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Revista Latino-Americana
Corpos,Latino-Americana
Revista de Estudos
emoções e sociedade
de Estudos sobre
sobre Corpos,
Corpos, Emoções
Emoções ee Sociedade
Sociedade www.relaces.com.ar
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Revista Latino-Americana de Estudos sobre Corpos, Emoções e Sociedade.


N°41. Ano 15. Abril de 2023 a julho de 2023. Argentina. ISSN 1852-8759. pp.
54-66.

A agroecologia como forma de existência. A Rede de Agroecologia no


Uruguai contemporâneo.
A agroecologia como um modo de ser da existência. A Rede de Agroecologia no Uruguai contemporâneo

Rieiro, Anabel*. Pena, Daniel**


Departamento de Sociologia - Faculdade de Ciências Departamento de Sociologia - Faculdade de
Sociais - Universidade da República Ciências Sociais - Universidade da República
anabel.rieiro@cienciassociales.edu.uy danielpenav@gmail.com
Karageuzián, Gonzalo***
Departamento de Sociologia - Faculdade de Ciências
Sociais - Universidade da República
gonzak419@gmail.com
Resumo
Este artigo analisa os relatos individuais e as experiências coletivas dos membros da Rede de Agroecologia do
Uruguai, a partir de uma abordagem que destaca o vínculo entre a ecologia política e a sociologia dos corpos e das
emoções. Ele enfoca: a relação entre a esfera produtiva-reprodutiva; a relação com a natureza; a construção da
CORPO,EMOÇÕESESOCIEDADE,Córdoba,NN°°4317,, Ano1153,,p.5346--6560,,ADbicriiel m20b2r3e-2Ju0l2io1-2M02a3rzo2022

comunidade e a ação comum; a relação entre as etapas econômicas de produção, distribuição e consumo; e a relação
da Rede com outras organizações e com o Estado.
A compreensão da Rede e de sua atividade política diária nos permite refletir sobre a dinâmica sustentada por um
processo simultâneo de empoderamento mútuo entre ações de autonomia e antagonismo. Isso nos convida a
repensar a abordagem clássica dos movimentos sociais e socioambientais como instituições grandes, estáveis,
hierárquicas e orgânicas, com discursos e ações elaborados e "consensuais" que enfrentam um "inimigo" claro ou
demandas específicas ao Estado. A experiência coletiva da Rede transforma a sensibilidade de seus protagonistas,
revalorizando seus modos de existência e seus territórios, ampliando a luta antagônica para a defesa e a consolidação
de processos autônomos, implantando estratégias e práticas que vão contra e além do capital e do extrativismo
neocolonial.
Palavras-chave: Agroecologia; emoções; autonomia; antagonismo; bens comuns.

Resumo
Este artigo analisa as histórias individuais e as experiências coletivas dos membros da Rede Uruguaia de Agroecologia.
A abordagem teórica destaca o vínculo entre a ecologia política e a sociologia dos corpos e das emoções. Ele enfoca: a
relação entre a esfera produtiva-reprodutiva; a relação entre os estágios econômicos de produção, distribuição e
consumo; a relação com a natureza; a construção da comunidade e a comunalidade e a relação da Rede com outras
organizações e com o Estado.
A compreensão da Rede e de suas atividades políticas diárias nos permite refletir sobre a dinâmica simultânea entre
ações de autonomia e antagonismo. Isso nos convida a repensar a abordagem clássica dos movimentos sociais e
socioambientais como grandes instituições orgânicas, estáveis e hierárquicas, com discursos e ações elaborados e
"consensuais" diante de um "inimigo" claro ou de demandas específicas ao Estado. A experiência coletiva da Rede
transforma as sensibilidades de seus protagonistas, reavaliando seus modos de existência e sua relação entre
territórios, ampliando a luta antagônica para a defesa e a consolidação de processos autônomos, implantando
estratégias e práticas contra e além do capital e do extrativismo neocolonial.
Palavras-chave: Agroecologia; emoções; autonomia; antagonismo; bens comuns.
* Doutor em Sociologia, Professor Associado em tempo integral. Área de pesquisa: Sociologia política e economia política. Tópicos
específicos: Economia social e solidária e sociologia da alimentação. Atual docente na área de Teoria. Ex-coordenador da Unidade
de Extensão e Atividades em Meio Ambiente. Pesquisador do Sistema Nacional de Pesquisadores, Agência Nacional de Inovação e
Pesquisa, Nível I. ORCID: 0000-0001-7071-3602.
** Graduação em Sociologia, Assistente. Área de pesquisa: Sociologia política e economia política. Temas específicos: ecologia

[54]
política e produção dos bens comuns. ORCID: 0000-0002-7906-3439.
*** Bacharel em Sociologia, Assistente. Tese sobre consumidores agroecológicos em Montevidéu. Participa de vários projetos de
pesquisa relacionados a temas como Economia Social e Solidária, agroecologia e alimentação do ponto de vista sociológico. ORCID:
0009-0000-9708-8114.

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Revista
Revista Latino-Americana
Latino-Americana de
de Estudos
Estudos sobre
sobre Corpos,
Corpos, Emoções
Emoções ee Sociedade
Sociedade Idonézia Collodel-Benetti e Walterwww.relaces.com.ar
Ferreira de
Oliveira

A agroecologia como um estilo de vida.


A Rede de Agroecologia no Uruguai contemporâneo.

"Como nós, humanos, produzimos alimentos é o


primeiro elo de como nós, humanos, nos
produzimos.
Horacio Machado Araoz (2020)

Introdução da RAU analisada sob a perspectiva da afetividade e


da interdependência, uma leitura a partir do poder
A crise alimentar radicalizada pela pandemia
político que implica pensar e constituir experiências
da COVID-19 é interpretada por vários autores como
locais de produção agroecológica. O alimento será
uma das consequências d a insustentabilidade da
então tomado como base para a compreensão do
forma como nossas sociedades produzem alimentos.
político, pensando na ação comum dos membros da
Diante dessa situação, torna-se extremamente
RAU.
relevante entender e tornar visíveis outras formas
possíveis - e existentes - de habitar o território. A Por fim, são revisitados alguns debates
agroecologia tem sido o sistema alimentar proposto contemporâneos sobre a ação política entre
- tanto por acadêmicos quanto por diferentes redes autonomia e antagonismo.
sociais - como um sistema resiliente para a crise e

de
A relevância da pesquisa se baseia na

de 2021-março
com grande potencial para pensar na reestruturação
problematização das maneiras pelas quais nós,

de
necessária para desenvolver sistemas alimentares
humanos, nos produzimos em um ambiente que

abril de 2023-julho
mais justos, democráticos e sustentáveis.
também nos compõe, de um ponto de vista integral
A agroecologia como modo de produção e e com base na alimentação. A busca por questionar

54-66, dezembro
reprodução da vida tem implicações diretas nos as práticas emergentes "de uma maneira diferente"
corpos e nas emoções daqueles que a realizam, baseia-se na necessidade de compreender as redes
constituindo formas específicas de percepção, afetivas que são constituídas por meio da ação

13, p. 36-50,
sensação e emoção (Scribano, 2009), que fazem comum para reproduzir a vida.
parte do modo como as pessoas habitam e tecem
um vínculo afetivo, simbólico e estético com seus N°37, Ano 15,
territórios (Giraldo, 2018). Contextualização
O objetivo do artigo será analisar as A RAU é um espaço onde produtores,
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41,

experiências sensíveis dentro da Rede de consumidores, processadores e distribuidores de


Agroecologia do Uruguai (RAU), a fim de investigar alimentos s e reúnem para
como os afetos, as emoções e os pensamentos promover e desenvolver a agroecologia. Ela é
constroem - ou não - a empatia entre as pessoas e composta por instituições, organizações e grupos
com o território que habitam. formados por indivíduos, famílias e coletivos
distribuídos em sete regiões localizadas no sul do
A fim de contextualizar a realidade
país. Cada região é composta por 17 a 51 núcleos,
contemporânea no Uruguai, os marcos históricos
dos quais dois coordenadores são eleitos para
destacados nos relatos dos membros entrevistados
formar a Coordenação Nacional. As reuniões são
são abordados em primeiro lugar.
organizadas aproximadamente a cada dois meses
Em uma segunda etapa, são apresentados (tanto em nível regional quanto nacional) e as
alguns resultados, levando em conta as práticas "reuniões nacionais" são realizadas a cada dois anos
2022
2023

atuais. para que todos os membros da organização possam


se reunir para definir o

[56]
Corpos, emoções e sociedade

diretrizes gerais para o período. Além desses espaços A fim de desenvolver alternativas de certificação
de decisão, a RAU tem grupos e comissões participativa que garantam o acesso de pequenos
consultivas e, por meio da Associação ACAEU, possui produtores a produtos orgânicos.
um sistema de certificação de produtos por meio do
Em 2005, a RAU foi formalmente criada, e a
Sistema Participativo de Garantia (SGP), que é uma
certificação participativa foi defendida por meio de
parte importante do cotidiano da organização. No
várias ações coletivas até ser finalmente aprovada
último ano, a certificadora não foi autorizada, o que
em 2008 em um novo marco regulatório. Desde o
levou a mobilizações e confrontos com o governo.
início, a RAU vem consolidando suas organizações
Atualmente, a rede é composta por oito nacionais e regionais, tendo realizado cinco
regiões, com 253 pessoas, de acordo com a pesquisa encontros nacionais em 16 anos de existência. Como
realizada em 2022 (julho). As pessoas/cores que observado, o primeiro período foi marcado por
compõem cada região às vezes representam um questões de certificação e podemos dizer que agora
indivíduo, um grupo familiar, uma organização ou se inicia um novo contexto com o Plano Nacional de
um coletivo. Para estimar o número de pessoas Agroecologia, aprovado no mandato do governo
envolvidas com agroecologia e vinculadas à RAU por anterior (2019), mas com problemas orçamentários
meio de seu trabalho, perguntamos sobre o tipo de significativos para sua implementação.
representação em cada região e descobrimos que
135 pessoas participam como indivíduos, 91
representam grupos familiares, 12 representam Chaves conceituais
coletivos e 1 representa uma organização sem fins A abordagem da sociologia do corpo e das
lucrativos. Por sua vez, das pessoas que representam emoções e dos afetos (Scribano, 2009; Jasper, 2011;
grupos, descobrimos que em Toronjil há 4 que Vergara, 2014; Alatorre, 2014; Cervio, 2012) e da
pertencem a 3 grupos e em Santoral 18 que ecologia política (Alimonda, 2011; Martín e Larsimont,
pertencem a 3 grupos. 2016; Escobar, 2014; Giraldo e Toro, 2020; Gudynas,
Reconstruindo a história da RAU, podemos 2009), baseia-se na ideia de que as pessoas são
entender como, paralelamente à consolidação do "afetividades incorporadas" em vez de seres
modelo de produção hegemônico baseado no racionais (León, 2011), ou seja, que a razão e os
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agronegócio e na agricultura industrial, foram registros afetivos coexistem de forma íntima na


formadas articulações e redes que conseguiram construção da própria subjetividade. De acordo com
promover diferentes lutas relacionadas à Giraldo e Toro (2020), as capacidades cognitivas,
agroecologia. Isso pode ser resumido em três afetivas e emocionais entre os seres humanos e com
momentos que são marcos na história da os lugares que habitam podem possibilitar diferentes
organização. regimes de afetividade de acordo com as relações de
poder em que estão imersos. Nesse leque de
O primeiro é o contexto da abertura possibilidades, encontramos: 1. a empatia humano-
democrática - 1985 - onde começam as primeiras ambiental ativa como defesa da vida e suas múltiplas
articulações entre diferentes atores que concordam formas de experiências corporais concretas, bem
em trabalhar juntos para visualizar o potencial da como 2. o desamor que canaliza e normaliza a
agroecologia. Entre os atores mais importantes crueldade (Segato, 2018) entre humanos e outros
estavam as ONGs ambientais e a Universidade da seres vivos (Giraldo e Toro, 2020) como um regime
República (Faculdade de Agronomia). No início da afetivo hegemônico.
década de 1990, várias organizações formaram a
Mesa de Agroecología del Uruguay (Mesa Redonda As práticas e emoções são analisadas a partir
de Agroecologia do Uruguai). Em 1994, foi realizada da tensão entre a defesa e a sustentabilidade da vida
pela primeira vez uma feira de produtos orgânicos, e a lógica do capital e da maximização do lucro.
antes de esses produtos começarem a ser vendidos Nesse sentido, são retomadas algumas categorias
em supermercados. relevantes das perspectivas teóricas feministas
(Federici, 2010, 2013; Herrero, 2015;
Um segundo momento começou em meados
Pérez-Orozco, 2014; Carrasco, 2009), ecologistas
da década, quando as organizações que deram
(Escobar, 2014; Giraldo e Toro, 2020; Leff, 2003) e a
origem à RAU foram a Associação Uruguaia de
produção dos bens comuns (Guitiérrez, 2018;
Certificação de Agricultura Orgânica do Uruguai
Navarro, 2015; Rivera Cusicanqui, 2018).
( URUCERT/ACAEU) e a Associação de Produtores
Orgânicos do Uruguai (APODU). Em um contexto de
muitas disputas entre as

[56]
Anabel
IdonéziaRieiro, Daniel Pena
Collodel-Benetti e Gonzalo
e Walter Karageuzián
Ferreira de
Oliveira

Em uma perspectiva feminista, retomando vida. Esses "entrelaçamentos


Federici (2010), pode-se entender como a separação
das esferas produtiva e reprodutiva na sociedade
capitalista possibilita uma forma de subordinação de
todas as tarefas relacionadas ao cuidado e à
reprodução. Essa situação ocorre quando a esfera
produtiva se instala como a esfera central, visível e
pública, vinculada ao trabalho comercial e à política
institucional - encarnada pelos homens -, enquanto a
esfera reprodutiva - absorvida pelas mulheres - se
apresenta como uma esfera invisível e secundária,
estabelecendo, assim, juntamente com a
subordinação da reprodução à esfera produtiva,
relações de dominação entre homens e mulheres.
Na mesma linha, Pérez-Orozco (2014) sugere como a
discussão sobre riqueza e bem-estar tem
d i f i c u l d a d e d e ser pensada de forma
descentralizada para o mercado, propondo uma
mudança que parta da ampliação das opções vitais
baseadas no cuidado e na interdependência.
Herrero (2015) explica como a subordinação
da esfera reprodutiva implica uma dupla subjugação:
a dominação dos homens sobre as mulheres e também
sobre a natureza, sob a acumulação capitalista
patriarcal predatória. D e s s a forma, o valor
mercantil e a produção ilimitada ultrapassam os
limites ecológicos do planeta, ignorando e
ameaçando a sustentabilidade da vida ao fraturar os

de
laços de interdependência (relações de cuidado

de 2021-março
entre os seres humanos) e de ecodependência

de
(múltiplas trocas de energia e matéria com a

abril de 2023-julho
natureza).
Essas fraturas se expressam, no contexto

54-66, dezembro
latino-americano, na expansão e no
aprofundamento da política extrativista

13, p. 36-50,
neocolonial, que, nas palavras de Machado Aráoz
(2012), implica uma violência colonial expropriatória
como "separação radical entre certos corpos e seus N°37, Ano 15,
respectivos territórios" (Machado Aráoz, 2012: 58) e,
simultaneamente, uma violência performativa que
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41,

substitui os mundos da vida e das sensibilidades, a


fim de ajustá-los à s exigências do capital e de sua
acumulação. Configura-se, assim, uma série de
dispositivos de regulação das sensações e
mecanismos de suportabilidade que produzem
sensibilidades moldadas, anestesiadas, acostumadas
à dor expropriadora de sua energia e à matéria de
seu território, "suportando" cotidianamente a
realidade neocolonial (Scribano, 2007).
Em contraste com esses processos
hegemônicos vorazes em nossos territórios, é
possível identificar uma série de práticas intersticiais
2022
2023

de reciprocidade, confiança e gastos festivos


coletivos (Scribano, 2009) que compõem
sensibilidades voltadas para a sustentabilidade da
[57]
comunidade" (Gutiérrez, 2018) seriam formas de
auto-organização política geradas por meio de
vínculos cultivados para resolver questões em
comum. No mesmo sentido, Navarro e Hernández
(2010) enfocam os processos de defesa dos bens
comuns e as lutas socioambientais como espaços
que surgem da tristeza, da indignação e da raiva
diante da desapropriação, e que gradualmente
entrelaçam os corpos do mesmo território em um
antagonismo social (pondo fim à desapropriação)
que transforma suas sensibilidades, sua valorização
do meio ambiente e, simultaneamente, torna-se a
afirmação de sua autodeterminação, a implantação
e a defesa de seus modos de existência como uma
construção coletiva alternativa aqui e agora.

Metodologia
A abordagem metodológica é qualitativa;
técnicas qualitativas e quantitativas foram usadas e
trianguladas para produzir os dados. Trata-se de um
estudo de caso (Stake, 1994; Goode e Hatt, 1969)
em que o objeto de investigação será a Rede de
Agroecologia do Uruguai, sendo as unidades de
estudo (Lijhpart, 1975) os núcleos
individuais/familiares, os coletivos regionais e a
coordenação nacional da Rede. Tomar a RAU como
um estudo de caso nos permite empregar diversas
estratégias para responder às nossas perguntas
(Yin, 1994) e, ao mesmo tempo, possibilita a

CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°37, Ano 13, p. 36-50, dezembro de 2021-março de
geração e a discussão de conceitos teóricos
(Mitchell, 1983).
A materialidade dos alimentos convive com
um universo simbólico que orienta a compreensão
do mundo (Soler e Pérez, 2014), contendo
diferentes narrativas sobre ruralidade e
urbanidade, questionando valores e práticas
normalizadas nesse campo. Para acessar esse
universo simbólico, que ocorre tanto em nível
singular quanto coletivo no campo agroecológico,
são geradas informações em seis níveis:
1. Observações em 6 plenárias regionais
r e a l i z a d a s entre junho e agosto de 2018,
instâncias de aproximadamente duas horas nas
quais foram observadas a dinâmica e o clima geral,
os conteúdos tratados e a forma como as decisões
são tomadas.
2. Entrevistas coletivas realizadas com as sete
regiões que compõem a Rede e a coordenação
nacional durante 2018. Foram entrevistas
semiestruturadas com grupos mistos compostos
por 5 a 10 pessoas por região. O roteiro consistiu
em 50 perguntas orientadoras organizadas nas
seguintes dimensões gerais: histórico, composição
2022

social, práticas cotidianas, comunicação,


certificação

[58]
Corpos, emoções e sociedade

participativa, relação produção-distribuição- variações climáticas. A divisão entre o mundo


consumo e ações coletivas. produtivo e o mundo reprodutivo tende a ser
entendida como uma dinâmica complementar,
3. Pesquisa autoadministrada aplicada às pessoas
associada a tarefas que, muitas vezes, coincidem
que participaram das plenárias regionais da Rede
fortemente na ocupação de um mesmo território.
entre junho e agosto de 2018. O questionário tem 20
perguntas que permitem analisar o perfil e a Há casos muito diferentes. Você tem produtores
atividade principal do núcleo de respondentes. em que toda a família trabalha junta, depois você
tem, por exemplo, um produtor que trabalha,
4. Entrevistas individuais com seis membros da rede
mas tem toda a família em Montevidéu, depois
com perfis diferentes com base em gênero,
você tem famílias que moram no campo e
distribuição territorial e frequência de participação.
dividem todas as tarefas. Há uma grande
As entrevistas foram realizadas no território, ou seja,
diversidade, não vejo uma
no espaço habitado pelos entrevistados, durante o
predominância, é um grupo pequeno, mas
ano de 2019. Elas tiveram uma pauta mais flexível
bastante heterogêneo em suas realidades.
sobre emoções e a experiência específica da
(Entrevista individual, 2019)
agroecologia, com duração aproximada de uma hora
e meia. Como mostra a citação, há uma
multiplicidade de formas de combinar o "cuidado"
5. Mapeamento das 8 regiões da RAU em 2022 por
entre as pessoas da família e as formas de produzir,
meio de uma pesquisa telefônica, no âmbito da
distribuir e consumir. Dentro dos núcleos de
Sexta Reunião Nacional da Rede.
produtores, alguns produzem em média escala, em
6. Por fim, as entrevistas com membros dos dois um território diferente de sua casa/domicílio, com a
grupos de consumidores que compõem a Rede, maior parte de sua produção destinada à venda no
realizadas em 2018 como parte da dissertação de um mercado, até mesmo para lojas de varejo de grande
dos autores, foram retomadas. escala; no entanto, a maioria (80% dos produtores
A sistematização foi realizada usando o SPSS possuem 10 hectares ou menos), produz no mesmo
para a pesquisa e o Atlas-Ti para as entrevistas. As território em que vive e usa parte de sua produção
dimensões de análise nas quais os resultados foram para autoconsumo e distribuição direta em pequena
organizados foram: a. relação entre a esfera escala.
produtiva-reprodutiva, b. relação entre os estágios Com relação à divisão de sexo/gênero de
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41, Ano 15, p. 54-66, abril de 2023-julho de

econômicos de produção, distribuição e consumo, c. acordo com as atividades assumidas na RAU,


relação com a natureza, d. construção de constatamos que, embora a principal atividade da
comunidade e ação comum, e e. relação da Rede maioria dos membros seja a produção de alimentos
com outras organizações e com o Estado. Esses (75%), de acordo com a pesquisa realizada em 2018,
aspectos nos permitem abordar a reprodução apenas 63% das mulheres - em comparação com
material e simbólica das práticas e emoções 86% dos homens - se declaram produtoras. As
cotidianas que, por sua vez, geram novas mulheres estão mais presentes em outras atividades,
capacidades coletivas e formas de habitar o por exemplo, associadas à gestão e ao consumo.
território. Nesse sentido, as diferenças na conformação de
sexo/gênero entre as diferentes regiões podem ser
explicadas; por exemplo, na Regional Santoral (com
Resultados um perfil de seus membros fortemente vinculado à
Relação entre os mundos produtivo e reprodutivo: produção) há mais homens (87%), enquanto na
corporeidade e politicidade feminina Regional San José (com um perfil de seus membros
principalmente vinculado ao consumo) há uma
A produção agroecológica está fortemente maioria de mulheres (70%).
ligada ao território no qual a vida familiar é
reproduzida, o que tem efeitos e sensibilidades Os limites tênues entre produção e
particulares. As tarefas de produção e reprodução reprodução não necessariamente impedem - e, em
coexistem em práticas cotidianas no mesmo alguns casos, podem até reforçar - a divisão de
território habitado. O cuidado com as crianças e o tarefas que gera relações de gênero desiguais, em
corte para cozinhar estão entrelaçados com as que as mulheres são responsáveis principalmente
tarefas de produção, bem como com as tarefas que pelo trabalho doméstico, que é invisível como tal, e
fazem parte do "trabalho vivo", seja alimentar os até mesmo por grande parte do trabalho envolvido
2023

animais, abrir e fechar estufas ou cuidar da casa. na produção da terra em que vivem:

[59]
Anabel Rieiro, Daniel Pena e Gonzalo Karageuzián

Minha filha fica muito mais em casa do que ele, redes no setor rural. Há, portanto, uma "politização
meu genro e eu, porque nós dois trabalhamos e, da ordem doméstica" (Segato, 2018) e uma prática
em vez de trabalhar, ela estuda, e você viu que a de cuidados diários que é transferida para a própria
universidade é um momento para ficar em casa. organização.
Então, ela cuida mais da casa, eu faço algumas
coisas, lavo roupa, faço algumas limpezas como
os tetos, que ela esquece, mas ela limpa mais. Corpos que habitam o tecido da vida
(Entrevista individual, 2019) Para os produtores familiares tradicionais
De qualquer forma, a rede não é composta que fizeram a transição para a agroecologia, bem
em sua maioria por homens, mas sim o contrário. De como para os produtores e consumidores neorurais
acordo com a pesquisa de 2022 da ligados à agroecologia, as práticas cotidianas
Aproximadamente 253 membros participam da RAU, colocam a alimentação e a saúde no centro como
131 são mulheres e 122 são homens. A ligação entre materialização d o s vínculos de interdependência
a divisão sexual do trabalho reprodutivo e produtivo e eco-dependência. O cuidado com a vida humana e
foi problematizada ainda mais nos últimos anos com não humana rompe a ficção do ser humano como
as atividades que algumas mulheres da RAU um ser autossuficiente e independente (Herrero,
começaram a realizar. Algumas das mais relevantes 2015; Garcés, 2013) e reflete as pessoas na Rede
são os intercâmbios internacionais, um curso sobre como corpos-entre-corpos (Giraldo e Toro, 2020):
ecofeminismo e as reuniões de mulheres da Rede Para mim, é uma forma de abordar e promover a
(2018, 2022): vida (...) uma filosofia de vida (...) levando em
Uma vez, algumas mulheres brasileiras vieram conta o meio ambiente e o fato de fazermos
(...) e perguntaram quanto contribuíamos para a parte desse ecossistema e de sermos seres vivos,
casa, então fizemos uma lista com elas das nos alimentando de forma saudável. (Entrevista
tarefas diárias que fazíamos, em uma fileira, coletiva, Regional San José, 2018).
colocamos um valor nelas se pagássemos alguém Corpos que habitam territórios e são
para fazê-las... finalmente percebemos que todas habitados por eles, que afetam a terra p o r m e i o
nós contribuímos para a casa muito mais do que d e seu trabalho, criatividade e cultura, e que são
pensávamos. (Reunião de mulheres, 2018). afetados e nutridos por ela de forma cada vez mais
atenta, sensíveis às suas pequenas mudanças, estão

CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41, Ano 15, p. 54-66, abril de 2023-julho de
Um último elemento a ser destacado na
análise surge do contraste entre os discursos que constituindo uma proximidade sustentada ao longo
emergem dos espaços principalmente do tempo, que muda as percepções do "ambiente" e
organizacionais e os discursos dos diferentes aprofunda o que Giraldo e Toro (2020) chamam de
membros da Rede pesquisados no território. Nos "empatia ambiental".
discursos institucionais, os benefícios da Pelo menos mudou para melhor (...) Em ficar por
agroecologia como um modo de produção aí 'curando', 'curando'. Aplicar produtos tóxicos,
alternativo ao hegemônico (fornecer alimentos mais não era 'curar', mas o engenheiro vinha e falava
saudáveis para as pessoas e cuidar do meio 'você tem que aplicar tal e tal cura porque senão
ambiente) são geralmente destacados/defendidos; o tomate não cresce' (....). Também a outra coisa
no entanto, o discurso organizacional não enfatiza o que você vê é como o solo está melhorando, os
seguinte bichos, as minhocas, tudo, você via de novo que
-Como emergiu das entrevistas individuais, o tinha morrido, não tinha nada, o solo estava cada
impacto que a agroecologia tem na vida cotidiana e vez mais pobre. (Entrevista coletiva, Mulheres
na esfera doméstica daqueles que a praticam, por Produtoras de Santoral, 2019).
meio do autoconsumo, ou seja, como um modo de
O último discurso expressa o aspecto
existência e não como um modo de produção. A
regenerativo da agroecologia em relação aos
relação com os alimentos encontra uma nova forma
ecossistemas naturais. Por trás dos conceitos de
ética e estética de relação social, organização política
"saúde", "alimento" e "solo", frequentemente
e relação com a natureza que tem um impacto direto
reiterados nos discursos dos membros da Rede,
na reprodução da vida cotidiana. Obviamente, não é
encontramos a insistência em considerar a
coincidência que os corpos feminizados, que são mais
reprodução da vida em toda a sua multiplicidade
responsáveis por sustentar a vida no "patriarcado
como a tarefa central da agroecologia. A frase "tudo
assalariado" (Federici, 2018), assumam maior
se v ê de novo",
2023

visibilidade e destaque nas redes que promovem


práticas agroecológicas do que outros.
[60]
Corpos, emoções e sociedade

A referência aos pequenos sinais de vida visíveis no as entrevistas da experiência da agroecologia como
espaço habitado (casa e local de trabalho a o uma "filosofia de vida", uma insistência de que suas
m e s m o t e m p o ) é um detalhe que mostra a práticas vão muito além do fato de não usar
percepção e a atenção cuidadosa ao funcionamento agroquímicos para a produção, mas implicam a
ecossistêmico, entendendo-se como parte da teia da transformação gradual, porém integral, dos modos
vida, um olhar afinado, uma sensibilidade ampliada e de existência (Guattari, 1996), de se relacionar entre
disponível para perceber as menores variações da os humanos e com os não humanos, uma
dependência recíproca das formas de vida. transformação corporal, sensível, temporal e
relacional. Uma mudança no que "tem valor", que
Nessa linha, outros produtores mencionam a
prioriza a permanência intergeracional na terra, o
integração de animais para produção mista,
desfrute da ação concreta, a comoção com as
buscando complementaridades entre diferentes
mudanças e os frutos do território habitado, a
formas de vida, como outras formas de contribuir
construção de redes de vizinhança etc. A natureza,
para a cadeia ecossistêmica a partir da atividade
longe de ser vista como uma externalidade, é
humana em seu território. Isso contrasta (mais
entendida como parte do corpo prolongado que é
explicitamente para aqueles produtores tradicionais
habitado por dentro e em interação.
que fizeram a transição) com o modelo convencional
e o uso de agrotóxicos, que gera morte direta na
vida não humana, empobrecimento do solo e várias
A produção dos bens comuns e a agroecologia
doenças mencionadas naqueles que os aplicaram:
problemas respiratórios, alergias e irritações na pele, Com base na agroecologia, são formadas
sangramento na urina etc. Esse modelo hegemônico redes territoriais com vários atores locais, regionais,
de produção opera sob o mandato da maximização nacionais e internacionais. Nesse sentido, são
do lucro e da extração de mais-valia energética, comuns os vínculos de intercâmbio entre produtores
típico do sistema extrativista predatório em nível e grupos de consumidores com instituições
geral no Sul Global, onde o círculo fechado do pacote educacionais, projetos de sustentabilidade (hortas
tecnológico agroindustrial (fertilizante-semente- comunitárias, restauração de florestas nativas,
pesticida) impõe uma distância-desafeto e planos de triagem e reciclagem de resíduos etc.),
CORPO,EMOÇÕESESOCIEDADE,Córdoba,NN°°4317,, Ano1153,,p.5541--6664,,ADbicriiel m20b2r3e-2Ju0l2io1-2M02a3rzo2022

subjugação do não humano. centros culturais e comunitários. A troca de


conhecimentos, as visitas recíprocas ou até mesmo o
O tempo histórico da palavra "retorno"
cuidado com as plantações feitas por crianças em
também se refere a um modo de fazer e a um
idade escolar em seus próprios campos ou hortas
conhecimento tradicional voltado para o cuidado da
escolares estão tecendo laços de solidariedade em
vida, que foi interrompido pelo conhecimento
nível territorial. Em alguns casos, há também
técnico dos "engenheiros" da "revolução verde", e é
espaços para a comercialização de produtos em
reconfigurado e atualizado em práticas
eventos locais, oficinas, palestras e sessões de
agroecológicas entrelaçadas com outros produtores
treinamento abertas ao território.
e vizinhos que compartilham técnicas.
Ao contrário do que ocorre em outros
Além disso, várias entrevistas mencionaram
modelos de produção agroindustrial extrativista
mudanças nas temporalidades da produção e do
(monocultura de soja, silvicultura etc.), que direta ou
consumo entre os modelos convencional e
indiretamente expulsam os pequenos e médios
agroecológico: enquanto o primeiro é sazonal, com
produtores das áreas rurais por meio da
intensidade de produção no final de cada estação
concentração e estrangeirização da propriedade da
(grandes volumes de produção e distribuição em
terra (Rossi, 2010), a produção agroecológica mostra
duas épocas diferentes do ano), a produção
uma tendência à permanência intergeracional das
agroecológica implica semeadura, colheita e
pessoas nas áreas rurais e até mesmo um "retorno
distribuição contínuas, bem c o m o diversificação
ao campo" por parte de pessoas interessadas em
de culturas, rotação de terras, preparação de
repovoar as áreas rurais e se conectar mais
fertilizantes biológicos e controle mais rigoroso de
profundamente com a terra. Essa permanência está
pragas e doenças. Cada processo simultâneo tem seu
consolidando ao longo do tempo o tecido comunitário
próprio tempo específico, o que quebra a
do território, os laços de vizinhança que se
homogeneidade da tendência industrializante da
expressam em ajuda mútua, festivais locais,
produção convencional.
envolvimento nos espaços de participação nas
Por fim, vale a pena observar a reiteração em pequenas cidades próximas e até mesmo tecidos
artístico-culturais, como trupes, grupos folclóricos,
artes cênicas e centros culturais,
[61]
Anabel Rieiro, Daniel Pena e Gonzalo
Anamelva Karageuzián
Olortegui Saldaña

etc. capacitar o fazer, o sentir e o pensar de produtores e


consumidores.
Além disso, as parcelas comunitárias
(Gutiérrez,
2018) nos permitem problematizar os danos baseados na solidariedade que
causados aos bens comuns e defender formas
coletivas de cuidar e gerenciá-los. O entrelaçamento
de produtores e consumidores na rede, bem como
com a vizinhança, permite enfrentar o avanço d a
fronteira extrativista e o dano permanente ao tecido
vital dos territórios.
...o vizinho do lado, que tem 30 ha, 40 vai ser (...)
foi e alugou o campo para outra pessoa, e ele veio
e plantou soja. E eles plantaram até a cerca de
arame (...) queimaram do lado dela, perderam a
certificação. Bem, o pessoal da Rede veio e fez
um monte de papelada, falou com a Colonização
e com o Ministério, e eles o chamaram. E
felizmente ele deixou a distância correspondente
(...) Agora há companheiros que também estão
participando do aterro, embora estejamos longe,
é bom apoiar e tudo mais, porque não sabemos
até onde os lençóis freáticos vão chegar. E
mesmo que saibamos que não vai chegar, há
muitos produtores e pequenos produtores que
seriam afetados.... (Entrevista individual, 2019)
Há vários exemplos de ações concretas em
que, com base nas redes sociais implantadas pela

de
Rede, os membros participam de outras ações,

de 2021-março
colaborando e se articulando com diferentes

de
coletivos para influenciar o cuidado com a água, a

de 2023-julho
luta contra a Lei de Irrigação, a soja transgênica e as
distâncias mínimas para fumigação, a monocultura

dezembro
florestal para celulose, a defesa de florestas nativas
e áreas protegidas etc. Nesses emaranhados de

51-64, abril
experiências, há uma tendência a se envolver nas

13, p. 54-66,
injustiças socioambientais que as atravessam e
transcendem.
N°37, Ano 15,
Os espaços de intercâmbio de
conhecimentos, como os encontros nacionais, as
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41,

visitas de certificação e a multiplicidade de instâncias


territoriais em cada região, fazem da Rede um tecido
rizomático de fluxos de técnicas e contágio de
estéticas, típico da agroecologia na América Latina
(Giraldo, 2018): "...compartilhar o que sabemos,
porque não é nada exclusivo, é um conhecimento
muito antigo e pertence a todos, não podemos nos
apropriar dele, porque graças às pessoas que o
compartilharam, somos o que somos" (Entrevista
individual, 2018).
Desde o conhecimento tradicional ou
ancestral compartilhado até a experimentação
2022
2023

coletiva para a adaptação de biofertilizantes e


biocontroles às condições locais, os tecidos
comunitários disponibilizam fluxos de conhecimento
[62]
Por fim, deve-se observar que muitas das produzimos alimentos, nós produzimos, mas são
experiências de produtores, distribuidores e alimentos que vão alimentar nossos vizinhos, a
consumidores têm formas associativas ou comunidade próxima, e bem em relação a gerar
cooperativas de organização, constituindo redes de relações humanas mais justas entre as pessoas.
apoio à vida em sua totalidade. (Entrevista individual, 2019)
...o fato de a cooperativa estar em A experiência cotidiana de se conectar a
funcionamento há tantos anos, mantendo os
companheiros que começaram desde o início
(...) mas o bom dos grupos e de fazer parte de
vários grupos é que você acaba conhecendo
pessoas de áreas próximas.) m a s o b o m
d o s grupos e de fazer parte de vários grupos
é que você acaba conhecendo pessoas de áreas
próximas, e se não fosse por isso você não se
conheceria, e com o tempo você acaba
conhecendo a família, o marido, o filho, o neto,
porque alguém vai e conta, e você começa a
conhecer a família, então a pessoa não vai
sozinha, a pessoa vai com aquela família, é como
se eles levassem ela junto, e aí você começa (...)
e na cooperativa todos nós acabamos nos
conhecendo em outras coisas, em outras
formas, em outras coisas, em outras formas, em
outras formas, em outras formas, em outras
formas.) e na cooperativa a gente acaba se
conhecendo, todos nós nos acompanhamos em
outras coisas, em outras situações que não tem
nada a ver (....) em várias fazendas, (...)(...) em
várias fazendas, algumas delas já estão na
terceira geração. Porque a avó começou...

CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°37, Ano 13, p. 51-64, dezembro de 2021-março de
(Entrevista individual, 2019).
Podemos concluir, portanto, que, ao contrário d a
economia hegemônica baseada em estruturas que
se fundamentam na ideia do indivíduo em livre
concorrência, no campo agroecológico constrói-se
uma gramática de rede, a partir da qual os corpos
são reconhecidos principalmente dentro de
configurações que são geradas por meio de um
conjunto de vínculos e tramas territoriais.

Sistema agroalimentar: corpos atravessados pelo


capital
A partir da análise das entrevistas, pode-se
perceber que as diferentes fases econômicas de
produção, distribuição e consumo tornam-se mais
humanizadas à medida que as pessoas se conhecem
e coordenam suas ações.
(...) agroecologia, (...) é como um modo de vida,
(...) não é só não usar veneno, não prejudicar o
meio ambiente e comer alimentos saudáveis (...)
o que já é muito do ponto de vista pessoal, mas
vai além disso.) que já é muita coisa do ponto de
vista pessoal, mas vai além disso, porque
2022

questiona como nos organizarmos como


sociedade, como comunidade, para produzir
alimentos para quem, quem somos nós que
[63]
Corpos, emoções e sociedade

A produção agroecológica permite questionar e Embora esse processo de certificação


redefinir os hábitos de consumo estabelecidos, mas participativa não seja um mecanismo de marketing
também propõe formas alternativas de direto, ele implica que uma vez por ano cada
comercialização em nível regional, empregando produtor é visitado por técnicos e consumidores,
múltiplas estratégias que buscam aproximar fortalecendo o componente participativo e a
produtores e consumidores. construção contínua de redes locais que reforçam os
significados compartilhados e reumanizam os
As feiras são os canais de marketing mais
vínculos de troca.
comumente utilizados. Em alguns casos, elas
surgiram por iniciativa das regiões, enquanto em As vendas em supermercados e grandes
outros os produtores se unem a experiências supermercados são outro dos canais de marketing
existentes promovidas por espaços externos à Rede. mais utilizados por muitos dos produtores da Rede. No
As características dessas feiras são diversas, desde entanto, nesse caso, há tensões, pois se entende que
aquelas em que são vendidos apenas produtos esse não é o melhor caminho a ser seguido, pois ainda
agroecológicos sazonais até aquelas em que, embora é um mecanismo convencional que não gera
haja predominância de produtos agroecológicos, é proximidade entre produtores e consumidores.
permitida a venda de produtos convencionais. Os
Em resumo, em um nível geral, encontramos
produtores destacam que as feiras possibilitam o
diferentes canais de troca, que se relacionam de
estabelecimento de vínculos diretos com os
maneira não uniforme com o mercado mais
consumidores, dando maior visibilidade à
formalizado, com ênfase no reconhecimento mútuo
organização e à produção agroecológica em geral.
entre produtores, distribuidores e consumidores. As
A venda direta nas instalações dos pessoas que decidem promover alimentos
produtores é outro dos mecanismos gerados para a agroecológicos passam pelos diferentes estágios do
comercialização. Ela se baseia na proximidade sistema agroalimentar e são pressionadas pela lógica
territorial e na confiança entre produtor e concentradora do capital, especialmente na fase de
consumidor, possibilitando que o primeiro não seja distribuição e comercialização. Assim, cada produtor
obrigado a ter o selo de produção agroecológica, e/ou coletivo elabora estratégias diferentes, dentro
pois os consumidores podem visitar a fazenda e das quais os acordos, as práticas e os atores com os
conhecer em primeira mão as práticas de produção. quais se relacionam são muito diferentes e elaboram
CORPO,EMOÇÕESESOCIEDADE,Córdoba,NN°°4317,, Ano1153,,p.5541--6664,,ADbicriiel m20b2r3e-2Ju0l2io1-2M02a3rzo

corpos específicos, puxados pelo capital.


Além disso, há estratégias coletivas que
buscam vínculos mais estreitos entre produtores e
consumidores, eliminando a intermediação. Nesse
Contato com o Estado e outras organizações
sentido, dois grupos de consumidores foram
formados dentro da rede: Copau e Asobaco. A Nos últimos anos, a vida da RAU foi marcada
existência desses grupos proporciona espaços para pela contribuição feita ao Plano Nacional de
politizar o consumo e construir novas formas de Agroecologia, uma proposta que se tornou lei em
relacionamento. Foi observado que as pessoas de dezembro de 2018 e que foi desenvolvida e
ambos os grupos participam do processo de promovida em conjunto com a Rede Nacional de
certificação e estabelecem vínculos com um forte Sementes Nativas e Nativas e a Sociedade Científica
componente de empatia. Latino-Americana de Agroecologia (SOCLA). Com a
aprovação do Plano, foi formada uma "Comissão
No ano passado, planejamos uma viagem a Rincón
Honorária", que entre o final de 2019 e o início de
de Pando (...) fizemos um tour, cada um nos
2020 ficou encarregada de projetar sua
contou sua história, então começamos a ver uma
implementação. Para a RAU, isso significou
solidariedade (...) que é atravessada pela empatia
compartilhar espaços com outras organizações, mas
e pelo carinho pelo outro. Para ver todo o
também com representantes de quatro ministérios,
sacrifício, por que eles fazem isso, qual é o
o Escritório de Planejamento e Orçamento
objetivo deles. Um outro agricultor que nos
(dependente do poder executivo), o Congresso de
contou que na verdade ele está nessa situação
Prefeitos, a Universidade Tecnológica, a
porque ele teve um infarto um dia devido ao nível
Universidade da República e outras instituições
d e estresse que ele estava e decidiu ir morar no
ligadas à pesquisa. Isso se somou a uma experiência
campo porque ele não aguentava mais, e esse
anterior de contato com atores parlamentares por
contato com a vida do outro (...) promove a
dois anos, enquanto a lei estava em discussão.
empatia e ao mesmo tempo faz com que você
2022

queira que o outro cresça como agricultor, que Até o final de 2020 e com a proposta de
tenha sucesso. (Entrevista individual, 2018).
[64]
Anabel Rieiro, Daniel Pena e Gonzalo
Anamelva Karageuzián
Olortegui Saldaña

O Plano Nacional de Agroecologia não havia recebido descobrir quais são os mais importantes.
nenhum recurso no orçamento quinquenal do Poder
Executivo enviado ao parlamento. Diante dessa
situação, a RAU promoveu uma mobilização em
frente ao Poder Executivo, apresentando uma carta
ao Presidente Lacalle Pou. Essa não foi a única vez
que a RAU tentou ter um vínculo direto com o
Presidente da República, pois em anos anteriores
também foi enviada uma carta a Tabaré Vázquez
exigindo um maior compromisso com a aprovação
do Plano.
De qualquer forma, na RAU, esses vínculos
criados com atores governamentais ou estatais
geram diferentes visões que foram expressas nas
entrevistas.
Eu tenho uma discordância muito séria com a
Rede e com os atores, porque eu acho que a Rede
está muito focada nos atores governamentais e
para mim é um processo muito contraditório e
até negativo (...) para mim há um erro na visão de
quem são os parceiros, ela está muito voltada
para os atores governamentais e perde força
porque é preciso negociar e eu tenho que baixar
um pouco o tom.
Não acho que a Rede pense no setor político
como parceiros ou aliados. Eles é que têm de
tomar decisões sobre as leis, não é que sejam

de
parceiros, mas você tem de ir e fazer lobby para

de 2021-março
que as coisas sejam alcançadas (...) Acho que está

de
claro que os parceiros são outros, os produtores

de 2023-julho
familiares, as pessoas mais do ponto de vista da
sociedade civil, e acho que as duas coisas andam

dezembro
juntas. É difícil conseguir coisas no parlamento se
você não tiver a força por trás (Entrevista

51-64, abril
coletiva, Regional Sur, 2018).

13, p. 54-66,
Em grande parte, as posições céticas em
relação aos vínculos com atores estatais ou N°37, Ano 15,
governamentais resultam de uma discordância
generalizada com o modelo de desenvolvimento
CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°41,

promovido pelo progressismo e agora pela coalizão


de direita que governa o país. Um exemplo claro
disso é a aprovação da "Lei de Irrigação" durante o
último período da Frente Ampla, que permite a
gestão privada da água por produtores e
investidores associados, possibilitando também
o b r a s de infraestrutura para irrigação. Embora
a RAU e seus membros tenham se manifestado
contra a lei, até mesmo emitindo uma declaração,
alguns de seus membros questionam o papel fraco
da organização e até mesmo a falta de
conhecimento sobre como isso afeta os diferentes
níveis.
2022
2023

Quanto aos atores sociais identificados como


aliados e antagonistas pela RAU, também é difícil
[65]
posições únicas. Um dos atores externos que gerou
mais tensão tem a ver com "Un Solo Uruguay", um
ator social que surgiu em janeiro de 2018 com um
conjunto de propostas voltadas para a "proteção da
produção rural nacional", composta principalmente
pelos setores mais poderosos "do campo", mas
também por alguns pequenos produtores e
colonos. Isso gerou visões conflitantes na RAU,
pois, por um lado, entende-se que esses são os
setores que "envenenaram o país" e que só buscam
rentabilidade em sua atividade produtiva,
enquanto outros reclamaram que essas demandas
não foram acompanhadas.
Por outro lado, um ator social geralmente
entendido como aliado é a Comisión Nacional de
Fomento Rural ( CNFR), uma organização que
e x i s t e h á mais de um século e representa a
produção familiar e de pequena escala. Entretanto,
aqui também há posições conflitantes. Muitos
produtores que compõem a RAU também fazem
parte da CNFR e, por sua vez, cada região estabelece
suas alianças e ações conjuntas com a sociedade de
desenvolvimento mais próxima em nível territorial.
Embora em muitos casos essas alianças funcionem
de forma sustentada, em outros há algumas
tensões, principalmente devido ao fato de que as
questões ambientais não estão entre as principais
preocupações da CNFR e sua produção é baseada
em pacotes agroquímicos.

CORPOS, EMOÇÕES E SOCIEDADE, Córdoba, N°37, Ano 13, p. 51-64, dezembro de 2021-março de
A partir da análise das informações
qualitativas, é possível observar uma dinâmica de
mudança na qual a RAU está configurando um
mapa de alianças e antagonismos específicos de
diferentes contextos históricos. Há uma clara
tendência de manter alianças mais estáveis com
atores sociais ligados a questões ambientais ou à
produção em pequena escala. Ao mesmo tempo,
dependendo da situação, são estabelecidas alianças
com outros tipos de atores para elaborar
propostas, mas, acima de tudo, para se opor a
projetos ou leis que incorporam o modelo
hegemônico. É o caso da megamineração, da já
mencionada L e i de Irrigação e da expansão do
modelo florestal e da soja, que muitas vezes geram
mobilizações em nível local. Entretanto, são poucas
ou praticamente inexistentes as alianças com
sindicatos de trabalhadores rurais ou com atores
tradicionais do campo popular uruguaio, como o
movimento sindical, as cooperativas e a economia
solidária, entre outros. Enquanto alguns falam de
uma parceria entre o Estado e o capital, outros
defendem a disputa pelo Estado, dada sua
importância na intervenção social por meio de
políticas públicas.
2022

[66]
Corpos, emoções e sociedade

Discussão e conclusões à luta antagônica ou demanda ao Estado, ou, a o


c o n t r á r i o , processos individuais e coletivos que
A partir das cinco dimensões analisadas,
partem da defesa de um bem comum ou de uma luta
pode-se interpretar que a Rede de Agroecologia do
socioambiental e se transformam em comunidade
Uruguai sustenta um processo simultâneo de
autônoma ou processos coletivos de afirmação de
empoderamento mútuo entre ações de antagonismo
um modo singular de existência.
e autonomia, alternando estratégias de acordo com
o contexto, as alianças e as necessidades em jogo, A partir da análise, podemos concluir que a
sempre com base em experiências concretas que RAU é uma organização horizontal com uma forte
ancoram seu fazer, sentir e pensar coletivos. Essa cultura centrada na subjetividade e no compromisso
morfologia organizacional é o resultado de político ancorado na experiência e em práticas
interações espaço-temporais concretas, alternativas implantadas a partir de espaços
incorporadas entre corpos e emoções, que afetam autônomos. Ela busca habitar territórios específicos
uns aos outros e, longe de serem explicadas com base em novas formas de sociabilidade e
isoladamente, só podem ser entendidas como um relações com a natureza que defendam e coloquem
processo coletivo. a sustentabilidade da vida no centro da reprodução
do capital. Assim, a esfera reprodutiva adquire
Na RAU, os órgãos - em sua maioria
especial relevância em relação à esfera produtiva,
femininos - não apenas tornam visível o trabalho de
relações de solidariedade são construídas entre
cuidado, mas também transferem sua centralidade
produtores, distribuidores e consumidores
ao definir os objetivos e organizar o trabalho da
agroecológicos, e redes comunitárias múltiplas e
rede; da mesma forma, o conceito de
heterogêneas que defendem a biodiversidade são
sustentabilidade da vida estende o cuidado familiar
construídas por meio de um esforço comum - não
às redes territorialmente descentralizadas e às
isento de conflitos importantes.
interações com a natureza. Nesse sentido, os
membros d a rede estão inseridos em redes Por outro lado, verificamos que, em alguns
plurais e interdependentes, a partir das quais geram momentos e em diferentes contextos, o caminho da
significados diferentes dos modos de vida impostos subjetividade, entendido como um "processo de
pela lógica da lucratividade e do capital. Os corpos e experimentação e criatividade autônoma" (Players,
as subjetividades que emergem em relação 2018), transforma-se em lutas contra-hegemônicas,
BODIES,EMOTIONSANDSOCIETY,Córdoba,NN°°4317,, Ano1153,,p.5541--6664,,ADbicriiel m20b2r3e-2Ju0l2io1-2M02a3rzo

permitem fluxos contínuos de redefinições e consubstanciando ações coletivas que buscam


significados, obviamente não isentos de conflitos e influenciar politicamente a esfera pública,
contradições. Essa ação política de "colocar o corpo" entrelaçando-se com outras organizações
(Garcés, 2013) nos convida a repensar a abordagem socioambientais (por exemplo, contra a Lei da
clássica dos movimentos sociais e socioambientais Irrigação), bem como construindo demandas
como instituições grandes, orgânicas, estáveis e concretas e propondo políticas públicas ao Estado
hierárquicas, com discursos elaborados e (por exemplo, a certificação participativa e o Plano
"acordados", representantes reconhecíveis e de Nacional de Agroecologia). Assim, a autonomia e o
longa data e ações que enfrentam um "inimigo" antagonismo se unem como "dois lados da mesma
claro ou uma demanda específica ao Estado. Nesse moeda".
sentido, Navarro e Hernández (2010) apontaram que
À guisa de conclusão, podemos dizer que o
os processos de luta socioambiental antagônica
caráter autônomo e alternativo de redes como a do
produziram uma transformação de sensibilidades em
caso estudado é geralmente interpretado, a partir da
seus protagonistas, revalorizando seus modos de
teoria clássica dos movimentos sociais, como ações
existência e territórios, o que implicou uma mudança
locais e fragmentadas, com pouca capacidade de
da luta antagônica (por exemplo, a defesa de um
antagonismo e, portanto, com fraca transformação
bem comum, como uma colina, um rio etc.) para a
social. No entanto, longe de ser um movimento dual
defesa e consolidação de processos autônomos, a
e dicotômico entre autonomia e antagonismo, as
implantação de modos de existência específicos que
iniciativas de produção e reprodução
são contra e além do capital e do extrativismo
autogerenciadas da vida cotidiana estão criando
neocolonial.
capacidades para lutas performativas que, em
Entendemos que, na experiência da RAU, há determinados momentos, incorporam ações
um movimento pendular entre as duas formas de coletivas com outros e contra outros, até mesmo
fazer, pensar e sentir a política, passando, e m para defender sua própria existência
alguns territórios e contextos históricos, por autodeterminada.
2022

processos autônomos de produção agroecológica.


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