacordo com a média nacional impõe à
União o dever de suplementação de recursos, mantida a vinculação
constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do ensino.
Em outras palavras, os Estados prejudicados com o cálculo incorreto
do valor mínimo nacional por aluno deverão ser indenizados por
conta do montante pago a menor a título de complementação pela
União no período de vigência do FUNDEF, isto é, nos exercícios
financeiros de 1998 a 2007.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O tema acima foi definido pelo STJ (no REsp 1101015/BA) e pelo STF
nas ACO 648/BA, ACO 660/AM, ACO 669/SE e ACO 700/RN, jugadas
em 6/9/2017.
Diante disso, é possível que o Ministro do STF, Relator de ações com
pedidos semelhantes, decida monocraticamente e julgue procedente
os pedidos formulados por outros Estadosmembros contra a União.
Não haverá, neste caso, violação ao princípio da colegialidade.
STF. Plenário. ACO 701 AgR/AL, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
18/12/2019 (Info 964).

• LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA
Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente
de limitações administrativas Imóvel do particular foi incluído em
unidade de conservação.
Houve, no caso, uma limitação administrativa. Ele ajuizou ação de
desapropriação indireta pedindo indenização.
Mesmo não tendo havido desapropriação indireta, mas sim mera
limitação administrativa, o juiz deverá conhecer da ação e julgar seu
mérito.
Devem ser observados os princípios da instrumentalidade das formas
e da primazia da solução integral do mérito.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa,
julgado em 19/11/2019 (Info 662).
• LICITAÇÕES
O estabelecimento de critérios de classificação para a escolha de
licitantes em credenciamento é ilegal.
Importante!!!
O credenciamento é uma hipótese de inexigibilidade de licitação na
qual “a Administração aceita como colaborador todos aqueles que,
atendendo as motivadas exigências públicas, manifestem interesse
em firmar contrato ou acordo administrativo.” (TORRES, Ronny
Charles Lopes de. Leis de Licitações Públicas comentadas. Salvador:
Juspodivm, 2019, p. 348).
Desse modo, o credenciamento é um procedimento por meio do qual
a Administração Pública anuncia que precisa de pessoas para fornecer

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Atualização – Informativos STF e STJ


determinados bens ou para prestarem algum serviço e que irá
contratar os que se enquadrem nas qualificações que ela exigir.
Após esse chamamento público, os interessados podem se habilitar
para serem contratados. Fala-se que é uma hipótese de
inexigibilidade de licitação porque não haverá competição (disputa)
entre os interessados.
Todos os interessados que preencham os requisitos anunciados serão
considerados “credenciados” e estarão aptos a serem contratos.
O Banco do Brasil publicou edital para credenciamento de advogados
para prestar serviços advocatícios.
Ocorre que o edital de credenciamento publicado previu um critério
de pontuação, de forma que os advogados e escritórios que se
inscrevessem iriam ser avaliados e organizados segundo uma ordem
de classificação baseada no currículo, experiência etc.
O TCU e o STJ entendem que isso não é válido.
O estabelecimento de critérios de classificação para a escolha de
licitantes em credenciamento é ilegal.
O credenciamento é considerado como uma espécie de inexigibilidade
de licitação justamente pelo fato de não ser possível, em tese, a
competição entre os interessados. Logo, a previsão de critérios de
pontuação entre os interessados contraria a natureza do processo de
credenciamento. Assim, no credenciamento só se admite a existência
de requisitos mínimos. Se o interessado preencher, ele está
credenciado; se não atender, encontra-se eliminado.
Os critérios permitidos são, portanto, meramente eliminatórios (e não
classificatórios).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.747.636-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 03/12/2019 (Info 662).

• CONSELHOS PROFISSIONAIS
É dispensável a submissão ao exame de suficiência pelos técnicos
em contabilidade formados anteriormente à promulgação da Lei nº
12.249/2010 ou dentro do prazo por ela previsto.
Baixa relevância para concursos
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Atualização – Informativos STF e STJ


O Decreto-lei nº 9.295/46 criou o Conselho Federal de Contabilidade
e definiu as atribuições do Contador.
A Lei nº 12.249/2010 alterou o art. 12 do DL 9.295/46 para dizer
que os contadores e técnicos em contabilidade somente poderão
exercer a profissão após a regular conclusão do curso de Bacharelado
em Ciências Contábeis, reconhecido pelo Ministério da Educação,
aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional
de Contabilidade a que estiverem sujeitos.
A implementação dos requisitos para a inscrição no conselho
profissional surge no momento da conclusão do curso. Assim, é
dispensável a submissão ao exame de suficiência pelos técnicos em
contabilidade formados anteriormente à promulgação da Lei nº
12.249/2010 ou dentro do prazo por ela previsto.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.830.687-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina,
julgado em 30/03/2020 (Info 669).

• LICITAÇÕES
Na concorrência para a venda de bens imóveis, é vedada, à
Administração Pública, a fixação de caução em valor diverso do
estabelecido no art. 18 da Lei nº 8.666/93.
O art. 18 da Lei nº 8.666/93 estabelece o valor da caução, na fase
de habilitação de concorrência pública para venda de bens imóveis,
no percentual de 5% da avaliação do imóvel.
É proibido que a Administração Pública fixe caução em valor diverso
do estabelecido em lei. Não cabe, assim, estabelecer percentual
diverso ou mesmo aceitar valor de caução inferior a 5% da avaliação
do imóvel, em face do princípio da legalidade.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.617.745-DF, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd.
Min. Assusete Magalhães, julgado em 22/10/2019 (Info 669).
• PODER DE POLÍCIA
Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados sobre
calçadas sem a regular aprovação estatal.
Importante!!!
Em cidades tomadas por veículos automotores, a maior parte deles a
serviço de minoria privilegiada, calçadas integram o mínimo
existencial de espaço público dos pedestres, a maioria da população.

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Atualização – Informativos STF e STJ


No Estado Social de Direito, o ato de se deslocar a pé, em segurança
e com conforto, qualificase como direito de todos, com atenção
redobrada para a acessibilidade dos mais vulneráveis, aí incluídos
idosos, crianças e pessoas com deficiência. Vale ressaltar que as
calçadas são consideradas bens públicos, como bens de uso comum
do povo (art. 99, I, do Código Civil).
A ninguém é lícito ocupar espaço público (no caso, a calçada), exceto
se estritamente conforme a legislação e após regular procedimento
administrativo. Se o apossamento do espaço urbano público ocorre
ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de cometimento de
improbidade e infração disciplinar, fazer a imediata demolição de
eventuais construções irregulares e a desocupação de bem turbado
ou esbulhado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 03/03/2020 (Info 671).
• DESAPROPRIAÇÃO
O prazo prescricional, no caso de ação de desapropriação indireta, é,
em regra, de 10 anos; excepcionalmente, será de 15 anos caso de
comprove que não foram feitas obras ou serviços públicos no local.
Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta? Regra: 10 anos
(art. 1.238, parágrafo único, do CC/2002). Exceção: o prazo será de
15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços
públicos no local. Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações
indenizatórias por desapropriação indireta é de 10 anos porque existe
uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou
serviços públicos no local.
Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso
a parte interessada comprove, concreta e devidamente, que não
foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.575.846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 26/06/2019 (Info 658).
O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese
em que o Poder Público tenha realizado obras no local ou atribuído
natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de
10 anos, conforme parágrafo único do art. 1.238 do CC.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.757.352-SC, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1109) (Info
671).

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Atualização – Informativos STF e STJ


Obs: a súmula 119 do STJ está superada (Súmula 119-STJ: A ação
de desapropriação indireta prescreve em vinte anos).

• EMPRESAS PÚBLICAS
A Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) não
está submetida ao regime constitucional dos precatórios PGDF O
Metrô-DF é empresa pública, regida pelo direito privado.
Embora preste serviço de utilidade pública, a empresa não
desempenha serviço público essencial em sentido típico ou de caráter
monopolístico.
O Metrô-DF desenvolve atividade econômica com a exploração
comercial de marcas, patentes, tecnologia e serviços técnicos
especializados, com a distribuição de dividendos, o que permite a
penhora de seus bens. Vale ressaltar ainda que há distribuição de
lucros entre os acionistas da empresa. Diante desse contexto, não há
como se aplicar o regime de precatório para o Metrô-DF.
STF. 1ª Turma. Rcl 29637 AgR/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o
ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/6/2020 (Info 984).
• SERVIDORES PÚBLICOS
Servidores temporários não possuem direito a 13º salário e férias,
salvo se previsto em lei ou houver desvirtuamento da contratação.
Importante!!!
Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e
férias remuneradas acrescidas do terço constitucional, salvo:
I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou
II) comprovado desvirtuamento da contratação temporária pela
Administração Pública, em razão de sucessivas e reiteradas
renovações e/ou prorrogações.
STF. Plenário. RE 1066677, Rel. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão
Alexandre de Moraes, julgado em 22/05/2020 (Repercussão Geral –
Tema 551) (Info 984 – clipping).
• CONCURSO PÚBLICO
É inconstitucional lei que preveja a integração, no quadro do Tribunal
de Contas, de servidores que estejam à disposição daquela Corte

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Atualização – Informativos STF e STJ


É inconstitucional lei estadual que afirma que “o servidor público
estadual à disposição do Tribunal de Contas em 30 de novembro de
1994 poderá requerer sua integração ao Quadro Especial de Pessoal
do referido Tribunal, no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da
publicação desta lei.” Essa lei viola o princípio do concurso público,
previsto no art. 37, II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1251/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
6/8/2020 (Info 985).
• SERVIDOR PÚBLICO
Se o servidor público recebe remuneração (ou aposentadoria) mais
pensão, a soma dos dois valores não pode ultrapassar o teto.
Importante!!!
Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior ao
da Emenda Constitucional 19/1998, o teto constitucional previsto no
inciso XI do art. 37 da Constituição Federal incide sobre o somatório
de remuneração ou provento e pensão percebida por servidor.
STF. Plenário. RE 602584/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
6/8/2020 (Repercussão Geral – Tema 359) (Info 985).
Cuidado para não confundir com esse outro entendimento: Se a
pessoa acumular licitamente dois cargos públicos ela poderá receber
acima do teto Nos casos autorizados constitucionalmente de
acumulação de cargos, empregos e funções, a incidência do art. 37,
XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos
vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório
quanto ao somatório dos ganhos do agente público.
STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgados em 26 e 27/4/2017 (Repercussão Geral – Temas
337 e 384) (Info 862).

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Atualização – Informativos STF e STJ


DIREITO AMBIENTAL

• RESPONSABILIDADE CIVIL
A reparação do dano ao meio ambiente é direito fundamental
indisponível, sendo imperativo o reconhecimento da
imprescritibilidade no que toca à recomposição dos danos ambientais.
Importante!!!
É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental.
STF. Plenário. RE 654833, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 999) (Info 983 – clipping).

• COMPETÊNCIA
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para
desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos.
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para
desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de
higiene pessoal, perfumes e seus componentes.
A proteção da fauna é matéria de competência legislativa concorrente
(art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma
natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em
atividades de ensino e pesquisas científicas, desde que sejam
observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos
adotados, que visam a evitar e/ou atenuar o sofrimento dos animais.
Mesmo o que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela
lei estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio,
é possível que os Estados editem normas mais protetivas ao meio
ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na
preponderância de seu interesse, conforme o caso.
STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
15/04/2020 (Info 975).

• INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA

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Atualização – Informativos STF e STJ


A cobrança por Município de multa relativa a danos ambientais já
paga à União anteriormente, pelo mesmo fato, não configura bis in
idem.
A cobrança por Município de multa relativa a danos ambientais já
paga à União anteriormente, pelo mesmo fato, não configura bis in
idem.
O art. 76 da Lei nº 9.605/98 afirma que, se o Estado, Município,
Distrito Federal ou Território já tiver multado o infrator e esta tiver
sido paga, não é mais possível que seja imposta uma “multa federal”:
Art. 76.
O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito
Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de
incidência. O inverso, contudo, não é verdadeiro.
Assim, se a União já tiver multado o infrator, essa “multa federal”
não substitui a multa imposta pelo Estado, DF ou Município
considerando que isso não foi previsto pelo art. 76. Houve um silêncio
eloquente do legislador.
Se o pagamento da multa imposta pela União também afastasse a
possibilidade de cobrança por Estados, Municípios, Distrito Federal e
Territórios, a lei teria afirmado simplesmente que o adimplemento de
sanção aplicada por ente federativo afastaria a exigência de pena
pecuniária por quaisquer dos outros.
Dessa forma, não há margem para interpretação de que a multa paga
à União impossibilita a cobrança daquela aplicada pelo Município, sob
pena de bis in idem, uma vez que a atuação conjunta dos poderes
públicos, de forma cooperada, na tutela do meio ambiente, é dever
imposto pela Constituição Federal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.132.682-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 13/12/2016 (Info 667).
ATENÇÃO: penso que esse entendimento está superado. Os fatos
analisados neste julgado ocorreram quando ainda não estava em
vigor a LC 140/2011. Esta Lei previu que se, mais de um ente
federativo lavrar auto de infração ambiental, deverá prevalecer
aquele que foi feito por órgão que detenha a atribuição de
licenciamento (art. 17, § 3º). Isso para evitar bis in idem. Logo, no
caso concreto, seria preciso definir qual dos dois órgãos tinha
competência (União ou Município) e somente iria prevalecer o auto de
infração lavrado por ele. Muito cuidado como esse tema vai ser
cobrado em prova.

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Atualização – Informativos STF e STJ


• AÇÃO POPULAR
Em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu
domicílio, mesmo que o dano tenha ocorrido em outro local; contudo,
diante das peculiaridades, as ações envolvendo o rompimento da
barragem de Brumadinho devem ser julgadas pelo juízo do local do
fato.
Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de
minério, localizada em Brumadinho (MG).
O rompimento resultou em um terrível desastre ambiental e
humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou ação popular
contra a União, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., pedindo para
que os réus fossem condenados a recuperar o meio ambiente
degradado, pagar indenização pelos danos causados e pagar multa
por dano ambiental. Como Felipe mora em Campinas (SP), ele
ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a demanda foi distribuída
para a 2ª Vara Federal de Campinas (SP).
Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas Gerais existem ações
individuais, ações populares e ações civis públicas tramitando contra
os mesmos réus e envolvendo pedidos semelhantes a essa ação
popular ajuizada em Campinas.
Quem é competente para julgar esta ação popular: o juízo do
domicílio do autor ou o juízo do local em que se consumou o ato
danoso? O juízo do local onde se consumou o dano (17ª Vara Federal
de Minas Gerais).
Regra geral: em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de
seu domicílio, mesmo que o dano tenha ocorrido em outro local. Isso
porque como a ação popular representa um direito político
fundamental, deve-se facilitar o seu exercício.
Exceção: o STJ entendeu que o caso concreto envolvendo
Brumadinho era excepcional com inegáveis peculiaridades que
impõem a adoção de uma solução diferente para evitar tumulto
processual em uma situação de enorme magnitude social, econômica
e ambiental.
Assim, para o STJ é necessário superar, excepcionalmente, a regra
geral. Entendeu-se que seria necessário adotar uma saída pragmática
para permitir uma resposta do Poder Judiciário aos que sofrem os
efeitos desta grande tragédia.

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Atualização – Informativos STF e STJ


A regra geral do STJ deve ser usada quando a ação popular for
isolada. Contudo, no caso de Brumadinho havia uma ação popular em
Campinas (SP) competindo e concorrendo com várias outras ações
populares e ações civis públicas, bem como com centenas, talvez
milhares, de ações individuais tramitando em MG, razão pela qual,
em se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do
local do fato.
Em face da magnitude econômica, social e ambiental do caso
concreto, é possível a fixação do juízo do local do fato para o
julgamento de ação popular que concorre com diversas outras ações
individuais, populares e civis públicas decorrentes do mesmo dano
ambiental.
STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 12/06/2019 (Info 662).
• RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL
O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de
terceiro capaz de interromper o nexo causal na reparação por lesão
ao meio ambiente.
Importante!!!
Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A
pessoa que explora a atividade econômica ocupa a posição de
garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado
responsável pelos danos vinculados à atividade. Logo, não se pode
admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo de terceiro
ou força maior.
No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou
danos em área ambiental protegida. Mesmo tendo havido a
concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso
não é causa excludente da responsabilidade do proprietário do
estabelecimento.
Mesmo que se considere que a instalação do posto de combustível
somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença
ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do
empreendedor, que gera o risco concretizado no dano ambiental,
razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de
reparar a lesão verificada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 28/04/2020 (Info 671).

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DIREITO CIVIL

• COMPRA E VENDA

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O prazo para se anular a venda de ascendente para descendente
sem que os outros tenham consentido é de 2 anos; esse mesmo
prazo se aplica caso o ascendente tenha se utilizado de uma
interposta pessoa (“laranja”) para efetuar essa venda.
Importante!!!
É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros
descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido (art. 496 do CC).
O prazo para anular a venda direta entre ascendente e descendente é
de 2 anos, a contar da conclusão do ato (art. 179 do CC).
A venda de bem entre ascendente e descendente, por meio de
interposta pessoa, também é ato jurídico anulável, devendo ser
aplicado o mesmo prazo decadencial de 2 anos previsto no art. 179
do CC.
Isso porque a venda por interposta pessoa não é outra coisa que não
a tentativa reprovável de contornar-se a exigência da concordância
dos demais descendentes e também do cônjuge.
Em outras palavras, é apenas uma tentativa de se eximir da regra do
art. 496 do CC, razão pela qual deverá ser aplicado o mesmo prazo
decadencial de 2 anos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.679.501-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 10/03/2020 (Info 667).

• USUCAPIÃO
A existência de contrato de arrendamento mercantil do bem móvel
impede a aquisição de sua propriedade pela usucapião, contudo,
verificada a prescrição da dívida, inexiste óbice legal para prescrição
aquisitiva .
A existência de contrato de arrendamento mercantil do bem móvel
impede a aquisição de sua propriedade pela usucapião, contudo,
verificada a prescrição da dívida, inexiste óbice legal para prescrição
aquisitiva.
Exemplo: João celebrou contrato de arrendamento mercantil com o
banco para aquisição de um automóvel; em 1998, o arrendatário
deixou de pagar as prestações; o arrendador tinha o prazo de 5 anos
para ajuizar ação de cobrança, ou seja, até 2003; até essa data
(2003), não se podia falar em usucapião; a partir de 2003, como o

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arrendador já não mais poderia ajuizar a ação de cobrança, entende-
se que cessaram os vícios que maculavam a posse do arrendatário;
logo, a partir de 2003 começou a ser contado o prazo de usucapião;
como o prazo de usucapião extraordinário de bem móvel é de 5 anos,
o arrendatário adquiriu a propriedade por usucapião em 2008.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.528.626-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em 17/12/2019 (Info 667).

• ALIMENTOS
Não incide desconto de pensão alimentícia sobre as parcelas
denominadas diárias de viagem e tempo de espera indenizado.
Não incide desconto de pensão alimentícia sobre as parcelas
denominadas diárias de viagem e tempo de espera indenizado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.747.540-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info 667)

• ALIMENTOS
Se foi celebrado um acordo na ação de investigação de paternidade,
mas não se estipulou o termo inicial dos alimentos, estes serão
devidos desde a data da citação.
Na ausência de expressa previsão no acordo de alimentos a respeito
do seu termo inicial, deve prevalecer o disposto no § 2º do art. 13 da
Lei nº 5.478/68 (Lei de Alimentos), segundo o qual, em qualquer
caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação. Art. 13 (...) §
2º Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da
citação.
Se a lei diz expressamente que “em qualquer caso” os alimentos
retroagem, não cabe ao intérprete fazer restrições onde o legislador
não o fez, de modo que não há justificativa para que os alimentos
fixados em acordo celebrado em ação investigatória de paternidade
não receba o mesmo tratamento, sob o singelo argumento de que
ajuste foi omisso a respeito do seu termo inicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.821.107-ES, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado
em 10/03/2020 (Info 667).

• SUCESSÃO LEGÍTIMA

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Atualização – Informativos STF e STJ


O espólio não possui legitimidade passiva ad causam na ação de
ressarcimento de remuneração indevidamente paga após a morte de
ex-servidor e recebida por seus herdeiros.
A restituição de quantia recebida indevidamente é um dever de
quem se enriqueceu sem causa (art.884 do CC).
De acordo com as alegações do ente público, a vantagem econômica
foi auferida pelos herdeiros do ex-servidor.
O ex-servidor público não tinha mais personalidade jurídica quando o
Distrito Federal depositou a quantia ora pleiteada considerando que
estava morto (art. 6º do CC).
Se o saque indevido da quantia disponibilizada pelo Poder Público não
pode ser imputado ao falecido (não foi decorrente de qualquer ato do
falecido), o espólio não pode ser obrigado a restituir. Isso porque o
espólio é obrigado a cumprir as dívidas do autor da herança por força
do art. 796 do CPC/2015.
Logo, se o espólio não pode ser vinculado, nem mesmo
abstratamente, ao dever de restituir, ele não pode ser considerado
parte legítima nesta ação nos termos do art. 17 do CPC/2015. O
espólio não possui legitimidade passiva ad causam na ação de
ressarcimento de remuneração indevidamente paga após a morte de
ex-servidor e recebida por seus herdeiros.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.805.473-DF, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 03/03/2020 (Info 667).

• TESTAMENTO
É válido o testamento particular que, a despeito de não ter sido
assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua
impressão digital.
Importante!!!
O art. 1.876, § 2º do Código Civil afirma que um dos requisitos do
testamento particular é que ele seja assinado pelo testador. Vale
ressaltar, contudo, que o STJ decidiu que: É válido o testamento
particular que, a despeito de não ter sido assinado de próprio punho
pela testadora, contou com a sua impressão digital.
Caso concreto: a falecida deixou um testamento particular elaborado
por meio mecânico; o testamento foi lido na presença de três
testemunhas, que o assinaram; vale ressaltar, no entanto, que esse

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Atualização – Informativos STF e STJ


testamento não foi assinado pela testadora em razão de ela se
encontrar hospitalizada na época e estar com uma limitação física
que a impedia assinar; para suprir essa falta de assinatura, a
testadora colocou a sua impressão digital no testamento; as
testemunhas, ouvidas em juízo, confirmaram o cumprimento das
demais formalidades e, sobretudo, que aquela era mesmo a
manifestação de última vontade da testadora; o STJ considerou
válido o testamento.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 11/03/2020 (Info 667).

• DPVAT
A regulação do DPVAT e do DPEM deve ser feita por meio de lei
complementar, nos termos do art. 192 da CF/88, não podendo,
portanto, ser tratada por medida provisória.
As alterações no seguro obrigatório só podem ser feitas por meio de
lei complementar. Isso porque o sistema de seguros integra o
sistema financeiro nacional, subordinado ao Banco Central do Brasil.
Pode-se dizer que o sistema de seguros é um subsistema do sistema
financeiro nacional.
De acordo com o art. 192 da Constituição Federal, é necessário lei
complementar para tratar dos aspectos regulatórios do sistema
financeiro.
Desse modo, a regulação do DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos
Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres) e do
DPEM (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por
Embarcações ou por sua Carga) deve ser feita por meio de lei
complementar, nos termos do art. 192 da Constituição Federal. É
vedada a edição de medida provisória que disponha sobre matéria
sob reserva de lei complementar (art. 62, § 1º, III, da CF/88).
Logo, é inconstitucional a MP 904/2019, que pretendia extinguir o
DPVAT e o DPEM, a partir de 1º de janeiro de 2020. Essa MP viola o
art. 62, § 1º, III c/c o art. 192 da CF/88.
STF. Plenário virtual. ADI 6262/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 19/12/2019.

• DÍVIDAS CONDOMINIAIS

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Atualização – Informativos STF e STJ


A proprietária do imóvel gerador dos débitos condominiais pode ter o
seu bem penhorado no cumprimento de sentença, mesmo não tendo
figurado no polo passivo da ação de cobrança, que tramitou apenas
em face de seu ex-companheiro.
O imóvel gerador dos débitos condominiais pode ser objeto de
penhora em cumprimento de sentença, ainda que somente o ex-
companheiro tenha figurado no polo passivo da ação de
conhecimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.683.419-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 20/02/2020 (Info 666).

• RESPONSABILIDADE CIVIL
O fato de ter havido prescrição da pretensão punitiva não impede o
ajuizamento ou a continuidade da ação civil ex delicto.
A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado na ação
penal não fulmina o interesse processual no exercício da pretensão
indenizatória a ser deduzida no juízo cível pelo mesmo fato.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.802.170-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 20/02/2020 (Info 666).

• RESPONSABILIDADE CIVIL
O art. 927, parágrafo único, do CC pode ser aplicado para permitir a
responsabilização objetiva do empregador por danos causados ao
empregado decorrentes de acidentes de trabalho, não sendo
incompatível com o art. 7º, XXVIII, da CF/88, que prevê
responsabilidade subjetiva.

Importante!!!
O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art.
7º, XXVIII, da Constituição Federal, sendo constitucional a
responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de
acidentes de trabalho nos casos especificados em lei ou quando a
atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza, apresentar
exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e
implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da
coletividade.

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).

• BEM DE FAMÍLIA
Não se pode penhorar o bem de família com base no inciso IV do art.
3º da Lei 8.009/90 se o débito de natureza tributária está relacionado
com outro imóvel que pertencia ao devedor.
Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família
prevista no art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90 é preciso que o débito de
natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que se
pretende penhorar. Exemplo: João celebrou com Pedro contrato de
“permuta de imóveis urbanos”. Ficou acertado que João transmitiria a
propriedade de sua casa para Pedro e, em troca, Pedro faria a
transferência de seu apartamento a João. Ficou consignado que cada
parte iria transmitir o imóvel sem quaisquer dívidas tributárias.
Depois da permuta e da transferência da posse, Pedro constatou que
a casa cedida por João possuía débitos de IPTU. Para regularizar a
situação, Pedro quitou essas dívidas. Em seguida, Pedro ajuizou ação
contra João pedindo o ressarcimento desses valores considerando
que houve um descumprimento do contrato neste ponto. O pedido foi
julgado procedente. No cumprimento de sentença, Pedro pediu a
penhora do apartamento que, depois da permuta, passou a pertencer
a João e que é seu bem de família.
Essa penhora não pode ser deferida porque não se enquadra no
inciso IV do art. 3º da Lei:
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza,
salvo se movido: IV - para cobrança de impostos, predial ou
territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel
familiar; Pode-se apontar três argumentos principais:
• A dívida era referente a outro imóvel (e não ao que se pretende
penhorar). • Não se está cobrando um imposto devido em função do
imóvel; o que se está pleiteando é o ressarcimento decorrente de
inadimplemento contratual.
• As hipóteses de exceção à regra da impenhorabilidade do bem de
família são taxativas, não comportando interpretação extensiva.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 18/02/2020 (Info 665).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• SEGURO DE VIDA

A cláusula de não renovação do seguro de vida, quando constituiu


faculdade conferida a ambas as partes do contrato, assim como a de
reajuste do prêmio com base na faixa etária do segurado, mediante
prévia notificação, não configuram abusividade.
No seguro de vida em grupo, não há abusividade na cláusula que
permite a não renovação do contrato ou a renovação condicionada a
reajuste por faixa etária.
É válida a cláusula contratual que confere a prerrogativa de a
seguradora optar por não renovar o contrato de seguro de vida em
grupo.
Também é válida a cláusula contratual que preveja a possibilidade de
alteração da cobertura contratada e de reajuste por implemento de
idade, mediante prévia comunicação, quando da formalização da
estipulação da nova apólice.
Em outras palavras, no contrato de seguro de vida em grupo, não há
abusividade no reajuste por implemento de idade quando da
formalização da nova apólice. Tais cláusulas são decorrentes da
própria natureza do contrato.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.769.111-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 10/12/2019 (Info 665).

• CONDOMÍNIO
O condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra
objetiva e não pode sofrer dano moral.
Os condomínios são entes despersonalizados, pois não são titulares
das unidades autônomas, tampouco das partes comuns, além de não
haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a
ausência de intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si,
uma relação jurídica, sendo o vínculo entre eles decorrente do direito
exercido sobre a coisa e que é necessário à administração da
propriedade comum.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Caracterizado o condomínio como uma massa patrimonial, não há
como reconhecer que seja ele próprio dotado de honra objetiva.
Qualquer ofensa ao conceito (reputação) que possui perante a
comunidade representa, em verdade, uma ofensa individualmente
dirigida a cada um dos condôminos, pois quem goza de reputação são
os condôminos e não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este
endereçado.
Diferentemente do que ocorre com as pessoas jurídicas, qualquer
repercussão econômica negativa será suportada, ao fim e ao cabo,
pelos próprios condôminos, a quem incumbe contribuir para todas as
despesas condominiais, e/ou pelos respectivos proprietários, no caso
de eventual desvalorização dos imóveis no mercado imobiliário.
Assim, o condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui
honra objetiva e não pode sofrer dano moral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.593-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 11/02/2020 (Info 665).

• USUCAPIÃO
O interesse jurídico no ajuizamento direto de ação de usucapião
independe de prévio pedido na via extrajudicial.
A tentativa de usucapião extrajudicial não é condição indispensável
para o ajuizamento da ação de usucapião.
Mesmo que estejam preenchidos os requisitos para a usucapião
extrajudicial, o interessado pode livremente optar pela propositura de
ação judicial.
O próprio legislador deixou claro, no art. 216-A da Lei de Registros
Públicos, que a existência da possibilidade de usucapião extrajudicial
não traz prejuízo à busca da usucapião na via jurisdicional:
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de
reconhecimento extrajudicial de usucapião (...)
STJ. 3ª Turma.REsp 1.824.133-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

• ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

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Atualização – Informativos STF e STJ


Em caso de conversão da busca e apreensão em execução, a quantia
cobrada na ação executiva será o valor da integralidade da dívida, ou
seja, a soma das parcelas vencidas e vincendas do contrato.
Nos contratos de financiamento com cláusula de alienação fiduciária,
quando houver a conversão da ação de busca e apreensão em ação
de execução nos moldes do art. 4º do Decreto-Lei nº 911/1969, o
débito exequendo deve representar o valor da integralidade da dívida
(soma das parcelas vencidas e vincendas do contrato).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.200-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 18/02/2020 (Info 665).
• ARRENDAMENTO MERCANTIL
O arrendante é o responsável final pelo pagamento das despesas,
junto a pátio privado, com a remoção e a estadia do automóvel
apreendido em ação de reintegração de posse.
Importante!!!
O arrendante é responsável pelo pagamento das despesas de
remoção e estadia de veículo em pátio de propriedade privada
quando a apreensão do bem ocorreu por ordem judicial no bojo de
ação de reintegração de posse por ele ajuizada em desfavor do
arrendatário que se tornou inadimplente.
Enquanto perdurar o arrendamento mercantil, o arrendante é o seu
proprietário.
As despesas decorrentes do depósito do veículo em pátio privado
referem-se ao próprio bem, ou seja, constituem obrigações propter
rem. Isso significa dizer que as despesas com a remoção e a guarda
dos veículos objeto de contrato de arrendamento mercantil estão
vinculadas ao bem e a seu proprietário, isto é, ao arrendante.
Assim, o arrendante é o responsável final pelo pagamento das
despesas com a estadia do automóvel junto a pátio privado, pois
permanece na propriedade do bem alienado enquanto perdurar o
pacto de arrendamento mercantil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.828.147-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 20/02/2020 (Info 665).
Quem deverá pagar as despesas com a remoção e estadia do carro
apreendido?
Ø ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

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Atualização – Informativos STF e STJ


1) Veículo apreendido em ação de busca e apreensão por
inadimplemento contratual: o credor-fiduciário (ex: banco) (REsp
1657752/SP)
2) Veículo apreendido por infração de trânsito: o credor-fiduciário
(AgInt no AREsp 1.210.496/SP).
Ø ARRENDAMENTO MERCANTIL
1) Veículo apreendido em ação de reintegração de posse por
inadimplemento contratual: o arrendante (ex: banco) (REsp
1.828.147/SP)
2) Veículo apreendido por infração de trânsito: o arrendatário.
Fundamento: art. 4º da Resolução nº 149/2003 do Contran (REsp
1.114.406/SP).

• BEM DE FAMÍLIA
Proprietário que aceita que seu bem de família sirva como garantia de
um contrato de alienação fiduciária em garantia não pode,
posteriormente, alegar que esse ato de disposição foi ilegal.
A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/90
não pode ser afastada por renúncia do devedor ao privilégio, pois é
princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada.
A despeito disso, o bem de família legal não gera inalienabilidade.
Logo, é possível que o proprietário pratique atos de disposição dele,
podendo, por exemplo, oferecê-lo como objeto de alienação fiduciária
em garantia. A utilização abusiva do direito à proteção do bem de
família viola o princípio da boa-fé objetiva e, portanto, não deve ser
tolerada.
Assim, deve ser afastado o benefício conferido ao titular do bem de
família que exerce o direito em desconformidade com o ordenamento
jurídico.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.595.832-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 29/10/2019 (Info 664).
• FIANÇA
É necessária a outorga conjugal para fiança em favor de sociedade
cooperativa.
É necessária a outorga conjugal para fiança em favor de sociedade
cooperativa.
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Atualização – Informativos STF e STJ


STJ. 4ª Turma. REsp 1.351.058-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 26/11/2019 (Info 664).

• LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS


Mesmo que existam mais de um locador, qualquer deles poderá
ajuizar a ação de despejo, não sendo necessário que todos figurem
no polo ativo.
A ação de despejo não exige a formação de litisconsórcio ativo
necessário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.737.476-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 04/02/2020 (Info 664).
• ARBITRAGEM
Pretensão dos acionistas de serem indenizados pela União e pela
Petrobrás pelos prejuízos causados em decorrência da desvalorização
dos ativos da Companhia, por conta da Lava Jato, deverá ser ajuizada
na Justiça Federal de 1ª instância (e não por arbitragem).
Importante!!!
A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não
pode ser submetida à cláusula compromissória arbitral prevista no
Estatuto Social da Companhia, seja em razão da ausência de lei
autorizativa, seja em razão do próprio conteúdo da norma
estatutária.
Caso concreto: um grupo de acionistas da Petrobrás formulou
requerimento para instauração de procedimento arbitral perante a
Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM-BOVESPA) contra a União e
a Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos
decorrentes da desvalorização dos ativos da Petrobras, em razão dos
desgastes oriundos da Operação Lava Jato.
O procedimento foi instaurado com base no art. 58 do Estatuto Social
da Petrobrás, onde consta uma cláusula compromissória dizendo que
as disputas que envolvam a Companhia, seus acionistas,
administradores e conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por
meio de arbitragem.
A União afirmou que não estava obrigada a participar dessa
arbitragem, argumento que foi acolhido pelo STJ.
STJ. 2ª Seção. CC 151.130-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019 (Info 664).
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Atualização – Informativos STF e STJ


CONDOMÍNIO
É nula a cláusula de convenção do condomínio outorgada pela
própria construtora que prevê a redução da taxa condominial das
suas unidades imobiliárias ainda não comercializadas.
Caso concreto: a convenção de condomínio previu que a construtora
– proprietária das unidades imobiliárias ainda não comercializadas –
precisaria pagar apenas 30% do valor da taxa condominial por
unidade.
Assim, enquanto os demais condôminos pagariam 100% da quota
condominial, a construtora teria que pagar apenas 30% por unidade.
O STJ considerou que essa cláusula é nula.
A convenção outorgada pela construtora/incorporadora não pode
estabelecer benefício de caráter subjetivo a seu favor com a
finalidade de reduzir ou isentar do pagamento da taxa condominial.
A taxa condominial é fixada de acordo com a previsão orçamentária
de receitas e de despesas, bem como para constituir o fundo de
reserva com a finalidade de cobrir eventuais gastos de emergência. A
redução ou isenção da quota condominial a favor de um ou vários
condôminos implica oneração aos demais, com evidente violação da
regra da proporcionalidade prevista no inciso I do art. 1.334 do
CC/2002.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.816.039-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

• PARENTESCO
A concessão de guarda do menor não implica automática destituição
do poder-dever familiar dos pais para representá-lo em juízo.
A representação legal do filho menor é uma das vertentes do poder
familiar e deverá ser exercida, em regra, pelos pais, conforme prevê
o art. 1.634, VII, do Código Civil.
Assim, somente em algumas hipóteses é que o menor poderá deixar
de ser representado pelos seus pais.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O fato de ter sido concedida a guarda do menor para uma outra
pessoa que não compõe o núcleo familiar não significa que tenha
havido a destituição automática do poder familiar.
Logo, mesmo em tais casos, a competência para representar este
menor em juízo é do pai ou da mãe (e não da guardiã).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.761.274-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 04/02/2020 (Info 664).

• ALIMENTOS
O fato de o representante legal do menor, autor de execução de
alimentos, possuir atividade remunerada não pode, por si só, servir
de empecilho à concessão da gratuidade de justiça.
Em ação judicial que versa sobre alimentos ajuizada por menor, não
é admissível que a concessão da gratuidade de justiça esteja
condicionada a demonstração de insuficiência de recursos de seu
representante legal.
Caso concreto: uma criança, representada por sua mãe, ingressou
com execução de alimentos contra o pai; o juiz indeferiu o pedido de
gratuidade de justiça porque a mãe do autor (representante do
menor) não provou a sua insuficiência de recursos.
O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza
individual e personalíssima.
Assim, os requisitos para a concessão ou não do direito à gratuidade
deverão ser preenchidos, em regra, pela própria parte, e não pelo
seu representante legal.
É evidente que, em se tratando de menores representados pelos
seus pais, haverá sempre um forte vínculo entre a situação desses
dois diferentes sujeitos de direitos e obrigações, sobretudo em razão
da incapacidade civil e econômica do próprio menor.
Isso não significa, contudo, que se deva automaticamente examinar o
direito à gratuidade a que poderia fazer jus o menor à luz da situação
financeira de seus pais. Assim, em se tratando de direito à gratuidade
de justiça pleiteado por menor de 18 anos, deve o juiz, inicialmente,
aplicar a regra do §3º do art. 99, deferindo o benefício em razão da
presunção de sua insuficiência de recursos.
45

Atualização – Informativos STF e STJ


Existe, todavia, a possibilidade de a outra parte demonstrar, com
base no § 2º, a ausência dos pressupostos legais que justificam a
gratuidade, pleiteando, em razão disso, a revogação do benefício
concedido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.807.216-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 04/02/2020 (Info 664).

• SUCESSÃO LEGÍTIMA
Se o herdeiro renunciou a herança, não tem legitimidade para ação
que busca a nulidade de uma alienação realizada pelo de cujus em
vida considerando que, mesmo se anulada a venda, não terá
qualquer direito sobre esse bem;
Aquele que renuncia a herança não tem legitimidade para pleitear
eventual nulidade de negócio jurídico que envolva um dos bens que
integram o patrimônio do de cujus. Exemplo hipotético: João, Pedro,
Tiago e Regina são irmãos. Em 2010, Regina, que tinha sérios
problemas de saúde, vendeu um apartamento para seu irmão Tiago
por preço bem abaixo do mercado.
Os demais irmãos não souberam dessa venda. Em 2011, Regina
faleceu. Não tinha cônjuge, descendentes ou ascendentes.
Diante disso, os únicos herdeiros eram seus irmãos.
João optou por renunciar a herança em favor do monte. Logo depois
que fez isso, João tomou conhecimento da venda do apartamento
ocorrida em 2010.
Ele ficou revoltado porque considerou que sua irmã não estava em
sua perfeita condição mental, tendo sido, portanto, “enganada” por
Tiago. João ingressou com ação declaratória de nulidade do negócio
jurídico.
O juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito porque
João não possui legitimidade ativa ad causam considerando que ele
renunciou expressamente a herança deixada por Regina, de sorte
que, mesmo se anulada a venda, não teria nenhum proveito
econômico com isso.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.650-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 19/11/2019 (Info 664).

• SEGURO
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Atualização – Informativos STF e STJ


A cláusula de reajuste por faixa etária em contrato de seguro de vida
é legal, ressalvadas as hipóteses em que o contrato já tenha previsto
alguma outra técnica de compensação do desvio de risco dos
segurados idosos.
Importante!!! Mudança de entendimento! Atualize o Info 561-STJ
Em regra, é válida a cláusula de reajuste por faixa etária em contrato
de seguro de vida.
Essa cláusula somente não será válida nos casos em que o contrato
já tenha previsto alguma outra técnica de compensação do “desvio de
risco” dos segurados idosos, como nos casos de constituição de
reserva técnica para esse fim, a exemplo dos seguros de vida sob
regime da capitalização (em vez da repartição simples).
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 632.992/RS, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 19/03/2019.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.816.750-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 26/11/2019 (Info 663).

• INVENTÁRIO
A fixação de determinado valor a ser recebido mensalmente pelo
herdeiro a título de adiantamento de herança não configura o negócio
jurídico processual atípico do art. 190 do CPC/2015.
A fixação de determinado valor a ser recebido mensalmente pelo
herdeiro a título de adiantamento de herança não configura negócio
jurídico processual atípico na forma do art. 190, caput, do CPC/2015.
O acordo firmado entre os herdeiros para autorizar a retirada mensal
dos valores não é um acordo puramente processual. Isso porque o
seu objeto é o próprio direito material que se discute e que se
pretende obter na ação de inventário, ou seja, a divisão do
patrimônio do autor da herança.
O que se está fazendo, portanto, é simplesmente antecipar a fruição
e uso do direito material.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.656-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 03/12/2019 (Info 663).

• INVENTÁRIO

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Atualização – Informativos STF e STJ


É possível o inventário extrajudicial, ainda que exista testamento, se
os interessados forem capazes e concordes e estiverem assistidos por
advogado.
Importante!!! Cuidado com alguns livros!
É possível o inventário extrajudicial, ainda que exista testamento, se
os interessados forem capazes e concordes e estiverem assistidos por
advogado, desde que o testamento tenha sido previamente
registrado judicialmente ou haja a expressa autorização do juízo
competente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.808.767-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 15/10/2019 (Info 663).

• SEGURO
É cabível a modulação dos efeitos do entendimento da Súmula 610
do STJ no caso de suicídio que tenha ocorrido ainda na vigência do
entendimento anterior, previsto nas Súmulas 105 do STF e 61 do STJ
No seguro de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua
tendo obrigação de pagar a indenização?
1) Entendimento ANTERIOR (até 08/04/2015) (Súmulas 105 do STF e
61 do STJ): O critério era o da premeditação: • Se o suicídio foi
premeditado: NÃO • Se o suicídio não foi premeditado: SIM
2) Entendimento ATUAL (Súmula 610 do STJ): O critério passou a ser
o meramente temporal: • Suicídio nos dois primeiros anos: SEM
direito à indenização. • Suicídio após os dois primeiros anos: TEM
direito à indenização. Caso concreto: segurado cometeu suicídio
antes de terminarem os dois primeiros anos do contrato. Ficou
demonstrado que o suicídio não foi premeditado.
Assim, pelo entendimento anterior, o beneficiário do seguro teria
direito à indenização (porque o suicídio não foi premeditado). Por
outro lado, pelo entendimento atual, o filho de João não teria direito
à indenização (porque o suicídio ocorreu nos dois primeiros anos do
contrato).
O beneficiário ajuizou a ação contra a seguradora quando ainda
vigorava o entendimento anterior do STJ, tendo, inclusive, obtido
uma sentença favorável.
Ocorre que, quando o processo chegou ao STJ por meio de recurso, o
entendimento já havia mudado.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Neste caso, o STJ afirmou que, mesmo tendo havido alteração da
jurisprudência, deveria ser aplicado o entendimento anterior.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.716-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 10/12/2019 (Info 662).

• OBRIGAÇÕES
No pagamento diferido em parcelas, não havendo disposição
contratual em contrário, é legal a imputação do pagamento
primeiramente nos juros.
Importante!!!
A imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto
que, via de regra, alcança todos os contratos em que o pagamento é
diferido em parcelas. O objetivo de fazer isso é o de diminuir a
oneração do devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao
capital para, só depois dessa integração, ser abatido o valor das
prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de
juros.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.843.073-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 30/03/2020 (Info 669).
• ALIMENTOS
A desoneração dos alimentos fixados entre ex-cônjuges deve
considerar outras circunstâncias, além do binômio necessidade-
possibilidade, tais como a capacidade potencial para o trabalho e o
tempo de pensionamento.
Importante!!!
O dever de prestar alimentos entre ex-cônjuges é transitório,
devendo ser assegurado alimentos apenas durante certo tempo, até
que o ex-cônjuge consiga prover o seu sustento com meios próprios.
Assim, ao se analisar se o ex-cônjuge ainda deve continuar
recebendo os alimentos, deve-se examinar não apenas o binômio
necessidade-possibilidade, devendo ser consideradas outras
circunstâncias, tais como a capacidade potencial para o trabalho e o
tempo decorrido entre o seu início e a data do pedido de
desoneração.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.829.295-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 669).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• DIREITO AO ESQUECIMENTO
Existindo interesse social à memória histórica de crime notório, não é
possível acolher a tese do direito ao esquecimento para proibir
qualquer veiculação futura de matérias jornalísticas relacionadas ao
fato.
A veiculação de matéria jornalística sobre delito histórico que expõe
a vida cotidiana de terceiros não envolvidos no fato criminoso, em
especial de criança e de adolescente, representa ofensa ao princípio
da intranscendência.
Existindo evidente interesse social no cultivo à memória histórica e
coletiva de delito notório, incabível o acolhimento da tese do direito
ao esquecimento para proibir qualquer veiculação futura de matérias
jornalísticas relacionadas ao fato criminoso cuja pena já se encontra
cumprida.
O chamado direito ao esquecimento, apesar de ser reconhecido pela
jurisprudência, não possui caráter absoluto.
Em caso de evidente interesse social no cultivo à memória histórica e
coletiva de delito notório, não se pode proibir a veiculação de
matérias jornalísticas relacionados com o fato criminoso, sob pena de
configuração de censura prévia, vedada pelo ordenamento jurídico
pátrio. Em tal situação, não se aplica o direito ao esquecimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).
Matéria jornalística que, sob o pretexto de noticiar crime histórico,
expõe a intimidade do atual marido e dos filhos da condenada,
pessoas que não têm relação direta com o fato, ofende o princípio da
intranscendência ou da pessoalidade da pena, descrito no art. 5º,
XLV, da CF/88 e no art. 13 do Código Penal. Isso porque, ao expor
publicamente a intimidade dos referidos familiares em razão do crime
ocorrido, a reportagem compartilhou dimensões evitáveis e
indesejáveis dos efeitos da condenação então estendidas à atual
família da ex-condenada.
Especificamente quanto aos filhos, menores de idade, ressalta-se a
Opinião Consultiva n. 17, de 28 de agosto de 2002 da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, que entende que o melhor
interesse das crianças e dos adolescentes é reconhecido como critério
regente na aplicação de normas em todos os aspectos da vida dos
denominados “sujeitos em desenvolvimento”.
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Atualização – Informativos STF e STJ


Ademais, a exposição jornalística da vida cotidiana dos infantes,
relacionando-os, assim, ao ato criminoso, representa ofensa ao
direito ao pleno desenvolvimento de forma sadia e integral, nos
termos do art. 3º do ECA e do art. 16 da Convenção sobre os Direitos
da Criança, promulgada pelo Decreto nº 99.710/90.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

• DOAÇÃO
É nula a doação entre cônjuges casados sob o regime da comunhão
universal de bens.
É nula a doação entre cônjuges casados sob o regime da comunhão
universal de bens, na medida em que a hipotética doação resultaria
no retorno do bem doado ao patrimônio comum amealhado pelo casal
diante da comunicabilidade de bens no regime e do exercício comum
da copropriedade e da composse.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.787.027-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 04/02/2020 (Info 670).

• CONTRATOS (CONTRATO DE MANDATO)


A ausência do reconhecimento de firma da assinatura do mandante
não induz, necessariamente, a nulidade do instrumento particular de
mandato.
Baixa relevância para concursos.
O Código Civil de 1916 previa que “o reconhecimento da letra e
firma no instrumento particular é condição essencial à sua validade,
em relação a terceiros” (art. 1.289, §4º). Embora o respeito à forma
prescrita em lei tenha relevância, a jurisprudência do STJ admite,
ainda que excepcionalmente, a relativização de vícios formais,
especialmente aqueles que se podem reputar como menos graves e
que sejam insuficientes para comprometer a substância do ato
negocial.
Assim, em um caso ocorrido na vigência do CC/1916, o STJ afirmou
que, embora não tenha havido o reconhecimento de firma da
assinatura do mandante do contrato de mandato, não deveria ser
reconhecida a nulidade do mandato considerando que qualquer

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Atualização – Informativos STF e STJ


dúvida acerca da autenticidade do documento foi dirimida pela prova
pericial grafotécnica.
Vale ressaltar que o Código Civil de 2002 não traz uma regra tão
rígida quanto a do diploma passado e prevê apenas que “o terceiro
com quem o mandatário tratar poderá exigir que a procuração traga
a firma reconhecida” (art. 654, § 2º, do CC/2002).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.787.027-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 04/02/2020 (Info 670).
• CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS
Nos contratos de serviços advocatícios com cláusula de remuneração
exclusivamente por verbas sucumbenciais, a rescisão unilateral pelo
cliente justifica o arbitramento judicial de honorários pelo trabalho do
causídico até o momento da rescisão contratual Nos contratos de
prestação de serviços advocatícios com cláusula de remuneração
exclusivamente por verbas sucumbenciais, a revogação unilateral do
mandato pelo mandante acarreta a remuneração do advogado pelo
trabalho desempenhado até o momento da rescisão contratual.
Nessas hipóteses, o risco assumido pelo advogado é calculado com
base na probabilidade de êxito da pretensão de seu cliente, sendo
esse o limite do consentimento das partes no momento da
contratação.
Não é possível que o risco assumido pelo causídico venha a abarcar a
hipótese de o contratante, por ato próprio e sem uma justa causa,
anular o seu direito à remuneração, rescindindo o contrato.
O cliente pode, sem dúvida, exercer o direito de não mais ser
representado pelo advogado antes contratado, mas deve, por outro
lado, assumir o ônus de remunerá-lo pelo trabalho desempenhado
até aquele momento, sob pena de ser desconsiderado todo o trabalho
desempenhado. Desse modo, é cabível o arbitramento judicial da
verba honorária, levando em consideração as atividades
desenvolvidas pelo causídico.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.560.257-PB, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 20/04/2020 (Info 670).

• OBRIGAÇÕES (JUROS)

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Atualização – Informativos STF e STJ


Instituição não financeira - dedicada ao comércio varejista - não
pode estipular, em suas vendas a crédito, pagas em prestações, juros
remuneratórios superiores a 1% ao mês, ou a 12% ao ano.
Importante!!!
A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites
estabelecidos pelo Código Civil é excepcional e deve ser interpretada
restritivamente. Apenas às instituições financeiras, submetidas à
regulação, controle e fiscalização do Conselho Monetário Nacional, é
permitido cobrar juros acima do teto legal.
A previsão do art. 2º da Lei nº 6.463/77 faz referência a um sistema
obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a prestação dependia
da atuação do varejista como instituição financeira e no qual o
controle dos juros estava sujeito ao escrutínio dos próprios
consumidores e à regulação e fiscalização do Ministério da Fazenda.
O art. 2º da Lei 6.463/77 não possui mais suporte fático apto à sua
incidência, sendo, portanto, ineficaz, não podendo ser interpretado
extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a
instituições financeiras e não autorizando a cobrança de encargos
cuja exigibilidade a elas é restrita.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.720.656-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 28/04/2020 (Info 671).
• RESPONSABILIDADE CIVIL
Acidente de trânsito, responsabilidade civil e possibilidade de
ajuizamento de ação para complementação das verbas já recebidas
por força de acordo extrajudicial.
Em regra, a quitação ampla, geral e irrevogável efetivada em acordo
extrajudicial deve ser presumida válida e eficaz, não se autorizando o
ingresso na via judicial para ampliar verbas indenizatórias
anteriormente aceitas e recebidas.
Existem, contudo, exceções a essa regra. O curto espaço de tempo
entre o acidente e a assinatura do acordo e desconhecimento da
integralidade dos danos constitui exceção à regra de que a quitação
plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação para ampliar a verba
indenizatória aceita e recebida.
Caso concreto: o acidente de trânsito foi em 20/04/2015; o acordo
foi celebrado em 08/05/2015, ou seja, em data muito próxima à do
sinistro; nessa época, a autora ainda não tinha conhecimento da
integralidade do prejuízo que havia sofrido; após a assinatura do

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Atualização – Informativos STF e STJ


termo, a parte tomou ciência de que necessitaria de amplo
tratamento dentário, razão pela qual ajuizou ação cobrando o custo
disso e que não estava coberto pelo acordo.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.833.847-RS, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

• DIREITOS REAIS (USUCAPIÃO)


A separação de fato por longo período afasta a regra de impedimento
da fluência da prescrição entre cônjuges prevista no art. 197, I, CC e
viabiliza a efetivação da prescrição aquisitiva por usucapião.
Importante!!!
O art. 197, I, do Código Civil prevê que não corre a prescrição entre
os cônjuges, na constância da sociedade conjugal. Essa causa
impeditiva de fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I,
do CC, embora esteja topologicamente inserida no capítulo da
prescrição extintiva, também se aplica às prescrições aquisitivas, ou
seja, à usucapião.
Assim, em regra, um cônjuge não poderia adquirir por meio de
usucapião um bem do outro cônjuge enquanto não houvesse a
separação judicial ou divórcio. Isso porque, na vigência da sociedade
conjugal, não estaria sendo computado o prazo para fins de
usucapião (prescrição aquisitiva) por força do art. 197, I. Ocorre que,
para o STJ, a separação de fato de um casal é suficiente para cessar
a causa impeditiva da fluência do prazo prescricional prevista no art.
197, I, do CC. Logo, estando o casal separado de fato, é possível
iniciar a contagem do prazo para a prescrição aquisitiva do imóvel
(usucapião).
Desse modo, a constância da sociedade conjugal, exigida para a
incidência da causa impeditiva da prescrição extintiva ou aquisitiva
(art. 197, I, do CC/2002), cessará não apenas nas hipóteses de
divórcio ou de separação judicial, mas também na hipótese de
separação de fato por longo período, tendo em vista que igualmente
não subsistem, nessa hipótese, as razões de ordem moral que
justificam a existência da referida norma.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.693.732-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 05/05/2020 (Info 671).
• DIREITOS REAIS (USUCAPIÃO)
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Atualização – Informativos STF e STJ


A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o
reconhecimento da usucapião especial urbana sobre a totalidade da
área.
Importante!!!
A usucapião especial urbana apresenta como requisitos a posse
ininterrupta e pacífica, exercida como dono, o decurso do prazo de
cinco anos, a dimensão da área (250 m² para a modalidade individual
e área superior a esta, na forma coletiva), a moradia e o fato de não
ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
O uso misto da área a ser adquirida por meio de usucapião especial
urbana não impede seu reconhecimento judicial, se a porção utilizada
comercialmente é destinada à obtenção do sustento do usucapiente e
de sua família.
É necessário que a área pleiteada seja utilizada para a moradia do
requerente ou de sua família, mas a lei não proíbe que o autor a
utilize também para seu sustento. Assim, o fato de o autor da ação
de usucapião utilizar uma parte do imóvel para uma atividade
comercial que serve ao sustento da família domiciliada no imóvel não
inviabiliza a prescrição aquisitiva buscada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.404-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 05/05/2020 (Info 671).
• ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
O credor fiduciário regido pelo DL 911/1969, em caso de
inadimplemento contratual, pode promover a inscrição dos nomes
dos devedores solidários em bancos de dados de proteção ao crédito,
independentemente de optar pela excussão da garantia ou pela ação
de execução.
Importante!!!
Em caso de mora do mutuário, o credor mutuante poderá:
1) ingressar com ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja
entregue o bem (art. 3º do DL 911/69); ou
2) ajuizar uma ação de execução (arts. 4º e 5º do DL 911/69).
Assim, diz-se que, na hipótese de inadimplemento ou mora no
cumprimento das obrigações contratuais pelo devedor, o credor pode
optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução.
Vale ressaltar que o credor fiduciário, na hipótese de inadimplemento
do contrato, não é obrigado a promover a venda do bem alienado

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Atualização – Informativos STF e STJ


fiduciariamente, antes de proceder à inscrição dos nomes dos
devedores em cadastros de proteção ao crédito.
Assim, independentemente da via eleita pelo credor para a satisfação
de seu crédito, não há ilicitude na inscrição do nome do devedor e
seu avalista nos órgãos de proteção ao crédito, ante o incontroverso
inadimplemento da obrigação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.824-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 05/05/2020 (Info 671).
• PRISÃO CIVIL
Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia
da Covid-19?
Importante!!!
Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia
da Covid-19? 4ª Turma do STJ e CNJ: prisão domiciliar Durante a
pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos
presos em decorrência de dívidas alimentícias.
O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado
coronavírus desaconselha a manutenção do devedor em ambiente
fechado, insalubre e potencialmente perigoso. Assim, diante do
iminente risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos
esforços expendidos pelas autoridades públicas em reduzir o avanço
da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por
dívida alimentar em prisão domiciliar.
STJ. 4ª Turma. HC 561.257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
05/05/2020 (Info 671).
3ª Turma do STJ: suspensa
Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil
dos devedores (e não assegurar a prisão domiciliar).
Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19),
admite-se, excepcionalmente, a suspensão da prisão dos devedores
por dívida alimentícia em regime fechado.
Assegurar aos presos por dívidas alimentares o direito à prisão
domiciliar é medida que não cumpre o mandamento legal e que fere,
por vias transversas, a própria dignidade do alimentando. Por esse
motivo, não é plausível substituir o encarceramento pelo
confinamento social, o que, aliás, já é a realidade da maioria da
população, isolada em prol do bem-estar de toda a coletividade.

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Atualização – Informativos STF e STJ


A excepcionalidade da situação emergencial de saúde pública permite
o diferimento provisório da execução da obrigação cível enquanto
pendente a pandemia. A prisão civil suspensa terá seu cumprimento
no momento processual oportuno, já que a dívida alimentar
remanesce íntegra, pois não se olvida que, afinal, também está em
jogo a dignidade do alimentando, em regra, vulnerável.
STJ. 3ª Turma. HC 574.495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 26/05/2020 (Info 673).
Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº
14.010/2020, que adotou a mesma solução jurídica da 4ª Turma do
STJ e do CNJ e previu a seguinte regra:
Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida
alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei nº 13.105,
de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser
cumprida exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo
da exigibilidade das respectivas obrigações.

• CRÉDITO RURAL
Inconstitucionalidade do art. 26 da Lei nº 8.177/71 .
O art. 26 da Lei nº 8.177/71 é inconstitucional porque permite a
incidência da TR em substituição ao IPC nos contratos celebrados
antes do início de sua vigência, o que se afigura incompatível com a
garantia fundamental de proteção ao ato jurídico perfeito, previsto no
inciso XXXVI do art. 5º da Constituição Federal. Art. 5º (...) XXXVI -
a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada.
STF. Plenário. ADI 3005/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 1/7/2020 (Info 984).

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Atualização – Informativos STF e STJ


DIREITO CONSTITUCIONAL
• PODER JUDICIÁRIO
Não é compatível com a Constituição Federal a regra segundo a qual
apenas os Desembargadores mais antigos possam concorrer aos
cargos diretivos dos Tribunais de Justiça
O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o
universo dos possíveis candidatos aos órgãos de cúpula do TJ/SP aos
integrantes de seu órgão especial, é inconstitucional porque
desrespeitou a autonomia administrativa dos tribunais, consagrada
no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88.
O art. 102 da LOMAN (LC 35/79) não foi recepcionado pela CF/88,
considerando que não é compatível com a Constituição Federal a
regra segundo a qual apenas os Desembargadores mais antigos
possam concorrer aos cargos diretivos dos tribunais. Essa matéria,
em razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da
CF/88, deve ser remetida à disciplina regimental de cada tribunal.
STF. Plenário. ADI 3976/SP e MS 32451/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
julgados em 25/6/2020 (Info 983).
• SEGURANÇA PÚBLICA
Não é possível que os Estados-membros criem órgão de segurança
pública diverso daqueles que estão previstos no art. 144 da CF/88.
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Atualização – Informativos STF e STJ


Não é possível que os Estados-membros criem órgão de segurança
pública diverso daqueles que estão previstos no art. 144 da CF/88.
Os Estados-membros e o Distrito Federal devem seguir o modelo
federal.
O art. 144 da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício
da segurança pública, sendo esse rol taxativo. Assim, a Constituição
Estadual não pode prever a criação de Polícia Científica como órgão
integrante da segurança pública.
Vale ressaltar que nada impede que a Polícia Científica, criada pelo
Estado-membro para ser o órgão responsável pelas perícias, continue
a existir e a desempenhar suas funções, sem estar, necessariamente,
vinculada à Polícia Civil. No entanto, deve-se afastar qualquer
interpretação que lhe outorgue caráter de órgão de segurança
pública.
STF. Plenário. ADI 2575/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
24/6/2020 (Info 983).

• COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
É inconstitucional lei estadual que discipline a instalação de antenas
transmissoras de telefonia celular.
É inconstitucional Lei estadual que, a pretexto de proteger a saúde
da população, estabelece limites de radiação para a instalação de
antenas transmissoras de telefonia celular. Essa lei adentra na esfera
de competência privativa da União para legislar sobre
telecomunicações.
A União, no exercício de suas competências (art. 21, XI e art. 22, IV,
da CF/88), editou a Lei nº 9.472/97, que, de forma nítida, atribui à
ANATEL a definição de limites para a tolerância da radiação emitida
por antenas transmissoras.
A União, por meio da Lei nº 11.934/2009, fixou limites
proporcionalmente adequados à exposição humana a campos
elétricos, magnéticos e eletromagnéticos.
Dessa forma, a presunção de que gozam os entes menores para, nos
assuntos de interesse comum e concorrente, legislarem sobre seus
respectivos interesses (presumption against preemption) foi
nitidamente afastada por norma federal expressa (clear statement
rule).

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. ADI 2902, Rel. Edson Fachin, julgado em 04/05/2020
(Info 981 – clipping).

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS É inconstitucional lei


municipal que proíba a divulgação de material com referência a
“ideologia de gênero” nas escolas municipais.
Importante!!!
Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional (art. 22, XXIV, da CF), de modo que os Municípios
não têm competência para editar lei proibindo a divulgação de
material com referência a “ideologia de gênero” nas escolas
municipais. Existe inconstitucionalidade formal.
Há também inconstitucionalidade material nessa lei.
Lei municipal proibindo essa divulgação viola:
• a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber (art. 206, II, CF/88); e
• o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III).
Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil, que é a promoção do bem de todos sem
preconceitos (art. 3º, IV, CF/88).
Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal de promover
políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo para a manutenção
da discriminação com base na orientação sexual e identidade de
gênero.
STF. Plenário. ADPF 457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
27/04/2020 (Info 980 – clipping)

• DIREITOS SOCIAIS
O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que
podem ser dirigentes sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola
a garantia da liberdade sindical.
O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não
podem ser demitidos, salvo se cometerem falta grave.
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Atualização – Informativos STF e STJ


O art. 522 da CLT prevê um número máximo empregados que podem
ser dirigentes sindicais. Assim que a CF/88 foi promulgada, alguns
doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da
CLT não teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso
porque o inciso I do art. 8º da Constituição prevê que a liberdade
sindical, ou seja, proíbe que o poder público interfira na organização
dos sindicatos.
O TST e o STF não concordaram com essa tese.
A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui
caráter absoluto.
A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados
de estabilidade de emprego não esvazia a liberdade sindical. Essa
garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia
da entidade sindical, mas não serve para criar situações de
estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a
finalidade da norma constitucional garantidora do direito.
Logo, o art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de
1988.
STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020
(Info 980 – clipping).
• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Procurador público possui capacidade postulatória para interpor
recurso extraordinário em ação de controle concentrado de
constitucionalidade, desde que o legitimado tenha outorgado poderes.
Importante!!!
Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor
recursos extraordinários contra acórdãos proferidos em sede de ação
de controle concentrado de constitucionalidade, nas hipóteses em que
o legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das
peças recursais.
STF. Plenário. RE 1068600 AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980).
• ADI
É possível o aditamento da petição inicial da ADI para a inclusão de
novos dispositivos legais?

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Atualização – Informativos STF e STJ


O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade
para que sejam incluídos novos dispositivos legais somente é possível
nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação:
a) dispense a requisição de novas informações e manifestações; e
b) não prejudique o cerne da ação.
Assim, por exemplo, se o autor, depois que o processo já está em
curso, pede a inclusão no objeto da ADI de novos dispositivos legais
que ampliam o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido
porque isso exigiria que novos pedidos de informações à Assembleia
Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como novas
manifestações da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral
da República, o que violaria os princípios da economia e da celeridade
processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o
objeto da ação direta, na medida em que ampliaria o seu escopo.
STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, julgado em
20/04/2020 (Info 980 – clipping).

• ADPF
É cabível o ajuizamento de ADPF contra interpretação judicial de que
possa resultar lesão a preceito fundamental.
Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam
medidas de constrição judicial em desfavor do Estado-membro, das
Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de Execução da
Educação UDEs e que recaiam sobre verbas destinadas à educação.
STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020
(Info 980).
• TRIBUNAIS DE CONTAS
É constitucional dispositivo da CE/SP que preveja que o TCM/SP será
composto por cinco conselheiros e que obedecerá às normas da
Constituição Federal, da Constituição Estadual e as normas
pertinentes aos Conselheiros do TCE.
A Constituição do Estado de São Paulo previu a seguinte regra:
Art. 151. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo será
composto por cinco Conselheiros e obedecerá, no que couber, aos
princípios da Constituição Federal e desta Constituição.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas
do Município de São Paulo as normas pertinentes aos Conselheiros do
Tribunal de Contas do Estado.
Para o STF, essa previsão não ofende a autonomia municipal nem
viola o princípio da simetria.
Se a Constituição Federal prevê nove conselheiros para a composição
do TCU e sete para composição dos tribunais de contas dos estados,
é razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número
inferior de conselheiros. Desse modo, não se vislumbra nenhuma
ofensa ao princípio da simetria.
Vale ressaltar que essa norma da Constituição Estadual não equipara
os vencimentos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Município
aos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. A fixação da
remuneração dos conselheiros cabe ao Município (mesmo que em
valor diverso do fixado para os conselheiros estaduais).
STF. Plenário. ADI 346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgados em 3/6/2020 (Info 980).
• ADVOCACIA PÚBLICA
Técnico superior em Direito de autarquia estadual não pode exercer
atribuições de representação jurídica da entidade, mas pode fazer
atuação jurídica no âmbito interno da autarquia, desde que sob a
supervisão de Procurador do Estado;
Importante!!!
É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia
(no caso, era Técnico Superior do DETRAN) será responsável por:
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que
haja interesse da autarquia”.
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa,
devendo, para tanto, exercer as suas funções profissionais e de
responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil
OAB”.
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação
judicial dos Estados e do Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da
CF/88.
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria
paralela, atribuiu ao cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com
formação em Direito, diversas funções privativas de advogado.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica
do DETRAN a pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral
do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88.
O STF decidiu modular os efeitos da decisão para:
• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais
inerentes às procuradorias;
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos
etc.) até a data do julgamento, com base na teoria do funcionário de
fato.
ATENÇÃO. Por outro lado, é válido que esses servidores façam a
atuação jurídica no âmbito interno da autarquia, sobretudo em
atividades de compliance, tais como conceber e formular medidas e
soluções de otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar
textos e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões
jurídicas que envolvam as atividades da entidade, elaborar editais,
contratos, convênios etc.). Essas atribuições podem sim ser
exercidas* pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso
ofenda o princípio da unicidade da representação judicial.
O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-
jurídica da autarquia para a PGE, porque esta não conseguirá fazer
frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas atividades
inviabilizadas.
STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
13/12/2018 (Info 927).
No dia 04/06/2020, o STF julgou embargos de declaração opostos
neste processo e fez os seguintes acréscimos:
• também são inconstitucionais os dispositivos da lei que preveem
que o Técnico Superior do DETRAN possa “apresentar recursos em
qualquer instância”, “comparecer às audiências e outros atos para
defender os direitos do órgão” e “promover medidas administrativas e
judiciais para proteção dos bens e patrimônio do DETRAN-ES”;
• a declaração de inconstitucionalidade parcial do ato normativo
abrange as atribuições jurídicas consultivas do cargo de Técnico
Superior que sejam privativas de Procurador do Estado. Assim, as
atribuições de “elaborar estudos de pareceres sobre questões
jurídicas que envolvam as atividades do DETRAN-ES; elaborar editais,
contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela autarquia,
com a emissão de parecer” devem ser exercidas sob supervisão de
Procurador do Estado do Espírito Santo.
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Atualização – Informativos STF e STJ


* Com base no que foi completado no julgamento dos embargos,
conclui-se que as atribuições jurídicas consultivas dos ocupantes do
cargo de Técnico Superior devem ser obrigatoriamente exercidas sob
a supervisão de Procurador do Estado, por ser esta a interpretação
que melhor prestigia o art. 132 da CF/88 e a jurisprudência do STF.
STF. Plenário. ADI 5109 ED-segundos/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 4/6/2020 (Info 980).

• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Inconstitucionalidade de lei estadual que afaste as exigências de
revalidação de diplomas emitidos por instituições de ensino superior
estrangeiras.
É inconstitucional lei estadual que afasta as exigências de
revalidação de diploma obtido em instituições de ensino superior de
outros países para a concessão de benefícios e progressões a
servidores públicos.
Essa lei invade a competência privativa da União para legislar sobre
diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV, CF/88).
STF. Plenário. ADI 6073, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/03/2020.

• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Lei estadual que modifique os limites geográficos de Município pode
ser objeto de ADI
Lei estadual que dispõe sobre criação, incorporação, fusão ou
desmembramento de municípios possui natureza normativa e
abstrata, desafiando o controle concentrado.
STF. Plenário. ADI 1825, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020
(Info 978).

• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que trate sobre as
atribuições dos órgãos da Administração Pública.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Padece de inconstitucionalidade formal lei de iniciativa parlamentar
que disponha sobre atribuições de órgãos da Administração Pública
(art. 61, § 1º, II, "e" e art. 84, VI, da Constituição Federal).
STF. Plenário. ADI 3981, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
15/04/2020 (Info 978).
• CNMP
É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os
servidores do Ministério Público exerçam advocacia.
É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os
servidores do Ministério Público exerçam advocacia.
O CNMP possui capacidade para a expedição de atos normativos
autônomos (art. 130-A, § 2º, I, da CF/88), desde que o conteúdo
disciplinado na norma editada se insira no seu âmbito de atribuições
constitucionais.
A Resolução 27/2008 do CNMP tem por objetivo assegurar a
observância dos princípios constitucionais da isonomia, da moralidade
e da eficiência no Ministério Público, estando, portanto, abrangida
pelo escopo de atuação do CNMP (art. 130-A, § 2º, II).
A liberdade de exercício profissional não é um direito absoluto,
devendo ser interpretada dentro do sistema constitucional como um
todo.
STF. Plenário. ADI 5454, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
15/04/2020 (Info 978).

• PODER LEGISLATIVO
É inconstitucional norma da CE que preveja a possibilidade de a
Assembleia Legislativa convocar o Presidente do TJ ou o PGJ para
prestar informações, sob pena de crime de responsabilidade.
É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja a
possibilidade de a Assembleia Legislativa convocar o Presidente do
Tribunal de Justiça ou o Procurador-Geral de Justiça para prestar
informações na Casa, afirmando que a sua ausência configura crime
de responsabilidade.
O art. 50 da CF/88, norma de reprodução obrigatória, somente
autoriza que o Poder Legislativo convoque autoridades do Poder
Executivo, e não do Poder Judiciário ou do Ministério Público.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Não podem os Estados-membros ampliar o rol de autoridades sujeitas
à convocação pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de
responsabilidade, por violação ao princípio da simetria e à
competência privativa da União para legislar sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 2911, Rel. Carlos Britto, julgado em 10/08/2006.
STF. Plenário. ADI 5416, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 03/04/2020
(Info 977).

• DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição ao
autorizar a disponibilização dos dados pessoais de todos os
consumidores dos serviços STFC e SMP, pelos respectivos
operadores, ao IBGE.
Covid-19
A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde
decorrente do covid-19, as empresas de telefonia fixa e móvel
deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos
nomes, números de telefone e endereços. Segundo a MP, essas
informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas oficial,
com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes
das empresas.
As informações disciplinadas pela MP 954/2020 configuram dados
pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas constitucionais
que asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e
o livre desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII). Sua
manipulação e tratamento deverão respeitar esses direitos e os
limites estabelecidos pela Constituição.
A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição
porque diz que os dados serão utilizados exclusivamente para a
produção estatística oficial, mas não delimita o objeto da estatística a
ser produzida, nem a finalidade específica ou a sua amplitude.
A MP 954/2020 não apresenta também mecanismos técnico ou
administrativo para proteger os dados pessoais de acessos não
autorizados, vazamentos acidentais ou utilização indevida.
Diante disso, constata-se que a MP violou a garantia do devido
processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão substantiva
(princípio da proporcionalidade).

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393
MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 6 e 7/5/2020 (Info
976).

• COMPETÊNCIAS FEDERATIVAS
Não é possível exigir que Estados-membros e Municípios se vinculem
a autorizações e decisões de órgãos federais para tomar atitudes de
combate à pandemia.
Importante!!!
Covid-19
A Lei nº 13.979/2020 previu, em seu art. 3º, um rol exemplificativo
de oito medidas que podem ser adotadas pelo poder público para o
combate ao coronavírus.
O art. 3º, VI, “b”, e os §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020
estabeleceram que os Estados e Municípios somente poderia adotar
algumas medidas se houvesse autorização da União.
O STF, ao apreciar ADI contra a Lei, decidiu:
a) suspender parcialmente, sem redução de texto, o disposto no art.
3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020, a fim de excluir
estados e municípios da necessidade de autorização ou de
observância ao ente federal; e
b) conferir interpretação conforme aos referidos dispositivos no
sentido de que as medidas neles previstas devem ser precedidas de
recomendação técnica e fundamentada, devendo ainda ser
resguardada a locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos
por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre respeitadas
as definições no âmbito da competência constitucional de cada ente
federativo.
Assim, os Estados/DF e Municípios podem, mesmo sem autorização
da União, adotar medidas como isolamento, quarentena, exumação,
necropsia, cremação e manejo de cadáver e restrição à locomoção
interestadual e intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos.
Vale ressaltar que Estados e Municípios não podem fechar fronteiras,
pois sairiam de suas competências constitucionais.

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Atualização – Informativos STF e STJ


A adoção de medidas restritivas relativas à locomoção e ao
transporte, por qualquer dos entes federativos, deve estar embasada
em recomendação técnica fundamentada de órgãos da vigilância
sanitária e tem de preservar o transporte de produtos e serviços
essenciais, assim definidos nos decretos da autoridade federativa
competente.
STF. Plenário. ADI 6343 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).
• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI e
possibilidade de que esse vício seja sanado.
Importante!!!
O advogado que assina a petição inicial da ação direta de
inconstitucionalidade precisa de procuração com poderes específicos.
A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será
impugnado na ação. Repetindo: não basta que a procuração autorize
o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de forma específica, o ato
contra o qual se insurge.
Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida.
Vale ressaltar, contudo, que essa exigência constitui vício sanável e
que é possível a sua regularização antes que seja reconhecida a
carência da ação.
STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 27/03/2020.

• DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


É cabível, em tese, ADO pedindo a instituição de pagamento de valor
mínimo em favor dos mais necessitados durante situação de
calamidade pública decorrente de pandemia Covid-19.
No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO
pedindo que o Presidente da Repúbli.ca e os Presidentes da Câmara e
do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo
em favor dos mais necessitados a fim de assegurar a alimentação, o
mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana.
Alguns dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº
13.982/2020, que criou um benefício semelhante ao que se pretendia
na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um
benefício financeiro no valor de R$ 600,00 por mês, pago pela União
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Atualização – Informativos STF e STJ


a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI),
autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer
proteção emergencial, pelo prazo de 3 meses, às pessoas que
perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus.
Diante disso, o STF decidiu:
a) conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em
tese, ação direta de inconstitucionalidade por omissão para discutir o
tema);
b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado uma vez que
foi aprovado o auxílio emergencial (Lei nº 13.982/2020) e,
consequentemente, foi satisfeito o objeto da ADO.
STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, julgado em 30/4/2020 (Info 975).

• ACESSO À INFORMAÇÃO
É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP
928/2020, porque ele impõe uma série de restrições ao livre acesso
do cidadão a informações Covid-19.
É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela
MP 928/2020, porque ele impõe uma série de restrições ao livre
acesso do cidadão a informações.
O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e concretas
impeditivas de acesso à informação.
Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e
transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção
constitucional ao livre acesso de informações a toda sociedade.
STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353
MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020
(Info 975).

• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para
desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos.
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para
desenvolvimento, experimentos e testes de produtos cosméticos, de
higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna
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Atualização – Informativos STF e STJ


é matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da
CF/88).
A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma natureza permissiva,
autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e
pesquisas científicas, desde que sejam observadas algumas condições
relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou
atenuar o sofrimento dos animais.
Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei
estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é
possível que os Estados editem normas mais protetivas ao meio
ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na
preponderância de seu interesse, conforme o caso.
STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
15/04/2020 (Info 975).

• MINISTÉRIO PÚBLICO
É constitucional lei complementar estadual que preveja que compete
exclusivamente ao Procurador-Geral de Justiça interpor recursos ao
STF e STJ.
Importante!!!
Atenção! Ministério Público
Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir
privativamente ao Procurador-Geral de Justiça a competência para
interpor recursos dirigidos ao STF e STJ.
Não há inconstitucionalidade formal nessa previsão. Isso porque a
Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público -
LONMP) não pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de
Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e, por
expressa dicção do caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos
Procuradores-Gerais de Justiça não é exaustivo, de forma que as leis
orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem validamente
ampliar tais atribuições.
Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor natural e da
independência funcional dos membros do Parquet, uma vez que:
• se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público
estadual, veiculada por meio de lei;

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Atualização – Informativos STF e STJ


• e não se possibilita a ingerência do PGJ nas atividades dos
Procuradores de Justiça, que conservam plena autonomia no exercício
de seus misteres legais.
STF. Plenário. ADI 5505, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

• ADVOCACIA PÚBLICA
Norma estadual não pode conferir autonomia para a PGE
Norma estadual não pode conferir inamovibilidade aos Procuradores
do Estado Princípios e garantias funcionais do MP e da Defensoria não
podem ser estendidas à PGE Norma estadual não pode conferir
independência funcional aos Procuradores do Estado
Importante!!!
Atenção! Advocacia Pública
Norma estadual não pode conferir autonomia para a PGE.
As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes
Executivos, não gozam de autonomia funcional, administrativa ou
financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta
a criação de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas
explícita ou implicitamente pela Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.
Norma estadual não pode conferir inamovibilidade aos Procuradores
do Estado A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição
Federal aos magistrados, aos membros do Ministério Público e aos
membros da Defensoria Pública (arts. 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e
134, parágrafo único) não pode ser estendida aos procuradores de
estado.
STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.
Princípios e garantias funcionais do MP e da Defensoria não podem
ser estendidas à PGE Os princípios institucionais e as prerrogativas
funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública não podem
ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições
dos procuradores de estado – sujeitos que estão à hierarquia
administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas
aos membros daquelas outras instituições.
STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Norma estadual não pode conferir independência funcional aos
Procuradores do Estado A Procuradoria-Geral do Estado é o órgão
constitucional e permanente ao qual se confiou o exercício da
advocacia (representação judicial e consultoria jurídica) do Estado-
membro (art. 132 da CF/88).
A parcialidade é inerente às suas funções, sendo, por isso,
inadequado cogitar-se independência funcional, nos moldes da
Magistratura, do Ministério Público ou da Defensoria Pública (art. 95,
II; art. 128, § 5º, I, b; e art. 134, § 1º, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1246, Rel. Roberto Barroso, julgado em
11/04/2019.

• PODER JUDICIÁRIO
Inexiste ilegalidade em portaria editada pelo Juiz Diretor do Foro que
restringiu o ingresso de pessoas portando arma de fogo nas
dependências do Fórum.
Inexiste ilegalidade em portaria editada pelo Juiz Diretor do Foro da
Comarca de Sete Quedas que restringiu o ingresso de pessoas
portando arma de fogo nas dependências do Fórum.
STJ. 1ª Turma. RMS 38.090-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 10/03/2020 (Info 667).

• PRINCÍPIO DA IGUALDADE E SISTEMA DE COTAS


É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas
universidades públicas reservadas para alunos que estudaram nas
escolas públicas do Distrito Federal, excluindo, portanto, alunos de
escolas públicas de outros Estados da Federação.
É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das
universidades e faculdades públicas do Distrito Federal serão
reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do
Distrito Federal. Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que
estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19, III, da
CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre
brasileiros.
Vale ressaltar que a inconstitucionalidade não está no fato de ter
sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas
sim em razão de a lei ter restringindo as vagas para alunos do

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Atualização – Informativos STF e STJ


Distrito Federal, em detrimento dos estudantes de outros Estados da
Federação.
STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
27/03/2020.

• LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A proibição da entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra
Jair Bolsonaro, não significou censura nem restrição indevida à
liberdade de imprensa.
A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio
Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro, não significa restrição
indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia.
Logo, essa decisão não configura ofensa ao entendimento firmado
pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a Lei de
Imprensa (Lei nº 5.250/67).
A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as
investigações e evitar possíveis prejuízos processuais, inclusive
quanto ao direito ao silêncio do investigado.
Além disso, a decisão teve como finalidade proteger o próprio
custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja sanidade mental era
discutível na época, tendo sido, posteriormente, declarado
inimputável em razão de “transtorno delirante persistente”.
STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 14/4/2020 (Info 973).

• COMPETÊNCIAS FEDERATIVAS
Além da União, os Estados/DF e Municípios também podem adotar
medidas de combate ao coronavírus considerando que a proteção da
saúde é de competência concorrente; o Presidente pode definir as
atividades essenciais, mas preservando a autonomia dos entes.
A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo
Brasil para enfrentamento da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do coronavírus.
A MP 926/2020 alterou o caput e o inciso VI do art. 3º da Lei nº
13.979/2020 e acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº
13.979/2020. Foi ajuizada uma ADI contra esta MP.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu: • confirmar a medida
acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar
explícita, no campo pedagógico e na dicção do Supremo, a
competência concorrente.” Em outras palavras, as providências
adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados
por Estado, o Distrito Federal e Município considerada a competência
concorrente na forma do artigo 23, inciso II, da Lei Maior.”
• dar interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei
nº 13.979/2020, a fim de explicitar que o Presidente da República
pode dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e
atividades essenciais, no entanto, esse decreto deverá preservar a
atribuição de cada esfera de governo, nos termos do inciso I do art.
198 da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Edson Fachin, julgado em 15/4/2020 (Info 973).

• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de
bebidas alcoólicas nas arenas desportivas e nos estádios.
É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de
bebidas alcoólicas nas arenas desportivas e nos estádios. Trata-se de
legislação sobre consumo, matéria de competência concorrente (art.
24, V, da CF/88).
O art. 13-A, II, da Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) indica
como “condições de acesso e permanência do torcedor no recinto
esportivo”, entre outras, “não portar objetos, bebidas ou substâncias
proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de
violência”.
Não há, contudo, uma vedação geral e absoluta por parte do
Estatuto do Torcedor, de modo que o legislador estadual, no exercício
de sua competência concorrente complementar, observadas as
especificidades locais, pode regulamentar a matéria, autorizando, por
exemplo, a venda de cerveja e chope (bebidas de baixo teor
alcóolico) nos estádios.
Vale lembrar que isso já é autorizado nos grandes eventos mundiais
de futebol e outros esportes, inclusive na Copa do mundo organizada
pela FIFA e nas Olimpíadas.

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/03/2020.

• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que determine aos titulares das
serventias extrajudiciais que façam a microfilmagem dos documentos
arquivados no cartório.
Os Estados-membros não possuem competência legislativa para
determinar a microfilmagem de documentos arquivados nos cartórios
extrajudiciais do Estado.
Esse tema envolve registros públicos e responsabilidade civil dos
notários e registros, matéria que é de competência privativa da
União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
27/03/2020.

• INTERVENÇÃO
A Constituição Estadual não pode disciplinar sobre intervenção
estadual de forma diferente das regras previstas na Constituição
Federal.
A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção
estadual diferentes daquelas que são previstas no art. 35 da
Constituição Federal.
As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da CF/88
são taxativas. Caso concreto: STF julgou inconstitucional dispositivo
da Constituição de Pernambuco que previa que o Estado-membro
poderia intervir nos Municípios caso ali ocorressem atos de corrupção
e improbidade administrativa.
STF. Plenário. ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
27/03/2020.
Viola a Constituição Federal a previsão contida na Constituição
Estadual atribuindo aos Tribunais de Contas a competência para
requerer ou decretar intervenção em Município. Essa previsão não
encontra amparo nos arts. 34 e 36 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
27/03/2020.

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Atualização – Informativos STF e STJ


• DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
A omissão injustificada da Administração em providenciar a
disponibilização de banho quente nos estabelecimentos prisionais fere
a dignidade de presos sob sua custódia.
A omissão injustificada da Administração em providenciar a
disponibilização de banho quente nos estabelecimentos prisionais fere
a dignidade de presos sob sua custódia.
A determinação de que o Estado forneça banho quente aos presos
está relacionada com a dignidade da pessoa humana, naquilo que
concerne à integridade física e mental a todos garantida.
O Estado tem a obrigação inafastável e imprescritível de tratar
prisioneiros como pessoas, e não como animais.
O encarceramento configura pena de restrição do direito de liberdade,
e não salvo-conduto para a aplicação de sanções extralegais e
extrajudiciais, diretas ou indiretas. Em presídios e lugares similares
de confinamento, ampliam-se os deveres estatais de proteção da
saúde pública e de exercício de medidas de assepsia pessoal e do
ambiente, em razão do risco agravado de enfermidades,
consequência da natureza fechada dos estabelecimentos, propícia à
disseminação de patologias.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 27/04/2017 (Info 666).

• PODER JUDICIÁRIO
A readmissão na carreira da Magistratura não encontra amparo na
Lei Orgânica da Magistratura Nacional nem na Constituição Federal de
1988.
Importante!!!
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o servidor
exonerado não possui o direito de reingresso no cargo. Isso porque o
atual ordenamento constitucional impõe a prévia aprovação em
concurso público como condição para o provimento em cargo efetivo
da Administração Pública.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O STF já declarou a inconstitucionalidade de lei estadual que previa a
possibilidade de o magistrado exonerado reingressar nos quadros da
magistratura: ADI 2983, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em
23/02/2005.
O CNJ também já expediu orientação normativa vinculante afirmando
que não são possíveis formas de provimentos dos cargos relacionados
à carreira da Magistratura que não estejam explicitamente previstas
na Constituição Federal nem na LOMAN.
Assim, o magistrado que pediu exoneração não tem direito de
readmissão no cargo mesmo que essa possibilidade esteja prevista
em lei estadual.
STJ. 2ª Turma. RMS 61.880-MT, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 03/03/2020 (Info 666).

AMICUS CURIAE
Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar
• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de
Coisas Inconstitucional dos presídios, determinar medidas para
proteger os presos do Covid-19.
Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar
O amicus curiae não tem legitimidade para propor ação direta; logo,
também não possui legitimidade para pleitear medida cautelar.
Assim, a entidade que foi admitida como amicus curiae em ADPF não
tem legitimidade para, no curso do processo, formular pedido para a
concessão de medida cautelar.
STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020 (Info
970).
Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de
Coisas Inconstitucional dos presídios, determinar medidas para
proteger os presos do Covid-19
A decisão do Ministro Relator que, de ofício, na ADPF que trata sobre
o Estado de Coisas Inconstitucional no sistema prisional, determina
medidas para proteger os presos do Covid19 amplia indevidamente o
objeto da ação.

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Atualização – Informativos STF e STJ


É certo que no controle abstrato de constitucionalidade, a causa de
pedir é aberta. No entanto, o pedido é específico.
Nenhum dos pedidos da ADPF 347 está relacionado com as questões
inerentes à prevenção do Covid-19 nos presídios. Não é possível,
portanto, a ampliação do pedido cautelar já apreciado anteriormente.
A Corte está limitada ao pedido. Aceitar a sua ampliação equivale a
agir de ofício, sem observar a legitimidade constitucional para
propositura da ação.
Ademais, em que pese a preocupação de todos em relação ao Covid-
19 nas penitenciárias, a medida cautelar, ao conclamar os juízes de
execução, determina, fora do objeto da ADPF, a realização de
megaoperação para analisar detalhadamente, em um único
momento, todas essas possibilidades e não caso a caso, como
recomenda o Conselho Nacional de Justiça.
O STF entendeu que, neste momento, o Poder Judiciário deve seguir
as recomendações sobre a questão emitidas pelo Conselho Nacional
de Justiça CNJ e por portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da
Justiça. Para evitar a disseminação do novo coronavírus nas prisões,
o CNJ recomendou a análise de situações de risco caso a caso.
A Recomendação 62/2020 do CNJ traz orientações aos Tribunais e
aos magistrados quanto à adoção de medidas preventivas contra a
propagação do Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e
socioeducativo.
STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020 (Info
970).

• MINISTÉRIO PÚBLICO
O art. 227, VIII, da LC 75/93 autoriza que ato do PGR estipule prazo
de duração para o recebimento do auxílio-moradia, estando essa
limitação temporal em harmonia com o regime de subsídio, em
parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da
CF/88.
O art. 227, VIII, da LC 75/93 prevê que os membros do MPU terão
direito ao pagamento de auxílio-moradia, desde que estejam em uma
lotação considerada particularmente difícil ou onerosa.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Esse dispositivo legal autoriza que ato do PGR imponha outras
restrições ao recebimento do auxílio-moradia, como é o caso de prazo
máximo de duração do benefício.
Desse modo, a estipulação de prazo de duração para o recebimento
do auxílio-moradia não ofende o princípio da legalidade e está em
harmonia com o regime de subsídio, em parcela única, previsto no
art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88.
A fixação de restrição temporal para o recebimento do auxílio-
moradia está de acordo com o princípio da razoabilidade, pois o
auxílio-moradia tem caráter provisório e precário, não devendo se
dilatar eternamente no tempo.
O recebimento do aludido benefício sem limitação temporal
configuraria verdadeira parcela remuneratória.
STF. 2ª Turma. MS 26415/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o
ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/3/2020 (Info 970).

• CNJ
Se o Tribunal aplica censura para magistrado que praticou conduta
grave, essa decisão enseja revisão disciplinar do CNJ por ser
contrária ao texto expresso da lei considerando que o art. 44 da
LOMAN afirma que a censura será aplicada se a infração não justificar
punição mais grave.
O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar
de juízes e membros de tribunais desde que observado o requisito
temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art.
103-B, § 4º, V, da CF/88).
Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo
para que o CNJ julgue o procedimento.
A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem
legitimidade universal para propositura da revisão disciplinar, que
pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de
ofício. As hipóteses de cabimento da revisão estão elencadas no art.
83 do Regimento Interno do CNJ.
O inciso I prevê que cabe a revisão quando a decisão for contrária a
texto expresso da lei. Se o Tribunal aplica a pena de censura para um
magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão
disciplinar por ser contrária ao texto expresso da lei. Isso porque,

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Atualização – Informativos STF e STJ


segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será
aplicada “se a infração não justificar punição mais grave”.
STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
17/3/2020 (Info 970).

• IMUNIDADE PARLAMENTAR

O fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no momento em


que proferiu as declarações não afasta a possibilidade de
cometimento de crimes contra a honra, nos casos em que as ofensas
são divulgadas pelo próprio parlamentar na Internet.
O então Deputado Federal Wladimir Costa (SD-PA) proferiu discurso
no Plenário da Câmara dos Deputados no qual afirmou que
determinados artistas seriam “bandidos”, “membros de quadrilha”,
“verdadeiros ladrões”, “verdadeiros vagabundos da Lei Rouanet”.
Esses artistas ingressaram com queixa-crime contra o então
Deputado afirmando que ele teria cometido os crimes de difamação
(art. 139) e injúria (art. 140 do Código Penal).
O STF recebeu esta queixa-crime.
O fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no momento em
que proferiu as declarações não afasta a possibilidade de
cometimento de crimes contra a honra, porque ele depois divulgou
essas ofensas na Internet.
Outro argumento está no fato de que a inviolabilidade material
somente abarca as declarações que apresentem nexo direto e
evidente com o exercício das funções parlamentares. No caso
concreto, embora tenha feito alusão à Lei Rouanet, o parlamentar
nada acrescentou ao debate público sobre a melhor forma de
distribuição dos recursos destinados à cultura, limitando-se a proferir
palavras ofensivas à dignidade dos querelantes.
A liberdade de expressão política dos parlamentares, ainda que
vigorosa, deve se manter nos limites da civilidade.
STF. 1ª Turma. PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/
o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/3/2020 (Info 969).

• DEFENSORIA PÚBLICA

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Atualização – Informativos STF e STJ


É inviável o acolhimento do requerimento formulado pela DPU para
assistir parte em processo que tramita no STJ nas hipóteses em que a
Defensoria Pública Estadual atuante possui representação em Brasília
ou aderiu ao portal de intimações eletrônicas.
Atenção! Defensoria Pública
O STJ indeferiu pedido da DPU para, em substituição à Defensoria
Pública de Alagoas, atuar em recurso especial sob o argumento de
que a Defensoria Estadual não possui representação em Brasília.
Isso porque, embora a DPE/AL não possua espaço físico em Brasília,
ela aderiu ao Portal de Intimações Eletrônicas do STJ e, portanto,
pode atuar normalmente no processo a partir de sua sede local. A
DPU só pode atuar nos processos das Defensorias Públicas estaduais
se a respectiva Defensoria Pública estadual:
• não tiver representação em Brasília; e
• não tiver aderido ao Portal de Intimações Eletrônicas do STJ.
STJ. 5ª Turma. PET no AREsp 1.513.956-AL, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 17/12/2019 (Info 664).

• CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO


Viola a cláusula de reserva de plenário e a SV 10 a decisão de órgão
fracionário do Tribunal que permite que empresa comercialize
produtos em desacordo com as regras previstas em Decreto federal,
sob o argumento de que este ato normativo violaria o princípio da
livre concorrência.
O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a
revelar o esvaziamento da eficácia do preceito, implica contrariedade
à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula
Vinculante.
Caso concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão
fracionário do TRF1, ao julgar apelação, permitiu que uma empresa
comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo
contrário às regras do Decreto nº 7.212/2010. Embora não tenha
declarado expressamente a inconstitucionalidade do Decreto, a 4ª
Turma afirmou que ele seria contrário ao princípio da livre
concorrência, que é previsto no art. 170, IV, da CF/88.
Ao desobrigar a empresa de cumprir as regras do decreto afirmando
que ele violaria o princípio da livre iniciativa, o que a 4ª Turma fez foi

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Atualização – Informativos STF e STJ


julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido
feito respeitando-se a cláusula de reserva de plenário, conforme
explicitado na SV 10: Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de
reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de
tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta
a sua incidência no todo ou em parte.
STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O Procurador da Câmara Municipal dispõe de legitimidade para
interpor recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça
proferido em representação de inconstitucionalidade em defesa de lei
ou ato normativo estadual ou municipal.
Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.)
possuem legitimidade para a interposição de recursos em ação direta
de inconstitucionalidade.
STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin,
red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
É possível, em tese, o ajuizamento de ADI contra deliberação
administrativa de tribunal, desde que ela tenha conteúdo normativo
com generalidade e abstração, devendo, contudo, em regra, a ação
ser julgada prejudicada caso essa decisão administrativa seja
revogada.
É cabível ação direta de inconstitucionalidade contra deliberação
administrativa do Tribunal que determina o pagamento de reajuste
decorrente da conversão da URV em reais (“plano real”) aos
magistrados e servidores.
Depois que a ADI foi proposta, e antes que fosse julgada, o TRT
decidiu revogar essa deliberação administrativa.
Diante disso, indaga-se: o mérito da ação foi julgado? NÃO. Em
decorrência da revogação da deliberação, o STF julgou prejudicada a
ADI, por perda superveniente de objeto.

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. ADI 1244 QO-QO/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 19/12/2019 (Info 964).

• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Exige-se quórum de maioria absoluta dos membros do STF para
modular os efeitos de decisão proferida em julgamento de recurso
extraordinário no caso em que não tenha havido declaração de
inconstitucionalidade.
Exige-se quórum de MAIORIA ABSOLUTA dos membros do STF para
modular os efeitos de decisão proferida em julgamento de recurso
extraordinário repetitivo, com repercussão geral, no caso em que
NÃO tenha havido declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato
normativo.
Qual é o quórum para que o STF, no julgamento de recurso
extraordinário repetitivo, com repercussão geral reconhecida, faça a
modulação dos efeitos da decisão?
• Se o STF declarou a lei ou ato inconstitucional: 2/3 dos membros.
• Se o STF não declarou a lei ou ato inconstitucional: maioria
absoluta.
STF. Plenário. RE 638115 ED-ED/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 18/12/2019 (Info 964).

• ENTIDADES DESPORTIVAS
É inconstitucional previsão do Estatuto do Torcedor, inserida pela Lei
do PROFUT, que permitia o rebaixamento do clube em caso de não
comprovação da regularidade fiscal e trabalhista A Lei 13.155/2015
institui o PROFUT (Programa de modernização da gestão e de
responsabilidade fiscal do futebol brasileiro).
Essa lei alterou o Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671/2003) para
incluir entre os critérios técnicos, além da colocação obtida em
campeonato anterior, a apresentação de Certidão Negativa de
Débitos Federais, de certificado de regularidade de contribuição ao
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e comprovação de
pagamentos de obrigações previstas nos contratos de trabalho e nos
contratos de imagem dos atletas.
Assim, por força da Lei nº 13.155/2015, um clube de futebol da série
“A” (“1ª divisão”) do Campeonato Brasileiro caso não cumprisse os
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Atualização – Informativos STF e STJ


requisitos de regularidade fiscal, regularidade com o FGTS e com os
salários dos atletas seria rebaixado para a série “B”. Para o STF, a
exigência da regularidade fiscal fere a autonomia das entidades
desportivas em relação à sua organização e seu funcionamento (art.
217 da CF/88) e constitui forma indireta de coerção estatal ao
pagamento de tributos.
A retirada do clube do campeonato pelo não pagamento de tributos
ou do FGTS é medida gravíssima, que demonstra falta de
proporcionalidade e razoabilidade, além de configurar uma sanção
política.
Com a exclusão automática do campeonato, o clube jamais
conseguiria pagar tributos e refinanciamentos, trazendo prejuízos à
União, aos atletas, aos funcionários e à ideia de fomentar o desporto.
Resultado: foi declarada a inconstitucionalidade do art. 40 da Lei nº
13.155/2015, na parte em que altera o art. 10, §§ 1º, 3º e 5º da Lei
nº 10.671/2003, mantendo-se a vigência e eficácia de todos os
demais dispositivos impugnados.
STF. Plenário. ADI 5450 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 18/12/2019 (Info 964).

• MINISTÉRIO PÚBLICO
Ação de improbidade administrativa proposta contra Promotor de
Justiça (podendo resultar na perda do cargo): julgada em 1ª
instância; ação civil de perda de cargo de Promotor não envolvendo
improbidade administrativa: julgada pelo TJ.
Importante!!!
Ação Civil de perda de cargo de Promotor de Justiça cuja causa de
pedir não esteja vinculada a ilícito capitulado na Lei nº 8.429/92 deve
ser julgada pelo Tribunal de Justiça.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.737.900-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 19/11/2019 (Info 662).

• MINISTÉRIO PÚBLICO

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Atualização – Informativos STF e STJ


O Ministério Público do Trabalho não tem legitimidade para atuar no
âmbito do Superior Tribunal de Justiça na condição de parte.
Os Ministérios Públicos dos Estados podem atuar, diretamente, na
condição de partes, perante os Tribunais Superiores, em razão da não
existência de vinculação ou subordinação entre o Parquet Estadual e
o Ministério Público da União.
Tal conclusão, entretanto, não pode ser aplicada ao Ministério Público
do Trabalho, considerando que o MPT é sim órgão vinculado ao
Ministério Público da União, conforme dispõe o art. 128, I, “b”, da
Constituição Federal.
O MPT integra a estrutura do MPU, atuando perante o Tribunal
Superior do Trabalho, não tendo legitimidade para funcionar no
âmbito do STJ, tendo em vista que esta atribuição é reservada aos
Subprocuradores-gerais da República integrantes do quadro do
Ministério Público Federal.
STJ. 1ª Seção. AgRg no CC 122.940-MS, Rel. Min. Regina Helena
Costa, julgado em 07/04/2020 (Info 670).
• DEFENSORIA PÚBLICA
As Constituições estaduais não podem ampliar a excepcionalidade
admitida pelo art. 22 do ADCT da CF/88.
Atenção! Defensoria Pública
O art. 15 do ADCT da CE/SE ampliou o limite temporal de
excepcionalidade previsto pelo art. 22 do ADCT da CF/88 e, por essa
razão, feriu a regra do concurso público (art. 37, II, da Constituição
Federal).
O art. 22 do ADCT criou, de modo excepcional, uma forma derivada
de investidura em cargo público. Trata-se de uma exceção à regra
geral do concurso público e, portanto, não pode ser ampliada pelo
constituinte estadual.
STF. Plenário. ADI 5011, Rel. Edson Fachin, julgado em 08/06/2020
(Info 984).

• CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
A decisão do Relator que INADMITE o ingresso do amicus curiae é
recorrível?

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Atualização – Informativos STF e STJ


Pessoa física não pode ser amicus curiae em ação de controle
concentrado de constitucionalidade
Tema polêmico!
É recorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus
curiae.
É possível a impugnação recursal por parte de terceiro, quando
denegada sua participação na qualidade de amicus curiae.
STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
6/8/2020 (Info 985).
Vale ressaltar que existem decisões em sentido contrário e que o
tema não está pacificado. Nesse sentido: Tanto a decisão do Relator
que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é
irrecorrível (STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018. Info
920).
A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na
qualidade de amigo da Corte em ação direta.
STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
6/8/2020 (Info 985).
• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Lei estadual pode determinar que faculdades particulares devolvam o
valor da matrícula em caso de desistência do curso ou pedido de
transferência, realizados antes do início das aulas.
É constitucional lei estadual que estabeleça que as instituições de
ensino superior privada são obrigadas a devolver o valor da taxa de
matrícula, podendo reter, no máximo, 5% da quantia, caso o aluno,
antes do início das aulas, desista do curso ou solicite transferência.
STF. Plenário. ADI 5951, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 16/06/2020
(Info 985 – clipping).
• SEGURIDADE SOCIAL
O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda,
voltado a famílias de todo o País, de modo a fazer frente a situação
de pobreza e vulnerabilidade; logo, não se pode fazer restrição em
relação à região ou ao Estado do beneficiário.
Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e
Rio Grande do Norte ajuizaram ação cível originária, em face da

87

Atualização – Informativos STF e STJ


União, com pedido de tutela provisória, questionando a redução de
recursos do Programa Bolsa Família destinados à Região Nordeste.
O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida cautelar determinando
que:
a) a União disponibilize dados que justifiquem a concentração de
cortes de benefícios do Programa Bolsa Família na Região Nordeste,
bem assim dispense aos inscritos nos Estados autores tratamento
isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da
Federação.
b) não haja cortes no Programa enquanto perdurar o estado de
calamidade pública;
c) a liberação de recursos para novas inscrições seja uniforme
considerados os Estados da Federação.
O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida.
STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 5/8/2020 (Info 985).
• ÍNDIOS
STF determina que governo federal adote medidas para conter o
avanço da Covid-19 entre indígenas.

Covid-19
A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis
partidos políticos ajuizaram arguição de descumprimento de preceito
fundamental alegando que o Poder Público estava falhando na
proteção dos povos indígenas com relação à pandemia da Covid-19.
Os autores apontaram uma série de atos comissivos e omissivos do
Poder Público que, segundo eles, estavam causando alto risco de
contágio e de extermínio dos povos indígenas.
Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da
pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88), o direito à vida (art. 5º,
caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais
povos a viverem em seu território, de acordo com suas culturas e
tradições (art. 231). Na ação, os autores pedem a realização de
diversas medidas necessárias para a proteção dos povos indígenas.
O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente a medida
cautelar para que a União implemente, em resumo, as seguintes

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Atualização – Informativos STF e STJ


providências: Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos
indígenas de recente contato:
1. Criação de barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de
terceiros em seus territórios;
2. Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à
pandemia quanto aos Povos Indígenas em Isolamento e de Contato
Recente.
Quanto aos povos indígenas em geral:
1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento dos
invasores em relação às comunidades indígenas ou providência
alternativa, apta a evitar o contato.
2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde.
3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da
COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela União.
O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida.
STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985).
• MINISTÉRIO PÚBLICO
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que afirme ser
obrigatória a presença de um membro do MP nas comissões de
concursos públicos da Administração Pública estadual.
A Constituição Estadual não pode determinar que membro do
Ministério Público participe de banca de concurso público relacionado
com cargos externos aos quadros da instituição. Essa não é uma
atribuição compatível com as finalidades constitucionais do Ministério
Público.
Assim, não pode o ato impugnado exigir a participação do Ministério
Público nas bancas de concursos para os cargos e empregos públicos
do Estado.
STF. Plenário. ADI 3841, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 16/06/2020
(Info 985 – clipping).
• MINISTÉRIO PÚBLICO
Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo
CNMP
Atenção! Ministério Público

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Atualização – Informativos STF e STJ


Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do
MPF e de Ministérios Públicos estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP,
Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020.
STF. Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão
Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).
• DEFENSORIA PÚBLICA
Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na
forma do art. 168 da CF/88
Atenção! Defensoria Pública
O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma
de duodécimos e até o dia 20 de cada mês, da integralidade dos
recursos orçamentários destinados à Defensoria Pública estadual pela
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o exercício financeiro,
inclusive quanto às parcelas já vencidas, assim também em relação a
eventuais créditos adicionais destinados à instituição.
STF. Plenário. ADPF 384 Ref-MC/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 6/8/2020 (Info 985).
É dever constitucional do Poder Executivo o repasse, sob a forma de
duodécimos e até o dia 20 de cada mês (art. 168 da CRFB/88), da
integralidade dos recursos orçamentários destinados a outros Poderes
e órgãos constitucionalmente autônomos, como o Ministério Público e
a Defensoria Pública, conforme previsão da respectiva Lei
Orçamentária Anual.
STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016
(Info 826).
• ADVOCACIA PÚBLICA
É constitucional lei que preveja o pagamento de honorários de
sucumbência aos advogados públicos; no entanto, a somatória do
subsídio com os honorários não pode ultrapassar mensalmente o teto
remuneratório, ou seja, o subsídio dos Ministros do STF
Importante!!!
A percepção de honorários de sucumbência pelos advogados públicos
não representa ofensa à determinação constitucional de remuneração
exclusiva mediante subsídio (arts. 39, § 4º, e 135 da CF/88). O art.
39, § 4º, da Constituição Federal, não constitui vedação absoluta de
pagamento de outras verbas além do subsídio.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Os advogados públicos podem receber honorários sucumbenciais,
mas, como eles recebem os valores em função do exercício do cargo,
esse recebimento precisa se sujeitar ao regime jurídico de direito
público. Por essa razão, mesmo sendo compatível com o regime de
subsídio, sobretudo quando estruturado como um modelo de
remuneração por performance, com vistas à eficiência do serviço
público, a possibilidade de advogados públicos perceberem verbas
honorárias sucumbenciais não afasta a incidência do teto
remuneratório estabelecido pelo art. 37, XI, da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 6053, Rel. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão:
Alexandre de Moraes, julgado em 22/06/2020 (Info 985 – clipping).
O entendimento acima vale tanto para os advogados públicos
federais como também para os Procuradores do Estado, do DF e do
Município. Nesse sentido: É constitucional o pagamento de honorários
sucumbenciais aos advogados públicos, observando-se, porém, o
limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição.
STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgados em 25/08/2020.

DIREITO DO CONSUMIDOR
• PLANO DE SAÚDE
Competência para julgar demandas entre usuário e operadora de
plano de saúde
Tema polêmico!
Complemente os informativos 620 e 627 STJ
Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de
saúde de autogestão empresarial, exceto quando o benefício for
instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo,
hipótese em que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda
que figure como parte trabalhador aposentado ou dependente do
trabalhador.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.799.343-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020
(Tema IAC 5) (Info 668).

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Atualização – Informativos STF e STJ


Vale ressaltar, contudo, que temos aqui uma “polêmica”. No mesmo
dia, na mesma sessão de julgamento, a 2ª Seção apreciou o CC
165.863-SP no qual foram redigidas teses aparentemente
contraditórias com as do REsp 1.799.343-SP. Compare:
Compete à Justiça comum o julgamento das demandas entre usuário
e operadora de plano de saúde, sendo irrelevante a existência de
norma acerca da assistência à saúde em contrato de trabalho, acordo
ou convenção coletiva.
Para a definição da competência do julgamento das demandas entre
usuário e operadora de plano de saúde, é irrelevante a distinção
entre trabalhador ativo, aposentado ou dependente do trabalhador.
STJ. 2ª Seção. CC 165.863-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 667).
Foram opostos embargos de declaração nos dois processos, de forma
que o tema deverá ser esclarecido em breve. Penso, contudo, que irá
prevalecer a redação da tese fixada no REsp 1.799.343-SP porque
reflete o entendimento presentes em outros julgados do STJ.

• PLANO DE SAÚDE
Competência para julgar demandas entre usuário e operadora de
plano de saúde.
Tema polêmico! Complemente os informativos 620 e 627 STJ
Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de
saúde de autogestão empresarial, exceto quando o benefício for
instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo,
hipótese em que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda
que figure como parte trabalhador aposentado ou dependente do
trabalhador. STJ. 2ª Seção. REsp 1.799.343-SP, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 668).
Vale ressaltar, contudo, que temos aqui uma “polêmica”. No mesmo
dia, na mesma sessão de julgamento, a 2ª Seção apreciou o CC
165.863-SP no qual foram redigidas teses aparentemente
contraditórias com as do REsp 1.799.343-SP.
Compare: Compete à Justiça comum o julgamento das demandas
entre usuário e operadora de plano de saúde, sendo irrelevante a
existência de norma acerca da assistência à saúde em contrato de
trabalho, acordo ou convenção coletiva. Para a definição da
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Atualização – Informativos STF e STJ


competência do julgamento das demandas entre usuário e operadora
de plano de saúde, é irrelevante a distinção entre trabalhador ativo,
aposentado ou dependente do trabalhador.
STJ. 2ª Seção. CC 165.863-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 667).
Foram opostos embargos de declaração nos dois processos, de forma
que o tema deverá ser esclarecido em breve. Penso, contudo, que irá
prevalecer a redação da tese fixada no REsp 1.799.343-SP porque
reflete o entendimento presentes em outros julgados do STJ.

• PLANO DE SAÚDE
Se não houver previsão contratual expressa, o plano de saúde não é
obrigado a custear o tratamento de fertilização in vitro.
Importante!!!
O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98, ao excluir a inseminação artificial
do plano-referência de assistência à saúde, também excluiu a técnica
de fertilização in vitro. A inseminação artificial compreende a
fertilização in vitro, bem como todas as técnicas médico-científicas de
reprodução assistida, sejam elas realizadas dentro ou fora do corpo
feminino.
Isso significa que não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora
do plano de saúde, do tratamento de fertilização in vitro, quando não
houver previsão contratual expressa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.7946.29/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/
Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 667).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.823.077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado
em 20/02/2020 (Info 666).

• PLANO DE SAÚDE
Plano de saúde possui responsabilidade solidária por danos causados
pelos médicos e hospitais próprios ou credenciados.
Importante!!!
A demora para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela
equipe médica do hospital próprio ou credenciado, sem justificativa
plausível, caracteriza defeito na prestação do serviço da operadora do
plano de saúde, resultando na sua responsabilização.
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Atualização – Informativos STF e STJ


A operadora de plano de saúde tem responsabilidade solidária por
defeito na prestação de serviço médico, quando o presta por meio de
hospital próprio e médicos contratados, ou por meio de médicos e
hospitais credenciados.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.414.776-SP, Rel. Min. Raul Araújo,
julgado em 11/02/2020 (Info 666).

• PLANO DE SAÚDE
Se não houver previsão contratual expressa, o plano de saúde não é
obrigado a custear o tratamento de fertilização in vitro.
Importante!!!
Não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de
saúde, do tratamento de fertilização in vitro, quando não houver
previsão contratual expressa.
O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98 estabelce que a “inseminação
artificial” não é um procedimento de cobertura obrigatória pelos
planos de saúde. Em outras palavras, o contrato pode ou não prever
a cobertura desse tratamento.
Se o contrato não cobrir expressamente e o plano de saúde, em
virtude disso, se recusar a custear, essa negativa não será abusiva.
Vale ressaltar que a fertilização in vitro não é mesmo que
inseminação artificial. Mesmo assim, a partir de uma interpretação
sistemática e teleológica, que garanta o equilíbrio atuarial do sistema,
deve-se entender que o mesmo raciocínio se aplica para a fertilização
in vitro e que este tratamento também não é de cobertura
obrigatória.
Nesse sentido, a Resolução Normativa nº 428/2017, da ANS permite
que o plano de saúde não ofereça inseminação artificial e outras
técnicas de reprodução humana assistida. Assim, ao falar em outras
técnicas, pode-se incluir aí a fertilização in vitro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1794629/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/
Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.823.077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado
em 20/02/2020 (Info 666).

• PLANO DE SAÚDE

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Atualização – Informativos STF e STJ


O rol de procedimentos e eventos da ANS é meramente explicativo?
Tema polêmico!
O rol de procedimentos e eventos da ANS é meramente explicativo?
• SIM. Posição da 3ª Turma do STJ. O fato de o procedimento não
constar no rol da ANS não significa que não possa ser exigido pelo
usuário, uma vez que se trata de rol exemplificativo. STJ. 3ª Turma.
AgInt no AREsp 1442296/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 23/03/2020.
• NÃO. Posição da 4ª Turma do STJ. O rol de procedimentos e
eventos em saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS
não é meramente exemplificativo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.733.013-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 10/12/2019 (Info 665).

• PUBLICIDADE ENGANOSA
Se a matriz havia sido condenada a publicar contrapropaganda, mas
encerrou suas atividades, essa condenação poderá ser redirecionada
para a filial.
Importante!!!
É possível o redirecionamento da condenação de veicular
contrapropaganda imposta a posto de gasolina matriz à sua filial.
Ainda que possuam CNPJ diversos e autonomia administrativa e
operacional, as filiais são um desdobramento da matriz por integrar a
pessoa jurídica como um todo.
Eventual decisão contrária à matriz por atos prejudiciais a
consumidores é extensível às filiais.
Obs: a contrapropaganda é uma medida imposta nos casos de
veiculação de publicidade inverídica ou abusiva, que busca anular ou
compensar os efeitos nocivos da publicidade ilícita.
A finalidade, portanto, é corrigir o desvio cometido na publicidade
antijurídica veiculada pelo fornecedor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.655.796-MT, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

• BANCOS DE DADOS DE CONSUMIDORES

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Atualização – Informativos STF e STJ


A Súmula 385-STJ pode ser flexibilizada para reconhecer o dano
moral decorrente da inscrição indevida, mesmo que a ação ajuizada
para questionar a inscrição anterior ainda não tenha transitado em
julgado, desde que demonstrada a verossimilhança das alegações do
consumidor.
Admite-se a flexibilização da orientação contida na súmula 385/STJ
para reconhecer o dano moral decorrente da inscrição indevida do
nome do consumidor em cadastro restritivo, ainda que não tenha
havido o trânsito em julgado das outras demandas em que se
apontava a irregularidade das anotações preexistentes, desde que
haja nos autos elementos aptos a demonstrar a verossimilhança das
alegações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.704.002-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 11/02/2020 (Info 665).

• COBRANÇA JUDICIAL INDEVIDA


A sanção do art. 940 do Código Civil pode ser aplicada também para
casos envolvendo consumidor.
Importante!!!
Em caso de cobrança judicial indevida, é possível aplicar a sanção
prevista no art. 940 do Código Civil mesmo sendo uma relação de
consumo.
O art. 940 do CC e o art. 42 do CDC incidem em hipóteses diferentes,
tutelando, cada um deles, uma situação específica envolvendo a
cobrança de dívidas pelos credores. Mesmo diante de uma relação de
consumo, se inexistentes os pressupostos de aplicação do art. 42,
parágrafo único, do CDC, deve ser aplicado o sistema geral do Código
Civil, no que couber.
O art. 940 do CC é norma complementar ao art. 42, parágrafo único,
do CDC e, no caso, sua aplicação está alinhada ao cumprimento do
mandamento constitucional de proteção do consumidor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.589-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

• PUBLICIDADE ENGANOSA
A ausência de informação relativa ao preço, por si só, não caracteriza
publicidade enganosa.
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Atualização – Informativos STF e STJ


A ausência de informação relativa ao preço, por si só, não
caracteriza publicidade enganosa.
Para a caracterização da ilegalidade omissiva, a ocultação deve ser de
qualidade essencial do produto, do serviço ou de suas reais condições
de contratação, considerando, na análise do caso concreto, o público
alvo do anúncio publicitário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.705.278-MA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira,
julgado em 19/11/2019 (Info 663).

• PLANO DE SAÚDE
Autarquia que seja criada para prestar serviços de saúde suplementar
para os servidores públicos e seus dependentes estará sujeita às
regras da Lei dos Planos de Saúde (Lei 9.656/98).
Aplica-se a Lei nº 9.656/98 à pessoa jurídica de direito público de
natureza autárquica que presta serviço de assistência à saúde de
caráter suplementar aos servidores municipais.
Considerando que o caput do art. 1º faz menção expressa às pessoas
jurídicas de direito privado, pode-se interpretar que a escolha do
termo “entidade” no § 2º teve por objetivo ampliar a aplicação da lei
para todas as pessoas jurídicas que prestam os serviços de
assistência à saúde suplementar, até porque não faria sentido a
utilização de termos distintos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.766.181-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel.
Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/12/2019 (Info
662).

• CONCEITO DE CONSUMIDOR
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre
acionistas investidores e a sociedade anônima de capital aberto com
ações negociadas no mercado de valores mobiliários
Caso concreto: João ajuizou ação contra o Itaú Unibanco alegando
que é acionista investidor da instituição financeira e que deveria ter
recebido dividendos correspondentes às suas ações preferenciais e
que eles não foram pagos pelo banco. Afirmou que se trata de
relação de consumo e que, portanto, deveria ser aplicado o CDC. O
STJ não concordou com a tese. De acordo com a teoria finalista ou
97

Atualização – Informativos STF e STJ


subjetiva, adotada pelo STJ, o conceito de consumidor, para efeito de
incidência das normas protetivas do CDC, leva em consideração a
condição de destinatário final do produto ou serviço, nos termos do
art. 2º do código.
Assim, segundo a teoria subjetiva ou finalista, destinatário final é
aquele que ultima a atividade econômica, isto é, que retira de
circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo
uma necessidade ou satisfação própria.
O investidor, ao adquirir ações no mercado imobiliário visando o
recebimento de lucros e dividendos, não está abrangido pela proteção
do CDC. Na atividade de aquisição de ações não é possível identificar
nenhuma prestação de serviço por parte da instituição financeira,
havendo sim uma relação de cunho puramente societário e
empresarial. Situação diferente ocorreria se a ação envolvesse o
serviço de corretagem de valores e título mobiliários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.098-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel.
Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info
671).
• RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO
O laboratório tem responsabilidade objetiva na ausência de prévia
informação qualificada quanto aos possíveis efeitos colaterais da
medicação, ainda que se trate do chamado risco de desenvolvimento.
Importante!!!
O risco inerente ao medicamento impõe ao fabricante um dever de
informar qualificado (art. 9º do CDC), cuja violação está prevista no §
1º, II, do art. 12 do CDC como hipótese de defeito do produto, que
enseja a responsabilidade objetiva do fornecedor pelo evento danoso
dele decorrente.
O ordenamento jurídico não exige que os medicamentos sejam
fabricados com garantia de segurança absoluta, até porque se trata
de uma atividade de risco permitido, mas exige que garantam a
segurança legitimamente esperável, tolerando os riscos considerados
normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição,
desde que o consumidor receba as informações necessárias e
adequadas a seu respeito (art. 8º do CDC).
O fato de o uso de um medicamento causar efeitos colaterais ou
reações adversas, por si só, não configura defeito do produto se o
usuário foi prévia e devidamente informado e advertido sobre tais
riscos inerentes, de modo a poder decidir, de forma livre, refletida e
98

Atualização – Informativos STF e STJ


consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além de ter a
possibilidade de mitigar eventuais danos que venham a ocorrer em
função dele.
O risco do desenvolvimento, entendido como aquele que não podia
ser conhecido ou evitado no momento em que o medicamento foi
colocado em circulação, constitui defeito existente desde o momento
da concepção do produto, embora não perceptível a priori,
caracterizando, pois, hipótese de fortuito interno.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.774.372-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 05/05/2020 (Info 671).
• OFERTA
Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens
compradas a preço muito baixo.
Importante!!!
Caso concreto: em decorrência de uma falha no site da empresa de
turismo Decolar.com, constou que duas passagens aéreas, ida e
volta, de Brasília para Amsterdã (Holanda) custariam cerca de R$ 1
mil. Um casal tentou efetuar a compra, fazendo uma reserva no site.
Dois dias depois, contudo, eles receberam um e-mail da empresa
explicando que houve uma falha, cancelando a reserva. Não houve
necessidade de estorno no cartão de crédito, pois a cobrança não foi
feita no momento da reserva.
Os consumidores ajuizaram ação pedindo a emissão dos bilhetes no
valor que havia sido ofertado. O STJ, entretanto, não acolheu o
pedido. Para o Tribunal, o erro sistêmico grosseiro no carregamento
de preços e a rápida comunicação ao consumidor podem afastar a
falha na prestação do serviço e o princípio da vinculação da oferta.
O Código de Defesa do Consumidor não é somente um conjunto de
artigos que protege o consumidor a qualquer custo. Antes de tudo,
ele é um instrumento legal que pretende harmonizar as relações
entre fornecedores e consumidores, sempre com base nos princípios
da boa-fé e do equilíbrio contratual.
No caso, os consumidores promoveram a reserva de bilhetes aéreos
com destino internacional a preço muito aquém do praticado por
outras empresas aéreas, não tendo sequer havido a emissão dos
bilhetes eletrônicos (e-tickets) que pudessem formalizar a compra.
Agrega-se o fato de que os valores sequer foram debitados do cartão

99

Atualização – Informativos STF e STJ


de crédito e, em curto período, os consumidores receberam e-mail
informando a não conclusão da operação.
Nesse contexto, é inadmissível que, diante de inegável erro
sistêmico grosseiro no carregamento de preços, possa se reconhecer
a falha da prestação dos serviços das empresas, que prontamente
impediram o lançamento de valores na fatura do cartão de crédito
utilizado, informando, ainda, com antecedência necessária ao voo, o
cancelamento da operação. Por conseguinte, não há que se falar em
violação do princípio da vinculação da oferta (art. 30 do CDC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.794.991-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 05/05/2020 (Info 671).
• PLANO DE SAÚDE
O prazo para execução individual de sentença proferida contra
planos de saúde em ação civil pública é de cinco anos.
• Importante!!!
Na falta de dispositivo legal específico para a ação civil pública,
aplica-se, por analogia, o prazo de prescrição da ação popular, que é
o quinquenal (art. 21 da Lei nº 4.717/65), adotando-se também tal
lapso na respectiva execução, a teor da Súmula 150 do STF.
A lacuna da Lei nº 7.347/85 é melhor suprida com a aplicação de
outra legislação também integrante do microssistema de proteção
dos interesses transindividuais, como os coletivos e difusos, a afastar
os prazos do Código Civil, mesmo na tutela de direitos individuais
homogêneos.
Assim, a despeito da existência de recurso especial julgado sob o rito
dos recursos repetitivos sobre a prescrição trienal para ações de
cobrança contra plano de saúde, nota-se que esse versou sobre as
ações ordinárias individuais, de modo que o entendimento referente à
aplicação do prazo quinquenal às tutelas coletivas é específico e,
consequentemente, prevalece no caso.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.807.990-SP, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

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Atualização – Informativos STF e STJ


DIREITO DO TRABALHO E
PROCESSUAL DO TRABALHO

• LIBERDADE SINDICAL
O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que
podem ser dirigentes sindicais, é compatível com a CF/88 e não viola
a garantia da liberdade sindical.
A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui
caráter absoluto.
A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados
de estabilidade de emprego não esvazia a liberdade sindical.

Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a


autonomia da entidade sindical, mas não serve para criar situações
de estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a
finalidade da norma constitucional garantidora do direito.
STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020
(Info 980).

• CONTRATO DE TRABALHO
A Lei nº 13.467/2017 (Reforma Trabalhista) alterou o § 3º do art.
614 da CLT e vedou expressamente a ultratividade das normas
coletivas no ordenamento jurídico brasileiro.
Deve ser julgada prejudicada, por perda superveniente de objeto, a
ação direta de inconstitucionalidade ajuizada em face do art. 19 da
MP 1.950-62/2000, convertida no art. 18 da Lei nº 10.192/2001, na
parte em que revogou os §§ 1º e 2º do art. 1º da Lei nº 8.542/92.
Os §§ 1º e 2º do art. 1º da Lei nº 8.542/92 previam a ultratividade
das convenções e acordos coletivos.

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Atualização – Informativos STF e STJ


A Lei nº 10.192/2001 revogou esses parágrafos e acabou com a
ultratividade.
Mesmo que a Lei nº 10.192/2001 fosse julgada inconstitucional, isso
seria inócuo porque agora a ultratividade é proibida expressamente
por outra norma, qual seja, o § 3º do art. 614 da CLT, com redação
dada pela Lei nº 13.467/2017.
STF. Plenário. ADI 2200/DF e ADI 2288/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgados em 4/6/2020 (Info 980).

• TRABALHADORES PORTUÁRIOS AVULSOS


Trabalhadores portuários avulsos também têm direito a adicional de
risco.
Sempre que for pago ao trabalhador com vínculo permanente, o
adicional de riscos é devido, nos mesmos termos, ao trabalhador
portuário avulso.
O art. 7º, XXXIV, da CF/88 tem nítido caráter protetivo da igualdade
material. Se há o pagamento do adicional de riscos como direito do
trabalhador portuário com vínculo permanente que labora em
condições adversas, essa previsão também deve ser reconhecida aos
trabalhadores portuários avulsos submetidos às mesmas condições.
STF. Plenário. RE 597124/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
3/6/2020 (Repercussão Geral – Tema 222) (Info 980).

• COMPETÊNCIA
Justiça do Trabalho não tem competência penal.
A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar
ações penais.
STF. Plenário. ADI 3684, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020
(Info 980).

• COMPETÊNCIA
Justiça comum deve julgar ação de servidor contratado depois da
CF/88, sem concurso público, contra Município, no qual ele cobra
verbas trabalhistas decorrentes desta contratação.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor
contratado depois da CF/88, ainda que sem concurso público, pois,
uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a
absorção de pessoal pelo poder público.
Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas
devem ser apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do
Trabalho.
STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa Weber, red.
p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

• CONTRATO DE TRABALHO
É inconstitucional dispositivo que afirma que os casos de
contaminação por coronavírus não serão considerados doenças
ocupacionais.
É inconstitucional dispositivo que suspenda a atuação repressiva dos
Fiscais do Trabalho Covid-19 A MP 927/2020 dispõe sobre a
possibilidade de celebração de acordo individual escrito, a fim de
garantir a permanência do vínculo empregatício, durante o período da
pandemia do novo coronavírus (covid-19), bem como sobre diversas
providências a serem tomadas nesse período de calamidade pública
relativas aos contratos de trabalho.
No julgamento de medida cautelar, o STF decidiu suspender a eficácia
apenas dos arts. 29 e 31 da MP 927/2020, mantendo os demais
dispositivos. Art. 29.
Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19) não serão
considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo
causal.
Esse dispositivo não se mostra razoável ao afirmar, de forma tão
ampla, que a contaminação pelo coronavírus não seria doença
ocupacional, excluindo da proteção inclusive de trabalhadores de
atividades essenciais que continuam expostos aos riscos. Art. 31.
Durante o período de cento e oitenta dias, contado da data de
entrada em vigor desta Medida Provisória, os Auditores Fiscais do
Trabalho do Ministério da Economia atuarão de maneira orientadora,
exceto quanto às seguintes irregularidades: (...) Não existe razão
para suspender, durante o período de 180 dias, contados da data de
entrada em vigor da MP, a atuação completa dos Auditores Fiscais do
Trabalho.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O estabelecimento de uma fiscalização menor atenta contra a própria
saúde do empregado e em nada auxilia na pandemia.
STF. Plenário. ADI 6342 Ref-MC/DF, ADI 6344 Ref-MC/DF, ADI 6346
Ref-MC/DF, ADI 6348 RefMC/DF, ADI 6349 Ref-MC/DF, ADI 6352 Ref-
MC/DF e ADI 6354 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgados em 29/4/2020 (Info 975).

• CONTRATO DE TRABALHO
É constitucional a MP 936/2020, que autoriza a redução da jornada
de trabalho e do salário ou a suspensão temporária do contrato de
trabalho por meio de acordos individuais em razão da pandemia do
covid-19, independentemente de anuência sindical A MP 936/2020
instituiu o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda para enfrentamento do estado de calamidade pública
decorrente do covid-19.
Com o objetivo de ajudar os empresários e evitar que muitos
trabalhadores percam seus empregados durante a pandemia, a MP
permitiu:
• a redução proporcional de jornada de trabalho e de salários; e
• a suspensão temporária do contrato de trabalho. A MP prevê que
existe a possibilidade de essas medidas serem implementadas por
meio de acordo individual ou de negociação coletiva aos empregados.
O § 4º do art. 11 da MP afirma que “Os acordos individuais de
redução de jornada de trabalho e de salário ou de suspensão
temporária do contrato de trabalho, pactuados nos termos desta
Medida Provisória, deverão ser comunicados pelos empregadores ao
respectivo sindicato laboral, no prazo de até dez dias corridos,
contado da data de sua celebração.” Esse acordo escrito individual
firmado entre o empregado e o empregador é um ato jurídico perfeito
e acabado e não está sujeito ao referendo (aprovação) do sindicato.
O STF, ao analisar o pedido de medida cautelar na ADI proposta
contra a Medida Provisória, decidiu manter a eficácia da MP
936/2020, que autoriza a redução da jornada de trabalho e do salário
ou a suspensão temporária do contrato de trabalho por meio de
acordos individuais em razão da pandemia do novo coronavírus,
independentemente de anuência sindical.

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. ADI 6363 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 16
e 17/4/2020 (Info 973).

• RESPONSABILIDADE CIVIL
O art. 927, parágrafo único, do CC pode ser aplicado para permitir a
responsabilização objetiva do empregador por danos causados ao
empregado decorrentes de acidentes de trabalho, não sendo
incompatível com o art. 7º, XXVIII, da CF/88, que prevê
responsabilidade subjetiva.
Importante!!!
O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art.
7º, XXVIII, da Constituição Federal, sendo constitucional a
responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de
acidentes de trabalho nos casos especificados em lei ou quando a
atividade normalmente desenvolvida, por sua natureza, apresentar
exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e
implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da
coletividade.
STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).

• COMPETÊNCIA
Cabe à Justiça Comum (estadual ou federal) julgar ações contra
concurso público realizado por órgãos e entidades da Administração
Pública para contratação de empregados celetistas.
Importante!!!
Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias
relacionadas à fase pré-contratual de seleção e de admissão de
pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração
Pública, direta e indireta, nas hipóteses em que adotado o regime
celetista de contratação de pessoal.
STF. Plenário. RE 960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4
e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

• COMPETÊNCIA

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Atualização – Informativos STF e STJ


Justiça comum deve julgar causa de servidor celetista que passou a
ser regido pelo regime estatutário (pós CF/88).
Compete à Justiça comum processar e julgar causa de servidor
público municipal admitido mediante aprovação em concurso público
sob o regime da CLT e que, posteriormente, passou a ser regido pelo
estatuto dos servidores públicos municipais (estatutário).
Caso concreto: o servidor ingressou no serviço público do Município
em 1997 no cargo de auxiliar de serviços gerais sob o regime
celetista e, em julho de 2010, passou a ser regido pelo regime
estatutário.
Em 2013, ele ajuizou ação na Justiça do Trabalho para pleitear o
recolhimento de parcelas do FGTS no período em que esteve regido
pelas regras da CLT.
Como o vínculo do servidor com a administração pública é atualmente
estatutário, a competência para julgar a causa é da Justiça comum,
ainda que as verbas requeridas sejam de natureza trabalhista e
relativas ao período anterior à alteração do regime de trabalho.

STF. Plenário. CC 8018/PI, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/12/2019 (Info 964).

• COMPETÊNCIA
Justiça do Trabalho não tem competência para julgar as causas
instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado
por relação jurídico-estatutária.
A interpretação adequadamente constitucional da expressão “relação
do trabalho” deve excluir os vínculos de natureza jurídico-estatutária,
em razão de que a competência da Justiça do Trabalho não alcança
as ações judiciais entre o Poder Público e seus servidores.
Vale ressaltar também que o processo legislativo para edição da
Emenda Constitucional 45/2004, que deu nova redação ao inciso I do
art. 114 da Constituição Federal, é, do ponto de vista formal,
constitucionalmente hígido (não houve qualquer inconstitucionalidade
formal).
STF. Plenário. ADI 3395, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
15/04/2020 (Info 984 – clipping).

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Atualização – Informativos STF e STJ


DIREITO ELEITORAL
• PRAZOS ELEITORAIS
Mesmo com a covid-19, foram mantidos os prazos para filiação
partidária e desincompatibilização nas eleições municipais de 2020.
Covid-19
Mesmo com a situação de calamidade pública decorrente da covid-19,
são constitucionais e devem ser mantidos os prazos para filiação
partidária e desincompatibilização previstos na legislação para a as
eleições municipais de 2020.
STF. Plenário. ADI 6359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado
em 14/5/2020 (Info 977).
• PARTIDOS POLÍTICOS
São constitucionais as modificações realizadas pela Lei nº
13.107/2015 nos arts. 7º e 29 da Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos
Políticos) São constitucionais as modificações realizadas pela Lei nº
13.107/2015 nos arts. 7º e 29 da Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos
Políticos).
A Constituição Federal garante a liberdade para a criação, fusão,
incorporação e extinção de partidos políticos, a eles assegurando a
autonomia (art. 17).
Ocorre que não há liberdade absoluta. Também não se tem
autonomia sem limitação. Logo, é possível que sejam estabelecidos
requisitos e condições para a criação, fusão e incorporação de
partidos políticos.
As normas legais impugnadas não afetam, reduzem ou condicionam a
autonomia partidária, porque o espaço de atuação livre dos partidos
políticos deve estar de acordo com as a normas jurídicas que
107

Atualização – Informativos STF e STJ


estabelecem condições pelas quais se pode dar a criação, ou
recriação por fusão ou incorporação de partido sem intervir no seu
funcionamento interno.
STF. Plenário. ADI 5311/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
4/3/2020 (Info 968).

• SISTEMAS ELEITORAIS
É constitucional o art. 4º da Lei nº 13.165/2015, que deu nova
redação ao art. 108 do Código Eleitoral, para dizer que só será eleito
o candidato que obtiver votos em número igual ou superior a 10% do
quociente eleitoral.
É inconstitucional a expressão “número de lugares definido para o
partido pelo cálculo do quociente partidário do art. 107”, prevista no
inciso I do art. 109 do Código Eleitoral, com redação dada pela Lei
13.165/2015.
É constitucional o § 2º do art. 109 do CE, com redação dada pela Lei
13.488/2017, que estabeleceu que todos os partidos e coligações que
participaram do pleito podem concorrer às denominadas “sobras
eleitorais”.
É constitucional o art. 4º da Lei nº 13.165/2015, que deu nova
redação ao art. 108 do Código Eleitoral, para dizer que só será eleito
o candidato que obtiver votos em número igual ou superior a 10% do
quociente eleitoral.
Essa alteração não viola o princípio democrático ou o sistema
proporcional, consistindo, antes, em valorização da
representatividade e do voto nominal, em consonância com o sistema
de listas abertas e com o comportamento cultural do eleitor
brasileiro.
A pessoa que está sendo eleita pelo partido tem que ter o mínimo de
representatividade popular e, por isso, se estabeleceu esses 10%. O
objetivo do legislador foi o de acabar com a figura do “puxador de
votos”, excluindo da participação, no parlamento, candidatos que
pessoalmente tenham obtido votação inexpressiva e, por isso,
tenham representatividade popular ínfima.
STF. Plenário. ADI 5920/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2020
(Info 968).
É inconstitucional a expressão “número de lugares definido para o
partido pelo cálculo do quociente partidário do art. 107”, prevista no
108

Atualização – Informativos STF e STJ


inciso I do art. 109 do Código Eleitoral, com redação dada pela Lei nº
13.165/2015.
Com a declaração de inconstitucionalidade dessa expressão, deve-se
adotar o critério de cálculo anterior, ou seja, o que vigorava antes da
Lei nº 13.165/2015.
STF. Plenário. ADI 5420/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
4/3/2020 (Info 968).
É constitucional o art. 3º da Lei nº 13.488/2017 que deu nova
redação do art. 109, § 2º, do Código Eleitoral e estabeleceu que
todos os partidos e coligações que participaram do pleito podem
concorrer às denominadas “sobras eleitorais”.
• Antes da Lei nº 13.488/2017: somente poderia concorrer à
distribuição das sobras eleitorais os partidos ou as coligações que
tivessem obtido quociente eleitoral.
• Depois da Lei nº 13.488/2017: podem concorrer à distribuição dos
lugares todos os partidos e coligações que participaram do pleito.
Trata-se de uma opção legislativa legítima, que não viola diretamente
qualquer dispositivo da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5947/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
4/3/2020 (Info 968).

• VACÂNCIA DE CARGOS POLÍTICOS


Constitucionalidade do § 3º do art. 224 do Código Eleitoral.
A Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) inseriu o § 3º
ao art. 224 do Código Eleitoral.
O § 3º prevê que “a decisão da Justiça Eleitoral que importe o
indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do
mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o
trânsito em julgado, a realização de novas eleições,
independentemente do número de votos anulados.”
O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “após o trânsito
em julgado” e decidiu que basta a exigência de decisão final da
Justiça Eleitoral.
Assim, concluído o processo na Justiça Eleitoral (ex: está pendente
apenas recurso extraordinário), a nova eleição já pode ser realizada
mesmo sem trânsito em julgado.

109

Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. ADI 5525/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7
e 8/3/2018 (Info 893).
Tirando esse trecho, o restante do § 3º do art. 224 do CE é
constitucional. Veja a tese fixada pelo STF: É constitucional, à luz dos
arts. 1º, I e parágrafo único, 5º, LIV, e 14, caput e § 9º, da
Constituição da República, o § 3º do art. 224 do Código Eleitoral, com
a redação dada pela Lei nº 13.165/2015, no que determina a
realização automática de novas eleições, independentemente do
número de votos anulados, sempre que o candidato eleito, em pleito
majoritário, for desclassificado, por indeferimento do registro de sua
candidatura, ou em virtude de cassação do diploma ou mandato.
STF. Plenário. RE 1096029/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
4/3/2020 (repercussão geral – Tema 986) (Info 968).

• INELEGIBILIDADE
Não é possível fazer uma interpretação extensiva do art. 1º, I, “g”,
da LC 64/90 para dizer que a simples violação da Lei de Licitações
configura ato doloso de improbidade administrativa e que, portanto,
caracteriza essa hipótese de inelegibilidade.
O art. 1º, I, “g”, da LC 64/90 prevê que são inelegíveis para
qualquer cargo os que tiverem suas contas rejeitadas pelo Tribunal
de Contas “por irregularidade insanável que configure ato doloso de
improbidade administrativa”.
Assim, a rejeição de contas só gera a inelegibilidade se a
irregularidade insanável que for detectada configurar ato doloso de
improbidade administrativa.
Não é possível fazer uma interpretação extensiva desse dispositivo
para dizer que a simples violação da Lei de Licitações configura ato
doloso de improbidade administrativa e que, portanto, caracteriza
essa hipótese de inelegibilidade.
É necessário fazer uma distinção entre “ato meramente ilegal” e “ato
ímprobo”, exigindo para este último uma qualificação especial: lesar o
erário ou, ainda, promover enriquecimento ilícito ou favorecimento
contra legem de terceiro.
STF. 2ª Turma. ARE 1197808 AgR-segundo e terceiro/SP, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 3/3/2020 (Info 968).

110

Atualização – Informativos STF e STJ


DIREITO EMPRESARIAL

• MARCA
Justiça Estadual não pode julgar improcedente pedido de abstenção
de uso de marca, sob o argumento de que o registro dessa marca
tem uma nulidade e, portanto, não goza de proteção; falta
competência à Justiça Estadual para reconhecer essa nulidade.
Importante!!!
Não compete à Justiça estadual, em sede de reconvenção proposta
na ação de abstenção de uso de marca, afastar o pedido da
proprietária da marca, declarando a nulidade do registro ou
irregularidade da marca.
A Justiça Estadual não pode, ao julgar uma ação de abstenção de uso
de marca, negar o pedido da proprietária da marca utilizando como
argumento que o registro dessa marca conteria uma nulidade ou
irregularidade.
A competência para examinar eventual nulidade do registro de uma
marca é da Justiça Federal. Isso porque, nessa situação, haverá
interesse jurídico do INPI na demanda, considerando que foi essa
autarquia federal que concedeu o registro, incidindo, portanto, na
hipótese do art. 109, I, da CF/88. Caso concreto: uma escola propôs
ação pedindo para que outra empresa de educação não utilizasse o
termo “Poliedro” como marca; o TJ julgou o pedido improcedente
afirmando que essa palavra não poderia ter sido registrada como
marca; logo, o registro seria nulo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.393.123-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 18/02/2020 (Info 667).

• RECUPERAÇÃO JUDICIAL
A sistemática prevista no art. 142 da Lei nº 11.101/2005 não é
aplicável nas hipóteses do art. 66, ou seja, quando reconhecida a
utilidade e a urgência na alienação de bens integrantes do ativo
permanente de empresa em recuperação judicial.
O art. 66 da Lei nº 11.101/2005 afirma que é possível a alienação de
bens integrantes do ativo permanente da empresa em recuperação
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Atualização – Informativos STF e STJ


judicial, desde que o juiz responsável pela condução do processo
reconheça a existência de evidente utilidade na adoção de tal medida.
O art. 66 da LFRE não exige qualquer formalidade específica para fins
de se alcançar o valor dos bens a serem alienados, tampouco
explicita de que modo deverá ser procedida a venda, deixando,
portanto, a critério do juiz aceitar ou não o preço enunciado e a
forma como será feita a alienação.
Assim, para a alienação tratada no art. 66 não se exige o
cumprimento das formalidades previstas no art. 142 da Lei nº
11.101/2005.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.057-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 10/03/2020 (Info 667).

• MARCA
A empresa que comercializa responde solidariamente com o
fabricante de produtos contrafeitos pelos danos causados pelo uso
indevido da marca.
A empresa que comercializa responde solidariamente com o
fabricante de produtos contrafeitos pelos danos causados pelo uso
indevido da marca. Ainda que a solidariedade não seja
expressamente prevista na Lei nº 9.279/96, a responsabilidade civil é
solidária para todos os autores e coautores que adotem condutas
danosas ao direito protegido de outrem, conforme sistema geral de
responsabilidade estabelecido no art. 942 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.719.131-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 11/02/2020 (Info 666).

• MARCA
A renúncia ao registro não enseja a perda do objeto da ação que
veicula pretensão de declaração de nulidade da marca.
Importante!!!
Atenção!
Concursos federais A renúncia ao registro não enseja a perda do
objeto da ação que veicula pretensão de declaração de nulidade da
marca.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Caso concreto: a empresa Goiás Refrigerantes S/A registro, no INPI a
marca JOCA COLA. Ao tomar conhecimento disso, a “The Coca Cola
Company” ajuizou ação contra a empresa Goiás Refrigerantes S/A e
contra o INPI pedindo a nulidade desse registro. Na contestação
apresentada, a Goiás Refrigerantes pediu a extinção do processo sem
resolução do mérito por perda do objeto considerando que, logo após
o ajuizamento da ação, ela (ré) renunciou ao registro da marca JOCA
COLA e isso já foi homologado administrativamente pelo INPI.
Mesmo com essa renúncia, o processo deverá prosseguir
considerando que a renúncia opera efeitos ex nunc e não implica
reconhecimento de que o registro continha vícios. A declaração de
nulidade, por outro lado, produz efeitos ex tunc e significa o
reconhecimento de que o registro foi concedido em desacordo com as
disposições da Lei.
Logo, mesmo tendo havido renúncia à marca impugnada, a
continuidade da ação é necessária para proteção dos direitos da
autora relativos ao período em que a marca esteve em vigor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.832.148-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 20/02/2020 (Info 666).

• CONTRATOS BANCÁRIOS
É possível que o contrato de abertura de crédito fixo preveja que os
encargos financeiros serão um percentual da taxa média do CDI.
É admissível a estipulação dos encargos financeiros de contrato de
abertura de crédito em percentual sobre a taxa média aplicável aos
Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs).
Nos depósitos interbancários, como em qualquer outro tipo de
empréstimo, a instituição tomadora paga juros à instituição emitente.
A denominada Taxa CDI, ou simplesmente DI, é calculada com base
nas taxas aplicadas em tais operações, refletindo, portanto, o custo
de captação de moeda suportado pelos bancos.
STJ. 3ª Turma.REsp 1.781.959-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

• RECUPERAÇÃO JUDICIAL

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Atualização – Informativos STF e STJ


Seguradora que não recebeu os prêmios arrecadados por empresa
que atuou como representante de seguros terá que receber esse
crédito segundo o plano de recuperação judicial caso a representante
entre em recuperação judicial.
O crédito titularizado pela sociedade de seguros, decorrente do não
repasse dos prêmios em contrato de representação de seguro,
submete-se à recuperação judicial da empresa representante.
Ex: a empresa fez um contrato de representação de seguro com uma
seguradora (sociedade de seguros); a empresa recebia o valor dos
prêmios pagos pelos segurados e, depois de determinado tempo,
teria que entregar essa quantia à seguradora; a empresa entrou em
recuperação judicial sem ter repassado esses prêmios; a seguradora
terá que habilitar esse crédito que tem para receber na recuperação
judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.595-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 10/12/2019 (Info 665).

• RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Os créditos derivados da prestação de serviços contábeis e afins
podem ser classificados como créditos trabalhistas no processo de
recuperação judicial.
Os créditos decorrentes da prestação de serviços contábeis e afins,
mesmo que titularizados por sociedade simples, são equiparados aos
créditos trabalhistas para efeitos de sujeição ao processo de
recuperação judicial.
O tratamento dispensado aos honorários devidos a profissionais
liberais - no que se refere à sujeição ao plano de recuperação judicial
- deve ser o mesmo conferido aos créditos de origem trabalhista, em
virtude de ambos ostentarem natureza alimentar. Esse entendimento
não é obstado pelo fato de o titular do crédito ser uma sociedade de
contadores, considerando que, mesmo nessa hipótese, a natureza
alimentar da verba não é modificada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.851.770-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 18/02/2020 (Info 665).

• RECUPERAÇÃO JUDICIAL

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Atualização – Informativos STF e STJ


O cômputo do período de dois anos de exercício da atividade
econômica, para fins de recuperação judicial, nos termos do art. 48
da Lei nº 11.101/2005, aplicável ao produtor rural, inclui aquele
anterior ao registro do empreendedor.
O art. 48 da Lei nº 11.101/2005 elenca requisitos que deverão ser
cumpridos pelo devedor para que ele possa requerer recuperação
judicial.
O primeiro requisito é a previsão de que o devedor deverá estar
exercendo regularmente suas atividades há, no mínimo, 2 anos no
momento do pedido.
O cômputo do período de dois anos de exercício da atividade
econômica, para fins de recuperação judicial, nos termos do art. 48
da Lei nº 11.101/2005, aplicável ao produtor rural, inclui aquele
anterior ao registro do empreendedor.
O produtor rural, por não ser empresário sujeito a registro, está em
situação regular, mesmo ao exercer atividade econômica agrícola
antes de sua inscrição, por ser esta, para ele, facultativa.
Assim, para o empreendedor rural, o registro, por ser facultativo, tem
o efeito constitutivo de equipará-lo, para todos os efeitos, ao
empresário sujeito a registro, sendo tal efeito apto a retroagir (ex
tunc), pois a condição regular de empresário já existia antes mesmo
do registro.
Logo, para cumprir os 2 anos exigidos por lei, o produtor rural pode
aproveitar o período anterior ao registro, pois já naquela época ele
estava exercendo regularmente atividade empresarial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd.
Min. Raul Araújo, julgado em 05/11/2019 (Info 664).

• FALÊNCIA
O síndico (atual administrador judicial) deve prestar contas também
dos atos realizados pelo gerente que ficar responsável pela
continuidade provisória das atividades do falido.
O síndico (atual administrador judicial) é responsável pela prestação
de contas da massa falida ao juízo a partir do momento de sua

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Atualização – Informativos STF e STJ


nomeação, incluídos os atos realizados pelo gerente na continuidade
provisória das atividades.
Esse gerente, que desempenhará funções específicas relacionadas ao
comércio dos bens, ficará sob a imediata fiscalização do síndico,
cabendo, ao final, prestar contas de tudo que fez ao síndico.
Logo, o síndico é também responsável pelos atos realizados pelo
gerente na continuidade provisória das atividades, devendo prestar
contas disso ao juiz.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.487.042-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 05/12/2019 (Info 663).
Obs: a Lei nº 11.101/2005 não mais utiliza a expressão “síndico”,
chamando agora de “administrador judicial”.
Obs2: o caso acima foi apreciado com base na antiga Lei de Falências
(DL 7.661/1945), no entanto, a solução seria a mesma no atual
diploma (Lei nº 11.101/2005).

• RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Compete ao juízo da recuperação judicial o julgamento de tutela de
urgência que tem por objetivo antecipar o início do stay period ou
suspender os atos expropriatórios determinados em outros juízos,
antes mesmo de deferido o processamento da recuperação.
O Juízo da recuperação é competente para avaliar se estão presentes
os requisitos para a concessão de tutela de urgência objetivando
antecipar o início do stay period ou suspender os atos expropriatórios
determinados em outros juízos, antes mesmo de deferido o
processamento da recuperação.
STJ. 2ª Seção. CC 168.000-AL, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 11/12/2019 (Info 663).

• REPRESENTAÇÃO COMERCIAL
É nula a cláusula que prevê o pagamento antecipado da indenização
devida ao representante comercial no caso de rescisão injustificada
do contrato pela representada.
A representação comercial autônoma é uma espécie de contrato
segundo o qual uma determinada pessoa (física ou jurídica) chamada
de “representante” compromete-se a ir em busca de interessados que

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Atualização – Informativos STF e STJ


queiram adquirir os produtos ou serviços prestados por uma
empresa, designada “representada”.
O art. 27, “j”, da Lei nº 4.886/65 prevê que o representado deverá
pagar uma indenização ao representante em caso de rescisão
imotivada, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 do total da
retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a
representação.
O valor dessa indenização pode ser pago antecipadamente, diluído no
contrato de representação comercial?
NÃO. É nula a cláusula que prevê o pagamento antecipado da
indenização devida ao representante comercial no caso de rescisão
injustificada do contrato pela representada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.831.947-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 10/12/2019 (Info 662).

• RECUPERAÇÃO JUDICIAL
A ação de habilitação retardatária de crédito deve ser ajuizada até a
prolação da decisão de encerramento do processo recuperacional.
Se o credor não requereu a habilitação de seu crédito e o quadro-
geral de credores já foi homologado, a única via que ainda resta para
esse credor será pleitear a habilitação por meio de ação judicial
autônoma que tramitará pelo rito ordinário, nos termos do art. 10,
§ 6º, da LFRE: § 6º Após a homologação do quadro-geral de
credores, aqueles que não habilitaram seu crédito poderão,
observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no
Código de Processo Civil, requerer ao juízo da falência ou da
recuperação judicial a retificação do quadro-geral para inclusão do
respectivo crédito.
Vale ressaltar, no entanto, que essa ação pedindo a habilitação
retardatária somente pode ser proposta até a prolação da decisão de
encerramento do processo recuperacional.
Desse modo, uma vez encerrada a recuperação judicial, não se pode
mais autorizar a habilitação ou a retificação de créditos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.166-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 10/12/2019 (Info 662).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• RECUPERAÇÃO JUDICIAL
O crédito de honorários advocatícios sucumbenciais constituído após
o pedido de recuperação judicial não está submetido ao juízo
recuperacional, ressalvando-se o controle dos atos expropriatórios
pelo juízo universal.
Os créditos constituídos depois de ter o devedor ingressado com o
pedido de recuperação judicial estão excluídos do plano e de seus
efeitos (art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005).
A sentença (ou o ato jurisdicional equivalente, na competência
originária dos tribunais) é o ato processual por meio do qual nasce o
direito à percepção dos honorários advocatícios sucumbenciais.
Se a sentença que arbitrou os honorários sucumbenciais se deu
posteriormente ao pedido de recuperação judicial, o crédito que dali
emana, necessariamente, nascerá com natureza extraconcursal, já
que, nos termos do art. 49, caput da Lei nº 11.101/05, sujeitam-se
ao plano de soerguimento os créditos existentes na data do pedido de
recuperação judicial, ainda que não vencidos, e não os posteriores.
Por outro lado, se a sentença que arbitrou os honorários advocatícios
for anterior ao pedido recuperacional, o crédito dali decorrente deverá
ser tido como concursal, devendo ser habilitado e pago nos termos do
plano de recuperação judicial.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.841.960-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel.
Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/02/2020 (Info 669).
• TÍTULOS DE CRÉDITO (NOTA PROMISSÓRIA)
Em uma nota promissória constaram duas datas de vencimento;
uma coincide com a data de emissão do título; a outra é posterior;
neste caso, deve prevalecer a data posterior já que, por ser futura,
admite ser presumida como a efetiva manifestação de vontade do
emitente.
Caso concreto: na nota promissória constaram duas informações
diferentes sobre a data de vencimento do título: “cinco de fevereiro
de dois mil e oito” e “05 de julho de 2008”. Vale ressaltar que a nota
promissória foi emitida em 05.02.2008 (data de emissão). Assim, a
nota promissória contém duas datas de vencimento igualmente
expressas por extenso quanto ao mês (“fevereiro” e “julho”), sendo a
primeira delas coincidente com a data de emissão da cártula, aposta
numericamente (05.02.2008).

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Atualização – Informativos STF e STJ


Qual delas deverá prevalecer? Deve prevalecer a data de 05 de julho.
Diante da divergência entre as expressões numérica e por extenso da
data de vencimento de nota promissória, deve-se presumir que a
efetiva vontade do emitente da nota era a de que o vencimento se
desse após a emissão, prevalecendo, assim, a segunda e mais futura
data de vencimento.
A nota promissória é um título de crédito próprio, e, como tal, se
propõe à concessão de um prazo para o pagamento, distinto da data
da emissão da cártula, de forma que não faz sentido a emissão de
uma nota promissória com data de vencimento coincidente com a
data de emissão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.730.682-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 05/05/2020 (Info 671).

• RECUPERAÇÃO JUDICIAL
A alienação de ativos na forma de unidade produtiva isolada pode se
dar por meio diverso do previsto nos arts. 60 e 142 da Lei nº
11.101/2005.
Cuidado com alguns livros!
A alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de
recuperação judicial aprovado deve, em regra, se dar na forma de
alienação por hasta pública, conforme o disposto nos arts. 60 e 142
da Lei nº 11.101/2005.
A adoção de outras modalidades de alienação, na forma do art. 145
da Lei nº 11.101/2005, só pode ser admitida em situações
excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na
proposta apresentada aos credores.
Nessas hipóteses, as condições do negócio devem estar
minuciosamente descritas no plano de recuperação judicial que deve
ter votação destacada deste ponto, ser aprovado por maioria
substancial dos credores e homologado pelo juiz. Em suma: a
alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de
recuperação judicial aprovado somente poderá adotar outras
modalidades de alienação em situações excepcionais, que devem
estar explicitamente justificadas na proposta apresentadas aos
credores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.689.187-RJ, Rel. Min. RicardoVillas Bôas
Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Os créditos lastreados em contratos de fiança bancária, firmados para
garantia de obrigação contraída, não estão submetidos aos efeitos da
recuperação judicial.
De acordo com o art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005, não se
submetem aos efeitos do processo de soerguimento do devedor
aqueles credores cujas obrigações foram constituídas após a data em
que o devedor ingressou com o pedido de recuperação judicial.
O crédito passível de ser perseguido pelo fiador em face do afiançado
somente se constitui a partir do adimplemento da obrigação principal
pelo garante. Antes disso, não existe dever jurídico de caráter
patrimonial em favor deste.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.860.368-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 05/05/2020 (Info 671).

DIREITO INTERNACIONAL

• EXPULSÃO
É proibida a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele
esteja sob a sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva,
mesmo que isso tenha ocorrido após o fato ensejador do ato
expulsório.
Importante!!!
O § 1º do art. 75 da Lei nº 6.815/80 não foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988, sendo vedada a expulsão de
120

Atualização – Informativos STF e STJ


estrangeiro cujo filho brasileiro foi reconhecido ou adotado
posteriormente ao fato ensejador do ato expulsório, uma vez
comprovado estar a criança sob a guarda do estrangeiro e deste
depender economicamente.
STF. Plenário. RE 608898/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
25/6/2020 (Repercussão Geral – Tema 373) (Info 983).

• EXPULSÃO
Estrangeiro que tenha filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou
dependência não pode ser expulso mesmo que o nascimento tenha
ocorrido após os fatos que ensejaram a expulsão
Importante!!!
Para a configuração das hipóteses legais de inexpulsabilidade não é
exigível a contemporaneidade dessas mesmas causas em relação aos
fatos que deram ensejo ao ato expulsório.
Caso concreto: portaria de expulsão do estrangeiro foi publicada em
2017; enquanto aguardava a efetivação da expulsão, esse
estrangeiro teve um filho brasileiro, nascido em 2019; a Lei de
Migração (Lei nº 13.445/2017), em seu art. 55, II, “a”, proíbe a
expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a
sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva; muito embora
a portaria de expulsão tenha sido editada antes do nascimento do
filho brasileiro, o certo é que não se pode exigir para a configuração
das hipóteses legais de inexpulsabilidade a contemporaneidade
dessas mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato
expulsório.
STJ. 1ª Seção. HC 452.975-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
12/02/2020 (Info 667).

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


• REGIME JURÍDICO

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Atualização – Informativos STF e STJ


Lei que trate sobre os cartórios extrajudiciais do DF deve ser de
iniciativa do TJDFT, discutida e votada pelo Congresso Nacional.
Compete ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios a
apresentação ao Congresso Nacional de projeto de lei sobre
organização, funcionamento e provimento de serventias extrajudiciais
no Distrito Federal por se cuidar de matéria afeta à organização
judiciária.
STF. Plenário. ADI 3498, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 11/05/2020
(Info 980 – clipping).

• REGIME JURÍDICO
É constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia
deve ser considerado como título em concursos para cartório.
O exercício da advocacia é critério adequado para a atribuição de
título em concursos para carreiras jurídicas.
Assim, é constitucional lei estadual que preveja que o exercício da
advocacia deve ser considerado como título em concursos para
cartório (serventias notariais e de registro).
STF. Plenário. ADI 3760, Rel. Gilmar Mendes, julgado em
15/04/2020.

• COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que determine aos titulares das
serventias extrajudiciais que façam a microfilmagem dos documentos
arquivados no cartório.
Os Estados-membros não possuem competência legislativa para
determinar a microfilmagem de documentos arquivados nos cartórios
extrajudiciais do Estado.
Esse tema envolve registros públicos e responsabilidade civil dos
notários e registros, matéria que é de competência privativa da
União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
27/03/2020.

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Atualização – Informativos STF e STJ


DIREITO PENAL

• REINCIDÊNCIA
Admite-se o uso de informações processuais extraídas dos sítios
eletrônicos dos tribunais, quando completas, a fim de demonstrar a
reincidência do réu.
Importante!!!
Para fins de comprovação da reincidência, é necessária
documentação hábil que traduza o cometimento de novo crime depois
de transitar em julgado a sentença condenatória por crime anterior,
mas não se exige, contudo, forma específica para a comprovação.
Desse modo, é possível que a reincidência do réu seja demonstrada
com informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos dos
tribunais.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 448.972/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, julgado em 16/08/2018. STF. 1ª Turma. HC 162548
AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/6/2020 (Info 982).

• CORRUPÇÃO PASSIVA
Pratica corrupção passiva o Deputado Federal que recebe vantagem
indevida para interceder junto a diretor da Petrobrás com o intuito de
que fazer com que a empresa faça acordo com empresa privada e
pague a ela determinadas quantias em atraso.
Uma determinada empresa havia prestado serviços para a Petrobrás
e não tinha recebido todo o valor que entendia devido. Essa empresa
entrou em contato com determinado Deputado Federal para que ele
resolvesse a situação.
Este Deputado comprometeu-se a falar com o diretor de
abastecimento da Petrobrás, mas exigiu o pagamento de vantagem
indevida.
123

Atualização – Informativos STF e STJ


O Deputado conseguiu que a Petrobrás pagasse, por meio de um
acordo extrajudicial, R$ 69 milhões para a empresa e, em troca,
recebeu R$ 3 milhões de propina.
O STF entendeu que esta conduta se enquadra no crime de corrupção
passiva (art. 317 do CP).
STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
9/6/2020 (Info 981).

• CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


Configura o crime de roubo (e não estelionato) a conduta do
funcionário de uma empresa que combina com outro indivíduo para
que este simule que assalta o empregado com uma arma de fogo e,
dessa forma, leve o dinheiro da empresa.
João trabalhava em uma empresa, sendo responsável por receber
pagamentos em dinheiro e levá-los para depósito no banco. João
combinou com Pedro um plano criminoso. No dia do pagamento,
Pedro entraria na empresa, supostamente ameaçaria João (seu
comparsa oculto), que a ele entregaria o dinheiro. Depois, os dois
dividiriam a quantia subtraída. Assim, no dia dos fatos, Pedro, já
sabendo que havia entrado uma grande soma em dinheiro, chegou na
empresa e, simulando portar arma de fogo, exigiu que João e Ricardo
(outro funcionário da empresa que não sabia do plano) entregassem
o dinheiro, o que foi feito. Posteriormente, a polícia conseguiu
prender Pedro, que confessou todo o plano criminoso. João e Pedro
praticaram roubo majorado, e não estelionato.
STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
2/6/2020 (Info 980).

• LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS


O porte de arma branca é conduta que permanece típica na Lei das
Contravenções Penais.
A previsão do art. 19 da Lei das Contravenções Penais continua
válida ainda hoje?
• Em relação à arma de fogo: NÃO. O porte ilegal de arma de fogo
caracteriza, atualmente, o crime previsto nos arts. 14 ou 16 do
Estatuto do Desarmamento.

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Atualização – Informativos STF e STJ


• Em relação à branca: SIM. O art. 19 do Decreto-lei nº 3.688/41
permanece vigente quanto ao porte de outros artefatos letais, como
as armas brancas.
A jurisprudência do STJ é firme no sentido da possibilidade de
tipificação da conduta de porte de arma branca como contravenção
prevista no art. 19 do DL 3.688/41, não havendo que se falar em
violação ao princípio da intervenção mínima ou da legalidade.
STJ. 5ª Turma. RHC 56.128-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
10/03/2020 (Info 668).

• ROUBO
Nos casos em que se aplica a Lei nº 13.654/2018, é possível a
valoração do emprego de arma branca, no crime de roubo, como
circunstância judicial desabonadora.
A Lei nº 13.654/2018 entrou em vigor no dia 24/04/2018. Antes
dessa Lei, o emprego de arma branca era considerado causa e
aumento de pena no roubo. Essa Lei, contudo, deixou de prever a
arma branca como majorante.
Suponhamos que, no dia 25/04/2018, João, usando um canivete,
ameaçou a vítima, subtraindo dela o telefone celular. O juiz, ao
condenar o réu, não poderá, na 3ª fase da dosimetria da pena,
utilizar a “arma branca” como causa de aumento de pena. Diante
disso, nada impede que o magistrado utilize esse fato (emprego de
arma branca) como uma circunstância judicial negativa, aumentando
a pena-base na 1ª fase da dosimetria da pena.
Assim, no período de aplicação da Lei nº 13.654/2018, o juiz está
proibido de utilizar essa circunstância (emprego de arma branca)
como causa de aumento de pena, mas nada impede que considere
isso como circunstância judicial negativa, na fase do art. 59 do CP.
STJ. 5ª Turma. HC 556.629-RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
03/03/2020 (Info 668).

• CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


Para a incidência do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 em caso de
sonegação fiscal de tributos federais, é necessário que o valor da
dívida seja igual ou superior a R$ 1 milhão; se a sonegação fiscal for

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Atualização – Informativos STF e STJ


de tributos estaduais ou municipais, deve-se analisar o que define a
Fazenda local.
Importante!!!
Mudança de entendimento!
Atualize o Info 882-STF
O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê que a pena do crime de
sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90) deverá ser
aumentada no caso de o delito “ocasionar grave dano à coletividade”.
A jurisprudência entende que se configura a referida causa de
aumento quando o agente deixa de recolher aos cofres públicos uma
vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor sonegado foi alto,
incide a causa de aumento do art. 12, I.
Nesse cálculo deve-se incluir também os juros e multa:
Para os fins da majorante do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 (grave
dano à coletividade), o dano tributário deve ser valorado
considerando seu valor atual e integral, incluindo os acréscimos legais
de juros e multa.
A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda
Nacional, prevê que os contribuintes que estão devendo acima de R$
1 milhão são considerados “grandes devedores” e devem receber
tratamento prioritário na atuação dos Procuradores.
O STJ utiliza, então, essa Portaria como parâmetro para analisar a
incidência ou não da causa de aumento do art. 12, I:
A majorante do grave dano à coletividade, trazida pelo art. 12, I, da
Lei nº 8.137/90, deve se restringir a situações especiais de relevante
dano. Desse modo, é possível, para os tributos federais, utilizar,
analogamente, o critério previsto no art. 14 da Portaria 320/PGFN,
por meio do qual se definiu administrativamente os créditos
prioritários como sendo aqueles de valor igual ou superior a R$
1.000.000,00 (um milhão de reais).
E se a sonegação fiscal envolver tributos estaduais ou municipais,
como deverá ser o parâmetro nesses casos?
Em se tratando de tributos estaduais ou municipais, o critério deve
ser, por equivalência, aquele definido como prioritário ou de
destacados créditos (grandes devedores) para a fazenda local.
Dito de outro modo, em caso de tributos estaduais ou municipais, não
se de deve utilizar a Portaria 320/PGFN, mas sim os eventuais atos
126

Atualização – Informativos STF e STJ


normativos estaduais e municipais que definam o que sejam “grandes
devedores” para o Fisco local.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.849.120-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 11/03/2020 (Info 668).
O STF comunga do mesmo entendimento e utiliza como parâmetro
esses atos infralegais que definem “grandes devedores”? Não. Existe
julgado do STF no qual foi afastado esse critério: “Quanto à Portaria
320/2008 da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, anoto que essa
norma infralegal apenas dispõe sobre o Projeto Grandes Devedores
no âmbito da PGFN, conceituando, para os seus fins, os “grandes
devedores”, com o objetivo de estabelecer, na Secretaria da Receita
Federal do Brasil, método de cobrança prioritário a esses sujeitos
passivos de vultosas obrigações tributárias, sem limitar ou definir, no
entanto, o grave dano à coletividade, ao contrário do que afirma o
impetrante.”
(STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 17/10/2017. Info 882).

• CRIMES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO


A causa de aumento prevista no art. 302, § 1º, II, do Código de
Trânsito Brasileiro não exige que o agente esteja trafegando na
calçada, sendo suficiente que o ilícito ocorra nesse local.
A majorante do art. 302, § 1º, II, do CTB será aplicada tanto quando
o agente estiver conduzindo o seu veículo pela via pública e perder o
controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a
vítima, como quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando
qualquer manobra e, em razão de sua desatenção, acabar por atingir
e matar o pedestre.
Assim, aplica-se a referida causa de aumento de pena na hipótese em
que o condutor do veículo transitava pela via pública e, ao efetuar
manobra, perdeu o controle do carro, subindo na calçada e
atropelando a vítima.
STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.499.912-SP, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 05/03/2020 (Info 668).

• DESOBEDIÊNCIA

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Atualização – Informativos STF e STJ


Comete crime de desobediência o indivíduo que não atende a ordem
dada pelo oficial de justiça na ocasião do cumprimento de mandado
de entrega de veículo Importante!!! Comete crime de desobediência
(art. 330 do CP) o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial
de justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de
veículo, expedido no juízo cível.
O indivíduo, depositário do bem, recusou-se a entregar o veículo ou a
indicar sua localização.
Essa conduta configura ato atentatório à dignidade da justiça (art.
77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de multa processual (art.
77, § 2º). Ocorre que a Lei afirma expressamente que a aplicação da
multa ocorre sem prejuízo de responsabilização na esfera penal.
STF. 1ª Turma. HC 169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/4/2020 (Info 975).

• CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS


Pagar remuneração a funcionário fantasma não configura crime.
Importante!!!
O pagamento de remuneração a funcionários fantasmas não
configura apropriação ou desvio de verba pública, previstos pelo art.
1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201/67.
O pagamento de salário não configura apropriação ou desvio de
verba pública, previstos pelo art. 1º, I, do Decreto-Lei nº 201/67,
pois a remuneração é devida, ainda que questionável a contratação
de parentes do Prefeito.
STJ. 6ª Turma.AgRg no AREsp 1.162.086-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 05/03/2020 (Info 667).

• CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO


Compete à Justiça Federal julgar a conduta de réu que faz oferta
pública de contrato de investimento coletivo em criptomoedas sem
prévia autorização da CVM.
Se a denúncia imputa a oferta pública de contrato de investimento
coletivo (sem prévio registro), não há dúvida de que incide as
disposições contidas na Lei nº 7.492/86 (Lei de Crimes contra o
Sistema Financeiro), especialmente porque essa espécie de contrato

128

Atualização – Informativos STF e STJ


caracteriza valor mobiliário, nos termos do art. 2º, IX, da Lei nº
6.385/76.
Logo, compete à Justiça Federal apurar os crimes relacionados com
essa conduta. Compete à Justiça Federal julgar crimes relacionados à
oferta pública de contrato de investimento coletivo em criptomoedas.
STJ. 6ª Turma. HC 530.563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 05/03/2020 (Info 667).

• CRIMES AMBIENTAIS
Se a ré pratica o crime de poluição qualificada e não toma
providências para reparar o dano, entende-se que continua
praticando ato ilícito em virtude da sua omissão, devendo, portanto,
ser considerado que se trata de crime permanente.
Os delitos previstos no: - art. 54, § 2º, I, II, III e IV e § 3º e - art.
56, § 1º, I e II, - cumulados com a causa de aumento de pena do art.
58, I, da Lei nº 9.605/98, ... que se resumem na ação de causar
poluição ambiental que provoque danos à população e ao próprio
ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas na
legislação de proteção, e na omissão em adotar medidas de
precaução nos casos de risco de dano grave ou irreversível ao
ecossistema, ... são crimes de natureza permanente, para fins de
aferição da prescrição.
Caso concreto: a empresa ré armazenou inadequadamente causando
grave poluição da área degradada, sendo que, até o momento de
prolação do julgado, não havia tomado providências para reparar o
dano, caracterizando a continuidade da prática infracional.
Desse modo, constata-se que o crime de poluição qualificada é
permanente, ainda que por omissão da ré, que foi prontamente
notificada a reparar o dano causado, mas não o fez.
STJ. 5ª Turma.AgRg no REsp 1.847.097-PA, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

• PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

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Atualização – Informativos STF e STJ


É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de
mercadorias avaliadas em R$ 29,15, mesmo que a subtração tenha
ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo que o
agente seja reincidente.
É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de
mercadorias avaliadas em R$ 29,15, mesmo que a subtração tenha
ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo que o
agente seja reincidente.
Vale ressaltar que os produtos haviam sido furtados de um
estabelecimento comercial e que logo após o agente foi preso, ainda
na porta do estabelecimento.
Objetos furtados: R$ 4,15 em moedas, uma garrafa de Coca-Cola,
duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga marca 51, tudo
avaliado em R$ 29,15.
STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 14/4/2020 (Info 973).

• ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Aplica-se o arrependimento posterior para o agente que fez o


ressarcimento da dívida principal antes do recebimento da denúncia,
mas somente pagou depois os juros e a correção monetária.
É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena
prevista no art. 16 do Código Penal (arrependimento posterior) para
o caso em que o agente fez o ressarcimento da dívida principal
(efetuou a reparação da parte principal do dano) antes do
recebimento da denúncia, mas somente pagou os valores referentes
aos juros e correção monetária durante a tramitação da ação penal.
Nas exatas palavras do STF: “É suficiente que ocorra
arrependimento, uma vez reparada parte principal do dano, até o
recebimento da inicial acusatória, sendo inviável potencializar a
amplitude da restituição.”
STF. 1ª Turma. HC 165312/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
14/4/2020 (Info 973).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• TRÁFICO DE DROGAS
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de
Drogas pelo simples fato de o acusado ser investigado em inquérito
policial ou réu em outra ação penal que ainda não transitou em
julgado?
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de
Drogas com base no fato de o acusado ser investigado em inquérito
policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não transitou em
julgado?

• STJ: SIM.
É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em
curso para formação da convicção de que o réu se dedica a atividades
criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no art. 33, §
4º, da Lei n.º 11.343/2006.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
em 14/12/2016 (Info 596).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 05/03/2020.

• STF: NÃO.
Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico
privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com
fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou
processos criminais em andamento, mesmo que estejam em fase
recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da presunção
de não culpabilidade).
Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da
Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não
alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada).
STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
18/2/2020 (Info 967).
STF. 1ª Turma. HC 166385/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
14/4/2020 (Info 973).

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 19/11/2018.

• CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Configura o crime de peculato-desvio o fomento econômico de
candidatura à reeleição por Governador de Estado com o patrimônio
de empresas estatais.
Governador do Estado que desvia grande soma de recursos públicos
de empresas estatais, utilizando esse dinheiro para custear sua
campanha de reeleição, pratica o crime de peculato-desvio.
As empresas estatais gozam de autonomia administrativa e
financeira. Mesmo assim, pode-se dizer que o Governador tem a
posse do dinheiro neste caso? É possível. Isso porque a posse
necessária para configuração do crime de peculato deve ser
compreendida não só como a disponibilidade direta, mas também
como disponibilidade jurídica, exercida por meio de ordens.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.776.680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado
em 11/02/2020 (Info 666).

• CRIMES DO ECA

Em regra, não há automática consunção quando ocorrem


armazenamento e compartilhamento de material pornográfico
infanto-juvenil.
Se o sujeito armazena (art. 241-B) arquivos digitais contendo cena
de sexo explícito e pornográfica envolvendo crianças e adolescentes e
depois disponibiliza (art. 241-A), pela internet, esses arquivos para
outra pessoa, esse indivíduo terá praticado dois crimes ou haverá
consunção e ele responderá por apenas um dos delitos?
Em regra, não há automática consunção quando ocorrem
armazenamento e compartilhamento de material pornográfico
infanto-juvenil. Isso porque o cometimento de um dos crimes não
perpassa, necessariamente, pela prática do outro.
No entanto, é possível a absorção a depender das peculiaridades de
cada caso, quando as duas condutas guardem, entre si, uma relação
de meio e fim estreitamente vinculadas.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O princípio da consunção exige um nexo de dependência entre a
sucessão de fatos. Se evidenciado pelo caderno probatório que um
dos crimes é absolutamente autônomo, sem relação de subordinação
com o outro, o réu deverá responder por ambos, em concurso
material. A distinção se dá em cada caso, de acordo com suas
especificidades.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 04/02/2020 (Info 666).

• CRIMES DO ECA
Juiz não pode aumentar a pena-base do crime do art. 241-A do ECA
alegando que a conduta social ou a personalidade são desfavoráveis,
sob o argumento de que o réu manifestou grande interesse por
material pornográfico.
O grande interesse por material que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente é ínsito ao crime
descrito no art. 241-A da Lei nº 8.069/90, não sendo justificável a
exasperação da pena-base a título de conduta social ou
personalidade.
Caso concreto: na 1ª fase da dosimetria da pena (art. 59 do CP), o
juiz aumentou a pena-base de 3 para 4 anos afirmando que a
conduta social e a personalidade do agente eram desfavoráveis:
“Com base nos elementos constantes dos autos, percebo que a
conduta social e a personalidade do acusado demonstram certa
periculosidade pelo grande interesse em pornografia infantil.
Fixo a pena-base privativa de liberdade em 4 (quatro) anos de
reclusão nesta fase.”
STJ. 6ª Turma. REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 04/02/2020 (Info 666).

• PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto


qualificado, salvo quando presentes circunstâncias excepcionais que
recomendam a medida.
A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à
primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da
133

Atualização – Informativos STF e STJ


conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a
ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação
do princípio da insignificância.
STJ. 5ª Turma. HC 553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

• HOMICÍDIO
A qualificadora do meio cruel é compatível com o dolo eventual.
Importante!!!
Não há incompatibilidade entre o dolo eventual e o reconhecimento
do meio cruel, na medida em que o dolo do agente, direto ou
indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o
emprego de meio mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (art. 121, § 2º, III,
do CP). Caso concreto: réu atropelou o pedestre e não parou o
veículo, arrastando a vítima por 500 metros, assumindo, portanto, o
risco de produzir o resultado morte; mesmo tendo havido dolo
eventual, deve-se reconhecer também a qualificadora do meio cruel
prevista no art. 121, § 2º, III, do CP.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1573829/SC, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 09/04/2019.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.829.601-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 04/02/2020 (Info 665).

• CRIME DE INCÊNDIO
A materialidade do delito de incêndio deve ser comprovada, em
regra, mediante exame de corpo de delito, podendo ser suprida por
outros meios caso haja uma justificativa para a não realização do
laudo pericial.
A materialidade do delito de incêndio (art. 250, § 1º, I, do CP), cuja
prática deixa vestígios, deve ser comprovada, em regra, mediante
exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP. Existe até
uma previsão específica para o caso do crime de incêndio: Art. 173.
No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que
houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou
para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as
demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.
134

Atualização – Informativos STF e STJ


Vale ressaltar, no entanto, que a substituição do exame pericial por
outros meios de prova é possível em hipóteses excepcionais quando
desaparecidos os sinais ou as circunstâncias não permitirem a
realização do laudo, conforme autoriza o art. 167 do CPP.
Para que a utilização de outros meios de prova seja válida, é
necessário que se demonstre que houve uma justificativa para a não
realização do laudo pericial. Em um caso concreto, o STF entendeu
que essa utilização estava justificada. Isso porque o réu, mesmo após
ser orientado pelo Corpo de Bombeiros a registrar, imediatamente,
ocorrência policial e solicitar perícia técnica ao Instituto de
Criminalística, permaneceu inerte durante sete dias.
A não elaboração da perícia oficial ocorreu, portanto, em razão do
desaparecimento dos vestígios do crime, considerada a demora em
registrar a ocorrência e a falta de preservação do local.
Por essa razão a materialidade do delito foi demonstrada pela prova
testemunhal, corroborada por cópias da apólice do seguro, aviso de
sinistro, ocorrência policial, relatório de regulação de sinistros,
fotografias, laudos de averiguação e pelo laudo elaborado pela
seguradora. Levando em conta a justificada inviabilidade da
elaboração do exame de corpo de delito e a demonstração da
materialidade do crime por outros meios de prova, foi correta a
aplicação do art. 167 do CPP no presente caso.
STF. 1ª Turma. HC 136964/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
18/2/2020 (Info 967).

• TRÁFICO DE DROGAS
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de
Drogas pelo simples fato de o acusado ser investigado em inquérito
policial ou réu em outra ação penal que ainda não transitou em
julgado?
Atualize o Info 596-STJ
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de
Drogas com base no fato de o acusado ser investigado em inquérito
policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não transitou em
julgado?
• STJ: SIM. É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações
penais em curso para formação da convicção de que o réu se dedica a

135

Atualização – Informativos STF e STJ


atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no
art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado
em 14/12/2016 (Info 596).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 05/03/2020.
STF: NÃO. Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição
pelo tráfico privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a
inquéritos policiais ou processos criminais em andamento, mesmo
que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV
(princípio da presunção de não culpabilidade).
STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
18/2/2020 (Info 967).
STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 19/11/2018.

• PECULATO
Pratica o crime de peculato-desvio o Governador que determina que
os valores descontados dos contracheques dos servidores para
pagamento de empréstimo consignado não sejam repassados ao
banco, mas sim utilizados para quitação de dívidas do Estado.
Importante!!!
O administrador que desconta valores da folha de pagamento dos
servidores públicos para quitação de empréstimo consignado e não os
repassa a instituição financeira pratica peculato desvio, sendo
desnecessária a demonstração de obtenção de proveito próprio ou
alheio, bastando a mera vontade de realizar o núcleo do tipo.
Peculato-desvio é crime formal para cuja consumação não se exige
que o agente público ou terceiro obtenha vantagem indevida
mediante prática criminosa, bastando a destinação diversa daquela
que deveria ter o dinheiro.
Caso concreto: diversos servidores estaduais possuíam empréstimos
consignados. Assim, todos os meses a Administração Pública estadual
fazia o desconto das parcelas do empréstimo da remuneração dos
servidores e repassava a quantia ao banco que concedeu o mútuo.

136

Atualização – Informativos STF e STJ


Ocorre que o Governador do Estado determinou ao Secretário de
Planejamento que continuasse a descontar mensalmente os valores
do empréstimo consignado, no entanto, não mais os repassasse ao
banco, utilizando essa quantia para pagamento das dívidas do
Estado.
Esta conduta configurou o crime de peculato-desvio (art. 312 do CP),
gerando a condenação do Govenador, com a determinação, inclusive,
de perda do cargo (art. 92, I, do CP).
STJ. Corte Especial. APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 06/11/2019 (Info
664).

• PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
É possível aplicar o princípio da insignificância para furto de bem
avaliado em R$ 20,00 mesmo que o agente tenha antecedentes
criminais por crimes patrimoniais.
É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente
que praticou o furto de um carrinho de mão avaliado em R$ 20,00
(3% do salário-mínimo), mesmo ele possuindo antecedentes
criminais por crimes patrimoniais.
STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/2/2020 (Info 966).

• CRIMES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO


É constitucional a imposição da pena de suspensão de habilitação
para dirigir veículo automotor ao motorista profissional condenado
por homicídio culposo no trânsito.
Importante!!!
O crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor,
tipificado no art. 302 do CTB, prevê, como uma das penas aplicadas,
a “suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor.” Se o réu que praticou este crime é
motorista profissional, ele pode, mesmo assim, receber essa sanção
ou isso violaria o direito constitucional ao trabalho? Não viola.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O condenado pode sim receber essa sanção, ainda que se trate de
motorista profissional. É constitucional a imposição da pena de
suspensão de habilitação para dirigir veículo automotor ao motorista
profissional condenado por homicídio culposo no trânsito. O direito ao
exercício de atividades profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e a
restrição imposta pelo legislador se mostra razoável.
STF. Plenário. RE 607107/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
12/2/2020 (repercussão geral – Tema 486) (Info 966).

• PRESCRIÇÃO
Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição?
Tema polêmico!
Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição?
• SIM. É a posição atual da 1ª Turma do STF. O acórdão
confirmatório da sentença implica a interrupção da prescrição.
A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva
ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art.
117 do Código Penal que deve ser interpretado de forma sistemática
todas as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada
inciso, que o Estado não está inerte. Não obstante a posição de parte
da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão
condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão.
Não há, sistematicamente, justificativa para tratamentos díspares. A
ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na
confirmação da condenação é a atuação do Tribunal.
Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de
se interromper a prescrição para o cumprimento do devido processo
legal.
STF. 1ª Turma. RE 1237572 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/
Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 26/11/2019.
STF. 1ª Turma. RE 1241683 AgR/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/2/2020 (Info
965).
• NÃO. É a posição da doutrina, do STJ e da 2ª Turma do STF.
O art. 117, IV do CP estabelece que o curso da prescrição
interrompe-se pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios

138

Atualização – Informativos STF e STJ


recorríveis. Se o acórdão apenas CONFIRMA a condenação ou então
REDUZ a pena do condenado, ele não terá o condão de interromper a
prescrição.
STF. 2ª Turma. RE 1238121 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
06/12/2019.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1557791/SP, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 06/02/2020.
STJ. Corte Especial. AgRg no RE nos EDcl no REsp 1301820/RJ, Rel.
Min. Humberto Martins, julgado em 16/11/2016.

• LEI DE DROGAS
Para fins do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas, milita em favor do réu a
presunção de que ele é primário, possui bons antecedentes e não se
dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa; o
ônus de provar o contrário é do Ministério Público.
A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº
11.343/2006 tem como fundamento distinguir o traficante contumaz
e profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como do que
se aventura na vida da traficância por motivos que, por vezes,
confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou de sua família.
Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a
fundamentação corroborada em elementos capazes de afastar um
dos requisitos legais, sob pena de desrespeito ao princípio da
individualização da pena e de fundamentação das decisões judiciais.
Desse modo, a habitualidade e o pertencimento a organizações
criminosas deverão ser comprovados, não valendo a simples
presunção.
Não havendo prova nesse sentido, o condenado fará jus à redução de
pena. Em outras palavras, militará em favor do réu a presunção de
que é primário e de bons antecedentes e de que não se dedica a
atividades criminosas nem integra organização criminosa.O ônus de
provar o contrário é do Ministério Público.
Assim, o STF considerou preenchidas as condições da aplicação da
redução de pena, por se estar diante de ré primária, com bons
antecedentes e sem indicação de pertencimento a organização
criminosa.

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. 2ª Turma. HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red.
p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• ESTELIONATO
A competência para julgar estelionato que ocorre mediante depósito
ou transferência bancária é do local da agência beneficiária do
depósito ou transferência bancária (local onde se situa a agência que
recebeu a vantagem indevida).
Importante!!! Pacificou!!!
Na hipótese em que o estelionato se dá mediante vantagem indevida,
auferida mediante o depósito em favor de conta bancária de terceiro,
a competência deverá ser declarada em favor do juízo no qual se
situa a conta favorecida.
No caso em que a vítima, induzida em erro, efetuou depósito em
dinheiro e/ou transferência bancária para a conta de terceiro
(estelionatário), a obtenção da vantagem ilícita ocorreu quando o
estelionatário se apossou do dinheiro, ou seja, no momento em a
quantia foi depositada em sua conta.
STJ. 3ª Seção. CC 167.025/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 14/08/2019.
STJ. 3ª Seção. CC 169.053-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 11/12/2019 (Info 663).
Não confundir:
• estelionato que ocorre por meio do saque (ou compensação) de
cheque clonado, adulterado ou falsificado: a competência é do local
onde a vítima possui a conta bancária. Isso porque, nesta hipótese, o
local da obtenção da vantagem ilícita é aquele em que se situa a
agência bancária onde foi sacado o cheque adulterado, ou seja, onde
a vítima possui conta bancária.
Aplica-se o raciocínio da súmula 48 do STJ (Compete ao juízo do local
da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
estelionato cometido mediante falsificação de cheque.)
• estelionato que ocorre quando a vítima, induzida em erro, se dispõe
a fazer depósitos ou transferências bancárias para a conta de terceiro

140

Atualização – Informativos STF e STJ


(estelionatário): a competência é do local onde o estelionatário possui
a conta bancária.
Isso porque, neste caso, a obtenção da vantagem ilícita ocorre
quando o estelionatário efetivamente se apossa do dinheiro, ou seja,
no momento em que ele é depositado em sua conta.
• LEI ANTITERRORISMO
Para que se configure o crime do art. 5º da Lei nº 13.260/2016 (atos
preparatórios de terrorismo) exige-se que o sujeito tenha agido por
razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia
e religião.

Importante!!!
A tipificação da conduta descrita no art. 5º da Lei Antiterrorismo
(atos preparatórios de terrorismo) exige a motivação por razões de
xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião,
expostas no art. 2º do mesmo diploma legal.
STJ. 6ª Turma. HC 537.118-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 05/12/2019 (Info 663).

• CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação,
deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou
serviço, incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei 8.137/90.
Importante!!!
A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em
substituição tributária enquadra-se formalmente no tipo previsto no
art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação indébita tributária), desde
que comprovado o dolo.
O não repasse do ICMS recolhido pelo sujeito passivo da obrigação
tributária, em qualquer hipótese, enquadra-se (formalmente) no tipo
previsto art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, desde que comprovado o
dolo.

141

Atualização – Informativos STF e STJ


Em outras palavras, o tipo do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 não fica
restrito apenas às hipóteses em que há substituição tributária.
O que se criminaliza é o fato de o sujeito passivo se apropriar do
dinheiro relativo ao imposto, devidamente recebido de terceiro, quer
porque descontou do substituído tributário, quer porque cobrou do
consumidor, não repassando aos cofres públicos.
STJ. 3ª Seção. HC 399.109-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 22/08/2018 (Info 633).
O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação,
deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente da mercadoria ou
serviço, incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90.
O valor do ICMS cobrado do consumidor não integra o patrimônio do
comerciante, o qual é mero depositário desse ingresso de caixa que,
depois de devidamente compensado, deve ser recolhido aos cofres
públicos.
Vale ressaltar, contudo, que, para caracterizar o delito, é preciso
comprovar a existência de intenção de praticar o ilícito (dolo).
STF. Plenário. RHC 163334/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 18/12/2019 (Info 964).

• MEDIDA DE SEGURANÇA
Na aplicação do art. 97 do CP não deve ser considerada a natureza
da pena privativa de liberdade aplicável, mas sim a periculosidade do
agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento
que melhor se adapte ao inimputável
Importante!!!
Segundo o art. 97 do CP: Art. 97.
Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art.
26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com
detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
Assim, se fosse adotada a redação literal do art. 97 teríamos o
seguinte cenário:
• Se o agente praticou fato punido com RECLUSÃO, ele receberá,
obrigatoriamente, a medida de internação.

142

Atualização – Informativos STF e STJ


• Por outro lado, se o agente praticou fato punido com DETENÇÃO, o
juiz, com base na periculosidade do agente, poderá submetê-lo à
medida de internação ou tratamento ambulatorial.
O STJ, contudo, abrandou a regra legal e construiu a tese de que o
art. 97 do CP não deve ser aplicado de forma isolada, devendo
analisar também qual é a medida de segurança que melhor se ajusta
à natureza do tratamento de que necessita o inimputável.
Em outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: mesmo que o
inimputável tenha praticado um fato previsto como crime punível com
reclusão, ainda assim será possível submetê-lo a tratamento
ambulatorial (não precisando ser internação), desde que fique
demonstrado que essa é a medida de segurança que melhor se ajusta
ao caso concreto.
À luz dos princípios da adequação, da razoabilidade e da
proporcionalidade, na fixação da espécie de medida de segurança a
ser aplicada não deve ser considerada a natureza da pena privativa
de liberdade aplicável, mas sim a periculosidade do agente, cabendo
ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento que melhor se
adapte ao inimputável.
Desse modo, mesmo em se tratando de delito punível com reclusão,
é facultado ao magistrado a escolha do tratamento mais adequado ao
inimputável.
STJ. 3ª Seção. EREsp 998.128-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
em 27/11/2019 (Info 662).

• LEI DE DROGAS
A reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei nº 11.343/2006
é a específica.
Importante!!!
O art. 28 da Lei nº 11.343/2006 prevê o crime de porte de drogas
para consumo pessoal. Art. 28.
Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer
consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido
às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
143

Atualização – Informativos STF e STJ


III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo.
Em regra, as penas dos incisos II e III só podem ser aplicadas pelo
prazo máximo de 5 meses.
O § 4º prevê que: “em caso de reincidência, as penas previstas nos
incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo
máximo de 10 (dez) meses.”
A reincidência de que trata o § 4º é a reincidência específica. Assim,
se um indivíduo já condenado definitivamente por roubo, pratica o
crime do art. 28, ele não se enquadra no § 4º. Isso porque se trata
de reincidente genérico.
O § 4º ao falar de reincidente, está se referindo ao crime do caput do
art. 28.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.771.304-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 10/12/2019 (Info 662).

• DOSIMETRIA DA PENA
Se o erro do juiz na dosimetria da pena foi apenas na denominação
da circunstância judicial (chamou de “conduta social”, porém era
“maus antecedentes”), é possível que a pena seja mantida.
Demonstrada mera falta de técnica na sentença, o habeas corpus
pode ser deferido para nominar de forma correta os registros
pretéritos da paciente, doravante chamados de maus antecedentes, e
não de conduta social, sem afastar, todavia, o dado desabonador
que, concretamente, existe nos autos e justifica diferenciada
individualização da pena.
O juiz mencionou cinco condenações definitivas do réu como
justificativa para o aumento da pena na primeira fase da dosimetria.
O magistrado deveria ter denominado os registros como “maus
antecedentes”, mas, em vez disso, os enquadrou como “conduta
social” negativa.
O erro do pronunciamento está relacionado somente à atecnia na
nomeação da circunstância legal. Assim, em habeas corpus, deve ser
corrigida a palavra imprópria, para que o dado concreto levado em
conta pelo juiz seja chamado de maus antecedentes.
STJ. 6ª Turma. HC 501.144/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 10/03/2020 (Info 669).

144

Atualização – Informativos STF e STJ


• PRESCRIÇÃO
O cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em
regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da prescrição
executória De acordo com o parágrafo único do art. 116 do Código
Penal, “depois de passada em julgado a sentença condenatória, a
prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está
preso por outro motivo”.
Ao interpretar o referido dispositivo legal, o STJ pacificou o
entendimento de que o cumprimento de pena imposta em outro
processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar,
impede o curso da prescrição executória. Assim, não há que se falar
em fluência do prazo prescricional, o que impede o reconhecimento
da extinção de sua punibilidade.
O fato de o prazo prescricional não correr durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo não depende da unificação
das penas.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 123.523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 13/04/2020 (Info 670).

• PENA DE MULTA
Em adequação ao entendimento do STF, o inadimplemento da pena
de multa obsta a extinção da punibilidade do apenado Atualize o Info
568-STJ.
O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito
estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da Constituição Federal, a multa, ao
lado da privação de liberdade e de outras restrições – perda de bens,
prestação social alternativa e suspensão ou interdição de direitos –, é
espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à prática de
crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal.
Diante da eficácia erga omnes e do vinculante dessa decisão, não se
pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo cumprimento
integral da pena privativa de liberdade quando pendente o
pagamento da multa criminal.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.850.903-SP, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

• ESTATUTO DO DESARMAMENTO

145

Atualização – Informativos STF e STJ


Caracteriza ilícito penal o porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei
n. 10.826/2003) ou de arma de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei
10.826/2003) com registro de cautela vencido.
A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da
arma, o vencimento da autorização não caracteriza ilícito penal, mas
mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do
artefato e aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015).
Tal entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de
arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei nº 10.826/2003), não
se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito
menos ao delito de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art.
16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade mais intensa.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885.281-ES, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 28/04/2020 (Info 671).
• LEI MARIA DA PENHA
Constatada situação de vulnerabilidade, aplica-se a Lei Maria da
Penha no caso de violência do neto praticada contra a avó.
Importante!!!
A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência
doméstica e familiar que, cometida no âmbito da unidade doméstica,
da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral ou
patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência
doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as
esposas, as companheiras ou amantes, bem como a mãe, as filhas,
as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra
parente que mantém vínculo familiar ou afetivo com ele.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.626.825-GO, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 05/05/2020 (Info 671).
• LEI DE DROGAS
Não incide a causa de aumento de pena prevista no inciso III do art.
40 da Lei nº 11.343/2006 em caso de tráfico de drogas cometido nas
dependências ou nas imediações de igreja.
Importante!!!
O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi
contemplado pelo legislador no rol das majorantes previstas no inciso

146

Atualização – Informativos STF e STJ


III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser
utilizado com esse fim tendo em vista que no Direito Penal
incriminador não se admite a analogia in malam partem.
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são
aumentadas de um sexto a dois terços, se: III - a infração tiver sido
cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos
prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes,
de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem
espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de
tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de
unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
STJ. 6ª Turma. HC 528.851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 05/05/2020 (Info 671).

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
• ACIDENTE DE TRABALHO
O art. 21-A da Lei nº 8.213/91 é constitucional Atenção! Concursos
federais.
É constitucional a previsão legal de presunção de vínculo entre a
incapacidade do segurado e suas atividades profissionais quando
constatada pela Previdência Social a presença do nexo técnico
epidemiológico entre o trabalho e o agravo, podendo ser elidida pela
perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social se demonstrada
a inexistência.
STF. Plenário. ADI 3931, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 20/04/2020
(Info 977).

• PREVIDÊNCIA PRIVADA

147

Atualização – Informativos STF e STJ


Na ação na qual se discute a exclusão da CTVA do salário de
contribuição do autor, fato que terá repercussão financeira em sua
aposentadoria, a ação deverá ser apreciada primeiramente na Justiça
do Trabalho para definir se a verba é salarial.
Caso concreto: ação proposta na Justiça do Trabalho em face da CEF
e da FUNCEF na qual o autor pretende a inclusão da verba
denominada CTVA - Complemento Temporário Variável Ajuste de
Mercado na composição de salário de participação, com os devidos
reflexos no cálculo de benefício de complementação de
aposentadoria. Essa demanda cumula pretensões de natureza
distintas, havendo um pedido antecedente de reconhecimento da
natureza salarial da verba CTVA, com a condenação da empregadora
(CEF) em aportar contribuições previdenciárias, e um pedido
consequente de recálculo do valor do benefício de suplementação de
aposentadoria a cargo da entidade de previdência privada (FUNCEF).
Em hipóteses como essa, em se tratando de cumulação de pedidos
envolvendo matérias de diferentes competências, deve a ação
prosseguir primeiramente na Justiça Especializada (Justiça do
Trabalho), para o exame das pretensões derivadas da relação de
trabalho. Em seguida, o autor poderá ajuizar nova ação perante a
Justiça Comum com vistas ao deslinde da controvérsia relativa ao
reajuste do benefício de suplementação de aposentadoria.
Aplica-se, com as adaptações necessárias, o disposto na Súmula
170/STJ: Compete ao juízo onde primeiro for intentada a ação
envolvendo acumulação de pedidos, trabalhista e estatutário, decidi-
la nos limites da sua jurisdição, sem prejuízo de nova causa, com
pedido remanescente, no juízo próprio.
STJ. 2ª Seção. CC 158.327-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 11/03/2020 (Info 667).

• DESAPOSENTAÇÃO
Não há, por ora, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à
‘reaposentação’, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei
nº 8.213/91.
Em 2016, o STF decidiu que não há previsão legal do direito à
“desaposentação”.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Depois da decisão do STF começaram a ser propostas ações alegando
que o Supremo havia decidido apenas sobre a desaposentação, mas
não sobre a reaposentação.
• Desaposentação: o segurado, mesmo depois de se aposentar,
continua trabalhando e pagando contribuições previdenciárias. Depois
de algum tempo nessa situação, ele renuncia à aposentadoria que
recebe e pede para somar o tempo que contribuiu antes e depois da
aposentadoria com o objetivo de requerer uma nova aposentadoria,
desta vez mais vantajosa.
• Reaposentação: o segurado, mesmo depois de se aposentar,
continua trabalhando e pagando contribuições previdenciárias.
Depois de algum tempo nessa situação, ele renuncia à aposentadoria
que recebe e pede para que seja concedida uma nova aposentadoria
utilizando unicamente o tempo de contribuição posterior à primeira
aposentadoria.
Os Ministros entenderam que o STF já rejeitou a hipótese de
reaposentação no primeiro julgamento ocorrido em 2016. No entanto,
para evitar dúvidas, o STF resolveu alterar a tese anterior para deixar
isso mais claro: Tese original: No âmbito do Regime Geral de
Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e
vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do
direito à “desaposentação”, sendo constitucional a regra do art. 18, §
2º, da Lei 8.213/1991. Tese modificada: No âmbito do Regime Geral
de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e
vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do
direito à 'desaposentação' ou à ‘reaposentação’, sendo constitucional
a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991.
Por outro lado, o STF deu parcial provimento aos embargos
declaratórios para:
• dizer que são irrepetíveis os valores alimentares recebidos de boa-
fé por segurados beneficiados com desaposentação ou
reaposentação, até a proclamação do resultado.
• garantir o direito daqueles que usufruem de “desaposentação” ou
de “reaposentação” em decorrência de decisão transitada em julgado,
até a proclamação do resultado do julgamento dos embargos de
declaração (06/02/2020).
STF. Plenário. RE 381367 ED/RS e RE 827833 ED/SC, rel. orig. Min.
Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
6/2/2020 (repercussão geral) (Info 965).

149

Atualização – Informativos STF e STJ


• SALÁRIO DE BENEFÍCIO
Aposentado pode pedir revisão para incluir salários anteriores a 1994
no cálculo do benefício (STJ admite a chamada “revisão da vida toda”
no cálculo da aposentadoria).
Importante!!!
Aplica-se a regra definitiva prevista no art. 29, I e II, da Lei nº
8.213/91, na apuração do salário de benefício, quando mais favorável
do que a regra de transição contida no art. 3º da Lei nº 9.876/99,
aos segurados que ingressaram no Regime Geral da Previdência
Social até o dia anterior à publicação da Lei nº 9.876/99.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.596.203-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 11/12/2019 (recurso repetitivo - Tema 999) (Info
662).
Obs: na prática forense, isso ficou conhecido como “revisão da vida
toda”.

• CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
Incide a contribuição previdenciária patronal sobre os valores pagos
a título de Hora Repouso Alimentação – HRA.
A Hora Repouso Alimentação – HRA é paga como única e direta
retribuição pela hora em que o empregado fica à disposição do
empregador. Ou seja, o trabalhador recebe salário normal pelas oito
horas regulares e HRA pela 9ª (nona) hora, em que ficou à disposição
da empresa.
A HRA possui, assim, nítida natureza remuneratória, submetendo-se
à tributação pela contribuição previdenciária patronal, nos termos dos
arts. 22, I, e 28 da Lei nº 8.212/91.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.117-BA, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 27/11/2019 (Info 671).
Obs: a redação do art. 71, § 4º, da CLT foi alterada pela Lei nº
13.467/2017: “A não concessão ou a concessão parcial do intervalo

150

Atualização – Informativos STF e STJ


intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados
urbanos e rurais, implica o pagamento, de natureza indenizatória,
apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por
cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho”.
Assim, o entendimento acima exposto abrange apenas os
pagamentos e recolhimentos realizados antes da entrada em vigor da
Lei nº 13.467/2017, uma vez que a nova redação do art. 71, § 4º, da
CLT não foi objeto de discussão.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


• COMPETÊNCIA
Compete ao STF julgar ação proposta por Estado contra União
versando sobre imunidade tributária recíproca.
Compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer e julgar
originariamente causas que envolvam a interpretação de normas
relativas à imunidade tributária recíproca, em razão do potencial
abalo ao pacto federativo.
STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em
11/05/2020 (Info 980 – clipping).

• IMPENHORABILIDADE
São inconstitucionais quaisquer medidas de constrição judicial em
desfavor do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades
Descentralizadas de Execução da Educação UDEs, que recaiam sobre
verbas destinadas à educação.
As Unidades Executoras Próprias (UEx), como, por exemplo, Caixas
Escolares, podem receber recursos públicos destinados à educação,
via transferência, para a melhoria da infraestrutura física e
pedagógica, o reforço da autogestão escolar e a elevação dos índices
de desempenho da educação básica, por meio da gestão
descentralizada.
151

Atualização – Informativos STF e STJ


A Justiça do Trabalho, em processos de execução, não pode decretar
medidas de constrição judicial que recaiam sobre essas verbas
recebidas pelas Caixas Escolares destinadas à educação.
Esses valores são impenhoráveis porque estão afetados a finalidades
públicas e à realização das atividades e serviços públicos decorrentes
do exercício obrigatório da função administrativa.
Vale ressaltar, no entanto, que não se aplica o regime de precatório
para as Caixas Escolares ou Unidades Descentralizadas de Educação
(UDEs). Isso porque tais entes possuem natureza jurídica de direito
privado, não integram a Administração Pública e não compõem o
orçamento público.
As Caixas Escolares recebem doações particulares, e assumem outras
obrigações não necessariamente vinculadas com a educação pública.
Em relação a essas obrigações, calcadas em patrimônio decorrente de
doações privadas, não é razoável que devam ser pagas por
precatório.
STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020
(Info 980).
• PRECATÓRIOS
Se um precatório de natureza alimentar é cedido, ele permanece
sendo crédito de natureza alimentar e, portanto, deverá ser pago de
forma preferencial.
A cessão de crédito alimentício não implica a alteração da natureza.
Desse modo, a cessão não altera a natureza do precatório, podendo o
cessionário gozar da preferência de que trata o § 1º do art. 100 da
Constituição Federal, quando a origem do débito assim permitir,
mantida a posição na ordem cronológica originária.
STF. Plenário. RE 631537, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/05/2020
(Repercussão Geral – Tema 361) (Info 980 – clipping).

• COMPETÊNCIA
Justiça comum deve julgar ação de servidor contratado depois da
CF/88, sem concurso público, contra Município, no qual ele cobra
verbas trabalhistas decorrentes desta contratação.
Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor
contratado depois da CF/88, ainda que sem concurso público, pois,

152

Atualização – Informativos STF e STJ


uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a
absorção de pessoal pelo poder público.
Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas
devem ser apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do
Trabalho.
STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa Weber, red.
p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).
• EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
É cabível a oposição de embargos de declaração para que a decisão
embargada se adeque à jurisprudência superveniente.
São cabíveis embargos de declaração, com efeitos infringentes, para
que a decisão embargada seja reajustada de acordo com a
jurisprudência firmada em teses que o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça adotarem.
STF. 1ª Turma. Rcl 15724 AgR-ED/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber,
red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 5/5/2020 (Info
976).

• SUSPEIÇÃO
A falha procedimental consubstanciada na publicação antecipada de
resultado de julgamento que havia sido adiado não gera suspeição do
relator.
A falha procedimental consubstanciada na publicação antecipada de
resultado de julgamento que havia sido adiado não gera suspeição do
relator.
Essa falha não se enquadra em nenhuma das hipóteses taxativas de
suspeição previstas no art. 135 do CPC.
As hipóteses taxativas de cabimento da exceção devem ser
interpretadas de forma restritiva, sob pena de comprometimento da
independência funcional assegurada ao magistrado no desempenho
de suas funções.
STJ. 2ª Seção. AgInt na ExSusp 198-PE, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 17/03/2020 (Info 668).

• AGRAVO DE INSTRUMENTO

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Atualização – Informativos STF e STJ


Não cabe agravo de instrumento contra a decisão que aplica multa
por ato atentatório à dignidade da justiça pelo não comparecimento à
audiência de conciliação.
A decisão que aplica a multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que
deixa de comparecer à audiência de conciliação, sem apresentar
justificativa adequada, não pode ser impugnada por agravo de
instrumento, não se inserindo na hipótese prevista no art. 1.015, II,
do CPC.
Tal decisão poderá, no futuro, ser objeto de recurso de apelação, na
forma do art. 1.009, §1º, do CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.957-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

• EXECUÇÃO
Coexistindo execução fiscal e execução civil, contra o mesmo
devedor, com pluralidade de penhoras recaindo sobre o mesmo bem,
o produto da venda judicial, por força de lei, deve satisfazer o crédito
fiscal em primeiro lugar.
Ainda que perfectibilizada a arrematação do bem objeto de penhora
na execução civil, os valores levantados devem ser restituídos ao
juízo, quando, coexistindo execução fiscal, ausente a prévia intimação
da Fazenda Pública.
Caso concreto: banco ajuizou execução contra devedor e conseguiu a
penhora de um imóvel; algum tempo depois, a União ajuizou
execução fiscal contra esse mesmo devedor e conseguiu a penhora
desse mesmo imóvel; no primeiro processo (o do banco), o juiz
autorizou a alienação judicial do bem (hasta pública); o dinheiro
obtido foi depositado e o juiz, sem ouvir a Fazenda Nacional (União)
autorizou que o banco fizesse o levantamento da quantia; em uma
situação como essa, o banco terá que devolver o dinheiro; isso
porque coexistindo execução fiscal e execução civil, contra o mesmo
devedor, com pluralidade de penhoras recaindo sobre o mesmo bem,
o produto da venda judicial, por força de lei, deve satisfazer o crédito
fiscal em primeiro lugar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.661.481-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 10/03/2020 (Info 667).

• RECURSOS
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Atualização – Informativos STF e STJ


É possível afastar a intempestividade do recurso quando isso
decorreu do fato de o site do Tribunal ter disponibilizado informação
equivocada, que induziu a parte em erro.

Importante!!!
A tempestividade recursal pode ser aferida, excepcionalmente, por
meio de informação constante em andamento processual
disponibilizado no sítio eletrônico, quando informação
equivocadamente disponibilizada pelo Tribunal de origem induz a
parte em erro.
Caso concreto: o TJ/MS negou provimento a uma apelação que havia
sido interposta pela parte; na movimentação processual existente no
site do TJ/MS, constou a informação de que o vencimento do prazo
recursal para a interposição de recurso ao STJ contra o acórdão do TJ
se daria no dia 10/12; assim, no dia 10/12, a parte apresentou
recurso especial contra o acórdão do TJ; ocorre que essa informação
estava errada; o termo final do prazo era dia 09/12;
isso significa que parte interpôs o recurso especial
intempestivamente; vale ressaltar, contudo, que a parte foi induzida
em erro pela informação constante no sítio oficial do TJ; o STJ,
excepcionalmente, considerou tempestivo o recurso.
STJ. Corte Especial. EAREsp 688.615-MS, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 04/03/2020 (Info 666).

• RECURSOS
A tese firmada por ocasião do julgamento do REsp 1.813.684/SP é
restrita ao feriado de segunda-feira de carnaval Atualize o Info 660-
STJ;
A parte, ao apresentar recurso especial ou recurso extraordinário,
tem o ônus de explicar e comprovar que, na instância de origem, era
feriado local ou dia sem expediente forense? SIM. O art. 1.003, § 6º,
do CPC/2015 trouxe expressamente um dispositivo dizendo que a
comprovação do feriado local deverá ser feita, obrigatoriamente, no
ato de interposição do recurso: “O recorrente comprovará a
ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso.”
Assim, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no
ato da interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto
fora do prazo previsto na lei processual civil.
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Atualização – Informativos STF e STJ


Esse entendimento acima explicado está sujeito a alguma modulação
de efeitos? Em regra: não. Depois da entrada em vigor do CPC/2015,
a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no ato da
interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora
do prazo previsto na lei processual civil. Esse entendimento está em
vigor desde o início da vigência do CPC/2015 e não se submete a
modulação de efeitos.
Exceção: no caso do feriado de segunda-feira de carnaval, há uma
modulação dos efeitos. Segunda-feira de carnaval não é um feriado
nacional. No entanto, em diversos Estados, tratase de feriado local.
• Se o recurso especial foi interposto antes de 18/11/2019 (data de
publicação do REsp 1.813.684-SP) e a parte não comprovou que
segunda-feira de carnaval era feriado no Tribunal de origem: é
possível a abertura de vista para que a parte comprove isso mesmo
após a interposição do recurso, sanando o vício.
• Se o recurso especial foi interposto depois de 18/11/2019 (data de
publicação do REsp 1.813.684-SP) e a parte não comprovou que
segunda-feira de carnaval era feriado no Tribunal de origem: não é
possível a abertura de vista para que a parte comprove esse feriado,
ou seja, o vício não pode mais ser sanado.
STJ. Corte Especial. QO no REsp 1813684/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 03/02/2020 (Info 666).

• AGRAVO
“Despacho” que intima o advogado para que o devedor cumpra
obrigação de fazer, sob pena de multa, possui aptidão para gerar
prejuízo à parte e, portanto, pode ser impugnado por meio de
recurso.
Cabe agravo de instrumento contra o pronunciamento judicial que,
na fase de cumprimento de sentença, determinou a intimação do
executado, na pessoa do advogado, para cumprir obrigação de fazer,
sob pena de multa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.800-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 18/02/2020 (Info 666).

• AGRAVO

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Atualização – Informativos STF e STJ


A multa em caso de agravo interno declarado manifestamente
inadmissível ou improcedente em votação unânime é revertida em
prol da parte contrária (art. 1.021, § 4º).
A multa do art. 1.021, § 4º, do CPC/2015 tem como destinatário a
parte contrária e não o Fundo de Aparelhamento do Poder Judiciário.
Art. 1.021 (...) § 4º Quando o agravo interno for declarado
manifestamente inadmissível ou improcedente em votação unânime,
o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante
a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor
atualizado da causa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.734-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 11/02/2020 (Info 666).

• SUSPENSÃO DE SEGURANÇA
Excepcionalmente, cabe recurso especial contra decisões proferidas
no âmbito do pedido de suspensão se estiverem em jogo aspectos
elementares da dignidade da pessoa humana.
Em regra, o STJ afirma que não cabe recurso especial contra
decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão.
O recurso especial se destina a combater argumentos que digam
respeito a exame de legalidade, ao passo que o pedido de suspensão
ostentaria juízo político.
Caso excepcional no qual o STJ admitiu o recurso especial: juiz
concedeu liminar determinando que o Estado de SP fornecesse banho
quente aos presos; Presidente do TJ/SP suspendeu a liminar; contra
esta decisão foi interposto agravo; a Corte Especial do TJ manteve a
suspensão da liminar; o STJ admitiu recurso especial contra esta
decisão tendo em vista que estavam em jogo aspectos elementares
da dignidade da pessoa humana.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 27/04/2017 (Info 666).

• PETIÇÃO INICIAL
Autor propôs ação monitória envolvendo duas notas promissórias;
juiz determina que ele traga aos autos o original de uma dessas
promissórias; ele descumpre; deverá haver o indeferimento parcial
da inicial, prosseguindo o processo quanto a outra promissória.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Descumprida a determinação de emenda a inicial com relação à
apresentação do original de uma das cártulas que embasou a
monitória, não é juridicamente possível se falar em extinção total da
demanda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.301-SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado
em 18/02/2020 (Info 665).

• RECURSOS
A simples referência à existência de feriado local previsto em
Regimento Interno e em Código de Organização Judiciária Estadual
não é suficiente para a comprovação de tempestividade do recurso
especial nos moldes do art. 1.003, §6º, do CPC/2015.
Importante!!!
A parte, ao apresentar recurso especial ou recurso extraordinário,
tem o ônus de explicar e comprovar que, na instância de origem, era
feriado local ou dia sem expediente forense?
SIM. O art. 1.003, § 6º, do CPC/2015 trouxe expressamente um
dispositivo dizendo que a comprovação do feriado local deverá ser
feita, obrigatoriamente, no ato de interposição do recurso: “O
recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de
interposição do recurso.” Assim, a comprovação da ocorrência de
feriado local deve ser feita no ato da interposição do recurso, sendo
intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei
processual civil. Imagine que em um recurso especial interposto, a
parte mencionou que havia um feriado local, mas não juntou
qualquer documento comprovando esse fato.
Ao adotar essa prática, a parte comprovou validamente a existência
do feriado local?
A mera referência (menção) às normas estaduais é suficiente para
comprovar a ocorrência de feriado local?
NÃO. A comprovação da existência de feriado local que dilate o prazo
para interposição de recursos dirigidos ao STJ deverá ser realizada
por meio de documentação idônea, não sendo suficiente a simples
menção ou referência nas razões recursais.
A ocorrência de feriado local, recesso, paralisação ou interrupção do
expediente forense deve ser demonstrada, no ato da interposição do
recurso que pretende seja conhecido por este Tribunal, por
documento oficial ou certidão expedida pelo Tribunal de origem, não
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Atualização – Informativos STF e STJ


bastando a mera menção ao feriado local nas razões recursais,
tampouco a apresentação de documento não dotado de fé pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.763.167-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel.
Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 665).

• AÇÃO RESCISÓRIA
Se o autor da ação rescisória – fundada em violação literal à
disposição de lei – afirma que a sentença rescindenda violou o art. XX
da Lei, o Tribunal não pode julgar a rescisória procedente com base
na violação do art. YY, mesmo que se trate de matéria de ordem
pública.
Importante!!!
Na ação rescisória fundada em literal violação de lei, não cabe o
reexame de toda a decisão rescindenda, para verificar se nela haveria
outras violações à lei não alegadas pelo demandante, mesmo que se
trate de questão de ordem pública.
Quando o autor da rescisória propõe a ação com fundamento na
hipótese de violação literal à disposição de lei - art. 485, V, CPC/1973
(art. 966, V, CPC/2015) – ele tem o ônus de indicar o(s)
dispositivo(s) que foi(foram) violado(s).
O Tribunal que julgará a rescisória só irá examinar se houve violação
aos dispositivos indicados, não podendo reexaminar toda a decisão
rescindenda, para verificar se nela haveria outras violações a literal
disposição de lei não alegadas pelo demandante, nem mesmo ao
argumento de se tratar de matéria da ordem pública.” (YARSHELL,
Flávio. Ação rescisória: juízos rescindente e rescisório. São Paulo:
Malheiros, 2005, p. 151).
Desse modo, na ação rescisória fundada no art. 485, V, CPC/1973
(art. 966, V, CPC/2015), o juízo rescisdente do Tribunal se encontra
vinculado aos dispositivos de lei apontados pelo autor como
literalmente violados, não podendo haver exame de matéria estranha
à apontada na inicial, mesmo que o tema possua a natureza de
questão de ordem pública, sob pena de transformar a ação rescisória
em um recurso, natureza jurídica que ela não possui.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.663.326-RN, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 11/02/2020 (Info 665).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Na execução de sentença que condenou ao pagamento de pensão
mensal, o percentual dos honorários advocatícios deverá incidir
apenas sobre as parcelas vencidas da dívida.
Importante!!!
No cálculo dos honorários advocatícios devidos na fase de
cumprimento de sentença, após escoado o prazo legal para o
pagamento voluntário da obrigação, não devem ser incluídas as
parcelas vincendas da dívida.
Ex: em ação de indenização, a empresa ré foi condenada a pagar 60
prestações mensais de 1 salário mínimo para o autor ofendido;
transitou em julgado e a empresa não pagou nada; iniciou-se o
cumprimento de sentença; a empresa está devendo 1 ano de pensão
mensal (12 prestações); o valor a ser pago irá, portanto, aumentar;
isso porque incidirá 10% de multa e 10% de honorários advocatícios,
nos termos do § 1º do art. 523 do CPC; esses 10% dos honorários
advocatícios incidirão apenas sobre as 12 prestações atualmente em
atraso (parcelas vencidas) ou sobre o total das 60 prestações
(parcelas vencidas e também vincendas)? Apenas sobre as parcelas
vencidas (no caso, 12 prestações).
O § 1º do art. 523 afirma que, se não ocorrer o pagamento
voluntário dentro do prazo de 15 dias, o débito será acrescido em
10% a título de honorários, além da multa de 10%. A expressão
“débito”, para fins de honorários, engloba apenas as parcelas
vencidas da pensão mensal, visto que, em cumprimento de sentença,
o devedor/executado é intimado para quitar os valores exigíveis
naquele momento. Não faz sentido condenar a parte executada ao
pagamento de honorários de sucumbência sobre prestações que
ainda não venceram e, portanto, não são exigíveis.
Não confundir. Cálculo dos honorários advocatícios na ação de
indenização com o objetivo de obter o pagamento de pensão mensal:
• Na fase de conhecimento: o percentual dos honorários advocatícios
deverá incidir todas as parcelas vencidas e mais 12 parcelas
vincendas, ou seja, parcelas vencidas + 1 ano de parcelas vincendas
(art. 85, § 9º, do CPC/2015).
• Na fase de cumprimento de sentença: o percentual dos honorários
advocatícios deverá incidir apenas sobre as parcelas vencidas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.146-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 11/02/2020 (Info 665).
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Atualização – Informativos STF e STJ


• PROCESSO COLETIVO
Em ação civil pública, é possível a substituição da associação autora
por outra associação caso a primeira venha a ser dissolvida.
Importante!!!
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, é
possível sua substituição no polo ativo por outra associação que
possua a mesma finalidade temática. O microssistema de defesa dos
interesses coletivos privilegia o aproveitamento do processo coletivo,
possibilitando a sucessão da parte autora pelo Ministério Público ou
por algum outro colegitimado (ex: associação), mormente em
decorrência da importância dos interesses envolvidos em demandas
coletivas.
STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1.405.697-MG, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 10/09/2019 (Info 665).

• COMPETÊNCIA
Cabe à Justiça Comum (estadual ou federal) julgar ações contra
concurso público realizado por órgãos e entidades da Administração
Pública para contratação de empregados celetistas.
Importante!!!
Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias
relacionadas à fase pré-contratual de seleção e de admissão de
pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração
Pública, direta e indireta, nas hipóteses em que adotado o regime
celetista de contratação de pessoal.
STF. Plenário. RE 960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4
e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

• CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
O requerimento de inclusão do nome do executado em cadastros de
inadimplentes, nos termos do que dispõe o art. 782, § 3º, do
CPC/2015, não depende da comprovação de prévia recusa
administrativa das entidades mantenedoras do respectivo cadastro.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O § 3º do art. 782 do CPC/2015 prevê que o juiz, a requerimento da
parte, pode determinar a inclusão do nome do executado nos
cadastros de inadimplentes (exs: SPC/SERASA).
Embora o magistrado não esteja obrigado a deferir o pedido de
inclusão do nome do executado no cadastro de inadimplentes, visto
que a norma do art. 782, § 3º, do CPC/2015 não trata de uma
imposição legal, mas mera faculdade atribuída ao juiz da causa, não
se revela idôneo condicionar a referida medida à prévia recusa
administrativa das entidades mantenedoras do respectivo cadastro.
Assim, o credor pode requerer essa providência diretamente ao juízo,
não sendo necessário comprovar que este pedido foi feito antes,
extrajudicialmente, para as entidades mantenedoras do cadastro e
que elas recusaram.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.835.778-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 04/02/2020 (Info 664).

• EXECUÇÃO
Tratando-se de condenação ao pagamento de honorários
sucumbenciais, não é possível exigir do cônjuge meeiro, que não
integrou a relação processual da lide originária, a comprovação de
que a dívida executada não foi contraída em benefício do casal ou da
família.
Havendo penhora de bem indivisível (ex: um apartamento), a
meação do cônjuge alheio à execução deve recair sobre o produto da
alienação do bem.
Para impedir que a penhora recaia sobre a sua meação, o cônjuge
meeiro deve comprovar que a dívida executada não foi contraída em
benefício da família. Precedentes.
No entanto, tratando-se de dívida proveniente da condenação ao
pagamento de honorários sucumbenciais em demanda da qual o
cônjuge meeiro não participou, é inegável o direito deste à reserva de
sua meação.
Os honorários advocatícios consagram direito do advogado contra a
parte que deu causa ao processo, não se podendo exigir do cônjuge
meeiro, que não integrou a relação processual da lide originária, a
comprovação de que a dívida executada não foi contraída em
benefício do casal ou da família.
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Atualização – Informativos STF e STJ


Exemplo: João ajuizou ação ordinária contra Pedro, tendo o pedido
sido julgado improcedente. O autor foi condenado a pagar R$ 200 mil
de honorários advocatícios em favor de Pedro. Marcos (advogado de
Pedro) ingressou com execução contra João cobrando os R$ 200 mil.
O juiz determinou a penhora de uma sala comercial que está em
nome de João. Raquel, esposa de João, apresentou embargos de
terceiro contra essa penhora. Sua quota-parte deverá ser preservada,
não sendo necessário que ela comprove que essa dívida contraída foi
exclusiva do marido.
STJ. 3ª Turma.REsp 1.670.338-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

• RECLAMAÇÃO
É inadmissível a reclamação proposta após o trânsito em julgado da
decisão reclamada STF determinou a devolução do recurso
extraordinário para o tribunal de origem a fim de que ficasse
aguardando o julgamento do tema afetado como recurso
extraordinário repetitivo.
Após o julgamento pelo STF, o Presidente do Tribunal de origem
julgou prejudicado o referido recurso extraordinário.
Contra esta decisão do Presidente do Tribunal de origem, a parte
prejudicada interpôs recurso inadequado, que não foi admitido.
Houve trânsito em julgado.
Diante disso, a parte prejudicada ingressou com reclamação
afirmando que a decisão do Presidente do Tribunal de origem
descumpriu a decisão do STF que determinou o retorno dos autos ao
Tribunal para aguardar o julgamento do tema afetado. Deve ser
negado seguimento a esta reclamação.
Isso porque é inadmissível a reclamação proposta após o trânsito em
julgado da decisão reclamada (art. 988, § 5º, I, do CPC/2015).
Súmula 734-STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado
em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do
Supremo Tribunal Federal. Além disso, o ato do STF que determina a
devolução do recurso extraordinário para que aguarde o julgamento
do tema afetado não tem cunho decisório.
STF. 1ª Turma. Rcl 24810 AgR/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
11/2/2020 (Info 966).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Não cabe recurso extraordinário para discutir a possibilidade ou não
de retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito
relativo a diferenças do FUNDEF.
A discussão envolvendo a possibilidade ou não de retenção de
honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças
do FUNDEF possui natureza infraconstitucional, de forma que não
cabe recurso extraordinário para apreciá-la considerando que não há
matéria constitucional a ser analisada.
STF. 1ª Turma. ARE 1066359 AgR/AL, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 26/11/2019 (Info 961).
STF. 1ª Turma. ARE 1107296 AgR/PE, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 11/2/2020 (Info 966).

• SUSTENTAÇÃO ORAL
Se um processo que estava no Plenário virtual é destacado para
julgamento presencial, o julgamento será reiniciado, de forma que
será possível a realização de sustentação oral mesmo que o relator já
tivesse votado no ambiente virtual.
O Min. Alexandre de Moraes era relator de uma ação direta de
inconstitucionalidade. Ele incluiu esse processo para ser julgado pelo
Plenário Virtual.
O relator apresentou seu voto e os Ministros começaram a votar.
Ocorre que o Min. Marco Aurélio formulou pedido de destaque,
requerendo que a referida ADI fosse julgada presencialmente pelo
Plenário físico.
Diante disso, o Min. Alexandre de Moraes retirou o processo da pauta
de julgamentos eletrônicos e o encaminhou ao Plenário físico para
julgamento presencial, tendo havido nova publicação de pauta.
O advogado da parte, quando viu a publicação da pauta, pediu para
fazer sustentação oral no Plenário físico.
O Min. Alexandre de Moraes negou o pedido sob o argumento de que
já havia apresentado seu voto no Plenário Virtual e a sustentação oral
ocorre sempre antes de o relator votar.
Depois que o relator vota, não cabe mais sustentação oral.

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Atualização – Informativos STF e STJ


A maioria dos Ministros, contudo, concordou com o pedido de
sustentação oral da parte.
Quando há o deslocamento do Plenário Virtual para o Plenário físico,
o julgamento se reinicia, havendo, portanto, direito de ser formulado
pedido de sustentação oral. Além disso, os advogados somente têm
acesso ao que foi deliberado na sessão virtual depois de prolatados
todos os votos.
Logo, o advogado da parte não teve acesso ao voto do relator que foi
liberado no Plenário Virtual.
STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 6/2/2020 (Info 965).

• CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
O credor pode optar pela remessa dos autos ao foro de domicílio do
executado, mesmo após o início do cumprimento de sentença.
O inciso II do art. 516 do CPC prevê que o cumprimento da sentença
será feito perante o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de
jurisdição.
O parágrafo único, por sua vez, afirma que o exequente poderá optar
por ingressar com o cumprimento de sentença:
a) no juízo do atual domicílio do executado;
b) no juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução;
c) no juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou
de não fazer. É possível que o exequente faça a opção de que trata o
parágrafo único do art. 516 do CPC/2015 mesmo após já ter sido
iniciado o cumprimento de sentença?
SIM. O credor pode optar pela remessa dos autos ao foro de domicílio
do executado, mesmo após o início do cumprimento de sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.776.382-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 03/12/2019 (Info 663).

• CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Para incidência da multa do art. 523, § 1º, do CPC, é preciso a
efetiva resistência do executado ao cumprimento de sentença João

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Atualização – Informativos STF e STJ


ingressa com pedido de cumprimento de sentença cobrando
determinada quantia de Pedro.
Após ser intimado a pagar, Pedro depositou em juízo o valor da
condenação, mas apresentou petição narrando que aquilo não era
pagamento e sim mera garantia do Juízo para obter o efeito
suspensivo na futura impugnação.
Hipótese 1: Pedro, logo em seguida ao ato acima, apresentou
impugnação ao cumprimento de sentença. A impugnação foi julgada
improcedente. Pedro terá que pagar a multa de 10% do art. 523, §
1º? SIM. Veja: A multa a que se refere o art. 523 do CPC/2015 será
excluída apenas se o executado depositar voluntariamente a quantia
devida em juízo, sem condicionar seu levantamento a qualquer
discussão do débito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1803985/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 12/11/2019.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1435744/SE, Rel. Min. Raul Araújo,
julgado em 28/05/2019.
Hipótese 2: Pedro depositou em juízo o valor da condenação e
apresentou petição narrando que aquilo não era pagamento e sim
garantia do Juízo. Apesar disso, Pedro não apresentou a impugnação.
Transcorrido o prazo, como o devedor não ingressou com a
impugnação, o credor pediu a expedição de guia para levantamento
do valor depositado, o que foi deferido pelo juiz mediante alvará.
Pedro terá que pagar a multa de 10% do art. 523, § 1º?
NÃO. Não haverá a incidência da multa mesmo o devedor tendo
afirmado que não estava pagando. Isso porque para incidir a multa é
necessário que haja a efetiva resistência do devedor por meio da
propositura de impugnação, o que não ocorreu.
Assim, considerando o depósito efetuado e a ausência de resistência
ao cumprimento de sentença, não se justifica a incidência da multa.
Para incidência da multa do art. 523, § 1º, do CPC, é preciso a
efetiva resistência do executado ao cumprimento de sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.834.337-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 03/12/2019 (Info 663).

• EXECUÇÃO

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Atualização – Informativos STF e STJ


Não tendo sido prestada garantia real, é desnecessária a citação em
ação de execução, como litisconsorte passivo necessário, do cônjuge
que apenas autorizou seu consorte a prestar aval.
O cônjuge que apenas autorizou seu consorte a prestar aval, nos
termos do art. 1.647, III, do Código Civil (outorga uxória), não é
avalista.
Dessa forma, não havendo sido prestada garantia real, não é
necessária sua citação como litisconsorte, bastando a mera intimação
do cônjuge que apenas autorizou o aval.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.475.257-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 10/12/2019 (Info 663).

• EXECUÇÃO
Juiz, no despacho inicial da execução, fixou os honorários
advocatícios; esse valor é, em princípio, provisório; ocorre que, no
curso da execução, foi firmado acordo entre as partes, sem nada
dispor sobre honorários; o advogado poderá executar esse valor
fixado no despacho inicial.
Quando houver sentença homologatória de transação firmada entre
as partes e esta não dispor sobre os honorários sucumbenciais, a
decisão inicial que arbitra os honorários advocatícios em execução de
título extrajudicial pode ser considerada título executivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.956-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/12/2019
(Info 663).

• COMPETÊNCIA
Justiça comum deve julgar causa de servidor celetista que passou a
ser regido pelo regime estatutário (pós CF/88).
Compete à Justiça comum processar e julgar causa de servidor
público municipal admitido mediante aprovação em concurso público
sob o regime da CLT e que, posteriormente, passou a ser regido pelo
estatuto dos servidores públicos municipais (estatutário).
Caso concreto: o servidor ingressou no serviço público do Município
em 1997 no cargo de auxiliar de serviços gerais sob o regime
celetista e, em julho de 2010, passou a ser regido pelo regime
estatutário.
167

Atualização – Informativos STF e STJ


Em 2013, ele ajuizou ação na Justiça do Trabalho para pleitear o
recolhimento de parcelas do FGTS no período em que esteve regido
pelas regras da CLT.
Como o vínculo do servidor com a administração pública é atualmente
estatutário, a competência para julgar a causa é da Justiça comum,
ainda que as verbas requeridas sejam de natureza trabalhista e
relativas ao período anterior à alteração do regime de trabalho.
STF. Plenário. CC 8018/PI, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/12/2019 (Info 964).

• REPERCUSSÃO GERAL
O STF reconheceu a repercussão geral na discussão sobre a inclusão
dos expurgos inflacionários na correção monetária dos depósitos
judiciais (Tema 1.016) e determinou a suspensão nacional de todos
os processos que envolvam o tema.
Há repercussão geral da questão constitucional referente à inclusão
dos expurgos inflacionários na correção monetária dos depósitos
judiciais (Tema 1.016).

Reconhecida a repercussão geral, o STF determinou a suspensão


nacional de todos os processos que envolvam discussão sobre
expurgos inflacionários dos planos econômicos nos depósitos
judiciais.
Tal decisão foi proferida com base no art. 1.035, § 5º do CPC/2015.
STF. Plenário. RE 1141156 AgR/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 19/12/2019 (Info 964).

• TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO


Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando o Tribunal, por
maioria, der provimento aos embargos de declaração para reformar a
decisão embargada e, por consequência, reformar a decisão parcial
de mérito prolatada pelo juiz em 1ª instância.
Em se tratando de aclaratórios opostos a acórdão que julga agravo
de instrumento, a aplicação da técnica de julgamento ampliado
somente ocorrerá se os embargos de declaração forem acolhidos para

168

Atualização – Informativos STF e STJ


modificar o julgamento originário do magistrado de primeiro grau que
houver proferido decisão parcial de mérito.
Quando se tratar de embargos de declaração contra acórdão que
decidiu agravo de instrumento, só será caso de ampliação do
colegiado se, ao julgar os embargos declaratórios, o colegiado - por
maioria - deliberar por reformar decisão de mérito (o que significa
dizer que se terá, por deliberação não unânime, atribuído efeitos
infringentes aos embargos de declaração, reformando-se a decisão
embargada e, por conseguinte, reformando a decisão parcial de
mérito prolatada pelo órgão de primeira instância) (CÂMARA,
Alexandre Freitas.
A ampliação do colegiado em julgamentos não unânimes. Revista de
Processo, ano 43, vol. 282, ago/2018, p. 264).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.841.584-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

• IRDR
O procedimento de distinção (distinguishing) previsto no art. 1.037,
§§ 9º a 13, do CPC/2015, aplica-se também ao incidente de
resolução de demandas repetitivas – IRDR.
Importante!!!
O procedimento de alegação de distinção (distinguishing) entre a
questão debatida no processo e a questão submetida ao julgamento
sob o rito dos recursos repetitivos, previsto no art. 1.037, §§9º a 13,
do CPC, aplica-se também ao IRDR.
Exemplo: o TJ/SP está recebendo milhares de apelações discutindo
se os bancos podem ou não cobrar a tarifa bancária “X”. É instaurado
um IRDR no TJ/SP para decidir o tema. O Desembargador Relator
determina a suspensão de todos processos pendentes, individuais ou
coletivos, que tramitam no Estado de São Paulo envolvendo a
cobrança da tarifa bancária “X”.
Antes da instauração do IRDR, Pedro havia ajuizado, na comarca de
Santos (SP), ação contra o Banco Itaú questionando a cobrança da
tarifa “X”.O processo estava tramitando normalmente, mas o Juiz foi
informado de que o TJ/SP determinou o sobrestamento de todos os
processos que tratem sobre o tema.
Diante disso, o magistrado proferiu decisão determinando a
suspensão do processo envolvendo Pedro e o Banco Itaú. Pedro,
169

Atualização – Informativos STF e STJ


contudo, não concorda com essa suspensão. Isso porque a matéria
discutida na ação por ele proposta envolve a constitucionalidade da
tarifa “X” (e não a sua legalidade).
Logo, seria, em seu ponto de vista, um caso diferente daquele que
será julgado pelo TJ/SP no IRDR. Pedro poderá interpor,
imediatamente, um agravo de instrumento contra esta decisão do
Juiz? Não. Antes de interpor o agravo de instrumento, Pedro deverá
adotar o procedimento de distinção previsto no art. 1.037, §§ 9º a
13, do CPC. Mas esse procedimento foi previsto para os recursos
repetitivos.
Mesmo assim, ele se aplica também para o IRDR? Sim. Tanto os
recursos especiais e extraordinários repetitivos como o IRDR
compõem um microssistema de julgamento de questões repetitivas,
devendo o intérprete promover, sempre que possível, a integração
entre os dois mecanismos que pertencem ao mesmo sistema de
formação de precedentes vinculantes.
Não há diferença ontológica nem tampouco justificativa teórica para
um tratamento assimétrico (diferente).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.846.109-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 10/12/2019 (Info 662).

• PENHORA
É ilegal a decisão judicial que determina a penhora de valores de
instituição financeira, no âmbito de processo do qual não era parte,
mas funcionou como auxiliar da justiça.
A instituição financeira que cumpre ordem judicial de
indisponibilização de saldos encontrados em contas bancárias atua
como auxiliar da Justiça.
A atuação dos auxiliares da Justiça é dirigida e orientada pelo Juízo
da causa, a quem subordinam-se e submetem-se, mediante regime
administrativo, e, por isso, os auxiliares não detêm nenhuma
faculdade ou ônus processual, devendo, entretanto, observar os
deveres estabelecidos no art. 77 do CPC/2015 (art. 14 do CPC/1973).
Assim, os auxiliares da Justiça podem ser responsabilizados civil,
administrativa ou penalmente pelos danos que causarem, em razão
de dolo ou culpa.

170

Atualização – Informativos STF e STJ


A responsabilidade civil dos auxiliares da Justiça deve ser apurada
mediante observância dos princípios do contraditório e ampla defesa,
em via processual adequada para sua inclusão como parte.
Exemplo: o Juiz da 3ª Vara Cível determinou ao Banco Itaú que
efetuasse o bloqueio dos valores existentes na conta bancária da
empresa Fênix S/A. A instituição financeira cumpriu a ordem e foi
bloqueado R$ 1 milhão. Passados alguns meses, o Juiz da 3ª Vara
Cível determinou a transferência do valor bloqueado.
O banco respondeu que o dinheiro não existia mais, uma vez que foi
retirado por determinação do Juiz da 5ª Vara Cível, onde tramitava
outra execução proposta contra a Fênix S/A.
O Juiz da 3ª Vara Cível entendeu que houve descumprimento de
ordem judicial e, em razão disso, determinou a penhora do mesmo
valor (R$ 1 milhão, com as atualizações) nas contas do Banco Itaú. O
STJ considerou que essa determinação foi ilegal.
STJ. 3ª Turma. RMS 49.265-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 10/12/2019 (Info 662).

• IMPENHORABILIDADE
Os bens da Fundação Habitacional do Exército - FHE são
impenhoráveis A Fundação Habitacional do Exército (FHE) é uma
entidade vinculada ao Exército Brasileiro, criada pela Lei nº 6.855/80.
A FHE tem por objetivo facilitar a aquisição da “casa própria” para os
militares e demais associados, além de prestar outras formas de
“apoio social” aos militares (exs: consórcios, seguros, planos
odontológicos etc.).
Os bens da FHE são considerados impenhoráveis em razão de dois
motivos:
1) a FHE possui características de autarquia federal (e os bens das
autarquias são impenhoráveis);
2) o art. 31 da Lei nº 6.855/80 prevê que o patrimônio da FHE goza
dos privilégios próprios da Fazenda Pública, inclusive quanto à
impenhorabilidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.802.320-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 12/11/2019 (Info 662).

171

Atualização – Informativos STF e STJ


• EXECUÇÃO FISCAL
Termo inicial da prescrição para redirecionamento em caso de
dissolução irregular da empresa.
Importante!!!
1) o prazo de redirecionamento da Execução Fiscal, fixado em cinco
anos, contado da diligência de citação da pessoa jurídica, é aplicável
quando o referido ato ilícito, previsto no art. 135, III, do CTN, for
precedente a esse ato processual;
2) a citação positiva do sujeito passivo devedor original da obrigação
tributária, por si só, não provoca o início do prazo prescricional
quando o ato de dissolução irregular for a ela subsequente, uma vez
que, em tal circunstância, inexistirá, na aludida data (da citação),
pretensão contra os sócios-gerentes (conforme decidido no REsp
1.101.728/SP, no rito do art. 543-C do CPC/1973, o mero
inadimplemento da exação não configura ilícito atribuível aos sujeitos
de direito descritos no art. 135 do CTN). O termo inicial do prazo
prescricional para a cobrança do crédito dos sócios-gerentes
infratores, nesse contexto, é a data da prática de ato inequívoco
indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já
em curso de cobrança executiva promovida contra a empresa
contribuinte, a ser demonstrado pelo Fisco, nos termos do art. 593 do
CPC/1973 (art. 792 do novo CPC - fraude à execução), combinado
com o art. 185 do CTN (presunção de fraude contra a Fazenda
Pública); e,
3) em qualquer hipótese, a decretação da prescrição para o
redirecionamento impõe seja demonstrada a inércia da Fazenda
Pública, no lustro que se seguiu à citação da empresa originalmente
devedora (REsp 1.222.444/RS) ou ao ato inequívoco mencionado no
item anterior (respectivamente, nos casos de dissolução irregular
precedente ou superveniente à citação da empresa), cabendo às
instâncias ordinárias o exame dos fatos e provas atinentes à
demonstração da prática de atos concretos na direção da cobrança do
crédito tributário no decurso do prazo prescricional.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.201.993-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 08/05/2019 (recurso repetitivo - Tema 444) (Info 662).

• PROCESSO COLETIVO

172

Atualização – Informativos STF e STJ


O MPF possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de
debater a cobrança de encargos bancários supostamente abusivos
praticados por instituições financeiras privadas.
Importante!!!
O Ministério Público Federal possui legitimidade para propor ação
civil pública a fim de debater a cobrança de encargos bancários
supostamente abusivos praticados por instituições financeiras
privadas.
Ex: ação civil pública ajuizada pelo MPF contra diversos bancos
privados pedindo para que seja declarada abusiva a cobrança da
tarifa bancária pela emissão de cheque de baixo valor.
As atividades desenvolvidas pelas instituições financeiras, sejam elas
públicas ou privadas, estão subordinadas ao conteúdo de normas
regulamentares editadas por órgãos federais e de abrangência
nacional.
Logo, o cumprimento dessas normas por parte dos bancos é um
tema de interesse nitidamente federal, suficiente para conferir
legitimidade ao Ministério Público Federal para o ajuizamento da ação
civil pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.723-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

• AÇÃO POPULAR
Em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu
domicílio, mesmo que o dano tenha ocorrido em outro local; contudo,
diante das peculiaridades, as ações envolvendo o rompimento da
barragem de Brumadinho devem ser julgadas pelo juízo do local do
fato.
Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de
minério, localizada em Brumadinho (MG).
O rompimento resultou em um terrível desastre ambiental e
humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou ação popular
contra a União, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., pedindo para
que os réus fossem condenados a recuperar o meio ambiente
degradado, pagar indenização pelos danos causados e pagar multa
por dano ambiental. Como Felipe mora em Campinas (SP), ele
ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a demanda foi distribuída
para a 2ª Vara Federal de Campinas (SP).
173

Atualização – Informativos STF e STJ


Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas Gerais existem ações
individuais, ações populares e ações civis públicas tramitando contra
os mesmos réus e envolvendo pedidos semelhantes a essa ação
popular ajuizada em Campinas.
Quem é competente para julgar esta ação popular: o juízo do
domicílio do autor ou o juízo do local em que se consumou o ato
danoso?
O juízo do local onde se consumou o dano (17ª Vara Federal de Minas
Gerais). Regra geral: em regra, o autor pode ajuizar a ação popular
no foro de seu domicílio, mesmo que o dano tenha ocorrido em outro
local.
Isso porque como a ação popular representa um direito político
fundamental, deve-se facilitar o seu exercício.
Exceção: o STJ entendeu que o caso concreto envolvendo
Brumadinho era excepcional com inegáveis peculiaridades que
impõem a adoção de uma solução diferente para evitar tumulto
processual em uma situação de enorme magnitude social, econômica
e ambiental.
Assim, para o STJ é necessário superar, excepcionalmente, a regra
geral. Entendeu-se que seria necessário adotar uma saída pragmática
para permitir uma resposta do Poder Judiciário aos que sofrem os
efeitos desta grande tragédia. A regra geral do STJ deve ser usada
quando a ação popular for isolada.
Contudo, no caso de Brumadinho havia uma ação popular em
Campinas (SP) competindo e concorrendo com várias outras ações
populares e ações civis públicas, bem como com centenas, talvez
milhares, de ações individuais tramitando em MG, razão pela qual,
em se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do
local do fato.
Em face da magnitude econômica, social e ambiental do caso
concreto, é possível a fixação do juízo do local do fato para o
julgamento de ação popular que concorre com diversas outras ações
individuais, populares e civis públicas decorrentes do mesmo dano
ambiental.
STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 12/06/2019 (Info 662).

• IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

174

Atualização – Informativos STF e STJ


O acolhimento da impugnação do valor da causa em momento
posterior à decisão que julgou o mérito da causa principal não gera
nulidade do processo.
A prolação da decisão de acolhimento da impugnação do valor da
causa em momento posterior à decisão que julgara o mérito da causa
principal constitui mera irregularidade, não gerando prejuízo
suficiente para decretação da nulidade do processo.
Considerando o princípio da instrumentalidade, o recolhimento
posterior das custas atinge seu objetivo, sem que para tanto seja
necessária a decretação da nulidade do ato. Não se vislumbra
prejuízo suficiente para a parte atingida pela irregularidade, pois o
recolhimento das custas pode se dar de forma posterior, tendo por
norte o fato de que o princípio da instrumentalidade das formas anda
sempre de mãos dadas com o princípio da primazia da resolução de
mérito.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.667.308-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 30/03/2020 (Info 669).
• RECURSOS (TEMPESTIVIDADE)
A alegação da ocorrência de ponto facultativo embasada em ato do
Poder Executivo Estadual não é capaz, por si só, de comprovar a
inexistência de expediente forense para aferição da tempestividade
recursal.
A existência de feriado, de recesso forense ou ponto facultativo local
que ocasione a suspensão do prazo processual necessita de
comprovação por documento idôneo, ou seja, cópia da lei, ato
normativo ou certidão exarada por servidor habilitado.
A simples juntada de ato emanado pelo Poder Executivo Estadual, lei
e decreto estaduais, determinando ponto facultativo nas repartições
públicas estaduais, por si só, não comprova a inexistência de
expediente forense para aferição da tempestividade do recurso, em
razão da desvinculação administrativa e da separação entre os
Poderes. Desse modo, caberia à recorrente, no momento da
interposição recursal, fazer a juntada de documento idôneo, o qual,
no caso, consistia no inteiro teor do Aviso do tribunal estadual, a fim
de vincular a decretação do feriado nas repartições públicas estaduais
com a suspensão dos prazos pela Corte de Justiça.
STJ. 3ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.510.568-RJ, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/03/2020 (Info 669).
• JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DO RESP E RE
175

Atualização – Informativos STF e STJ


Não cabe reclamação para o controle da aplicação de entendimento
firmado pelo STJ em recurso especial repetitivo.
Importante!!!
A reclamação constitucional não trata de instrumento adequado para
o controle da aplicação dos entendimentos firmados pelo STJ em
recursos especiais repetitivos. As hipóteses de cabimento da
reclamação foram elencadas nos incisos do caput do art. 988. O § 5º
do art. 988 trata sobre situações nas quais não se admite
reclamação.
O § 5º do art. 988 foi introduzido no CPC pela Lei nº 13.256/2016
com o objetivo justamente de proibir reclamações dirigidas ao STJ e
STF para o controle da aplicação dos acórdãos sobre questões
repetitivas. Essa parte final do § 5º é fruto de má técnica legislativa.
Se for admitida reclamação nessa hipótese isso irá em sentido
contrário à finalidade do regime dos recursos especiais repetitivos,
que surgiu como mecanismo de racionalização da prestação
jurisdicional do STJ, diante dos litígios de massa.
O meio adequado e eficaz para forçar a observância da norma jurídica
oriunda de um precedente, ou para corrigir a sua aplicação concreta,
é o recurso, instrumento que, por excelência, destina-se ao controle e
revisão das decisões judiciais.
STJ. Corte Especial. Rcl 36.476-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 05/02/2020 (Info 669).
• EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA (PRECATÓRIOS)
A preferência prevista no § 2º do art. 100 da Constituição Federal
não pode ser reconhecida mais de uma vez em um mesmo
precatório.
O § 2º do art. 100 da CF/88 prevê preferência no pagamento do
precatório para o titular que se enquadre em uma das situações ali
previstas:
Art. 100 (...) § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares,
originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos
de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com
deficiência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com
preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao
triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo,
admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante
será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.

176

Atualização – Informativos STF e STJ


A preferência autorizada pela Constituição não pode ser reconhecida
duas vezes em um mesmo precatório porque isso implicaria, por via
oblíqua, a extrapolação do limite previsto na norma constitucional.
Aliás, o próprio § 2º do art. 100 da CF/88 revela que, após o
fracionamento para preferência, eventual saldo remanescente deverá
ser pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.
Portanto, as hipóteses autorizadoras da preferência (idade, doença
grave ou deficiência) devem ser consideradas, isoladamente, em cada
precatório, ainda que tenha como destinatário um mesmo credor.
STJ. 1ª Turma. AgInt no RMS 61.014-RO, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 20/04/2020 (Info 670).
• PROCESSO COLETIVO
A decisão em mandado de segurança coletivo impetrado por
associação beneficia todos os associados, sendo irrelevante a filiação
ter ocorrido após a sua impetração
Importante!!!
Ao julgar o Tema 499, o STF fixou a seguinte tese: A eficácia
subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito
ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos
associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da
jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior ou
até a data da propositura da demanda, constantes da relação jurídica
juntada à inicial do processo de conhecimento.
(STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/5/2017).
Essa tese do STF se aplica exclusivamente para ações coletivas
ajuizadas sob o rito ordinário por associação quando atua como
representante processual dos associados. Isso significa que tal
entendimento não se aplica para mandado de segurança coletivo
impetrado por associação.
O mandado de segurança coletivo configura hipótese de substituição
processual, por meio da qual o impetrante, no caso a associação,
atua em nome próprio defendendo direito alheio, pertencente aos
associados ou parte deles, sendo desnecessária, para a impetração
do mandamus, apresentação de autorização dos substituídos ou
mesmo lista nominal.
Por tal razão, os efeitos da decisão proferida em mandado de
segurança coletivo beneficiam todos os associados, ou parte deles

177

Atualização – Informativos STF e STJ


cuja situação jurídica seja idêntica àquela tratada no decisum, sendo
irrelevante se a filiação ocorreu após a impetração do writ.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.841.604-RJ, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 22/04/2020 (Info 670).

• AÇÃO RESCISÓRIA
Inexistindo homologação judicial do pedido de renúncia, não se pode
permitir a abertura do prazo decadencial de dois anos para propor
ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação da parte
interessada.
Em regra, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal
constituem ato unilateral de vontade do recorrente que independe da
aquiescência da parte contrária e produz efeitos imediatos, ensejando
o trânsito em julgado.
Desse modo, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo
recursal determinam, em regra, o trânsito em julgado da decisão
impugnada, se não houver recurso pendente de julgamento da outra
parte.
Contudo, se ainda não houve homologação judicial, o princípio do
contraditório impede que o trânsito em julgado seja reconhecido
antes da ciência da parte contrária. Não se pode permitir a abertura
do prazo decadencial de 2 anos da ação rescisória antes que ocorra a
indispensável intimação da parte interessada no fato processual que
lhe dá origem. Nesse contexto, deve ser contado o prazo decadencial
da data da intimação da parte contrária, após o pedido de renúncia.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.344.716-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 05/05/2020 (Info 671).
• IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve intimar o
executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença,
caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da
obrigação na vigência do CPC/1973.
O art. 475-J do CPC/1973 previa que o prazo para impugnação ao
cumprimento de sentença somente era contado a partir da intimação
do auto de penhora e avaliação. O art. 525 do CPC/2015, por sua
vez, afirma que, transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o
pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 dias para que o

178

Atualização – Informativos STF e STJ


executado, independentemente de penhora ou nova intimação,
apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve intimar o
executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença,
caso tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da
obrigação na vigência do CPC/1973.
Ex: a parte foi intimada, em 02/03/2016 (ainda na vigência do
CPC/1973) para pagar uma condenação judicial no prazo de 15 dias,
nos termos do art. 475-J do CPC/1973; o prazo de 15 dias começou a
ser computado no dia seguinte (03/03/2016), terminando em
17/03/2016, sem que tenha havido pagamento; no dia 18/03/2016,
entrou em vigor o CPC/2015; nesse exemplo, deve o juiz intimar o
executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença
no prazo de 15 dias.
Enunciado 530/FPPC: Após a entrada em vigor do CPC-2015, o juiz
deve intimar o executado para apresentar impugnação ao
cumprimento de sentença, em quinze dias, ainda que sem depósito,
penhora ou caução, caso tenha transcorrido o prazo para
cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC-1973 e
não tenha àquele tempo garantido o juízo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.935-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 05/05/2020 (Info 671).
• PRECATÓRIOS
Durante o período previsto no § 5º do art. 100 da Constituição, não
incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.
Durante o período previsto no § 5º do art. 100 da Constituição, não
incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.
Não incidem juros de mora no período compreendido entre a data da
expedição do precatório e seu efetivo pagamento, desde que
realizado no prazo estipulado constitucionalmente.
Trata-se de entendimento sumulado do STF: SV 17-STF: Durante o
período previsto no parágrafo 1º (obs: atual § 5º) do artigo 100 da
Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que
nele sejam pagos.
STF. Plenário. RE 594892 AgR-ED-EDv/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 1/7/2020 (Info 984).
Em 10/11/2009, o STF editou a SV 17 afirmando que “durante o
período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não

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Atualização – Informativos STF e STJ


incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos”.
Pouco tempo depois, em 09/12/2009, foi promulgada a Emenda
Constitucional 62, que promoveu ampla reformulação no art. 100 da
Constituição. Não obstante a norma à qual se refere a SV 17 tenha
sido deslocada do § 1º para o § 5º do art. 100, tal modificação não
altera o sentido do enunciado sumular - que, aliás, não foi afetado
por qualquer disposição da Emenda 62.
O período previsto no art. 100, § 5º, da Constituição (precatórios
apresentados até 1º de julho, devendo ser pagos até o final do
exercício seguinte) costuma ser chamado de “período de graça
constitucional”.
Nesse interregno, não cabe a imposição de juros de mora, pois o ente
público não está inadimplente. Caso não haja o pagamento integral
dentro deste prazo, os juros de mora passam a correr apenas a partir
do término do “período de graça”. Tese fixada para fins de
repercussão geral: “O enunciado da Súmula Vinculante 17 não foi
afetado pela superveniência da Emenda Constitucional 62/2009, de
modo que não incidem juros de mora no período de que trata o § 5º
do art. 100 da Constituição. Havendo o inadimplemento pelo ente
público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o ‘período de
graça’”.
STF. Plenário. RE 1169289, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão
Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Repercussão Geral –
Tema 1037) (Info 984 – clipping).
• PRECATÓRIOS
É cabível a expedição de precatório referente a parcela incontroversa,
em sede de execução ajuizada em face da Fazenda Pública.
Importante!!!
Surge constitucional expedição de precatório ou requisição de
pequeno valor para pagamento da parte incontroversa e autônoma
do pronunciamento judicial transitada em julgado observada a
importância total executada para efeitos de dimensionamento como
obrigação de pequeno valor.
STF. Plenário. RE 1205530, Rel. Marco Aurélio, julgado em
08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 28) (Info 984).

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Atualização – Informativos STF e STJ


DIREITO PROCESSUAL PENAL

• INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
É constitucional o Inquérito instaurado para investigar “fake news” e
ameaças contra o STF.
Importante!!!
É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o
Presidente do STF determinou a instauração do Inquérito 4781, com
o intuito de apurar a existência de notícias fraudulentas (fake news),
denunciações caluniosas, ameaças e atos que podem configurar
crimes contra a honra e atingir a honorabilidade e a segurança do
STF, de seus membros e familiares.
Também é constitucional o art. 43 do Regimento Interno do STF, que
foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária.
O STF, contudo, afirmou que o referido inquérito, para ser
constitucional, deve cumprir as seguintes condicionantes:
a) o procedimento deve ser acompanhado pelo Ministério Público;
b) deve ser integralmente observado o Enunciado 14 da Súmula
Vinculante.
c) o objeto do inquérito deve se limitar a investigar manifestações
que acarretem risco efetivo à independência do Poder Judiciário (art.
2º da CF/88). Isso pode ocorrer por meio de ameaças aos membros
do STF e a seus familiares ou por atos que atentem contra os Poderes
instituídos, contra o Estado de Direito e contra a democracia; e, por
fim,
d) a investigação deve respeitar a proteção da liberdade de expressão
e de imprensa, excluindo do escopo do inquérito matérias
jornalísticas e postagens, compartilhamentos ou outras
manifestações (inclusive pessoais) na internet, feitas anonimamente
181

Atualização – Informativos STF e STJ


ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento e
divulgação em massa nas redes sociais.
O art. 43 do RISTF prevê o seguinte: “Art. 43. Ocorrendo infração à
lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará
inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição,
ou delegará esta atribuição a outro Ministro.” Muito embora o
dispositivo exija que os fatos apurados ocorram na “sede ou
dependência” do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos
por meio da internet permite estender (ampliar) o conceito de “sede”,
uma vez que o STF exerce jurisdição em todo o território nacional.
Logo, os crimes objeto do inquérito, contra a honra e, portanto,
formais, cometidos em ambiente virtual, podem ser considerados
como cometidos na sede ou dependência do STF.
STF. Plenário. ADPF 572 MC/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
17 e 18/6/2020 (Info 982).
• FIXAÇÃO DE VALOR MÍNIMO
A sentença ou acórdão penal condenatório, ao fixar o valor mínimo
para reparação dos danos causados pela infração (art. 387, IV, do
CPP) poderá condenar o réu ao pagamento de danos morais
coletivos.
Importante!!!
O réu que praticou corrupção passiva pode ser condenado, no
âmbito do próprio processo penal, a pagar danos morais coletivos.
O ordenamento jurídico tutela, no âmbito da responsabilidade, o dano
moral não apenas na esfera individual como também na coletiva,
conforme previsto no inciso X do art. 5º da Constituição Federal e no
art. 186 do Código Civil. Destaque-se ainda a previsão do inciso VIII
do art. 1º da Lei nº 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública).
STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
9/6/2020 (Info 981).

• COMPETÊNCIA
Justiça do Trabalho não tem competência penal.
A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar
ações penais.
STF. Plenário. ADI 3684, Rel. Gilmar Mendes, julgado em
11/05/2020 (Info 980).
182

Atualização – Informativos STF e STJ


• PROCEDIMENTOS
Momento do interrogatório nas ações penais regidas pela Lei nº
8.038/90
Promotor de Justiça condenado criminalmente pelo Tribunal de
Justiça impetrou habeas corpus alegando que o julgamento seria nulo
por não ter observado o art. 400 do CPP, já que o interrogatório do
acusado não foi o último ato da instrução.
O Min. Relator Marco Aurélio indeferiu a ordem manifestando sua
posição no sentido de que não se deve aplicar a regra geral do art.
400 do CPP (interrogatório como último ato) considerando que, por
se tratar de Promotor de Justiça, julgado perante o Tribunal de
Justiça, a norma aplicável seria a do art. 7º da Lei nº 8.038/90,
segundo a qual a audição do acusado é o primeiro ato do
procedimento.
O Min. Alexandre de Moraes votou por indeferir a ordem com base
em outro fundamento, alegando que a defesa não demonstrou
prejuízo, afirmando, portanto, que não haverá declaração de nulidade
quando não demonstrado o efetivo prejuízo causado à parte (pas de
nullité sans grief).
Obs: penso que o STF continue com o entendimento de que o
interrogatório deve ser o último ato da instrução, mesmo nos
processos regidos pela Lei nº 8.038/90.
STF. 1ª Turma. HC 178252/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
2/6/2020 (Info 980).

• PROVAS
Descumprimento do art. 212 do CPP e eventual nulidade processual.
A defesa alegou nulidade processual por desrespeito ao art. 212 do
CPP, por ter o juízo inquerido diretamente as testemunhas. A
magistrada que presidia a audiência reputou observados o
contraditório e a ampla defesa, porque depois de perguntar, ela
permitiu que os defensores e o MP fizessem questionamentos.
A 1ª Turma do STF discutiu se houve nulidade.
Dois Ministros (Marco Aurélio e Rosa Weber) consideraram que não
foi respeitada a aludida norma processual. Assim, votaram por
conceder a ordem de habeas corpus para declarar a nulidade
processual a partir da audiência de instrução e julgamento.

183

Atualização – Informativos STF e STJ


Os outros dois Ministros (Alexandre de Moraes e Luiz Fux)
entenderam que não deveria ser declarada a nulidade do processo
porque a alteração efetuada no art. 212 do CPP, ao permitir que as
partes façam diretamente perguntas às testemunhas, não retirou do
juiz, como instrutor do processo, a possibilidade de inquiri-las
diretamente. Diante do empate na votação, prevaleceu a decisão
mais favorável ao paciente.
STF. 1ª Turma. HC 161658/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
2/6/2020 (Info 980).
Obs: prevalece no STF e no STJ que a inobservância do
procedimento previsto no art. 212 do CPP pode gerar, quando muito,
nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da demonstração do
prejuízo para a parte que a suscita (STF. 1ª Turma. HC 177530 AgR,
Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/12/2019).

• NULIDADES
A nulidade processual pela não abertura da fase de diligências
configura nulidade relativa, devendo ser arguida no momento
oportuno e com a demonstração de efetivo prejuízo.
A falta de abertura de prazo, após o encerramento da instrução, para
manifestação das partes acerca do interesse na feitura de diligências
complementares constitui nulidade relativa, cujo reconhecimento
pressupõe que o inconformismo seja veiculado em momento
oportuno, ou seja, quando da apresentação de alegações finais.
STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
2/6/2020 (Info 980).

• COLABORAÇÃO PREMIADA
Terceiros que tenham sido mencionados pelos colaboradores podem
obter acesso integral aos termos dos colaboradores desde que
estejam presentes os requisitos positivo e negativo.
A SV 14 prevê: É direito do defensor, no interesse do representado,
ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
Terceiros que tenham sido mencionados pelos colaboradores podem
obter acesso integral aos termos dos colaboradores para viabilizar, de
forma plena e adequada, sua defesa, invocando a SV 14?
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Atualização – Informativos STF e STJ


SIM, desde que estejam presentes os requisitos positivo e negativo.
a) Requisito positivo: o acesso deve abranger somente documentos
em que o requerente é de fato mencionado como tendo praticado
crime (o ato de colaboração deve apontar a responsabilidade criminal
do requerente); e
b) Requisito negativo: o ato de colaboração não se deve referir a
diligência em andamento (devem ser excluídos os atos investigativos
e diligências que ainda se encontram em andamento e não foram
consubstanciados e relatados no inquérito ou na ação penal em
tramitação).
STF. 2ª Turma. Pet 7494 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/
o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/5/2020 (Info 978).

• DENÚNCIA ANÔNIMA
Para ser decretada a medida de busca e apreensão, é necessário que
haja indícios mais robustos que uma simples notícia anônima.
Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas
invasivas como interceptações telefônicas, buscas e apreensões, e
devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores.
Se há notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa
determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela
expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências
veladas no intuito de reunir e documentar outras evidências que
confirmem, indiciariamente, a notícia.
Se confirmadas, com base nesses novos elementos de informação o
juiz deferirá o pedido.
Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a
expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa.
O mandado de busca e apreensão expedido exclusivamente com
apoio em denúncia anônima é abusivo.
STF. 2ª Turma. HC 180709/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
5/5/2020 (Info 976).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• TRIBUNAL DO JÚRI
A mera presunção de parcialidade dos jurados do Tribunal do Júri em
razão da divulgação dos fatos e da opinião da mídia é insuficiente
para o desaforamento do julgamento para outra comarca.
O desaforamento é medida excepcional, cabível apenas quando
comprovada por fatos objetivos e concretos a parcialidade do
Conselho de Sentença.
A simples presunção de que os jurados poderiam ter sido
influenciados por ampla divulgação do caso pela mídia e a mera
suspeita acerca da parcialidade dos jurados não justificam a adoção
dessa medida excepcional.
STJ. 5ª Turma. HC 492.964-MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
03/03/2020 (Info 668).

• SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO


O cometimento do crime do art. 28 da Lei de Drogas deve receber o
mesmo tratamento que a contravenção penal, para fins de revogação
facultativa da suspensão condicional do processo.
A suspensão será obrigatoriamente revogada se, no curso do prazo o
beneficiário vier a ser processado por outro crime (art. 89, § 3º da
Lei nº 9.099/95).Trata-se de causa de revogação obrigatória.
Por outro lado, a suspensão poderá ser revogada pelo juiz se o
acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção
(art. 89, § 4º). Trata-se de causa de revogação facultativa.
O processamento do réu pela prática da conduta descrita no art. 28
da Lei de Drogas no curso do período de prova deve ser considerado
como causa de revogação FACULTATIVA da suspensão condicional do
processo.
A contravenção penal tem efeitos primários mais deletérios que o
crime do art. 28 da Lei de Drogas. Assim, mostra-se desproporcional
que o mero processamento do réu pela prática do crime previsto no
art. 28 da Lei nº 11.343/2006 torne obrigatória a revogação da
suspensão condicional do processo, enquanto o processamento por
contravenção penal ocasione a revogação facultativa.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.795.962-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado
em 10/03/2020 (Info 668).
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Atualização – Informativos STF e STJ


• COMPETÊNCIA
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de
homicídio praticado por militar contra outro quando ambos estejam
fora do serviço ou da função no momento do crime.
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de
homicídio praticado por militar contra outro quando ambos estejam
fora do serviço ou da função no momento do crime. Caso concreto:
Francisco era soldado da Polícia Militar do Estado do Maranhão.
Samuel era cabo da Polícia Militar do Estado do Piauí.
Determinado dia, Francisco, que se encontrava de férias, passeava
em Teresina (PI). Samuel percebeu que Francisco estava armado e,
mesmo estando de folga, abordou o soldado indagando sobre a arma.
Iniciou-se uma discussão e Francisco atirou três vezes contra Samuel,
que faleceu em razão dos disparos.
A vítima e o réu - ambos policiais militares à época dos fatos -
estavam fora de serviço quando iniciaram a discussão. Logo, não se
pode falar que houve crime militar, devendo, portanto, o réu ser
julgado pela Justiça Comum estadual (Tribunal do Júri).
STJ. 3ª Seção. CC 170.201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 11/03/2020 (Info 667).
• RECURSOS
Não cabe mandado de segurança contra decisão do juiz de 1ª
instância que defere ou indefere o desbloqueio de bens e valores;
cabe apelação.
Não é admissível a impetração de mandado de segurança contra ato
jurisdicional que defere o desbloqueio de bens e valores. Isso porque
se trata de decisão definitiva que, apesar de não julgar o mérito da
ação, coloca fim ao procedimento incidente.
O procedimento adequado para a restituição de bens é o incidente
legalmente previsto para este fim.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O instrumento processual para impugnar a decisão que resolve esse
incidente é a apelação, sendo incabível a utilização de mandado de
segurança como sucedâneo do recurso legalmente previsto.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.787.449-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado
em 10/03/2020 (Info 667).

• INGRESSO EM DOMICÍLIO SEM AUTORIZAÇÃO


Não é permitido o ingresso na residência do indivíduo pelo simples
fato de haver denúncias anônimas e ele ter fugido da polícia.
Importante!!!
A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas
somada à fuga do acusado ao avistar a polícia, por si sós, não
configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no
domicílio do acusado sem o seu consentimento ou sem determinação
judicial.
STJ. 5ª Turma. RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
18/02/2020 (Info 666).
STJ. 6ª Turma. RHC 83.501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
06/03/2018 (Info 623).

• TRIBUNAL DO JÚRI
Não se deve anular a condenação do réu no júri por ausência de
defesa no caso em que o advogado fez sustentação oral por apenas 3
minutos, sendo que, antes disso, o Ministério Público já havia pedido
a absolvição.
Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações
orais, o Ministério Público falou durante 1h e 30min e, ao final de sua
exposição, pediu a absolvição do réu. Em seguida, o advogado
constituído fez sustentação oral apenas concordando com o Ministério
Público e pedindo igualmente a absolvição. A manifestação da defesa
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Atualização – Informativos STF e STJ


durou apenas 3 minutos. Mesmo com a manifestação do MP pedindo
a absolvição, os jurados decidiram condenar o réu.
O STJ e o STF afirmaram que não houve nulidade por ausência de
defesa e mantiveram a condenação.
O réu foi acompanhado pela sua defesa na sessão de julgamento
pelo Tribunal do Júri, tendo reiterado o mandato conferido ao seu
advogado na interposição da apelação. Assim, o próprio paciente não
se insurgiu contra a atuação de seu advogado, tanto assim que com
ele permaneceu, inclusive para fins de apelação criminal.
Além disso, no caso, não houve ausência de defesa, de modo que não
se pode falar em nulidade absoluta. Se houve nulidade, esta teria
sido apenas relativa, a qual depende da demonstração de efetivo
prejuízo, o que não ocorreu. Consolidou-se no âmbito dos Tribunais
Superiores o entendimento de que apenas a absoluta falta de defesa
constitui nulidade absoluta da ação penal. Se a alegação é a de que a
defesa foi insuficiente, o julgamento só deverá ser anulado e ficar
demonstrado o efetivo prejuízo. Isso porque a defesa insuficiente é
hipótese de nulidade relativa. Nesse sentido é a Súmula 523 do STF.
Não se pode classificar como insatisfatória a atuação do advogado,
que exerceu a defesa de acordo com a estratégia que considerou
melhor no caso.
STF. 2ª Turma. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
em 17/3/2020 (Info 970).

• TRIBUNAL DO JÚRI
A determinação de realização de novo julgamento pelo Júri não
contraria o princípio constitucional da soberania dos vereditos quando
a decisão for manifestamente contrária à prova dos autos.
A anulação de decisão do tribunal do júri, por ser manifestamente
contrária à prova dos autos, não viola a regra constitucional que
assegura a soberania dos veredictos do júri (art. 5º, XXXVIII, c, da
CF/88).
Vale ressaltar, ainda, que não há contrariedade à cláusula de que
ninguém pode ser julgado mais de uma vez pelo mesmo crime. Ainda
que se forme um segundo Conselho de Sentença, o julgamento é um
só, e termina com o trânsito em julgado da decisão.
STF. 1ª Turma. RHC 170559/MT, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/3/2020 (Info 969).
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Atualização – Informativos STF e STJ


• PRISÃO PREVENTIVA
A manutenção da prisão preventiva exige a demonstração de fatos
concretos e atuais que a justifiquem.
A reforma legislativa operada pelo chamado “Pacote Anticrime” (Lei
nº 13.964/2019) introduziu a revisão periódica dos fundamentos da
prisão preventiva, por meio da inclusão do parágrafo único ao art.
316 do CPP.
A redação atual prevê que o órgão emissor da decisão deverá revisar
a necessidade de sua manutenção a cada noventa dias, mediante
decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar ilegal a prisão
preventiva: Art. 316 (...) Parágrafo único. Decretada a prisão
preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade
de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.
Assim, a prisão preventiva é decretada sem prazo determinado.
Contudo, o CPP agora prevê que o juízo que decretou a prisão
preventiva deverá, a cada 90 dias, proferir uma nova decisão
analisando se ainda está presente a necessidade da medida. Isso
significa que a manutenção da prisão preventiva exige a
demonstração de fatos concretos e atuais que a justifiquem.
A existência desse substrato empírico mínimo, apto a lastrear a
medida extrema, deverá ser regularmente apreciado por meio de
decisão fundamentada. A esse respeito, importante mencionar
também o § 2º do art. 312 do CPP, inserido pelo Pacote Anticrime: “A
decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e
fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos
novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida
adotada.”
STF. 2ª Turma. HC 179859 AgR/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 3/3/2020 (Info 968).

• COMPETÊNCIA
Depois de anos sendo investigado em inquérito que tramitava no
STF, o Ministro Relator declinou a competência para apurar os crimes
porque os fatos ocorreram antes de o investigado ser Deputado
Federal; logo, aplica-se o entendimento firmado na AP 937 QO.

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Atualização – Informativos STF e STJ


O fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem
demorado anos não servem como argumento jurídico válido para
prorrogar a competência do STF. Apesar da efetiva evolução das
investigações, sob a supervisão do STF, não houve oferecimento de
denúncia contra o agravante nem encerramento da instrução
processual penal.
Logo, o marco temporal relativo à data de apresentação das razões
finais não foi alcançado. Além disso, quanto ao segundo argumento
da defesa, o STF esclareceu que é possível a imediata remessa dos
autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do
acórdão ou do trânsito em julgado, quando constatado o risco de
prescrição.
STF. 2ª Turma. Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 18/2/2020 (Info 967).

• PROVA TESTEMUNHAL
Advogado que teve seus poderes revogados pela cliente, que pediu
de volta os documentos do caso, não pode depor como testemunha
no processo porque a conduta da parte demonstra que ela não
liberou o causídico do sigilo profissional que ele deve respeitar.
A vítima contratou um advogado para representar seus interesses no
processo criminal. Sucede que, logo no início do processo, ela e o
advogado se desentenderam e a vítima revogou expressamente os
poderes que havia conferido ao advogado, proibindo-o de atuar no
caso.
Além disso, requereu que ele devolvesse qualquer documento que
estivesse em sua posse e que fosse relacionado com o fato apurado.
Ao saber disso, o réu pediu a oitiva do advogado como testemunha
no processo penal. Esse advogado não poderá ser ouvido como
testemunha.
Para que o advogado possa prestar seu testemunho é indispensável
que haja o consentimento válido do interessado direto na
manutenção do segredo (cliente). Mesmo que a parte interessada
faça isso, ou seja, mesmo que ela autorize que o profissional revele
os fatos resguardados pelo sigilo, ainda assim ele é quem irá decidir
se irá dar ou não seu testemunho.
No caso concreto, o advogado que foi arrolado como testemunha
teve seus poderes como patrono da interessada expressamente

191

Atualização – Informativos STF e STJ


revogados, vedando-se sua atuação no caso. Além disso, requereu-se
que devolvesse qualquer documento relacionado ao fato que a ele
tivesse sido entregue.
Isso significa que a cliente não liberou o advogado do dever de
manter o segredo profissional sobre as informações e documentos de
que teve conhecimento em razão da atuação como defensor técnico.
Portanto, o advogado não pode testemunhar sobre fatos de que
tomou conhecimento em razão de seu ofício, como para o exercício
de sua atuação profissional a partir da narração apresentada pelo
cliente e eventuais documentos por ele entregues.
STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
18/2/2020 (Info 967).

• PRISÃO DOMICILIAR
A prisão domiciliar do art. 318 do CPP só se aplica para os casos de
prisão preventiva, não podendo ser utilizado quando se tratar de
execução definitiva de título condenatório (sentença condenatória
transitada em julgado).
Importante!!!
Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada
gestante ou que seja mãe ou responsável por crianças ou pessoas
com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em
julgado e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP.
STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
18/2/2020 (Info 967).

• COLABORAÇÃO PREMIADA
O delatado tem o direito de acesso aos termos de colaboração
premiada que mencionem seu nome, desde que já tenham sido
juntados aos autos e não prejudiquem diligências em andamento.
Importante!!!
O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas
pelos colaboradores que o incriminem, desde que já documentadas e
que não se refiram à diligência em andamento que possa ser
prejudicada.

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Atualização – Informativos STF e STJ


STF. 2ª Turma. Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Não é cabível a realização de audiência de custódia por meio de
videoconferência.
Importante!!!
A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva
cumprido fora do âmbito territorial da jurisdição do Juízo que a
determinou, deve ser efetivada por meio da condução do preso à
autoridade judicial competente na localidade em que ocorreu a
prisão. Não se admite, por ausência de previsão legal, a sua
realização por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que
decretou a custódia cautelar.
STJ. 3ª Seção. CC 168.522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
11/12/2019 (Info 663).

• RECURSOS
Depois do trânsito em julgado, defesa impetrou HC pedindo a
anulação do acórdão do TJ; STJ concedeu a ordem; TJ rejulgou e
manteve a condenação; MP interpõe recurso especial para aumentar
a pena; STJ não pode majorar a pena porque isso seria reformatio in
pejus indireta.
Ofende o enunciado do non reformatio in pejus indireta o aumento
da pena através de decisão em recurso especial interposto pelo
Ministério Público contra rejulgamento de apelação que não alterou
reprimenda do acórdão anterior, que havia transitado em julgado
para a acusação e que veio a ser anulado por iniciativa exclusiva da
defesa.
Exemplo: sentença condenou o réu a 10 anos de reclusão. Defesa
apelou. Tribunal de Justiça reduziu a pena para 9 anos. Essa decisão
transitou em julgado para ambas as partes.
Defesa impetrou habeas corpus junto ao STJ, que concedeu a ordem
para anular o acórdão do TJ por ausência de prévia intimação. TJ

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Atualização – Informativos STF e STJ


rejulgou a apelação e manteve a condenação, fixando a pena em 9
anos (como na primeira vez).
Contra este segundo acórdão o Ministério Público interpôs recurso
especial. STJ deu provimento ao Resp para aumentar a pena do réu
para 10 anos (como na sentença).
Essa decisão do STJ violou o princípio da non reformatio in pejus
indireta considerando que colocou o sentenciado em situação pior do
que aquela que ele tinha antes do habeas corpus.
Desse modo, deve ser afastado o acréscimo da pena (10 anos),
restabelecendo-se o segundo acórdão proferido pelo Tribunal de
Justiça no julgamento do recurso de apelação (9 anos).
STJ. 3ª Seção. RvCr 4.853-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo
(Desembargador Convocado do TJ/PE), julgado em 27/11/2019 (Info
663).

• INQUÉRITO POLICIAL
Não há nulidade na ação penal instaurada a partir de elementos
informativos colhidos em inquérito policial que não deveria ter sido
conduzido pela Polícia Federal considerando que a situação não se
enquadrava no art. 1º da Lei 10.446/2002.
Caso concreto: a Polícia Federal, sob a supervisão do Ministério
Público estadual e do Juízo de Direito, conduziu inquérito policial
destinado a apurar crimes de competência da Justiça Estadual.
Entendeu-se que a Polícia Federal não tinha atribuição para apurar
tais delitos considerando que não se enquadravam nas hipóteses do
art. 144, § 1º da CF/88 e do art. 1º da Lei nº 10.446/2002.
A despeito disso, o STF entendeu que não havia nulidade na ação
penal instaurada com base nos elementos informativos colhidos.
O fato de os crimes de competência da Justiça Estadual terem sido
investigados pela Polícia Federal não geram nulidade. Isso porque
esse procedimento investigatório, presidido por autoridade de Polícia
Federal, foi supervisionado pelo Juízo estadual (juízo competente) e
por membro do Ministério Público estadual (que tinha a atribuição
para a causa).
O inquérito policial constitui procedimento administrativo, de caráter
meramente informativo e não obrigatório à regular instauração do
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Atualização – Informativos STF e STJ


processo-crime, cuja finalidade consiste em subsidiar eventual
denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público, razão pela qual
irregularidades ocorridas não implicam, de regra, nulidade de
processo-crime.
O art. 5º, LIII, da Constituição Federal, afirma que “ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.
Esse dispositivo contempla o chamado “princípio do juiz natural”,
princípio esse que não se estende para autoridades policiais,
considerando que estas não possuem competência para julgar.
Logo, não é possível anular provas ou processos em tramitação com
base no argumento de que a Polícia Federal não teria atribuição para
investigar os crimes apurados.
A desconformidade da atuação da Polícia Federal com as disposições
da Lei nº 10.446/2002 e eventuais abusos cometidos por autoridade
policial, embora possam implicar responsabilidade no âmbito
administrativo ou criminal dos agentes, não podem gerar a nulidade
do inquérito ou do processo penal.
STF. 1ª Turma. HC 169348/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
17/12/2019 (Info 964).

• PROVAS
Não viola a SV 14 quando se nega que o investigado tenha acesso a
peças que digam respeito a dados sigilosos de terceiros e que não
estejam relacionados com o seu direito de defesa Mesmo que a
investigação criminal tramite em segredo de justiça será possível que
o investigado tenha acesso amplo autos, inclusive a eventual relatório
de inteligência financeira do COAF, sendo permitido, contudo, que se
negue o acesso a peças que digam respeito a dados de terceiros
protegidos pelo segredo de justiça.
Essa restrição parcial não viola a súmula vinculante 14. Isso porque
é excessivo o acesso de um dos investigados a informações, de
caráter privado de diversas pessoas, que não dizem respeito ao
direito de defesa dele.
STF. 1ª Turma. Rcl 25872 AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber,
julgado em 17/12/2019 (Info 964).

• PROVAS

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Atualização – Informativos STF e STJ


É constitucional lei estadual que transforma o cargo de datiloscopista
da Polícia Civil em perito papiloscopista.
O art. 3º da LC 156/2010, do Estado de Pernambuco redenominou o
cargo de datiloscopista policial para perito papiloscopista, no âmbito
da polícia civil. Para o STF, essa previsão é constitucional.
A competência para dispor sobre os peritos oficiais da polícia civil é
concorrente, nos termos do art. 24, XVI, da CF/88, que prevê que
compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre organização, garantias, direitos e deveres
dos policiais civis.
A União, cumprindo o que prevê o art. 24, XVI, da CF/88, editou as
normas gerais sobre o tema, ao aprovar a Lei nº 12.030/2009, que
“dispõe sobre as perícias oficiais”. A LC estadual 156/2010 não possui
nenhuma antinomia com a Lei federal nº 12.030/2009.
O art. 5º da Lei nº 12.030/2009 não foi exaustivo ao elencar
determinados peritos. Podem existir outros.
Além disso, a Lei nº 12.030/2009 não proibiu que se equiparassem
os cargos de datiloscopista ou papiloscopista. A expressão “perito
criminal” abrange, portanto, todos os peritos oficiais que possuem a
incumbência estatal de elucidar crimes, sendo possível aventar um rol
bem mais amplo de agentes que atuam como peritos oficiais.
STF. Plenário. ADI 5182/PE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
19/12/2019 (Info 964).

• NULIDADES
Não viola a SV 11 a decisão que mantém as algemas durante
julgamento no júri de réu que integra milícia, possui extensa folha de
antecedentes criminais e foi transferido para presídio federal de
segurança máxima em virtude da sua alta periculosidade.
É possível que o réu permaneça algemado durante o julgamento no
Tribunal do Júri caso existam nos autos informações fornecidas pela
polícia no sentido de que o acusado integra milícia, possui extensa
folha de antecedentes criminais e foi transferido para presídio federal
de segurança máxima justamente em virtude da sua alta
periculosidade. Não se pode desconsiderar o que está nos autos do
processo e aquilo que foi informado pela polícia.
A questão da periculosidade, ou não, do réu é assunto de polícia e
não de juiz. Se a polícia informa que o réu é perigoso, o juiz que,
196

Atualização – Informativos STF e STJ


normalmente, entra em contato com o réu pela primeira vez, tem de
confiar na presunção de legitimidade da informação passada pela
autoridade policial.
Fora dos casos de abuso patente, é preciso dar credibilidade àquele
que tem o encargo de zelar pela segurança pública, inclusive no
âmbito do tribunal. Em casos assim, a decisão do juízo que mantém
as algemas não viola a súmula vinculante 11.
STF. 1ª Turma. Rcl 32970 AgR/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 17/12/2019 (Info 964).

• HABEAS CORPUS
Não cabe HC contra decisão de Ministro do STF que decreta a prisão
preventiva de investigado ou réu.
Não cabe habeas corpus contra decisão de Ministro do STF que
decreta a prisão preventiva de investigado ou réu. Aplica-se, aqui,
por analogia, o entendimento exposto no enunciado 606 da Súmula
do STF.
Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal
Pleno de decisão de turma, ou do plenário, proferida em habeas
corpus ou no respectivo recurso.
STF. Plenário. HC 162285 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 19/12/2019 (Info 964)

• HABEAS CORPUS
A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de
habeas corpus em que se busca o trancamento da ação penal?
Importante!!!
A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de
habeas corpus em que se busca o trancamento da ação penal?
Com a celebração da transação penal, o habeas corpus que estava
pendente fica prejudicado ou o TJ deverá julgá-lo mesmo assim?
• STJ: SIM. Fica prejudicado. A concessão do benefício da transação
penal impede a impetração de habeas corpus em que se busca o
trancamento da ação penal.

197

Atualização – Informativos STF e STJ


STJ. 6ª Turma. HC 495.148-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 24/09/2019 (Info 657).
• STF: NÃO. Não impede e o TJ deverá julgar o mérito do habeas
corpus. A realização de acordo de transação penal não enseja a perda
de objeto de habeas corpus anteriormente impetrado.
A aceitação do acordo de transação penal não impede o exame de
habeas corpus para questionar a legitimidade da persecução penal.
Embora o sistema negocial possa trazer aprimoramentos positivos em
casos de delitos de menor gravidade, a barganha no processo penal
pode levar a riscos consideráveis aos direitos fundamentais do
acusado. Assim, o controle judicial é fundamental para a proteção
efetiva dos direitos fundamentais do imputado e para evitar possíveis
abusos que comprometam a decisão voluntária de aceitar a
transação.
Não há qualquer disposição em lei que imponha a desistência de
recursos ou ações em andamento ou determine a renúncia ao direito
de acesso à Justiça.
STF. 2ª Turma. HC 176785/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
17/12/2019 (Info 964).

• EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA


Se o Tribunal de 2ª instância não analisou a necessidade da prisão
preventiva ou outras medidas cautelares em razão de ter aplicado o
antigo entendimento do STF sobre a execução provisória, antes de
ser decretada a liberdade, deve o Tribunal fazer essa análise Juiz
condenou o réu, concedeu a ele o direito de recorrer em liberdade.
Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação.
Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso
especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em
que o entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução
provisória da pena.
Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e
extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente
o cumprimento da pena. Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua
posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC
43/DF, julgada em 7/11/2019).
A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade imediata
do condenado. O STF concedeu a ordem, mas não para a liberdade

198

Atualização – Informativos STF e STJ


imediata do condenado, e sim para que o Tribunal de Justiça analise
eventual necessidade de prisão preventiva ou a aplicação de medidas
cautelares diversas.
STF. 1ª Turma. HC 175405/PR e HC 176841/SC, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em
17/12/2019 (Info 964).

• EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA


Se o Tribunal de 2ª instância determinou a execução provisória da
pena, mas o juiz já havia negado o direito do condenado de recorrer
em liberdade, não cabe a soltura do réu com base no novo
entendimento do STF de que é proibida a execução provisória da
pena Juiz condenou o réu e negou a ele o direito de recorrer em
liberdade por estarem presentes os requisitos da prisão preventiva.
Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra
esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial e
extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o
entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução
provisória da pena.
Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e
extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente
o cumprimento da pena. Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua
posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC
43/DF, julgada em 7/11/2019).
A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade
imediata do condenado. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte:
realmente, atualmente, não cabe execução provisória da pena.
No entanto, no caso concreto, o juiz de 1ª instância decretou a
prisão preventiva do acusado e, depois, vedou-lhe o direito de
recorrer em liberdade. Além disso, o Tribunal de Justiça, apesar de
ordenar a execução provisória, repetiu a necessidade de garantia da
ordem pública.
Logo, a manutenção da prisão não foi apenas por conta da execução
provisória da pena. Desse modo, não se pode dizer que a decisão do
Tribunal de Justiça tenha sido teratológica, flagrantemente ilegal,
abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF,
situações nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus.

199

Atualização – Informativos STF e STJ


STF. 1ª Turma. HC 176723/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/12/2019 (Info 964).

• EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA


Não se conhece de habeas corpus impetrado contra decisão
monocrática de Ministro do STJ que nega liminar mantendo decisão
do TJ que determinou a execução provisória da pena em caso de
condenação pelo Tribunal do Júri.
Tribunal do Júri condenou o réu. Juiz-Presidente concedeu a ele o
direito de recorrer em liberdade.
Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra
esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial e
extraordinário.
A decisão do TJ foi proferida na época em que o entendimento do
STF era no sentido de ser cabível a execução provisória da pena.
Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e
extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente
o cumprimento da pena.
Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a
proibir a execução provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em
7/11/2019).
A defesa do réu impetrou habeas corpus no STJ pedindo a liberdade
imediata do condenado.
O Ministro Relator do STJ, monocraticamente, negou o pedido de
liminar.
A defesa impetrou, então habeas corpus para o STF contra essa
decisão do Ministro do STJ.
Cabe habeas corpus neste caso? Não. Em regra, não cabe habeas
corpus para o STF contra decisão monocrática do Ministro do STJ.
Aplica-se o raciocínio da súmula 691 do STF.
Exceções: a regra acima exposta pode ser afastada em casos
excepcionais, quando a decisão atacada se mostrar teratológica,
flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à
jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder de
ofício o habeas corpus.

200

Atualização – Informativos STF e STJ


No caso concreto, o STF entendeu que havia alguma situação
excepcional que poderia justificar a concessão do habeas corpus de
ofício? Não. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: realmente,
atualmente, não cabe execução provisória da pena. Isso foi decidido
na ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). No entanto, o caso concreto
envolve uma condenação pelo Tribunal do Júri. Existem alguns
Ministros do STF que entendem que seria possível a execução
provisória da pena nas condenações do Tribunal do Júri. Isso porque,
em razão da soberania dos vereditos, o Tribunal não pode reexaminar
os fatos decididos pelos jurados. A discussão sobre a possibilidade ou
não de execução provisória das condenações do Tribunal do Júri será
definida pelo STF no Recurso Extraordinário 1235340, cujo relator é o
Ministro Luís Roberto Barroso e que está previsto para ser julgado
ainda no ano de 2020. Logo, como existe essa possibilidade de o STF
adotar a execução provisória nas condenações envolvendo o Júri, não
se pode dizer que a decisão do Tribunal de Justiça tenha sido
teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente
contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia
conceder de ofício o habeas corpus.
STF. 1ª Turma. HC 175808/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/12/2019 (Info 964).

• EXECUÇÃO PENAL
Mesmo que na sentença condenatória não tenha constado
expressamente que o réu é reincidente, o juízo da execução penal
poderá reconhecer essa circunstância para fins de conceder ou não os
benefícios, como, por exemplo, a progressão de regime.
Importante!!!
Suponhamos que na sentença condenatória não constou que o
apenado é reincidente.
O juízo da execução, contudo, na fase de cumprimento da pena,
percebeu que o condenado é reincidente.
O juízo da execução penal poderá reconhecer essa circunstância
negativa no momento de analisar se concede ou não os benefícios
(ex: progressão).
O Juízo da Execução pode promover a retificação do atestado de pena
para constar a reincidência, com todos os consectários daí
decorrentes, ainda que não esteja reconhecida expressamente na
sentença penal condenatória transitada em julgado.
201

Atualização – Informativos STF e STJ


STJ. 3ª Seção. EREsp 1.738.968-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado
em 27/11/2019 (Info 662).

• HABEAS CORPUS
É possível a impetração de habeas corpus e a interposição de recurso
de forma concomitante?
Importante!!!
O habeas corpus, quando impetrado de forma concomitante com o
recurso cabível contra o ato impugnado, será admissível apenas se:
a) for destinado à tutela direta da liberdade de locomoção ou
b) se traduzir pedido diverso do objeto do recurso próprio e que
reflita mediatamente na liberdade do paciente.
Nas demais hipóteses, o habeas corpus não deve ser admitido e o
exame das questões idênticas deve ser reservado ao recurso previsto
para a hipótese, ainda que a matéria discutida resvale, por via
transversa, na liberdade individual.
STJ. 3ª Seção. HC 482.549-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 11/03/2020 (Info 669).

• INDULTO
O descumprimento das condições impostas para o livramento
condicional não pode ser invocado para impedir a concessão do
indulto, a título de não preenchimento do requisito subjetivo.
O descumprimento das condições do livramento condicional não
pode servir para obstaculizar a concessão do indulto. Para a análise
do pedido de indulto ou comutação de penas, o magistrado deve
restringir-se ao exame do preenchimento dos requisitos previstos no
decreto presidencial, uma vez que os pressupostos para a concessão
da benesse são da competência privativa do Presidente da República.
Dessa forma, qualquer outra exigência caracteriza constrangimento
ilegal.
O Decreto nº 7.873/2012 prevê que apenas falta disciplinar de
natureza grave prevista na Lei de Execução Penal, cometida nos 12
meses anteriores à data de publicação do decreto, pode obstar a
concessão do indulto.

202

Atualização – Informativos STF e STJ


O descumprimento das condições do livramento condicional não
encontra previsão no art. 50 da Lei de Execuções Penais, o qual
elenca de forma taxativa quais são as faltas graves. Assim, eventual
descumprimento de condições impostas não pode ser invocado a
título de infração disciplinar grave a fim de impedir a concessão do
indulto.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 537.982-DF, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 13/04/2020 (Info 670).
• HABEAS CORPUS
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas
cautelares de natureza criminal diversas da prisão.
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas
cautelares de natureza criminal diversas da prisão. Isso porque, se
descumprida a “medida alternativa”, é possível o estabelecimento da
custódia, alcançando-se o direito de ir e vir.
STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

• SUSPENSÃO DO PROCESSO
Não há, no momento, decisão do Comitê de Direitos Humanos da
ONU impedimento o prosseguimento das ações penais que tramitam
no Brasil contra o ex-Presidente Lula
A defesa do ex-Presidente Lula formulou reclamação ao Comitê de
Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas alegando que o
processo penal que tramita contra ele no Brasil teria violado
disposições do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.
Ainda não há decisão final de mérito do Comitê.
A defesa impetrou habeas corpus no STF pedindo que a ação penal
proposta contra ele fique sobrestada até que haja um
pronunciamento final do Comitê da ONU. A 2ª Turma do STF,
contudo, indeferiu o pedido de suspensão do julgamento da ação
penal até pronunciamento final do Comitê de Direitos Humanos da
ONU.
Segundo explicou o STF, a decisão do Comitê negou a concessão de
“medidas provisionais” em favor de Lula. Isso significa que o referido
órgão não determinou a suspensão de ações penais instauradas em
desfavor do paciente. O comitê, em princípio, não reconheceu a

203

Atualização – Informativos STF e STJ


prática de ato imputável ao Estado brasileiro que pudesse vulnerar a
ordem internacional. O Ministro Ricardo Lewandowski afirmou que a
deliberação final de mérito do Comitê da ONU, a depender do
resultado proclamado, poderá impedir, frustrar ou anular o os
processos criminais que tramitam contra Lula. No entanto, por ora,
não há uma decisão impedindo o prosseguimento das ações penais.
STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red.
p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

• NULIDADES
STF determinou o desentranhamento do termo de colaboração
premiada de Antônio Palocci do processo penal que tramita contra
Lula, cuja juntada aos autos teria sido promovida indevidamente, de
ofício, pelo ex-Juiz Sérgio Moro.
A defesa do ex-Presidente Lula impetrou habeas corpus no STF
pedindo o desentranhamento do “Termo de Colaboração de Antônio
Palocci Filho”, cuja juntada aos autos foi promovida de ofício, pelo
então Juiz Federal Sérgio Moro. O STF entendeu que essa juntada foi
ilícita e determinou o seu desentranhamento.
Os Ministros apontaram três circunstâncias envolvendo essa conduta
que revelariam a parcialidade do magistrado na condução do
processo: Em primeiro lugar, o termo de colaboração foi juntado
quando a fase de instrução processual havia sido encerrada, de forma
que as declarações sequer estariam aptas a fundamentar a prolação
da sentença. Em segundo, aconteceu cerca de três meses após a
decisão judicial que o homologara. Para os Ministros, essa demora
parece ter sido cuidadosamente planejada para gerar verdadeiro fato
político na semana que antecedia o primeiro turno das eleições
presidenciais.
Ato contínuo à juntada, foi determinado o imediato levantamento do
sigilo, com clara finalidade de que fosse dada publicidade às
imputações dirigidas ao réu, sem que as circunstâncias narradas no
ajuste fossem relevantes para a ação penal em andamento. Em
terceiro, o fato de a juntada e o levantamento do sigilo terem
ocorrido por iniciativa do próprio juiz, isto é, sem qualquer
provocação do órgão acusatório.
A determinação da juntada desse termo de delação, nesses moldes,
consubstancia inequívoca quebra da imparcialidade.

204

Atualização – Informativos STF e STJ


STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red.
p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).
• HABEAS CORPUS
Cabimento de habeas corpus para tratar de questões processuais
quando a liberdade do paciente estiver ameaçada, ainda que
indiretamente.
Quando a liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente
ameaçada, cabe habeas corpus ainda que para solucionar questões
de natureza processual.
STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red.
p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).
• HABEAS CORPUS
Não cabe HC contra decisão monocrática de Ministro do STF
Posição mais atual sobre o tema!
Não cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno
contra ato de Ministro ou outro órgão fracionário da Corte. Ex: não
cabe habeas corpus contra decisão de Ministro do STF que decreta a
prisão preventiva de investigado ou réu.
Aplica-se, aqui, por analogia, o entendimento exposto no enunciado
606 da Súmula do STF. Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus
originário para o Tribunal Pleno de decisão de turma, ou do plenário,
proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso.
STF. Plenário. HC 162285 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 19/12/2019 (Info 964)
STF. Plenário. HC 170263, Rel. Edson Fachin, julgado em
22/06/2020 (Info 985 – clipping)
• EXECUÇÃO PENAL
Não é necessária a realização de PAD para aplicação de falta grave,
desde que haja audiência de justificação realizada com a participação
da defesa e do MP
Importante!!!
Atualize o Info 564-STJ
A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de
justificação realizada na presença do defensor e do Ministério Público,
afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo

205

Atualização – Informativos STF e STJ


Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou
insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a
prática de falta grave durante o cumprimento da pena.
STF. Plenário. RE 972598, Rel. Roberto Barroso, julgado em
04/05/2020 (Repercussão Geral –Tema 941) (Info 985 – clipping).

DIREITO TRIBUTÁRIO

• IMPOSTO DE RENDA
Não é possível estender, pela via judicial, a isenção prevista no art.
6º, XIV, da Lei 7.713/88 aos trabalhadores em atividade.
Importante!!!
206

Atualização – Informativos STF e STJ


O art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 prevê que as pessoas portadoras
de neoplasia maligna ou outras doenças graves e que estejam na
inatividade não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos
recebidos a título de aposentadoria, pensão ou reforma. Essa isenção
é devida apenas às pessoas que recebem aposentadoria, pensão ou
reforma e não é possível que o Poder Judiciário estenda o benefício
aos trabalhadores que estão em atividade. Os juízes e Tribunais não
podem, mesmo a pretexto de estabelecer tratamento isonômico,
conceder isenção tributária em favor daqueles não contemplados pelo
favor legal, porque isso equivaleria, em última análise, a converter o
Poder Judiciário em inadmissível legislador positivo. A legislação
optou por critérios cumulativos absolutamente razoáveis à concessão
do benefício tributário, quais sejam, inatividade e enfermidade grave,
ainda que contraída após a aposentadoria ou reforma.
STF. Plenário. ADI 6025, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
20/04/2020 (Info 983 – clipping).

• CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
É constitucional a contribuição social do segurado especial prevista no
art. 25 da Lei nº 8.212/91.
É constitucional, formal e materialmente, a contribuição social do
segurado especial prevista no art. 25 da Lei nº 8.212/91.
STF. Plenário. RE 761263, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em
15/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 723) (Info 983 – clipping)

• DIREITO FINANCEIRO
Análise da constitucionalidade da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Importante!!!
A Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº
101/2000) é formalmente constitucional, não houve qualquer vício na
tramitação do projeto, tendo sido respeitado o devido processo
legislativo.
No que tange ao aspecto material, o STF declarou a
constitucionalidade dos arts. 4º, § 2º, II, e § 4º; 7º, caput e § 1º;
11, parágrafo único; 14, II; 17, §§ 1º a 7º; 18, § 1º; 20; 24; 26, §
1º; 28, § 2º; 29, I, e § 2º; 39; 59, § 1º, IV; 60; e 68, caput, da LRF.

207

Atualização – Informativos STF e STJ


Por outro lado, o STF julgou inconstitucionais o art. 9º, § 3º, o caput
dos arts. 56 e 57 e o § 2º do art. 23.
Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a
inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, de modo a obstar
interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou
cargo que estiver provido.

• Art. 9º, § 3º
Veja o que diz o § 3º do art. 9º: Art. 9º Se verificado, ao final de um
bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o
cumprimento das metas de resultado primário ou nominal
estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério
Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários,
nos trinta dias subsequentes, limitação de empenho e movimentação
financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes
orçamentárias. (...) § 3º No caso de os Poderes Legislativo e
Judiciário e o Ministério Público não promoverem a limitação no prazo
estabelecido no caput, é o Poder Executivo autorizado a limitar os
valores financeiros segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes
orçamentárias. Com relação ao § 3º do art. 9º, o STF entendeu que a
norma prevista não guarda pertinência com o modelo de freios e
contrapesos estabelecido constitucionalmente para assegurar o
exercício responsável da autonomia financeira por parte dos Poderes
Legislativo e Judiciário e do Ministério Público. Isso porque o
dispositivo estabelece inconstitucional hierarquização subserviente
em relação ao Executivo, permitindo que, unilateralmente, limite os
valores financeiros segundo os critérios fixados pela Lei de Diretrizes
Orçamentárias no caso daqueles outros dois Poderes e instituição não
promoverem a limitação no prazo fixado no caput. A defesa de um
Estado Democrático de Direito exige o afastamento de normas legais
que repudiam o sistema de organização liberal, em especial, na
presente hipótese, o desrespeito à separação das funções do Poder e
suas autonomias constitucionais.
• Caput dos arts. 56 e 57
Esses dispositivos preveem o seguinte: Art. 56. As contas prestadas
pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as
dos Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do
Chefe do Ministério Público, referidos no art. 20, as quais receberão
parecer prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de Contas.

208

Atualização – Informativos STF e STJ


Art. 57. Os Tribunais de Contas emitirão parecer prévio conclusivo
sobre as contas no prazo de sessenta dias do recebimento, se outro
não estiver estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis
orgânicas municipais.
O STF considerou que houve um desvirtuamento do modelo previsto
nos arts. 71 e seguintes da CF/88.
A Constituição determina que as contas do Poder Executivo
englobarão todas as contas, receberão um parecer conjunto do
Tribunal de Contas, e serão julgadas pelo Congresso. No caso do
Judiciário, do Ministério Público e do Legislativo, o Tribunal de Contas
julga as contas, e não apenas dá um parecer prévio.

• Art. 23, § 1º e art. 23, § 2º


Veja a redação dos dispositivos: Art. 23. Se a despesa total com
pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites
definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no
art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois
quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro,
adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º
do art. 169 da Constituição.
§ 1º No caso do inciso I do § 3º do art. 169 da Constituição, o
objetivo poderá ser alcançado tanto pela extinção de cargos e
funções quanto pela redução dos valores a eles atribuídos.

§ 2º É facultada a redução temporária da jornada de trabalho com


adequação dos vencimentos à nova carga horária.
Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a
inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, de modo a obstar
interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou
cargo que estiver provido. Quanto ao § 2º do art. 23, declarou a sua
inconstitucionalidade.
É inconstitucional qualquer interpretação de dispositivos da Lei de
Responsabilidade Fiscal que permita a redução de vencimentos de
servidores públicos para a adequação de despesas com pessoal.
É inconstitucional o § 2º do art. 23 da LRF, que faculta a redução
temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à
nova carga horária, caso sejam ultrapassados os limites definidos na
lei para despesas com pessoal nas diversas esferas do poder público.
209

Atualização – Informativos STF e STJ


Essa possibilidade de redução fere o princípio constitucional da
irredutibilidade de vencimentos (art. 37, XV, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2238/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 24/6/2020 (Info 983).

• IPTU
A diferenciação de alíquotas, por estar ou não edificado o imóvel
urbano, não se confunde com a progressividade do IPTU; logo, não é
inconstitucional mesmo que antes da EC 29/2000.
Atenção! PGM
São constitucionais as leis municipais anteriores à Emenda
Constitucional n° 29/2000, que instituíram alíquotas diferenciadas de
IPTU para imóveis edificados e não edificados, residenciais e não
residenciais.
STF. Plenário. RE 666156, Rel. Roberto Barroso, julgado em
11/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 523) (Info 982 – clipping).

• IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Estados-membros, mesmo gozando de imunidade tributária
recíproca, devem cumprir as obrigações tributárias acessórias.
A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição)
impede que os entes públicos criem uns para os outros obrigações
relacionadas à cobrança de impostos, mas não veda a imposição de
obrigações acessórias.
As obrigações acessórias sejam instituídas por meio de atos
infralegais.
STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em
11/05/2020 (Info 980).

• PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar
indiretamente a majoração de tributos, deve respeitar o princípio da
anterioridade.

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Atualização – Informativos STF e STJ


Aplica-se o princípio da anterioridade tributária, geral e nonagesimal,
nas hipóteses de redução ou de supressão de benefícios ou de
incentivos fiscais, haja vista que tais situações configuram majoração
indireta de tributos.
(STF. Plenário. RE 564225 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 20/11/2019).
Reintegra é um programa econômico instituído pelo governo federal
com o objetivo de incentivar as exportações. A redução ou supressão
das vantagens decorrentes do REINTEGRA precisam respeitar o
princípio da anterioridade?
SIM. A redução ou supressão de benefícios ou incentivos fiscais
decorrentes do Regime Especial de Reintegração de Valores
Tributários para Empresas Exportadoras (REINTEGRA) se sujeita à
incidência dos princípios da anterioridade tributária geral e da
anterioridade nonagesimal, previstos no art. 150, III, “b” e “c”, da
Constituição Federal.
A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar
indiretamente a majoração de tributos, deve respeitar o princípio da
anterioridade.
STF. 1ª Turma. RE 1253706 AgR/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado
em 19/5/2020 (Info 978).
STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em
31/08/2018.

• ICMS
O sujeito ativo do ICMS-importação é o Estado-membro no qual está
domiciliado ou estabelecido o destinatário legal da operação que deu
causa à circulação da mercadoria.
O sujeito ativo da obrigação tributária de ICMS incidente sobre
mercadoria importada é o Estado-membro no qual está domiciliado
ou estabelecido o destinatário legal da operação que deu causa à
circulação da mercadoria, com a transferência de domínio.
STF. Plenário. ARE 665134, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/04/2020 (Repercussão Geral –Tema 520) (Info 978).

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Atualização – Informativos STF e STJ


• ICMS
No julgamento da ADO 25 foi reconhecida a omissão do Congresso
Nacional em editar a LC de que trata o art. 91 do ADCT; depois do
acórdão, União e Estados/DF firmaram acordo e determinaram seu
encaminhamento ao Congresso para as providências cabíveis.
Em 30/11/2016, o STF julgou procedente a ADO 25 e declarou haver
mora, por parte do Congresso Nacional, em editar a aludida lei
complementar de que trata o art. 91 do ADCT. Diante disso, o STF
fixou um prazo de 12 meses para que o Legislativo fizesse a lei.
Depois de a decisão transitar em julgado, a União requereu o
desarquivamento da ADO e a prorrogação do prazo por mais 24
meses.
O Ministro Relator, monocraticamente, deferiu, em parte, o pleito da
União e prorrogou o prazo. Posteriormente, alguns Estados-membros
manifestaram interesse em buscarem a composição amigável do
litígio. A União concordou com o pleito e iniciaram-se audiências, até
que foi conseguido um acordo.
Em 20/05/2020, o Plenário do STF se reuniu e referendou as decisões
monocráticas do Ministro que prorrogaram o prazo fixado no
julgamento do mérito da ADO.
Os Ministros entenderam que fatos supervenientes justificaram o
abrandamento do termo fixado no julgamento de mérito.
Além disso, o STF homologou o acordo firmado entre a União e os
Estados/DF, com o seu encaminhamento ao Congresso Nacional para
as providências cabíveis.
STF. Plenário. ADO 25 QO/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
20/5/2020 (Info 978).

• ICMS
Não cabe ICMS sobre a demanda de potência elétrica porque
somente integram a base de cálculo desse imposto os valores
referentes àquelas operações em que haja efetivo consumo de
energia elétrica.
É indevida a incidência do ICMS sobre o valor correspondente à
demanda de potência elétrica contratada, mas não utilizada.
STJ. 1ª Seção. REsp 960.476/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
julgado em 11/03/2009 (recurso repetitivo).

212

Atualização – Informativos STF e STJ


Súmula 391-STJ: O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia
elétrica correspondente à demanda de potência efetivamente
utilizada.
A demanda de potência elétrica não é passível, por si só, de
tributação via ICMS, porquanto somente integram a base de cálculo
desse imposto os valores referentes àquelas operações em que haja
efetivo consumo de energia elétrica pelo consumidor.
STF. Plenário. RE 593824, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 176) (Info 978).

• DIREITO FINANCEIRO
As restrições impostas pelos arts. 14, 16, 17 e 24 da LRF não se
aplicam durante o estado de calamidade pública decorrente do
coronavírus.
Importante!!!
Covid-19 Os arts. 14, 16, 17 e 24 da LRF exigem, para o aumento de
gastos tributários indiretos e despesas obrigatórias de caráter
continuado, as estimativas de impacto orçamentáriofinanceiro e a
compatibilidade com a LDO, além da demonstração da origem dos
recursos e a compensação de seus efeitos financeiros nos exercícios
seguintes. O art. 114 da LDO/2020 também traz restrições nesse
sentido.
Durante a pandemia do coronavírus, o Governo precisava tomar uma
série de medidas que implicariam renúncia de receita ou então
criação ou aumento de despesas e isso ofenderia as regras acima
listadas. Diante disso, o Presidente da República ajuizou ADI pedindo
que o STF afastasse essas exigências da Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF 101/2000) e da LDO/2020 em relação à criação e à
expansão de programas de prevenção ao novo coronavírus e de
proteção da população vulnerável à pandemia.
O Min. Alexandre de Moraes, monocraticamente, deferiu medida
cautelar concordando com o pedido.
Depois da liminar foi editada a Lei nº Lei nº 13.983/2020 e a EC
106/2020, que excepcionaram a aplicação dessas regras durante o
período de calamidade pública decorrente do coronavírus.
Diante disso, o STF decidiu:

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Atualização – Informativos STF e STJ


• referendar a medida cautelar deferida, ou seja, dizer que foi uma
decisão juridicamente correta e que seus efeitos deveriam ser
confirmados, por questões de segurança jurídica;
• mas, ao mesmo tempo, o STF decidiu extinguir a ADI por perda
superveniente de objeto.
Vale ressaltar que o art. 3º da EC 106/2020 é aplicável não apenas à
União, mas também Estados, DF e Municípios.
STF. Plenário. ADI 6357 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 13/5/2020 (Info 977).

• DIREITO FINANCEIRO
Lei estadual não pode autorizar que o Estado utilize recursos de
depósitos judiciais, em percentuais e para finalidades diferentes
daquilo que é previsto na legislação federal.
A Lei estadual, ao permitir a utilização dos recursos de depósitos
judiciais em percentual superior ao previsto na legislação nacional, e
ainda para finalidades discricionárias, bem como ao estabelecer o
repasse de rendimentos dos depósitos judiciais ao Fundo de
Reaparelhamento do Poder Judiciário, contraria o art. 101, §§ 2º, I e
II, e 3º, do ADCT e a Lei Complementar federal 151/2015, além de
invadir a competência da União para legislar sobre direito processual
(art. 22, I, da CF/88) e sobre normas gerais de direito financeiro (art.
24, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 5353 MC-Ref/MG, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 28/09/2016 (Info 841).
STF. Plenário. ADI 5080, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

• IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Súmula vinculante 58
Não há direito ao crédito de IPI em relação à aquisição de insumos
isento, não tributados ou sujeitos à alíquota zero.
Súmula vinculante 58: Inexiste direito a crédito presumido de IPI
relativamente à entrada de insumos isentos, sujeitos à alíquota zero
ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não
cumulatividade.
STF. Plenário. Aprovada em 24/04/2020.
214

Atualização – Informativos STF e STJ


• IRPJ e a CIDE
O Regulamento das Telecomunicações Internacionais - RTI não
desobriga que as empresas de telefonia do Brasil retenham IRPJ e
CIDE incidentes sobre os valores remetidos ao exterior e destinados
ao pagamento de serviços prestados por empresas em outros países.
O Regulamento das Telecomunicações Internacionais - RTI só
alcança os tributos incidentes sobre serviços importados, não
determinando a exclusão de outros tributos sobre a remessa do
pagamento, como o IRPJ e a CIDE.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.772.678-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 05/03/2020 (Info 667).

• DIREITO ADUANEIRO
Em razão do seu caráter interpretativo, o conceito abrangente de
licitação internacional revelado pelo art. 3º da Lei nº 11.732/2008
retroage às situações anteriores a sua entrada em vigor.
O art. 5º da Lei nº 8.032/90 concede o regime de drawback do art.
78, II, do DL 37/66 para as empresas que forem participar de
“licitação internacional”.
A definição de licitação internacional para fins de concessão do
regime aduaneiro do drawback é aquela prevista no art. 3º da Lei nº
11.732/2008 (não se utilizando a Lei nº 8.666/93).
Veja o que diz o art. 3º da Lei nº 11.732/2008: Art. 3º Para efeito
de interpretação do art. 5º da Lei nº 8.032, de 12 de abril de 1990,
licitação internacional é aquela promovida tanto por pessoas jurídicas
de direito público como por pessoas jurídicas de direito privado do
setor público e do setor privado.
Esse conceito abrangente de licitação internacional previsto no art.
3º da Lei nº 11.732/2008 possui indiscutível caráter interpretativo e,
por isso, retroage para alcançar situações ocorridas antes de sua
entrada em vigor.
Aplica-se o raciocínio contido no art. 106, I, do CTN: a lei aplica-se a
ato ou fato pretérito em qualquer caso, quando seja expressamente
interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos
dispositivos interpretados.

215

Atualização – Informativos STF e STJ


STJ. 1ª Turma. REsp 1.715.820-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa,
julgado em 10/03/2020 (Info 667).

• IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Súmula vinculante 57
O livro eletrônico e os suportes exclusivamente utilizados para fixá-
los gozam de imunidade tributária.
Súmula vinculante 57: A imunidade tributária constante do art. 150,
VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e comercialização, no mercado
interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente
utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (ereaders),
ainda que possuam funcionalidades acessórias.
STF. Plenário. Aprovada em 15/04/2020.

• ICMS

Sacolas plásticas fornecidas aos clientes para o transporte ou


acondicionamento de produtos, bem como bandejas, não são
insumos essenciais à atividade dos supermercados, de modo que não
geram creditamento de ICMS.
Os insumos que geram direito ao creditamento são aqueles que,
extrapolando a condição de mera facilidade, se incorporam ao
produto final, de forma a modificar a maneira como esse se
apresenta e configurar parte essencial do processo produtivo. Sacos e
filmes plásticos utilizados exclusivamente para o fornecimento de
produtos de natureza perecível são insumos indispensáveis à
atividade desenvolvida pelos supermercados, de modo que a sua
aquisição gera direito ao creditamento do ICMS.
Sacolas plásticas fornecidas aos clientes para o transporte ou
acondicionamento de produtos, bem como bandejas, não são

216

Atualização – Informativos STF e STJ


insumos essenciais à atividade dos supermercados, de modo que não
geram creditamento de ICMS.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.830.894-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
julgado em 03/03/2020 (Info 666).

• IMPOSTO DE RENDA
É ilegal o art. 4º, I, da IN SRF nº 139/1989 que proibiu a
compensação envolvendo exercícios financeiros diferentes.
Baixa relevância para concursos É ilegal o art. 4º, I, da IN SRF nº
139/1989, que, ao suprimir a comunicação entre exercícios
diferentes, traz inovação limitadora não prevista no Decreto-lei nº
1.790/1980.
O Decreto-lei nº 1.790/1980, que foi recepcionado com força de lei
ordinária, não estabeleceu restrição à compensação entre períodos
diversos, isto é, não impôs nenhuma limitação temporal ao exercício
de tal direito.
Assim, era perfeitamente possível a compensação do imposto de
renda retido na fonte mesmo que em calendários (exercícios)
diferentes.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.628.374-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel.
Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 04/02/2020 (Info 665).

• DIREITO ADUANEIRO
Súmula 640-STJ
As empresas nacionais que vendem mercadorias para a Zona Franca
de Manaus possuem direito ao benefício fiscal do REINTEGRA
Súmula 640-STJ: O benefício fiscal que trata do Regime Especial de
Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras
(REINTEGRA) alcança as operações de venda de mercadorias de
origem nacional para a Zona Franca de Manaus, para consumo,
industrialização ou reexportação para o estrangeiro.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020.

• IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

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Atualização – Informativos STF e STJ


A imunidade tributária prevista no art. 149, § 2º, I, da CF/88 abrange
também as receitas decorrentes de operações indiretas de
exportação, ou seja, realizadas com a participação sociedade
exportadora intermediária (trading companies ou ECEs).
De acordo com o art. 149, § 2º, I, da CF/88, as contribuições sociais
e de intervenção no domínio econômico não incidirão sobre as
receitas decorrentes de exportação. Trata-se de imunidade tributária
criada com o objetivo de incentivar as exportações.
Se o fabricante ou produtor brasileiro faz a exportação por intermédio
de uma empresa exportadora intermediária (ex: trading company),
incide igualmente a imunidade tributária? Incide a imunidade
tributária no caso de operações indiretas de exportação? SIM.
A norma imunizante contida no inciso I do § 2º do art. 149 da
Constituição Federal alcança as receitas decorrentes de operações
indiretas de exportação caracterizadas por haver participação
negocial de sociedade exportadora intermediária.
STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 12/2/2020 (Info 966).
STF. Plenário. RE 759244/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
12/2/2020 (repercussão geral – Tema 674).

• RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
É inconstitucional a lei estadual que preveja que o administrador, o
advogado, o economista e outros profissionais teriam
responsabilidade solidária em relação às obrigações tributárias de
seus clientes.
Importante!!!
É inconstitucional lei estadual que disciplina a responsabilidade de
terceiros por infrações de forma diversa da matriz geral estabelecida
pelo Código Tributário Nacional (CTN).
Há, neste caso, uma inconstitucionalidade formal.
Ao ampliar as hipóteses de responsabilidade de terceiros por
infrações, prevista pelos arts. 134 e 135 do CTN, ou tratar sobre o
tema de maneira diferente, a lei estadual invade competência do
legislador complementar federal para estabelecer as normas gerais
na matéria (art. 146, III, “b”, da CF/88).

218

Atualização – Informativos STF e STJ


Caso concreto: é inconstitucional lei estadual que atribui
responsabilidade tributária solidária por infrações a toda pessoa que
concorra ou intervenha, ativa ou passivamente, no cumprimento da
obrigação tributária, especialmente a advogado, economista e
correspondente fiscal.
STF. Plenário. ADI 4845/MT, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
13/2/2020 (Info 966).

• DIREITO FINANCEIRO
As receitas provenientes do adicional criado pelo art. 82, § 1º, do
ADCT não podem ser computadas para efeito de cálculo da
amortização da dívida do Estado; tais recursos devem, no entanto,
ser considerados para cálculo do montante mínimo destinado à saúde
e à educação.
O art. 82, § 1º do ADCT permite que os Estados aumentem em até
2% a alíquota do ICMS que é cobrado sobre produtos e serviços
considerados supérfluos.
O valor arrecadado com esses 2% a mais deverão ser destinados
exclusivamente ao Fundo Estadual de Combate e Erradicação da
Pobreza: Art. 82.
Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem instituir Fundos
de Combate à Pobreza, com os recursos de que trata este artigo e
outros que vierem a destinar, devendo os referidos Fundos ser
geridos por entidades que contem com a participação da sociedade
civil. § 1º Para o financiamento dos Fundos Estaduais e Distrital,
poderá ser criado adicional de até dois pontos percentuais na alíquota
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS, sobre
os produtos e serviços supérfluos e nas condições definidas na lei
complementar de que trata o art. 155, § 2º, XII, da Constituição, não
se aplicando, sobre este percentual, o disposto no art. 158, IV, da
Constituição. (...)
As receitas provenientes do adicional previsto pelo § 1º do art. 82 do
ADCT não podem ser consideradas para efeito de cálculo da
amortização da dívida do Estado (não podem ser incluídas no cálculo
da dívida pública do Estado com a União).
Por outro lado, tais recursos devem sim ser considerados para efeito
de cálculo do montante mínimo destinado à saúde e à educação.

219

Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. ACO 727/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
13/2/2020 (Info 966).

• ICMS
A norma do art. 20, § 6º, I, da LC 87/96 não confere o crédito a
quem promove as saídas isentas, mas ao contribuinte que adquire os
produtos agropecuários ao abrigo da isenção.

A exceção prevista no art. 20, § 6º, I, da LC 87/96, que permite a


manutenção de créditos nas operações que envolvem produtos
agropecuários, não é destinada àquele que realiza a venda
contemplada pela isenção, mas ao contribuinte da etapa posterior,
que adquire a mercadoria isenta do imposto e que tem a sua
operação de saída normalmente tributada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.643.875-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 19/11/2019 (Info 663).
Obs: existem julgados da 2ª Turma do STJ concedendo o direito à
compensação, mas sem enfrentar com profundidade esse argumento
acima exposto. Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp
1606333/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 02/02/2017.
Para fins de prova, por enquanto, recomendo a adoção do
entendimento manifestado pela 1ª Turma e divulgado no Info 663 do
STJ.

• IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

A lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente


de atuação das entidades de assistência social contempladas pelo art. 195,
§ 7º, da CF/88.

Tese fixada no RE 566622 – Tema 32:

Redação original:

Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei


complementar. Redação modificada após embargos de declaração:

A lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente


de atuação das entidades de assistência social contempladas pelo art. 195,
§ 7º, da CF, especialmente no que se refere à instituição de contrapartidas
a serem por elas observadas.

220

Atualização – Informativos STF e STJ


STF. Plenário. RE 566622/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
23/2/2017 (repercussão geral – Tema 32) (Info 855).

STF. Plenário. RE 566622 ED/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Rosa Weber, julgado em 18/12/2019 (Info 964.

• IMPOSTO DE RENDA
Não tendo participado do fato gerador do tributo, a declaração
conjunta de imposto de renda não torna o cônjuge corresponsável
pela dívida tributária dos rendimentos percebidos pelo outro.
Não tendo participado do fato gerador do tributo, a declaração
conjunta de imposto de renda não torna o cônjuge corresponsável
pela dívida tributária dos rendimentos percebidos pelo outro. Exemplo
hipotético: João e Carla são casados.
Eles fizeram uma declaração conjunta do imposto de renda. Ocorre
que não se declarou que Carla recebeu R$ 10 mil por serviços
prestados para uma determinada empresa. Houve, portanto, omissão
de rendimentos recebidos.
Ao detectar a omissão, a Receita Federal fez lançamento de auto de
infração contra Carla e João. Não poderia ter feito contra João.
O fato gerador (renda auferida com os serviços prestados) foi
praticado apenas pela mulher. Logo, o marido não pode ser
considerado como solidariamente obrigado.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.273.396-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 05/12/2019 (Info 662).

• IMPOSTO DE RENDA
A isenção de quota condominial do síndico não configura renda para
fins de incidência do Imposto de Renda de Pessoa Física.
Importante!!!
O imposto de renda tem como fato gerador a aquisição da
disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de
qualquer natureza.
Renda, para fins de incidência tributária, pressupõe acréscimo
patrimonial ao longo de determinado período, ou seja, riqueza nova
agregada ao patrimônio do contribuinte.

221

Atualização – Informativos STF e STJ


A quota condominial é a obrigação mensal imposta a todos os
condôminos para cobrir gastos necessários à manutenção de um
condomínio.
Trata-se, portanto, de uma despesa, um encargo que é suportado
pelos condôminos. Assim, a dispensa do pagamento das taxas
condominiais concedida ao síndico pelo trabalho por ele exercido não
pode ser considerada como pró-labore, rendimento nem tampouco
como acréscimo patrimonial.
Logo, não está sujeita à incidência do imposto de renda, sob pena,
inclusive, de violar o princípio da capacidade contributiva.
Quando o síndico deixa de pagar a quota condominial não há uma
alteração entre o patrimônio preexistente e o novo.
Não há o ingresso de riqueza nova em seu patrimônio que justifique a
inclusão do valor correspondente à sua quota condominial como
ganho patrimonial na apuração anual de rendimentos tributáveis.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.606.234-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 05/12/2019 (Info 662).

• CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS
Os meros cerealistas não têm direito ao crédito presumido de
PIS/PASEP e Cofins.
Têm direito ao crédito presumido de PIS/PASEP e Cofins as pessoas
jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias por meio
de processo de industrialização de grãos de soja, milho e trigo
adquiridos de pessoa física, cerealista ou cooperado pessoa física. Os
meros cerealistas não têm direito ao crédito presumido de PIS/PASEP
e Cofins.
Para fazer jus ao benefício fiscal, a sociedade interessada deve
produzir mercadorias, ou seja, deve realizar processo de
industrialização a partir de grãos de soja, milho e trigo adquiridos de
pessoa física, cooperado pessoa física ou cerealista, transformando-
os em outros (v.g. óleo de soja, farelo de soja, leite de soja, óleo de
trigo, farinha de trigo, pães, massas, biscoitos, fubá, polenta etc).
Se a pessoa faz apenas limpeza, secagem, classificação e
armazenagem, isso não ocasiona transformação do produto, razão
pela qual essa sociedade será considerada como mera cerealista, não
podendo aproveitar o crédito.

222

Atualização – Informativos STF e STJ


STJ. 2ª Turma. REsp 1.670.777-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 15/10/2019 (Info 669).
• RESTITUIÇÃO DE VALORES DEVIDOS AO CONTRIBUINTE
Qual é o termo inicial da incidência de correção monetária no
ressarcimento de créditos tributários escriturais?
O termo inicial da correção monetária de ressarcimento de crédito
escritural excedente de tributo sujeito ao regime não cumulativo
ocorre somente após escoado o prazo de 360 dias para a análise do
pedido administrativo pelo Fisco (art. 24 da Lei nº 11.457/2007).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.767.945-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado
em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1.003) (Info 670).
• PIS E COFINS
Creditamento de PIS/Cofins e bens ou serviços provenientes de
empresa localizada fora da Zona Franca de Manaus (ZFM).
É cabível o creditamento de PIS e Cofins decorrentes da aquisição de
bens e serviços provenientes de empresas localizadas fora da Zona
Franca de Manaus (ZFM), quando tais bens e serviços não são
revendidos ou utilizados como insumo em produtos ou serviços
sujeitos a alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela
contribuição.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.259.343-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel.
Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 03/03/2020 (Info 670).
• IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO
Os serviços de capatazia integram a base de cálculo do imposto de
importação
Atenção! Concursos federais Mudança de entendimento!
Os serviços de capatazia estão incluídos na composição do valor
aduaneiro e integram a base de cálculo do imposto de importação.
Os serviços de capatazia integram o conceito de valor aduaneiro,
tendo em vista que tais atividades são realizadas dentro do porto ou
ponto de fronteira alfandegado na entrada do território aduaneiro.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.799.306-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel.
Acd. Min. Francisco Falcão, julgado em 11/03/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1014) (Info 671).
• ICMS

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Atualização – Informativos STF e STJ


A imunidade tributária prevista no art. 155, § 2º, X, “b”, da CF/88
não se aplica para operação interna de aquisição interna lubrificante.
Não incide a imunidade tributária prevista no art. 155, § 2º, X, “b”,
da CF/88 se houve apenas a aquisição interna de óleo, não tendo
havido, portanto, operação interestadual de venda de lubrificantes.
Não incidirá ICMS “sobre operações que destinem a outros Estados
petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele
derivados, e energia elétrica” (art. 155, § 2º, X, “b”, da CF/88).
STF. 1ª Turma. RE 642564 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 30/6/2020 (Info 984).
• ISS
É possível a cobrança de ISS sobre serviços de distribuição e venda
de bilhetes e demais produtos de loteria e similares, sendo a base de
cálculo o valor da remuneração da prestação do serviço.
Atenção! PGM
É constitucional a incidência de ISS sobre serviços de distribuição e
venda de bilhetes e demais produtos de loteria, bingos, cartões, pules
ou cupons de apostas, sorteios e prêmios (item 19 da Lista de
Serviços Anexa à Lei Complementar 116/2003). Nesta situação, a
base de cálculo do ISS é o valor a ser remunerado pela prestação do
serviço, independentemente da cobrança de ingresso, não podendo
corresponder ao valor total da aposta.
STF. Plenário. RE 634764, Rel. Gilmar Mendes, julgado em
08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 700) (Info 984).
• IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Incide a imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da
Constituição Federal), no caso de contrato de alienação fiduciária em
que pessoa jurídica de direito público figure como devedora.
Importante!!!
Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante
alienação fiduciária, por pessoa jurídica de direito público.
STF. Plenário. RE 727851, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020
(Repercussão Geral – Tema 685) (Info 985).

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Atualização – Informativos STF e STJ


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Atualização – Informativos STF e STJ


ECA - Estatuto Criança e Adolescente

• INTERNAÇÃO
É legal a internação de adolescente gestante ou com o filho em
amamentação, desde que assegurada atenção integral à sua saúde,
bem como as condições necessárias para que permaneça com seu
filho durante o período de amamentação.
Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou
com filho em amamentação, desde que seja garantida atenção
integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições
necessárias para que a adolescente submetida à execução de medida
socioeducativa de privação de liberdade permaneça com o seu filho
durante o período de amamentação (arts. 60 e 63, § 2º da Lei nº
12.594/12 - SINASE).
STJ. 5ª Turma. HC 543.279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

• PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE


O art. 78 do ECA traz um dever que obriga todos os que integram a
cadeia de consumo, abrangendo o editor da revista ou publicação, o
transportador, o distribuidor e o comerciante.
O art. 78 do ECA prevê o seguinte: Art. 78. As revistas e publicações
contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes
deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a
advertência de seu conteúdo.
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que
contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam protegidas
com embalagem opaca.
Esse dever de zelar pela correta comercialização de revistas
pornográficas, em embalagens opacas, lacradas e com advertência de
conteúdo, não se limita aos editores e comerciantes, mas se estende
a todos os integrantes da cadeia de consumo, inclusive aos
transportadores e distribuidores.
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Atualização – Informativos STF e STJ


STJ. 1ª Turma.REsp 1.584.134-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

• ADOÇÃO
O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do
Código Civil/1916 não pode ser alterado para a inclusão dos nomes
dos ascendentes dos pais adotivos.
O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do
Código Civil/1916 não pode ser alterado para a inclusão dos nomes
dos ascendentes dos pais adotivos.
O ordenamento jurídico vigente ao tempo em que realizada a adoção
simples da peticionante por meio de escritura pública (natureza
contratual), previa que o parentesco resultante da adoção era
meramente civil e limitava-se ao adotante e ao adotado, não se
estendendo aos familiares do adotante visto que mantidos os vínculos
do adotado com a sua família biológica.
Não se aplica o regime jurídico de adoção do ECA para este caso.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.387-MG, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/02/2020 (Info
666).

• CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA DOS PROGRAMAS DE RÁDIO E TV


Emissora de TV pode ser condenada ao pagamento de indenização
por danos morais coletivos em razão da exibição de filme fora do
horário recomendado pelo Ministério da Justiça.
Importante!!!
Segundo decidiu o STF, é inconstitucional a expressão “em horário
diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA.
Assim, o Estado não pode determinar que os programas somente
possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma
imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar
censura.
O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A
classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória) .
(STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
31/8/2016).
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Vale ressaltar, no entanto, que a liberdade de expressão, como todo
direito ou garantia constitucional, exige responsabilidade no seu
exercício, de modo que as emissoras deverão resguardar, em sua
programação, as cautelas necessárias às peculiaridades do público
infanto- juvenil.
Logo, a despeito de ser a classificação da programação apenas
indicativa e não proibir a sua veiculação em horários diversos daquele
recomendado, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e
violações ao direito à programação sadia, previsto no art. 221 da
CF/88.
Diante disso, é possível, ao menos em tese, que uma emissora de
televisão seja condenada ao pagamento de indenização por danos
morais coletivos em razão da exibição de filme fora do horário
recomendado pelo órgão competente, desde que fique constatado
que essa conduta afrontou gravemente os valores e interesses
coletivos fundamentais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.463-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 19/11/2019 (Info 663).

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