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Brazilian Journal of Health Review 27864

ISSN: 2595-6825

Avaliação do dano estético dentário considerando as distâncias íntima e


social do observador: estudo piloto

Evaluation of dental aesthetic damage considering the intimate and social


distances of the observer

DOI:10.34119/bjhrv4n6-339

Recebimento dos originais: 08/11/2021


Aceitação para publicação: 15/12/2021

Carolina Rodrigues e Rodrigues


Especialista em Odontologia Legal (ABORS)
Instituição de atuação atual: Associação Brasileira de Odontologia Seção RS (ABORS) –
Departamento de Odontologia Legal
Endereço: Rua Furriel Luiz Antônio de Vargas, 134, Mont Serrat, Porto Alegre, RS, Brasil,
90470-130
E-mail: carolr.rod@gmail.com

Alexandre Lazzari Konflanz


Mestre em Ciências da Saúde
Instituição de atuação atual: Centro Educacional FAI (UCEFF)
Endereço: Rua Carlos Kummer, número 100, bairro Universitário, Itapiranga, Santa Catarina
E-mail: alexandrekonflanz@uceff.edu.br

Vanessa Pereira de Araujo


Mestrado em Ortodontia e ortopedia facial Pucrs
Instituição de atuação atual: IGP (Instituto Geral de Perícias RS)
Endereço: Rua José Albano Volkmer 340, bairro jardim do salso, Porto Alegre, RS.
E-mail: vanessa-araujo@igp.rs.gov.br

Gabriela Cauduro da Rosa


Mestre em Ciências da Saúde, área de concentração Odontologia Legal - FOUSP
Instituição de atuação atual: Universidade de São Paulo/SP
Endereço: Rua Professor Teixeira 1284/406, Santa Maria, Rio Grande do Sul
E-mail: gabrielacrosa@usp.br

Rosane Pérez Baldasso


Doutora em Ciências da Saúde, área de concentração Odontologia Legal - FOUSP
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Departamento de Odontologia Legal
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90470-130
E-mail: rosanebaldasso@gmail.com

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Rogério Nogueira de Oliveira


Livre Docente em Odontologia Legal - FOUSP
Instituição de atuação atual: Universidade de São Paulo/SP
Endereço: Avenida Professor Lineu Prestes, 2227 - Cidade Universitária - São Paulo/SP -
CEP: 05508-000
E-mail: rogerion@usp.br

Mário Marques Fernandes


Pós-Doutor em Odontologia Legal - FOUSP
Instituição de atuação atual: Associação Brasileira de Odontologia Seção RS (ABORS) –
Departamento de Odontologia Legal
Endereço: Rua Furriel Luiz Antônio de Vargas, 134, Mont Serrat, Porto Alegre, RS, Brasil,
90470-130
E-mail: mario-mf@live.com

RESUMO
Objetivo: Verificar a influência das distâncias íntima e social na avaliação de lesão de avulsão
de dente anterior de um indivíduo sorrindo e com os lábios em repouso utilizando o
método/instrumento de Análise da Impressão do Impacto do Prejuízo Estético (AIPE)
simplificado e adaptado ao contexto brasileiro (AIPE-SimpAd/Brasil). Metodologia: Estudo
piloto onde cada voluntário recebeu um questionário contendo dois quadros do método AIPE-
SimpAd/Brasil a serem preenchidos em momentos distintos. Primeiro, observaram à distância
de 50cm (distância íntima) um banner contendo duas imagens: a primeira, de um indivíduo
sorrindo com incisivo central superior direito (elemento 11) ausente; a segunda, com lábios em
repouso, também com ausência do mesmo dente. Repetiu-se o processo, porém à distância de
3 m (distância social). Resultados: Na distância social, a análise sorrindo evidenciou que a
maioria dos voluntários classificou a lesão entre graus 4 e 6, e ainda consideraram tratar-se de
uma deformidade permanente. Com os lábios em repouso, classificaram em grau 4 ou 5,
também nesta situação, consideraram estarmos frente ar uma deformidade permanente. Na
variação com a análise sorrindo a 50 centímetros, seguiram mostrando os mesmos escores
(graus 4 e 6) obtidos, e também classificaram como deformidade permanente. Já na imagem
aproximada com os lábios em repouso, a maioria manteve a classificação e o enquadramento
em deformidade permanente. Conclusão: Independente das distâncias em que foram avaliadas
houve patamares altos de dano estético para avaliações com lábio em repouso ou sorrindo
utilizando o instrumento de Análise da Impressão do Impacto do Prejuízo Estético (AIPE)
simplificado e adaptado ao contexto brasileiro (AIPE-SimpAd/Brasil).

Palavras Chave: Dano. Estética. Odontologia Legal. Avaliação de danos. Distância.

ABSTRACT
Objective: To verify the influence of intimate and social distances in the assessment of anterior
tooth avulsion injury in a smiling and resting lips individual using the method/instrument injury
Assessment Impression and Impact Instrument (AIPE) simplified and adapted to Brazilian
context (AIPE-SimpAd/Brazil). Methodology: Each volunteer received a questionnaire
containing two charts of the AIPE-SimpAd/Brazil method to be filled out in two moments.
First, they observed at a distance of 50 cm (intimate distance) a banner containing two images:
the first, of a smiling individual with an absent upper right central incisor (element 11); the
second, with resting lips, also without the same tooth. The process was repeated, but at a

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distance of 3 m (social distance). Results: In the social distance, the smiling analysis showed
that most volunteers classified the lesion between grades 4 and 6, considering it to be permanent
deformity. With the resting lips, most participants rated it as a grade 4 or 5, also considering it
to be a permanent deformity. In the analysis smiling at 50 centimeters, most observers classified
as grade 4 and 6, the presence of permanent deformity. In the picture with resting lips, most
classified it between grades 4 and 6 and considered it to be a permanent deformity. Conclusion:
Regardless of the distances at which they were assessed, there were high levels of aesthetic
damage for assessments with the resting lips or smiling using the method/instrument injury
Assessment Impression and Impact Instrument (AIPE) simplified and adapted to Brazilian
context (AIPE-SimpAd/Brazil).

Keywords :Damage, Aesthetics, Forensic Dentistry, Damage Assessment, Distance.

1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história, o dano à integridade física sempre foi compreendido como algo
de particular importância, devendo assim, ser o autor responsabilizado e punido na mesma
proporção do prejuízo pessoal e social causado ao indivíduo. Em conjunto a essa punição em
âmbito penal, surgiu o interesse em reivindicar uma reparação econômica para a vítima também
em âmbito civil [1].
Identificar, avaliar e descrever o dano como um todo, bem como suas repercussões sobre
a integridade física e psíquica, é fundamental para uma correta e justa valoração dos danos.
Para isso, é importante considerar vários fatores, como por exemplo, a aparência facial anterior
do indivíduo. A mudança na aparência, principalmente facial, pode provocar traumas
emocionais desencadeados pela perda da harmonia facial percebida pelo indivíduo, pois a
relação entre a autoestima e a imagem do corpo é muito forte. O sorriso, assim como a face,
representa a forma mais primitiva e a essência da capacidade de comunicação humana [2].
O dano estético pode ser conceituado como qualquer irregularidade física ou mudança
corporal permanente que pressuponha feiura agressiva ao ser visualizada e que cause ao
indivíduo que sofre essa modificação desgosto ou complexo de inferioridade, perante si e a
coletividade [3]. Atualmente, no Brasil, podemos observar importantes divergências, tanto no
âmbito penal quanto no civil em relação à avaliação do dano estético devido a uma falta de
padronização de abordagem [4].
Considerar fatores que podem influenciar em como uma lesão com prejuízo estético é
observada pelo avaliador, como a distância de avaliação, é fundamental para o estabelecimento
de formas mais justas de indenização. O presente estudo objetivou verificar a influência das
distâncias íntima e social na avaliação de lesão de avulsão simulada de dente anterior de um

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indivíduo sorrindo e com os lábios em repouso utilizando o método/instrumento de Análise da


Impressão do Impacto do Prejuízo Estético (AIPE) simplificado e adaptado ao contexto
brasileiro (AIPE-SimpAd/Brasil) [5].

2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo é do tipo piloto, transversal, baseado na aplicação do
método/instrumento de Análise da Impressão do Impacto do Prejuízo Estético (AIPE)
simplificado e adaptado ao contexto brasileiro (AIPE-SimpAd/Brasil) [5]. Devido ao fato de
ser da competência do cirurgião-dentista a perícia odontolegal, de acordo com a legislação
brasileira [6], a população do estudo foi composta exclusivamente por cirurgiões dentistas, fato
considerado como critério de inclusão.
Foram utilizados dois quadros simplificados do método/instrumento de Análise da
Impressão do Impacto do Prejuízo Estético (AIPE) já validado no Brasil e adaptado ao contexto
brasileiro, denominado: AIPE-SimpAd/Brasil [5] (Figuras 1 e 2). Esclarecemos que, neste
estudo, foram realizadas modificações nos quadros do método AIPE original [7] e validado no
Brasil [5] visando melhorar a coleta, otimizar o tempo e objetivar o uso no contexto pericial
odontológico civil e criminal brasileiro. O método foi simplificado, sendo reduzidas duas
tabelas em função de não ser necessário estabelecer pontos (no 3ª quadro, pode-se quantificar
até 50 pontos de prejuízo estético, o que é necessário no âmbito civil em acidentes de trânsito
na Espanha, e não faz sentido ser utilizado no Brasil). No Brasil, estamos ainda num estágio
incipiente de valoração do dano, sendo desnecessário classificar a lesão em pontos por não
haver uma correspondência nos dispositivos legais.
Também foi adaptado ao contexto brasileiro, por exemplo, para uso em âmbito criminal
ao definir uma deformidade permanente [8] sendo inserido o ponto 4.1 nos quadros facilitando
o trabalho dos peritos ao tipificar uma deformidade permanente.

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Figura 1: Quadro da análise da impressão do prejuízo estético do AIPE-SimpAd/Brasil.

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Figura 2: Quadro para a valoração da categoria do prejuízo estético do AIPE-SimpAd/Brasil.

Para a confecção do material avaliado pelos profissionais participantes da pesquisa,


fotografou-se um indivíduo voluntário sem nenhuma cicatriz na face a uma distância de
aproximadamente 1,5 m, de maneira que estivesse com ambos os olhos visíveis, olhando
diretamente para a lente da câmera, sem cabelos ou acessórios interferindo na visibilidade da
face, face centralizada em relação ao plano sagital, de maneira a estar visível desde a linha de
implementação capilar até o mento e de uma orelha até a outra [9] e enquadramento padrão 3x4.
Através de recursos de edição de imagem utilizando o Microsoft Power Point 2010
(Microsoft Corporation, USA), foi simulada uma avulsão do elemento 11 do voluntário afim
de mimetizar um prejuízo estético.

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Foram realizadas 2 tomadas fotográficas digitais distintas, ambas na norma frontal,


porém uma com o paciente sorrindo mostrando os dentes (não forçado), e outra com os lábios
em posição de repouso, numa distância focal de 105 mm [10] utilizando ao fundo uma fita
métrica representando a escala. Foi aplicado um desfoque na região dos olhos do periciado a
fim de evitar o viés subjetivo do olhar.
As duas imagens foram impressas em 2 banners de lona fosca medindo 70 cm de largura
e 46 cm de altura, mimetizando o tamanho mais próximo do real, no qual obteve-se uma
pequena distorção de 0,7cm na largura inerente ao processo de captação; porém, em nada
comprometendo as características da face do indivíduo (Figura 3).

Figura 3: Imagens do indivíduo sorrindo e com os lábios em repouso avaliadas pelos participantes da pesquisa.

Cada banner foi colocado em um tripé confeccionado em material de PVC, a uma


distância de 172 cm do ponto irion (início da margem do cabelo) até o chão, levando em
consideração a altura média de brasileiros adultos [11]. Um dos banners foi posicionado a uma
distância de 50cm (distância íntima) do observador, e o outro a 3m (distância social).
Ambos os banners tinham uma cobertura justaposta à imagem que foi descerrada e
retirada, evitando assim que o participante avaliador visse os dois conjuntos de imagens ao
mesmo tempo (em ambas distâncias), evitando assim o viés da percepção da imagem.
Todos os participantes receberam o instrumento e um questionário de qualificação do
sujeito da pesquisa, além de uma imagem do “RG” do periciado e outra imagem sorrindo,
simulando seu estado anterior (Figura 4).

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Figura 4: Estado anterior do periciado representado pela carteira de identidade.

Com os banners já posicionados nas duas distâncias (50 cm e 3 m do observador),


após explanação do método pelo pesquisador e análise do estado anterior do periciado, os
participantes observaram primeiramente a imagem 1 com o voluntário em sorrindo, e
posteriormente com os lábios em repouso, por em média 3 minutos incluindo o tempo de
marcação nas tabelas de avaliação disponíveis na prancheta recebida.
Após este período, foi ocultada a imagem do banner 1 e o avaliador avisado da
próxima imagem a ser avaliada. Novamente no mesmo tempo citado a imagem 2 foi mostrada.
As distâncias foram padronizadas com marcações no chão. Durante os dois
momentos, os avaliadores quantificaram o dano apresentado com base no método AIPE-
SimpAd/Brasil.
Foi realizada estatística descritiva utilizando o software Microsoft Excel 2010
(Microsoft Corporation, USA).
O projeto foi submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Odontologia da USP em momento prévio a sua execução, sendo os procedimentos executados
sob Parecer Consubstanciado de número 4.322622.

3 RESULTADOS
A amostra foi composta de 32 cirurgiões dentistas, sendo majoritariamente do sexo
feminino, com idade entre 20 e 29 anos, formada entre 2010 e 2021, sem afinidade com o
contexto forense (Tabela 1).

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Tabela 1: Características da amostra


Características da Amostra Frequência
Sexo Masculino 9
Feminino 23
Idade Entre 20-29 anos 16
Entre 30-39 anos 7
Entre 40-49 anos 7
50 anos ou mais 2
Ano Entre 1990-1999 5
De Entre 2000-2009 5
Formatura Entre 2010-2021 22
Contexto Possui afinidade com o contexto forense 9
Forense Não possui afinidade com o contexto forense 23

Ao analisar o suposto periciado sorrindo à distância de 3 m (social), observou-se que


a maioria dos voluntários classificaram a lesão em grau 4, grau 5 ou grau 6, e consideraram se
tratar de uma deformidade permanente. Em relação ao periciado com os lábios em repouso, o
maior número de participantes classificou em grau 0, grau 4 ou grau 5, e também consideraram
ser uma deformidade permanente (Figura 5).

Figura 5: Resultado da avaliação a 3 metros do observador.

Na análise do indivíduo sorrindo à distância de 50 cm (íntima), a maior parte dos


observadores classificou como grau 4 e grau 6 e presença de deformidade permanente. Na
figura com os lábios em repouso, a maioria classificou como grau 4, grau 5 e grau 6 e
consideraram se tratar de deformidade permanente. (Figura 6).

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4 DISCUSSÃO
Em relação à caracterização da amostra composta apenas por cirurgiões-dentistas, se
justifica pela competência desses profissionais em proceder à perícia odontolegal em fôro civil,
criminal, trabalhista e em sede administrativa. Em se tratando de um estudo piloto que objetiva
a avaliação da viabilidade do estudo, obteve-se uma amostra de apenas 32 participantes.
Buscou-se obter heterogeneidade da amostra em relação a sexo, idade, tempo de formado e
afinidade com o contexto forense.
Optou-se pela simulação de avulsão do dente 11 devido a sua localização anterior, que
acarreta certa facilidade de percepção do dano. Além disso, perdas dentárias podem fazer com
que as pessoas se utilizem de artifícios para escondê-las, o que pode causar um sentimento de
inferioridade e depressão, além de acarretar distúrbios de deglutição, fala e mastigação[2].
Considera-se dano estético como uma alteração corporal ou irregularidade física,
permanente e visível, que pressuponha enfeamento agressivo a simples vista, e deve ser sentido
pela pessoa afetada como algo que cause repúdio à sua imagem e harmonia corporal [3]. Em se
tratando de uma alteração, torna-se imprescindível o conhecimento do estado anterior do
indivíduo a ser a observado, o que justificou a entrega da carteira de identidade adaptada do
sujeito.
A avaliação do dano estético do periciado é subjetiva, pois a percepção da importância
e gravidade da lesão pode ser diferente para o examinador, para o juiz e principalmente para a
vítima [12]. É muito importante ser feita uma correta avaliação do dano corporal, pois ela visa
conhecer as consequências que um trauma gera na saúde psicofísica de uma pessoa [13] [14]
Atualmente, no Brasil, há uma falta de padronização na abordagem da avaliação do dano
corporal em Direito Civil [15]. A uniformização de critérios a serem usados, baseados em
estudos científicos, é fundamental para a ponderação do dano estético em demandas
indenizatórias para oferecer informações adequadas ao magistrado, auxiliando em seu
julgamento [16]. A valoração do dano estético deve ser avaliada utilizando critérios que
mensurem, de forma evidente e fácil de informar aos tribunais e autoridades a consequência
que essa alteração da imagem exterior provoca no indivíduo examinado e de como os outros o
vem [4], tornando-se importante a utilização de uma método que resgate o sentimento do
avaliador perante a imagem do periciado, ao citar em sua metodologia termos como resposta
emocional, relação interpessoal, a fim de resultar em valorações mais justas [17]. Por isso,
escolheu-se para a realização do presente estudo o método/instrumento de Análise da Impressão
do Impacto do Prejuízo Estético (AIPE), já validado, simplificando o número de tabelas e

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adaptando o mesmo ao contexto brasileiro com inclusão do aspecto penal, ou do conceito de


deformidade permanente (AIPE-SimpAd/Brasil) [5]
Este método foi desenvolvido para utilização na avaliação do prejuízo estético, âmbito
civil ou penal, sobre o grau da deformidade, podendo ser usado para avaliação de todo o corpo
humano. O método auxilia todos os profissionais envolvidos no exame pericial, visando à:
utilizar um critério de intensidade ou gravidade sobre esse dano estético e sobre a possível
deformidade provocada; definir questões de uso as quais podem ser utilizadas em novas
avaliações por diferentes avaliadores; melhorar os princípios de contradição e mediação ao
mostrar ao juiz as bases da avaliação de maneira simples e óbvia [18]. Com o objetivo de criar
um meio auxiliar na elaboração de laudos de dano estético utilizando o método AIPE, Sakaguti
et al desenvolveram um software livre disponível na internet, de fácil manuseio que agrega
ainda mais praticidade ao método [19].
Conforme observado nas figuras 1 e 2, o método consiste em uma avaliação na qual
existe uma evolução psicométrica, porém, como o objetivo do estudo é verificar a presença ou
ausência de determinada marcação, a mais grave foi considerada para fins de categorização em
graus, independente da presença de evolução ou não.
Nota-se que, cada categoria da tabela 1 possui três opções de respostas, as quais se
justificam devido ao fato de que na Espanha, país do método original, há uma classificação por
pontos necessária para a indenização em dano estético, o que não ocorre no Brasil, já que o país
está em um estado incipiente de valoração do dano. Uma avaliação dicotômica (sim ou não) de
cada grau talvez fosse mais apropriada para alcançar mais facilmente o grau da lesão,
enquadrando a classificação conforme a realidade brasileira. A mesma justificativa é válida
para o fato de termos utilizado apenas duas tabelas em vez de quatro, como proposto no método
original validado, por isso justificando a parte simplificada deste instrumento. Observou-se que
não precisaríamos de três respostas para serem levadas a tabela 2, pois dicotomizadas, teríamos
uma a menos e assim objetivaria mais o tamanho do instrumento utilizado. Mais pesquisas são
necessárias com o instrumento novamente simplificado.
Seguindo, um dos métodos existente na literatura para avaliação de dano estético
causado por cicatrizes no rosto é o método proposto por Rouge et al., no ano de 1996. Além de
serem avaliados critérios descritivos, como localização e características da cicatriz, é
recomendado que a observação seja feita de duas distâncias diferentes: à 50 cm, considerada
distância íntima e 3 m, considerada distância social [12]. No presente estudo, ao invés de

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cicatrizes, optou-se por avaliar o dano estético causado por perda dentária simulada, em dois
momentos, mantendo as distâncias preconizadas pelos autores.
Observando o indivíduo a 3m, considerada uma distância social, na imagem 1.a
(sorrindo) a maior parte dos participantes (90,6%) classificou o dano como grau 4, que é capaz
de causar resposta emocional, grau 5 e grau 6, o qual poderia alterar a relação interpessoal
superficialmente ou profundamente, respectivamente, sendo o mais prevalente dos três o grau
4 (43,75%).
Em comparação com o periciando sorrindo, no qual nenhum participante considerou a
presença de grau 0, 1 ou 2, na imagem do indivíduo com os lábios em repouso, a 3 m de
distância, 31,25% consideraram não ver ou praticamente não ver, não tender a fixar o olhar na
lesão ou não lembrar do indivíduo através da lesão, constatando que, além da distância da
observação, a expressão do indivíduo periciado influencia na valoração do dano estético.
Na avaliação do indivíduo sorrindo a 50 cm de distância (2.a, distância íntima),
novamente a maioria dos participantes classificaram como grau 4, 5 e 6 (90,6%); entretanto,
diferentemente da imagem 1.a, entre os três graus citados, o maior número de respostas foi para
grau 6 (53,1%). Com os lábios em repouso, a maior parte das respostas de concentraram nos
graus 4 e 5 (62,5%), informando-nos que, mesmo com os lábios em repouso, o dano estético
foi capaz de causar resposta emocional e alterar a relação interpessoal superficialmente.
Durante a avaliação de um dano estético, é de suma importância tentar mimetizar
situações comuns do dia a dia nas quais o periciado poderá se encontrar, como sorrindo, falando,
sério, lábios em repouso, bocejando, entre outros. Por isso optou-se pela avaliação em duas
situações distintas (sorrindo e lábios em repouso), o que também se considerou uma limitação
deste trabalho.
Com relação à deformidade permanente, parte que se encontra o ajuste feito no
instrumento de aferição, em todas as quatro situações citadas, obtiveram-se números
significativos de respostas positivas, constatando que, mesmo se tratando da perda de apenas
um dente, os avaliadores consideraram ser: “uma alteração estética grave, capaz de reduzir
acentuadamente a estética visual, sendo uma desfiguração notável”, conforme conceito
amplamente aceito pela literatura [ 8 ] e disposto na tabela 1 do instrumento, além da capacidade
do método de avaliar o dano estético não só para âmbito civil, como também criminal.

5 CONCLUSÃO
A partir dos resultados encontrados pode-se concluir que houve, independente das
distâncias em que foram avaliadas, patamares altos de dano estético para avaliações com lábio

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[ 8 ] França, G.V. (2011) Medicina Legal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.


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http://www.icao.int/publications/pages/publication.aspx?docnum=9303.
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[ 10 ] Claman, L., Patton, D. e Rashid, R. (1990) Standardized portrait photography for dental
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[ 11 ] IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa de


Orçamentos Familiares 2008-2009.– Rio de janeiro, 2010. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv50063.pdf. Acesso em: 14 de junho de
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[ 12 ] Lloret, F.R., Navas, L.D.S., Rocher, F.B., Bravo, M.P. e Silva, Z.C. (2013) Propuesta de
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