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RACISMO E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NO CONTEXTO ESCOLAR:

UMA ANÁLISE DE RESUMOS DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

Antonio Carlos Barbosa da Silva Professor1


Marina Coimbra Casadei Barbosa da Silva2

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar o racismo e a discriminação racial nas escolas brasileiras por meio de uma
revisão bibliográfica. Selecionamos artigos publicados entre 2016 e 2018 utilizando a plataforma Google Scholar e
categorizamos nossa análise em quatro áreas: Decolonialidade, Formação Profissional, Lei(s) 10.639/2003 e/ou
11.645/2008 e Ambientes Hostis. Nossa análise revelou que o debate em torno da decolonialidade emerge como
uma abordagem promissora para enfrentar o racismo e adotar uma postura antirracista. No entanto, notamos que a
formação de educadores ainda não aborda de maneira adequada as questões étnico-raciais. Além disso, a
implementação integral das leis que promovem o estudo da cultura afro-brasileira ainda é insuficiente, e as escolas
continuam sendo ambientes hostis para alunos negros. De modo geral, fica evidente que a adoção de uma
abordagem decolonial representa uma trajetória promissora para repensar o racismo nas escolas e promover uma
educação verdadeiramente antirracista.

Palavras-chave: racismo, discriminação racial, escola.

1.INTRODUÇÃO

RACISMO E ESCOLARIZAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

No contexto brasileiro, a história do racismo está profundamente entrelaçada com o período de escravidão,
em que milhões de africanos foram trazidos à força para o país para serem explorados como mão de obra
escravizada. Essa realidade histórica deixou marcas indeléveis na nossa sociedade, perpetuando desigualdades e
injustiças. O racismo no Brasil deslegitima a existência de pessoas negras e indígenas, compelindo-as a buscar a
conformidade com os ideais da branquitude. Ser branco é associado à humanidade, enquanto os demais grupos
étnico-raciais são marginalizados e tratados como diferentes, fugindo da suposta neutralidade humana. Ele
manifesta-se de diversas formas em nossa sociedade, desde a discriminação no mercado de trabalho até a violência
policial, passando pela perpetuação de estereótipos negativos na mídia e na cultura popular. Essas manifestações de
preconceito têm impacto direto na vida cotidiana dos negros, limitando suas oportunidades e restringindo suas
possibilidades de ascensão social.
1
Doutor de Psicologia - PUCCamp. Professor Departamento de Psicologia Social, UNESP-Assis.
2
Psicóloga e Doutora em Educação (Unesp-Marília), Docente de Psicologia na Universidade de Marília (Unimar).
Embora nas sociedades modernas os atos explícitos de discriminação racial e étnica tenham se tornado
objeto de condenação pública e sujeitos a punições legais, isso não significou o fim do preconceito racial
(CAMINO, 2001).

De maneira subentendida, o racismo persiste em uma sociedade que é estratificada, discriminatória,


predominantemente branca e liberal. Essa sociedade perpetua a crença na existência de raças superiores e inferiores,
conferindo à raça branca, de acordo com os princípios do capitalismo e elitismo, uma posição privilegiada. Esse
sistema de opressão está intimamente ligado a sentimentos de culpa, isolamento, inadequação e feridas emocionais
profundas. Em um contexto como esse, é fundamental compreender o conceito de "racismo estrutural", que aponta
para a existência do racismo enraizado nas estruturas sociais e institucionais. Isso implica que, embora as leis
possam proibir a discriminação racial, as práticas e políticas ainda podem ter um impacto desigual com base na
raça. Além disso, a noção de "modernidade" muitas vezes é associada a uma narrativa eurocêntrica que valoriza a
cultura e a identidade europeia em detrimento de outras culturas e identidades, o que é importante entender para
avaliar as complexas dinâmicas raciais em jogo.

Dentro desse contexto, a negritude assume uma importância significativa. Trata-se de uma abordagem
cultural, social e política que surgiu no contexto das lutas anticoloniais e do movimento negro durante o século XX.
Ela representa a afirmação da identidade e da experiência dos povos negros, buscando resgatar e valorizar sua
herança cultural, história e contribuições para a humanidade. Sua essência está na afirmação da dignidade e
igualdade dessas comunidades, promovendo o orgulho e a valorização de sua cultura, língua, arte e história. A
negritude também se manifestou através da literatura, poesia, música, dança e outras formas de expressão cultural.
Escritores e poetas negros utilizaram suas obras para reivindicar a identidade negra, denunciar as injustiças e lutar
por uma sociedade mais justa e igualitária.

Portanto, a negritude assume um papel crucial na construção da identidade negra. Ser negro implica não
apenas reconhecer a origem étnica, mas também estar ciente do processo ideológico que pode aprisionar o indivíduo
em uma imagem alienada. A construção da identidade negra é um contínuo vir a ser, uma jornada de
autorreconhecimento e reafirmação da identidade, buscando o respeito às diferenças e a dignidade,
independentemente de qualquer nível de exploração.

No âmbito educacional, a negritude e a valorização da identidade negra têm um papel fundamental. A


escola deve ser um espaço plural e inclusivo, onde a diversidade étnico-racial seja valorizada e celebrada. A
escolarização desempenha um papel crucial na formação de indivíduos capazes de compreender as complexas
contradições da história humana e do sistema político e econômico da sociedade. Esta perspectiva alinha-se com as
teorias da educação crítica, que destacam a importância de desenvolver uma consciência crítica nas futuras
gerações, permitindo-lhes analisar e questionar questões sociais, políticas e econômicas de forma informada e
reflexiva.
Um dos aspectos fundamentais da formação educacional, que pode ser considerado à luz da teoria de
Oliveira e Rey (2019), é a valorização da subjetividade do estudante. Isso implica reconhecer a importância da
autonomia do estudante, encorajando-o a explorar suas experiências, emoções e motivações pessoais. O
desenvolvimento da consciência e da autorreflexão desempenha um papel central na formação integral do indivíduo,
permitindo-lhe não apenas compreender a si mesmo, mas também suas interações com o ambiente circundante.

No contexto escolar, o racismo pode manifestar-se de várias maneiras, desde comentários sutis e atitudes
preconceituosas até formas mais explícitas, como a exclusão social e a marginalização de estudantes negros. É
importante destacar que essas experiências racistas podem ter um impacto significativo no bem-estar emocional e
psicológico dos estudantes afetados, dificultando seu engajamento acadêmico e a construção de uma identidade
positiva.

É essencial reconhecer que o ambiente escolar desempenha um papel central na moldagem das
mentalidades e personalidades dos estudantes. No entanto, é igualmente crucial considerar que o racismo persiste
em muitas dessas instituições educacionais. Este fenômeno pode se manifestar em várias formas, desde
microagressões e estereótipos sutis até discriminação explícita e violência emocional e física. Essas experiências
negativas podem ter impactos significativos no bem-estar psicológico, no desempenho acadêmico e na construção
da identidade dos estudantes afetados, como discutido em trabalhos sobre a influência da cultura escolar e do
habitus de Bourdieu.

Para abordar eficazmente essas questões, não basta apenas reconhecer a existência do racismo no ambiente
escolar; é fundamental implementar estratégias educacionais e políticas que combatam ativamente o racismo. Isso
está alinhado com justiça social e a pedagogia antirracista, que propõem a criação de ambientes de aprendizado
seguros e inclusivos para todos os estudantes, independentemente de sua origem étnica.

Assim, defendemos uma educação que vá além da simples transmissão de conhecimento, mas também
ressaltamos a urgência de abordar o racismo no contexto escolar. Ao fazê-lo, estamos contribuindo para a criação de
um ambiente educacional que valoriza a diversidade, promove a justiça social e capacita os estudantes a alcançarem
seu pleno potencial, livres das violências físicas e emocionais associadas às atitudes racistas.

A educação formal, que idealmente deveria proporcionar um ambiente de aprendizado, convivência e


celebração da diversidade, muitas vezes se converte em um espaço de tensão, ansiedade e insegurança para
estudantes negros.

Portanto, o conhecimento das análises de pesquisadores e pensadores renomados nessa área é


essencial para compreendermos e combater o racismo sistêmico, estabelecendo assim uma base para
promovermos uma educação antirracista. Ser antirracista implica, simultaneamente, empenhar-se na
construção de políticas antirracistas e enfrentar e combater (em si mesmo e no outro) ideias que afirmam
hierarquias e desigualdades. Assim, ao se aprofundar nesse corpo teórico e promover uma educação
antirracista, podemos trabalhar para transformar as instituições educacionais em locais onde todos os
estudantes se sintam seguros, valorizados e capazes de alcançar seu pleno potencial, independentemente
de sua origem étnica. Isso representa um passo significativo na direção de uma sociedade mais justa,
igualitária e antirracista.
Este estudo tem como objetivo analisar resumos de artigos científicos publicados nos anos de
2016, 2017 e 2018, utilizando a ferramenta Google Acadêmico (Google Scholar), a fim de compreender as
manifestações de racismo e discriminação racial no contexto escolar. Quanto aos procedimentos
metodológicos adotados, a pesquisa possui uma abordagem bibliográfica e qualitativa, com ênfase na
análise de conteúdo. A seleção dos artigos abrange diversas áreas do conhecimento, incluindo Educação,
Geografia, Sociologia, Psicologia, entre outras. A coleta de dados foi conduzida com a utilização de
palavras-chave relevantes, tais como "racismo", "discriminação", "educação", "aprendizagem", "escola" e
"psicologia". Por meio da análise de conteúdo, seguindo a metodologia proposta por Bardin (2008), os
textos foram categorizados e foram criadas classes de palavras para identificar tendências discursivas nos
resumos analisados. Este estudo visa contribuir para um melhor entendimento das questões relacionadas
ao racismo e à discriminação racial no ambiente escolar, a partir da análise aprofundada de artigos
acadêmicos.

RESULTADOS
A Tabela 01 a seguir expõe as categorias mais recorrentes identificadas nos resumos, acompanhadas pela
contagem de ocorrências de cada tema e sua respectiva porcentagem em relação ao total de assuntos examinados.

Tabela 01: Categorias mais encontradas

Quantidade de vezes/assunto
Categorias abordado % de assuntos abordados

Decolonialidade 19 41,5

Lei(s) 10.639/2003 e/ou


11.645/2008 13 28

Formação docente 09 19,5

Ambientes hostis 05 11
Quantidade de vezes/assunto
Categorias abordado % de assuntos abordados

A seguir, apresentam-se reflexões com base no material coletado, destacando considerações extraídas da
análise de alguns artigos. Cumpre ressaltar que a pesquisa completa foi apresentada na forma de um relatório
perante o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

DECOLONIALIDADE

A categoria de decolonialidade abarca expressões e proposições que ressaltam a relevância de resgatar


elementos culturais africanos, anteriores à imposição de um pensamento colonial europeizado, na construção de
uma nova cultura negra valorizada e evidenciada. Esse enfoque requer, também, uma desconstrução dos elementos
eurocêntricos para proporcionar novas perspectivas, alicerçadas nas culturas africanas, como forma de questionar o
etnocentrismo e conceber a diversidade de uma maneira mais ampla e inclusiva (SCHNEIDER et al, 2019).

Nesse sentido, encontramos diversos resumos que abordam a temática, focalizando a educação quilombola
como uma forma de ressignificar o processo de aprendizado e incorporar elementos das culturas indígenas, afro-
brasileiras e africanas. Como exemplos desses estudos temos:

O artigo intitulado "Educação do campo e as relações étnico-raciais: olhares para o campesinato negro"
(2017) explicita a deficiência no tratamento das questões étnico-raciais no contexto da educação voltada ao campo,
o que resulta na exclusão de parte significativa da história desses grupos sociais; o resumo do artigo "A educação
escolar quilombola e as escolas quilombolas no Brasil" (2017) que realça a importância da educação escolar voltada
aos quilombos como um meio de resistência cultural e social. Igualmente, o resumo do artigo "Entre escola e
tradição: a educação numa comunidade remanescente de Quilombo Pauli" (2017) aborda a relação entre a escola
formal e os quilombos, enfatizando a necessidade de incorporar temáticas étnico-raciais no ensino. Em paralelo,
temos o artigo "Identidade Negra entre exclusão e liberdade" (2016) traz à tona uma reflexão profunda sobre a
construção da identidade negra e sua representação no imaginário social. Nessa análise, evidencia-se que a visão
predominante, frequentemente imposta pelo olhar dominador, tem marginalizado a identidade negra, subjugando-a a
estereótipos e reduzindo sua relevância histórica e cultural.

Em geral, os artigos afirmam que para romper com esse padrão danoso, é premente a adoção de um olhar
crítico e histórico sobre a experiência e cultura do negro no Brasil, reconhecendo suas lutas e conquistas e filosofia
ao longo dos tempos. Esse processo de ressignificação da identidade negra é de suma importância para desconstruir
a imagem estigmatizada e empoderar indivíduos e comunidades negras, garantindo que suas histórias e
contribuições sejam valorizadas e inseridas de maneira igualitária na sociedade.

LEI(S) 10.639/2003 E/OU 11.645/2008

A categoria "Lei(s) 10.639/2003 e/ou 11.645/2008" representa uma área de interesse relevante nos artigos
analisados, abordando leis e ações que evocam a importância de resgatar a cultura afro-brasileira e indígena no
âmbito das diretrizes educacionais e sua implementação na prática. As legislações em questão são as seguintes:

Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003: Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temática "História e Cultura Afro-Brasileira" e dá outras providências (BRASIL, 2003).

A partir do levantamento realizado, constatou-se uma considerável quantidade de artigos que abordam essas
leis e seus reflexos na educação brasileira. Um exemplo relevante é o resumo do artigo "Cultura afro-brasileira e
indígena no ambiente escolar" (2017), o qual demonstra que, apesar das leis federais 10.639/2003 e 11.645/2008
que instituem a obrigatoriedade do ensino da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, ainda ocorre de forma
superficial e que a presença do racismo no ambiente escolar continua sendo uma realidade. Esse estudo destaca a
necessidade de se refletir sobre a implementação efetiva dessas leis no contexto educacional, pois o mero
cumprimento formal das diretrizes pode não ser suficiente para promover a transformação necessária na educação
brasileira. É importante avaliar a abordagem utilizada nas práticas pedagógicas para a inclusão da cultura afro-
brasileira e indígena no currículo escolar, bem como o enfrentamento de eventuais obstáculos e resistências que
ainda possam persistir.

O artigo "Africanidade e afro brasilidade em educação física escolar" (2018) também aborda a
representatividade na educação física e destaca que poucos professores têm conhecimento sobre essas legislações e
que, consequentemente, elas não são aplicadas. Já no artigo "Quando o terreiro vai à escola: Possibilidades de
incorporação das epistemologias africanas e afro-brasileira na educação física escolar" (2016) há uma proposta para
a aplicação da lei 10.639/03 no contexto das aulas de educação física. Historicamente, essa disciplina foi pautada
por teorias europeias e utilizada como meio de controle dos corpos dos alunos. No entanto, a ideia central deste
artigo é descentralizar esse modelo de aprendizado e incorporar elementos das culturas africanas, afro-brasileiras e
indígenas às práticas do ensino de educação física. Tal abordagem busca ampliar a representatividade e promover
uma educação mais inclusiva e plural, valorizando as epistemologias tradicionais desses grupos culturais.

De um modo geral, os artigos revelam uma preocupação em desenvolver abordagens mais eficazes para
disseminar a história e cultura afro-brasileira e indígena no ambiente escolar, superando os desafios que ainda
existem em relação ao conhecimento e à aplicação das leis. A utilização de recursos audiovisuais e a inserção de
discussões pertinentes ao contexto cultural são estratégias relevantes para promover uma educação mais inclusiva e
consciente sobre a diversidade étnico-racial em nosso país. Dessa forma, busca-se não apenas cumprir as
determinações legais, mas também promover uma transformação social, combatendo preconceitos e valorizando as
contribuições desses grupos para a construção da identidade nacional.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A categoria "Formação Docente" é abordada nos artigos de forma enfática, destacando a necessidade
imperativa de uma formação docente adequada para o estudo da cultura negra e africana, especialmente no campo
da educação e em outras áreas, como a psicologia. Ao analisar as categorias anteriores, é possível vislumbrar
deficiências na formação desses profissionais em relação a essas questões, bem como identificar algumas estratégias
para combater essas lacunas.

Assim, o artigo "LÁ NA ESCOLA (NÃO) TEM RACISMO!”: reflexões sobre experiências formativas em
educação para as relações étnico-raciais" (2017) destaca que uma formação mais qualificada pode promover a
desconstrução mais eficaz de preconceitos. Por sua vez, o resumo do artigo "O racismo no contexto escolar e a
prática docente" (2017) enfatiza a importância de uma reflexão sobre os materiais didáticos e as interações entre
alunos e professores em relação ao racismo, uma vez que é nesses contextos que as práticas discriminatórias
costumam ser mais frequentes. O artigo "O racismo no contexto educativo: uma questão ética e de direitos
humanos" (2017) complementa essa perspectiva, ressaltando que a problemática do racismo é intrinsecamente
relacionada aos direitos humanos.

Esses artigos, de forma conclusiva, apontam a relevância crítica de uma formação docente adequada para o
enfrentamento do racismo e a promoção da igualdade étnico-racial no contexto educacional. A qualificação dos
profissionais da educação e a revisão curricular das disciplinas universitárias são elementos essenciais para a
construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa da diversidade cultural, onde as contribuições das culturas
afro-brasileira e indígena sejam integralmente valorizadas. As discussões trazidas por esses artigos desafiam as
instituições educacionais a adotarem uma abordagem mais consciente, comprometida e transformadora na formação
de seus profissionais.

AMBIENTES HOSTIS

A categoria "ambientes hostis" engloba expressões que descrevem locais onde ocorrem tratamentos de
inimizade, negatividade e desrespeito às identidades negras, resultando em uma diminuição da autoestima e na
desvalorização dessas identidades. Tais ambientes são considerados reflexos de uma sociedade preconceituosa, que
rejeita qualquer indivíduo que não se enquadre nos padrões normativos, especialmente os eurocêntricos. A
população negra, em particular, enfrenta experiências marcantes nesses ambientes, como evidenciado nos resumos
dos artigos a seguir.

No artigo "A presença da questão racial no ambiente escolar" (2017), destaca-se a constatação de que o
racismo persiste no ambiente escolar, mesmo que negado por muitos. "Brincadeiras" e músicas que ocorrem nesse
local apenas intensificam esse fato. Por sua vez, o artigo "Racismo e experiência do lugar em estudantes negras e
negros" (2017) traz uma discussão sobre o percurso sócio-espacial de alunos(as) negros(as) nos ambientes da
educação formal, que são permeados por um racismo intenso. Esses estudantes transformam tais locais em
ambientes hostis, onde não se sentem pertencentes, evidenciando uma diferenciação de experiências marcadas pelas
questões raciais. De maneira similar, o artigo "Discriminação racial na escola: vivências de jovens negros" (2016)
aborda como a discriminação no ambiente escolar afeta os jovens em sua formação como indivíduos. Em vez de se
preocuparem em aprender, eles se veem preocupados em sobreviver em um ambiente agressivo.

Assim, tais pesquisas enfatizam a importância de reconhecer e combater a hostilidade e a discriminação


racial nos ambientes educacionais. A necessidade de promover uma educação mais inclusiva, sensível às diferenças
culturais e respeitosa à diversidade étnico-racial, emerge como um desafio crucial para a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária. A reflexão sobre esses aspectos possibilita caminhar em direção a ambientes mais
acolhedores, onde todos os indivíduos sejam valorizados e respeitados, independentemente de sua origem étnica ou
cultural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em nossa análise temos a constatação de que o racismo permanece enraizado como um elemento estrutural
nas instituições de ensino. Esse cenário alarmante pode estar associado ao despreparo dos profissionais que nelas
atuam, seja pela falta de formação acadêmica, intelectual e cultural que negligencia os aspectos étnico-raciais na
configuração social, ou simplesmente pela alienação desses profissionais em relação à presença do racismo nesses
locais. Esse quadro se mostra particularmente preocupante nos cursos de graduação, a exemplo da psicologia onde
lecionamos, onde a discussão sobre o tema ainda é incipiente.

Pode-se inferir que as narrativas históricas proferidas nos processos educativos moldaram a identidade
nacional brasileira, fundamentada em um ideário racista, branco, elitista e europeizado, que relegou os negros a uma
posição de raça inferior, nunca foram devidamente questionadas. O racismo no Brasil assume a forma de uma
linguagem social que reforça estereótipos negativos associados à inferioridade quando se fala da "cor", ao mesmo
tempo que enaltece a branquitude como o ideal a ser seguido. O termo "negro" frequentemente carrega consigo
conotações negativas, perpetuando preconceitos profundamente enraizados.
Em conclusão, é imprescindível reconhecer que o racismo e a discriminação racial persistem como
elementos estruturais arraigados nas instituições de ensino. Isso é resultado da falta de preparo dos profissionais que
atuam nesse meio e de uma história que sempre negou a presença e a contribuição do negro na sociedade. Combater
esse cenário exige esforços contínuos, abraçando abordagens antirracistas e promovendo uma educação que valorize
a diversidade e a igualdade. Acreditamos que os estudos decoloniais representam uma força catalisadora com o
potencial de impulsionar mudanças significativas no campo da educação, direcionando-a na direção de uma
perspectiva antirracista. Essa perspectiva tem como objetivo o resgate e a valorização das culturas dos povos nativos
e africanos, reduzindo os efeitos do racismo sistêmico e desafiando as narrativas de modernidade e colonialidade
que há muito tempo prevaleceram. A decolonialidade, assim, emerge como um campo de estudo acadêmico-político
relativamente recente, enraizado em um projeto latino-americano que surge como uma crítica ao pós-colonialismo,
buscando uma descolonização abrangente, abrangendo tanto o âmbito epistêmico quanto o político e teórico, com
origens no Sul Global.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Silvio Luiz de.Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro. Póle, 2019.
BRASIL. Lei n° 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos
Jurídicos, 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm. Acesso em: 15 mai.
2020.
BRASIL. Lei n° 11.645, de 10 de março de 2008. Presidência da República - Casa Civil - Subchefia para Assuntos
Jurídicos, 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11645.htm.
Acesso em: 15 mai. 2020.
CAMINO, L. et al. A face oculta do racismo no Brasil: Uma análise psicossociológica. Revista de psicologia
política, v. 1, n. 1, p. 13-36, 2001.
MUNANGA, K. Superando o racismo na escola. Brasília: MEC, 2005.
OLIVEIRA, A. C. M.; GONZÁLEZ REY, F. A criança que se desenvolve subjetivamente em sala de aula:
caminhos para o aprender escolar. In: TACCA, M. C.; MITJÁNS MARTÍNEZ, A.; GONZÁLEZ REY, F.;
MADEIRA-COELHO, C. (Org.). Subjetividade, aprendizagem e desenvolvimento: estudos de caso em foco.
1ed.Campinas: Alínea, 2019, v. 1, p. 11-32.
SCHNEIDER, Ana Paula Rossaci et al. Práticas pedagógicas para diversidade étnica e racial na educação: Diário de
bordo. Revista Intersaberes, v. 14, n. 32, 2019.

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