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Texto Secção 9 pt-1
Texto Secção 9 pt-1
Revista Latino-Americana
Corpos,Latino-Americana
Revista de Estudos
emoções e sociedade
de Estudos sobre
sobre Corpos,
Corpos, Emoções
Emoções ee Sociedade
Sociedade www.relaces.com.ar
www.relaces.com.ar
comunidade e a ação comum; a relação entre as etapas econômicas de produção, distribuição e consumo; e a relação
da Rede com outras organizações e com o Estado.
A compreensão da Rede e de sua atividade política diária nos permite refletir sobre a dinâmica sustentada por um
processo simultâneo de empoderamento mútuo entre ações de autonomia e antagonismo. Isso nos convida a
repensar a abordagem clássica dos movimentos sociais e socioambientais como instituições grandes, estáveis,
hierárquicas e orgânicas, com discursos e ações elaborados e "consensuais" que enfrentam um "inimigo" claro ou
demandas específicas ao Estado. A experiência coletiva da Rede transforma a sensibilidade de seus protagonistas,
revalorizando seus modos de existência e seus territórios, ampliando a luta antagônica para a defesa e a consolidação
de processos autônomos, implantando estratégias e práticas que vão contra e além do capital e do extrativismo
neocolonial.
Palavras-chave: Agroecologia; emoções; autonomia; antagonismo; bens comuns.
Resumo
Este artigo analisa as histórias individuais e as experiências coletivas dos membros da Rede Uruguaia de Agroecologia.
A abordagem teórica destaca o vínculo entre a ecologia política e a sociologia dos corpos e das emoções. Ele enfoca: a
relação entre a esfera produtiva-reprodutiva; a relação entre os estágios econômicos de produção, distribuição e
consumo; a relação com a natureza; a construção da comunidade e a comunalidade e a relação da Rede com outras
organizações e com o Estado.
A compreensão da Rede e de suas atividades políticas diárias nos permite refletir sobre a dinâmica simultânea entre
ações de autonomia e antagonismo. Isso nos convida a repensar a abordagem clássica dos movimentos sociais e
socioambientais como grandes instituições orgânicas, estáveis e hierárquicas, com discursos e ações elaborados e
"consensuais" diante de um "inimigo" claro ou de demandas específicas ao Estado. A experiência coletiva da Rede
transforma as sensibilidades de seus protagonistas, reavaliando seus modos de existência e sua relação entre
territórios, ampliando a luta antagônica para a defesa e a consolidação de processos autônomos, implantando
estratégias e práticas contra e além do capital e do extrativismo neocolonial.
Palavras-chave: Agroecologia; emoções; autonomia; antagonismo; bens comuns.
* Doutor em Sociologia, Professor Associado em tempo integral. Área de pesquisa: Sociologia política e economia política. Tópicos
específicos: Economia social e solidária e sociologia da alimentação. Atual docente na área de Teoria. Ex-coordenador da Unidade
de Extensão e Atividades em Meio Ambiente. Pesquisador do Sistema Nacional de Pesquisadores, Agência Nacional de Inovação e
Pesquisa, Nível I. ORCID: 0000-0001-7071-3602.
** Graduação em Sociologia, Assistente. Área de pesquisa: Sociologia política e economia política. Temas específicos: ecologia
[54]
política e produção dos bens comuns. ORCID: 0000-0002-7906-3439.
*** Bacharel em Sociologia, Assistente. Tese sobre consumidores agroecológicos em Montevidéu. Participa de vários projetos de
pesquisa relacionados a temas como Economia Social e Solidária, agroecologia e alimentação do ponto de vista sociológico. ORCID:
0009-0000-9708-8114.
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Revista
Revista Latino-Americana
Latino-Americana de
de Estudos
Estudos sobre
sobre Corpos,
Corpos, Emoções
Emoções ee Sociedade
Sociedade Idonézia Collodel-Benetti e Walterwww.relaces.com.ar
Ferreira de
Oliveira
de
A relevância da pesquisa se baseia na
de 2021-março
com grande potencial para pensar na reestruturação
problematização das maneiras pelas quais nós,
de
necessária para desenvolver sistemas alimentares
humanos, nos produzimos em um ambiente que
abril de 2023-julho
mais justos, democráticos e sustentáveis.
também nos compõe, de um ponto de vista integral
A agroecologia como modo de produção e e com base na alimentação. A busca por questionar
54-66, dezembro
reprodução da vida tem implicações diretas nos as práticas emergentes "de uma maneira diferente"
corpos e nas emoções daqueles que a realizam, baseia-se na necessidade de compreender as redes
constituindo formas específicas de percepção, afetivas que são constituídas por meio da ação
13, p. 36-50,
sensação e emoção (Scribano, 2009), que fazem comum para reproduzir a vida.
parte do modo como as pessoas habitam e tecem
um vínculo afetivo, simbólico e estético com seus N°37, Ano 15,
territórios (Giraldo, 2018). Contextualização
O objetivo do artigo será analisar as A RAU é um espaço onde produtores,
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41,
[56]
Corpos, emoções e sociedade
diretrizes gerais para o período. Além desses espaços A fim de desenvolver alternativas de certificação
de decisão, a RAU tem grupos e comissões participativa que garantam o acesso de pequenos
consultivas e, por meio da Associação ACAEU, possui produtores a produtos orgânicos.
um sistema de certificação de produtos por meio do
Em 2005, a RAU foi formalmente criada, e a
Sistema Participativo de Garantia (SGP), que é uma
certificação participativa foi defendida por meio de
parte importante do cotidiano da organização. No
várias ações coletivas até ser finalmente aprovada
último ano, a certificadora não foi autorizada, o que
em 2008 em um novo marco regulatório. Desde o
levou a mobilizações e confrontos com o governo.
início, a RAU vem consolidando suas organizações
Atualmente, a rede é composta por oito nacionais e regionais, tendo realizado cinco
regiões, com 253 pessoas, de acordo com a pesquisa encontros nacionais em 16 anos de existência. Como
realizada em 2022 (julho). As pessoas/cores que observado, o primeiro período foi marcado por
compõem cada região às vezes representam um questões de certificação e podemos dizer que agora
indivíduo, um grupo familiar, uma organização ou se inicia um novo contexto com o Plano Nacional de
um coletivo. Para estimar o número de pessoas Agroecologia, aprovado no mandato do governo
envolvidas com agroecologia e vinculadas à RAU por anterior (2019), mas com problemas orçamentários
meio de seu trabalho, perguntamos sobre o tipo de significativos para sua implementação.
representação em cada região e descobrimos que
135 pessoas participam como indivíduos, 91
representam grupos familiares, 12 representam Chaves conceituais
coletivos e 1 representa uma organização sem fins A abordagem da sociologia do corpo e das
lucrativos. Por sua vez, das pessoas que representam emoções e dos afetos (Scribano, 2009; Jasper, 2011;
grupos, descobrimos que em Toronjil há 4 que Vergara, 2014; Alatorre, 2014; Cervio, 2012) e da
pertencem a 3 grupos e em Santoral 18 que ecologia política (Alimonda, 2011; Martín e Larsimont,
pertencem a 3 grupos. 2016; Escobar, 2014; Giraldo e Toro, 2020; Gudynas,
Reconstruindo a história da RAU, podemos 2009), baseia-se na ideia de que as pessoas são
entender como, paralelamente à consolidação do "afetividades incorporadas" em vez de seres
modelo de produção hegemônico baseado no racionais (León, 2011), ou seja, que a razão e os
CORPO,EMOÇÕESESOCIEDADE,Córdoba,NN°°4317,, Ano1153,,p.5346--6560,,ADbicriiel m20b2r3e-2Ju0l2io1-2M02a3rzo2022
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Anabel
IdonéziaRieiro, Daniel Pena
Collodel-Benetti e Gonzalo
e Walter Karageuzián
Ferreira de
Oliveira
de
laços de interdependência (relações de cuidado
de 2021-março
entre os seres humanos) e de ecodependência
de
(múltiplas trocas de energia e matéria com a
abril de 2023-julho
natureza).
Essas fraturas se expressam, no contexto
54-66, dezembro
latino-americano, na expansão e no
aprofundamento da política extrativista
13, p. 36-50,
neocolonial, que, nas palavras de Machado Aráoz
(2012), implica uma violência colonial expropriatória
como "separação radical entre certos corpos e seus N°37, Ano 15,
respectivos territórios" (Machado Aráoz, 2012: 58) e,
simultaneamente, uma violência performativa que
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41,
Metodologia
A abordagem metodológica é qualitativa;
técnicas qualitativas e quantitativas foram usadas e
trianguladas para produzir os dados. Trata-se de um
estudo de caso (Stake, 1994; Goode e Hatt, 1969)
em que o objeto de investigação será a Rede de
Agroecologia do Uruguai, sendo as unidades de
estudo (Lijhpart, 1975) os núcleos
individuais/familiares, os coletivos regionais e a
coordenação nacional da Rede. Tomar a RAU como
um estudo de caso nos permite empregar diversas
estratégias para responder às nossas perguntas
(Yin, 1994) e, ao mesmo tempo, possibilita a
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°37, Ano 13, p. 36-50, dezembro de 2021-março de
geração e a discussão de conceitos teóricos
(Mitchell, 1983).
A materialidade dos alimentos convive com
um universo simbólico que orienta a compreensão
do mundo (Soler e Pérez, 2014), contendo
diferentes narrativas sobre ruralidade e
urbanidade, questionando valores e práticas
normalizadas nesse campo. Para acessar esse
universo simbólico, que ocorre tanto em nível
singular quanto coletivo no campo agroecológico,
são geradas informações em seis níveis:
1. Observações em 6 plenárias regionais
r e a l i z a d a s entre junho e agosto de 2018,
instâncias de aproximadamente duas horas nas
quais foram observadas a dinâmica e o clima geral,
os conteúdos tratados e a forma como as decisões
são tomadas.
2. Entrevistas coletivas realizadas com as sete
regiões que compõem a Rede e a coordenação
nacional durante 2018. Foram entrevistas
semiestruturadas com grupos mistos compostos
por 5 a 10 pessoas por região. O roteiro consistiu
em 50 perguntas orientadoras organizadas nas
seguintes dimensões gerais: histórico, composição
2022
[58]
Corpos, emoções e sociedade
animais, abrir e fechar estufas ou cuidar da casa. na produção da terra em que vivem:
[59]
Anabel Rieiro, Daniel Pena e Gonzalo Karageuzián
Minha filha fica muito mais em casa do que ele, redes no setor rural. Há, portanto, uma "politização
meu genro e eu, porque nós dois trabalhamos e, da ordem doméstica" (Segato, 2018) e uma prática
em vez de trabalhar, ela estuda, e você viu que a de cuidados diários que é transferida para a própria
universidade é um momento para ficar em casa. organização.
Então, ela cuida mais da casa, eu faço algumas
coisas, lavo roupa, faço algumas limpezas como
os tetos, que ela esquece, mas ela limpa mais. Corpos que habitam o tecido da vida
(Entrevista individual, 2019) Para os produtores familiares tradicionais
De qualquer forma, a rede não é composta que fizeram a transição para a agroecologia, bem
em sua maioria por homens, mas sim o contrário. De como para os produtores e consumidores neorurais
acordo com a pesquisa de 2022 da ligados à agroecologia, as práticas cotidianas
Aproximadamente 253 membros participam da RAU, colocam a alimentação e a saúde no centro como
131 são mulheres e 122 são homens. A ligação entre materialização d o s vínculos de interdependência
a divisão sexual do trabalho reprodutivo e produtivo e eco-dependência. O cuidado com a vida humana e
foi problematizada ainda mais nos últimos anos com não humana rompe a ficção do ser humano como
as atividades que algumas mulheres da RAU um ser autossuficiente e independente (Herrero,
começaram a realizar. Algumas das mais relevantes 2015; Garcés, 2013) e reflete as pessoas na Rede
são os intercâmbios internacionais, um curso sobre como corpos-entre-corpos (Giraldo e Toro, 2020):
ecofeminismo e as reuniões de mulheres da Rede Para mim, é uma forma de abordar e promover a
(2018, 2022): vida (...) uma filosofia de vida (...) levando em
Uma vez, algumas mulheres brasileiras vieram conta o meio ambiente e o fato de fazermos
(...) e perguntaram quanto contribuíamos para a parte desse ecossistema e de sermos seres vivos,
casa, então fizemos uma lista com elas das nos alimentando de forma saudável. (Entrevista
tarefas diárias que fazíamos, em uma fileira, coletiva, Regional San José, 2018).
colocamos um valor nelas se pagássemos alguém Corpos que habitam territórios e são
para fazê-las... finalmente percebemos que todas habitados por eles, que afetam a terra p o r m e i o
nós contribuímos para a casa muito mais do que d e seu trabalho, criatividade e cultura, e que são
pensávamos. (Reunião de mulheres, 2018). afetados e nutridos por ela de forma cada vez mais
atenta, sensíveis às suas pequenas mudanças, estão
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41, Ano 15, p. 54-66, abril de 2023-julho de
Um último elemento a ser destacado na
análise surge do contraste entre os discursos que constituindo uma proximidade sustentada ao longo
emergem dos espaços principalmente do tempo, que muda as percepções do "ambiente" e
organizacionais e os discursos dos diferentes aprofunda o que Giraldo e Toro (2020) chamam de
membros da Rede pesquisados no território. Nos "empatia ambiental".
discursos institucionais, os benefícios da Pelo menos mudou para melhor (...) Em ficar por
agroecologia como um modo de produção aí 'curando', 'curando'. Aplicar produtos tóxicos,
alternativo ao hegemônico (fornecer alimentos mais não era 'curar', mas o engenheiro vinha e falava
saudáveis para as pessoas e cuidar do meio 'você tem que aplicar tal e tal cura porque senão
ambiente) são geralmente destacados/defendidos; o tomate não cresce' (....). Também a outra coisa
no entanto, o discurso organizacional não enfatiza o que você vê é como o solo está melhorando, os
seguinte bichos, as minhocas, tudo, você via de novo que
-Como emergiu das entrevistas individuais, o tinha morrido, não tinha nada, o solo estava cada
impacto que a agroecologia tem na vida cotidiana e vez mais pobre. (Entrevista coletiva, Mulheres
na esfera doméstica daqueles que a praticam, por Produtoras de Santoral, 2019).
meio do autoconsumo, ou seja, como um modo de
O último discurso expressa o aspecto
existência e não como um modo de produção. A
regenerativo da agroecologia em relação aos
relação com os alimentos encontra uma nova forma
ecossistemas naturais. Por trás dos conceitos de
ética e estética de relação social, organização política
"saúde", "alimento" e "solo", frequentemente
e relação com a natureza que tem um impacto direto
reiterados nos discursos dos membros da Rede,
na reprodução da vida cotidiana. Obviamente, não é
encontramos a insistência em considerar a
coincidência que os corpos feminizados, que são mais
reprodução da vida em toda a sua multiplicidade
responsáveis por sustentar a vida no "patriarcado
como a tarefa central da agroecologia. A frase "tudo
assalariado" (Federici, 2018), assumam maior
se v ê de novo",
2023
A referência aos pequenos sinais de vida visíveis no as entrevistas da experiência da agroecologia como
espaço habitado (casa e local de trabalho a o uma "filosofia de vida", uma insistência de que suas
m e s m o t e m p o ) é um detalhe que mostra a práticas vão muito além do fato de não usar
percepção e a atenção cuidadosa ao funcionamento agroquímicos para a produção, mas implicam a
ecossistêmico, entendendo-se como parte da teia da transformação gradual, porém integral, dos modos
vida, um olhar afinado, uma sensibilidade ampliada e de existência (Guattari, 1996), de se relacionar entre
disponível para perceber as menores variações da os humanos e com os não humanos, uma
dependência recíproca das formas de vida. transformação corporal, sensível, temporal e
relacional. Uma mudança no que "tem valor", que
Nessa linha, outros produtores mencionam a
prioriza a permanência intergeracional na terra, o
integração de animais para produção mista,
desfrute da ação concreta, a comoção com as
buscando complementaridades entre diferentes
mudanças e os frutos do território habitado, a
formas de vida, como outras formas de contribuir
construção de redes de vizinhança etc. A natureza,
para a cadeia ecossistêmica a partir da atividade
longe de ser vista como uma externalidade, é
humana em seu território. Isso contrasta (mais
entendida como parte do corpo prolongado que é
explicitamente para aqueles produtores tradicionais
habitado por dentro e em interação.
que fizeram a transição) com o modelo convencional
e o uso de agrotóxicos, que gera morte direta na
vida não humana, empobrecimento do solo e várias
A produção dos bens comuns e a agroecologia
doenças mencionadas naqueles que os aplicaram:
problemas respiratórios, alergias e irritações na pele, Com base na agroecologia, são formadas
sangramento na urina etc. Esse modelo hegemônico redes territoriais com vários atores locais, regionais,
de produção opera sob o mandato da maximização nacionais e internacionais. Nesse sentido, são
do lucro e da extração de mais-valia energética, comuns os vínculos de intercâmbio entre produtores
típico do sistema extrativista predatório em nível e grupos de consumidores com instituições
geral no Sul Global, onde o círculo fechado do pacote educacionais, projetos de sustentabilidade (hortas
tecnológico agroindustrial (fertilizante-semente- comunitárias, restauração de florestas nativas,
pesticida) impõe uma distância-desafeto e planos de triagem e reciclagem de resíduos etc.),
CORPO,EMOÇÕESESOCIEDADE,Córdoba,NN°°4317,, Ano1153,,p.5541--6664,,ADbicriiel m20b2r3e-2Ju0l2io1-2M02a3rzo2022
de
Rede, os membros participam de outras ações,
de 2021-março
colaborando e se articulando com diferentes
de
coletivos para influenciar o cuidado com a água, a
de 2023-julho
luta contra a Lei de Irrigação, a soja transgênica e as
distâncias mínimas para fumigação, a monocultura
dezembro
florestal para celulose, a defesa de florestas nativas
e áreas protegidas etc. Nesses emaranhados de
51-64, abril
experiências, há uma tendência a se envolver nas
13, p. 54-66,
injustiças socioambientais que as atravessam e
transcendem.
N°37, Ano 15,
Os espaços de intercâmbio de
conhecimentos, como os encontros nacionais, as
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41,
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°37, Ano 13, p. 51-64, dezembro de 2021-março de
(Entrevista individual, 2019).
Podemos concluir, portanto, que, ao contrário d a
economia hegemônica baseada em estruturas que
se fundamentam na ideia do indivíduo em livre
concorrência, no campo agroecológico constrói-se
uma gramática de rede, a partir da qual os corpos
são reconhecidos principalmente dentro de
configurações que são geradas por meio de um
conjunto de vínculos e tramas territoriais.
queira que o outro cresça como agricultor, que Até o final de 2020 e com a proposta de
tenha sucesso. (Entrevista individual, 2018).
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Anabel Rieiro, Daniel Pena e Gonzalo
Anamelva Karageuzián
Olortegui Saldaña
O Plano Nacional de Agroecologia não havia recebido descobrir quais são os mais importantes.
nenhum recurso no orçamento quinquenal do Poder
Executivo enviado ao parlamento. Diante dessa
situação, a RAU promoveu uma mobilização em
frente ao Poder Executivo, apresentando uma carta
ao Presidente Lacalle Pou. Essa não foi a única vez
que a RAU tentou ter um vínculo direto com o
Presidente da República, pois em anos anteriores
também foi enviada uma carta a Tabaré Vázquez
exigindo um maior compromisso com a aprovação
do Plano.
De qualquer forma, na RAU, esses vínculos
criados com atores governamentais ou estatais
geram diferentes visões que foram expressas nas
entrevistas.
Eu tenho uma discordância muito séria com a
Rede e com os atores, porque eu acho que a Rede
está muito focada nos atores governamentais e
para mim é um processo muito contraditório e
até negativo (...) para mim há um erro na visão de
quem são os parceiros, ela está muito voltada
para os atores governamentais e perde força
porque é preciso negociar e eu tenho que baixar
um pouco o tom.
Não acho que a Rede pense no setor político
como parceiros ou aliados. Eles é que têm de
tomar decisões sobre as leis, não é que sejam
de
parceiros, mas você tem de ir e fazer lobby para
de 2021-março
que as coisas sejam alcançadas (...) Acho que está
de
claro que os parceiros são outros, os produtores
de 2023-julho
familiares, as pessoas mais do ponto de vista da
sociedade civil, e acho que as duas coisas andam
dezembro
juntas. É difícil conseguir coisas no parlamento se
você não tiver a força por trás (Entrevista
51-64, abril
coletiva, Regional Sur, 2018).
13, p. 54-66,
Em grande parte, as posições céticas em
relação aos vínculos com atores estatais ou N°37, Ano 15,
governamentais resultam de uma discordância
generalizada com o modelo de desenvolvimento
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41,
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°37, Ano 13, p. 51-64, dezembro de 2021-março de
A partir da análise das informações
qualitativas, é possível observar uma dinâmica de
mudança na qual a RAU está configurando um
mapa de alianças e antagonismos específicos de
diferentes contextos históricos. Há uma clara
tendência de manter alianças mais estáveis com
atores sociais ligados a questões ambientais ou à
produção em pequena escala. Ao mesmo tempo,
dependendo da situação, são estabelecidas alianças
com outros tipos de atores para elaborar
propostas, mas, acima de tudo, para se opor a
projetos ou leis que incorporam o modelo
hegemônico. É o caso da megamineração, da já
mencionada L e i de Irrigação e da expansão do
modelo florestal e da soja, que muitas vezes geram
mobilizações em nível local. Entretanto, são poucas
ou praticamente inexistentes as alianças com
sindicatos de trabalhadores rurais ou com atores
tradicionais do campo popular uruguaio, como o
movimento sindical, as cooperativas e a economia
solidária, entre outros. Enquanto alguns falam de
uma parceria entre o Estado e o capital, outros
defendem a disputa pelo Estado, dada sua
importância na intervenção social por meio de
políticas públicas.
2022
[66]
Corpos, emoções e sociedade
[68]
Anabel Rieiro, Daniel Pena e Gonzalo
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pp. 54-66. Disponível em: http://www.relaces.com.ar/index.php/relaces/issue/view/452
Prazos. Recebido: 09-06-21. Aceito: 12-03-2023
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