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Un. 1 - Breve História Dos Jogos e Brincadeiras
Un. 1 - Breve História Dos Jogos e Brincadeiras
INTRODUÇÃO
Sejam bem-vindos à unidade da disciplina Educação: Jogos e Brincadeiras. Esperamos que gostem e que
construam conhecimentos pertinentes à sua área de estudo.
Nesta unidade pretendemos investigar a história dos jogos e das brincadeiras.
Faremos alguns apontamentos históricos sobre a Antiguidade Greco-romana, passando pela Idade Média
até chegarmos à Modernidade histórica. Faremos uma análise mais profunda sobre a inclusão dos jogos e
brincadeiras na educação.
Vamos iniciar nossos estudos com uma simples pergunta: Você já brincou hoje?
Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola,
mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem
valor para a formação do homem. (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)
Se pensarmos na história social do homem, vamos, em muitos casos, encontrá-lo jogando e brincando.
Parece-nos natural a brincadeira para a criança; elas brincam e ponto. E, como diz Drummond, brincar é
ganhar tempo.
O homem é um ser complexo e alcança diversas dimensões. Podemos pensar no homo culturalis (que
produz e é produzido pela cultura), ou no homo faber (o que faz, produz) ou na dimensão do homo sapiens (o
que conhece e aprende), ou ainda, no homo ludens (o que brinca, o que cria). Esta é a dimensão humana que
iremos abordar em nossa investigação.
O jogo e a brincadeira são fenômenos culturais que estão presentes na vida humana desde a Pré-história.
Parece-nos que esses fenômenos são inatos nos seres humanos e também nos animais; como exemplo, o leão
aprende a caçar e a lutar brincando e jogando com seus pais ou irmãos. É através de jogos e brincadeiras que
construímos nossos conhecimentos.
Os antigos gregos já sabiam da importância do brincar e do jogar para o desenvolvimento físico e mental
do homem. Hoje sabemos que, além do aspecto físico e mental, o brincar favorece o desenvolvimento afetivo
e social, o que facilita a nossa convivência em sociedade.
Ligados ao esporte, os Jogos Olímpicos são um grande exemplo da importância dada ao jogo na
antiguidade grega. Esses jogos consideravam a disputa entre pessoas. Pressupõe-se que foram iniciados em
776 a.C. e eram realizados em honra a Zeus. Observe as imagens a seguir:
Observe que as roupas vestidas pelas crianças possuem padrões de adultos e suas feições não lembram,
nem um pouco, o universo infantil. Na chegada do século XV, uma nova concepção sobre ser criança estava
em curso e trazia mudanças que apontavam para o entendimento da criança como ser social, ocupando um
papel importante nas relações familiares e na comunidade onde crescia e se desenvolvia: um indivíduo com
características e necessidades próprias, passível de ser educado através de uma ação pedagógica que
reconhecesse suas diferenças individuais e a sua condição de ser criança
Podemos afirmar que a concepção de infância que conhecemos hoje vem evoluindo e mudando com o
decorrer do tempo. É no final do século XV que, de fato, podemos observar alguma diferença no trato e no
entendimento da infância. Como exemplo, podemos citar a instituição escolar. A princípio, o que existiam
eram salas de aula, frequentadas, ao mesmo tempo, por alunos de todas as idades – crianças, jovens e adultos
-, geralmente do gênero masculino. As salas continham muitos alunos e não havia uma distinção acentuada
entre as classes sociais.
A partir do século XVI, as crianças adquiriram o direto de estarem mais próximas de seus pais graças à
pressão exercida pela sociedade em função da necessidade de cuidado com as crianças pequenas e de se
desenvolver uma atitude social de afetividade fraterna pelos filhos.
Alguns importantes pensadores de século XVII e XVIII foram, particularmente, fundamentais para a
mudança do conceito de infância, destacando o respeito à condição de ser criança e a valorização da
brincadeira e dos jogos na educação das crianças pequenas. Pensadores que romperam com a educação
tradicionalista proposta pelos jesuítas. A educação adquiria um caráter humanista, valorizando o que se
Pesquisa: Para saber mais a respeito desses pensadores, indicamos os artigos a seguir que
podem ampliar seu referencial teórico. Entre nos sites e leia os artigos da revista Nova Escola:
• Comênio, o pai da didática moderna: http://bit.ly/2Upllbp
• Jean-Jacques Rousseau, o filósofo da liberdade como valor supremo: http://bit.ly/2Ut0vYD
• Pestalozzi, o teórico que incorporou o afeto à sala de aula: http://bit.ly/2UncOpj
No entanto, quando falamos em jogos e brincadeiras na educação escolar, um nome, em especial, deve ser
lembrado: Froebel.
Frederico Froebel é considerado um filósofo do período romântico; nasceu na Alemanha em 1782 e
morreu 1852. Além de Filosofia, estudou Biologia, Matemática e Psicologia. Sua família pertencia à Igreja
Luterana, o que influenciou fortemente sua obra e pensamento e também o individualismo burguês
predominante no período. Em sua teoria, o autor discute a relação entre o Homem, a Natureza e Deus.
Acreditava que a educação, desde o nascimento, traria uma unidade entre essas três forças.
Veja o que Kishimoto (2002) diz sobre a união dessa tríade proposta por Froebel:
Froebel mostra a unidade entre o homem, seu criador e a natureza, sua conexão interna,
aponta como a educação pode garantir essa unidade, desde a infância por meio da natureza.
Valoriza a individualidade do ser humano, que se completa na coletividade. Ao perceber a
unidade ou continuidade entre a infância, juventude e maturidade, verifica a necessidade de
educar a criança desde que nasce para garantir o pleno desenvolvimento do ser humano.
(KISHIMOTO, 2002, p. 60)
Segundo Kishimoto, Froebel indica, como caminho do desenvolvimento humano, essa unidade, formada
entre o ser humano, o seu criador e a natureza. Diferente das ideias medievais, esclarece o fato de que o
desenvolvimento passa por diferentes estágios, como a infância, a adolescência e a vida adulta.
Froebel valorizava a livre expressão através do jogo e da brincadeira na educação, apontando a relevância
dessas duas atividades na vida pré-escolar da criança. Com esse pensar, ele criou a ideia de “Jardim de
Infância”, (Kindergarten, em alemão), desenvolvendo uma metodologia baseada nos dons e ocupações.
Froebel conheceu e trabalhou com Pestalozzi, pedagogo suíço que revolucionou e humanizou nosso
entendimento sobre o que seja infância. A partir das ideias de Pestalozzi, ele criou o Jardim de infância, um
lugar onde a criança poderia conviver com outras e desenvolver-se de forma espontânea, tendo respeitada a
sua condição de ser criança.
Podemos considerar que o jardim de infância tenha sido a primeira proposta curricular escolar para a
infância com um enfoque teórico-prático, trabalhando com tecelagem, desenho, pintura, recorte, colagem,
entre outras atividades práticas.
Dessa forma, foi concebida uma educação que promove a criatividade, a espontaneidade e a
autorrealização da criança. Froebel, para desenvolver sua proposta pedagógica, criou os Dons, que são
materiais, como bola, cubo, varetas, anéis etc., que permitem atividades denominadas Ocupações. Essa
proposta tem os jogos e as brincadeiras como eixo da pedagogia. Veja a relação dos dons:
A pessoa que iria cuidar das crianças e educá-las Froebel denominou de Jardineira, a qual seria
responsável pelo desenvolvimento das atividades do Jardim da Infância.
A teoria de Froebel indicava que as Jardineiras criariam momentos pedagógicos dirigidos, com base nos
dons, e deixariam momentos livres em que a criança poderia escolher de qual jogo ou brincadeira gostaria de
participar naquele momento. Assim a criança se desenvolveria de forma autônoma.
Certamente, as ideias de Froebel deram início a um novo entendimento sobre os jogos e as brincadeiras
aplicadas e desenvolvidas no ambiente escolar infantil.
Pesquisa: Para saber mais sobre a vida e a obra de Froebel, visite o site da revista Nova
Escola, onde você encontrará quatro textos: 1- O formador das crianças pequenas; 2- Treino de
habilidades; 3- Educação espontânea; 4 Biografia e contexto histórico. Disponível em:
http://bit.ly/2UrHFkk
Na contemporaneidade, os jogos e brincadeiras são vistos como fundamentais para o processo de ensino e
aprendizagem das crianças. A resistência inicial dos educadores a incluírem esses tipos de atividades no
currículo escolar foi se desfazendo com o tempo e a nova prática foi ganhando espaço no âmbito
educacional. Veja como o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) trata a questão:
Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por seu lado, a cultura
corporal de cada grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas nas quais o
movimento é aprendido e significado. (BRASIL, 1998, p.20)
Para a criança, os momentos de jogos e brincadeiras são ricos para a sua aprendizagem e
desenvolvimento, além de serem momentos de expressividade das crianças; são momentos que, segundo o
RCNEI, revelam uma cultura corporal por influência do grupo social em que a criança está inserida.
O documento ainda ressalta a importância do jogo na escola, principalmente em relação ao
estabelecimento de regras.
As instituições devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e brincadeiras que
contemplem a progressiva coordenação dos movimentos e o equilíbrio das crianças. Os jogos motores de
regras trazem também a oportunidade de aprendizagens sociais, pois, ao jogar, as crianças aprendem a
competir, a colaborar umas com as outras, a combinar e a respeitar regras (BRASIL, 1998, p. 35).
No documento, é claro o incentivo à apropriação dos jogos e das brincadeiraspela escola, inicialmente,
tendo em vista o desenvolvimento físico da criança e, em seguida, pelo fato de esta descobrir a existência de
regras estabelecidas e aprender a respeitá-las. Esse aprendizado, de estabelecer e respeitar as regras, se
levado para além dos muros da escola, contribuirá para que a criança aprenda, também, a viver em uma
sociedade democrática e cidadã.
Finalizamos esta breve história dos jogos e brincadeiras e de sua inserção na escola, sugerindo que você
observe o quadro síntese a seguir, que retrata a visão dos jogos e brincadeiras em diferentes épocas:
Parece-nos que essa noção poderá ser razoavelmente bem definida nos seguintes termos: o
jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites
de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias,
dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de
uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”. Assim definida, a noção parece capaz
de abranger tudo aquilo a que chamamos “jogo” entre os animais, as crianças e os adultos:
jogos de força e de destreza, jogos de sorte, de adivinhação, exibições de todo o gênero.
Pareceu-nos que a categoria de jogo fosse suscetível de ser considerada um dos elementos
espirituais básicos da vida. (HUIZINGA, 1996, p. 24)
O autor entende que a existência do jogo é inegável na vida humana, um elemento básico da vida;
demostra que há vários gêneros de jogos e que somos capazes de diferenciar entre uma situação de jogo e a
vida real. Reconhece, também, a cultura como possuidora de um caráter lúdico. O jogo adquire uma função
significante na vida humana, inclusive o caráter de competição que os jogos apresentam.
Para aprofundar o conceito de Homo Ludens sugerimos o livro de Johan Huizinga: Homo
Ludens: o jogo como elemento da cultura. O livro é uma importante referência para
compreendermos a relação entre o homem e o jogo do ponto de vista histórico e cultural.
A partir dos jogos e brincadeiras, o homem cria uma cultura lúdica. Gilles Brougère, autor francês,
propicia-nos interessantes ideias sobre essa manifestação cultural, contribuindo para entendermos melhor
esse conceito:
A cultura lúdica é, então, composta de um certo número de esquemas que permitem iniciar a
brincadeira, já que se trata de produzir uma realidade diferente daquela da vida quotidiana:
[…]
A cultura lúdica compreende evidentemente estruturas de jogo que não se limitam às de
jogos com regras. […]
Mas a cultura lúdica compreende o que se poderia chamar de esquemas de brincadeiras,
para distingui-los das regras stricto sensu. Trata-se de regras vagas, de estruturas gerais e
imprecisas que permitem organizar jogos de imitação ou de ficção. [...] (BROUGÈRE, 1998,
s/p.)
Segundo Brougère (1998), a cultura lúdica também se estabelece com as brincadeiras ou jogos de faz-de-
conta. Essas brincadeiras, como diz o autor, são portadoras de “regras vagas”. Nesse sentido, muitas