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Assistência de

Enfermagem na
Saúde da
Mulher

Prof.ª Julieth Merelis


Prof.ª Lisandra Steil da Silva

Indaial – 2023
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Julieth Merelis
Prof.ª Lisandra Steil da Silva

Copyright © UNIASSELVI 2023

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.


Núcleo de Educação a Distância. MERELIS, Julieth.

Assistência de Enfermagem na Saúde da Mulher. Julieth Merelis; Lisandra


Steil da Silva. Indaial - SC: Arqué, 2023.

200p.

ISBN XXX-XX-XXX-XXXX-X

“Graduação - EaD”.
1. Mulher 2. Maternidade 3. Saúde

CDD 613.04244
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Assistência de
Enfermagem na Saúde da Mulher. Este livro é composto por três unidades cujos temas
estão relacionados às necessidades de cuidado na saúde da mulher, preservando os
contextos socioeconômicos e culturais, assim como o trajeto histórico das políticas
públicas até a atualidade.

Na Unidade 1, abordaremos os aspectos clínico-epidemiológicos da mulher no


Brasil e no mundo, apresentando uma visão geral das condições de saúde das mulheres
e das principais questões que afetam sua qualidade de vida.

Na Unidade 2, estudaremos a Legislação do Sistema Único de Saúde (SUS) e


suas peculiaridades na saúde da mulher, destacando a importância da política de saúde
no país e sua relação com o cuidado em relação à saúde da mulher.

Por fim, na Unidade 3, aprenderemos acerca da assistência de enfermagem


voltada para a saúde reprodutiva e os cuidados durante o período do climatério,
apresentando as intervenções e técnicas utilizadas para garantir a saúde da mulher em
todas as fases da sua vida.

Além disso, este livro destaca a importância dos contextos socioeconômicos


e culturais para a assistência de enfermagem na saúde da mulher, levando em
consideração as particularidades de cada paciente.

Bons estudos!

Prof.ª Julieth Merelis

Prof.ª Lisandra Steil da Silva


GIO
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No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

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os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

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verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
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e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR
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que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para
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Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
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para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
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LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
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preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - ASPECTOS CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICOS DA MULHER NO
BRASIL E NO MUNDO...........................................................................1

TÓPICO 1 - EPIDEMIOLOGIA DOS AGRAVOS À SAÚDE DA MULHER..................... 3


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3
2 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SAÚDE ................................................................... 3
2.1 EQUIDADE DE GÊNERO EM SAÚDE.................................................................................. 4
2.1.1 O papel da mulher em sociedade..............................................................................5
2.2 A IDEALIZAÇÃO DA MATERNIDADE..................................................................................6
2.3 A CONSTRUÇÃO DO CUIDADO INTEGRAL .....................................................................7
3 PANORAMA DA SAÚDE DA MULHER NO MUNDO................................................ 7
3.1 DESIGUALDADE NO ADOECIMENTO FEMININO............................................................ 8
3.1.1 Indicadores de saúde da mulher no Brasil..............................................................9
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................... 13
AUTOATIVIDADE.................................................................................................... 14

TÓPICO 2 - PERFIL DE MORBIMORTALIDADE FEMININA.....................................17


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................17
2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS E INTERVENÇÕES NECESSÁRIAS ..........................17
2.1 DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO (DAC).........................................................18
2.1.1 Acidente vascular encefálico (AVE)........................................................................19
2.2 NEOPLASIAS .......................................................................................................................21
2.3 CÂNCER DE MAMA E DE COLO DO ÚTERO................................................................. 22
3 CAUSAS EXTERNAS ..........................................................................................28
3.1 ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS.................................................................................... 29
3.2 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.....................................................................................30
RESUMO DO TÓPICO 2...........................................................................................33
AUTOATIVIDADE....................................................................................................34

TÓPICO 3 - FATORES DE RISCO E MEDIDAS TERAPÊUTICAS............................ 37


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 37
2 CONCEITOS E FERRAMENTAS EM EPIDEMIOLOGIA......................................... 37
2.1 AS PARTICULARIDADES DA DIABETES MELLITUS (DM) EM MULHERES.............38
3 SINTOMAS DO DIABETES EM MULHERES........................................................ 40
4 OSTEOPOROSE .................................................................................................. 41
4.1 DOENÇAS REUMÁTICAS.................................................................................................... 42
LEITURA COMPLEMENTAR...................................................................................45
RESUMO DO TÓPICO 3...........................................................................................52
AUTOATIVIDADE....................................................................................................53

REFERÊNCIAS........................................................................................................55
UNIDADE 2 — LEGISLAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NA POPULAÇÃO
FEMININA........................................................................................ 67

TÓPICO 1 — PRINCIPAIS DIREITOS DAS MULHERES...........................................69


1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................69
2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988...................................................................70
2.1 Lei nº 8.080/1990................................................................................................................72
2.1.1 Desafios e perspectivas............................................................................................ 73
2.2 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE DA MULHER..............................................74
2.2.1 SISPRENATAL .............................................................................................................75
2.2.2 SISCOLO ......................................................................................................................75
2.2.3 SISMAMA ....................................................................................................................75
3 PLANEJAMENTO FAMILIAR............................................................................... 77
3.1 LEI MARIA DA PENHA.........................................................................................................79
3.2 VACINAÇÃO CONTRA O HPV...........................................................................................80
3.3 HIV E SÍFILIS EM PARTURIENTES..................................................................................80
3.4 RECONSTRUÇÃO DE MAMAS.........................................................................................80
3.5 LEI N° 11.108/2005, DE 15 DE ABRIL DE 2005............................................................80
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................... 81
AUTOATIVIDADE....................................................................................................82

TÓPICO 2 — POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO........................................85


1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................85
2 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO.........................................................86
2.1 PRÍNCIPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO........................................ 87
2.2 DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO...................................... 87
2.3 HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO À SAÚDE DA MULHER...............................................88
RESUMO DO TÓPICO 2...........................................................................................92
AUTOATIVIDADE....................................................................................................93

TÓPICO 3 — POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA


MULHER.............................................................................................95
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................95
2 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SAÚDE .................................................................96
2.1 HISTÓRICO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE DA MULHER............................97
2.2 PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER.......................... 99
3 A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER....... 101
3.1 DIRETRIZES......................................................................................................................... 101
3.2 OBJETIVOS GERAIS........................................................................................................ 104
3.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................................. 104
4 REDE DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER...................................106
4.1 ATENDIMENTO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER EM TODAS AS FASES DA VIDA......107
4.2 ATENDIMENTO À MULHER NO PARTO.........................................................................107
4.3 SEGURANÇA E AMBIENTAÇÃO PARA O PARTO....................................................... 109
4.4 A REDE CEGONHA............................................................................................................ 110
4.5 AÇÕES EDUCATIVAS À GESTANTE................................................................................111
4.6 ATENÇÃO INTEGRAL À MULHER IDOSA...................................................................... 112
4.7 A ACADEMIA DAS CIDADES............................................................................................ 112
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................. 113
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................... 121
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 122

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 125

UNIDADE 3 — SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA.................................................131


TÓPICO 1 — SISTEMA REPRODUTOR FEMININO................................................ 133
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 133
2 SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA....................................................................134
2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO........................ 134
2.2 CICLO MENSTRUAL .........................................................................................................137
2.3 CUIDADOS COM A SAÚDE DA REGIÃO ÍNTIMA......................................................... 139
2.4 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS............................ 140
3 DOENÇAS E CONDIÇÕES DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO ................ 141
3.1 ENDOMETRIOSE................................................................................................................. 141
3.2 INFERTILIDADE................................................................................................................. 142
3.3 INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS ....................................................... 144
3.3.1 Sífilis............................................................................................................................ 144
3.3.2 Gonorreia, clamídia e oftalmia neonatal........................................................... 144
3.3.3 Hepatites B e C....................................................................................................... 145
3.3.4 Vírus da imunodeficiência humana - HIV ....................................................... 145
3.3.5 Triagem de IST na gestação ............................................................................... 146
3.3.6 Corrimento vaginal ................................................................................................ 146
3.3.7 Úlceras genitais....................................................................................................... 146
3.3.8 Doença inflamatória pélvica ................................................................................147
3.3.9 Verrugas anogenitais ............................................................................................ 148
3.3.10 Violência sexual e prevenção de ISTs e gravidez......................................... 148
3.3.11 A atuação do enfermeiro frente as ISTs........................................................... 149
4 FASES DO DESENVOLVIMENTO FEMININO ....................................................150
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................... 153
AUTOATIVIDADE..................................................................................................154

TÓPICO 2 — CUIDADOS DE ENFERMAGEM DURANTE O CICLO GRAVÍDICO


PUERPERAL..................................................................................... 157
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 157
2 A ATENÇÃO PRIMÁRIA E A SAÚDE MULHER E DA CRIANÇA.......................... 157
2.1 O PRÉ NATAL DE BAIXO RISCO...................................................................................... 158
2.2 PRINCIPAIS SINAIS DE ALERTA NA GESTAÇÃO........................................................ 162
2.3 INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E OBSTÉTRICAS...................................................... 164
2.3.1 Diabetes mellitus gestacional.............................................................................. 165
2.3.2 Síndromes hipertensivas na gestação............................................................. 165
2.3.3 Síndromes hemorrágicas..................................................................................... 166
2.3.4 Doença hemolítica perinatal................................................................................ 166
3 ASSISTÊNCIA À PARTURIENTE .......................................................................168
4 O ALEITAMENTO MATERNO ............................................................................. 172
4.1 QUAIS SÃO OS CASOS EM QUE O LEITE MATERNO É CONTRAINDICADO?........172
4.2 INTERCORRÊNCIAS E COMPLICAÇÕES DO ALEITAMENTO MATERNO................173
4.3 ALEITAMENTO MATERNO E O PAPEL DO ENFERMEIRO..........................................174
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................... 176
AUTOATIVIDADE...................................................................................................177

TÓPICO 3 — SAÚDE DA MULHER NO CLIMATÉRIO............................................. 179


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 179
2 FISIOLOGIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO CLIMATÉRIO ........................180
3 INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM FRENTE ÀSPRINCIPAIS QUEIXAS
ASSOCIADAS AO CLIMATÉRIO........................................................................182
3.1 TRATAMENTO NÃO HORMONAL.................................................................................... 182
3.2 ABORDAGEM NÃO FARMACOLÓGICA ........................................................................ 183
3.3 ABORDAGEM FARMACOLÓGICA (TERAPIA HORMONAL – TH)............................. 185
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................. 187
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................... 194
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 195

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 197
UNIDADE 1 -

ASPECTOS CLÍNICO-
EPIDEMIOLÓGICOS DA
MULHER NO BRASIL
E NO MUNDO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• refletir sobre as questões epidemiológicas e de adoecimento da mulher;

• compreender a construção social do adoecimento no público feminino;

• conhecer os principais fatores de risco para o adoecimento das mulheres;

• propor estratégias de intervenção em enfermagem frente aos problemas de saúde


mais prevalentes.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – EPIDEMIOLOGIA DOS AGRAVOS À SAÚDE DA MULHER

TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – PERFIL DE MORBIMORTALIDADE FEMININA

TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – FATORES DE RISCO E MEDIDAS TERAPÊUTICAS

CHAMADA
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um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
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A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
EPIDEMIOLOGIA DOS AGRAVOS
À SAÚDE DA MULHER
1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 1 abordaremos o processo de construção


social da saúde, com reflexões sobre o tema no Brasil, que, a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988, tornou-se um direito garantido a todo cidadão.

Também discutiremos sobre a equidade de gênero e como este fator repercute,


não apenas na saúde, como também nas relações afetivas, de trabalho, políticas,
educacionais, dentre outras.

A partir das considerações anteriores, será necessário refletirmos sobre o papel do


profissional de enfermagem para a efetivação da integralidade em saúde, considerando a
mulher de acordo com as suas especificidades e suas formas de adoecimento.

2 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SAÚDE


No Brasil, a saúde pública é organizada mediante o Sistema Único de Saúde (SUS),
que possui como base jurídica, a Constituição Federal de 1988. Assim a saúde, por meio
do documento constitucional, é estabelecida como “direito de todos e dever do Estado”
(BRASIL, 1988; SOUZA, BOTAZZO, 2013).

INTERESSANTE
Você sabia que, em 1988, houve ampliação significativa na seguridade
social e na saúde com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS)?
Isso significa que você e sua família tem o direito ao acesso universal e
igualitário aos serviços de saúde, desde as Unidades Básica de Saúde,
passando pelas Unidades de Pronto Atendimento, Centro de Apoio
Psicossocial até os hospitais de grande porte.

É necessário mencionar que apesar das legislações criadas para o


desenvolvimento e o aprimoramento da atenção à saúde, a saúde e o direito à mesma
funcionam a partir de sua construção social, que varia de acordo com as diversas
dimensões dos direitos humanos, e principalmente de acordo com o panorama histórico
e cultural em que é desenvolvida, assim como, no contexto social no qual, o direito está
sendo inserido (GLOBEKNER, 2011).
3
A abordagem da saúde e das práticas atuais envolvem pontos relevantes
como as políticas públicas, sociais e econômicas que influenciam diretamente nos
determinantes e condicionantes de saúde da população (BRASIL, 1990). No Brasil, a
abordagem prioritária de atenção à saúde das pessoas está voltada para as atividades de
promoção da saúde e prevenção de doenças, apesar da existência de uma forte corrente
ideológica contrária ao estabelecimento destas, conhecida a partir dos pensamentos do
modelo biomédico da saúde, centrado apenas na doença, proposta essa, criticada, em
especial após a Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde, e a divulgação
da Declaração de Otawa, em 1986 (BRASIL, 2002).

Assim, a saúde e o adoecimento das mulheres deve ser um tema amplamente


discutido por profissionais da saúde e gestores, com a participação ativa das usuárias e
escuta qualificada, pois, o Brasil é um país formado por diversas culturas, comportamentos
amplos e que abriga povos de vários países, ou seja, a atenção à saúde não é linear e
precisa se adequar a depender do cenário encontrado (VERCEZE; CORDEIRO, 2021).

2.1 EQUIDADE DE GÊNERO EM SAÚDE


De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o significado de
gênero envolve pactuações sociais estabelecidas entre mulheres e homens, as quais,
podem sofrer variações a depender da cultura e do tempo. Outro ponto essencial a ser
discutido é a existência de identidades que não se encaixam nas categorias binárias
de sexo masculino ou feminino, que não podem ser excluídas do cuidado, como por
exemplo, as identidades transexuais e intersexuais (OPAS, 2023).

A forma com que a sociedade diferencia a forma do adoecimento de mulheres e


homens pode repercutir nos resultados de saúde e do bem-estar mental, físico e social
dos indivíduos, assim, o profissional de enfermagem precisa estar atento durante o contato
com seus pacientes, para que a desigualdade de gênero não seja um fator limitante para o
acesso aos serviços de saúde de qualidade, bem como uma ferramenta para a redução das
taxas de morbidade e mortalidade evitáveis em ambos os sexos (BRASIL, 2019).

O enfermeiro pode participar da elaboração e do aperfeiçoamento de programas


de saúde com vistas às questões de gênero, ferramentas capazes de melhorar a
qualidade assistencial e de vida as pessoas, pois, a partir disso, será possível identificar
as diferenças sexuais e de gênero nos riscos e oportunidades de saúde, assim
como planejar intervenções apropriadas nos diferentes cenários, por isso abordar a
desigualdade de gênero é uma discussão atual, que melhora o acesso e os benefícios
dos serviços de saúde para os seus usuários (TRAMONTANO, 2022).

4
De acordo com Sousa et al. (2022), torna-se necessária a discussão sobre a
incorporação do gênero no cuidado em saúde, visto que a maioria das pessoas nasce
biologicamente homem ou mulher, e são ensinados comportamentos esperados e
aceitos para homens e mulheres em sociedade, dentro de famílias, comunidades e
locais de trabalho, bem como as funções ou responsabilidades que devem assumir na
sociedade e todo esse padrão repercute na saúde mental e física dos envolvidos.

Outros fatores como: renda, escolaridade, idade, etnia, orientação sexual e


situação de residência também são determinantes importantes para a saúde e devem
ser inseridos nas discussões, pois, quando mencionamos a desigualdade de gênero, uma
série de consequências como a discriminação, riscos à saúde e a dificuldade de acesso
aos recursos necessários para alcançar a saúde estão conectados (PINHEIRO et al., 2002).

Assim, percebe-se que existem diferenças estabelecidas entre mulheres e


homens a depender de sociedade, e que este fato não implica necessariamente em
problemas, com exceção às situações que restringem as oportunidades ou os recursos
necessários relacionados à saúde, e que trazem, como consequência, a discriminação e
as desigualdades (COBO; CRUZ; DICK, 2021).

Nesse sentido, as pessoas, de forma geral, seguem padrões pré-definidos,


porém, quando os indivíduos não se encaixam nas normas, relações ou papéis de
gênero estabelecidos enfrentam problemas sociais que podem influenciar de forma
negativa a sua situação de saúde. As normas de gênero sofrem influências econômicas
(renda, crédito); sociais (redes sociais); políticas (liderança, participação); informação
e educação (alfabetização em saúde, acadêmica); temporais (acesso aos serviços de
saúde); e internas (projeções pessoais relacionadas à autoconfiança e autoestima)
(COBO; CRUZ; DICK, 2021).

2.1.1 O papel da mulher em sociedade


As desigualdades de gênero ao estabelecerem condições de trabalho e de vida
diferenciadas, influenciam também na saúde mental das mulheres. Os padrões culturais
e sociais possuem influência nas ações e escolhas individuais, assim como, no acesso
e uso dos serviços de saúde. Homens e mulheres reproduzem o comportamento de
gênero esperado, social e culturalmente construído, que pode refletir na sua percepção
de estado de saúde, cuidados necessários, risco de doença e morte (CAMPOS, 2020).

No Brasil, é frequente observar padrões relacionados à ideia de maior fragilidade


da mulher e maior necessidade de cuidado em saúde quando comparada ao homem.
Nesse sentido, a universalidade e a integralidade preconizadas no SUS contribuem
enquanto política pública para a garantia de direitos, equivalendo as oportunidades e
efetivando o acesso ao atendimento igualitário (TAVARES et al., 2020).

5
2.2 A IDEALIZAÇÃO DA MATERNIDADE
A partir das modificações nos contextos sociais e culturais e nos avanços
da ciência, as mulheres vêm ampliando seu espaço dentro da sociedade e,
consequentemente, conquistando maior liberdade de escolha. Ao se referir atualmente
à maternidade, esta surge como uma possibilidade e não como destino natural.
Desse modo, com relação à maternidade como única resposta à feminilidade, esta é
contemporaneamente insuficiente, uma vez que é inviável abranger as mulheres pela
via de um desejo universal (BRAGA; MIRANDA; VERÍSSIMO, 2018).

É importante compreender quais são as dimensões da inserção da mulher


no mercado de trabalho em suas relações familiares e interpessoais, pois existem
pontos favoráveis e desfavoráveis quando mencionamos trabalho, lar e cuidado dos
filhos (COSTA, 2018).

O trabalho é reconhecido como fonte de prazer, estimulante e elemento fundante


do sujeito, contribuindo para a formação de sua identidade e gerador de sentido para os
trabalhadores, bem como é possível alcançar por meio do trabalho a realização pessoal,
mas a relação da mulher com o trabalho fora do lar vai muito além do esperado, uma
vez que a soma das inúmeras ocupações, das quais as mulheres se apropriam, pode
gerar estresse emocional, sobrecarga física e psíquica, além de contemplar muitas
desigualdades de gênero que dificultam a conciliação das tarefas, reforçando a elas a
carga de múltiplas jornadas de trabalho (BALTAR; OMIZZOLO, 2020).

Figura 1 – A desigualdade de gênero no mercado de trabalho

Fonte: https://bit.ly/3pJWmA3. Acesso em: 16 maio 2023.

DICA
Para entender melhor o tema, você pode assistir ao filme O Sorriso de
Monalisa, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aM1129Il3mg

6
2.3 A CONSTRUÇÃO DO CUIDADO INTEGRAL
Para garantir a saúde integral da mulher, as escolas formadoras em saúde
devem dar aos alunos oportunidades de aprender um conjunto de habilidades, a fim de
que, quando graduados, possam basear sua conduta por evidências científicas; ouvir as
mulheres, comunicar-se adequadamente com elas; respeitar suas particularidades em
cada etapa do ciclo ginecológico; construir uma relação mais homogenia; adotar uma
visão ampla de suas condições de vida; e dar à mulher maior controle do próprio corpo,
à saúde, sexualidade e vida (FERREIRA et al., 2020).

De acordo com Souza e Silveira (2019), a Atenção Básica é a principal porta


de entrada do sistema de saúde, em que, frequentemente, ocorre o acolhimento
das demandas do público em geral e em especial do feminino. Por isso é essencial a
participação de profissionais qualificados por meio da escuta como recurso terapêutico.

Segundo Santana e colaboradores (2019), a história revela que a saúde da


mulher no Brasil recebeu atenção no início século XX, restrita primordialmente aos
aspectos da gravidez e do parto. Sabe-se que, em comparação com os homens, as
mulheres procuram mais os serviços de saúde, além de terem maior expectativa de
vida, sendo acometidas por patologias variadas como ser humano e não apenas por
aspectos reprodutivos.

Dessa forma, o fato de as mulheres adoecerem ou morrerem não está apenas


vinculado aos fatores biológicos, sendo influenciado por vários fatores, dentre eles a
violência em suas diversas apresentações, que se constitui em um fenômeno social
diretamente ligado ao modo de viver e, por isso, o cuidado deve estar pautado em vários
aspectos da mulher, e não apenas no campo da saúde (TAVARES et al., 2020).

3 PANORAMA DA SAÚDE DA MULHER NO MUNDO


Como vimos, o processo de saúde e adoecimento das mulheres é multifatorial,
isto é, levando em consideração fatores como o meio ambiente, alimentação, moradia,
condições de trabalho, renda e lazer. Além disso, as jornadas duplas entre trabalho e
responsabilidades domésticas, que as sobrecarregam e, muitas vezes, tornam estas
mulheres mais suscetíveis à discriminação e até violência (CORREIA et al., 2019).

Outras variáveis como raça, etnia e situação de pobreza refletem ainda mais
as desigualdades. As mulheres vivem mais do que os homens, porém adoecem mais
rotineiramente. A vulnerabilidade feminina frente a certas doenças e causas de morte
está mais relacionada com a situação de discriminação na sociedade do que com
fatores biológicos (BARATA, 2009).

7
É importante destacar que os indicadores epidemiológicos do Brasil mostram
uma realidade na qual convivem doenças dos países desenvolvidos (cardiovasculares
e crônico-degenerativas) com aquelas típicas do mundo subdesenvolvido (mortalidade
materna e desnutrição). Os padrões de morbimortalidade encontrados nas mulheres
revelam também esse misto de doenças, que seguem as diferenças de desenvolvimento
regional e de classe social (OLIVEIRA, 2019).

IMPORTANTE
A informação epidemiológica é essencial. Sem uma vigilância epidemiológica
moderna e adequada à nova dinâmica de adoecimento e morte, será
impossível desenvolver soluções oportunas e adequadas aos graves
problemas enfrentados.

3.1 DESIGUALDADE NO ADOECIMENTO FEMININO


Existem diversas formas de adoecimento, sendo uma causa frequente da
modernidade, o adoecimento devido ao trabalho, como por exemplo o Burnout,
caracterizado pelo esgotamento físico e psíquico do indivíduo; as Lesões por Esforço
Repetitivo (LER); o Karoshi, ou seja, a morte súbita por excesso de trabalho; o estresse
(Síndrome Geral de Adaptação); dentre outras, as quais podem apresentar sintomas
isolados ou em conjunto (SILVA; MELO, 2019).

O medo do desemprego e a exigência intensa do sujeito ao exercício do trabalho


tem criado problemas, síndromes e diversos sintomas ao redor do mundo. Nesse sentido,
uma população se destaca nas estatísticas de adoecimento: as mulheres. As mulheres
também protagonizam o fenômeno da “feminização da pobreza”. Na América Latina, os
países com a taxa mais alta de participação feminina são países nos quais existe índice
elevado de pobreza e informalidade, como o Paraguai e o Peru, em especial no setor
informal (SOUZA et al., 2020).

Com relação ao adoecimento das mulheres pelo trabalho, pontua-se que no


Brasil representam cerca de 75% das pessoas adoecidas pelo trabalho. Explicações
reducionistas, biologicistas, e individualistas apontam aspectos como “fragilidade”,
“processos cognitivos diferenciados”, “neuroses”, dentre outros fatores, como as
causas desse maior adoecimento. Entendemos o fenômeno por meio da divisão
sexual do trabalho e relações sociais de sexo, que dentre outros elementos, apontam
a transversalização das questões de gênero no mundo do trabalho, fazendo com
que existam categorias e diferentes escalas de valor quando se trata de “trabalho de
homens” e “trabalho de mulheres” (ROCHA, 2008).

8
3.1.1 Indicadores de saúde da mulher no Brasil
O Brasil tem passado por profundas transformações, dentre as quais destaca-se o
processo de envelhecimento populacional, com mudanças demográficas e epidemiológicas,
nas quais se pontua uma maior sobrevivência feminina. Esse envelhecimento tem ocorrido
em dez capitais do país, e observa-se as diferenças de forma mais marcante nas mulheres,
em grande parte devido ao aumento da expectativa de vida ao nascer de 72,6 anos, em 2000,
quase oito anos a mais que os homens e, em segundo lugar, às doenças cardiovasculares,
também com índice superior aos homens (OLIVEIRA, 2019).

Por outro lado, também há as diferenças, sendo a maior mortalidade entre os


homens ocorrida em virtude das substanciais mudanças na situação epidemiológica.
Ao final da década de 1990, comparando-se homens e mulheres caracterizados
principalmente pela diminuição da mortalidade nas diferentes etapas da vida, pode
ser constatado que adoecimentos e morte eram devidos a doenças infecciosas e
parasitárias e pelo incremento dos termos de mortalidade proporcional, até os 14 anos
e após esta fase eram superados por doenças crônicas não transmissíveis, como
as cardiovasculares, em relação às causas reprodutivas praticamente não existem
diferenças entre os sexos (OLIVEIRA, 2019).

E as neoplasias malignas que atualmente correspondem à faixa de 15 a 49 anos, as


diferenças são, na maioria absoluta, a causa das mortes de mulheres adultas. Com relação
às causas externas de óbitos, o maior nível é entre os homens de forma generalizada no
país, diante das dimensões continentais do Brasil (BARROS; NUNES; VALE, 2022).

Assim, atualmente convém salientar que as mulheres têm maiores proporções de


óbitos em virtude do modelo de desenvolvimento econômico, fortemente concentrador
de doenças do aparelho circulatório e por neoplasias malignas. Os fatores econômicos
e as desigualdades regionais e sociais, as complicações da gravidez, parto e puerpério,
propiciam, ao mesmo tempo, grande diversidade de padrões e causas maternas, apesar
de responderem por apenas 3,5% das tendências epidemiológicas cuja análise não é
tarefa fácil (CORTEZ et al., 2019).

Além dos óbitos femininos no período reprodutivo, destacam-se também as


dificuldades de acesso ao serviço de saúde, em que se essas mulheres fossem orientadas
oportunamente, não ficariam restritas a uma assistência adequada (CORTEZ, et al, 2019).

As doenças cardiovasculares ou do aparelho circulatório são a principal causa


de morte antes dos 65 anos. Comparativamente, são as principais responsáveis pelas
mortes nos Estados Unidos e no Brasil, com destaque para a mortalidade por infarto
agudo do miocárdio entre as mulheres e, ainda mais relevante, a ocorrência de doenças
crônicas – entre 35 e 44 anos – é cerca de quatro vezes superior nas mulheres do que
as doenças transmissíveis (SILVA et al., 2022).

9
Nos últimos dez anos, a mortalidade por doenças cerebrovasculares vem
apresentando uma tendência levemente decrescente, sendo a faixa etária entre 35
e 44 anos, seis vezes mais alta. Parte do fenômeno vem se mantendo linear e sua
importância em relação aos demais pode ser atribuída à qualidade da assistência
prestada, principalmente no tocante aos serviços que visem a promoção e a prevenção
de doenças, interferindo principalmente nas causas, correspondendo a cerca de 1/3
dos óbitos de emergência, o que poderia explicar a ocorrência mais frequente de casos
femininos de todas as idades (SOUZA, 2021).

Com relação às doenças isquêmicas do coração, aquela que apresenta as


maiores incidência e letalidade no sexo feminino, com complicações severas, é a
hipertensão arterial, principalmente devido ao comprometimento cerebrovascular.
Os estudos de prevalência da hipertensão arterial em populações apresentam-se
com determinantes históricos, na medida em que a mortalidade por complicações
da gravidez, em diversas cidades brasileiras, no momento do parto e puerpério,
tem apresentado tendência ao declínio (FIÓRIO et al, 2020).

Quanto às neoplasias malignas, observa-se a crescente tendência do risco de


morrer por essas causas, também acompanhada do aumento de seu peso relativo. As
principais localizações primárias, tanto em relação à mortalidade quanto à incidência,
são as de câncer de mama e de colo de útero, o que traduz, nesse grupo de causas,
o padrão de mosaico epidemiológico característico da realidade brasileira (JULIÃO;
SOUZA; GUIMARÃES, 2021).

Convém salientar que, no Brasil, a tendência crescente da mortalidade por


neoplasias de mama não tem sido acompanhada do decréscimo da importância do
câncer de colo de útero, que apresentou taxa de mortalidade estável nas duas últimas
décadas (TURCATTO; GERON, 2020).

A violência também é um novo fenômeno que tem motivado intenso debate, um


arrefecimento da queda e estabilização das taxas, inclusive pelo caráter generalizado
e epidêmico em nossa sociedade e com sua aparente elevação ao final do período,
entretanto não se ofusca o impacto desta, tanto sobre a qualidade de vida de homens
como de mulheres (RIBEIRO et al., 2022).

A observação de séries históricas deve considerar a possibilidade de análise da


mortalidade por causas externas entre mulheres brasileiras, levando-se em consideração
as mudanças na qualidade do registro e notificação dos óbitos, tudo isso permite
constatar uma relativa estabilidade do risco de morte, especialmente nos últimos anos,
nos quais medidas têm sido tomadas, sobretudo durante o período 1988/1999, quando
houve um discreto declínio e, ao mesmo tempo, aumentou a visibilidade do problema
no Brasil (RIBEIRO et al., 2022).

10
Outros estudos confirmam, na literatura internacional, a associação da violência
nas relações de gênero, no tocante aos efeitos da pílula no aumento do risco para doenças
e para a ocorrência de diversos problemas de saúde física e mental e cardiovasculares,
e também como cofatores no processo consequente de maior utilização de serviços
de saúde, entretanto não relacionados ao desenvolvimento do câncer de colo de útero
(LIRA, 2019). Esse tipo de violência, na maioria das vezes, não chega a ser uma prática
generalizada, nem tão pouco chega a vias extremas como, por exemplo, no processo de
esterilização cirúrgica em mulheres. Este ainda é pouco investigado pelos profissionais
de saúde e, desse modo, apenas algumas jovens foram investigadas quanto aos efeitos
dessa prática, o que acaba tendo sua magnitude subestimada nas estatísticas oficiais
de saúde (LIRA, 2019).

A partir de estudos feitos em outras realidades, sabe-se da retirada cirúrgica


do útero em mulheres laqueadas e que as mulheres vítimas de violência estão mais
expostas à emergência da Aids, estes fatores vieram a tornar o quadro de complicações
reprodutivas ainda mais complexo. As tentativas de suicídio, os transtornos psicológicos,
especialmente a depressão, destacam-se no perfil epidemiológico da mulher, sobretudo
nos anos 1980 (CECCON; MENEGHEL; ÍÑIGUEZ-RUEDA, 2020).

Por último, cabe comentar a histórica "invisibilidade" da transmissão do HIV, mais


provável pelo contato sexual, sendo o percentual menor em mulheres heterossexuais
que trabalham na área de saúde, em comparação com as que trabalham nas demais
áreas de conhecimento, que corresponde a cerca de 80% (CECCON; MENEGHEL;
ÍÑIGUEZ-RUEDA, 2020).

Sabe-se que parte expressiva das mulheres com HIV/Aids, apesar da entrada
acelerada e crescente no mercado de trabalho, ainda que atuem nas antigas funções de
cuidado da casa e dos filhos, têm parceiros fixos, e muitas vezes únicos, os quais seriam
aqueles que não têm relações com múltiplas parceiras (hetero ou bissexual), ou ainda
usuários de drogas e/ou soropositivos (OLIVEIRA; JUNQUEIRA, 2020).

A maior vulnerabilidade feminina, e que resulta em sobrecarga de tarefas, cujos


efeitos sobre a saúde e a consequente desvantagem na adoção de práticas preventivas
ainda são pouco abordados. As informações rotineiras ainda são insuficientes para
basear na assimetria de poder nas relações de gênero, são especialmente precárias
particularmente nas experiências sexuais e afetivas (OLIVEIRA; JUNQUEIRA, 2020).

Outra característica marcante é o controle da procriação, o uso da pílula


e da esterilização cirúrgica são métodos mais utilizados, como também o aborto
(preferencialmente, as mulheres não revelam a utilização deste método de forma
habitual, até mesmo durante a anamnese). As mudanças no padrão de procriação têm
sido objeto de estudo ao longo dos anos e sua ocorrência no âmbito privado e conjugal.
Diversas análises demográficas são realizadas, mas têm despertado pouco interesse,
sobretudo quanto aos impactos na saúde das mulheres e seus participantes mais
diretos (NIELSSON, DELAJUSTINE, 2019).

11
IMPORTANTE
Você conseguiu compreender que a desigualdade de gênero se
expressa pela presença do sexismo, machismo e misoginia? Essa
cultura é conhecida como patriarcal, ou seja, foi imposta pelos
homens e possui um amplo histórico. As suas repercussões podem
causar impacto na saúde, por isso, o enfermeiro necessita ter amplo
conhecimento de suas origens, consequências e intervenções, para
promover o apoio à mulher em diferentes situações.

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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• O conceito de construção social da saúde.

• A discrepância entre a idealização da equidade de gênero e a responsabilização social


da mulher pela maternidade.

• A necessidade do desenvolvimento de práticas integrais com relação à saúde da mulher.

• O panorama epidemiológico da saúde da mulher no Brasil e no mundo.

13
AUTOATIVIDADE
1 O processo de envelhecimento populacional é um fenômeno que ocorre em diversas
regiões do mundo, e pode estar relacionado às melhorias nas condições de vida
e reorganização do cuidado em saúde, com atenção especial para as demandas
emergentes. Com relação ao tema, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O envelhecimento ativo e saudável é um dos grandes objetivos do cuidado à mulher,


que deve ocorrer de forma resolutiva e respeitar a singularidade da paciente.
b) ( ) O envelhecimento populacional é resultado da elevação progressiva da taxa de
fecundidade, aumento da esperança de vida e redução expressiva da mortalidade.
c) ( ) As doenças sexualmente transmissíveis são raras na terceira idade, porém, quando
ocorrem em casos isolados, a predominância é a Aids, HPV e as hepatites B e C.
d) ( ) É necessário considerar que a enfermagem deve prestar um cuidado específico
durante o envelhecimento masculino, visto que existe uma superioridade
numérica dos homens no processo de envelhecimento populacional, o que
requer a atenção especial para a formulação de estratégias que reduzam a
mortalidade por causas externas.

2 O perfil epidemiológico da saúde da mulher no contexto nacional tem apresentado


modificações ao longo do tempo, o que reforça a ocorrência do processo de transição
epidemiológica. Dessa forma, as ações de promoção à saúde da mulher devem
considerar:

I- Questões estruturais que limitam o acesso aos serviços de saúde e a abordagem


excessivamente biomédica e reducionista.
II- Redução do enfoque reprodutivo, visto que existe um aumento crescente de
mulheres que não possuem o desejo materno e optam pela realização de cirurgias
de esterilização precoce como método contraceptivo.
III- A elevação dos casos de mortalidade materna no Brasil.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

14
3 Os cuidados com relação à saúde da mulher visam promover a Atenção Integral, em
todos os ciclos de vida, respeitando o gênero, a orientação sexual, a raça e outros
aspectos como os determinantes e condicionantes, que causam impacto na saúde e
na vida das pessoas. Nesse sentido, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) A vulnerabilidade feminina à determinadas patologias está relacionada


primeiramente aos fatores biológicos.
( ) A incorporação do tema “gênero” nas discussões sobre saúde não é necessária, visto
que o cuidado deve ser universal, integral e equânime, independentemente da situação.
( ) O perfil de saúde e adoecimento pode variar de acordo com fatores como: tempo,
espaço e condições econômicas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, auxilia na


divulgação da ocorrência de óbitos de acordo com alguns fatores como, por exemplo,
faixa etária e sexo. Assim, mencione as principais causas de morte na população
feminina no Brasil nos últimos cinco anos.

5 O programa “Previne Brasil” foi instituído em 2022 pelo Ministério da Saúde e contém
sete indicadores, dos quais quatro estão relacionados à saúde da mulher. Nesse
contexto, cite os indicadores que correspondem ao cuidado da população feminina.

15
16
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
PERFIL DE MORBIMORTALIDADE
FEMININA

1 INTRODUÇÃO
No Tema de Aprendizagem 2, abordaremos o contexto geral da mortalidade
feminina no Brasil e no mundo, assim como as características das principais patologias
que acometem o gênero.

Como vimos no Tema de Aprendizagem 1, as transições epidemiológica,


demográfica e nutricional repercutem no processo de adoecimento da população,
pois estão associadas à longevidade, com o resultado fisiológico do envelhecimento
corporal, bem como modificações na estrutura populacional e dos diferentes modos de
ver a alimentação no cotidiano.

Nesse sentido, os profissionais de saúde precisam conhecer o perfil da


população pela qual são responsáveis, em especial na Atenção Primária à Saúde (APS),
nível de cuidado que permite maior aproximação da equipe de saúde com o paciente,
ou seja, a principal ordenadora do cuidado, para que assim possam traçar estratégias
mais efetivas de prevenção e proporcionar melhor qualidade de vida para as mulheres.

2 PRINCIPAIS PATOLOGIAS E INTERVENÇÕES


NECESSÁRIAS
Quando comparadas aos homens, de forma geral, as mulheres apresentam
as menores taxas de mortalidade, porém, também é importante analisar os problemas
de saúde mais frequentes nesse grupo populacional, para que o planejamento de
intervenções seja efetivo (MARTINS et al., 2021).

Nesse sentido, existem doenças que acometem mais as mulheres do que


os homens, seja devido à fatores genéticos, ambientais, hormonais ou até mesmo
fisiológicos. Por essa razão, o processo de cuidado relacionado à saúde da mulher
envolve a atenção para essas doenças e a definição do planejamento específico com a
equipe multiprofissional, para que dessa forma as mulheres tenham um cuidado integral
e de qualidade (COSTA; GONÇALVES, 2019).

17
No Brasil, entre 2010 e 2019, as duas principais causas de óbitos no público
feminino foram ocasionadas pelas Doenças do Aparelho Circulatório (DAC) e as
neoplasias, em especial na região Nordeste, que apresentou um crescimento mais
elevado de casos, quando comparada às demais regiões. Com relação aos óbitos por
neoplasias, foi constatado o aumento em todas as regiões do país, por isso é essencial
conhecer cada uma dessas patologias, para que assim possamos intervir de forma
específica (BRASIL, 2021c).

2.1 DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO (DAC)


De acordo com o Global Burden of Disease (GBD), dentre as doenças
cardiovasculares, a doença isquêmica do coração (DIC) foi a responsável por ocupar o
primeiro lugar entre as principais causas de morte no Brasil, em homens e mulheres, e
posteriormente, o acidente vascular cerebral (AVC). Nas mulheres, a DIC foi responsável
por 12,03% dos óbitos e 4,78% de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs), o
que representa um alerta para gestores da saúde e profissionais atuantes (GBD, 2020).

Existem alguns fatores de risco (FR) para as DAC em mulheres brasileiras, os


quais, precisam de atenção: a hipertensão arterial sistêmica (HAS), dieta desequilibrada,
obesidade, elevação do colesterol sérico e da glicemia de jejum. Com a elevação do
índice de massa corporal (IMC), é comum o aparecimento de alterações metabólicas
que levarão à hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia, aumentando também o risco
individual. Outros fatores de risco específicos são: casos de pré-eclâmpsia, diabetes,
uso prévio de contraceptivos orais, uso de hormônios durante o período da menopausa
e alterações em nível hormonal (CARDOSO et al., 2020).

Além disso, o tabagismo prolongado é mais perigoso para as mulheres do que para
os homens. A combinação do cigarro com as DAC é perigosa devido ao elevado potencial
inflamatório da nicotina (Figura 2), que pode ocasionar o estreitamento e a obstrução
dos vasos sanguíneos e, assim, consequências letais, por esse motivo, o enfermeiro
precisa fornecer orientações quanto a prevenção das doenças e seus fatores de riscos. A
utilização do ácido acetilsalicílico (AAS) é muito difundida, porém a sua indicação abrange
a prevenção de doença coronariana e ataque isquêmico (OLIVEIRA, 2022).

Figura 2 – O tabagismo e os efeitos nocivos

Fonte: https://bit.ly/3Mdngrm. Acesso em: 16 maio 2023.

18
É fundamental promover iniciativas na comunidade, seja na própria unidade
básica de saúde, ou em espaços sociais como igrejas, terreiros, praças e escolas,
com o objetivo de aumentar o conhecimento da população sobre a importância
da saúde cardiovascular ao longo da vida da mulher. Além disso, é imprescindível
compreender melhor as diversidades do território na saúde cardiovascular das
mulheres para definir políticas públicas e assistência à saúde de forma a promover
a equidade de sexo na atenção à saúde da população (OLIVEIRA, 2022).

Figura 3 – Prevenção é o melhor remédio contra doenças cardiovasculares

Fonte: https://bit.ly/41ArIpS. Acesso em: 16 maio 2023.

2.1.1 Acidente vascular encefálico (AVE)


O acidente vascular encefálico (AVE) é uma das doenças responsáveis por
elevadas taxas de morbimortalidade ao redor do mundo em ambos os sexos (BERNARDI;
BUENO; BENETTI, 2022; ARAÚJO et al., 2018).

O AVE é caracterizado pelo comprometimento neurológico focal ou global


ocasionado pela isquemia ou hemorragia e tem, aproximadamente, uma duração de
24 horas, podendo ocasionar o óbito do indivíduo. O AVE se manifesta pela deficiência
do estado neurológico, em sua maioria, centralizado e súbito, e pode estar associado a
alterações estruturais dos vasos sanguíneos como as ligadas ao fluxo de sangue e/ou à
capacidade de coagulação (FONSECA et al., 2022).

Nesse contexto, o AVE é um grave problema de saúde pública, principalmente


para o público feminino, sendo considerado a terceira principal causa de morte
entre as mulheres, principalmente devido às diversas mudanças fisiológicas sofridas
pelas mulheres ao longo da vida, como, por exemplo, modificações vasculares,
hormonais e reprodutoras, fatores estes, que podem influenciar de forma potencial no
desenvolvimento dos casos de AVE.

19
De acordo com a American Stroke Association, o AVE atinge, aproximadamente,
55.000 pessoas do sexo feminino a mais do que o masculino. Em 2009, por exemplo,
houve um total de 76.769 óbitos em mulheres por AVE nos Estados Unidos, o que
representou um total de 59,6% dos registros, com taxa global de mortalidade de 38,9%
no mesmo período. No que se refere à raça/cor, a predominância foi das mulheres
negras, com 50,2% dos registros (KLEINDORFER et al., 2021).

As mulheres são muito acometidas pelas consequências do AVE, e a sua


elevada incidência pode estar associada a fatores como a ocupação profissional fora de
casa, o excesso de atividades domésticas, muitas vezes exercidas exclusivamente por
elas; fatores estressantes devido à sobrecarga de trabalho e responsabilidades e idade
avançada, o que predispõe ao um maior acometimento de AVE após a menopausa,
ou seja, torna a população feminina mais vulnerável a doenças cardiovasculares e
cerebrovasculares (FONSECA et al., 2022).

O enfermeiro deve ter conhecimento especializado para atuar nos fatores de risco,
assim como no tratamento, requisitos essenciais para a assistência humanizada e integral
à saúde, visto que essa doença acomete uma quantidade elevada de pessoas todos os
dias no Brasil e no mundo, e constitui a principal causa de incapacidade neurológica, pois
compromete funções motoras e cognitivas vitais (KLEINDORFER et al., 2021).

É necessário a adoção de medidas de intervenções para prevenção das


doenças cardiovasculares, incluindo: aconselhamento quanto ao fumo, alimentação
saudável, manutenção de peso e cintura, atividade física e dieta com características
cardioprotetoras, além de tratamento farmacológico quando indicado (SANTOS, 2013).
De acordo com o Ministério da Saúde, as competências específicas do enfermeiro na
prevenção de doenças cardiovasculares, são:

• Capacitar os auxiliares de enfermagem e os agentes comunitários


e supervisionar, de forma permanente, suas atividades;
• Realizar consulta de enfermagem, abordando fatores de
risco, tratamento não medicamentoso, adesão e possíveis
intercorrências ao tratamento, encaminhando o indivíduo ao
médico, quando necessário;
• Desenvolver atividades educativas de promoção de saúde com
todas as pessoas da comunidade;
• Desenvolver atividades educativas individuais ou em grupo com
os pacientes hipertensos e diabéticos;
• Estabelecer, junto à equipe, estratégias que possam favorecer a
adesão (grupos com dislipidemia, tabagistas, obesos, hipertensos
e diabéticos);
• Solicitar, durante a consulta de enfermagem, os exames mínimos
estabelecidos nos consensos e definidos como possíveis e
necessários pelo médico da equipe;
• Repetir a medicação de indivíduos controlados e sem intercorrências;
• Encaminhar para consultas mensais, com o médico da equipe,
os indivíduos não aderentes, de difícil controle e portadores de
lesões em órgãos-alvo (cérebro, coração, rins, olhos, vasos, pé
diabético etc.) ou com comorbidades;

20
• Encaminhar para consultas trimestrais, com o médico da equipe,
os indivíduos que mesmo apresentando controle dos níveis
tensionais e do diabetes, sejam portadores de lesões em órgãos
alvo ou comorbidades;
• Encaminhar para consultas semestrais, com o médico da equipe,
os indivíduos controlados e sem sinais de lesões em órgãos-alvo
e sem comorbidades (BRASIL, 2006, p. 49).

Figura 4 – O folder como exemplo de atividade educativa em saúde.

Fonte: https://bit.ly/3OaXEy5. Acesso em: 16 maio 2023.

2.2 NEOPLASIAS
As neoplasias são caracterizadas pela multiplicação desordenada e acelerada
das células, constituindo-se como uma das principais causas de óbito entre mulheres
na faixa etária entre os 30 e 59 anos. De forma específica, as mortes entre os 30 e 49
anos são ocasionadas predominantemente pelas neoplasias dos órgãos genitais e por
neoplasias do tecido mamário (SILVA; SILVA, 2022).

É inerente à função dos profissionais de saúde, (re)conhecer as alterações


provocadas por cada tipo de câncer, em especial quando afeta a população feminina,
para que possam oferecer um cuidado singular/individualizado com vistas à cura ou ao
cuidado paliativo, ou seja, à qualidade de vida (FERREIRA, B. C. A. et al., 2021).

21
O afastamento das atividades laborais para a realização do tratamento do
câncer, somado ao trauma emocional após o diagnóstico da patologia devido ao medo
do prognóstico e do tratamento, podem ocasionar em resultados negativos para a
mulher, trazendo prejuízos para a sua qualidade de vida (WAKIUCHI et al., 2019).

Em 2020, o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama e o de colo de


útero representaram as maiores taxas de incidência entre os principais tipos de câncer
nas mulheres brasileiras. Por esse motivo, torna-se necessário o fortalecimento de
ações estratégicas que visem superar as barreiras de acesso que impedem o diagnóstico
e tratamento precoces. Quando nos referimos à faixa etária dos 50 a 59 anos, a
predominância é dos óbitos por neoplasias dos órgãos digestivos e da mama. Frente a
isso, faz-se necessário o planejamento das ações de saúde de forma diferenciada para
cada grupo (FRANCISCO et al., 2020).

A produção de políticas públicas para diferentes ciclos de vida, que estimulem


o acesso e a adoção de um estilo de vida saudável, pode contribuir para a redução de
riscos de desenvolvimento de neoplasias, e de outras doenças que possam acometer à
saúde do público feminino. Ainda existem muitos desafios para romper a fragmentação
do cuidado e para avançar no desenvolvimento de um modelo integral, longitudinal e
que amplie o rastreamento, a detecção precoce, o diagnóstico e tratamento, além de
um cuidado humanizado e digno para as mulheres (BRASIL, 2021b).

2.3 CÂNCER DE MAMA E DE COLO DO ÚTERO


O câncer de mama é uma doença resultante da multiplicação de células
anormais do tecido mamário, as quais formam um tumor com elevado potencial de
invadir outros órgãos, invasão essa conhecida como metástase. A maioria dos casos de
câncer de mama possui boa resposta ao tratamento, em especial quando o diagnóstico
e o tratamento são oportunos (BERNARDES et al., 2019).

A neoplasia mamária é a mais incidente, com exceção do câncer de pele não


melanoma, e representa a maior taxa de mortalidade no sexo feminino, principalmente
nos países desenvolvidos. A doença pode acometer homens, porém a incidência nesse
grupo é de aproximadamente 1% do total de casos. A estimativa para o ano de 2020 foi
de 2,3 milhões de casos novos em todo o mundo, ou seja, 24,5% de todos os tipos de
câncer que acometem mulheres (INCA, 2023).

No contexto nacional, em 2021, as estimativas foram de 66.280 casos novos de


câncer de mama, o que equivale a um risco de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres. A
doença ocupa espaço preocupante também em relação à mortalidade, exercendo a primeira
posição entre as mulheres, principalmente nas regiões Sul e Sudeste (SANTOS et al., 2022).

22
Os sinais e sintomas mais comuns de câncer de mama são: aparecimento
de nódulo endurecido, fixo e indolor; rubor mamário ou aspecto semelhante à casca
de laranja, alterações mamilares como inversão e/ou saída de líquido, assim como o
surgimento de pequenos nódulos nas regiões cervical e axilar (SANTOS et al., 2022).

A causa do câncer de mama tem origem multifatorial e pode estar relacionada


com o envelhecimento, aspectos da vida reprodutiva da mulher, histórico familiar da
doença, consumo de álcool, sedentarismo e exposição à radiação ionizante, uso de
contraceptivos hormonais (estrogênio-progesterona), terapia de reposição hormonal
(estrogênio-progesterona) com duração superior a cinco anos, histórico familiar de
câncer de ovário, alteração genética (genes BRCA1 e BRCA2), fatores genéticos para
câncer de mama (INCA, 2022).

INTERESSANTE
Atualmente, não existem medidas comprovadas de prevenção primária
do câncer de mama, ou seja, não há meios conhecidos para evitar
completamente o surgimento da doença, no entanto há medidas de
prevenção secundária, como a detecção precoce por meio do exame
clínico das mamas e mamografia (BRASIL, 2004).

É de suma importância o controle e diagnóstico precoce do câncer de mama.


Para isso destaca-se a necessidade da realização do exame clínico das mamas realizado
pelo médico ou enfermeiro durante as consultas (BRASIL, 2004).

O exame clínico das mamas consiste em diversas etapas, sendo a inspeção uma
delas. A inspeção é realizada em dois momentos, estático e dinâmico, em um ambiente
bem iluminado, com a paciente em pé ou sentada e com o tórax exposto. Durante a
inspeção estática (Figura 5), avaliam-se possíveis sinais de câncer de mama, tais como
assimetria das mamas e do complexo aréolo-papilar, alterações no contorno da mama,
como abaulamentos ou retrações de pele, e ulcerações cutâneas ou no complexo
aréolo-papilar (BRASIL, 2023).

Figura 5 – Inspeção estática

Fonte: https://bit.ly/3IeY2Ys. Acesso em: 16 maio 2023.

23
Na etapa de inspeção dinâmica do exame clínico das mamas, a paciente é
solicitada a colocar as mãos no quadril e depois elevá-las, contraindo uma mão contra
a outra, atrás da nuca (ilustrado na Figura 6). Durante essa etapa, o examinador deve
verificar se há o aparecimento de retrações ou abaulamentos na mama (BRASIL, 2023).
Figura 6 – Inspeção dinâmica

Fonte: https://bit.ly/3o2G5Wl. Acesso em: 16 maio 2023.

A etapa de palpação (Figura 7), no exame clínico das mamas, é realizada com
a paciente sentada e com os braços atrás da nuca, seguida pela posição deitada com
os braços elevados. Durante a palpação com a paciente sentada, o examinador avalia
as cadeias linfáticas supraclaviculares e axilares, com o braço homolateral relaxado
e o antebraço apoiado sobre o antebraço do examinador. Já com a paciente deitada,
são aplicados três níveis de pressão (leve, média e profunda) em cada área, realizando
movimentos circulares com as polpas digitais do 2º, 3º e 4º dedos da mão (BRASIL, 2023).

Figura 7 – Palpação

Fonte: https://bit.ly/3BzZkJK. Acesso em: 16 maio 2023.

A avaliação da descarga papilar consiste em provocar a saída da secreção


mediante a compressão digital de uma área de espessamento ou nódulo. Utilizando a
técnica de compressão unidigital, aplica-se uma pressão suave na região areolar, em
sentido radial, contornando a papila. A descrição da secreção deve incluir informações
como a sua localização (unilateral ou bilateral), a sua característica (uni ou multiductal),
se é espontânea ou provocada por compressão, sua coloração e se há alguma relação
com a presença de algum nódulo ou espessamento palpável (BRASIL, 2023).

Como enfermeiro, você deve saber que o sinal/sintoma mais comumente


conhecido do câncer de mama é a presença de um nódulo mamário, no entanto é
importante destacar que o nódulo pode não estar presente no momento do diagnóstico
da neoplasia mamária e que outros sinais/sintomas podem estar associados, tais como
descarga papilar, lesão na pele, linfadenopatia axilar, aumento das mamas com sinais de
edema, retração de pele e mudanças no formato do mamilo (SANTOS, 2019).

24
A mamografia (Figura 8) é o método diagnóstico mais preciso, a qual poderá ser
de rotina (rastreamento), para identificar o câncer de forma precoce, antes do surgimento
dos sintomas, ou diagnóstica, para investigar após suspeita. A frequência recomendada
é que mulheres de 50 a 69 anos façam uma mamografia bienalmente. Para as mulheres
de alto risco, como as que possuem histórico familiar da doença, é recomendado realizar
exame clínico e mamografia anualmente a partir dos 35 anos (INCA, 2022).

Figura 8 – A mamografia como padrão ouro no diagnóstico do câncer de mama

Fonte: https://bit.ly/42Y5Sha. Acesso em: 16 maio 2023.

O câncer do colo do útero tem origem por meio de uma infecção por grupos
oncogênicos do Papiloma Vírus Humano (HPV), apresentando desenvolvimento lento,
que pode cursar inicialmente sem sintomas e evoluir para episódios de sangramento,
assim como secreção vaginal anormal e dor abdominal, dentre outros (INCA, 2022).

A vacinação contra o HPV é uma medida importante de prevenção do câncer de


colo de útero, sendo recomendada para meninas entre 9 e 14 anos e meninos entre 11 e
14 anos. A vacinação também pode ser realizada até os 26 anos para mulheres e até os
21 anos para homens (INCA, 2016).

Quando analisada a taxa de mortalidade por câncer do colo do útero no Brasil,


por regiões, é possível observar que é na região Norte que se evidenciam as maiores
taxas do país, com tendência crescente entre 2000 e 2017, seguido pelas regiões
Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Em 2020, a primeira causa de óbito por câncer
feminino, na região Norte, foi o câncer de colo de útero (INCA, 2022).

ATENÇÃO
O exame citopatológico é o método de rastreamento do câncer do colo
do útero mais indicado, cuja população alvo é composta por mulheres
de 25 a 64 anos, no período equivalente a pelo menos uma vez a cada
três anos, após dois exames anuais consecutivos normais (INCA, 2021).

25
Para que seja efetivo, é necessário que o exame seja realizado com qualidade,
o que pode diferir quando o indicador é o acesso, pois a disponibilidade a exames de
rastreamento ocorre de forma desigual, em especial quando comparamos o nível de
escolaridade e as diferenças de raça/cor. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde,
realizada em 2019, a cobertura variou de 72% entre as mulheres sem instrução e com
escolaridade fundamental incompleta, a 90% entre aquelas com nível superior completo
(IBGE, 2021; MIGOWSKI; CORRÊA, 2021, INCA, 2022).

Figura 9 – Papanicolau (exame preventivo do colo do útero)

Fonte: https://bit.ly/3MyLxK8. Acesso em: 16 maio 2023.

INTERESSANTE
Você sabia? Os enfermeiros são os principais executores da coleta
citopatológica (Papanicolau) na Atenção Primária à Saúde (APS) no
Brasil. A Resolução Cofen n° 381/2011 regulamenta a realização desse
procedimento pelos enfermeiros, e a Lei do Exercício Profissional da
Enfermagem, assim como o inciso II do Art. 8º do Decreto nº 94.406/1987,
que regulamenta a Lei nº 7.498/1986, amparam a competência dos
enfermeiros para a realização deste exame (COREN-ES, 2022).

O enfermeiro pode realizar a coleta desse exame em Unidades Básicas de


Saúde. Para realizar a coleta, o enfermeiro deve orientar a paciente para que ela evite
ter relações sexuais, usar duchas vaginais, medicamentos vaginais, espermicidas e
lubrificantes por pelo menos 48 horas antes do exame. É importante que o enfermeiro
forneça informações sobre o procedimento e esclareça possíveis dúvidas da paciente.
Durante a coleta, a paciente deve ficar em posição ginecológica, e o enfermeiro utiliza
um espéculo para visualizar o colo do útero. Em seguida, é realizada a coleta do material
com uma espátula de Ayre e uma escova endocervical (BRASIL, 2013).

A coleta da ectocérvice é realizado com a espátula de Ayre do lado que apresenta


reentrância, fazendo uma raspagem em movimento rotativo de 360° em torno de todo
o orifício cervical. Já na endocérvice, utiliza-se a escova endocervical com movimento
giratório de 360°, percorrendo todo o contorno do orifício cervical (BRASIL, 2013).

26
Figura 10 – Coleta ectocérvice e endocérvice

Fonte: Brasil (2013, p. 64)

O material coletado deve ser transferido para uma lâmina de vidro, fixado
com solução adequada e encaminhado para análise em laboratório especializado. É
importante que o enfermeiro oriente a paciente da importância do exame e do retorno
para o resultado, além de manter o registro adequado no prontuário da paciente. O
rastreamento deve ser realizado de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo
Ministério da Saúde (BRASIL, 2013).

DICA
Para mais detalhes de como realizar o exame citopatológico passo a passo,
recomendo a leitura das páginas 60 a 66 do Caderno de Atenção Básica
nº 13 “Controle dos cânceres do colo do útero e da mama”. Disponível em:
https://bit.ly/45i9sov.

De acordo com a prática assistencial do enfermeiro, é possível aplicar seus


conhecimentos sobre fatores de risco e medidas de prevenção do câncer, além de informar os
sinais e sintomas que possam levantar suspeitas diagnósticas, encaminhando os pacientes
aos serviços de saúde para investigação e tratamento, quando necessário (BRASIL, 2004).

Estudos demonstram que as mulheres brasileiras possuem resistência quanto


a realização do exame, relacionada a questões culturais (BRASIL, 2004). Por essa razão,
o enfermeiro, enquanto educador, deve:

• Sensibilizar as mulheres com vida sexual ativa, principalmente


as que estão na faixa etária entre 25 e 60 anos, para a realização
do exame e para a importância de se tornarem agentes
multiplicadores de informações.
• Orientar quanto aos cuidados para a realização do exame.
• Orientar sobre dúvidas e quanto aos resultados.
• Usar meios de comunicação eficazes e mensagens adequadas
para alcançar as mulheres e sensibilizá-las para a coleta do
material para o exame de Papanicolau.
• Divulgar os locais e horários de atendimento dos serviços de
saúde que podem realizar o procedimento.

27
• Estabelecer uma integração com instituições e grupos que
já promovam reuniões regulares, tais como: associações de
moradores, associações de mulheres, clubes de mães em
escolas, igrejas e outros, para a realização de palestras e também
para identificar lideranças comunitárias, objetivando a formação
de agentes multiplicadores das informações.
• Captar essas mulheres nos Serviços de Saúde, onde poderão ser
realizadas reuniões de sala de espera, que atingirão mulheres de
outras clínicas, além da Ginecologia, com as informações que se
quer divulgar (BRASIL, 2004, p. 187).

DICA
Você, futuro enfermeiro, tem curiosidade sobre como é feito na prática
o Papanicolau? Assista ao vídeo “Exame Papanicolau – prática médica”,
disponível em: https://bit.ly/456eqEy.

3 CAUSAS EXTERNAS
As causas externas são um grave problema de saúde pública em nível
internacional, que implica em uma sobrecarga aos serviços de saúde, e que requer
dos serviços de emergência, assistência especializada, reabilitação física, psicológica e
assistência social, uma atenção integral e de qualidade (CELINO et al., 2021).

As causas externas podem envolver quedas, acidentes de transporte, fatores


relacionados à alguma forma de intoxicação e agressão. Nesse sentido, os casos
ocasionados pelas causas externas no gênero feminino é um tema discutido em muitos
países por envolver consequências físicas psicológicas, sexuais e patrimoniais, que
podem evoluir na morte da mulher por suicídio ou por homicídio. Por isso, é dever dos
municípios e estados, a implantação de comitês responsáveis por reconhecer, investigar
e solucionar os óbitos femininos por esse agravo, sobretudo daquelas que estão no
período gestacional ou em idade fértil (LENTSCK; SATO; MATHIAS, 2019).

É importante que os profissionais de saúde saibam que há fatores que dificultam


o conhecimento da ocorrência das mortes por causas violentas em mulheres, como a
subnotificação do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/
MS), assim como o preenchimento inapropriado das causas de morte nas declarações de
óbito (DO) pelo profissional médico. Outro ponto importante é que a violência contra a mulher
ocorre principalmente no seio familiar, sendo o parceiro íntimo o agressor e, na maioria das
vezes, de forma silenciosa por parte da família e dos amigos (LIMA et al; 2020).

28
Para as vítimas de violência, a experiência de vivenciar episódios cotidianos de
sofrimento é frequente, o desenvolvimento de problemas referentes à um déficit na
autonomia, independência e mobilidade da mulher, assim como no estabelecimento de
redes de apoio, por isso é importante a criação de vínculo entre a paciente e o profissional
de saúde, como também um olhar atento à mulher em outros níveis de atenção, além da
básica, para atuar de forma preventiva (RIOS JUNIOR, et al., 2020).

3.1 ACIDENTES AUTOMOBILÍSTICOS


Com relação aos acidentes de trânsito, aproximadamente 1,2 milhão de pessoas
no mundo morrem devido a esse tipo de agravo por ano, e mais de 90% dos óbitos
ocorrem em países subdesenvolvidos, sendo que destes, os motociclistas se destacam
entre as vítimas dos acidentes de transporte no Brasil.

Os homens são os maiores responsáveis pelos acidentes automobilísticos,


quando comparados às mulheres, que representaram apenas 11% dos acidentes fatais,
em 2021, na capital brasileira, de acordo com o levantamento do Departamento de
Trânsito do Distrito Federal (DETRAN). Apesar disso, informações sobre segurança e
responsabilidade no trânsito são importantes para reduzir os riscos e as ocorrências de
óbitos e lesões que podem comprometer a capacidade funcional do indivíduo de forma
temporária ou definitiva (LIMA et al., 2019).

Figura 11 – Acidente automobilístico e mortalidade feminina

Fonte: https://bit.ly/3BuHAzN. Acesso em: 16 maio 2023.

Como parte da equipe de saúde, o enfermeiro pode prestar atendimento de


primeiros socorros, avaliar a gravidade dos ferimentos e encaminhar a paciente para o
serviço de saúde mais adequado para seu tratamento. Além disso, o enfermeiro pode
orientar a paciente acerca dos cuidados necessários para a recuperação e prevenção de
complicações pós-acidente, como infecções e problemas respiratórios.

O enfermeiro também pode fornecer informações sobre o uso adequado do


cinto de segurança e outras medidas de prevenção de acidentes automobilísticos. Cabe
ressaltar que o enfermeiro não deve apenas prestar assistência à paciente, mas também

29
atuar de forma preventiva, promovendo campanhas educativas sobre segurança no
trânsito e incentivando a adoção de comportamentos seguros por parte das mulheres,
como o uso do cinto de segurança e a não condução de veículos após ingestão de
bebidas alcoólicas.

3.2 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER


A violência contra a mulher é responsável por consequências físicas e
psicológicas, as quais podem perpetuar até o final da vida, propiciando também
consequências econômicas e financeiras, uma vez que a mulher torna-se mais frágil,
suscetível às doenças, mais propícia a desenvolver quadros de ansiedade, depressão e
déficit no autocuidado (MACHADO; FREITAG, 2021).

Os tipos de violência podem ser físicos, psicológicos, sexual, patrimonial e


moral (Quadro 1), e embora diversos sejam os avanços nas esferas sociais, legislativas
e no mercado de trabalho, quando o tema é violência contra a mulher, em especial a
doméstica, esse assunto ainda faz parte de uma pauta preocupante, principalmente
pela onerosidade. Os custos compreendem a necessidade da disponibilização de
serviços para o tratamento e apoio às mulheres vítimas de abuso e seus filhos, assim
como questões judiciais, a perda de emprego e de produtividade (SILVA et al., 2021).

A partir da Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, ocorre a


ampliação da lista de sujeitos ativos e de espécies de delitos praticados em domicílio,
independente do núcleo, seja ele doméstico ou residencial, a natureza, a afinidade, a
duração (presente ou passado), e orientação sexual, por essa razão, os profissionais de
saúde podem auxiliar quanto às instruções às suas pacientes, e, quando necessário,
contactar outros setores sociais, promovendo a intersetorialidade (SAMPAIO et al., 2021).

Existe uma ferramenta conhecida como Sistema de Vigilância de Violências e


Acidentes (VIVA), o qual possui função específica de captar estes agravos e contribuir
na criação de subsídios para o enfrentamento dos determinantes e dos condicionantes
das causas externas, de forma intersetorial e respeitando o direito à saúde e à vida
das mulheres. Este sistema incentiva a formação de redes de atenção e proteção às
pessoas vítimas de violências e acidentes, de forma a promover a atenção integral, a
melhoria da saúde e o estímulo à promoção da paz. Para que ocorra a efetivação dessas
propostas, é essencial o estabelecimento de uma rede integral de atenção específica
para as mulheres, que oriente o fluxo assistencial da paciente em idade fértil, vítima
de violência, pautada nos direitos humanos e em preceitos éticos, além do tratamento
integrado dos agravos à saúde constatados e recorrentes (LEITE et al., 2022).

30
Figura 12 – Violência contra a mulher

Fonte: https://bit.ly/3OgT69A. Acesso em: 16 maio 2023.

Quadro 1 – Tipos mais frequentes de violência contra a mulher

TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER


Física: espancamento, tortura, sufocamento, ferimentos com objetos e/ou armas
de fogo.
Psicológica: humilhação desvalorização, manipulação emocional.
Moral: calúnia, difamação, injúria.
Sexual: estupro, divulgação de imagens de nudez, assédio etc.
Patrimonial: destruição de pertences, troca de senha de bancos, esconder
documentos.
Fonte: adaptado de Machado e Freitag, (2021).

O enfermeiro deve estar preparado para acolher as mulheres em situação de


violência, oferecendo um atendimento humanizado e respeitoso. É importante que
ele esteja atento aos sinais de violência, mesmo que estes não sejam explícitos, e
saiba abordar o tema de forma sensível e segura. O profissional deve também, estar
capacitado para realizar o atendimento emergencial às mulheres em situação de
violência, prestando os primeiros socorros e encaminhando-as para o atendimento
médico e psicológico necessário.

Além disso, o enfermeiro pode desenvolver ações de prevenção da violência


contra a mulher, por meio da promoção da saúde e da orientação acerca dos direitos
e recursos disponíveis na rede de atendimento. Ele também pode realizar a notificação
dos casos de violência e encaminhar as mulheres para os serviços especializados, como
os Centros de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência.

31
GIO
Agora que você já conhece um pouco mais sobre o perfil de
morbimortalidade feminina no Brasil, que tal pesquisar as principais
causas de adoecimento e óbito na sua cidade? Procure identificar
as intervenções em saúde que poderiam melhorar a qualidade de
vida dessas mulheres, e como resultado, a queda dessas taxas.

32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Panorama geral das principais patologias que acometem à mulher.

• Características específicas de cada patologia.

• O impacto das causas externas, como os acidentes e as violências.

• Cuidados de enfermagem direcionados para cada situação apresentada.

33
AUTOATIVIDADE
1 As causas externas ocuparam a terceira posição na mortalidade geral feminina em idade
reprodutiva. De acordo com Nascimento et al. (2018) os homicídios foram o principal tipo
de violência em gestantes (34,9%) e puérperas (23,1%), quando comparados à suicídios e
acidentes. Com relação ao tema, assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: NASCIMENTO, S. G. do. et al. Causas externas de mortalidade em mulheres grávidas e puérperas.
Acta Paul. Enferm., São Paulo, v. 31, n. 2, p. 181-186, 2018. Disponível em: https://bit.ly/3W8PnNb.
Acesso em: 17 maio 2023.

a) ( ) Com o processo de transição epidemiológica houve uma redução abrupta na


morbimortalidade por causas externas em mulheres.
b) ( ) Apesar da importância em outros cenários epidemiológicos, os fatores
socioeconômicos não desempenham relevância na mortalidade feminina por
causas externas.
c) ( ) A investigação dos óbitos por causas externas em mulheres fornece informações
úteis para a implementação de estratégias de prevenção da violência, como, por
exemplo, políticas públicas direcionadas ao tema.
d) ( ) Quando comparado ao sexo masculino, a mortalidade por causas externas em
mulheres é três vezes superior.

2 O câncer de colo do útero é caracterizado pela multiplicação acelerada de células


anormais na região inferior do útero. Com relação ao tema proposto, analise as
sentenças a seguir:

I- O câncer de colo do útero é uma doença que está relacionada à infecção pelo
Papiloma Vírus Humano (HPV), cuja infecção ocorre pelo contato sexual.
II- O exame considerado como “padrão ouro” na identificação do câncer de colo do
útero é o Citopatológico/Papanicolau.
III- O câncer de colo do útero é uma patologia que possui desenvolvimento rápido, e
por esse motivo é um alerta para os profissionais de saúde.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

34
3 O câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete mulheres no Brasil e no
mundo. A doença é responsável por elevadas taxas de mortalidade feminina, por
isso é essencial conhecer os principais fatores de risco para traçar estratégias de
detecção precoce mais efetivas. Com relação aos fatores de risco para o câncer de
mama, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Nuliparidade, uso de contraceptivos orais e menopausa tardia.


( ) Menarca tardia, obesidade e alcoolismo.
( ) Terapia de reposição hormonal, sedentarismo e tabagismo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O acidente vascular encefálico (AVE) é uma doença que afeta principalmente idosos
do sexo feminino, e que pode representar elevado grau de incapacidade para o
indivíduo, comprometendo a sua qualidade de vida. De acordo com Araújo et al. (2018),
são necessários cuidados de enfermagem que demandam o desenvolvimento de
estratégias específicas voltadas à prevenção dessa doença em mulheres. Assim,
disserte acerca dos principais fatores de risco relacionados à doença no sexo feminino.

Fonte: ARAÚJO, M. C. de et al. Conhecimento e riscos para acidente vascular cerebral em mulheres. Sana-
re - Revista de Políticas Públicas, Sobral, v. 17, n. 2, p. 1-7, 15 dez. 2018. Disponível em: https://bit.
ly/3MtnADU. Acesso em: 22 dez. 2022.

5 A violência não é uma discussão recente cujas informações epidemiológicas


configuram um grande problema de saúde pública, em especial pelo elevado
acometimento à mulher, por isso é necessária a efetivação de políticas de saúde e
segurança que garantam a proteção ao público feminino. Nesse sentido, cite os tipos
de violência contra a mulher e como deve ser a abordagem da equipe de enfermagem
frente aos casos de agressão.

35
36
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
FATORES DE RISCO E MEDIDAS
TERAPÊUTICAS
1 INTRODUÇÃO
No Tema de Aprendizagem 3, abordaremos as principais intervenções de
enfermagem perante as doenças que representam grande impacto na morbimortalidade
feminina. O acesso à saúde de qualidade é uma característica primordial em sistemas de
saúde bem-sucedidos, por isso, acadêmico, é essencial que você conheça as necessidades
de cuidado de cada mulher, assim como saiba agir adequadamente em cada situação.

O Brasil necessita de políticas públicas que abranjam todo o território nacional


e que atendam às especificidades de cada indivíduo, como nos casos de mulheres
indígenas, negras, que residam no campo ou na cidade, pessoas com deficiência
auditiva, física, ou visual, dentre outras particularidades.

Conhecer as principais causas de morbimortalidade permite estabelecer ações


de intervenção, redução da ocorrência de casos e prevenção, em especial para cenários
em que o adoecimento e/ou a morte poderiam ser evitados, por exemplo, mediante
mudanças no estilo de vida e exames de rotina.

2 CONCEITOS E FERRAMENTAS EM EPIDEMIOLOGIA


Para darmos início ao Tema de Aprendizagem 3, é importante conhecer alguns
termos essenciais para a compreensão, os quais, estão descritos no Quadro 2:

Quadro 2 – Conceitos e ferramentas da epidemiologia

MORTALIDADE: é a variável característica das comunidades de seres vivos; refere-se


ao conjunto dos indivíduos que morreram num dado intervalo do tempo.
Este indicador representa o risco ou probabilidade que qualquer pessoa na população
apresenta de poder vir a morrer ou de morrer em decorrência de uma determinada doença.
Diversas vezes para medir a ocorrência de doenças numa população, utiliza-se a
contagem de óbitos e para estudá-las corretamente; é estabelecida uma relação com a
população que está envolvida. É calculada pelas taxas ou coeficientes de mortalidade.
MAGNITUDE: representa a avaliação da dimensão do problema/processo saúde-
doença, na qual se leva em conta principalmente a frequência da ocorrência, isto é, a
incidência, a prevalência, a morbidade e a mortalidade e, em planejamento e Vigilância
Sanitária, a gravidade do evento.
Fonte: adaptado de Rouquayrol e Almeida Filho (2003)

37
Agora que você já conhece os principais conceitos em epidemiologia
necessários para essa discussão, está na hora de estudar um pouco sobre as principais
patologias que acometem as mulheres e como você, futuro enfermeiro, poderá intervir
em benefício das suas pacientes.

2.1 AS PARTICULARIDADES DA DIABETES MELLITUS (DM)


EM MULHERES
O diabetes é um fator de risco coronariano mais poderoso para as mulheres
do que para os homens, anulando seu efeito protetor de sexo mesmo entre mulheres
na pré-menopausa. Esteve associado a situações de vulnerabilidade socioeconômica,
como a pobreza e a não inserção no mercado de trabalho, como também a presença de
outras doenças (DIAS-DA-COSTA, 2015).

A relação das mulheres com o seu corpo foi marcada pela pressão social da
magreza feminina que distorce a autoimagem, promove uma insatisfação com o corpo e
a diminuição da autoestima. A perda de peso é diretamente proporcional ao aumento da
aceitação social e justifica a utilização de métodos deletérios à saúde como a diminuição
da dose ou a suspensão do uso de insulina (RIBEIRO et al., 2021).

Pode-se ressaltar o desejo que as mulheres portadoras de diabetes mellitus


têm de perder peso precisa ser incorporado às estratégias de cuidado com a devida
atenção dos profissionais da saúde voltados à subjetividade, atuando para reconhecer
e prevenir os transtornos alimentares em mulheres com diabetes e minimizar a adoção
de ações prejudiciais à saúde (RIBEIRO, et al., 2021).

Dessa forma, o Ministério da Saúde apontou uma frequência maior do diabetes


em mulheres do que em pacientes do sexo masculino. Segundo o estudo, na última
década, o número de pessoas com diabetes no país cresceu assustadores 61,8%. Em
2006, a porcentagem de diabéticos não ultrapassava 5,5% da população. Dez anos
depois, em 2016, eles já representavam 8,9% dos brasileiros. Esse avanço preocupa
os gestores de saúde, que vêm buscando soluções para reduzir o crescente custo do
diabetes para os serviços de saúde (BRASIL, 2021a).

No que se refere à divisão por sexo, a pesquisa mostra que as mulheres


tradicionalmente são mais diagnosticadas com a doença. O número de casos
registrados de diabetes na população feminina passou de 6,3% em 2006, para 9,9%
em 2016. Entre os homens, o avanço foi semelhante, mas o percentual de indivíduos
afetados pela doença é menor na comparação: em uma década, os casos passaram
de 4,6% para 7,8% (BRASIL, 2021a).

38
Nos casos de diabetes tipo 2, que representam a maior parte dos casos
identificados, os principais fatores de risco estão relacionados à rotina do dia a dia,
como o sedentarismo e a alimentação rica em calorias e gorduras. Outro ponto
importante é que em relação à “atividade física” as mulheres realizam em menor
frequência (DOMINGOS et al., 2021).

O sedentarismo expõe as mulheres a um maior risco de desenvolver a síndrome


metabólica, uma série de condições de saúde relacionadas entre si (como pressão alta,
excesso de colesterol e de gordura abdominal) e que podem levar ao desenvolvimento
não apenas do diabetes, mas também de doenças cardiovasculares e depressão
(DOMINGOS et al., 2021).

Figura 13 – Hábitos alimentares saudáveis para o controle do diabetes tipo 2

Fonte: https://bit.ly/3OhbYoU. Acesso em: 16 maio 2023.

O controle do diabetes tipo 2 pode ser alcançado com modificações nos hábitos
alimentares e com a prática regular de atividade física, no entanto, quando essas
medidas não são suficientes para controlar os níveis glicêmicos, é necessário o uso de
hipoglicemiantes orais e, eventualmente, insulinoterapia (CALISTA, et al., 2020).

É importante que os profissionais de saúde monitorem cuidadosamente a


evolução clínica da patologia e a eficácia da terapêutica empregada, a fim de identificar
precocemente a falência terapêutica e intervir de maneira adequada para prevenir
complicações agudas e crônicas. O programa HIPERDIA, na Atenção Básica à Saúde, é
uma estratégia importante para o acompanhamento dos pacientes com diabetes tipo 2
(CALISTA, et al., 2020).

NOTA
O HIPERDIA – Programa de Hipertensão Arterial e Diabetes –
constitui-se em um programa de cadastramento e acompanhamento
de hipertensos e/ou diabéticos que visa o controle da DM e HAS e
uma melhor qualidade de vida aos pacientes (CALISTA, et al., 2020).

39
Além disso, a prevenção e o diagnóstico precoce do diabetes mellitus são
fundamentais para o sucesso do tratamento. A escolha correta do tratamento deve levar
em consideração a situação individual da paciente, incluindo sua idade, comorbidades,
risco de hipoglicemia e preferências pessoais. Em resumo, o diabetes mellitus exige
uma abordagem multidisciplinar e atenção constante dos profissionais de saúde para
garantir a melhor qualidade de vida possível para os pacientes (CALISTA, et al., 2020).

3 SINTOMAS DO DIABETES EM MULHERES


Além dos sintomas que são comuns a ambos os sexos, as mulheres que
desenvolvem o diabetes tipo 2 apresentam também alguns sintomas específicos.
É importante que os serviços de saúde estejam atentos para esses indicadores a
fim de reduzir os riscos com foco nas mulheres. Alguns dos sintomas do diabetes
específicos para o sexo feminino envolvem: infecções por fungos na mucosa vaginal e
oral, infecções urinárias recorrentes, disfunção sexual feminina e síndrome do ovário
policístico (NUNES et al., 2021).

Com relação aos fatores de risco para o diabetes tipo 2, os profissionais de saúde
devem redobrar os cuidados e as ações de prevenção voltados às mulheres, pois foi
demonstrado que a doença costuma impactar mais negativamente no público feminino.
Um exemplo desse fato é o dado, apontado pelos pesquisadores norte-americanos, de
que as chances de um paciente diabético desenvolver doenças cardiovasculares é 44%
maior se ele for do sexo feminino. E ainda se houver uma combinação de um quadro
de diabetes com hipertensão, em especialmente, deve ser motivo de monitoramento
constante do paciente em questão (MALTA et al., 2022).

Por essa razão, são necessárias algumas estratégias específicas de medicina


preventiva voltadas para o público feminino. Dentro dos programas de prevenção e
controle do diabetes, é importante reservar um momento especial para reforçar esta
prevalência maior entre o sexo feminino e procurar alertar tanto as mulheres quanto
seus companheiros sobre o problema (NUNES et al., 2021).

A partir da análise do perfil epidemiológico das usuárias, é possível desenvolver


indicadores de acordo com a evolução clínica (avaliação dos sintomas) e ficar atento para
a evolução da doença. Se o enfermeiro detectar um alto índice de diabetes em mulheres
no serviço de saúde do qual é responsável, é essencial desenvolver um programa de
prevenção específico voltado para estas pessoas (MALTA et al., 2022).

40
4 OSTEOPOROSE
A osteoporose é uma das principais patologias desse grupo, considerada um
problema de saúde pública mundial por ter um grande impacto na qualidade de vida,
risco de mortalidade e sobrecarregar os serviços de saúde. O aumento da expectativa
de vida fez com que doenças, como a osteoporose e o risco de fraturas, ficassem mais
comuns na sociedade, principalmente, nas mulheres após a menopausa (FERREIRA,
A. M. de et al., 2021).

O sexo feminino possui risco maior, desde o período da menopausa, por já ocorrer
uma perda óssea considerável devido à deficiência de estrogênio, sendo a coluna e o quadril
os lugares mais afetados. O tratamento da osteoporose envolve medicamentos direcionados
à densidade mineral óssea, entretanto os exercícios têm um papel essencial para outros
fatores de risco relacionados a queda e fraturas, como fraqueza muscular, diminuição do
equilíbrio e perda funcional, por isso a atividade física regular é capaz de reduzir a perda de
massa óssea e a incidência de quedas (CARVALHO et al., 2022).

Figura 14 – Osso saudável x osteoporose

Fonte: https://bit.ly/3W7bC61. Acesso em: 16 maio 2023.

Assim, convém salientar que osteoporose é uma doença osteometabólica


considerada silenciosa e que afeta principalmente a população feminina durante o
período pós-menopáusico. Por isso a prevenção da doença é o método mais eficiente
para evitar a ocorrência de quedas e fraturas e torna-se fundamental para mulheres
pós-menopáusicas. Os hábitos de vida de mulheres na pós-menopausa podem atuar
diretamente como fatores favoráveis ou preventivos em relação ao surgimento e
evolução da doença (LEAL et al, 2020; PIRES et al, 2022).

Por essas razões, a osteoporose pode desencadear a perda da capacidade de


realização das atividades diárias e de deambulação, seguidas de consequências como
as fraturas, que contribuem para o aumento da morbimortalidade e a diminuição da
qualidade de vida da mulher (SOARES; ANDRADE, 2019).

Assim, o enfermeiro possui papel fundamental na redução da ocorrência de


manifestações da doença, assim como na prevenção desta, seja por meio de ações
educativas com o público, seja mediante o fortalecimento de políticas públicas voltadas
para a patologia, assim como a atuação na sintomatologia, tratamento e reabilitação da
população assistida (SOARES; ANDRADE, 2019).

41
Agora que você já conhece um pouco mais sobre a osteoporose, futuro
enfermeiro, podemos elencar as principais atribuições da profissão, referentes à
qualidade da atenção à saúde das mulheres com osteoporose. São elas:

• realizar o levantamento de sinais clínicos da doença para que ocorra o diagnóstico


precoce;
• orientar a paciente da necessidade da realização do exame de densitometria óssea
quando a mulher possuir histórico familiar de osteoporose, fornecendo informações
sobre a realização do exame e retirando possíveis dúvidas;
• incentivar a realização de exercícios físicos de acordo com as suas características
clínicas, ou seja, exercícios adequados, que tragam beneficios ao invés de prejuízos
para a mulher;
• orientar quanto a importância da exposição solar segura e reposição de vitaminas
dos complexos D e C;
• fornecer orientações quanto à alimentação saudável e possibilitar a atuação
multiprofissional para contribuir com a qualidade da assistência, como por exemplo,
o acompanhamento do nutricionista;
• orientar a paciente quanto a importância da prevenção de acidentes domésticos e
a redução de fatores de risco durante a realização de atividades simples do dia a dia
(SOARES; ANDRADE, 2019).

4.1 DOENÇAS REUMÁTICAS


As doenças reumáticas são compostas por várias comorbidades, o que inclui
mais de 100 condições diferentes, tais como artrite reumatoide (AR), osteoartrite, lúpus
eritematosos (LES), escleroderma, gota, fibromialgia etc. No sexo feminino, o Lúpus
Eritematoso Sistémico (LES) e a Artrite Reumatoide (AR), são doenças reumáticas
inflamatórias com uma maior prevalência (FRANCISCO et al., 2018).

Figura 15 – Lúpus Eritematoso Sistémico

Fonte: https://bit.ly/433EY7o. Acesso em: 16 maio 2023.

As doenças reumáticas ocasionam um grave impacto em termos físicos,


psicológicos e sociais para os pacientes, além de representar elevados custos para o
governo e sociedade. Na Atenção Primária à Saúde, elas são consideradas um grande
desafio para as equipes da Estratégia Saúde da Família, visto que os sintomas são
diversos e afetam mulheres de todas as faixas etárias (ALBRECHT, 2018).

42
Uma vez que as doenças reumáticas podem ser diversas, o tratamento precisa
ser direcionado para o paciente de forma específica. É possível administrar anti-
inflamatórios e medicamentos modificadores do curso da doença (MMCD). Outras
intervenções não farmacológicas também são importantes para o tratamento, visando,
juntamente com a farmacoterapia, reduzir os sintomas e propiciar uma melhora na
qualidade de vida da mulher (FRANCISCO et al., 2018).

Dentre as intervenções não farmacológicas, destacam-se a fisioterapia,


atividade física e mudança no estilo de vida. A educação em saúde, por sua vez, visa
informar ao paciente sobre a doença, seus sintomas e tratamentos, além de incentivar
a adesão às terapias prescritas.

Devido à importância dessas doenças no contexto do SUS, a influência


na qualidade de vida das mulheres acometidas e o cuidado necessário envolve a
identificação dos fatores de risco, assim como, das medidas associadas à promoção da
qualidade de vida (QV) dessas pessoas (ALBRECHT, 2018).

Você conseguiu perceber a complexidade do cuidado envolvido nas doenças


reumáticas? Como deverá ser o acompanhamento das mulheres que convivem com
essas doenças?

O enfermeiro tem papel essencial no desenvolvimento das seguintes ações:

• atividades educativas;
• identificação e controle da dor;
• contagem de articulações;
• vigilância do estado de saúde;
• incentivo à realização de hábitos de vida saudável (alimentação, hidratação, exercícios
físicos moderados, repouso);
• orientação quanto aos riscos (uso de calçados confortáveis, postura, proteção das
articulações; gestão de energia etc.);
• fornecer orientações quanto às doenças simultâneas como a hipertensão arterial
sistêmica, o tabagismo, a obesidade/sobrepeso e o etilismo em associação à piora
do quadro clínico;
• estímulo ao autocuidado (ALBRECHT, 2018).

Como vimos, identificar os fatores de risco de cada doença/distúrbio é


indispensável para o planejamento das ações e intervenções da assistência de
enfermagem, por isso é fundamental a qualificação do profissional enfermeiro e o
comprometimento de políticas sociais, econômicas e de saúde para promoção da
assistência de qualidade, contribuindo para redução da mortalidade feminina (SOUZA;
SANTOS; SOUTO, 2020).

43
Além disso, a enfermagem contribui para a execução do planejamento
reprodutivo e, consequentemente, na redução da mortalidade materna, assim como do
abortamento inseguro e dos nascimentos e partos prematuros. Assim, para diminuir a
mortalidade feminina, o acesso à saúde é uma ferramenta essencial para a promoção
da qualidade de vida (SILVA et al., 2019).

Por fim, o Brasil precisa de políticas públicas que sejam amplas para todo o
território nacional, incluindo as especificidades de cada mulher como as que vivem nas
florestas, nas águas, os quilombolas, as indígenas, as da zona urbana e da zona rural
(BARBOSA et al., 2022).

IMPORTANTE
Ao longo das nossas discussões, você percebeu a importância do
enfermeiro em diversas fases e situações da vida da mulher? Pois é,
o futuro profissional de enfermagem precisa estar atualizado quanto
às abordagens e métodos de intervenção em saúde das pessoas
assistidas por ele, para que assim seja possível ofertar um serviço de
qualidade que impacte de forma positiva a saúde das pessoas.

44
LEITURA
COMPLEMENTAR
O PAPEL DA ENFERMAGEM NA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER

Cristiane Nunes de Souza


Janaina de Souza Silva
Nájila Ruana Barbosa de Carvalho
Elisângela de Andrade Aoyama
Ronaldo Nunes Lima

Introdução

A palavra violência possui significado negativo e possivelmente sempre fez


parte da vida humana. O impacto que a violência causa pode ser verificada de diversas
formas, como exemplo, a violência sexual contra a mulher. A cada ano muitas pessoas
perdem a vida e é importante ressaltar que a violência contra a mulher ocorre em todo
o mundo independente de raça, cor, nacionalidade ou escolaridade.

Entende-se como violência sexual toda relação em que a pessoa é obrigada a se


submeter sexualmente para outro indivíduo com uso de força física, sedução, coerção,
ameaças e até mesmo influência psicológica. O atendimento às mulheres vítimas de
violência sexual prevê ações de prevenção e tratamento, além de prestar um cuidado
humanizado para o bem-estar de cada paciente que sofre este tipo de violência.

O enfermeiro exerce um papel essencial no atendimento à mulher em situação


de violência sexual, mas para isso a equipe profissional precisa estar convenientemente
capacitada para interceder diante de um problema de tamanha complexidade. É preciso
que estejam atentos aos sinais e sintomas que as mulheres relatam, como por exemplo:
dores no corpo, medo, sensação de perseguição, queixa de dores genitais, dentre
outros, sem qualquer evidência clínica.

A enfermagem tem papel fundamental no processo de acolhimento dessas


mulheres, pois com sua prática profissional resgata a humanização como aspecto
fundamental de seu trabalho, além de ser uma das profissões que mais tem produzido
conhecimento acerca do tema. No acolhimento às mulheres vítimas de violência sexual, os
profissionais de saúde devem garantir a privacidade delas; e além de não expor a paciente,
devem ter sensibilidade e conhecimento necessário para atuar nesse tipo de situação.

45
Um dos grandes desafios para enfrentar essa violência é a articulação e
integração dos serviços e do atendimento de forma a evitar a vitimização dessas
mulheres e, acima de tudo, oferecer o atendimento humanizado e integral.

O Código Penal Brasileiro de 2017, instituído pelo Decreto-Lei nº 2.848/1940,


prevê penalidades para diversos crimes, entre eles, alguns que hoje tem enquadramento
na lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) que coíbe e pune a violência contra a mulher,
seja de forma ativa ou de forma passiva.

Em 7 de agosto de 2006 foi sancionada a lei conhecida como "Lei Maria da


Penha", a qual é destinada a proteger mulheres que sofrem violência doméstica e
familiar. A referida lei protege à mulher que se encontra em situação de risco devido
apresentara alguma fragilidade comparada aos homens, tanto do ponto de vista físico,
como de gênero, além de relações domésticas e até mesmo sociais.

Essa lei se aplica ao grande número de mulheres que sofrem agressões e que
têm medo de contar. Ela possibilita mecanismos adequados para garantir os direitos da
vítima no que diz respeito à proteção a toda forma de violência de gênero que possa
causar morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico, dano moral ou patrimonial.
Tendo em vista que a violência contra a mulher tem apresentado alta incidência nos
últimos tempos, o objetivo do presente estudo é compreender a importância do papel da
enfermagem em casos de mulheres vítimas de violência sexual, bem como, relacionar
os meios de proteção e respaldo para essas mulheres, pois entende-se que cabe aos
profissionais de enfermagem identificar e tomar a correta postura diante do quadro.

Materiais e métodos

O método escolhido foi pesquisa de revisão sistemática de literatura, do tipo


qualitativo com abordagem descritiva. A revisão sistemática é uma revisão da literatura
realizada a partir de uma pergunta de pesquisa definida, por meio da qual se busca
identificar, avaliar, selecionar e sintetizar evidências de estudos empíricos que atendam
a critérios de elegibilidade predefinidos.

Foram utilizadas as bases de dados do Ministério da Saúde, Biblioteca Virtual de


Saúde, Scientific Electronic Library Online (Scielo), Fiocruz, Literatura Latinoamericana
e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), além de sites que relatam o tema proposto.
Para construção desse trabalho foram utilizadas fontes bibliográficas do ano de 2010
a 2019, por pretender realizar um levantamento dos estudos mais recentes acerca do
tema. No processo de construção utilizaram-se os seguintes descritores: assistência;
enfermagem; violência sexual.

A partir dos descritores anteriormente citados, foram identificadas 31


referências. Dessas, apenas 27 foram selecionadas a partir dos critérios de exclusão e
inclusão, formando, assim, o presente estudo. Após a análise dos estudos encontrados,
foram feitos os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos. Como critérios de

46
inclusão, destacam-se: publicações dentro do período estipulado; artigos publicados
em idioma nacional e internacional; trabalhos empíricos e teóricos acerca do tema.
Todos foram analisados mediante ano de publicação, origem, método, objetivo e
resultados encontrados.

Os critérios de exclusão foram: trabalhos como dissertações, resenhas, teses,


resumos e estudos fora do período estipulado e artigos distantes do tema proposto; essas
publicações foram descartadas a fim de buscar apenas trabalhos submetidos a uma
forma rigorosa de avaliação, para assim garantir uma qualidade de produção adequada.

Resultados

Com relação à humanização do atendimento às mulheres vítimas de violência


sexual, Morais, Monteiro e Rocha afirmam que atualmente a violência sexual é classificada
como um grande problema de saúde pública devido à estimativa das consequências
causadas às vítimas. Sendo assim, a equipe de profissionais deve estar adequadamente
capacitada para interferir nesses casos de maneira dedicada e humanizada proporcionando
todo o conforto necessário a essas mulheres vítimas de violência.

As vítimas de violência em situação de vulnerabilidade, muitas vezes, procuram


os serviços de saúde em busca de cuidados, entretanto essas mulheres que sofrem
qualquer tipo de violência têm muita resistência em falar do abuso, seja por medo,
vergonha ou até mesmo com o pensamento de que não serão compreendidas ou que
serão julgadas.

É importante ressaltar que a proximidade dos profissionais de saúde possibilita


o rastreio de casos de violência contra a mulher e caracteriza um dos pontos mais
importantes para o estabelecimento de medidas para sua prevenção. A Resolução nº
564/2017 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) diz que os profissionais de
enfermagem são comprometidos com a produção e gestão dos cuidados prestados
aos pacientes em diferentes contextos com o objetivo de resposta às necessidades do
paciente, da família e de todos. O enfermeiro deve, portanto, atuar de forma autonômica
com base nos preceitos éticos e legais, científicos e filosóficos, com vistas à promoção
do ser humano na sua integralidade.

Cabe aos profissionais responsáveis à prestação de apoio às vítimas de


violência sexual de maneira cuidadosa, uma vez que são os primeiros a darem o
devido atendimento a essas vítimas. Por isso devem sempre contar com atividades
e treinamentos continuados, pois na maioria das vezes nem os próprios profissionais
estão preparados para lidar com essa situação de tamanha complexidade.

É de suma importância que a equipe multiprofissional proporcione um ambiente


de acolhimento sob a concepção de vínculos de confiança para com a mulher. Tendo,
inclusive, compreensão sobre a violência e seu impacto na vida da vítima, articulando
assim formas de cuidados garantia de segurança.

47
Independente do sexo do profissional, a assistência de enfermagem frente à
mulher vítima de violência sexual deverá ser de qualidade. O profissional e a equipe de
multiprofissionais devem estar devidamente capacitados para receber e saber agir sem
preconceitos, independente da condição em que a vítima se encontrar.

A postura inadequada dos profissionais da saúde devido às crenças e aos


valores pode interferir no devido atendimento das vítimas de violência sexual e em
seu tratamento. A enfermagem ainda se mostra tecnicista em relação ao atendimento
prestado a essas vítimas, uma vez que o atendimento deve ser de maneira totalmente
humanizada e acolhedora para que haja uma interação de conforto e confiança entre a
paciente e o profissional envolvido.

O profissional de enfermagem não deve apenas estar em conformidade com


a parte técnica normatizada pelo Ministério da Saúde (MS), na qual há medidas de
prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) ou até mesmo cuidados
em relação à gravidez indesejada, mas deve oferecer um atendimento humanizado e
cuidadoso, possibilitando o bem-estar da mulher vítima de violência sexual.

No atendimento em sentido técnico, a mulher vítima de violência ao buscar o


serviço de saúde recebe uma assistência que envolve uma equipe de multiprofissionais,
os quais em conjunto planejam o tratamento que pode ser imediato ou em longo prazo de
ordem física e psicológica [15]. O acolhimento e a observação da paciente devem suceder
de forma contínua, sendo indispensável para o devido atendimento desconsiderar qualquer
tipo de preconceito, não levando em conta nenhum fator relacionado às condições da
paciente, sejam materiais, financeiros, de gênero, dentre outros.

Mulheres em experiência de violência doméstica ao longo de sua vida,


comparadas a outras mulheres que não sofrem maus tratos, apresentam mais problemas
de saúde e mental, sendo assim buscam com maior frequência os serviços hospitalares
e de urgência e emergência.

As decorrências de violência sexual contra as mulheres são inúmeras e as vítimas


que sofrem ou que sofreram violência sexual são mais vulneráveis ao desenvolvimento
de sintomas psiquiátricos, como: depressão, tentativas de suicídio, transtornos de
estresse e uso de medicamentos psicoativos. Além de estarem vulneráveis para contrair
infecções sexualmente transmissíveis e possíveis gravidezes indesejáveis. A respeito
de mulheres grávidas provindas de estupros, as adolescentes são as mais acometidas
devido a sua imaturidade.

Uma das atribuições do profissional de saúde durante o atendimento é


identificar a violência, tratar os problemas resultantes da agressão, realizar as profilaxias,
fazer o acompanhamento da vítima durante um período estipulado de seis meses após
o registro de ocorrência e se possível encaminhar para a rede Inter setorial, além de
notificar o quadro de violência na vigilância epidemiológica por meio do SINAN (Sistema
de Informação e Agravos de Notificação) com as devidas informações sobre a violência.

48
A Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003, estabeleceu a violência contra
a mulher como agravo de notificação compulsória em todos os serviços públicos e
privados de saúde do país. Na atualidade, uma em cada três mulheres são maltratadas
e obrigadas a manterem relações sexuais, ou até mesmo submetidas a outros tipos
de abuso. Entre 30% e 60% das mulheres que já possuíram algum vínculo afetivo ou
parceiros alegam que já sofreram algum tipo de violência física ou sexual por parte do
companheiro; e 48% das adolescentes e jovens (idade de 10 a 24 anos) afirmam que as
primeiras relações sexuais ocorreram mediante coação.

A profissão de enfermagem, como ciência do cuidado, ao longo dos últimos


anos vem buscando se aprofundar em discussões sobre o processo do cuidar; definindo
inclusive que é um processo contínuo, visto que a cada dia ocorrem mudanças no
sistema de saúde que estimulam o significado do cuidar.

Em 2004, com a realização da I Conferência Nacional de Políticas para Mulheres,


foi estabelecido a Política Nacional de Enfrentamento à violência Contra Mulheres (PNEVM),
que diz que o enfrentamento em casos de violência não é apenas restrito ao setor de
segurança, mas que deve haver o envolvimento de diferentes setores como: o dá saúde,
a da assistência social, a da psicologia, dentre outros. Se seguirem os cincos pilares com
foco e competência é possível que se cumpra o papel do enfrentamento à violência contra
a mulher, cumprindo assim os preceitos legais e punindo aquele que a cometeu.

É de suma importância a observação da paciente para proporcionar um devido


cuidado e conforto tanto físico quanto emocional. Visando, dessa forma, um olhar sem
preconceitos da necessidade de acolhimento dessa mulher vítima de violência, bem
como zelar pela essência de garantir a sua privacidade.

O acolhimento das vítimas de violência sexual deve ser um princípio a ser


seguido por todos os profissionais e deve estar presente nos locais que recebem a
vítima e a sua família, para que se sintam protegidos, confiantes, seguros e dessa forma
prossigam com o atendimento em todo o período de duração. A humanização deve
estar presente a todo instante, principalmente na forma de falar, de tratar e cuidar das
pacientes, tornado desse modo o ambiente mais tranquilo e confortável por mais difícil
que seja a situação, transmitindo segurança à vítima e à família.

O acolhimento deve ocorrer se possível durante as primeiras 72 horas após


o ato sexual, para que seja possível alcançar os resultados esperados. Fazem parte
do protocolo a contracepção de emergência e a profilaxia de Infecções Sexualmente
Transmissíveis/AIDS.

Além disso, deve-se manter uma assistência contínua por seis meses no
ambulatório especializado por meio de exames complementares e tratamento de patologias
intercorrentes. Por ser uma situação que envolve silêncio, a equipe de enfermagem deve

49
possuir habilidades de comunicação, e além de competências técnicas, devem saber lidar
com as vítimas. O profissional deve criar um vínculo de proximidade com a vítima, adquirir
confiança a todo tempo, demonstrar boa vontade em querer ajudar e ouvir, pois assim irá
contribuir na recuperação e superação das consequências.

Quanto à relação do agressor com suas vítimas, a maior incidência estão os


companheiros e parentes com índice de 50%, os estupradores que são desconhecidos
pela vítima alcança o índice de 31% dos episódios de violência sexual. Conhecidos da
família representam pouco mais de 15% dos casos. Em quarto lugar encontrando-se
com a menor incidência estão os vizinhos com 4%. Observa-se dessa maneira que
quanto maior o grau de proximidade, maior será o risco e as chances da violência sexual.

A violência contra a mulher é um fenômeno muito grave que atinge os mais


variados grupos e acontece principalmente pelos próprios parceiros, como por exemplo,
ex-marido ou ex-namorado. São dados alarmantes nos dias atuais, porém necessários
para o diagnóstico, seja qual for o fenômeno social.

Com relação à violência sexual por faixa etária em porcentagem (%), maior
índice de violência sexual ocorre na idade das mulheres menores de 14 anos com uma
taxa de 43% devido a inocência e a fragilidade, e até mesmo por ameaças da parte dos
agressores. Em segundo lugar temos a idade entre 18 e 59 anos com uma taxa de 35
%, sendo que na idade entre 15 e 18 anos a taxa fica entre 18% devido a idade fértil. Por
último temos a taxa de 4% para as mulheres com idades acima de 60 anos.

No caso da violência contra as mulheres há certa ausência de dados nas


fichas de notificação, isso significa que o profissional de enfermagem deixa de priorizar
algumas informações.

Discussão

Notou-se que é mais frequente no meio dos adolescentes a convivência de mais


de um tipo de violência, como física, psicológica e sexual. De acordo com a bibliografia,
quando a violência ocorre dentro da família, maior pode ser o comprometimento à saúde
das vítimas, pela conexão estabelecida com o agressor, pela frequência das agressões,
pela magnitude do fato entendido pela vítima e pela maturidade para compreender.

Diante da situação das pessoas a serem cuidadas estão às mulheres violentadas


sexualmente, o que se tornou não somente um problema social, mas mundial,
aumentando gradativamente o número de casos e por esse motivo tornando-se um
fator de preocupação.

O acolhimento das vítimas de violência sexual deve ser um princípio a ser seguido
por todos os profissionais e deve estar presente nos locais que recebem a vítima e a sua
família, para que se sintam protegidos, confiantes, seguros e dessa forma continuem
com o atendimento em todo o período de duração.

50
A melhor maneira da equipe de enfermagem identificar sinais de violência sexual
é por meio da consulta de enfermagem com anamnese.

Conclusão

Cada vez mais é comum escutar sobre relatos de mulheres que foram violentadas.
O contexto da violência sexual contra a mulher envolve várias questões, relacionando-
as áreas: social, política, saúde e também a análise das técnicas de desempenho dos
profissionais envolvidos no atendimento a essas mulheres. Por isso, estudar sobre o
papel da equipe de enfermagem a fim de proporcionar o cuidado à mulher vítima de
violência sexual eleva a reflexão a respeito. desse cuidado tão explícito. Ou seja, verifica-
se a necessidade real de refletir sobre o cuidado humanizado por meio de atuações de
solidariedade e obrigação.

O acolhimento a essas mulheres inclui medidas de prevenção e terapêutica.


Nesse conjunto é indispensável conseguirmos o senso crítico que ampara a questão de
ações nos serviços de saúde. Sendo assim é de grande importância que o enfermeiro
esteja bem capacitado, tendo conhecimentos técnicos e científicos para atender a
mulher vítima de violência sexual. Ainda mais porque alguns pacientes não relatam o
tipo de violência sofrida devido à maioria dos agressores serem pessoas próximas da
vítima ou até mesmo os seus parceiros, fazendo assim com que a vítima não denuncie
o abuso sofrido.

A realização de uma boa entrevista acompanhada de um exame físico céfalo-


podálico completo pode identificar as lesões e incentivar à paciente a relatar como
ocorreu o caso. Dessa forma, fica claro a necessidade do tema violência sexual contra
a mulher ser mais pesquisado pelos enfermeiros, sabendo que o cuidado prestado a
essas mulheres é na sua maioria realizada por nossa classe.

Fonte: SOUZA, C. N. de. et al. O papel da enfermagem na violência sexual contra a mulher. ReBIS, Brasília,
Df, v. 1, n. 4, p. 31-36, 2019. Disponível em: https://bit.ly/3IgZJ7L. Acesso em: 16 maio 2023.

51
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Doenças reumáticas e tratamento não farmacológico.

• O papel do enfermeiro frente as comorbidades.

• As particularidades do diabetes em mulheres e sua associação com doenças


cardiovasculares.

• As repercussões da osteoporose, em especial para a população idosa.

52
AUTOATIVIDADE
1 B.A.D, sexo feminino, 51 anos, vem, há aproximadamente quatro meses, um quadro
de poliúria, polidipsia e perda de peso, por esse motivo, agendou uma consulta na
Unidade Básica de Saúde próxima à sua residência, onde recebeu o diagnóstico de
diabetes mellitus (DM). A diabetes mellitus é uma síndrome metabólica de origem
múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer
adequadamente seus efeitos. Com relação à doença, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Com o diagnóstico de diabetes, é necessário investigar também os níveis de


triglicerídeos e comprometimento renal.
b) ( ) Provavelmente, B.A.D apresenta diabetes tipo 1, mais frequente que o tipo 2 em
mulheres.
c) ( ) O quadro clínico de mulheres com diabetes está associado à menor chance de
ocorrência de infecções ginecológicas e disfunções sexuais.
d) ( ) Atualmente, há uma frequência maior do diabetes em homens do que em
pacientes do sexo feminino.

2 Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde 2019, mais da metade das pessoas no Brasil
apresenta excesso de peso (60,3%, ou seja, 96 milhões de indivíduos), com prevalência
maior nas mulheres (62,6%) do que nos homens (57,5%). De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (2023), a obesidade é uma doença crônica, definida pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura no corpo.
A prevalência da obesidade tem aumentado de maneira epidêmica em todas as faixas
etárias nas últimas quatro décadas e, atualmente, representa um grande problema de
saúde pública no mundo. Dessa forma, analise as sentenças a seguir:

Fonte: BRASIL. Pesquisa do IBGE mostra aumento da obesidade entre adultos. Serviços de Informações do Brasil,
Saúde, Notícias, Brasília, DF, 10 jan. 2023. Disponível em: https://bit.ly/42QK07W. Acesso em: 17 maio 2023.

I- O desenvolvimento de políticas de saúde direcionadas para a prevenção da


obesidade representam um impacto importante na prevenção primária de doenças
crônicas na população feminina.
II- As consequências da obesidade e do sobrepeso podem ser graves, como, por
exemplo, prejuízos cardiovasculares, anatômicos e psicológicos.
III- Dificuldades respiratórias, infecções dermatológicas e distúrbios do aparelho
locomotor são consequências raras da obesidade no sexo feminino.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

53
3 A osteoporose afeta mais de 200 milhões de pessoas ao redor do mundo. Uma em
cada três mulheres e um em cada oito homens irá desenvolver a doença. Com relação à
osteoporose em mulheres, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O estrogênio é o hormônio associado à fragilidade dos ossos.


( ) Alguns fatores de riscos envolvem hipogonadismo, uso de glicocorticóides,
problemas gastrointestinais, déficit de vitamina D, utilização de drogas
anticonvulsivantes, hipercalciúria e ingestão excessiva de álcool.
( ) Os principais fatores de risco para o desenvolvimento da osteoporose são: histórico
familiar da doença, vida sedentária, pele negra, tabagismo, ingestão de bebidas
alcoólicas em excesso, uso de anticonvulsivantes.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Desde 1984 o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), com


origem da luta feminista pelo direito das mulheres a terem uma assistência de forma
integral, e não somente sob o cunho reprodutivo, contribuiu para o fortalecimento
de estratégias para garantir uma profunda mudança na atenção à saúde, com ações
mais voltadas para a prevenção e promoção da saúde e a assistência da saúde
da mulher nas diferentes fases do ciclo de vida. Dessa forma, disserte acerca dos
cuidados de enfermagem relacionados ao referido tema.

5 Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, os distúrbios que afetam as


articulações comprometem a vida de aproximadamente 6% da população brasileira.
Deste número, o público feminino corresponde a 60% dos casos. Dentre os fatores de
risco para a doença em mulheres, é possível citar o sedentarismo, obesidade, hábitos
alimentares inapropriados (alimentos processados, fast food, bebidas gaseificadas),
tabagismo ou alcoolismo. Neste contexto, disserte acerca dos principais cuidados de
enfermagem relacionados ao referido tema.

54
REFERÊNCIAS
ALBRECHT, G. de S. Assistência de enfermagem nas doenças reumatológicas: revisão
integrativa. 2018. 52 f. Monografia (Graduação em Enfermagem) – Faculdade de
Farmácia, Odontologia e Enfermagem, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2018.
Disponível em: https://bit.ly/3IaMMMD. Acesso em: 16 maio 2023.

ANDRADE, L.et al. Prevalence of ICD-10 mental disorders in a catchment area in the
city of São Paulo, Brazil. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, [s. l.], v. 37, n.
7, p. 316-325, jul. 2002. Disponível em: https://bit.ly/41Ovpsk. Acesso em: 16 maio 2023.

ANDRADE, L. H. S. G. de; VIANA, M. C.; SILVEIRA, C. M. Epidemiologia dos transtornos


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66
UNIDADE 2 —

LEGISLAÇÃO DO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE NA
POPULAÇÃO FEMININA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• refletir sobre as questões que impulsionaram as mulheres a conquistarem os direitos


sociais e da saúde no Brasil;

• compreender o funcionamento da Rede de Atenção à Saúde e os serviços disponíveis


para a mulher nas diferentes fases de vida e condições clínicas;

• conhecer as Legislações nacionais que direcionam o cuidado em saúde da mulher;

• propor estratégias de intervenção em enfermagem que visem o cuidado à mulher de


forma humanizada.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – PRINCIPAIS DIREITOS DAS MULHERES

TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO

TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE


DA MULHER

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um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

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UNIDADE 2!

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UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
PRINCIPAIS DIREITOS DAS MULHERES

1 INTRODUÇÃO
No Tema de Aprendizagem 1 abordaremos os principais direitos das mulheres,
especialmente os ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS), direitos previstos na
Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.080/1990, além dos desafios enfrentados na
luta pelo direito das mulheres.

Os direitos na Constituição Federal englobam principalmente a igualdade


perante a lei, proibição de discriminação, direito à saúde, direito à educação, proteção
contra a violência doméstica e familiar, direito à licença-maternidade e direito à
igualdade salarial (BRASIL, 1988).

Sabemos que, de acordo com as diretrizes do SUS, toda mulher tem direito ao
acesso integral à saúde e isso inclui questões importantes, como o direito à realização da
mamografia, ao parto humanizado e ao pré-natal.

A realização do pré-natal inclui desde o acompanhamento especializado durante


toda a gravidez, até a realização de exames, consultas e orientações em unidades
básicas de saúde e, em casos mais delicados, em maternidades ou centros de referência.
Este acompanhamento durante toda a gestação é importante para detectar doenças
que possam afetar o desenvolvimento do bebê e também para orientar a mãe sobre o
aleitamento materno, questões relacionadas à vacinação, alimentação e cuidados com a
criança (BRASIL, 2004a).

É importante destacar que toda gestante também tem direito a um


acompanhante de sua indicação durante o período de trabalho de parto, parto e pós-
parto. A atenção integral e humanizada ao recém-nascido é um direito e está prevista
em lei, esta prevê o contato imediato do bebê com o abdômen ou tórax da mãe (de
acordo com a vontade dela) e o estímulo à amamentação ainda na primeira hora de vida
(LEAL et al., 2018).

Com relação aos métodos contraceptivos definitivos, aqui podemos citar a


ligadura de trompas e a cirurgia de esterilização, ambas disponíveis pelo SUS, e podem
ser solicitadas por mulheres com mais de 25 anos, ou pelo menos dois filhos e, se em
convivência conjugal, com o consentimento do marido. Ainda reforçamos que a cirurgia
também pode ser realizada quando houver algum risco de vida ou à saúde da mulher.
Assim, toda mulher também tem direito ao planejamento familiar, que envolve receber
informações sobre métodos para prevenção da gravidez (LEAL et al., 2018).

69
Com relação aos exames diagnósticos e de rastreio, destaca-se que também é
garantia prevista em lei a realização da mamografia (exame para detecção do câncer de
mama) e o Papanicolau (exame preventivo que rastreia o câncer do colo do útero). Para
ter acesso aos exames, basta procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima, que é
principal porta de entrada para o atendimento médico no SUS. Vale pontuar também que
mulheres que realizaram cirurgia para tratamento do câncer de mama tem direito à cirurgia
plástica reparadora/reconstrutiva, de acordo com os preceitos do SUS (BRASIL, 2004a).

Ainda, destaca-se mais uma inovação em conceito de saúde, que é o advento da


vacina contra o HPV, que previne o câncer do colo do útero, ela também é direito das meninas
e mulheres que compõem o público-alvo de vacinação. Essa informação é muito importante,
pois o acesso à vacinação combinada ao exame de Papanicolau pode representar a longo
prazo a primeira geração de mulheres livres do câncer do colo uterino (BRASIL, 2004a).

2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


A Constituição de 1988 representa um marco importante na proteção dos direitos
e garantias fundamentais no Brasil, sendo considerada o documento mais completo
e detalhado sobre os direitos humanos já adotado no país. Ao iniciar com capítulos
dedicados exclusivamente a esses direitos e garantias, antes de abordar o Estado, sua
organização e exercício dos poderes, a Constituição evidencia a importância atribuída
a esses temas e estabelece uma base sólida para a consolidação da democracia e da
cidadania no país (PIOVESAN, 2018).

De acordo com o movimento de mulheres, um momento importante na luta


pelos direitos humanos das mulheres ocorreu antes de 1988, quando foi realizada uma
articulação visando à inclusão de conquistas no âmbito constitucional. Como resultado
desse processo, a Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes foi elaborada,
contemplando as principais demandas do movimento de mulheres após extensas
discussões e debates em todo o país. Devido à eficaz mobilização do movimento durante
a elaboração da Constituição, a maioria das reivindicações das mulheres foi incorporada
ao texto constitucional de 1988 (PIOVESAN, 2018).

O movimento feminista brasileiro foi um ator fundamental nesse pro-


cesso de mudança legislativa e social, denunciando desigualdades,
propondo políticas públicas, atuando junto ao Poder Legislativo e,
também, na interpretação da lei. Desde meados da década de 1970,
o movimento feminista brasileiro tem lutado em defesa da igualdade
de direitos entre homens e mulheres, dos ideais de Direitos Humanos,
defendendo a eliminação de todas as formas de discriminação, tanto
nas leis como nas práticas sociais. De fato, a ação organizada do movi-
mento de mulheres, no processo de elaboração da Constituição Fede-
ral de 1988, ensejou a conquista de inúmeros novos direitos e obriga-
ções correlatas do Estado, tais como o reconhecimento da igualdade
na família, o repúdio à violência doméstica, a igualdade entre filhos, o
reconhecimento de direitos reprodutivos etc. (BARSTED, 2001, p. 35).

70
De uma maneira geral, o reconhecimento dos direitos humanos das mulheres
tem ocorrido nas últimas quatro décadas. Além disso, tem ocorrido uma mudança no
entendimento da realidade social com uma perspectiva de gênero, que não apenas
considera as singularidades das mulheres, mas também a complexidade das violações de
direitos humanos que o princípio da diferença entre homens e mulheres na distribuição
de poder, bens e riqueza torna possível vislumbrar (IPEA, 2011).

Entre os principais direitos da saúde da mulher no âmbito da Constituição


Federal, podemos listar:

• Direito à igualdade: a Constituição Federal assegura a igualdade entre homens e


mulheres em direitos e obrigações (BRASIL, 1988, Art. 5º, caput).
• Direito à não discriminação: a discriminação de gênero é proibida por lei, incluindo em
relação a salários, oportunidades de emprego, entre outros (BRASIL, 1988, Art. 5º).
• Direito à saúde: as mulheres têm direito a serviços de saúde adequados, incluindo
assistência pré-natal, parto seguro e atendimento para doenças específicas (BRASIL,
1988, Art. 196).
• Direito à educação: as mulheres têm direito a uma educação de qualidade, sem
discriminação de gênero (BRASIL, 1988, Art. 206).
• Direito à proteção contra a violência: as mulheres têm direito à proteção contra todas
as formas de violência, incluindo a violência doméstica (BRASIL, 1988, Art. 226;
BRASIL, 2006).
• Direito à liberdade sexual e reprodutiva: as mulheres têm direito a escolher se
desejam ter filhos e quando, além de acesso à contracepção e serviços de aborto
seguro nos casos permitidos por lei, esse direito é protegido por uma série de
dispositivos constitucionais, como o direito à saúde (Art. 196), à igualdade (Art. 5º,
I) e à autonomia privada (Art. 5º, II). No Brasil, a prática do aborto é legalizada em
três situações específicas: quando há risco de vida para a mãe, quando a gravidez
é resultante de estupro e em caso de anencefalia fetal. Essas possibilidades foram
reconhecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) nº 54 (BRASIL, 1988; BRASIL, 2012).
• Direito à igualdade no casamento e nas relações familiares: as mulheres têm direito
à igualdade no casamento e nas relações familiares, incluindo o direito a participar
igualmente na tomada de decisões e na divisão de responsabilidades (BRASIL, 1988,
Art. 226, § 5º).
• Direito à licença-maternidade de 120 dias, sem prejuízo do emprego e do salário.
Além disso, a lei permite a prorrogação da licença-maternidade por mais 60 dias,
desde que seja acordado entre a empresa e a trabalhadora (BRASIL, 1988, Art. 7º,
XVIII).
• Direito à igualdade salarial: são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social: XXX - proibição de diferença de
salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade,
cor ou estado civil (BRASIL, 1988, Art. 7º).

71
2.1 Lei nº 8.080/1990
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o conjunto de ações e serviços de saúde
prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, com
o objetivo de garantir o acesso universal, igualitário e integral à saúde para toda a
população brasileira. Essa definição é baseada na Lei nº 8.080/1990, que estabelece as
bases do SUS (BRASIL, 1990).

O SUS é regido por princípios fundamentais, como a universalidade, a equidade, a


integralidade e a participação social. Esses princípios buscam assegurar o acesso a todos
os brasileiros, independentemente de sua condição socioeconômica, o atendimento às
necessidades de saúde em todas as suas dimensões, o respeito à diversidade cultural
e à autonomia das pessoas, além de garantir a participação ativa da comunidade no
controle e na gestão das políticas de saúde (BRASIL, 1990).

A descentralização é outra característica importante do SUS, conforme previsto na


Lei nº 8.080/1990. Ela se manifesta na gestão compartilhada entre os diferentes níveis de
governo e na regionalização das ações e serviços de saúde, garantindo o acesso universal
e a integralidade do cuidado. Como destaca Cecílio (2018, p. 48), "a descentralização do
SUS permite que as ações e serviços de saúde sejam mais adequados às necessidades
locais, tendo em vista as diferenças regionais e culturais do país".

Além da descentralização, a participação da comunidade é uma das principais


diretrizes do SUS. De acordo com a Lei nº 8.080/1990, é preciso garantir a participação
dos usuários, trabalhadores da saúde e de organizações da sociedade civil na formulação
das políticas e no controle das ações e serviços de saúde. Essa participação é essencial
para a efetividade do SUS, conforme destaca Cecílio (2018, p. 78), "a participação da
comunidade no SUS é um dos seus maiores diferenciais, pois permite que as pessoas
sejam protagonistas do seu próprio cuidado e das políticas de saúde".

O financiamento do SUS é uma questão crucial para a sua sustentabilidade.


A Lei nº 8.080/1990 estabelece que o financiamento do SUS é de responsabilidade
das três esferas de governo (federal, estadual e municipal), devendo ser aplicados
percentuais mínimos de recursos em saúde em cada uma delas. Segundo Cecílio (2018,
p. 91), "o financiamento adequado é um dos maiores desafios do SUS, tendo em vista a
sua ampliação e a sua complexidade".

O inciso XIV do Art.6º da Lei nº 8.080/1990 foi acrescido pela Lei nº 13.427,
de 30 de março 2017, e estabelece a obrigação de se organizar um atendimento
público específico e especializado para mulheres e vítimas de violência doméstica em
geral. Esse atendimento deve garantir diversos serviços, como atendimento médico,
acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras.

72
A Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013, também conhecida como Lei do
Minuto Seguinte, é uma das referências para o cumprimento do inciso XIV (BRASIL,
2013a). Essa lei estabelece a obrigação de hospitais da rede pública de saúde prestarem
atendimento emergencial e integral às vítimas de violência sexual. Entre os serviços a
serem oferecidos, estão o acesso a medicamentos, a profilaxia das Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DSTs) e a realização de exames para detecção de gravidez.

Além disso, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM),


instituída pela Portaria nº 1.459/2011 do Ministério da Saúde, estabelece a necessidade
de se oferecer atendimento especializado e humanizado às mulheres em situação de
violência. Essa política visa garantir o acesso das mulheres aos serviços de saúde, desde
a prevenção até o tratamento e a recuperação de doenças (BRASIL, 2011a).

O atendimento às vítimas de violência doméstica deve ser feito de forma


integrada e articulada entre as áreas de saúde, justiça e assistência social. Para isso, foi
criada a Rede de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência, que engloba uma
série de serviços, desde os de atenção básica até os de atendimento especializado. A
rede é coordenada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres do Governo
Federal e busca garantir a proteção e a assistência integral às mulheres em situação de
violência (BRASIL, 2019a).

2.1.1 Desafios e perspectivas


De acordo com Araújo e Facchini (2018), o Brasil tem avançado significativamente
nas últimas décadas com relação aos direitos das mulheres. A Constituição Federal de
1988 e a Lei Maria da Penha de 2006 são exemplos de marcos legais que garantem a
proteção dos direitos das mulheres e a punição para crimes de violência de gênero.

No entanto, ainda há muitos desafios a serem enfrentados na luta pelos direitos


das mulheres. Segundo reportagem de Aldesco (2023), mulheres de diversas áreas,
como saúde, educação e segurança, apontam para a necessidade de garantir políticas
públicas efetivas que garantam o acesso igualitário e integral aos serviços e direitos.

Ainda, de acordo com Araújo e Facchini (2018), a violência de gênero é um dos


principais desafios enfrentados pelas mulheres no Brasil. Além da Lei Maria da Penha, foram
criadas outras políticas públicas, como a Central de Atendimento à Mulher e a Casa da
Mulher Brasileira, que visam à prevenção e ao combate à violência. No entanto, é preciso
garantir que essas políticas sejam efetivas e ampliadas para todas as regiões do país.

Outro desafio apontado pelas mulheres entrevistadas por Aldesco (2023), é a


necessidade de garantir igualdade salarial e oportunidades no mercado de trabalho.
Apesar de avanços na legislação trabalhista, as mulheres ainda enfrentam desigualdades
em relação aos homens, seja em termos de remuneração, acesso a cargos de liderança
ou mesmo na inserção em determinados setores.
73
É importante ressaltar, como apontado por Araújo e Facchini (2018), que a luta
pelos direitos das mulheres não é uma questão isolada, mas está intimamente ligada a
outras lutas por justiça social, como a luta contra o racismo, a homofobia e outras formas
de opressão. A superação desses desafios requer a união de forças e a construção de
alianças que possam garantir a promoção dos direitos humanos para todas as pessoas.

2.2 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE DA MULHER


O Sistema de Informação em Saúde (SIS) é um mecanismo de coleta,
processamento, análise e transmissão da informação necessária, para se planejar,
organizar, operar e avaliar os serviços de saúde. Este deve possibilitar o gerenciamento
da atenção à saúde, por meio do monitoramento e rastreio ao atendimento da mulher ao
longo de toda a rede, bem como a retroalimentação das equipes de saúde, através de um
processo dinâmico de comunicação. Para possibilitar o monitoramento, é de fundamental
importância que, em todos os atendimentos da mulher, os profissionais preencham
adequadamente os registros, inserindo informações corretas, claras, completas e pontuais
(BRASIL, 2009a).

A informação acerca destes sistemas é de extrema relevância para o planejamento


das ações, bem como para o registro e acompanhamento de casos. É importante manter-
se atualizado sobre os sistemas existentes e os que vêm sendo criados. A informação
é essencial para a democratização da saúde e, consequentemente, para aperfeiçoar a
gestão. Os sistemas de informação em saúde brasileiros cresceram de modo acelerado
ao longo dos últimos anos, especialmente com a implementação do SUS (BRASIL, 2009a).

O trabalho coletivo de construção do Sistema de Informação do SUS, ao longo


de um quarto de século, foi reconhecido nos âmbitos nacional e internacional pelo que
já produziu até o momento. Dados documentados eficientemente transformam-se em
ações de promoção e proteção importantes para a saúde de modo geral, e em especial
para a saúde da mulher e de sua família (BRASIL, 2015).

A informatização das atividades do Sistema Único de Saúde (SUS), dentro de


diretrizes tecnológicas adequadas, é essencial para a descentralização das atividades de
saúde e a concretização do Controle Social sobre a utilização dos recursos disponíveis.
Neste sentido, uma quantidade considerável de dados e informações são produzidas
no Brasil rotineiramente com as mais variadas finalidades. Isso inclui os produtos de
diversas atividades setoriais de saúde, que são geradoras de grandes bancos de dados
a nível nacional (BRASIL, 2015).

Agora, iremos pontuar alguns dos principais sistemas com ênfase na saúde
da mulher. Além desses sistemas, outros específicos têm sido disponibilizados pelo
Ministério da Saúde brasileiro no âmbito do SUS. Destacamos, a seguir, os principais.

74
2.2.1 SISPRENATAL
É o Sistema de Acompanhamento do Programa de Humanização no Pré-Natal
e Nascimento, trata-se de um software desenvolvido pelo DATASUS, com o objetivo
de permitir o acompanhamento adequado das gestantes inseridas no Programa de
Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), do SUS. Os profissionais que integram a
equipe da saúde da família fazem o preenchimento e controle dos dados deste sistema,
sendo essenciais no manuseio e registro das informações (BRASIL, 2000).

2.2.2 SISCOLO
É um importante instrumento de avaliação e rastreio relacionado ao câncer de
colo de útero, que possibilita acompanhar o desenvolvimento das ações do plano de
controle, isto é, avaliar, através de indicadores, se a população-alvo está sendo atingida,
qual a prevalência das lesões precursoras entre as mulheres diagnosticadas, qual a
qualidade da coleta destes exames, qual o percentual de mulheres que estão sendo
tratadas/acompanhadas. Também pode indiretamente fornecer dados para avaliar a
captação (mulheres novas) e cobertura (mulheres atingidas) do programa de rastreamento
(TOMAZELLI; GIRIANELLI; SILVA, 2018).

2.2.3 SISMAMA
Foi criado também pelo DATASUS como um subsistema do Sistema de Informação
Ambulatorial do SUS (SIA-SUS), articulando-se pelo seu módulo de cadastro com o
Sistema Cartão Nacional de Saúde – Sistema Cartão e Sistema Informação do Câncer de
Colo do útero (SISCOLO) (BRASIL, 2011b).

O diferencial deste sistema é que possibilita o gerenciamento das ações de


rastreamento de câncer; padroniza e aprimora a qualidade dos laudos mamográficos:
permite o seguimento das mulheres com exames alterados; permite a análise da
distribuição na população das lesões encontradas nas mamografias; contribui para o
planejamento da oferta de serviços; possibilita avaliar a indicação dos procedimentos de
diagnóstico inicial e rastreamento; e ainda gera o Boletim de Produção Ambulatorial
Individualizado (BPA-I) (BRASIL, 2011b).

Em dezembro de 2008, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Assistência


à Saúde, publica a Portaria SAS n° 779, definindo como sistema de informação oficial do
Ministério da Saúde, a ser utilizado para o fornecimento dos dados informatizados dos
procedimentos relacionados ao rastreamento e a confirmação diagnóstica do câncer de
mama, o Sistema de Informação do Controle do Câncer de Mama (BRASIL, 2008).

75
Uma vez gerados esses indicadores e através da análise destes, identifica-se
os problemas associados à Atenção à Saúde da Mulher. Elabora-se uma planilha para
relacionar os problemas em ordem de importância. Selecionam-se os problemas mais
relevantes e cuja solução poderá provocar um maior impacto na qualidade da assistência à
saúde da mulher. Se possível, decide-se coletivamente com a participação dos usuários
ou seus representantes, mediante convite de representantes na reunião da equipe ou no
Conselho Local de Saúde (BRASIL, 2008).

A partir de cada problema identificado, são construídas estratégias para resolução.


É planejada a estimativa de prazo e responsáveis para a solução dos problemas. É realizada
a monitorização periodicamente nas reuniões e, por fim, é feita a avaliação se o problema
diagnosticado foi solucionado. Aqui se destaca que cabe aos profissionais da saúde da
família constantemente avaliar os múltiplos aspectos presentes na dinâmica do ciclo de
vida familiar para melhor compreender os processos de saúde-doença e os percursos
terapêuticos que serão os caminhos buscados para a solução de problemas (BRASIL, 2008).

Nesta unidade, vimos os indicadores e os sistemas de informações relacionados


à saúde da mulher, que se constituem em ferramentas indispensáveis para a nossa
prática profissional. Você entendeu que os indicadores revelam, além das tradicionais
dimensões de estrutura, processo e resultado, a maneira como as questões sociais,
econômicas e ambientais impactam na saúde. Analisamos também a formulação de
políticas públicas para o enfrentamento dos problemas de saúde em geral, percebemos
o quanto uma base de informações confiável dá sustentação e direcionamento à tomada
de decisão nas ações da Equipe de Saúde da Família (BRASIL, 2008).

Identificamos os múltiplos determinantes do processo saúde-doença, as iniquida-


des em saúde e o impacto das ações e programas na redução da morbimortalidade da
população, só são viáveis a partir de informações precisas, completas e contextualizadas
disponíveis nos principais indicadores e sistemas de informações relacionados à saúde
da mulher.

O Sistema de Informação do Câncer (SISCAN) foi instituído pela Portaria nº 3.394


de 30 de dezembro 2013, instituiu o SISCAN (BRASIL, 2013b), e constitui-se em uma
versão em plataforma web que reúne os sistemas de informação do Programa Nacional
de Controle do Câncer do Colo do Útero (SISCOLO) e do Programa Nacional de Controle
do Câncer de Mama (SISMAMA) (BRASIL, 2013b).

76
3 PLANEJAMENTO FAMILIAR
No Brasil, o planejamento familiar foi instituído pela Lei nº 9.263, de 12 de janeiro
de 1996 e trouxe uma série de novidades para o ciclo reprodutivo e de saúde relacionado
à mulher. Agora iremos abordar os principais seguimentos desta lei e ao final você será
capaz de descrever e analisar os avanços e singularidades evidenciados desde que a
referida lei foi sancionada.

Segundo a referida Lei, o planejamento familiar é direito de todo o cidadão, e


representa um conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais
de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal.

O planejamento familiar faz parte integrante do conjunto de ações de atenção à


mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde.

As instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em todos os seus níveis,


devem garantir, em toda a sua rede de serviços, no que se refere à atenção à mulher,
ao homem ou ao casal, programa de atenção integral à saúde, em todos os seus ciclos
vitais, que inclua, como atividades básicas, entre outras:

• assistência à concepção e contracepção;


• o atendimento pré-natal;
• a assistência ao parto, ao puerpério e ao neonato;
• o controle das doenças sexualmente transmissíveis;
• o controle e a prevenção dos cânceres cérvico-uterino, de mama, de próstata e de
pênis.

O planejamento familiar orienta-se por ações de prevenção, educação e pela


garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis
para a regulação da fecundidade.

Cabe ao SUS desenvolver treinamentos para a formação de qualidade dos


profissionais, com ênfase na capacitação do pessoal técnico, visando à promoção de
ações de atendimento à saúde reprodutiva.

Além disso, é dever do Estado, através do SUS, em associação, no que couber,


às instâncias componentes do sistema educacional, promover condições e recursos
informativos, educacionais, técnicos e científicos que assegurem o livre exercício do
planejamento familiar.

As ações de planejamento familiar serão exercidas tanto pelas instituições


públicas como pelas privadas, filantrópicas ou não, nos termos desta lei e das normas de
funcionamento e mecanismos de fiscalização estabelecidos pelas instâncias gestoras
do SUS.

77
Compete à direção nacional do SUS definir as normas gerais de planejamento
familiar. É permitida a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros
nas ações e pesquisas de planejamento familiar, desde que autorizada, fiscalizada e
controlada pelo órgão de direção nacional do SUS, como, por exemplo, a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA).

A realização de experiências com seres humanos no campo da regulação da


fecundidade somente será permitida se previamente autorizada, fiscalizada e controlada
pela direção nacional do SUS e atendidos os critérios estabelecidos pela Organização
Mundial de Saúde (OMS).

Para o exercício do direito ao planejamento familiar serão oferecidos todos


os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitas e que
não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade de opção.
Parágrafo único. A prescrição a que se refere o caput só poderá ocorrer mediante
avaliação e acompanhamento clínico e com informação sobre os seus riscos, vantagens,
desvantagens e eficácia.

Com relação à esterilização voluntária, enquadram-se os métodos contraceptivos


definitivos, nas seguintes situações:

• Em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos
de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo
de sessenta dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual
será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade,
incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a
esterilização precoce.
• Risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório
escrito e assinado por dois médicos. É condição para que se realize a esterilização
o registro de expressa manifestação da vontade em documento escrito e firmado,
após a informação a respeito dos riscos da cirurgia, possíveis efeitos colaterais,
dificuldades de sua reversão e opções de contracepção reversíveis existentes. É
vedada a esterilização cirúrgica em mulher durante os períodos de parto ou aborto,
exceto nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores.

Pode ocorrer a penalização do profissional de saúde que fizer a esterilização


em não conformidade com as indicações da lei. A pena é aumentada de um terço se a
esterilização for praticada: durante os períodos de parto ou aborto, com manifestação
da vontade do esterilizado expressa durante a ocorrência de alterações na capacidade
de discernimento por influência de álcool, drogas, estados emocionais alterados ou
incapacidade mental temporária ou permanente; através de histerectomia e ooforectomia;
em pessoa absolutamente incapaz, sem autorização judicial; através de cesariana indicada
para fim exclusivo de esterilização.

78
Aqui as penalidades aplicadas ao profissional que não registrar as esterilizações
que foram realizadas. Deixar o médico de notificar à autoridade sanitária as esterilizações
cirúrgicas que realizar. Pena, detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Induzir ou instigar dolosamente a prática de esterilização cirúrgica. Pena,


reclusão, de um a dois anos. Se o crime for cometido contra a coletividade, caracteriza-
se como genocídio, aplicando-se o disposto na Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956.

Exigir atestado de esterilização para qualquer fim. Pena, reclusão, de um a dois


anos, e multa.

As instituições de saúde que desobedecerem à lei sofrerão as seguinte sanções,


sem prejuízo das aplicáveis aos agentes do ilícito, aos coautores ou aos partícipes: I - se
particular a instituição: a) de duzentos a trezentos e sessenta dias-multa e, se reincidente,
suspensão das atividades ou descredenciamento, sem direito a qualquer indenização ou
cobertura de gastos ou investimentos efetuados; b) proibição de estabelecer contratos ou
convênios com entidades públicas e de se beneficiar de créditos oriundos de instituições
governamentais ou daquelas em que o Estado é acionista; II - se pública a instituição,
afastamento temporário ou definitivo dos agentes do ilícito, dos gestores e responsáveis
dos cargos ou funções ocupadas, sem prejuízo de outras penalidades.

Os agentes do ilícito e, se for o caso, as instituições a que pertençam ficam


obrigados a reparar os danos morais e materiais decorrentes de esterilização não
autorizada na forma desta Lei, observados, nesse caso, o disposto dos Arts. 159, 1.518
e 1.521 e seu parágrafo único do Código Civil, combinados com o Art. 63 do Código de
Processo Penal (BRASIL, 1996).

3.1 LEI MARIA DA PENHA


A Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, trouxe vários
avanços no que diz respeito à proteção à saúde da mulher. Mesmo diante dos benefícios
possibilitados pela referida lei, alguns autores verificaram que houve um aumento nos
índices de mortalidade das mulheres mesmo no período pós-Lei, mostrando que o
fato de haver uma lei específica para o assunto não garantiu diminuição nas taxas de
mortalidade feminina relacionadas à violência doméstica (BRASIL, 2006).

É necessário que sejam elaboradas estratégias para não só diminuir os índices


de mortalidade, mas garantir uma melhora na saúde da mulher. Um aspecto interessante
seria a ampliação da abordagem ao assunto, não só no que tange ao aspecto jurídico,
mas também como forma de prevenção de agravos à saúde feminina, estes podem
ser realizados e estimulados principalmente na atenção básica de saúde, através da
atuação integral e capacitada da equipe multiprofissional (CARNEIRO; FRAGA, 2012).

79
Também podemos citar algumas fragilidades, após a criação da lei como exemplo
a ineficiência na aplicação das medidas protetivas, a falta de recursos materiais e de
pessoas, a fragmentação da rede de atenção e o movimento de setores conservadores
da sociedade para deslegitimar a Lei. E ainda é necessário esclarecer que o juiz poderá
assegurar à mulher em situação de violência doméstica e familiar a manutenção do seu
vínculo trabalhista, e quando necessário o afastamento do local do trabalho, por até seis
meses, de acordo com a referida lei (CARNEIRO; FRAGA, 2012).

3.2 VACINAÇÃO CONTRA O HPV


Fica Integrada a vacina quadrivalente contra HPV na prevenção do câncer de
colo do útero no Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a Portaria nº 54 MS/
SCTIE, de 18 de novembro de 2013, Art. 1 (BRASIL, 2013c).

3.3 HIV E SÍFILIS EM PARTURIENTES


É direito da mulher estando ela internada para dar à luz em qualquer
estabelecimento hospitalar integrante do SUS a realização do teste rápido para detecção
de sífilis e/ou HIV. De acordo com a Portaria nº 766 MS/SAS, de 21 de dezembro de 2004
(BRASIL, 2004b).

3.4 RECONSTRUÇÃO DE MAMAS


É direito da mulher que, em decorrência de um câncer, tiver os seios total ou
parcialmente retirados a reconstrução destes por meio de cirurgia plástica, de acordo
com a Lei n° 9656, de 3 de junho de 1998, Art. 10-A.

3.5 LEI N° 11.108/2005, DE 15 DE ABRIL DE 2005


Altera a Lei nº 8.080, garante às parturientes o direito à presença de
acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS).

DICA
Assista ao vídeo sobre a linha do tempo das conquistas das mulheres,
para entender melhor sobre o que foi discutido: http://twixar.me/BPxm.

80
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Que toda mulher tem direito ao acesso integral à saúde e isso inclui questões importantes,
como o direito à realização da mamografia, ao parto humanizado e ao pré-natal.

• Que compete à direção nacional do SUS definir as normas gerais de planejamento


familiar.

• Que é necessário que sejam elaboradas estratégias para não só diminuir os índices
de mortalidade, mas garantir uma melhora na saúde da mulher.

• Que cabe ao SUS desenvolver treinamentos para a formação de qualidade dos


profissionais, com ênfase na capacitação do pessoal técnico, visando à promoção de
ações de atendimento à saúde reprodutiva.

81
AUTOATIVIDADE
1 A realização do pré-natal inclui desde o acompanhamento especializado durante toda
a gravidez, até a realização de exames, consultas e orientações em unidades básicas
de saúde e, em casos mais delicados, em maternidades ou centros de referência.
Sobre o pré-natal, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Toda gestante também tem direito a um acompanhante de sua indicação durante


o período de trabalho de parto, parto e pós-parto.
b) ( ) Este acompanhamento durante toda a gestação não é importante para detectar
doenças que possam afetar o desenvolvimento do bebê.
c) ( ) Este acompanhamento durante toda a gestação não é importante para orientar
a mãe sobre o aleitamento materno e questões relacionadas à vacinação.
d) ( ) Este acompanhamento durante toda a gestação não é importante para orientar
a mãe sobre alimentação e cuidados com a criança.

2 Com relação aos métodos contraceptivos definitivos voltados ao planejamento familiar,


disponíveis pelo SUS, analise as sentenças a seguir:

I- Podemos citar a ligadura de trompas e a cirurgia de esterilização, ambas disponíveis


pelo SUS.
II- Os métodos podem ser solicitados por mulheres com mais de 25 anos, ou pelo
menos dois filhos e, se em convivência conjugal, com o consentimento do marido.
III- A cirurgia só poderá exclusivamente ser realizada quando houver algum risco de
vida ou à saúde da mulher.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Sabemos que, de acordo com as diretrizes do SUS, toda mulher tem direito ao acesso
integral à saúde e isso inclui questões importantes, como o direito à realização da
mamografia, ao parto humanizado e ao pré-natal. Acerca do exposto, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

82
( ) Algumas mulheres em situação de risco específico têm direito ao planejamento
familiar, que envolve receber informações sobre métodos para prevenção da
gravidez.
( ) É garantia prevista em lei a realização da mamografia (exame para detecção do
câncer de mama) e o Papanicolau (exame preventivo que rastreia o câncer do colo
do útero).
( ) A atenção integral e humanizada ao recém-nascido não é um direito e não está
prevista em lei.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O Sistema de Informação em Saúde (SIS) é um mecanismo de coleta, processamento,


análise e transmissão da informação necessária, para se planejar, organizar, operar e
avaliar os serviços de saúde. Dessa forma, disserte sobre o referido tema.

5 O SISMAMA foi criado também pelo DATASUS como um subsistema do Sistema


de Informação Ambulatorial do SUS (SIA-SUS), articulando-se pelo seu módulo
de cadastro com o Sistema Cartão Nacional de Saúde – Sistema Cartão e Sistema
Informação do Câncer de Colo do útero (SISCOLO). Neste contexto, disserte sobre o
SISMAMA e cite as estratégias para o enfrentamento dos problemas identificados.

83
84
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, quando refletimos sobre a saúde da mulher, é necessário ter uma
visão holística, ou seja, uma compreensão além das dimensões biológicas do indivíduo,
de forma a promover uma reflexão sobre as suas necessidades, em cada fase da vida,
assim como, a partir dos cenários encontrados, nas diversas situações de saúde. Nesse
sentido, a Atenção Básica, mediante a estratégia saúde da família pode contribuir de
forma significativa como a ordenadora do cuidado, pois está mais próxima das pessoas,
cuja formação do vínculo contribui para a longitudinalidade da atenção à saúde (PEITER
et al., 2019).

Um dos grandes desafios para promover os cuidados em saúde de forma


adequada, é que você, acadêmico, consiga interligar a solução dos problemas que irá
enfrentar no futuro, com as aulas teóricas, aplicando os seus conhecimentos no dia
a dia. Por isso, é importante estabelecer o cuidado organizado em equipe, inserido na
Rede de Atenção à Saúde, cuja formação preza por linhas de cuidados e protocolos
específicos de acordo com cada situação, para que assim, a mulher seja atendida com
qualidade (PEITER et al., 2019).

A atenção básica é um dos principais pilares da Política Nacional de


Humanização (PNH) é um componente essencial da saúde da mulher. É na atenção
básica que as mulheres têm acesso a serviços como consultas ginecológicas, exames
preventivos e orientações sobre contracepção e planejamento familiar. Além disso,
a atenção básica é fundamental para a detecção precoce de doenças que afetam
as mulheres, como o câncer de mama e de colo do útero. Dessa forma, investir na
melhoria da atenção básica é uma estratégia fundamental para a promoção da saúde
e do bem-estar das mulheres (BRASIL, 2015).

A Política Nacional de Humanização (PNH) é um conjunto de princípios e diretrizes


que visam à melhoria da qualidade do atendimento em saúde no Brasil. Dentre suas
diversas frentes de atuação, a PNH tem um importante papel na promoção da saúde
da mulher. Através de iniciativas como a humanização do atendimento e o estímulo à
participação social, a PNH busca garantir que as mulheres recebam uma atenção integral
e de qualidade em todas as fases de sua vida reprodutiva (BRASIL, 2010).

85
No entanto, apesar dos avanços obtidos nos últimos anos, ainda existem
muitos desafios a serem enfrentados na promoção da saúde da mulher no Brasil.
Problemas como a falta de acesso a serviços de saúde de qualidade, a violência
obstétrica e a desigualdade de gênero persistem e impactam negativamente a saúde
e o bem-estar das mulheres. Para enfrentar esses desafios, é fundamental que a PNH
continue sendo implementada e aprimorada, sempre com foco na garantia do acesso
universal e igualitário à saúde para todas as mulheres (BRASIL, 2019b).

2 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO


A Política Nacional de Humanização (PNH) é uma estratégia do Ministério da
Saúde que visa promover a humanização no atendimento à saúde e na gestão dos
serviços de saúde no Brasil. Essa política é de extrema importância para a saúde da
mulher, uma vez que ela busca valorizar a dimensão subjetiva da saúde, reconhecendo
as singularidades e diversidades dos sujeitos envolvidos nos processos de saúde e
doença (BRASIL, 2003).

A PNH tem como princípios a transversalidade, a equidade, a autonomia e a


participação social, entre outros (BRASIL, 2017). Esses princípios são fundamentais
para garantir uma atenção humanizada e integral à saúde da mulher, que leve em
consideração as suas necessidades e particularidades.

A PNH também tem como objetivo a promoção da saúde, prevenção de doenças


e ações de recuperação e reabilitação (BRASIL, 2017). Quando aplicada à saúde da
mulher, essa política deve considerar as diferentes fases da vida da mulher, desde a
adolescência até a terceira idade, e abranger temas como saúde sexual e reprodutiva,
violência de gênero e saúde mental, entre outros.

Dentre as ações desenvolvidas pela PNH em relação à saúde da mulher,


destacam-se a promoção do parto humanizado e a prevenção da violência obstétrica.
Essas medidas visam garantir às mulheres o direito à escolha do tipo de parto e o
respeito as suas escolhas, bem como o direito à assistência humanizada durante o parto
e o pós-parto. Além disso, a PNH também estimula ações de prevenção e combate
à violência contra a mulher em todas as suas formas, incluindo a violência obstétrica
(BRASIL, 2001).

A implementação da PNH na saúde da mulher é um desafio, uma vez que


exige mudanças significativas na forma como os serviços de saúde são organizados
e gerenciados. É necessário que sejam promovidas práticas de acolhimento, escuta
qualificada e vínculo entre profissionais de saúde e usuárias, visando à promoção da
autonomia e da participação das mulheres no processo de cuidado. Nesse sentido, a
PNH oferece um caminho para a construção de uma saúde mais humana, integral e
respeitosa às necessidades e demandas das mulheres (BRASIL, 2010).

86
Em resumo, a Política Nacional de Humanização é uma estratégia fundamental
para garantir uma atenção humanizada e integral à saúde da mulher, que leve em
consideração suas necessidades e particularidades. A aplicação dos princípios da PNH
na saúde da mulher deve abranger temas relevantes para a vida das mulheres em
diferentes fases da vida, como saúde sexual e reprodutiva, violência de gênero e saúde
mental, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017).

2.1 PRÍNCIPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO


A Política Nacional de Humanização (PNH) estabelece princípios fundamentais
para a humanização do cuidado em saúde. A transversalidade é um desses princípios,
que implica na integração dos diferentes setores envolvidos na gestão e no atendimento
em saúde, incluindo profissionais de saúde, gestores e usuários do serviço. Esse princípio
busca garantir uma abordagem mais ampla e integral dos cuidados, considerando a
complexidade e singularidade de cada indivíduo.

Outro princípio importante é a indissociabilidade entre atenção e gestão, que


reconhece que as práticas de atenção e gestão são interdependentes e complementares,
e devem ser abordadas de forma integrada. Isso implica na necessidade de uma gestão
participativa e cogestão, em que usuários e trabalhadores tenham voz e participem
ativamente na tomada de decisões e no planejamento das ações em saúde (BRASIL,
2004a).

O protagonismo, a corresponsabilidade e a autonomia dos sujeitos são outros


princípios da PNH, que visam fortalecer a participação ativa dos usuários e trabalhadores
do serviço de saúde. Isso significa reconhecer a capacidade das pessoas de serem
protagonistas de suas próprias vidas e de sua saúde, e garantir que tenham acesso às
informações e aos recursos necessários para isso.

2.2 DIRETRIZES DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO


Dentre as diretrizes da PNH, destacam-se o acolhimento, a gestão participativa
e cogestão, a ambiência, a clínica ampliada e compartilhada, a valorização do trabalhador
e a defesa dos direitos dos usuários.

O acolhimento é uma prática que visa receber o usuário de forma humanizada e


garantir o acesso a todos os serviços disponíveis no sistema de saúde. Segundo a PNH,
o acolhimento deve ser feito de forma qualificada e efetiva, garantindo o atendimento às
necessidades do usuário e promovendo a sua satisfação (BRASIL, 2004a).

87
A gestão participativa e cogestão é outra diretriz da PNH que visa à participação
dos usuários e trabalhadores na gestão dos serviços de saúde. Através da participação e
da cogestão, os usuários e trabalhadores podem contribuir para a melhoria do atendimento
e dos serviços, garantindo uma gestão mais democrática e transparente (BRASIL, 2004a).

A ambiência é uma diretriz da PNH que visa à adequação do ambiente físico dos
serviços de saúde às necessidades dos usuários e trabalhadores. Através da ambiência,
é possível garantir um ambiente mais acolhedor e confortável, contribuindo para a
humanização do atendimento (BRASIL, 2004a).

A clínica ampliada e compartilhada é uma prática que visa ampliar o olhar do


profissional de saúde sobre o usuário, levando em consideração sua história de vida e
seus aspectos sociais e culturais. Através da clínica ampliada e compartilhada, é possível
promover uma abordagem mais integral e humanizada dos usuários, contribuindo para
a efetividade do tratamento (BRASIL, 2004a).

A valorização do trabalhador é uma diretriz da PNH que visa garantir melhores


condições de trabalho e remuneração adequada aos profissionais de saúde, além
de promover a capacitação e o desenvolvimento profissional. Através da valorização
do trabalhador, é possível garantir um atendimento de qualidade e uma gestão mais
eficiente e democrática (BRASIL, 2004a).

Por fim, a defesa dos direitos dos usuários é uma diretriz da PNH, que visa
garantir o respeito aos direitos dos usuários do sistema de saúde, promovendo o acesso
aos serviços de saúde e a garantia de um atendimento humanizado e efetivo. Através
da defesa dos direitos dos usuários, é possível garantir a equidade e a justiça social no
acesso aos serviços de saúde (BRASIL, 2004a).

2.3 HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO À SAÚDE DA MULHER


Agora, iremos abordar o papel da humanização ao atendimento integrado da
mulher, no que se refere à individualidade e ao mesmo tempo ao conceito holístico,
atendimento universal deste público.

A humanização na saúde das mulheres é um tema importante e presente na


Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (BRASIL, 2004a). Esta política
tem como objetivo a promoção da saúde, prevenção de agravos e doenças, garantindo
o acesso aos serviços de saúde de forma equânime, integral e respeitando a diversidade
de gênero, étnico-racial, cultural, entre outras (BRASIL, 2004a). A humanização nesse
contexto é essencial para que as mulheres se sintam acolhidas e assistidas de forma
integral em suas necessidades e particularidades.

88
Para que a humanização na saúde das mulheres seja efetiva, é necessário que
as práticas de saúde sejam centradas nas necessidades e desejos das mulheres, e não
apenas em protocolos e procedimentos padronizados. Além disso, é importante que
as mulheres tenham acesso à informação de forma clara e objetiva sobre seus direitos
e opções de cuidados, assim como sejam incentivadas a participar das decisões em
relação ao seu cuidado em saúde (CAMPOS et al., 2010).

A humanização da assistência à saúde das mulheres deve levar em consideração a


complexidade da vida das mulheres, sua diversidade e singularidade, buscando valorizar
o que cada uma tem de único (DESLANDES, 2006). Dessa forma, é importante que os
profissionais de saúde estejam preparados para atender às demandas e particularidades
de cada mulher, buscando oferecer um cuidado individualizado e humanizado, que
considere suas necessidades e expectativas, em um ambiente acolhedor e seguro.

Figura 1 – Humaniza SUS

Fonte: https://bit.ly/3o9hIpQ. Acesso em: 16 maio 2023.

A humanização e a qualidade da atenção em saúde são condições essenciais


para que as ações de saúde se traduzam na resolução dos problemas identificados,
tanto na satisfação das usuárias, ao mesmo tempo no fortalecimento da capacidade das
mulheres frente à identificação de suas demandas, no reconhecimento e reivindicação
de seus direitos e na promoção do autocuidado (BRASIL, 2009b).

INTERESSANTE
A igualdade de gênero é um dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) para
a Agenda 2030 (compromisso firmado pelo Brasil).

89
As histórias das mulheres na busca pelos serviços de saúde expressam
discriminação, frustrações e violações dos direitos e aparecem como fonte de tensão e
mal-estar psíquico-físico. Por isso, a humanização e a qualidade da atenção implicam
na promoção, reconhecimento, e respeito aos seus direitos humanos, dentro de um
marco ético que garanta a saúde integral e seu bem-estar (BARBOSA, 2006).

Segundo Mantamala (1995 apud BRASIL, 2004a), a qualidade da atenção deve


estar referida a um conjunto de aspectos que englobam as questões psicológicas, sociais,
biológicas, sexuais, ambientais e culturais. Isso implica em superar o enfoque biologicista
e medicalizador hegemônico nos serviços de saúde e a adoção do conceito de saúde
integral e de práticas que considerem as experiências das usuárias com sua saúde.

Antes de tudo, humanizar é qualificar a atenção em saúde, é aprender a


compartilhar saberes e reconhecer direitos. A atenção humanizada e de boa qualidade
implica no estabelecimento de relações entre sujeitos, seres semelhantes, ainda que
possam apresentar-se muito distintos conforme suas condições sociais, raciais, étnicas,
culturais e de gênero.

A humanização da atenção em saúde é um processo contínuo e necessita de


uma reflexão contínua sobre os atos, condutas e comportamentos de cada pessoa
envolvida na relação. É preciso maior conhecimento de si, para melhor compreender
o outro com suas especificidades e para poder ajudar sem procurar impor valores,
julgamentos, opiniões ou decisões (BARBOSA, 2006). É importante considerar na saúde
da mulher nos âmbitos:

• Sexual – considerando a identidade de gênero, sexualidade, diversidade, prevenção


e tratamento das infecções sexualmente transmissíveis, assim como as doenças
ginecológicas.
• Reprodutivo – com ênfase na melhoria da atenção obstétrica, no planejamento
reprodutivo e na atenção ao abortamento.
• O enfrentamento à violência doméstica e violência sexual.
• Atenção ao câncer de mama e colo do útero.
• A humanização e a qualidade da atenção (BARBOSA, 2006).

IMPORTANTE
Lembre-se: a qualidade da atenção exige mais do que a resolução de
problemas ou a disponibilidade de recursos tecnológicos. Humanizar
o cuidado é muito mais do que tratar bem, com delicadeza ou de
forma amigável.

90
Para atingir os princípios de humanização e da qualidade da atenção, deve-se
levar em conta, pelo menos, os seguintes elementos:

Quadro 1 – Princípios da humanização

Disponibilidade de insumos, equipamentos


Acesso às ações e aos serviços de saúde.
e materiais.
Estruturação dos sistemas de referência e
Acolhimento amigável.
contrarreferência.
Captação precoce e busca ativa das usuárias. Análise de indicadores de saúde.
Recursos tecnológicos baseados em evidências Avaliação continuada dos
científicas. serviços de saúde.
Capacitação técnica dos profissionais de saúde. Disponibilidade de informações.

Fonte: adaptado de Brasil (2009b)

Portanto, a humanização na saúde das mulheres é um desafio constante para


os profissionais e gestores de saúde. É necessário que haja um comprometimento com
a promoção da saúde e a garantia do acesso aos serviços de saúde de forma equitativa
e respeitando a diversidade de gênero, étnico-racial e cultural, assim como um esforço
em relação à formação e à capacitação dos profissionais para uma assistência qualificada
e humanizada (CAMPOS et al., 2010; DESLANDES, 2006).

DICA
Recomendo a leitura do folheto sobre a PNH, disponível em:
http://twixar.me/cPxm.

91
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Que a Política Nacional de Humanização (PNH) é uma estratégia do Ministério da


Saúde que visa promover a humanização no atendimento à saúde e na gestão dos
serviços de saúde no Brasil.

• Que a humanização e a qualidade da atenção em saúde são condições essenciais


para que as ações de saúde se traduzam na resolução dos problemas identificados.

• Que a defesa dos direitos dos usuários é uma diretriz da PNH, que visa garantir o
respeito aos direitos dos usuários do sistema de saúde, promovendo o acesso aos
serviços de saúde e a garantia de um atendimento humanizado e efetivo.

• Que a humanização da atenção em saúde é um processo contínuo e necessita de


uma reflexão contínua sobre os atos, condutas e comportamentos de cada pessoa
envolvida na relação.

92
AUTOATIVIDADE
1 A humanização da atenção em saúde é um processo contínuo e necessita de uma
reflexão contínua sobre os atos, condutas e comportamentos de cada pessoa
envolvida na relação. Sabe-se que, para garantir a humanização do cuidado, é preciso
considerar o indivíduo como um ser biopsicossocial. Acerca desse tema, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Não é preciso considerar a saúde da mulher em âmbitos além do sexual e


reprodutivo, tendo em vista que as políticas públicas atuais possuem enfoque
apenas na humanização do parto.
b) ( ) É importante considerar na saúde da mulher nos âmbitos sexual – considerando
a identidade de gênero, sexualidade, diversidade, prevenção e tratamento das
infecções sexualmente transmissíveis, assim como as doenças ginecológicas;
reprodutivo – com ênfase na melhoria da atenção obstétrica, no planejamento
reprodutivo e na atenção ao abortamento; o enfrentamento à violência doméstica
e violência sexual; atenção ao câncer de mama e colo do útero; a humanização
e a qualidade da atenção.
c) ( ) A PNH tem um importante papel na promoção da saúde da mulher. Através de
iniciativas como a humanização do atendimento e o estímulo à participação
social, a PNH busca garantir que as mulheres recebam uma atenção integral
durante a idade adulta, apenas.
d) ( ) Práticas de acolhimento, escuta qualificada e vínculo entre profissionais de saúde
e usuárias, visando à promoção da autonomia e da participação das mulheres no
processo de cuidado não são práticas de humanização.

2 Dentre as ações desenvolvidas pela PNH em relação à saúde da mulher, classifique V


para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Promoção do parto humanizado e a prevenção da violência obstétrica.


( ) Práticas de acolhimento, escuta qualificada e vínculo entre profissionais de saúde e
usuárias.
( ) Ações de prevenção e combate à violência contra a mulher em todas as suas formas,
incluindo a violência obstétrica.
( ) Para que a humanização na saúde das mulheres seja efetiva, é necessário que
as práticas de saúde sejam centradas apenas em protocolos e procedimentos
padronizados.
( ) A aplicação dos princípios da PNH na saúde da mulher não deve abranger temas
relevantes para a vida das mulheres em diferentes fases da vida, visto que a
aplicação da PNH se restringe apenas à gestação.

93
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V – F – F.
b) ( ) V – V – F – V – F.
c) ( ) V – F – V – F – F.
d) ( ) V – F – V – V – V.

3 De acordo com a Política Nacional de Humanização (PNH), são diretrizes para o


processo de trabalho em saúde:

a) ( ) Humanização da atenção e gestão, fortalecimento do SUS, valorização do


trabalhador e defesa dos direitos dos usuários.
b) ( ) Acolhimento, clínica ampliada e compartilhada, cogestão, valorização do
trabalhador e defesa dos direitos dos usuários.
c) ( ) Gestão participativa, humanização da atenção e gestão, clínica ampliada e
compartilhada, ambientes saudáveis e defesa dos direitos dos usuários.
d) ( ) Ambiência, clínica ampliada e compartilhada, humanização da atenção e gestão,
valorização do trabalhador e defesa dos direitos dos usuários.

4 Instituída em 2003, a Política Nacional de Humanização (PNH) busca pôr em prática


os princípios do SUS no cotidiano dos serviços de saúde, produzindo mudanças nos
modos de gerir e cuidar. A PNH estimula a comunicação entre gestores, trabalhadores
e usuários para construir processos coletivos de enfrentamento de relações de poder,
trabalho e afeto que, muitas vezes, produzem atitudes e práticas desumanizadoras
que inibem a autonomia e a corresponsabilidade dos profissionais de saúde em seu
trabalho e dos usuários no cuidado de si. Humanizar se traduz, então, como inclusão
das diferenças nos processos de gestão e de cuidado. Tais mudanças são construídas
não por uma pessoa ou grupo isolado, mas de forma coletiva e compartilhada. Incluir
para estimular a produção de novos modos de cuidar e novas formas de organizar o
trabalho. A humanização e a qualidade da atenção são indissociáveis. A qualidade
da atenção exige mais do que a resolução de problemas ou a disponibilidade de
recursos tecnológicos. Para atingir os princípios de humanização e da qualidade da
atenção, deve-se levar em conta alguns elementos. Cite quatro elementos para a
humanização.

5 A Política Nacional de Humanização (PNH) busca promover mudanças no modelo de


atenção à saúde, com base em princípios como a clínica ampliada, o acolhimento,
a gestão participativa e a defesa dos direitos dos usuários. Como esses princípios
podem ser aplicados para melhorar a saúde da mulher?

94
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO
INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tema de Aprendizagem 3, abordaremos aspectos relacionados à
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher.

Iniciaremos esse capítulo apresentando a política e, em seguida, iremos discutir


pontos importantes deste documento, que representa um marco para a saúde feminina.
Qual seria a importância da política de saúde da mulher?

A saúde da mulher é uma das prioridades do governo, por isso foi elaborado o
documento “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – com os Prin-
cípios e Diretrizes”, em parceria com diversos setores da sociedade, em especial com
o movimento de mulheres, o movimento negro e o de trabalhadoras rurais, sociedades
científicas, pesquisadores e estudiosos da área, organizações não governamentais,
gestores do SUS e agências de cooperação internacional (BRASIL,1984).

DICA
Para entender melhor sobre o feminismo e a igualdade de gênero
no Brasil, você pode acessar o link: http://twixar.me/nVxm e conferir
as principais conquistas das mulheres no Brasil mediante a luta das
mulheres ao longo dos anos.

Assim, podemos dizer que a política reitera o compromisso com a implementação


de ações de saúde que contribuam para a garantia dos direitos humanos das mulheres
e reduzam a morbimortalidade por causas preveníeis e evitáveis (BRASIL, 2004a).

Ao mesmo tempo incorpora, num enfoque de gênero, a integralidade e a


promoção da saúde como princípios norteadores do SUS e busca consolidar os avanços
no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na melhoria da atenção
obstétrica, no planejamento familiar, na atenção ao abortamento inseguro e no combate
à violência doméstica e sexual (COSTA; GONÇALVES, 2019).

95
Consolida, também, a prevenção e o tratamento de mulheres vivendo com HIV/
aids e as portadoras de doenças crônicas não transmissíveis e de câncer ginecológico. Além
disso, amplia as ações para grupos historicamente aliados das políticas públicas, nas suas
especificidades e necessidades, reforçando o princípio da equidade (BRASIL, 2004a).

A Política Nacional proposta considera a diversidade dos 5.561 municípios, dos


26 estados e do Distrito Federal, que apresentam diferentes níveis de desenvolvimento
e de organização dos seus sistemas locais de saúde e tipos de gestão. É, antes de
tudo, uma proposta de construção conjunta e de respeito à autonomia dos diversos
parceiros, fortalecendo a importância do empoderamento das usuárias do SUS e sua
participação nas instâncias de controle social (BRASIL, 2004a).

2 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA SAÚDE


Agora, iremos abordar os parâmetros demográficos e sociais da população
feminina brasileira e o perfil de saúde deste público, para melhor compreendermos a
distribuição e o contexto da política de saúde.

As mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as principais


usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS). Elas frequentam os serviços de saúde para o
seu próprio atendimento, mas, sobretudo, acompanhando crianças e outros familiares,
pessoas idosas, com deficiência, vizinhos, amigos (COSTA; GONÇALVES, 2019).

Além disso, são também cuidadoras, não só das crianças ou outros membros da
família, mas também de pessoas da vizinhança e da comunidade. No que diz respeito à
situação de saúde, esta envolve diversos aspectos da vida, como a relação com o meio
ambiente, o lazer, a alimentação e as condições de trabalho, moradia e renda (SANTANA
et al, 2019).

No caso das mulheres, além dos problemas relacionados à saúde, ainda podemos
citar outros agravados pela discriminação nas relações de trabalho e a sobrecarga com
as responsabilidades com o trabalho doméstico. Outras variáveis, como raça, etnia e
situação de pobreza realçam ainda mais as desigualdades (SOUTO; MOREIRA, 2021).

Sabe-se que as mulheres vivem mais do que os homens, porém adoecem


mais frequentemente. A vulnerabilidade feminina frente a certas doenças e causas de
morte está mais relacionada com a situação de discriminação na sociedade do que com
fatores biológicos (COSTA; GONÇALVES, 2019).

96
2.1 HISTÓRICO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE
DA MULHER
Agora, iremos conhecer um pouco da história e das mudanças políticas e culturais
do perfil feminino no decorrer dos anos no Brasil.

A saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas primeiras


décadas do século XX, neste período era limitada apenas às demandas relativas à
gravidez e ao parto (SOUTO; MOREIRA, 2021).

Foram criados diversos programas maternoinfantis, nas décadas de 1930, 1950 e


1970, esses traduziam uma visão restrita sobre a mulher, baseada em sua especificidade
biológica e no seu papel social apenas vinculada como mãe e doméstica, responsável
pela criação, pela educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos e demais familiares
(SOUTO; MOREIRA, 2021).

Existem análises que demonstram que esses programas priorizavam as ações


maternoinfantis como estratégia de proteção aos grupos de risco e em situação de
maior vulnerabilidade, como era o caso das crianças e gestantes. Outra característica
marcante desses programas era a verticalidade e a falta de integração com outros
programas e ações propostos pelo governo federal. As metas eram pactuadas pelo
nível central, sem qualquer avaliação das necessidades de saúde das populações locais
(BRASIL, 2004a).

Um dos resultados dessa prática é a fragmentação da assistência e o baixo


impacto nos indicadores de saúde da mulher. Com relação ao âmbito do movimento
feminista brasileiro, esses programas são rigorosamente criticados pela perspectiva
reducionista com que tratavam a mulher, que tinha acesso a alguns cuidados de saúde
no ciclo gravídico-puerperal, ficando sem assistência na maior parte de sua vida (EBLING
et al., 2018).

Assim, com forte atuação no campo da saúde, o movimento de mulheres


ganhou força e contribuiu para introduzir na agenda política nacional, questões, até
então, relegadas ao segundo plano, por serem consideradas restritas ao espaço e às
relações privadas, conforme a Figura 2 (SOUTO; MOREIRA, 2021).

97
Figura 2 – A corrente feminista e a conquista de direitos essenciais

Fonte: https://bit.ly/3Wcma3E. Acesso em: 16 maio 2023.

Desta vez, revelaram-se as desigualdades nas condições de vida e nas relações


entre os homens e as mulheres, os problemas associados à sexualidade e à reprodução,
as dificuldades relacionadas à anticoncepção e à prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis e a sobrecarga de trabalho das mulheres, responsáveis pelo trabalho
doméstico e de criação dos filhos (SILVEIRA; PAIM; ADRIÃO, 2019).

As mulheres organizadas demonstraram que as desigualdades nas relações sociais


entre homens e mulheres se traduziam também em problemas de saúde que afetavam
particularmente a população feminina. Por isso, foi necessário criticá-los, buscando
identificar e propor processos políticos que promovessem mudanças na sociedade e,
consequentemente, na qualidade de vida da população (SANTANA et al., 2019).

Posteriormente, a literatura vem demonstrar que determinados comportamentos,


tanto dos homens quanto das mulheres, baseados nos padrões hegemônicos de
masculinidade e feminilidade, são produtores de sofrimento, adoecimento e morte.
Partindo deste pressuposto, foi proposto que a perspectiva de mudança das relações
sociais entre homens e mulheres prestasse suporte à elaboração, execução e avaliação
das políticas de saúde da mulher (BRASIL, 2004a).

Daí em diante, as mulheres passaram a reivindicar, portanto, sua condição


de sujeitos de direito, com necessidades que extrapolam o momento da gestação e
parto, demandando ações que lhes proporcionassem a melhoria das condições de
saúde em todos os ciclos de vida. Ações essas que contemplassem as particularidades
dos diferentes grupos populacionais, e as condições sociais, econômicas, culturais e
afetivas, em que estivessem inseridos (SILVEIRA; PAIM; ADRIÃO, 2019).

98
2.2 PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL À SAÚDE DA
MULHER
Então, em virtude das lutas e reivindicações das mulheres em 1984, o Ministério
da Saúde criou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), marcando,
sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de saúde
das mulheres e os critérios para eleição de prioridades neste campo (SILVEIRA; PAIM;
ADRIÃO, 2019).

O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização,


hierarquização e regionalização dos serviços, bem como a integralidade e a equidade da
atenção em paralelo à criação do Sistema Único de Saúde (SUS), num período em que
eclodia o Movimento Sanitário (BRASIL, 2004a).

O novo programa trouxe destaque para áreas antes negligenciadas da saúde


da mulher e incluía ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e
recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal,
parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero
e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil populacional das
mulheres (CISNE; GURGEL, 2008).

O processo de construção do SUS tem grande influência sobre a implementação


do PAISM. O SUS vem sendo implementado com base nos princípios e diretrizes
contidos na legislação básica: Constituição de 1988, Lei nº 8.080 e Lei nº 8.142, Normas
Operacionais Básicas (NOB) e Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS),
editadas pelo Ministério da Saúde (MEDEIROS; GUARESHI, 2009).

Particularmente, com a implementação da NOB 96, consolida-se o processo de


municipalização das ações e serviços em todo o país. A municipalização da gestão do
SUS vem se constituindo num espaço privilegiado de reorganização das ações e dos
serviços básicos, entre os quais se colocam as ações e os serviços de atenção à saúde
da mulher, integrados ao sistema e seguindo suas diretrizes (BRASIL, 2004a).

O processo de implantação e implementação do PAISM apresenta especificidades


no período de 1984 a 1989 e na década de 1990, sendo influenciado, a partir da
proposição do SUS, pelas características da nova política de saúde, pelo processo de
municipalização e, principalmente, pela reorganização da atenção básica, por meio da
estratégia do Programa Saúde da Família (BRASIL, 2004a).

Foram realizados estudos para avaliar os estágios de implementação da política


de saúde da mulher que demonstraram a existência de dificuldades na implantação
dessas ações e, embora não se tenha um panorama abrangente da situação em todos
os municípios, pode-se afirmar que a maioria enfrenta ainda dificuldades políticas,
técnicas e administrativas (COSTA; GONÇALVES, 2019).

99
Visando ao enfrentamento desses problemas, o Ministério da Saúde editou a
Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS, 2001), que “amplia as responsabilidades
dos municípios na Atenção Básica, define o processo de regionalização da assistência,
cria mecanismos para fortalecimento da gestão do SUS e atualiza os critérios de
habilitação para os estados e municípios” (BRASIL, 2004a).

Na área da saúde da mulher, Norma Operacional de Assistência à


Saúde (NOAS) estabelece para os municípios a garantia das ações
básicas mínimas de pré-natal e puerpério, planejamento familiar e
prevenção do câncer de colo uterino e, para garantir o acesso às ações
de maior complexidade, prevê a conformação de sistemas funcionais
e resolutivos de assistência à saúde, por meio da organização dos
territórios estaduais (BRASIL, 2004a).

A delimitação das ações básicas mínimas para o âmbito municipal é resultante


do reconhecimento das dificuldades para consolidação do SUS, e das lacunas que ainda
existem na atenção à saúde da população.

Porém, essa proposta não abrange todo o conjunto de ações previstas nos
documentos que norteiam a Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, que passa
a contemplar, a partir de 2003, a atenção a segmentos da população feminina ainda
invisibilizados e a problemas emergentes que afetam a saúde da mulher (BRASIL,
2004a).

O nível federal de administração também apresentou, na última década,


dificuldades e descontinuidade no processo de assessoria e apoio para implementação
do PAISM, observando-se mudanças a partir de 1998, quando a saúde da mulher passa
a ser considerada uma prioridade de governo (BRASIL, 2004a).

No período compreendido entre 1998 e 2002, ocorreu a priorização das ações


voltadas para a saúde reprodutiva e para redução da mortalidade materna, o que
dificultou a atuação sobre outras áreas estratégicas, as quais também envolvem a
saúde da mulher sob o olhar integral e holístico (ASSIS et al., 2013).

Essa perspectiva de atuação também comprometeu a transversalidade de


gênero e raça, apesar de se perceber um avanço no sentido da integralidade e uma
ruptura com as ações verticalizadas do passado, uma vez que os problemas não foram
tratados de forma isolada e que houve a incorporação de um tema novo como a violência
sexual (ARBOIT et al., 2017).

Nesse sentido, foram apontadas ainda várias lacunas, como atenção ao


climatério/menopausa, descritas no quadro a seguir:

100
Quadro 2 – Lacunas para o cuidado no climatério e menopausa

Saúde da mulher na Doenças crônico-


Queixas ginecológicas.
adolescência. degenerativas.
Infertilidade. Saúde ocupacional. Doenças infectocontagiosas.
Inclusão de gênero e raça
Saúde mental. Reprodução assistida.
nas ações de saúde.

Fonte: adaptado de Costa e Gonçalves (2019)

ATENÇÃO
O Climatério é o período de transição em que a mulher passa da fase
reprodutiva para a fase de pós-menopausa. Dessa forma, a menopausa
(última menstruação) é o fato que ocorre durante o climatério.

Em 2003, a Área Técnica de Saúde da Mulher identifica ainda a necessidade de


articulação com outras áreas técnicas e da proposição de novas ações, quais sejam:
atenção às mulheres rurais, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias e lésbicas
e a participação nas discussões e atividades sobre saúde da mulher e meio ambiente
(BRASIL, 2004a).

3 A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À


SAÚDE DA MULHER
Agora que já conhecemos um pouco do perfil de saúde, do contexto histórico-
cultural e da humanização voltados à saúde da mulher, chegou o momento de adentramos
a política propriamente dita. Iremos abordar as diretrizes e os principais objetivos da
política (BRASIL, 2004a).

3.1 DIRETRIZES
No que se refere ao Sistema Único de Saúde – SUS, esse deve estar orientado e
capacitado para a atenção integral à saúde da mulher, numa perspectiva que contemple
a promoção da saúde, as necessidades de saúde da população feminina, o controle de
doenças mais prevalentes nesse grupo, assegurando o direito à saúde (BRASIL, 2004a).

101
ATENÇÃO
Diretrizes são orientações que definem e regulam um caminho a seguir
para se estabelecer o plano, ações etc.

A Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá atingir as mulheres em todos


os ciclos de vida, resguardadas as especificidades das diferentes faixas etárias e dos
distintos grupos populacionais (mulheres negras, indígenas, residentes em áreas
urbanas e rurais, residentes em locais de difícil acesso, em situação de risco, presidiárias,
de orientação homossexual, com deficiência, dentre outras) isto é, de acordo com o
princípio da equidade (BRASIL, 2004a).

A elaboração, a execução e a avaliação das políticas de saúde da mulher deverão


nortear-se pela perspectiva de gênero, de raça e de etnia, e pela ampliação do enfoque,
indo além das fronteiras da saúde sexual e da saúde reprodutiva como era nas primeiras
décadas, para alcançar todos os aspectos da saúde da mulher (BRASIL, 2004a).

A gestão da Política de Atenção à Saúde estabelece uma dinâmica inclusiva,


para atender às demandas emergentes ou demandas antigas, em todos os níveis
assistenciais – atendimento universal (BRASIL, 2004a).

As políticas de saúde da mulher deverão ser compreendidas em sua dimensão


mais ampla, objetivando a criação e ampliação das condições necessárias ao exercício
dos direitos da mulher, seja no âmbito do SUS, seja na atuação em parceria do setor
Saúde com outros setores governamentais, com destaque para a segurança, a justiça,
trabalho, previdência social e educação (BRASIL, 2004a).

A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao conjunto de ações de promoção,


proteção, assistência e recuperação da saúde, executadas nos diferentes níveis de atenção
à saúde (da básica à alta complexidade) (BRASIL, 2004a).

O SUS deverá garantir o acesso das mulheres a todos os níveis de atenção


à saúde, no contexto da descentralização, hierarquização e integração das ações
e serviços. Sendo responsabilidade das três esferas de gestão, de acordo com as
competências de cada um, garantir as condições para a execução da Política de Atenção
à Saúde da Mulher (BRASIL, 2004a).

A atenção integral à saúde da mulher compreende o atendimento à mulher


a partir de uma perspectiva ampliada de seu contexto de vida, do momento em
que apresenta determinada demanda, assim como de sua singularidade e de sua
subjetividade considerando ser responsável por suas escolhas (BRASIL, 2004a).

102
A atenção integral à saúde da mulher implica, para os prestadores de serviço,
no estabelecimento de relações com pessoas singulares, seja por razões econômicas,
culturais, religiosas, raciais, de diferentes orientações sexuais etc. O atendimento deverá
nortear-se pelo respeito a todas as diferenças, sem discriminação de qualquer espécie
e sem imposição de valores e crenças pessoais. Esse enfoque deverá ser incorporado
aos processos de sensibilização com caráter de humanização das práticas em saúde
(BRASIL, 2004a).

As práticas em saúde deverão nortear-se pelo princípio da humanização,


aqui compreendido como atitudes e comportamentos do profissional de saúde que
contribuam para reforçar o caráter da atenção à saúde como direito, que melhorem o
grau de informação das mulheres em relação ao seu corpo e suas condições de saúde,
ampliando sua capacidade de fazer escolhas adequadas ao seu contexto e momento
de vida; que promovam o acolhimento das demandas conhecidas ou não pelas equipes
de saúde; que busquem o uso de tecnologia apropriada a cada caso e que demonstrem
o interesse em resolver problemas e diminuir o sofrimento associado ao processo de
adoecimento e morte da clientela e seus familiares (BRASIL, 2004a).

No processo de elaboração, execução e avaliação das Políticas de Atenção à


Saúde da Mulher deverá contar com a participação da sociedade civil organizada, em
particular do movimento de mulheres, pelo reconhecimento de sua contribuição técnica
e política no campo dos direitos e da saúde da mulher (BRASIL, 2004a).

Compreende-se que a participação da sociedade civil na implementação das


ações de saúde da mulher, nas três esferas de governo, União, Estados e Municípios,
requer cabendo, portanto, às instâncias gestoras melhorar e qualificar os mecanismos de
repasse de informações sobre as políticas de saúde da mulher e sobre os instrumentos
de gestão e regulação do SUS (BRASIL, 2004a).

No âmbito do setor Saúde, a execução de ações será pactuada entre todos


os níveis hierárquicos, visando a uma atuação mais abrangente e horizontal, além de
permitir o ajuste às diferentes realidades regionais (BRASIL, 2004a).

As ações voltadas à melhoria das condições de vida e saúde das mulheres


deverão ser executadas de forma articulada com setores governamentais e não
governamentais; condição básica para a configuração de redes integradas de atenção à
saúde sobretudo para a obtenção dos resultados esperados, melhoria da qualidade de
vida deste público e eficiência da assistência em saúde (BRASIL, 2004a).

103
3.2 OBJETIVOS GERAIS
Durante a formulação das políticas de saúde, são criados objetivos para garantir
o seu cumprimento. Na saúde da mulher, os objetivos gerais contemplam:

Quadro 3 – Objetivos gerais da Política nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher

1- Proporcionar a melhoria da saúde da população feminina, a partir da garantia dos direitos


legais e do acesso aos serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde.
2- Reduzir a morbimortalidade feminina, em todos os ciclos de vida, principalmente para as
causas evitáveis, sem discriminação.
3- Contribuir para a ampliação, qualificação e humanização das ações de atenção integral à
saúde da mulher no SUS (BRASIL, 2004a).

Fonte: adaptado de Brasil (2004a)

3.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


Após a elaboração dos objetivos gerais dentro da política de saúde, deverão ser
cumpridas algumas etapas, explícitas nos objetivos específicos, alguns serão descritos
a seguir:

• Ofertar serviços de qualidade, a partir do acesso à atenção clínico-ginecológica,


o que inclui as mulheres que convivem com infecção do HIV e outras Infecções
Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
• Fornecer a assistência à família referente ao planejamento familiar.
• Divulgar e estimular a utilização dos métodos anticoncepcionais.
• Ampliar o acesso das mulheres às informações sobre os métodos anticoncepcionais.
• nstrumentalizar homens e adolescentes quanto às ações de planejamento familiar.
• Promover a atenção obstétrica e neonatal, inclusive quanto à assistência ao
abortamento.
• Operacionalizar o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal.
• Qualificar a assistência obstétrica e neonatal nos estados e municípios.
• Assistir à mulher em situações de urgência e emergência, assim como os de referência
e contrarreferência.
• Realizar ações educativas sobre as situações de abortamento.
• Fornecer assistência laboratorial e farmacêutica.
• Proporcionar o cuidado às mulheres e adolescentes em situação de violência através
das Redes de atenção.
• Garantir a atenção ao público feminino em casos de violência no que envolve a
prevenção da AIDS.
• Ampliar e qualificar a atenção à saúde das mulheres vivendo com HIV.
• Promover a redução da morbimortalidade por câncer na população feminina.
• Garantir a execução da cirurgia de reconstrução mamária nas mulheres que realizaram
mastectomia.

104
• Oferecer o teste anti-HIV e de sífilis para as mulheres.
• Estimular a implantação de um modelo de atenção à saúde mental das mulheres sob
o enfoque de gênero.
• Qualificar a atenção às mulheres portadoras de transtornos mentais no SUS.
Q• ualificar a atenção à saúde mental das mulheres.
Incluir o enfoque de gênero e de raça na atenção às mulheres portadoras de transtornos
mentais.
• Realizar com qualidade a atenção à saúde da mulher no climatério.
• Ampliar o acesso e qualificar a atenção às mulheres no climatério na rede SUS.
Promover a atenção à saúde da mulher na terceira idade.
• Incluir a abordagem às especificidades da atenção à saúde da mulher na Política de
Atenção à Saúde do Idoso no SUS.
• Incentivar a incorporação do enfoque de gênero na Atenção à Saúde do Idoso no
SUS.
• Realizar a atenção à saúde da mulher negra.
• Capacitar profissionais de saúde.
• Promover a atenção à saúde das trabalhadoras do campo e da cidade.
• Implementar ações de vigilância e atenção à saúde da trabalhadora da cidade e do
campo, do setor formal e informal.
• Introduzir nas políticas de saúde e nos movimentos sociais a noção de direitos das
mulheres trabalhadoras relacionados à saúde.
• Fornecer a atenção integral à saúde da mulher indígena.
• Promover a atenção à saúde das mulheres em situação de prisão, incluindo a
promoção das ações de prevenção e controle de doenças sexualmente transmissíveis
e da infecção pelo HIV/aids nessa população.
• Incentivar a participação e o controle social na definição e implementação das
políticas de atenção integral à saúde das mulheres.
• Promover a integração com o movimento de mulheres feministas no aperfeiçoamento
da política de atenção integral à saúde da mulher (BRASIL, 2004a).

Acadêmico, você percebeu como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde


da Mulher trouxe diversos benefícios para a população feminina no Brasil? Porém, a sua
implementação de qualidade é um grande desafio para os gestores e as equipes de saúde,
devido a razões como distribuição de recursos financeiros, pluralidade racial e cultural,
déficit de conhecimento de alguns profissionais de saúde e de pacientes, entre outros.

105
4 REDE DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER
Como vimos, a partir da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher
são ofertadas ações educativas para a população, vacinas; planejamento reprodutivo,
disponibilização de métodos contraceptivos; assistência durante o pré-natal, parto e
puerpério; orientações específicas para a conscientização da importância de ter hábitos
saudáveis, disponibilidade para a execução de exames preventivos; assistência à saúde da
adolescente, assim como os cuidados à saúde da mulher idosa (SOUTO; MOREIRA, 2021).

Para entender melhor, você precisa saber que na Rede de Atenção à Saúde é
possível que o profissional referencie a mulher para serviços de maior complexidade,
quando necessário, e após o cuidado adequado, essa paciente seja contrarreferenciada
para o serviço de origem, ou seja, a Atenção Básica, com a devolutiva do caso e se
necessário, a continuidade do tratamento da mulher, com o acompanhamento da
situação (PEITER et al., 2019).

Como exemplo de cuidados iniciais com a saúde da mulher, é possível mencionar


o momento do nascimento a partir da imunização da criança. Para isso, o SUS possui
o Programa Nacional de Imunização (PNI), o qual disponibiliza todas as vacinas
recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O calendário nacional de
vacinação contempla não só as crianças, como também as adolescentes, adultas, idosas,
gestantes e indígenas. Existem vacinas específicas contra doenças, como o câncer de
colo de útero (HPV) para adolescentes e a DTPA para gestantes (SANTANA et al., 2019).

Ainda sobre os imunobiológicos, existem os Centros de Referência de


Imunobiológicos Especiais (CRIEs), que ofertam vacinas às pessoas com condições
especiais em saúde, como por exemplo, as que vivem com HIV/AIDS, indivíduos com
câncer e transplantados (SANTANA et al., 2019).

Na Atenção Básica, dentro das Unidades Básicas de Saúde (UBS), é possível


solicitar exames laboratoriais e de imagem, e caso necessário, encaminhar a mulher
para atendimento especializado. Esses encaminhamentos também podem ser
medicamentosos e voltados à promoção da saúde, com orientações de reeducação
alimentar, incentivo à execução de atividades físicas, entre outros. O cuidado com a
promoção à saúde em todas as fases da vida é essencial na prevenção de doenças, como
diabetes, hipertensão e obesidade, e o enfermeiro desempenha um papel essencial de
orientador (SOUTO; MOREIRA, 2021).

A ocorrência de doenças está associada ao estilo e às condições de vida das


pessoas, como por exemplo, o caso do tabagismo, um dos principais fatores de risco
para várias doenças. As mulheres que desejam parar de fumar têm apoio do SUS,
mediante a disponibilização de medicamentos como adesivos, pastilhas, gomas de
mascar, conhecida como terapia de reposição de nicotina e bupropiona (BARROS;
AQUINO; SOUZA, 2019).

106
Como vimos anteriormente, a Rede de Atenção à Saúde também oferece apoio
às mulheres vítimas de violência, independente de faixa etária, sejam elas, crianças,
adolescentes, adultas ou idosas. Nestes casos, ao procurarem o SUS, essas mulheres
precisam receber atendimento humanizado, podendo ser encaminhadas para outros
serviços, quando necessário. Além disso, o SUS disponibiliza também serviços como
a profilaxia pós-exposição, a pílula do dia seguinte e outras orientações, em caso de
gestação indesejada, por exemplo (COSTA; GONÇALVES, 2019).

4.1 ATENDIMENTO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER EM


TODAS AS FASES DA VIDA
A porta de entrada para os serviços de saúde é a Unidade Básica de Saúde/
Equipe de Saúde da Família mais próxima da residência da paciente, onde encontrará
profissionais aptos a realizarem: consultas de pré-natal, citologias, exame clínico das
mamas, exames, quando requisitados pelo profissional de saúde (os exames serão
marcados através da Central de Regulação – CORA), testes rápidos para detecção de
Sífilis, HIV e Hepatite B. Os testes rápidos são realizados na própria unidade de saúde
(SANTANA et al., 2019).

Para o registro e o acompanhamento da mulher, são necessários alguns docu-


mentos:

• Documento de identificação (Carteira de Identidade ou Carteira de Motorista ou Carteira


Profissional).
• Cartão do SUS atualizado.
• Comprovante de residência (SANTANA et al., 2019).

4.2 ATENDIMENTO À MULHER NO PARTO


O atendimento à gestante no momento do parto deve ocorrer em hospital compatível
com a situação clínica da gestante e do feto (centro de parto normal, maternidade de risco
habitual ou maternidade de alto risco). Ocorrendo necessidade de transferência do recém-
nascido para a Unidade de Terapia Intensiva, é responsabilidade da unidade hospitalar
solicitar à Central de Regulação a transferência, informando as condições clínicas e se
responsabilizando pela estabilização deste RN até o momento da transferência, que será
realizada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, acionado pelo serviço tão logo a
vaga seja confirmada pelo CORA. Preferencialmente, o RN deve ser acompanhado de sua
mãe e relatório clínico detalhado (SOUTO; MOREIRA, 2021).

107
O RN que já teve alta da maternidade e é atendido em situação de urgência na
Unidade Básica de Saúde ou porta de entrada de emergência deverá ser observado o
mesmo procedimento. A unidade para onde será encaminhado o RN e o tempo que
levará até a transferência dependerá da disponibilidade de vaga. Para atendimento
da gestante, a orientação é procurar a unidade do município, sendo encaminhada,
se necessário, para Maternidade de referência de acordo com o mapa de vinculação,
conforme relação em anexo, bem como relação dos exames para as gestantes,
preconizados pelo Ministério da Saúde (BARROS; AQUINO; SOUZA, 2019).

Com relação à mulher gestante, é importante saber que o SUS oferece


atendimento pré-natal e parto nas unidades básicas de saúde e hospitais. Em 2018,
foram realizadas 9,51 milhões de consultas de pré-natal no Brasil. É fundamental que o
enfermeiro oriente às mulheres sobre a necessidade da realização das consultas, pois
estas são de fundamental importância para a manutenção da saúde da mulher e da
criança no pré-parto, parto e puerpério (AMORIM et al., 2022).

Portanto, a atenção à mulher no ciclo gravídico puerperal é essencialmente


da Atenção Primária à Saúde (APS) e constitui uma das atribuições prioritárias dos
profissionais da ESF e para que seja assegurada assistência em toda a integralidade, é
necessária a completude do cuidado pela equipe multiprofissional, presente também na
APS, e a constituição da Rede de Atenção Obstétrica e Neonatal, da qual os profissionais
da ESF são parte e corresponsáveis pelo plano de trabalho assistencial. Para que o
cuidado seja de qualidade, é essencial que exista a vinculação da gestante ao pré-natal,
por isso, o cuidado deve ser acolhedor e oportuno (COSTA; GONÇALVES, 2019).

Durante o pré-natal, o enfermeiro precisa avaliar as condições socioeconômicas


e de saúde da mulher que possam influenciar na gestação, de forma a assegurar à
gestante a oportunidade de acesso a informações, aos recursos, aos cuidados e
benefícios à mulher e ao bebê, articulando as ações com outros setores da sociedade,
quando necessário. O cuidado durante a gestação precisa ser amplo, e considerar
também o respeito à autonomia e ao protagonismo da mulher, o compartilhamento com
a paciente sobre as decisões e condutas necessárias, a garantia de encaminhamentos
para serviços de referência no caso de que as intercorrências sejam durante o pré-
natal, parto e puerpério e incentivar a corresponsabilidade do homem e da mulher pela
gestação (PEITER et al., 2019).

O reconhecimento de território e de suas gestantes é uma das atribuições dos


enfermeiros da ESF. Essa identificação é essencial para que os fatores que ofereçam risco
à gestação sejam reconhecidos e medidas de intervenção precoces sejam aplicadas.
Caso a gestante seja classificada como de alto risco, o enfermeiro deverá tomar as
medidas necessárias para que o pré-natal da mulher tenha um acompanhamento mais
específico pela equipe (SANTANA et al., 2019).

108
Outro ponto que carece de atenção é que a identificação de intercorrências
durante a gestação e/ou de fatores de risco, pode sofrer alterações na classificação
de risco ao longo da gestação, ou seja, o processo é dinâmico. Quando as gestantes
necessitarem ser referenciadas para a Atenção Secundária de Saúde devido ao alto risco,
a APS não será desvinculada do acompanhamento à mulher (SOUTO; MOREIRA, 2021).

Outro aspecto importante que deve ser considerado é o acesso à informação


à gestante e seu respectivo pré-natal na UBS. É atribuição do enfermeiro que atende
a gestante registrar suas ações, orientações e informações nos documentos de registro,
como: ficha de pré-natal ou prontuário eletrônico, caderneta da gestante, fornecendo
uma cópia para a gestante (AMORIM et al., 2022).

Quando a gestante chega à unidade, a mesma deverá ser cadastrada no


SISPRENATAL WEB, o Sistema de Informação Nacional, desenvolvido pelo DATASUS, do
Ministério da Saúde, o qual permite o cadastramento das gestantes; acompanhamento
e registro da assistência ao pré-natal, além da identificação e classificação do risco
gestacional (BARROS; AQUINO; SOUZA, 2019).

É importante mencionar que a assistência pré-natal se limita ao parto, ou seja,


não existe “alta”, ou seja, é no pós-parto que se encerra o processo assistencial do pré-
natal, que deverá ser finalizado também no sistema. No desenvolvimento da assistência
ao pré-natal, as consultas podem ser realizadas de forma intercalada entre os profissionais
da ESF, como o profissional médico e enfermeiro, o que proporciona cuidado mais integral
à mulher. Para que a assistência à gestante seja de qualidade, é importante contemplar
a anamnese, o exame físico, solicitação e realização de exames e indicação de medidas
terapêuticas, de acordo com período gestacional e com o protocolo definido e adotado
pela Rede de Atenção à Saúde do município (PEITER et al., 2019).

Na próxima unidade, discutiremos sobre a avaliação da situação vacinal da


gestante, a qual deverá ocorrer na abordagem pré-gestacional; entretanto, quando
a imunização não ocorre nesse período, deve obrigatoriamente ocorrer no pré-natal,
que é o momento oportuno e essencial para revisar o cartão de vacina e proceder à
vacinação recomendada para proteger a saúde maternofetal (PEITER et al., 2019).

4.3 SEGURANÇA E AMBIENTAÇÃO PARA O PARTO


Uma das ações que contribui para promover segurança e ambientação da
gestante para o parto é o direito da grávida ao conhecimento e a vinculação à maternidade
na qual será realizado seu parto e/ou atendimento nos casos de intercorrências
durante o pré-natal, parto e puerpério. Além de informar sobre esse referenciamento,
os profissionais das equipes das Unidades de APS podem promover e realizar visita à
parturiente na maternidade, como atividade do pré-natal (SOUTO; MOREIRA, 2021).

109
4.4 A REDE CEGONHA
A Rede Cegonha foi instituída através da Portaria nº 1.479 de 24 de junho de 2011,
pela ex-presidente Dilma Rousseff. O objetivo dessa rede era de ampliar a assistência
à saúde de gestantes e bebês na busca da redução da mortalidade infantil e materna
(BRASIL, 2011a).

O programa disponibilizava recursos para a realização de testes rápidos de


gravidez, consultas pré-natal e exames necessários para esse período. Como apoio extra,
a rede cegonha proporcionou a criação de casas da gestante e do bebê conectadas às
maternidades de alto risco, que ficavam disponíveis nos dois primeiros anos de vida da
criança, e além disso, incentivava a realização do parto normal (GOIABEIRA et al., 2022).

Porém, em abril de 2022, o Ministério da Saúde anunciou a criação do programa


Rede de Atenção Maternoinfantil (RAMI) em substituição à Rede Cegonha, o qual
enfatiza a atuação do médico obstetra em detrimento à equipe multiprofissional. Essa
substituição recebe muitas críticas de gestores de saúde do Brasil por não contemplar
ações e serviços voltados às crianças, assim como priorizar o cuidado reducionista,
centralizado no médico, excluindo, assim, o profissional enfermeiro obstetriz (OLIVEIRA;
SILVA; SOUZA, 2021).

Em união, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho


Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), pedindo a revogação da
Portaria nº 715/2022, que institui essa Rede Maternoinfantil (RAMI) e o retorno da Rede
Cegonha. Além disso, criticam a decisão unilateral do Ministério da Saúde em criar
um novo programa de atenção à gestante sem a devida pactuação com estados e
municípios, decisão essa que pode afetar de forma significativa na assistência à saúde
das mulheres (ZVEITER et al., 2022).

Quando criada, a Rede Cegonha proporcionou os cuidados à mulher de forma


holística, com direito ao planejamento reprodutivo, à atenção humanizada à gravidez, parto
e puerpério, assim como o direito ao nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento
saudável das crianças (SANTOS FILHO; SOUZA, 2021). Alguns direitos preconizados pela
rede estão descritos no quadro a seguir:

Quadro 4 – A Rede Cegonha e os direitos das mulheres

Transporte durante o Garantia de vinculação


Ampliação do acesso
Acolhimento pré-natal e o parto. da gestante à unidade
aos serviços.
de referência.
O direito de ter um Atenção à saúde da
Boas práticas de Acesso ao planejamento
acompanhante no criança de 0 a 24
atenção. reprodutivo.
parto. meses.

Fonte: adaptado de Santos Filho e Souza (2021)

110
Quanto aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, atualmente, o
Ministério da Saúde disponibiliza oito métodos contraceptivos, além das orientações
para a utilização correta de cada um. São eles:

• Preservativo feminino.
• Preservativo masculino.
• Pílula combinada,
• Anticoncepcional injetável (mensal e trimestral).
• Diafragma.
• Anticoncepção de emergência, popularmente conhecida como a pílula do dia seguinte.
• Minipílula.
• DIU de cobre.

Ainda na Atenção Básica, o enfermeiro pode orientar à mulher sobre a dispo-


nibilidade da realização de testes rápidos para Infecções Sexualmente Transmissíveis
(ISTs), como por exemplo, sífilis, HIV/AIDS e hepatite C, assim como orientações sobre
sexualidade (BARROS; AQUINO; SOUZA, 2019).

DICA
Você pode entender melhor como funcionava a Rede Cegonha, clicando
no link a seguir http://twixar.me/TVxm.

4.5 AÇÕES EDUCATIVAS À GESTANTE


Quando mencionamos as atribuições dos profissionais da ESF na abordagem da
gestante, estão previstos o planejamento e a participação na execução de atividades de
educação em saúde. Este processo é fundamental para que a mulher conheça o seu
corpo, as possíveis modificações fisiológicas corporais, os sinais e sintomas de cada fase
da gravidez. As ações educativas devem ser elaboradas e executadas de forma coletiva,
ou seja, com a participação da equipe multidisciplinar de apoio à APS (AMORIM et al.,
2022).

Para operacionalizar essas ações, deverá ser elaborado o Plano Terapêutico


Singularizado de cuidados gestacionais, o qual irá considerar, por exemplo, os casos
de sobrepeso ou obesidade, os quais podem demandar a participação do nutricionista
em ações individuais; assistentes sociais e psicólogos, além disso, caso as gestantes
apresentem algum nível de vulnerabilidade psicossocial, sofrimento mental, ou sejam
dependentes de substâncias químicas como álcool, tabaco e outras drogas, a equipe
poderá fornecer apoio estratégico e de qualidade (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021).

111
4.6 ATENÇÃO INTEGRAL À MULHER IDOSA
No que concerne à mulher idosa, nas Unidades Básicas de Saúde, toda mulher
possui o direito ao acesso e à avaliação integral da sua saúde, através do atendimento
multiprofissional e olhar integral para as suas necessidades, ou seja, criticidade clínica,
psicossocial e funcional para que assim, seja elaborado o plano de cuidado singular para
a idosa (OLIVEIRA; SILVA; SOUZA, 2021).

O Ministério da Saúde, através do trabalho dos gestores locais, municipais e


estaduais, implementou a Linha de Cuidado para Atenção Integral à saúde da pessoa
Idosa para promover a saúde e a prevenção de doenças e agravos comuns nesse
período, proporcionando a esse grupo um envelhecimento saudável e de qualidade
(JUSTINO et al., 2021).

Para auxiliar nesse acompanhamento à mulher idosa, existe uma ferramenta


conhecida como “Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa”. Atualmente, a utilização da
caderneta auxilia de forma significativa aos profissionais de saúde das UBS, e possui
significativa aprovação desse instrumento. Outro ponto importante que deve ser
estimulado é o investimento na capacitação dos profissionais que atendem diretamente
essa população no SUS, para que assim, esses profissionais se mantenham atualizados
de acordo com os eventuais acontecimentos, e o manejo adequado de cada situação
(PEITER et al., 2019).

4.7 A ACADEMIA DAS CIDADES


Por fim, uma estratégia que vem gerando ótimos resultados ao longo do tempo
no Brasil é a academia das cidades. Nos municípios que têm implantada a Academia das
Cidades, a presença do educador físico melhora a adaptação da mulher às alterações
próprias do período gravídico-puerperal, assim como das mulheres idosas. De forma
geral, é recomendado que as gestantes realizem a prática de exercícios físicos, de forma
moderada e supervisionada pelos profissionais de saúde. São recomendados 30 minutos
de exercícios físicos diários, em toda gravidez, exceto quando existem contraindicações
absolutas, por isso, uma avaliação criteriosa deve ser realizada antes do início da rotina
de exercícios (LUZ; FRUTUOSO, 2021).

112
LEITURA
COMPLEMENTAR
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER:
PROTAGONISMO DO MOVIMENTO DE MULHERES

Kátia Souto
Marcelo Rasga Moreira

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), ainda em


vigor no país, é responsável, ao longo de sua trajetória, por instaurar uma práxis capaz
de superar as políticas que compreendiam a saúde da mulher exclusivamente a partir
de seu papel de mãe (reprodutora e cuidadora de filhos), e que, por isso, organizavam
o sistema de saúde de maneira excludente e medicalizadora. Seu caráter ‘integral’ diz
respeito a uma forma emancipadora de compreender as mulheres e sua saúde, um
cuidar que vai além do período reprodutivo e que as compreende como cidadãs, diversas
e plenas de direito. Isso demanda um sistema de saúde organizado por meio de linhas
de cuidado e redes de serviços que atendam às mulheres em seus diferentes ciclos de
vida, articulando-os, e que não invisibilize determinadas mulheres nem determinadas
necessidades de saúde.

Os primeiros passos institucionais dessa trajetória de quatro décadas


começaram, simbolicamente, em 1983, com a normatização do Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher (PAISM), que rompe com o termo ‘maternoinfantil’ – até
então orientador das ações de saúde da mulher – e passa a usar o termo ‘integralidade’.
Institucionalmente, modificou-se também a estrutura do Ministério da Saúde, em que
a ‘área técnica maternoinfantil’ tornou-se ‘área técnica de saúde da mulher’. O PAISM
significou também um rompimento com uma abordagem controlista, que culpabilizava
os corpos grávidos das mulheres pobres. Em resposta, o programa passou a trabalhar os
direitos reprodutivos, o direito à concepção e à contracepção com assistência, segurança
e autonomia, como decisão da mulher sobre quando, como e quantos filhos deseja ou
não ter. Anterior ao Sistema Único de Saúde (SUS), o PAISM conseguiu se consolidar,
em grande parte, graças ao fortalecimento do movimento feminista brasileiro, que, nos
anos 1980, imprimiu um caráter político as suas demandas, estabelecendo espaços de
diálogo com o Estado e com a sociedade, em especial, após o fim da ditadura militar e o
início do processo de redemocratização do país.

113
Nesse momento histórico, as lutas feministas orientaram-se também por
igualdade nas leis e por políticas públicas que contemplassem as relações de gênero, as
desigualdades nas relações de trabalho e o direito à saúde. O movimento foi protagonista
na implantação do PAISM, tanto em sua formulação quanto na sua reorganização
institucional e implementação, com várias de suas integrantes assumindo a área técnica
de saúde da mulher no Ministério da Saúde e em diversas secretarias estaduais, em um
processo decisivo também para a formação de profissionais e gestores de saúde. Essas
lutas ambientaram e foram ambientadas em outro importante processo de lutas políticas e
sociais, o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira (MRSB). Articulando o enfrentamento
à ditadura militar com o projeto socialista de um sistema de saúde único, universal, gratuito,
de qualidade, com participação e controle social, esse movimento congregou profissionais
de saúde, gestores, lideranças políticas e movimentos sociais em torno da construção
de um sistema único de saúde, garantido na Constituição Cidadã de 1988. Desde esse
início, que representa um momento de articulação e confluência de lutas sociais, até os
momentos atuais – do PAISM à PNAISM, do MRSB ao SUS –, a participação do movimento
feminista e de lideranças femininas protagonizou a elaboração, a implementação e o
desenvolvimento de políticas referentes à saúde da mulher, bem como o enfrentamento
de grupos e iniciativas que buscam retirar direitos duramente conquistados.

Nesse contexto, este artigo objetiva analisar e sistematizar essa trajetória de


luta, construção e implementação da PNAISM, tendo como foco a participação do
movimento feminista nesse processo. Pretende-se, assim, contribuir para o resgate
histórico da trajetória da política e do movimento, de maneira a identificar avanços
e dilemas, bem como evidenciar que a participação social é fundamental para (re)
formulação, implantação e desenvolvimento de políticas efetivas e de qualidade.

Para levantar as informações necessárias, o artigo trabalhou, sobretudo, com


fontes secundárias de informação, todas públicas e de acesso livre e universal. Utilizou
também, embora de forma complementar, um conjunto de informações pessoais que
registram e resgatam a vivência e a participação de um dos autores deste texto no
processo histórico estudado, podendo ser caracterizado como relato de experiência. As
fontes secundárias utilizadas, além da mandatória revisão bibliográfica, concentram-
se: i) nos documentos que instituem o PAISM (1983): ‘Assistência Integral à Saúde da
Mulher: bases de uma ação programática’ (publicado em 1984) e ‘Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) – Princípios e Diretrizes’ (2004); ii) nos
relatórios das Conferências Nacionais de Saúde (VIII, de 1986; IX, de 1992; X, de 1996;
XI, de 2000; XII, de 2003; XIII, de 2007; XIV, de 2011; e XVI, de 2019), em que foram
identificadas citações ao PAISM, à PNAISM, à Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher
(Cismu)/Conselho Nacional de Saúde (CNS) e à Conferência de Saúde das Mulheres;
iii) nos textos-base e ou relatórios das Conferências Nacionais de Políticas para as
Mulheres (I, de 2004; II, de 2007; III, de 2011; e IV, de 2016), em que foram identificadas
referências ao PAISM, à PNAISM ou à atenção integral à saúde das mulheres5; iv) nos
relatórios de reuniões da Cismu/CNS (XXV, XXVII, e XXVIII), 2004 a 2006, quando se

114
discutiu a PNAISM e seu documento de princípios e diretrizes; v) na ata da 163ª reunião
do CNS, em 2006, quando se pautou a apresentação e discussão sobre a PNAISM; vi)
nas resoluções do Seminário Nacional de Atenção à Saúde, Gênero e Saúde da Mulher
do CNS, em 20078, que definiu ações e estratégias para implementação da PNAISM no
SUS, ampliando a participação social de lideranças dos movimentos feministas e da
saúde, para além de conselheiras de saúde.

A análise de todos os materiais ancorou-se em uma perspectiva relacional


entre os achados da trajetória da formulação do PAISM e da PNAISM e a trajetória da
participação social nesse processo. A isso, acrescentaram-se a influência e os sentidos
da ebulição do período de democratização do Brasil e de construção do SUS. Orientadas
por essa perspectiva relacional, tomam-se: as referências bibliográficas e a linha de
tempo de formulação e implementação tanto do PAISM como da PNAISM, considerando
o contexto sócio-histórico de cada período, os marcos institucionais, a participação
social para a produção da política, os participantes na construção e implementação em
cada período, a forma e espaços de participação e as aproximações e distanciamento
em relação ao Estado.

A partir dessa sistematização, foi possível construir uma análise comparativa


entre a elaboração da política e a participação social e, ao mesmo tempo, identificar a
base teórica e conceitual subjacente. No século XIX, há uma efervescência de valores
e de reorganização social no mundo político e do trabalho, especialmente na Europa. É
um marco de transição para o chamado ‘mundo moderno’, que traz também um novo
patamar da participação das mulheres na sociedade – mediado por sua entrada no
mercado de trabalho formal –, rompendo os limites entre o espaço privado e público.
A inserção da mulher nesse novo mundo contemporâneo, a partir da industrialização e
do desenvolvimento do capitalismo, repercutem nos arranjos familiares, na reprodução,
na visibilidade da opressão da mulher, nas desigualdades sociais, nos valores culturais.

O feminismo vem se reafirmando como um dos movimentos sociais que se situam


no campo emancipatório desde sua primeira expressão, na França, em 1789, quando as
mulheres organizadas lançaram em praça pública seus reclames e desafiaram a história
e a si próprias ao questionarem a ordem estabelecida, reivindicando a igualdade e ao
afirmarem a liberdade.

Dialeticamente, a opressão imposta às mulheres exige delas a luta pela defesa


dos seus direitos e contra as diferentes formas de exploração a que eram submetidas, a
busca pela igualdade social, pelos direitos sexuais e reprodutivos, pelos direitos civis e
trabalhistas. Nesse processo, ousaram reivindicar por espaços e direitos em um mundo
culturalmente pertencente aos homens. Conquistaram o direito ao voto, direitos sexuais
e direitos reprodutivos – viver a sexualidade sem a obrigatoriedade da reprodução.
Todas essas conquistas tiveram grande participação e mobilização social das mulheres,
ganhando visibilidade e força do e no movimento feminista.

115
A década de 1990, de acordo com Pitanguy, foi marcada como a década
das conferências mundiais, que incluíram nas suas agendas a temática da luta das
mulheres: i) 1992 - Conferência Rio-92 sobre o meio ambiente debateu o ecofeminismo
e ampliou os espaços de participação social, como a Tenda Planeta Fêmea; ii) 1993
- Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, em Viena, reconheceu os direitos das
mulheres como direitos humanos; iii) 1994 - Conferência Internacional sobre População
e Desenvolvimento da ONU, no Cairo, debateu direitos sexuais, direitos reprodutivos e
enfrentamento à violência de gênero; iv) 1995 - IV Conferência Mundial sobre a Mulher,
em Beijing/China, marcou a importância da participação feminina em todos os espaços
de poder, o papel do Estado e das políticas públicas para as mulheres, reafirmando a luta
pela igualdade de gênero.

No Brasil, houve repercussões desses movimentos e eventos das décadas de


1970 a 1990, refletidas nas diferentes formas de militância das mulheres, desde a luta
pela redemocratização do país e pelo fim da ditadura militar - Comitês Femininos Pela
Anistia -, a proliferação e fortalecimento de organizações não governamentais de cunho
feminista, passando pela inserção da participação feminina em diversos movimentos
sociais, entre eles, o MRSB, até a luta pelo PAISM e pela criação de mecanismos
institucionais de políticas públicas no Estado, como conselhos de direitos e delegacias
especializadas de mulheres. A década de 1970, no Brasil, foi o ponto de partida para a
formulação de questões essenciais no campo das transformações culturais e políticas
no âmbito dos direitos das mulheres. Slogans como: ‘nosso corpo nos pertence’ e o
‘pessoal é político’ passaram a ser insígnias que legitimaram as reivindicações das
mulheres, traduzindo-se no Brasil, ao longo dos anos seguintes, em transformações no
âmbito das leis e das políticas públicas.

A participação das mulheres inaugurou também uma nova forma de atuação


política, na qual os movimentos feministas ganharam força e extrapolaram as reivindicações
no campo dos direitos e da melhoria de condições de vida ou de trabalho, questionando
as relações de poder não apenas a partir do conceito de classe, mas também de gênero.
Além disso, ao questionar, o movimento colocou em cena o debate sobre poder e como
este se constitui nos diferentes cenários sociais e políticos ao longo da história.

Ao mesmo tempo que crescia a organização e mobilização feminina como


movimento social e de participação política, aprofundava-se o debate sobre o conceito de
gênero. As discussões giravam em torno de sua abordagem histórica para compreensão
do mundo, das relações de poder, das relações entre o masculino e o feminino, das
relações no âmbito do privado e do público, dos impactos na saúde das mulheres a partir
do questionamento sobre o controle do corpo feminino, utilizando-se das diferenças
biológicas para construção das desigualdades de gênero, em especial, o papel de
reprodução e maternidade como sendo a ‘missão feminina natural’ na sociedade. Esse
movimento denunciou a violência doméstica e sexual contra a mulher, trazendo o privado
para o público e reivindicando políticas públicas que garantissem a vida e a saúde das
mulheres.

116
A trajetória de elaboração do PAISM e da PNAISM teve processos e espaços de
participação diversos que se fortaleciam de forma integrada para elaborar, implementar e
monitorar as políticas, suas metas e estratégias estabelecidas. A definição de acordos
e compromissos internacionais, de articulação intra e intersetoriais, a participação em
instâncias institucionais, integrando grupos de trabalho, comissões e conselhos de
direitos (CNS e CNDM), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) foram fundamentais para os
avanços conquistados no campo da saúde das mulheres no Brasil.

O período de 1980 foi marcado pela força do movimento feminista na proposta


de elaboração de uma política para saúde da mulher e sua institucionalização enquanto
programa de saúde. Em abril de 1983, o Ministério da Saúde instituiu uma comissão para
escrever um documento que fundamentaria as bases de ação programática, que se tornou
o PAISM e que contou com a contribuição de profissionais de saúde, gestores e feministas.
Rompia-se, assim, com o termo maternoinfantil, introduzindo-se a ‘integralidade’ para a
atenção à saúde da mulher sob a perspectiva de gênero, refletindo o debate teórico de
intersecção de ambos os conceitos no corpo e no cuidado à saúde das mulheres.

Em 1984, o Ministério da Saúde publicou e divulgou oficialmente o documento


que consolidava as bases do PAISM. Com a intenção de materializar o programa e
dar direção às propostas, mais de 70 grupos de mulheres de 19 estados brasileiros,
trabalhadoras de serviços de saúde, incluindo muitas feministas, reuniram-se em
outubro desse mesmo ano no I Encontro de Saúde da Mulher e construíram a ‘Carta de
Itapecerica’. Nessa carta, estavam contidos os conceitos de integralidade, equidade e
participação social que, em 1988, viriam a se tornar bases constitucionais do SUS.

No processo de mobilização e construção da VIII Conferência Nacional de


Saúde, destacaram-se o reconhecimento e a importância do papel e da participação
das mulheres, conforme apontam Costa, Bahia e Conte: A marcante participação das
mulheres nos debates sobre a Reforma Sanitária, e o amplo reconhecimento sobre as
especificidades do tema saúde da mulher viabilizaram a aprovação, entre as resoluções
da VIII Conferência Nacional de Saúde, da convocação da Conferência Nacional de Saúde
e Direitos da Mulher. Outro importante espaço da participação das mulheres, decisivo na
organização e mobilização da Conferência Nacional de Saúde e Direitos da Mulher, em
1986, e na Constituinte, em 1988, foi o CNDM, criado em 1985, fruto de articulação de
grupos feministas que defendiam a importância de ocupar espaços institucionais como
forma de implementar políticas públicas com perspectiva de gênero.

Elaborado desde 1983, o PAISM corria o risco de ‘ficar no papel’, seguindo o


destino de outros programas. Sua regulamentação transforma-se, então, em um dos
principais objetivos do CNDM, agindo em consonância com o movimento de mulheres.
Essa parceria configurou-se como o espaço de discussão da implementação do PAISM e
das ações de saúde da mulher prioritárias, como a redução da mortalidade materna, os
direitos reprodutivos e sexuais e a formação de profissionais e de serviços de saúde que

117
se organizassem a partir da atenção à integralidade da saúde das mulheres, e não apenas
para as mulheres no seu período gravídico. Nessa época, a Rede Nacional Feminista de
Saúde e Direitos Reprodutivos destacava-se como a principal organização do movimento
feminista no campo da saúde da mulher e representava o pensamento e a luta feminista
pela saúde integral e universal, com autonomia e respeito à diversidade das mulheres; e
agregava, na sua composição, a pluralidade de diversos movimentos de mulheres.

Entre 1983 e 1987, à frente da área técnica de saúde da mulher, estiveram


feministas e profissionais de saúde que deram início à implantação do PAISM, com
apoio de algumas secretarias estaduais de saúde que também tinham gestoras que
buscavam implementar a atenção integral à saúde das mulheres, reorganizando os
serviços de assistência nessa dimensão. Entre 1987 e 1997, passaram pela coordenação
da saúde da mulher gestores que não tinham diálogo com o movimento de mulheres,
e as feministas ficaram afastadas desse espaço de participação por dez anos. Com a
Constituição de 1988 e a implantação do SUS em 1990, os movimentos de mulheres,
tanto do feminismo quanto de outras áreas, como sindicalismo, ONGs e entidades
de profissionais de saúde, passaram a desenvolver ações integradas para exigir a
implementação do PAISM. A partir das Leis nº 8.080 e nº 8.142, de 1990, que definem
a organização dos serviços de saúde e estabelecem o controle social no SUS, e sob
o protagonismo dos secretários estaduais de saúde (Conass) e secretários municipais
(Conasems), ganharam importância a organização da rede de saúde e os conselhos de
saúde nas três esferas de gestão. A criação da Cismu no âmbito do CNS, que desde
sua reorganização foi coordenada por feministas da saúde, teve papel importante no
processo de implementação e monitoramento do PAISM, em ação articulada com as
feministas que atuavam no CNDM. Em 1989, a desestruturação do CNDM também
afetou a articulação nacional no campo das políticas públicas, entretanto, a agenda
feminista na esfera governamental foi mantida pela criação e atuação do Fórum
Nacional de Conselhos Estaduais de Direitos da Mulher, que se organizou como instância
de articulação e coordenação nacional até 1995, quando se retomou a participação do
movimento feminista e suas representações no CNDM.

A Cismu constituiu-se, portanto, em um fórum privilegiado de participação


social do movimento de mulheres, composto por representantes de diversos segmentos
do movimento feminista, ampliando, assim, sua influência na articulação de ações para
a saúde das mulheres. A Rede Feminista de Saúde definiu como ação prioritária de
sua atuação o controle social e, para tanto, produziu e divulgou amplamente a cartilha
‘Controle social, uma questão de cidadania: saúde é assunto para mulheres’ (primeira
edição em 1999 e segunda edição em 2000). A cartilha explicava o que é controle
social, como participar dos conselhos de saúde, leis do SUS, entre outros, e estimulou
a participação de representantes do movimento de mulheres nos conselhos de saúde
nacional, estaduais e municipais.

118
Outro importante espaço de participação social das mulheres, no qual exigiram
e aprovaram ações de implementação do PAISM, foram as Conferências Nacionais de
Saúde. O primeiro relatório a citar ações de saúde para mulher foi o da V Conferência
Nacional de Saúde (1975), que, em suas ações propostas, destacou como prioridade a
saúde maternoinfantil. Em 1986, na VIII Conferência Nacional de Saúde, aprovaram-se a
importância de uma política nacional de atenção à saúde da mulher e a realização de uma
conferência temática no mesmo ano: ‘Conferência de direitos e saúde da mulher’. Foram
identificadas propostas aprovadas sobre saúde da mulher e conferência de saúde da
mulher nos relatórios das seguintes Conferências Nacionais de Saúde: IX (1992) - “[...] que
sejam realizadas conferências sobre temáticas específicas [...] saúde da mulher”; X (1996)
- “Saúde da Mulher. 317. O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais e Secretarias
Municipais de Saúde devem implantar efetiva e imediatamente o PAISM. 318. O Ministério
da Saúde deve realizar a II Conferência Nacional de Saúde da Mulher”; XI (2000) - “Políticas
Específicas - Saúde da Mulher. 108. O conjunto de propostas voltadas para a Atenção
Integral à Saúde da Mulher reafirma [...] a política de assistência integral”; XII (2003) - “Eixo
temático V - Organização da Atenção à Saúde. Diretriz: Saúde e Gênero. 55: Avançar na
implementação da atenção integral à saúde da mulher (PAISM) no Brasil”; XIII (2007) -
“Eixo I. 44. Cumprir as ações de atenção integral à saúde da mulher, respeitando todas
as especificidades”; XIV (2011) - “Diretriz 10.17. Fortalecer a Política de Atenção Integral à
Saúde da Mulher com ênfase nos direitos reprodutivos”. Propostas sobre saúde da mulher
foram citadas também na carta da XIV Conferência Nacional de Saúde à população
brasileira; e na XVI (2019) - “Introdução [...] inclui como parte integrante a II Conferência
Nacional de Saúde das Mulheres - Integralidade com Equidade. Eixo: Direito à Saúde, 14.
Reafirmar, implantar e garantir as políticas públicas de saúde direcionadas à população
[...] de mulheres”. Nesses relatórios, as propostas aprovadas sobre saúde da mulher
refletem também a mobilização do movimento de mulheres nas conferências estaduais e
a participação nos conselhos estaduais de saúde e na Cismu.

Ao mesmo tempo que avançou o processo de elaboração e construção


da PNAISM no SUS, em 2003, com a ampliação dos espaços de participação social
no governo Lula, a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e a
convocação de Conferências para Políticas para Mulheres, surgem como novos espaços
de participação social das mulheres, o que contribuiu também com os processos de
elaboração e monitoramento da PNAISM. A I Conferência Nacional de Políticas para as
Mulheres (CNPM), realizada em 2004, teve como tema: ‘Políticas para as Mulheres: um
desafio para a igualdade numa perspectiva de gênero’. Seu objetivo central foi propor
diretrizes e propostas para a fundamentação do I Plano Nacional de Políticas para as
Mulheres (I PNPM), que representou o primeiro conjunto de políticas públicas articuladas
em um plano, estruturado em cinco eixos temáticos: i) autonomia e igualdade no mundo
do trabalho; ii) educação inclusiva, não sexista, não racista, não homofóbica e não
lesbofóbica; iii) saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos (‘efetivar
o cumprimento do PAISM, segundo os princípios do SUS’ foi uma das propostas
aprovadas); iv) enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres; e v)
participação das mulheres nos espaços de poder e decisão.

119
Em 2007, realizou-se a II CNPM, com o tema: ‘Desafios para a construção da
igualdade na perspectiva da implementação do II PNPM e avaliação das ações e políticas
propostas no I PNPM’. Em ambos os planos, o capítulo sobre saúde das mulheres
expressava as ações e as estratégias estabelecidas pelo movimento feminista e tinha
como articulação intersetorial a participação da Cismu/CNS no processo de definição
das prioridades, além de representantes do Ministério da Saúde, que, em 2003, passou
a ter novamente à frente da área técnica de saúde da mulher gestoras indicadas pelo
movimento feminista. Foi criado Comitê de Monitoramento do Plano, com representantes
dos ministérios e de conselheiras do CNDM do segmento da sociedade civil. Conforme
documento do II PNPM (2008), consta na introdução do capítulo da saúde, no relatório
para avaliação.

Em 2004, o Ministério da Saúde lançou a ‘Política Nacional de Atenção


Integral à Saúde da Mulher’, construída a partir da proposição do SUS, respeitando
as características da nova política de saúde, em estreita parceria com outros órgãos
de governo, marcadamente, a SPM e a Seppir, e com a participação do movimento
de mulheres, de mulheres negras e de trabalhadoras rurais, sociedades científicas,
entidades de classe, pesquisadores e estudiosos da área [...].

Fonte: SOUTO, K.; MOREIRA, M. R. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: protagonismo do
movimento de mulheres. Saúde em Debate, v. 45, n. 130, p. 832-846, set. 2021. Disponível em: https://
bit.ly/3obtsrX. Acesso em: 16 maio 2023.

120
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Que a saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas primeiras
décadas do século XX, neste período era limitada apenas às demandas relativas à
gravidez e ao parto.

• Que a Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá atingir as mulheres em todos os


ciclos de vida, resguardadas as especificidades das diferentes faixas etárias e dos
distintos grupos populacionais.

• Que no processo de elaboração, execução e avaliação das Políticas de Atenção à


Saúde da Mulher deverá contar com a participação da sociedade civil organizada,
em particular do movimento de mulheres, pelo reconhecimento de sua contribuição
técnica e política no campo dos direitos e da saúde da mulher.

• Que as ações voltadas à melhoria das condições de vida e saúde das mulheres
deverão ser executadas de forma articulada com setores governamentais e não
governamentais; condição básica para a configuração de redes integradas de atenção
à saúde sobretudo para a obtenção dos resultados esperados, melhoria da qualidade
de vida deste público e eficiência da assistência em saúde.

121
AUTOATIVIDADE
1 No Brasil, o direito universal e integral à saúde é um direito social estabelecido na
Constituição de 1988 e reafirmado com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS),
por meio da Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/1990. Por esse direito, entende-se o
acesso universal e equânime a serviços e ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde, garantindo a integralidade da atenção, indo ao encontro das diferentes
realidades e necessidades de saúde da população e dos indivíduos. O propósito
da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa é recuperar, manter e promover a
autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas
e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes
do Sistema Único de Saúde. É alvo dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros
com 60 anos ou mais de idade. Vale ressaltar que essa política não faz distinção
a sexo nem a gênero. Porém, mesmo existindo uma política voltada para a saúde
da mulher e saúde do idoso, as necessidades de saúde da mulher idosa não estão
contempladas nessas políticas, considerando a especificidade deste grupo da
população. Os profissionais de saúde são responsáveis pela produção de cuidados,
tendo por referência necessidades de saúde de grupos da população. Como
integrante da equipe, a enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde
e a qualidade de vida da pessoa, atuando na promoção, prevenção, recuperação e
reabilitação da saúde. Nesse sentido, é fundamental a ação do enfermeiro durante
a consulta de enfermagem na Atenção à Saúde da Mulher. Com base no exposto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O trabalho educativo em grupo é identificado como uma estratégia de cuidado


importante para a mulher idosa, sendo considerado pelo enfermeiro como um
espaço de comunicação corporal e de socialização da mulher, visto em segundo
plano.
b) ( ) O enfermeiro espera que o cuidado prestado à idosa resulte da desvinculação
dos profissionais envolvidos, em consonância com a integração dos serviços.
c) ( ) Uma característica importante de ação de enfermeiros no cuidado à mulher idosa
é baseado na irrelevância da família como parceira na prestação de cuidados.
d) ( ) Ao prestar o cuidado à mulher idosa, o enfermeiro considera o contexto de vida,
o conhecimento e a experiência da paciente.

2 A Rede de Atenção Maternoinfantil (RAMI) é uma atualização da proposta da Rede


Cegonha, ambas com objetivo de reduzir a mortalidade materna e infantil no país, e
está normatizada em duas Portarias: 795 e 2.228. O desenho e pactuação da Rede
deve ser, assim como a Rede Cegonha, de abrangência macrorregional, e no estado
de São Paulo são 17 macrorregiões, denominadas Redes Regionais de Atenção à
Saúde (RRAS). Sobre o tema proposto, analise as sentenças a seguir:

122
I- Quando comparada à Rede Cegonha, um aspecto importante no qual a Rami excluiu
é a atenção ambulatorial especializada para mulheres com risco de agravos e morte
durante o período gestacional.
II- Incentiva novos recursos para qualificar o cuidado por meio do fortalecimento das
equipes multiprofissionais.
III- Nesta nova configuração da rede, amplia-se, ainda, a possibilidade de novas
habilitações de Casas da Gestante, Bebê e Puérpera.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Em virtude das lutas e reivindicações das mulheres em 1984, o Ministério da Saúde


criou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM). Existem vários
conceitos sobre saúde da mulher, perpassando de concepções mais restritas, que
abordam apenas aspectos da anatomia e biologia do corpo feminino, até concepções
mais ampliadas, que interatuam com dimensões dos direitos humanos e questões
relacionadas à cidadania. De acordo com o Ministério da Saúde, os serviços de saúde
devem ser dotados de meios adequados, articulando-se os esforços do governo
federal, dos estados e municípios, com o objetivo de oferecer atividades de assistência
integral clínico-ginecológica e educativa, voltadas para o aprimoramento do controle
pré-natal, do parto e do puerpério; a abordagem dos problemas presentes desde a
adolescência até a terceira idade; o controle das doenças transmitidas sexualmente,
do câncer cérvico-uterino e mamário, e a assistência para concepção e contracepção.
Com base no exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O processo de construção do SUS pouco influenciou sobre a implementação do


PAISM.
( ) O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização,
hierarquização e regionalização dos serviços.
( ) O novo programa não trouxe destaque para áreas antes negligenciadas da saúde da
mulher.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

123
4 De acordo com o Ministério da Saúde (2020), as Redes de Atenção à Saúde “são
arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades
tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de
gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado". Portaria de Consolidação nº
03, de 28 de setembro de 2017. Tem como proposta lidar com projetos e processos
complexos de gestão e atenção à saúde, onde há interação de diferentes agentes e
onde se manifesta uma crescente demanda por ampliação do acesso aos serviços
públicos de saúde e por participação da sociedade civil organizada. As redes temáticas
acordadas de forma tripartite. As RAS são sistematizadas para responder a condições
específicas de saúde, por meio de um ciclo completo de atendimentos, que implica
a continuidade e a integralidade da atenção à saúde nos diferentes níveis Atenção
Primária, Secundária e Terciária. Devem ter foco na população, de forma integral, por
meio de serviço contínuo de cuidados que visem prioritariamente à promoção da
saúde. A implementação das RAS aponta para uma maior eficácia na produção de
saúde, melhoria na eficiência da gestão do sistema de saúde no espaço regional, e
contribui para o avanço do processo de efetivação do SUS. A transição entre o ideário
de um sistema integrado de saúde conformado em redes e a sua concretização
passam pela construção permanente nos territórios, que permita conhecer o real
valor de uma proposta de inovação na organização e na gestão do sistema de saúde.
Para assegurar resolutividade na rede de atenção, alguns fundamentos precisam ser
considerados: economia de escala, qualidade, suficiência, acesso e disponibilidade
de recursos. Assim, cite três redes temáticas de atenção à saúde que podem auxiliar
no cuidado à mulher.

5 Andreia é moradora de Heliópolis, bairro localizado na região Sul da cidade de São Paulo
(SP). Andreia procurou uma Unidade Básica de Saúde apresentando náuseas, vômitos
e atraso menstrual. Após ser conduzida pelo enfermeiro da unidade, foi constatado que
ela se encontra gestante. Nesse sentido, cite alguns cuidados relacionados à educação
em saúde que o enfermeiro na Atenção Primária pode orientar a paciente.

124
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nosso futuro? Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, p. 1-6, set. 2022.
Disponível em: https://bit.ly/3o4RhSr. Acesso em: 16 maio 2023.

130
UNIDADE 3 —

SAÚDE SEXUAL E
REPRODUTIVA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer o sistema reprodutor feminino e hormônios envolvidos;

• conhecer o papel do enfermeiro no atendimento da gestante e puérpera;

• compreender a importância da abordagem centrada na mulher;

• propor estratégias que permitam a escuta qualificada e o atendimento de qualidade.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TEMA DE APRENDIZAGEM 1 – SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

TEMA DE APRENDIZAGEM 2 – CUIDADOS DE ENFERMAGEM DURANTE O CICLO


GRAVÍDICO PUERPERAL

TEMA DE APRENDIZAGEM 3 – SAÚDE DA MULHER NO CLIMATÉRIO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

131
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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132
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Você já estudou a anatomia e fisiologia do sistema reprodutor
feminino? Vamos retomar alguns conceitos para que você entenda um pouco mais.
Além disso, abordaremos o ciclo menstrual, saúde sexual e reprodutiva além de doenças
e condições do sistema reprodutor feminino como a endometriose.

O sistema reprodutor feminino é um conjunto de órgãos responsáveis pela


reprodução humana. Este sistema é composto por órgãos internos e externos, sendo
que os órgãos internos incluem os ovários, trompas de falópio, útero e vagina, enquanto
os órgãos externos incluem a vulva e os seios (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

De acordo com Junqueira e Carneiro (2013), a histologia dos órgãos reprodutivos


femininos é complexa e envolve diferentes tipos de tecidos, como o epitelial, conjuntivo
e muscular. O conhecimento da estrutura e função desses tecidos é fundamental
para o entendimento das diversas fases do ciclo menstrual, incluindo a ovulação e a
menstruação.

Além disso, é importante destacar a importância da saúde sexual e reprodutiva


das mulheres. De acordo com o Ministério da Saúde, a promoção da saúde sexual e
reprodutiva está relacionada ao acesso aos serviços de saúde, informação, prevenção e
tratamento de doenças, além do direito de cada indivíduo de decidir sobre seu próprio
corpo e vida sexual (BRASIL, 2013).

Nesse sentido, o “Protocolo de atenção básica à saúde da mulher” (BRASIL,


2016), do Ministério da Saúde, tem como objetivo garantir a assistência integral e
humanizada à saúde das mulheres, incluindo ações de prevenção e promoção da saúde
sexual e reprodutiva. Dentre essas ações, estão a oferta de métodos contraceptivos,
atendimento pré-natal e assistência ao parto, prevenção e tratamento de doenças
sexualmente transmissíveis e cuidados com a saúde mamária.

Portanto, compreender o sistema reprodutor feminino e a importância da saúde


sexual e reprodutiva é fundamental para a promoção da saúde e bem-estar das mulheres.

133
2 SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA
A saúde sexual é um estado de bem-estar físico, mental e social relacionado
à sexualidade, e não meramente a ausência de doenças ou disfunções. Já a saúde
reprodutiva é definida como um estado geral de saúde física, mental e social em todas
as fases da vida, que permite o pleno exercício do direito à reprodução (BRASIL, 2005).

Os “Protocolos da Atenção Básica: saúde das mulheres” descrevem a importância


de uma abordagem integral e humanizada na atenção à saúde sexual e reprodutiva.
Destaca-se a necessidade de considerar as particularidades de cada indivíduo, levando
em conta aspectos como idade, raça, orientação sexual e identidade de gênero. Além
disso, a promoção do acesso a informações precisas sobre saúde sexual e reprodutiva e
a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis são essenciais para garantir uma
vida sexual saudável (BRASIL, 2016).

É necessário o acesso à educação sexual e à contracepção para a promoção


da saúde sexual e reprodutiva. A informação e o acesso a métodos contraceptivos
adequados são fundamentais para a prevenção de gestações indesejadas e para a
promoção da autonomia e da liberdade reprodutiva das mulheres. Além disso, a atenção
ao planejamento reprodutivo e à saúde durante a gestação e o puerpério também são
fundamentais para garantir a saúde das mulheres e de seus filhos (BRASIL, 2013).

2.1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR


FEMININO
O sistema reprodutor feminino interno é composto pelos ovários, tubas uterinas,
útero e vagina, como demonstrado na Figura 1.

Os ovários são os principais órgãos reprodutivos femininos e estão localizados


na pelve, um de cada lado do útero, presos por ligamentos. Segundo Junqueira e Carneiro
(2013), o ovário é um órgão par, com formato ovalado, localizado na pelve feminina, um
de cada lado do útero, ligados a ele pelos ligamentos ovarianos. O ovário é recoberto por
um epitélio germinativo, o qual recobre o córtex ovariano, região na qual se encontram
os folículos ovarianos (ARAGÃO; GUERRA, 2012).

Ainda segundo Junqueira e Carneiro (2013), os folículos ovarianos são estruturas


esféricas que se desenvolvem no córtex do ovário e contêm os ovócitos em diferentes
estágios de desenvolvimento. Na puberdade, os folículos começam a amadurecer em
resposta à secreção do hormônio folículo-estimulante (FSH) pela hipófise, e um deles
se desenvolve de maneira mais intensa, se tornando o folículo dominante. Esse folículo
irá ovular, liberando o ovócito no momento da ovulação.

134
A fisiologia do ovário é regulada por uma complexa interação hormonal entre a
hipófise e o ovário. De acordo com Junqueira e Carneiro (2013), o ovário produz estrógeno
e progesterona, hormônios fundamentais para a regulação do ciclo menstrual e para a
manutenção da gravidez. O estrógeno é produzido pelos folículos em desenvolvimento,
enquanto a progesterona é produzida pelas células do corpo lúteo, estrutura formada a
partir do folículo que ovulou.

As tubas uterinas, também chamadas de trompas de Falópio, são responsáveis


por capturar o óvulo liberado pelo ovário durante a ovulação e conduzi-lo até o útero.
São compostas por três partes: infundíbulo, ampola e istmo. O infundíbulo é a parte
mais larga e possui uma série de projeções em forma de dedos chamadas de fímbrias,
que ajudam a capturar o óvulo. A ampola é a parte mais longa e estreita das tubas
uterinas, onde ocorre a fertilização do óvulo pelo espermatozoide. O istmo é a parte
mais próxima ao útero e é responsável por transportar o embrião para o útero após a
fertilização (ARAGÃO; GUERRA, 2012).

O útero é um órgão oco e muscular que serve como local de implantação do


embrião e desenvolvimento do feto durante a gestação. A camada interna do útero
é revestida por uma mucosa conhecida como endométrio, que é responsável por se
espessar e se preparar para a implantação do embrião. Já a camada muscular é formada
pelo miométrio, que é composto por fibras musculares lisas que se contraem durante o
trabalho de parto (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

A cérvix ou colo do útero é a parte inferior do útero que se conecta com a vagina
e possui uma abertura chamada de canal cervical, que se abre durante o trabalho de parto
para permitir a passagem do bebê. A cérvix possui uma mucosa protetora e espessa, que
ajuda a prevenir a entrada de micro-organismos no útero (ARAGÃO; GUERRA, 2012).

Por fim, a vagina é um canal muscular que conecta a cérvix ao exterior do corpo
feminino. A vagina é responsável por receber o pênis durante o ato sexual e permitir a
penetração para a ejaculação do esperma. Além disso, a vagina também é um canal de
parto durante o nascimento (ARAGÃO; GUERRA, 2012).

Figura 1 – Anatomia do sistema reprodutor feminino

Miométrio

Fonte: a autora

135
Segundo o “Protocolos da atenção básica: saúde da mulher”, do Ministério da
Saúde, a vulva é responsável por proteger as estruturas internas dos órgãos reprodutivos
femininos e a entrada da vagina. O protocolo também enfatiza a importância do
exame físico da vulva para detectar lesões, infecções ou tumores que possam causar
desconforto ou dor durante a relação sexual ou urinação (BRASIL, 2016).

De acordo com Junqueira e Carneiro (2013), a anatomia do aparelho reprodutor


feminino externo (Figura 2) é composta pelos lábios maiores, que são dois pregueados
de pele com folículos pilosos que se estendem da sínfise púbica até o períneo, enquanto
os lábios menores são dois pregueados mais finos de tecido membranoso localizados
dentro dos lábios maiores. O clitóris é uma pequena estrutura erétil localizada no
encontro dos lábios menores, composta por tecido esponjoso e nervoso. O vestíbulo
vaginal é a área localizada entre os lábios menores, que contém a entrada da uretra e a
abertura da vagina.

Figura 2 – Anatomia do aparelho reprodutor feminino externo

Fonte: a autora

As mamas também fazem parte do sistema reprodutor feminino, visto que


possuem uma importante função reprodutiva: o aleitamento materno. A glândula
mamária é uma componente essencial do sistema reprodutivo, e a fase de lactação
pode ser vista como a etapa final do processo reprodutivo, portanto pode-se afirmar que,
para a maioria dos mamíferos, a incapacidade de amamentar é análoga à incapacidade
de ovular, sendo ambas consideradas falhas no processo reprodutivo (MORAES, 2016).

De acordo com Junqueira e Carneiro (2013), as glândulas mamárias são


estruturas glandulares compostas responsáveis pela produção do leite materno. São
constituídas por lóbulos que se dividem em lobos menores, os quais se ramificam em
ductos. Esses ductos se abrem na superfície do mamilo, que é rodeado por uma aréola
pigmentada.

136
Durante a puberdade, o aumento dos hormônios sexuais leva ao desenvolvimento
das mamas. Ocorre uma proliferação celular nos ductos e nos alvéolos das glândulas
mamárias, resultando em um aumento do volume das mamas e da quantidade de tecido
glandular (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

Na gravidez há uma maior estimulação hormonal, que promove o desenvolvimento


e maturação das células secretoras de leite. Isso resulta em um aumento do número de
alvéolos, do tecido glandular e da vascularização das mamas.

A lactação é o processo de produção e secreção do leite materno. Quando o


bebê suga o mamilo, ocorre a liberação do hormônio ocitocina, que estimula a contração
das células mioepiteliais e a expulsão do leite pelos ductos lactíferos até o mamilo. A
produção de leite é mantida por meio da sucção do bebê e da estimulação da produção
de hormônios, como a prolactina (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

Figura 3 – Tecido mamário

Fonte: https://bit.ly/3MBHM6A. Acesso em: 18 maio 2023.

2.2 CICLO MENSTRUAL


O ciclo menstrual tem em média 28 dias, mas pode variar de 21 a 35 dias em
mulheres adultas. O ciclo é dividido em três fases: a fase folicular, a ovulatória e a fase
lútea (BRASIL, 2013).

A menstruação é a descamação da camada interna do útero, chamada endométrio,


quando não ocorre a fecundação do óvulo. O ciclo menstrual é regulado por interações
hormonais complexas entre o eixo hipotálamo-hipófise-ovário (ARAGÃO; GUERRA, 2012).

137
DICA
Assista ao vídeo educativo “Como ocorre a menstruação?”, para
melhor compreensão do assunto: https://bit.ly/3OjbY7M.

A fase folicular é a primeira fase do ciclo menstrual e ocorre nos primeiros 14 dias,
em média. Nessa fase, os níveis de hormônio folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH)
começam a aumentar, estimulando o crescimento de folículos ovarianos e a produção
de estrogênio pelos ovários. Esse aumento de estrogênio promove o espessamento do
endométrio (camada interna do útero), preparando-o para a possível implantação de um
óvulo fertilizado. Além disso, o aumento de estrogênio também causa a produção de muco
cervical, facilitando a entrada dos espermatozoides no útero (JUNQUEIRA; CARNEIRO,
2013).

A ovulação ocorre na metade do ciclo menstrual, quando um dos folículos


ovarianos se rompe, liberando o óvulo maduro para as tubas uterinas. Essa fase é
desencadeada por um aumento abrupto no nível de LH, que causa a maturação final do
óvulo e sua liberação. Essa fase é extremamente importante para a fertilização, pois é
nessa fase que ocorre a possibilidade de fecundação do óvulo pelos espermatozoides
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

A fase lútea é a fase final do ciclo menstrual e ocorre após a ovulação, quando o
folículo que liberou o óvulo se transforma em corpo lúteo, que produz progesterona em
níveis elevados. Esse aumento de progesterona causa a manutenção do endométrio,
permitindo que este continue preparado para a implantação de um óvulo fertilizado
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

Caso não ocorra a fecundação do óvulo, ocorre uma queda nos níveis de
estrogênio e progesterona, o que leva à descamação do endométrio e à menstruação. A
menstruação pode durar de 3 a 7 dias e o fluxo sanguíneo é variável, podendo ser leve a
moderado (ARAGÃO; GUERRA, 2012).

INTERESSANTE
Algumas mulheres podem experimentar uma condição conhecida
como síndrome pré-menstrual (SPM), que envolve uma série de
sintomas físicos e emocionais que ocorrem antes do início do ciclo
menstrual. Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que cerca
de 75% das mulheres em idade fértil experimentem algum tipo
de sintoma relacionado à SPM, como irritabilidade, ansiedade,
depressão, inchaço, dores de cabeça, dentre outros (BRASIL, 2013).

138
O sangramento uterino disfuncional é caracterizado por sangramento vaginal
anormal que não está relacionado ao ciclo menstrual normal. Pode ser causado por
alterações hormonais, miomas uterinos, câncer de endométrio ou outros fatores. O
tratamento depende da causa, mas pode incluir mudanças no estilo de vida, uso de
contraceptivos hormonais, tratamento medicamentoso ou cirurgia (BRASIL, 2016).

A dismenorreia é a dor associada à menstruação. A dismenorreia primária é


causada por contrações uterinas excessivas, enquanto a dismenorreia secundária é
causada por condições médicas subjacentes, como endometriose. O tratamento pode
incluir mudanças no estilo de vida e tratamento medicamentoso (BRASIL, 2016).

2.3 CUIDADOS COM A SAÚDE DA REGIÃO ÍNTIMA


A região íntima feminina requer cuidados específicos para manter sua saúde e
prevenir possíveis infecções. De acordo com o Ministério da Saúde, é importante que
as mulheres lavem a região genital externa diariamente, com água e sabão neutro,
evitando produtos perfumados e duchas vaginais, que podem alterar a flora vaginal e
aumentar o risco de infecções (BRASIL, 2013).

Figura 4 – Higiene e saúde íntima

Fonte: https://bit.ly/3WjoqGI. Acesso em: 18 maio. 2023.

Além disso, é recomendado o uso de roupas íntimas de algodão, que permitem


a ventilação da região, evitando o acúmulo de umidade e calor, que favorecem o
crescimento de fungos e bactérias. Também se destaca a importância de evitar roupas
apertadas e o uso de absorventes diários, que podem causar irritação na pele e aumentar
a umidade da região (BRASIL, 2005).

139
Outro ponto importante para a saúde íntima feminina é o uso adequado de
preservativos durante as relações sexuais, que previnem não só a gravidez indesejada,
mas também a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, é
importante realizar exames preventivos regularmente, como o Papanicolau e o exame
de colposcopia, que detectam alterações no colo do útero e previnem o câncer de colo
de útero (BRASIL, 2016).

2.4 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS


A prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é fundamental para
a saúde sexual e reprodutiva. O Ministério da Saúde do Brasil recomenda a utilização de
preservativos masculinos e femininos como método de barreira para prevenir as ISTs,
além de aconselhar a realização regular de exames de rotina para detectar possíveis
infecções. A vacinação contra o HPV é indicada para prevenir a infecção por esse vírus,
que pode causar câncer do colo do útero, dentre outras doenças (BRASIL, 2016).

Para garantir a saúde sexual e reprodutiva, é importante que as pessoas


tenham acesso a informações sobre os diferentes métodos contraceptivos disponíveis.
É recomendado que a escolha do método contraceptivo seja feita de forma consciente
e individualizada, considerando as preferências, necessidades e condições de saúde de
cada pessoa. Os métodos contraceptivos disponíveis incluem preservativos masculinos
e femininos, pílulas anticoncepcionais, injetáveis, dispositivos intrauterinos (DIU),
diafragma, esponja, dentre outros (BRASIL, 2005).

Há, ainda, os métodos cirúrgicos como a ligadura das trompas e a vasectomia,


que são considerados métodos contraceptivos definitivos, uma vez que visam impedir
a fecundação de forma permanente. A ligadura das trompas, também conhecida como
laqueadura ou ligadura tubária, é realizada em mulheres e consiste na interrupção do
trajeto dos óvulos dos ovários até o útero. Já a vasectomia é realizada em homens e
consiste na interrupção dos canais deferentes, por onde passam os espermatozoides,
impedindo sua chegada ao líquido ejaculado. Ambos os procedimentos são irreversíveis
e requerem uma decisão consciente e informada por parte do casal (BRASIL, 2013).

De acordo com a Lei nº 14.443/2022, já em vigor, não é mais necessário o


consentimento do cônjuge para a realização de laqueadura em mulheres e vasectomia
em homens. A idade mínima para a realização desses procedimentos foi reduzida para
21 anos, e para quem tem dois ou mais filhos vivos, a cirurgia poderá ser realizada a partir
dos 18 anos (COFEN, 2023).

140
A gestante agora pode solicitar a laqueadura durante o período do parto, desde que
manifeste sua vontade com 60 dias de antecedência da data prevista para o nascimento.
A lei exige que a manifestação da vontade seja feita por escrito e assinada, e que a pessoa
interessada receba aconselhamento médico sobre as vantagens, desvantagens, riscos e
eficácia do procedimento antes de realizá-lo. Aqueles que realizarem a esterilização em
desacordo com a lei podem ser penalizados com dois a oito anos de reclusão e multa
(COFEN, 2023).

A escolha do método contraceptivo ideal deve ser feita com base em informações
precisas e atualizadas, considerando as características e necessidades individuais. Além
disso, é importante ter em mente que nenhum método contraceptivo é 100% eficaz na
prevenção da gravidez, e que o uso de preservativos é importante para prevenir as ISTs
(BRASIL, 2013).

INTERESSANTE
Você sabia? A aplicação do Dispositivo Intrauterino, conhecido como
DIU, é um método contraceptivo de longa duração e está disponível
gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).

3 DOENÇAS E CONDIÇÕES DO SISTEMA REPRODUTOR


FEMININO
Como já discutido, o sistema reprodutor feminino é composto por órgãos
responsáveis pela reprodução e pelo desenvolvimento do feto durante a gestação,
no entanto diversos problemas de saúde podem acometer esse sistema, afetando a
qualidade de vida das mulheres e até mesmo a sua capacidade de engravidar. Nesse
sentido, é importante destacar algumas das principais doenças e condições que afetam
o sistema reprodutor feminino, suas causas e tratamentos disponíveis. Além disso,
é importante ressaltar que patologias como o câncer de colo do útero e de mama,
discutidos anteriormente na Unidade 1, também se inserem no âmbito das enfermidades
relacionadas ao sistema reprodutor feminino.

3.1 ENDOMETRIOSE
A endometriose é uma condição na qual o tecido que normalmente cresce
dentro do útero (endométrio) começa a crescer fora dele, como nos ovários, trompas,
bexiga e outros órgãos da pelve. A causa exata da endometriose é desconhecida, mas
acredita-se que possa estar relacionada a uma combinação de fatores genéticos,
hormonais e imunológicos (FEBRASGO, 2021).

141
A fisiopatologia da endometriose envolve a capacidade do tecido endometrial
de se implantar e crescer fora do útero, formando lesões císticas ou nodulares que
podem se romper e causar dor e inflamação local. A endometriose também pode levar
a aderências entre os órgãos pélvicos e causar alterações nas funções normais desses
órgãos, como a ovulação e a fertilidade (FEBRASGO, 2021).

O quadro clínico da endometriose pode variar de leve a grave, e alguns pacientes


podem não apresentar sintomas. Os sintomas mais comuns incluem dor pélvica,
cólicas menstruais intensas, dor durante as relações sexuais, dor durante a micção
ou evacuação, sangramento menstrual anormal, fadiga e infertilidade. A gravidade
dos sintomas não está diretamente relacionada ao grau de extensão da endometriose
(FEBRASGO, 2021).

O tratamento da endometriose pode envolver o uso de medicamentos para


aliviar a dor e controlar a progressão da doença, como anti-inflamatórios não esteroides
(AINEs), pílulas anticoncepcionais, progestágenos, agonistas e antagonistas do hormônio
liberador de gonadotrofinas (GnRH). Em casos mais graves, a cirurgia pode ser necessária
para remover as lesões de endometriose, aderências e cistos ovarianos. Em alguns casos,
a histerectomia pode ser recomendada (FEBRASGO, 2021).

3.2 INFERTILIDADE
A ausência de gravidez após um ano ou mais de atividade sexual regular e
sem uso de medidas anticonceptivas é considerada infertilidade. Essa condição pode
ser classificada em diferentes tipos, como a infertilidade primária (quando não houve
gestação prévia), infertilidade secundária (quando a capacidade reprodutiva falha após
uma ou mais gestações), abortamento habitual ou de repetição (ocorrência de três ou
mais interrupções naturais consecutivas da gestação de até 20 semanas) e esterilidade
(incapacidade definitiva de gerar filhos) (BRASIL, 2013).

É essencial que o enfermeiro converse com o casal para identificar suas


expectativas em relação à gravidez e avaliar a presença de ansiedade, medo ou outros
sentimentos que possam estar afetando o processo. É comum que muitos casais não
estejam cientes do período fértil ou de práticas que podem dificultar a concepção,
portanto é importante esclarecer os mecanismos da reprodução e fornecer orientação,
investigação e tratamento de doenças que possam afetar a fertilidade (BRASIL, 2013).

Após a avaliação clínica, o casal deve ser orientado sobre práticas sexuais
compatíveis com a obtenção de gravidez, como identificar o período fértil e concentrar as
relações sexuais nessa fase, além de eliminar fatores que possam interferir no depósito
do sêmen na vagina ou dificultar a migração espermática como uso de duchas vaginais
e lubrificantes. Se a gravidez não ocorrer após essas medidas iniciais, é necessário
investigar as possíveis causas de infertilidade para definir o tratamento mais adequado
em cada caso (BRASIL, 2013).
142
A infertilidade é um problema que afeta tanto homens quanto mulheres e
pode ser definida como a incapacidade de conceber após um ano de relações sexuais
regulares sem uso de métodos contraceptivos. Alguns fatores podem aumentar o
risco de infertilidade em mulheres, como idade avançada, doença inflamatória pélvica,
tabagismo e extremos de peso, além da Síndrome do Ovário Policístico (BRASIL, 2013).

As causas de infertilidade podem ser divididas em quatro grandes grupos:


causas anatômicas relacionadas ao útero ou às trompas, causas hormonais que
interferem no processo de ovulação ou em alguma outra fase da reprodução, causas
masculinas e causas desconhecidas. As causas anatômicas podem estar relacionadas
a miomas, pólipos e aderências na parte interna do útero ou obstrução e aderências das
trompas. As causas hormonais podem interferir na ovulação ou em alguma outra fase da
reprodução. As causas masculinas podem estar relacionadas a alterações na produção
do esperma, na quantidade ou qualidade dos espermatozoides, como capacidade de
movimentação e proporção de espermatozoide com formato normal (BRASIL, 2013).

A investigação e tratamento da infertilidade devem ser realizados de forma


integrada e humanizada, considerando as necessidades e especificidades de cada casal.
A abordagem da infertilidade deve incluir uma avaliação cuidadosa da história reprodutiva
e sexual do casal, além de exames clínicos e laboratoriais específicos. É necessária
uma abordagem multiprofissional, envolvendo médicos, enfermeiros e psicólogos, com
acompanhamento e apoio emocional ao casal durante todo o processo de investigação e
tratamento da infertilidade (BRASIL, 2013).

Figura 5 – O impacto psicológico da infertilidade

Fonte: https://bit.ly/41PhNNn. Acesso em: 18 maio. 2023.

143
3.3 INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS
As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) representam um problema de
saúde pública no Brasil e no mundo, com alta prevalência em diversas populações.
São causadas por micro-organismos que podem ser transmitidos por meio do contato
sexual sem proteção, incluindo bactérias, vírus e fungos. A prevenção, o diagnóstico
precoce e o tratamento adequado são fundamentais para controlar a transmissão e
reduzir as complicações dessas infecções (BRASIL, 2015).

3.3.1 Sífilis
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria
Treponema pallidum. Ela pode ser dividida em sífilis adquirida, sífilis congênita (transmitida
da mãe para o feto) e sífilis gestacional (transmitida da mãe para o feto durante a
gravidez). Os sintomas da sífilis adquirida são divididos em três estágios: sífilis primária
(úlcera indolor no local da infecção), sífilis secundária (erupções cutâneas no tronco e
nas palmas das mãos e solas dos pés, além de febre, mal-estar e dor de cabeça) e sífilis
terciária (complicações neurológicas, cardiovasculares e cutâneas) (BRASIL, 2015).

O diagnóstico é feito por meio de testes sorológicos, como o VDRL e o FTA-ABS.


Para gestantes, é importante realizar o diagnóstico precoce da sífilis, realizando o teste
sorológico durante o pré-natal e no momento do parto (BRASIL, 2015).

O tratamento da sífilis adquirida é feito com a penicilina benzatina, enquanto


o tratamento da sífilis congênita e gestacional é feito com a penicilina cristalina. Apenas
pessoas alérgicas à penicilina recebem outros tipos de tratamentos, como a doxiciclina
ou a azitromicina (BRASIL, 2015).

3.3.2 Gonorreia, clamídia e oftalmia neonatal


A gonorreia e a clamídia são infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)
causadas por bactérias. A gonorreia é causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae,
enquanto a clamídia é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis. Ambas as
infecções podem ser assintomáticas ou apresentar sintomas como corrimento genital,
dor ao urinar e dor abdominal (BRASIL, 2015).

O diagnóstico pode ser feito por meio de exames de urina, swab genital ou
exame de sangue. O tratamento geralmente envolve antibióticos específicos para
cada bactéria, além do tratamento dos parceiros sexuais. A prevenção pode ser feita
mediante o uso de preservativo durante as relações sexuais e realização de exames
periódicos para detecção precoce da infecção (BRASIL, 2015).

144
A oftalmia neonatal, causada pela gonorreia ou clamídia, é uma infecção ocular que
pode ser transmitida da mãe para o bebê durante o parto. Os sinais incluem conjuntivite,
secreção ocular e inchaço das pálpebras. O tratamento é feito com antibióticos tópicos ou
sistêmicos, dependendo da gravidade da infecção (BRASIL, 2015).

Para prevenção da oftalmia neonatal, utiliza-se o Nitrato de Prata a 1% (método


de Crede), na 1ª hora após o nascimento; ou Tetraciclina a 1% (colírio), aplicação única,
na 1ª hora após o nascimento. Para o tratamento da oftalmia neonatal é utilizado
Ceftriaxona 25-50 mg/kg/dia, IM, no máximo 125 mg em dose única (BRASIL, 2022).

3.3.3 Hepatites B e C
As hepatites virais B e C são infecções que afetam o fígado e podem ser
transmitidas por meio de relações sexuais, uso compartilhado de agulhas, transfusões
de sangue e da mãe para o filho durante a gravidez. Dentre os sinais e sintomas mais
comuns estão fadiga, náusea, vômitos, dor abdominal, icterícia, febre, perda de apetite
e artralgia. O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue para detectar os
marcadores virais e avaliar a função hepática (BRASIL, 2015).

O tratamento pode incluir antivirais e, em alguns casos, transplante de fígado.


É importante destacar a importância da prevenção, por meio da vacinação contra a
hepatite B, uso de preservativos e não compartilhamento de objetos pessoais, como
seringas e lâminas de barbear. O acompanhamento médico regular é fundamental para
o controle e tratamento da doença (BRASIL, 2015).

3.3.4 Vírus da imunodeficiência humana - HIV


O HIV, ou vírus da imunodeficiência humana, é um vírus que ataca o sistema
imunológico e causa a síndrome da imunodeficiência adquirida, mais conhecida como
Aids. Ele é transmitido por meio do contato com fluidos corporais infectados, como
sangue, sêmen, secreções vaginais e leite materno (BRASIL, 2015).

Os sintomas iniciais da infecção pelo HIV podem incluir febre, dor de garganta,
sudorese noturna, fadiga, diarreia e perda de peso, no entanto muitas pessoas não
apresentam sintomas por anos após a infecção inicial (BRASIL, 2015).

O diagnóstico do HIV é feito por meio de exames de sangue que detectam a


presença de anticorpos contra o vírus ou por meio do teste de carga viral, que mede a
quantidade de vírus presente no sangue (BRASIL, 2015).

O tratamento do HIV é feito com terapia antirretroviral, que consiste em


uma combinação de medicamentos que ajudam a controlar a replicação do vírus e a
fortalecer o sistema imunológico. Com o tratamento adequado, muitas pessoas com
HIV conseguem ter uma vida longa e saudável (BRASIL, 2015).
145
É importante lembrar que o HIV não tem cura, mas pode ser prevenido por meio
de práticas sexuais seguras, como o uso de preservativos, e do não compartilhamento de
seringas e agulhas. Além disso, a realização periódica de testes de HIV é importante para o
diagnóstico precoce e para o início imediato do tratamento, caso necessário (BRASIL, 2015).

3.3.5 Triagem de IST na gestação


De acordo com o “Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral
às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis” (BRASIL, 2015), gestantes
devem ser triadas para ISTs durante o pré-natal. O protocolo recomenda que todas as
gestantes sejam avaliadas para sífilis, HIV e hepatites B e C, independentemente de
apresentarem sintomas ou não. Além disso, a triagem para outras ISTs, como clamídia
e gonorreia, deve ser considerada em gestantes que apresentam sintomas ou fatores
de risco. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado das ISTs na gestação são
essenciais para evitar complicações para a mãe e para o feto.

3.3.6 Corrimento vaginal


Segundo o Ministério da Saúde, o corrimento vaginal pode ser um sinal de infecção
sexualmente transmissível, como a vaginose bacteriana, tricomoníase, gonorreia, clamídia
ou herpes genital, mas também pode ser causado por outras condições não infecciosas,
como candidíase ou vaginite não infecciosa (BRASIL, 2015).

O diagnóstico da causa do corrimento vaginal requer uma avaliação clínica


detalhada, que pode incluir exame físico, exame ginecológico, testes laboratoriais
e culturas. Dependendo da causa subjacente, o tratamento pode incluir antibióticos,
antifúngicos ou outros medicamentos (BRASIL, 2015).

As mulheres que apresentam corrimento vaginal devem procurar atendimento


médico para avaliação e tratamento adequados. É importante notar que, em muitos casos,
as ISTs podem não apresentar sintomas, sendo essencial a realização regular de exames
para detecção precoce e prevenção de complicações (BRASIL, 2015).

3.3.7 Úlceras genitais


Conforme o Ministério da Saúde, a úlcera genital é uma lesão na região genital
que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos. Os sinais e sintomas da úlcera
genital podem variar, mas geralmente incluem dor local, vermelhidão, ferida aberta,
secreção ou crosta (BRASIL, 2015). O diagnóstico pode ser realizado por meio de exame
clínico e testes laboratoriais específicos, como a reação em cadeia da polimerase (PCR)

146
ou sorologia para identificar o agente infeccioso responsável pela lesão. As principais
causas de úlcera genital, de acordo com o “Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas
para atenção integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis (IST)”
(BRASIL, 2022), são:

• Sífilis: é causada pela bactéria Treponema pallidum e apresenta como sinal inicial
uma úlcera indolor (cancro duro), que surge no local da infecção após um período de
incubação que pode durar de 9 a 90 dias.
• Herpes genital: é causada pelo vírus herpes simples tipo 1 (HSV-1) ou tipo 2 (HSV-2) e
apresenta-se como lesões ulceradas dolorosas, geralmente agrupadas em pequenas
vesículas, que surgem na mucosa genital e/ou anal.
• Cancro mole: é causado pela bactéria Haemophilus ducreyi e apresenta-se como
uma lesão ulcerada, dolorosa e com bordas irregulares, que geralmente é única.
• Donovanose: é causada pela bactéria Klebsiella granulomatis e apresenta-se como
uma lesão ulcerada, que aumenta progressivamente de tamanho e profundidade,
com bordas elevadas e fundo granuloso.
• Linfogranuloma venéreo: é causado pela bactéria Chlamydia trachomatis sorotipo L1,
L2 ou L3 e apresenta-se como uma lesão ulcerada indolor no local da infecção, que
evolui para uma inflamação dos gânglios linfáticos inguinais.

O diagnóstico das úlceras genitais é realizado a partir da avaliação clínica, com


coleta de informações sobre o histórico sexual do paciente e exame físico, incluindo
exame das lesões. “A microscopia é única opção de teste laboratorial existente no
SUS para auxiliar no diagnóstico etiológico das úlceras genitais e está disponível para
detecção de Haemophilus ducreyi e Treponema pallidum” (BRASIL, 2022, p. 131).

O tratamento depende da causa da úlcera genital. As úlceras causadas por herpes


genital são tratadas com antivirais por via oral, enquanto úlceras causadas por sífilis são
tratadas com penicilina. Úlceras causadas por donovanose são tratadas com antibióticos
específicos. Em casos de úlceras causadas por outras infecções, como cancroide e
linfogranuloma venéreo, o tratamento também é feito com antibióticos (BRASIL, 2022).

3.3.8 Doença inflamatória pélvica


A Doença Inflamatória Pélvica (DIP) é uma infecção dos órgãos reprodutivos
femininos, incluindo o útero, as trompas de Falópio e os ovários. A DIP é geralmente causada
por bactérias sexualmente transmissíveis, como a clamídia e a gonorreia, que se espalham
a partir da vagina ou do colo do útero para o útero e as trompas de Falópio (BRASIL, 2015).

De acordo com o “Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção


integral às pessoas com infecções sexualmente transmissíveis” (BRASIL, 2015), os sinais
e sintomas da DIP podem incluir dor abdominal baixa, dor durante a relação sexual,
corrimento vaginal anormal, febre, náusea e vômito. A DIP pode levar a complicações
graves, incluindo infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crônica.
147
O diagnóstico da DIP geralmente envolve um exame físico, exames laboratoriais e
exames de imagem, como ultrassonografia ou tomografia computadorizada. O tratamento
da DIP geralmente envolve o uso de antibióticos, que são administrados por via oral
ou intravenosa, dependendo da gravidade da infecção. É importante que a DIP seja
diagnosticada e tratada rapidamente para evitar complicações graves (BRASIL, 2015).

3.3.9 Verrugas anogenitais


O HPV (Papilomavírus Humano) é uma infecção sexualmente transmissível que
pode afetar homens e mulheres. Ela é causada por um vírus que pode causar verrugas
genitais e, em casos mais graves, câncer do colo do útero, do ânus, do pênis, da boca e
da garganta. O diagnóstico do HPV é feito principalmente por meio de exames clínicos e
laboratoriais, e o tratamento varia de acordo com a gravidade da infecção (BRASIL, 2015).

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015), a maioria das pessoas


com HPV não apresenta sinais ou sintomas, no entanto, em alguns casos, o vírus pode
causar verrugas genitais, que aparecem como pequenas protuberâncias ou caroços na
região genital. Em casos mais graves, o HPV pode causar câncer, que pode afetar o colo
do útero, ânus, pênis, boca e garganta.

Não existe cura para o HPV, mas as verrugas genitais podem ser tratadas com
medicamentos tópicos, remoção a laser ou cirurgia. O tratamento do câncer depende
do estágio da doença e pode incluir cirurgia, radioterapia e quimioterapia. É importante
lembrar que o tratamento não cura o HPV e que é possível a reinfecção (BRASIL, 2015).

O “Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas


com infecções sexualmente transmissíveis” (BRASIL, 2015), aborda que a prevenção do
HPV é feita principalmente por meio da vacinação. A vacina é indicada para meninas
e meninos a partir dos 9 anos de idade e pode ser administrada até os 45 anos. O uso
de preservativo durante as relações sexuais também pode ajudar a prevenir a infecção.

O diagnóstico do HPV pode ser feito por meio de exames clínicos, como a
colposcopia e o Papanicolau, que podem detectar lesões no colo do útero. O diagnóstico
também pode ser confirmado por meio de exames laboratoriais, como a biópsia e o teste
de captura híbrida, que detectam a presença do vírus no organismo (BRASIL, 2015).

3.3.10 Violência sexual e prevenção de ISTs e gravidez


Em casos de violência sexual, a avaliação e o atendimento devem ser imediatos
e incluem a coleta de exames para detecção de ISTs. É recomendado o uso de profilaxia
para ISTs virais e não virais, incluindo o HIV, hepatites B e C, sífilis e clamídia, assim como
a vacinação contra hepatite B, se necessário (BRASIL, 2015).

148
Para prevenção de gravidez, são utilizados métodos contraceptivos emergenciais,
de acordo com o Ministério da Saúde “recomenda-se, como primeira escolha, o uso de
progestágeno puro (levonorgestrel 0,75 mg/comprimido, dois comprimidos, VO, dose
única, ou um comprimido, VO, a cada 12 horas)”, ainda vale lembrar que o abortamento
é permitido nos casos de estupro” (BRASIL, 2015, p. 114).

A profilaxia pós-exposição (PEP) para o HIV também é recomendada em casos


de violência sexual com risco de exposição ao vírus, e deve ser iniciada o mais breve
possível, preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição, e no máximo
em até 72 horas. A PEP para HIV consiste no uso de medicamentos antirretrovirais por
28 dias, com o objetivo de prevenir a infecção pelo vírus (BRASIL, 2015).

Além disso, é importante realizar a notificação compulsória dos casos de violência


sexual, conforme previsto em lei (BRASIL, 2015).

O Art. 5º da Portaria nº 485, de 1 de abril de 2014, estabelece as diretrizes do


atendimento às vítimas de violência sexual. O objetivo é garantir um atendimento
humanizado, respeitoso e eficaz para as pessoas que passam por essa situação
traumática. O atendimento deve incluir o acolhimento, escuta qualificada, informações
sobre os procedimentos, atendimento clínico e psicológico, anamnese, exame físico e
complementares quando necessários. Todas essas etapas devem ser realizadas com o
máximo de respeito à privacidade e sigilo das informações, além do respeito à decisão
do paciente quanto a realização de qualquer procedimento (BRASIL, 2014).

3.3.11 A atuação do enfermeiro frente as ISTs


De acordo com Purificação (2016), o papel do enfermeiro no contexto das ISTs
envolve diversas ações, como:

• realização da consulta de enfermagem para acolhimento e avaliação do paciente;


• realização do exame físico, com atenção especial à região genital e áreas suscetíveis
à presença de lesões;
• realização de testes rápidos para diagnóstico das ISTs, tais como HIV, sífilis, hepatites
virais, dentre outros;
• prescrição e administração de medicamentos de acordo com o protocolo estabelecido,
orientando o paciente do uso correto e possíveis efeitos adversos;
• realização de ações educativas e preventivas, orientando sobre práticas sexuais
seguras, uso de preservativos, realização de exames periódicos, dentre outros;
• encaminhamento para serviços de referência em caso de necessidade de tratamentos
específicos ou acompanhamento especializado.

149
De acordo com o Núcleo de Telessaúde do Amazonas (2022), o enfermeiro deve
considerar ações de educação em saúde e assistência frente às IST/Aids, além das relações
pessoais entre o profissional e o paciente. As práticas educativas devem se concentrar na
prevenção das IST/Aids, enfatizando a importância do uso do preservativo e aumentando
a cobertura vacinal para prevenir ISTs como Hepatite B e HPV. Durante as consultas,
é importante atentar às necessidades humanas básicas e adotar uma abordagem
humanizada e holística para garantir o conforto físico, psicológico e espiritual. Na assistência
de enfermagem, é necessário oferecer aconselhamento e testagem rápida para grupos
vulneráveis e encaminhar para serviços de referência quando necessário.

DICA
Olá, futuro enfermeiro! Recomendamos a leitura dos fluxogramas
das páginas 35 a 40 dos “Protocolos da Atenção Básica: saúde das
mulheres”, para entender um pouco mais do manejo clínico das ISTs
e do papel do enfermeiro. Disponível em: https://bit.ly/3MfQjus.

4 FASES DO DESENVOLVIMENTO FEMININO


Podem ser identificados três momentos cruciais do desenvolvimento humano.
A Fase 1, conhecida como lactância, que é caracterizada por um rápido crescimento
que desacelera após o primeiro ano de vida, com uma taxa de crescimento de cerca
de 25 cm/ano. A Fase 2, a infância propriamente dita, é uma fase de crescimento mais
lento, mas constante e estável, com uma velocidade média de 4 a 6 cm/ano, que é
chamada de infantil ou pré-puberal. A velocidade de crescimento começa a se modificar
na Fase 3, a puberdade, que é novamente uma fase de crescimento rápido, com uma
aceleração e posterior desaceleração, até que o processo de crescimento seja concluído
(LOURENÇO; QUEIROZ, 2010).

O desenvolvimento puberal feminino é caracterizado pelo aparecimento das


mamas e pelo crescimento dos pelos pubianos. O início da puberdade ocorre em torno
dos 8-13 anos, sendo influenciado por fatores genéticos, nutricionais e ambientais.
Durante esse período, há um rápido crescimento e desenvolvimento do sistema
reprodutivo, sendo acompanhado por mudanças físicas e psicológicas significativas
(LOURENÇO; QUEIROZ, 2010).

O desenvolvimento mamário é um dos primeiros sinais da puberdade feminina,


com o surgimento do botão mamário que se desenvolve em torno do tecido glandular
e do tecido adiposo. As mamas podem apresentar um crescimento assimétrico e
levar cerca de 3 a 4 anos para se desenvolver completamente. Outra característica

150
importante é o crescimento dos pelos pubianos. Os primeiros pelos aparecem na região
pubiana e depois se estendem para as coxas e axilas. O padrão de crescimento varia
de acordo com a genética e pode ser influenciado por fatores hormonais e nutricionais
(LOURENÇO; QUEIROZ, 2010).

Além disso, a menarca ocorre em média após dois anos do início da puberdade,
na época de desaceleração do crescimento, sendo limitado, em média, de 5 cm pós
menarca. Como ocorrem mudanças no ciclo menstrual, com a maturação do sistema
reprodutor e a ovulação, o ciclo menstrual pode levar de 2 a 3 anos para estabilizar
completamente (LOURENÇO; QUEIROZ, 2010).

A partir de uma perspectiva psicológica, a conquista da capacidade de reprodução


ou maturidade sexual representa a principal mudança biológica da adolescência, entretanto
é importante destacar que as transformações físicas que ocorrem durante essa fase da
vida podem afetar de forma significativa o bem-estar psicológico das adolescentes, indo
muito além da capacidade reprodutiva. Tais mudanças incluem alterações na aparência e
na capacidade física, abrangendo diversos aspectos (BARON, 2009).

Figura 6 – Desenvolvimento feminino

Fonte: https://bit.ly/3On1q7r. Acesso em: 18 maio. 2023.

De acordo com Sousa (2012), a menacme refere-se ao período reprodutivo da


mulher, que compreende desde a menarca (primeira menstruação) até a menopausa
(cessação da menstruação).

O climatério é o período de transição que compreende a fase pré-menopausa, a


própria menopausa e a fase pós-menopausa, e é marcado por uma série de alterações físicas
e emocionais decorrentes da diminuição da produção hormonal ovariana (SOUSA, 2012).

A perimenopausa é a fase que antecede a menopausa, geralmente começando


aos 40 anos e durando cerca de 4 a 5 anos. Nessa fase, ocorrem mudanças hormonais
que podem levar a sintomas como irregularidade menstrual, fogachos, suores noturnos,
insônia, alterações de humor, diminuição da libido, dentre outros (SOUSA, 2012).

151
A menopausa é a fase em que a mulher tem a última menstruação, decorrente
da diminuição da produção hormonal pelos ovários. É considerada a última menstruação
após 12 meses sem menstruar. Geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos de idade
(SOUSA, 2012).

A pós-menopausa é a fase após a menopausa, em que os sintomas da


perimenopausa tendem a diminuir e a mulher passa a apresentar outras condições de
saúde relacionadas à diminuição dos níveis hormonais, como osteoporose e doenças
cardiovasculares (SOUSA, 2012).

152
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Aspectos anatômicos e fisiológicos do sistema reprodutor feminino.

• Ciclo menstrual e hormônios envolvidos.

• Cuidados com a saúde sexual e reprodutiva e doenças que acometem o sistema


reprodutor feminino.

• Desenvolvimento feminino e suas fases.

153
AUTOATIVIDADE
1 O sistema reprodutor feminino é complexo e desempenha um papel fundamental na
reprodução humana. Ele é composto por órgãos internos e externos que trabalham
em conjunto para permitir a fertilização, a gravidez e o parto. Com relação à anatomia e
fisiologia do sistema reprodutor feminino, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O óvulo é liberado pelo ovário e fertilizado na trompa uterina, antes de se implantar


no útero.
b) ( ) A camada muscular do útero é chamada de endométrio e é responsável pela
produção de hormônios sexuais femininos.
c) ( ) As glândulas de Bartholin são responsáveis pela produção de óvulos e pela
lubrificação vaginal durante o ato sexual.
d) ( ) A vagina é uma estrutura muscular que se estende desde o útero até o colo do
útero, e é responsável pela ovulação.

2 De acordo com a fisiologia do sistema reprodutor feminino, o ciclo menstrual é


regulado por uma complexa interação hormonal entre o ovário e a hipófise. Durante o
ciclo menstrual, ocorrem várias alterações hormonais e morfológicas que permitem a
ovulação e a preparação do endométrio para a implantação do embrião. Considerando
esses aspectos, a questão a seguir aborda um tema relevante para o entendimento
do ciclo menstrual. Qual é a fase do ciclo menstrual em que ocorre a ovulação e qual
hormônio é responsável por estimular a sua liberação?

a) ( ) Fase folicular, hormônio luteinizante (LH).


b) ( ) Fase luteínica, hormônio folículo-estimulante (FSH).
c) ( ) Fase secretora, hormônio luteinizante (LH).
d) ( ) Fase menstrual, hormônio folículo-estimulante (FSH).

3 “O controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), no Brasil, situa-se em


permanente transformação, o que requer protagonismo de todos os trabalhadores da
saúde” (BRASIL, 2015, p. 24). Referente às atividades dos diferentes níveis de atenção
em saúde no manejo operacional das ISTs, analise as sentenças a seguir:

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e
Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas
com infecções sexualmente transmissíveis. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em:
https://bit.ly/3MD82gG. Acesso em: 12 maio 2023.

154
I- A atenção básica é responsável por garantir o acolhimento e realizar atividades de
informação/educação em saúde.
II- É de responsabilidade dos níveis de média complexidade realizar coleta de material
cérvicovaginal para exames laboratoriais.
III- Uma das atividades dos serviços de alta complexidade é oferecer sistematicamente
estágios, cursos e treinamento em prevenção, manejo clínico e laboratorial para
profissionais de saúde dos demais níveis de atenção.
IV- Os serviços de média complexidade são responsáveis por realizar colposcopia, se
disponível, ou encaminhar a paciente para serviços de referência que disponham de
colposcópio e profissional habilitado, quando indicado.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas I e II.
b) ( ) Apenas I e III.
c) ( ) Apenas II e IV.
d) ( ) Apenas I, III e IV.

4 Quais são as principais alterações hormonais que ocorrem durante a puberdade


feminina e como elas afetam o desenvolvimento físico e emocional das meninas?

5 As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) representam um problema de saúde


pública no Brasil e no mundo, com alta prevalência em diversas populações. A DIP
é geralmente causada por bactérias sexualmente transmissíveis, como a clamídia
e a gonorreia podendo levar a complicações graves, incluindo a infertilidade. Nesse
contexto, descreva qual é o papel do enfermeiro na prevenção das ISTs?

155
156
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
CUIDADOS DE ENFERMAGEM DURANTE
O CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico, nesta unidade iremos conhecer um pouco mais da atuação
do enfermeiro na assistência à saúde da mulher em uma etapa muito importante que
precisa de cuidado e atenção, pois envolve a assistência do recém-nascido e da mulher.

Você sabia que por meio da Resolução n° 477/2015, do Conselho Federal de


Enfermagem (COFEN), a atuação do enfermeiro especializado em obstetrícia na
assistência às gestantes, parturientes e puérperas é permitido?

Não é novidade que o profissional de enfermagem possui diversas atribuições


relacionadas ao cuidado com a gestante, bem como é respaldado por variadas leis e
portarias que regulamentam sua atividade laboral e práticas privativas. Podemos citar:
a prescrição de medicamentos e solicitação de exames de pré-natal, de acordo com os
protocolos específicos dos serviços em que atua, assim como, conforme as orientações
do Ministério da Saúde.

2 A ATENÇÃO PRIMÁRIA E A SAÚDE MULHER E DA


CRIANÇA
A assistência à saúde da mulher durante os períodos pré-concepcional, pré-
natal e puerperal deve ser humanizada e de qualidade, levando em conta a integralidade,
singularidade e multidimensionalidade da pessoa, bem como o ambiente em que ela
está inserida, suas crenças, identidades e demandas. Nesse modelo de cuidado, o
foco é o ser humano e o respeito à sua integridade e dignidade, além de fomentar a
cooperação entre os serviços de saúde e outros setores da sociedade (BRASIL, 2012).

O cuidado humanizado no pré-natal é essencial para garantir um parto e


nascimento seguros, com a prevenção de agravos, diminuição da morbimortalidade
materna e fetal, fortalecimento dos potenciais da gestante, estímulo à sua autonomia e
protagonismo, preparação para a maternidade e paternidade, tranquilidade e segurança
durante todo o processo de nascimento, desde a pré-concepção até o pós-parto, e
formação da nova família (BRASIL, 2012).

157
2.1 O PRÉ NATAL DE BAIXO RISCO
Para iniciarmos mais uma etapa de conhecimento, traremos uma curiosidade:
sabia que o serviço do pré-natal se inicia antes mesmo do diagnóstico da gravidez?
Isso mesmo! No período pré-concepcional, em que a mulher realiza o planejamento
familiar e recebe as suas primeiras orientações quanto a suplementação alimentar,
exames preventivos, utilização do ácido fólico e a elaboração de intervenções de acordo
com as suas necessidades identificadas durante a anamnese. A classificação de risco
da gestante orientará o direcionamento da assistência. Quanto ao serviço no risco
habitual, este é fomentado pelas orientações do “Caderno de atenção básica pré-natal”,
implementado nas Unidades Básicas de Saúde (GOMES et al., 2019).

Oferecer uma atenção completa à saúde da mulher durante o período pré-con-


cepcional é importante para melhorar as condições existentes por meio de intervenções
precoces antes da concepção e do início do pré-natal. Essa abordagem é um instru-
mento eficaz para reduzir a morbidade e mortalidade materna e infantil. O cuidado pré-
-concepcional deve englobar ações que visem o planejamento familiar, a adoção de
hábitos de vida saudáveis e a prevenção de doenças (BRASIL, 2012).

IMPORTANTE
O pré-natal de risco habitual é destinado à gestante que não
apresenta nenhum tipo de comorbidade (duas ou mais doenças
simultâneas) ou doença que possa se agravar no período da
gestação. Já o pré-natal de alto risco, é destinado a mulheres que
já possuem ou que vão desenvolver durante a gravidez algum fator
patológico que pode afetar diretamente a gestação, por exemplo,
mulheres que já são hipertensas. Nessa fase elas precisam de
um acompanhamento de alto risco, de um olhar especializado do
médico obstetra ou outros especialistas dependendo do problema.

De acordo com as orientações do Ministério da Saúde, devem ocorrer, no mínimo


seis consultas obstétricas durante a gestação de risco habitual, alternando entre médico e
enfermeiro, nas Unidades Básicas de Saúde. Outro ponto importante é a continuidade do
atendimento, na promoção de saúde e prevenção de agravos por meio de atividades de
educação em saúde ou grupos com as gestantes, para abordar as modificações gravídicas
e promover a troca de experiências, assim como a retirada de possíveis dúvidas que possam
surgir (LIMA; SOUSA; PASSOS, 2022). A consulta pré-natal tem como objetivo principal:

• avaliar a saúde da gestante e do feto, bem como seu desenvolvimento;


• identificar possíveis fatores de risco que possam afetar o curso normal da gravidez
e encaminhar a gestante para serviços mais especializados que possam oferecer
tratamento precoce em caso de condições anormais;

158
• auxiliar a gestante, o parceiro e a família a compreender e se adaptar às novas
experiências durante a gravidez, preparando-os para o parto, pós-parto e para o
papel de pais (BRASIL, 2012).

O enfermeiro que acompanha a gestante também não pode esquecer de


estimular o acompanhamento pré-natal e a realização do pré-natal do parceiro. Nesse
momento, é possível fazer o rastreio de doenças e orientar os manejos específicos
relacionados a gestação e puerpério. Quando os pais estiverem nas últimas consultas
de enfermagem, próximas ao parto, é necessário também realizar a orientação sobre os
primeiros cuidados com o recém-nascido (RN) e a amamentação de forma adequada
para reduzir a ocorrência de problemas futuros (SEHNEM, 2020).

As ações desenvolvidas no pré-natal de acordo com o Ministério da Saúde


(BRASIL, 2012), incluem:

• confirmar a gestação por meio de sinais de presunção, como atraso menstrual ou


amenorreia de até 12 semanas e outros indicadores;
• avaliar a idade gestacional e a data provável do parto, destacando a importância do
pré-natal;
• cadastrar a gestante no SisPreNatal e fornecer o cartão da gestante;
• avaliar a saúde física, social, cultural e psicológica da gestante e promover hábitos
saudáveis;
• identificar fatores de risco e possíveis complicações, avaliar o crescimento e o
desenvolvimento fetal e adotar medidas preventivas do tétano;
• identificar a utilização de tabaco e outras dependências químicas, além de detectar
processos infecciosos e dentários;
• prevenir e identificar possíveis infecções e avaliar a situação, posição e apresentação
do feto;
• desenvolver práticas educativas sobre o ciclo grávido-puerperal e cuidados com a
gestação e o parto;
• registrar os dados no cartão e prontuário e definir um cronograma para as consultas
pré-natais;
• encaminhar a gestante em situação de risco para serviços especializados e para a
maternidade no momento do parto.

O Ministério da Saúde descreve as atribuições de cada profissional da saúde


relacionadas ao pré-natal (BRASIL, 2012), portanto são funções do enfermeiro:

• educar as mulheres e suas famílias da importância do pré-natal, amamentação e


imunização;
• fazer o registro da gestante no SisPreNatal e entregar o Cartão da Gestante completo
(que deve ser verificado e atualizado a cada consulta);
• realizar consultas de pré-natal para gestação de baixo risco com alternância entre
profissionais de saúde;
• solicitar exames complementares de acordo com o protocolo local de pré-natal;

159
• fazer testes rápidos;
• prescrever medicamentos padronizados para o programa de pré-natal, como sulfato
ferroso, ácido fólico e medicamentos para tratar DSTs, conforme o protocolo de
abordagem sindrômica;
• incentivar a vacinação de gestantes (contra tétano e hepatite B);
• identificar gestantes com sinais de alerta ou alto risco e encaminhá-las para consulta
médica. Se for considerada de alto risco e houver dificuldades para agendar a
consulta médica, a gestante deve ser encaminhada diretamente para um serviço de
referência;
• realizar exame clínico das mamas e colher amostras para exame citopatológico do
colo do útero;
• promover atividades educativas individuais e em grupo (como grupos ou atividades
em sala de espera);
• educar as gestantes e a equipe de saúde dos fatores de risco e vulnerabilidades;
• informar as gestantes da periodicidade das consultas e realizar busca ativa das
gestantes que faltaram;
• realizar visitas domiciliares durante a gravidez e período pós-parto, acompanhar o
processo de amamentação e orientar o planejamento familiar.

Enfermeiros e enfermeiros obstetras são capacitados para prestar assistência


pré-natal, parto normal sem distocia e pós-parto em hospitais, unidades de saúde ou
domicílio. Eles devem encaminhar a gestante para um médico em caso de intercorrência.
A enfermagem na atenção básica é responsável por fornecer assistência humanizada,
solicitar exames complementares, realizar testes rápidos e prescrever medicamentos
padronizados. Parteiras podem exercer suas atividades sob supervisão de enfermeiros
obstetras em instituições de saúde e, quando possível, em unidades de saúde ou em
domicílio sob controle e supervisão (BRASIL, 2012).

O enfermeiro pode realizar também o cálculo da idade gestacional, esta depende


da data da última menstruação (DUM), que é o primeiro dia de sangramento do último ciclo
menstrual. Quando a DUM é conhecida, o método de escolha é o uso do calendário ou
do gestograma. Quando a DUM é desconhecida, mas o período do mês em que ocorreu
é conhecido, considera-se os dias 5, 15 e 25 como DUM e usa-se um dos métodos
mencionados. Quando a DUM e o período são desconhecidos, a idade gestacional pode ser
determinada pela medida da altura do fundo do útero e pelo toque vaginal (BRASIL, 2012).

As formas de cálculo para estimar a data provável do parto (DPP), são baseadas
na data da última menstruação. O método mais comum é o uso do calendário ou do
disco gestograma, em que se considera a duração média da gestação normal de 280
dias ou 40 semanas a partir da DUM. Outra forma é a Regra de Näegele, que consiste
em somar sete dias ao primeiro dia da última menstruação e subtrair três meses (ou
adicionar nove meses caso corresponda de janeiro a março) ao mês em que ocorreu a
última menstruação. Caso o número de dias exceda o número de dias do mês, deve-se
passar os dias excedentes para o mês seguinte, adicionando 1 (um) ao final do cálculo
como demonstrado no exemplo do Quadro 1 (BRASIL, 2012).

160
Quadro 1 – Exemplos de cálculos da DPP

Data da última menstruação (DUM): 13/09/04


Dada provável do parto (DPP): 20/06/05 (13 + 7 = 20/9 – 3 = 6)
Data da última menstruação: 10/02/04
Dada provável do parto: 17/11/04 (10 + 7 = 17/2 + 9 = 11)
Data da última menstruação: 27/01/04
Data provável do parto: 03/11/04 (27 + 7 = 34/34 – 31 = 03/1 + 9 + 1 = 11)

Fonte: Brasil (2012, p. 72)

Outro aspecto relacionado às consultas pré-natais, é a medida da altura uterina,


realizada para avaliar o crescimento fetal durante a gestação. Ela é obtida por meio
da medida da distância entre o fundo do útero e a sínfise púbica, utilizando-se uma
fita métrica flexível. Devendo ser realizada em todas as consultas pré-natais, a partir
da 20ª semana de gestação, e é importante para identificar possíveis alterações no
crescimento fetal (BRASIL, 2012).

De acordo com o Ministério da Saúde, ela pode ser interpretada de acordo com a
idade gestacional. Para isso, utiliza-se uma curva de referência que indica o valor médio
da altura uterina em cada semana de gestação. Caso o valor da altura uterina esteja abaixo
do esperado para a idade gestacional, pode ser indicado um exame de ultrassonografia
para avaliar o crescimento fetal (BRASIL, 2012).

Figura 7 – Medida da altura uterina

Fonte: Brasil (2012, p. 96)

Além disso, o enfermeiro é responsável pelas orientações educativas específicas


para este grupo, o objetivo é desenvolver uma relação de confiança entre o enfermeiro e
a paciente, além de destacar a importância das consultas e ações educativas durante a
gestação, a fim de conscientizar sobre a relevância do pré-natal como um ambiente de
apoio e informação para as gestantes (ROCHA et al., 2021).

161
Durante o período pré-natal, é fundamental que as ações educativas enfatizem
diversos temas, tais como a importância de comparecer às consultas regulares, a
vacinação das gestantes, a realização de exames de rotina, a sexualidade, a higiene
corporal, a dieta, as alterações hormonais, os direitos trabalhistas, os cuidados com o
recém-nascido, a amamentação, o puerpério e o planejamento familiar. Esses temas
devem ser abordados para conscientizar e orientar as gestantes, a fim de garantir o
desenvolvimento saudável da gestação e do bebê, bem como a saúde e o bem-estar da
mãe (ROCHA et al., 2021).

2.2 PRINCIPAIS SINAIS DE ALERTA NA GESTAÇÃO


O enfermeiro deve orientar a gestante quanto aos sinais verdadeiros do
trabalho de parto, pois é comum entre as mulheres o deslocamento desnecessário para
as unidades de saúde, expondo-as a riscos inerentes ao transporte, assim como ao
estresse (SEHNEM, 2020).

Quando necessário, a parturiente deverá ser recebida no serviço pela equipe


de acolhimento e a sua classificação de risco deve ser avaliada adequadamente, para
que assim sejam tomadas as decisões. É essencial que o enfermeiro realize uma escuta
qualificada, possua raciocínio clínico e esteja atualizado quanto aos protocolos baseados
na literatura para atender à gestante com qualidade (GOMES et al., 2019; CHEFFER;
NENEVÊ; OLIVEIRA, 2021).

O protocolo de atendimento às urgências relacionadas ao trabalho de parto é


universal e objetiva a identificação da paciente, permite maior agilidade e segurança no
atendimento de acordo com o potencial de risco e baseado em evidências cientificas
(SEHNEM, 2020).

Conforme o Ministério da Saúde, o A&CR (Acolhimento e Classificação de Risco)


é um método de organização dos fluxos para priorizar o atendimento a pacientes com
maior gravidade e para classificar toda a demanda, começando quando a mulher chega
e apresenta sua situação (BRASIL, 2017). O protocolo de CR é uma ferramenta que
auxilia a tomada de decisão clínica e usa uma linguagem universal para as emergências
obstétricas. Seu objetivo é identificar prontamente pacientes críticas ou graves e permitir
um atendimento rápido e seguro, com base em evidências científicas. Ele consiste em
uma análise sistemática e resumida para identificar a prioridade clínica, usando chaves
de decisão que envolvem:

• alteração do nível de consciência/estado mental;


• avaliação da respiração e ventilação;
• avaliação da circulação;
• avaliação da dor (escalas)
• sinais e sintomas gerais (por especialidade ou específicos);
• fatores de risco (agravantes presentes) (BRASIL, 2017).
162
No “Manual de acolhimento e classificação de risco em obstetrícia”, do Ministério
da Saúde, estão disponíveis os Fluxogramas de CR (BRASIL, 2017):

• desmaio/mal-estar geral;
• dor abdominal/lombar/contrações uterinas;
• dor de cabeça, tontura, vertigem;
• falta de ar;
• febre/sinais de infecção;
• náuseas e vômitos;
• perda de líquido vaginal/secreções;
• perda de sangue via vaginal;
• queixas urinárias;
• parada/redução de movimentos fetais;
• relato de convulsão;
• outras queixas/situações.

DICA
Acesse os fluxogramas (páginas 39 a 50), na íntegra, disponíveis
em: https://bit.ly/3BDBe11.

São atribuições do enfermeiro do A&CR, conforme o Ministério da Saúde:

• Receber as fichas de atendimento, avaliando de forma ágil e


responsável a prioridade da mulher, de acordo com a queixa
apresentada;
• Chamar a mulher pelo nome, solicitando também a presença de
um acompanhante caso seja desejo da usuária;
• Acolher a mulher e acompanhante de forma cordial e responsável;
• Classificar o risco com rapidez e eficiência, seguindo o protocolo
adotado;
• Anexar a ficha de “notificação de violência”, quando houver
suspeita ou confirmação de caso;
• Registrar dados da classificação na ficha de atendimento,
sinalizando por meio de cores a classificação da mulher;
• Registrar classificação no mapa do A&CR;
• Orientar a mulher de forma clara quanto à sua situação e quanto
ao tempo de espera do atendimento;
• Entregar a ficha de atendimento ao técnico para que seja colocada
nos consultórios;
• Reclassificar as usuárias sempre que forem identificadas
alterações pela equipe;
• Estar integrado com a equipe multiprofissional do centro
obstétrico/maternidade, buscando melhor resolutividadeda
atenção;

163
• Supervisionar o trabalho do técnico/auxiliar de enfermagem e
estagiário, orientando corretamente quando necessário;
• Realizar passagem de plantão regularmente, não é permitido
abandonar o plantão sem que outro funcionário o assuma;
• Registrar em livro próprio as ocorrências do setor (BRASIL, 2017, p.
25-26).

As atribuições do enfermeiro obstetra, em conformidade com o Ministério da


Saúde, incluem:

• Atender as mulheres que a eles competem, de forma acolhedora,


de acordo com protocolo institucional e com o acesso imediato ao
obstetra, quando necessário;
• Comunicar a equipe de enfermagem sobre a conduta adotada:
admissão, observação, reavaliação ou alta da mulher;
• Preencher as fichas das mulheres vítimas de violência e proceder
ao tratamento segundo protocolo específico;
• Estar integrado com a equipe multiprofissional do centro
obstétrico/maternidade, buscando melhor resolutividade quanto
aos problemas da mulher;
• Realizar passagem de plantão regularmente, não podendo deixá-
lo sem que outro funcionário o assuma.
• Realizar acompanhamento obstétrico da mulher e recém-nascido,
sob seus cuidados, da internação até a alta (BRASIL, 2017, p. 27).

2.3 INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E OBSTÉTRICAS


As intercorrências clínicas obstétricas mais frequentes estarão descritas a
seguir, abrangendo diabetes gestacional, síndrome hipertensiva na gestação, síndromes
hemorrágicas e doença hemolítica perinatal. Além disso, há outras queixas que são mais
comuns na gestação que são ocasionais e não refletem em patologias mais complexas,
como exemplo podemos citar: náusea, vômitos, tonturas, pirose (azia), sialorreia
(salivação excessiva), lombalgia e queixas urinárias. A maioria delas desaparecem sem
o uso de medicamentos, que devem ser evitados durante a gestação (BRASIL, 2012).

IMPORTANTE
Lembre-se, acadêmico, essas são apenas algumas das intercorrências
clínicas obstétricas, no entanto, para um conhecimento mais abran-
gente sobre o tema, leia o Caderno de Atenção Básica nº 32 “Atenção
ao pré-natal de baixo risco”. Disponível em: https://bit.ly/3IiNyar.

164
2.3.1 Diabetes mellitus gestacional
Durante a gestação, o diabetes mellitus gestacional (DMG) é o problema
metabólico mais comumente observado, afetando entre 3% e 13% das gestações. No
Brasil, a prevalência estimada de DMG entre as gestantes com mais de 20 anos é de 7,6%.
É recomendado que a triagem para DMG seja oferecida a todas as gestantes durante o
pré-natal, levando em consideração os fatores de risco. O exame deve ser solicitado na
primeira consulta e/ou entre 24 e 28 semanas de gestação, de acordo com os fatores de
risco para DMG. É importante que a gestante e seu acompanhante sejam devidamente
orientados dos riscos e benefícios do rastreamento de DMG e das possíveis complicações
associadas ao diabetes (BRASIL, 2012).

2.3.2 Síndromes hipertensivas na gestação


A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma complicação comum durante
a gravidez, afetando 5% a 10% das gestações, e é uma das principais causas de
morbimortalidade materna e perinatal. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são
essenciais para melhorar os resultados maternos e perinatais. A definição de hipertensão
na gravidez considera os valores absolutos de PA sistólica > 140 mmHg e/ou diastólica de
> 90 mmHg, com a PA diastólica identificada pela fase V de Korotkoff. A HAS na gravidez
é classificada em hipertensão crônica, hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia, eclâmpsia
e pré-eclâmpsia superposta à HAS crônica. O diagnóstico diferencial pode ser difícil em
pacientes que apresentam hipertensão após a 20ª semana de gestação e não podem
informar com precisão seus níveis pressóricos anteriores. O exame de proteinúria é
fundamental no diagnóstico de hipertensão gestacional, possibilitando o manejo precoce
das gestantes e diminuindo os riscos de morbimortalidade materna e fetal (BRASIL, 2012).

Segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, a HAS na


gestação é classificada nas seguintes categorias principais:
Hipertensão crônica: estado hipertensivo registrado antes do
início da gestação no período que precede a 20ª semana de gravidez
ou além de doze semanas após o parto. Esta condição não está
associada a edema e proteinúria (salvo se houver dano renal antes
da gravidez) e persiste depois de 12 semanas após o parto;
Hipertensão gestacional: aumento da pressão arterial que ocorre
após a 20ª semana de gestação, mais frequentemente perto do parto
ou no puerpério imediato, sem proteinúria. Normalmente, a PA se
normaliza nas primeiras 12 semanas de puerpério, podendo, por isso,
ser definida como “transitória”, embora a condição geralmente recorra
em 80% das gestações subsequentes. Acredita-se que tais mulheres
são propensas a desenvolver hipertensão arterial essencial no futuro.
Quando a hipertensão persiste, ela é denominada como “crônica”. É
um diagnóstico basicamente retrospectivo, pois as complicações
das pacientes que no momento da avaliação se apresentam sem
proteinúria podem evoluir com pré-eclâmpsia;
Pré-eclâmpsia: aparecimento de hipertensão e proteinúria (300
mg ou mais de proteína em urina de 24h), após 20 semanas de
gestação, em gestante previamente normotensa. É uma desordem
multissistêmica, idiopática, específica da gravidez humana e do
puerpério, relacionada a um distúrbio placentário que cursa com

165
vasoconstricção aumentada e redução da perfusão. O edema
atualmente não faz mais parte dos critérios diagnósticos da síndrome,
embora frequentemente acompanhe o quadro clínico;
Eclâmpsia: corresponde à pré-eclâmpsia complicada por convulsões
que não podem ser atribuídas a outras causas;
Pré-eclâmpsia superposta à HAS crônica: é definida pela elevação
aguda da PA, à qual se agregam proteinúria, trombocitopenia ou anor-
malidades da função hepática em gestantes portadoras de HAS crônica,
com idade gestacional superior a 20 semanas (BRASIL, 2012, p. 179).

Independentemente da gravidade do quadro clínico, toda paciente com


diagnóstico de pré-eclâmpsia deve ser hospitalizada para acompanhamento em
unidade de gestação de alto risco (BRASIL, 2012).

É importante que a gestante receba acompanhamento pré-natal para que possa


ser orientada da importância de uma alimentação balanceada e saudável. A prevenção
da hipertensão gestacional é crucial, e para isso a paciente deve ser monitorada
constantemente em um ambiente calmo e tranquilo, evitando o desgaste físico e
emocional que pode levar ao estresse e outras complicações. A equipe de enfermagem
tem desempenhado um papel positivo no tratamento dessas gestantes, fornecendo
informações essenciais para um tratamento adequado (RIBEIRO; LIMA; SILVA, 2013).

2.3.3 Síndromes hemorrágicas


Durante a gravidez, algumas das principais situações hemorrágicas incluem:
abortamento, descolamento cório-amniótico, gravidez ectópica e neoplasia trofoblástica
gestacional benigna (mola hidatiforme) na primeira metade da gestação; e placenta prévia
(PP) e descolamento prematuro da placenta (DPP) na segunda metade. É importante
realizar um exame ginecológico, especialmente o especular, para diferenciar outras causas
possíveis de hemorragia e evitar o toque vaginal, que pode ser prejudicial no caso de
placenta prévia. Para mulheres identificadas como Rh negativo, a imunoprofilaxia Rh deve
ser valorizada quando o parceiro é Rh positivo ou desconhecido. Caso haja eliminação de
material pelo colo uterino, compatível com restos ovulares, é necessário providenciar um
exame anatomopatológico (BRASIL, 2012).

2.3.4 Doença hemolítica perinatal


A Doença Hemolítica Perinatal (DHP) é uma condição em que ocorre a hemólise
fetal, com consequências graves para a saúde do feto. Essa condição é causada pela
incompatibilidade sanguínea entre a mãe e o feto, em que anticorpos maternos atacam
os antígenos eritrocitários do feto que atravessaram a barreira placentária. A transfusão
de sangue com fator Rh positivo para mulheres com fator Rh negativo é um pré-
requisito para o desenvolvimento da DHP. Embora essa doença possa ser causada por
outros sistemas de incompatibilidade sanguínea, a incompatibilidade do sistema Rh é
responsável pela maioria dos casos clinicamente detectáveis da DHP (BRASIL, 2012).
166
De acordo com o Ministério da Saúde, as células do sangue materno e fetal
não se misturam, mas pequenos sangramentos podem permitir o contato. No início, os
anticorpos produzidos são IgM, que não conseguem atravessar a placenta, no entanto
há produção de anticorpos IgG, que são moléculas pequenas capazes de atravessar a
barreira placentária e causar a destruição das hemácias fetais, levando a um quadro
progressivo de anemia (conforme demonstrado na Figura 8) (BRASIL, 2012).

O feto então inicia uma produção de eritrócitos compensatória na medula


óssea, fígado e baço, liberando eritroblastos jovens e imaturos na circulação, resultando
em uma importante hepatoesplenomegalia. Conforme o quadro progride, o feto pode
sofrer de hidropisia fetal (acúmulo excessivo de líquido), hipertensão do sistema porta
(compressão dos vasos sanguíneos pelo tecido hematopoiético), hipoproteinemia
(insuficiência na produção de proteínas) e evoluir para insuficiência cardíaca congestiva,
anóxia e óbito (BRASIL, 2012).

As atitudes preventivas conforme com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2012, p.


186) são:

Período pré-gestacional: detecte a mulher com risco de


desenvolver isoimunização maternofetal, pela solicitação da tipagem
sanguínea com definição do fator Rh. Caso se identifique fator Rh
negativo, deve-se pesquisar a presença do anticorpo anti-D, por
meio do teste de Coombs indireto;
Período pré-natal: adote medidas recomendadas para o período
pré-gestacional, caso ainda não tenham sido realizadas. A
preocupação nesta fase é a instalação da DHP. Se forem identificados
anticorpos anti-D (Coombs indireto positivo), as gestantes devem ser
encaminhadas ao pré-natal de alto risco, no qual se determinará a
intensidade da hemólise provocada no feto e poderão ser indicados
procedimentos invasivos com maior brevidade. Caso o Coombs
indireto resulte negativo, ele deve ser novamente solicitado a cada 4
semanas, após a 24ª semana gestacional;
Período pós-natal: tem o objetivo de proteger as gestações
futuras. Promove-se, na gestante com Rh negativo, a pesquisa
do grupo sanguíneo e do fator Rh no sangue do recém-nascido,
assim como o teste de Coombs direto para verificar a presença de
anticorpos maternos anti-D no seu sangue. Se o recém-nascido for
Rh positivo e seu Coombs direto for negativo, a mãe deverá receber a
imunoglobulina protetora.

167
Figura 8 – Doença hemolítica perinatal

Fonte: a autora

3 ASSISTÊNCIA À PARTURIENTE
O Sistema Único de Saúde, mediante a Portaria n° 11, de 7 de janeiro de 2015,
define as diretrizes para a implantação e habilitação de Centro de Parto Normal para o
acolhimento da mulher e do recém-nascido, desde a implantação da Rede Cegonha,
como vimos na unidade anterior (FERREIRA et al., 2021).

Atualmente, o parto é frequentemente medicalizado e intervencionista, o que


retira a autonomia e privacidade da parturiente e sua família. Infelizmente, muitas
mulheres são atendidas por profissionais desconhecidos e desinteressados em seu
bem-estar, o que pode levar a crença equivocada de que esse tipo de assistência é
mais seguro para mãe e bebê. É importante ressaltar que o parto humanizado não
se restringe ao parto vaginal, pois a cesariana é uma opção válida quando indicada
corretamente (MILANEZ et al., 2011).

A partir do momento em que a gestante entra em trabalho de parto (TP), ela


é considerada uma parturiente e é papel do enfermeiro e de sua equipe, acompanhar
a mulher por meio do partograma, assim como, iniciar os primeiros cuidados de
enfermagem no monitoramento materno-fetal e manejos relacionados a prevenção de
problemas e a segurança de todo o processo (LIMA; SOUSA; PASSOS, 2022).

Existem vários cuidados de enfermagem que precisam de atenção para garantir


a qualidade da atenção ofertada à parturiente, dentre eles podemos citar: oferta de
conforto físico, que, “pode ser aumentado pelo uso de técnicas de massagem e
relaxamento, posturas variadas, música, métodos de respiração e práticas alternativas,
que favoreçam o bom desenvolvimento do trabalho de parto e forneça conforto e
segurança a mulher e seu bebê” (MOURA et al., 2007, p. 454).

168
Além disso, o enfermeiro tem um papel fundamental em vários momentos do
processo de nascimento, e o acolhimento é um deles. As orientações e o apoio psicológico
são essenciais para encorajar e fortalecer as mulheres durante esse momento difícil
(MILANEZ et al., 2011).

A comunicação é uma ferramenta crucial para construir confiança e apoio


psicológico à parturiente, seja por meio do diálogo, da expressão corporal ou de gestos e
olhares. Vale destacar também, que é de grande relevância um acompanhante escolhido pela
parturiente para oferecer apoio, segurança, tranquilidade e confiança (MILANEZ et al., 2011).

No primeiro período do trabalho de parto, o enfermeiro deve checar a identificação


da paciente e acolhê-la de forma adequada, oferecendo orientações do procedimento
e realizando a admissão da paciente, incluindo histórico, exame físico e avaliação
do cartão de pré-natal. O enfermeiro também deve avaliar e registrar observações
importantes, como a frequência das contrações, o tônus uterino, a ausculta intermitente
dos Batimentos Cardíacos Fetais (BCF), a altura uterina, o exame vaginal, a temperatura
e pressão arterial, o pulso e as perdas vaginais, registrando tudo no prontuário eletrônico
e no partograma. O enfermeiro deve ainda oferecer uma dieta leve mínima em resíduo,
recursos não farmacológicos de alívio da dor e encorajar a parturiente a se movimentar
e adotar posições verticalizadas (BRASIL, 2019).

No segundo período do parto, é importante que o enfermeiro obstetra


siga alguns passos na assistência à paciente, tais como: acolher a parturiente e/ou
acompanhante e orientá-los do procedimento. É necessário anotar o horário do início do
segundo período para controlar a sua duração. Se a dilatação completa for confirmada
em uma mulher sem analgesia regional, é preciso realizar uma nova avaliação após uma
hora. Além disso, é necessário avaliar e registrar as observações sobre a frequência das
contrações, tônus uterino, ausculta dos batimentos cardíacos fetais, sinais vitais, dentre
outros (BRASIL, 2019).

É importante incentivar a parturiente a adotar posições verticalizada, lateralizada


ou semissentada, na qual ela se sinta confortável, respeitando a sua escolha, apoiar
a realização de puxos espontâneos e evitar puxos dirigidos. É possível considerar a
aplicação de compressas mornas no períneo e a realização de massagem perineal.
É recomendado não realizar episiotomia de rotina durante o parto, mas, se houver
indicação, deve-se realizar o procedimento com uso de analgesia e consentimento
da mulher, assim como realizar a anestesia local e a episiorrafia, que é a sutura das
lacerações de primeiro e segundo grau, exclusivamente pelo enfermeiro obstetra. O
desprendimento da cabeça do feto deve ser controlado com proteção ativa do períneo
e existem duas opções: "mão sobre" ou "mãos prontas". É necessário verificar se há
circular cervical de cordão e realizar o desprendimento dos ombros do recém-nascido
(BRASIL, 2019).

169
Durante a assistência no terceiro período do parto, é necessária a orientação
à paciente e/ou ao acompanhante, acerca da revisão do canal de parto, da recepção
do recém-nascido no tórax da mãe com contato pele a pele, da estimulação da
amamentação, da ligadura oportuna do cordão umbilical, da coleta de sangue do cordão
umbilical para tipagem sanguínea do recém-nascido, da administração de dez unidades
internacionais de Ocitocina, da realização da tração controlada do cordão, do exame da
placenta e membranas, da antissepsia de períneo em caso de laceração, da colocação
de campo fenestrado, da sutura de lacerações ou episiotomia após analgesia com fio
vicryl 2-0, do uso de técnica subcutânea contínua e da observação do sangramento
para detectar risco de choque hipovolêmico. É importante ressaltar que a anestesia local,
a episiotomia e a episiorrafia devem ser realizadas exclusivamente pelo enfermeiro
obstetra (BRASIL, 2019).

No quarto período as ações podem ser realizadas pelo enfermeiro, enfermeiro


obstetra, técnico/auxiliar de enfermagem. É importante aferir e anotar sinais vitais, bem
como observar o sangramento transvaginal, a involução uterina e a formação do globo
de segurança de Pinard a cada 30 minutos durante as duas primeiras horas após o
parto. Além disso, é necessário determinar a relação do fundo uterino com a cicatriz
umbilical, avaliar a loquiação quanto a coloração, odor e quantidade, e monitorar os
sinais vitais da paciente a cada 30 minutos durante as duas primeiras horas após o
parto (BRASIL, 2019).

Lembre-se! É preciso conhecer o fluxo de atendimento ao binômio (mãe-


bebê) para melhor assistir aos pacientes, por isso o enfermeiro está presente no
centro obstétrico, inserido na sala de pré-parto, sala de parto, no pós-parto e na
sala de reanimação do RN. Quando a mãe e o RN permanecem estáveis, ou seja, não
apresentam indicação de UTI neonatal (RN) e UTI geral (puérpera), são encaminhados
para o Alojamento Conjunto, onde deverão ser acompanhados até a total recuperação,
assim como receberem os cuidados relacionados ao puerpério e amamentação correta
(GOMES et al., 2019, SILVA et al., 2019).

A assistência à puérpera envolve os cuidados imediatos ainda na sala de


parto e, em seguida, as orientações e observações quanto as mudanças fisiológicas
referentes ao estado pré-gravídico, bem como relativos ao pós-parto, para que a mulher
desenvolva maior segurança e conhecimento desse momento (GOMES et al., 2019).

Durante a estadia na sala de parto, a equipe de enfermagem deve verificar os


sinais vitais de forma constante, os quais, precisam ser avaliados com responsabilidade
para garantir o controle do estado geral da puérpera, além de favorecer as ações mais
eficazes em caso de necessidades de emergência ou até mesmo para a percepção da
necessidade de intervenções farmacológicas durante o TP ou após ele imediatamente,
preservando a segurança dos envolvidos (CHEFFER; NENEVÊ; OLIVEIRA, 2021).

170
Para que você possa entender melhor, as principais atribuições do enfermeiro são:

• identificar e avaliar os sangramentos: tipo de sangramento, intensidade, coloração;


• explicar à puérpera a diferença entre as hemorragias (indicam perigo) e os lóquios
(perda de sangue fisiológica, que envolve muco e tecidos uterinos após o parto);
• prestar os cuidados com o períneo da mulher, o qual pode estar lacerado, ou em
casos específicos e necessários;
• realizar o manejo não farmacológico no períneo com o objetivo de reduzir edemas e
desconfortos na mulher, assim como reduzir os possíveis riscos de infecção no local,
se o parto ocorreu por via vaginal;
• por fim, avaliar o processo de cicatrização do procedimento cirúrgico, em casos de
cesariana, assim como realizar a higiene local e fazer as trocas de curativo (SANTOS
et al., 2022).

Outro procedimento essencial que deve ser realizado ainda em sala de parto, é o
estímulo ao aleitamento materno durante a golden hour (primeira hora), pois esse ato
favorece o contato direto entre o binômio, além de fortalecer as repostas imunológicas
oferecidas pela composição do colostro materno e estreito de vínculo. Por fim, os
cuidados com as mamas, cicatriz cirúrgica e os cuidados gerais também são atividades
da equipe de enfermagem, a qual deve fornecer os cuidados com uma linguagem clara
e segura (SEHNEM, 2020).

Outros aspectos importantes que devem ser aplicados durante todo o processo
são: a adesão de boas práticas em obstetrícia, preconizando a assistência humanizada;
e o estímulo da autonomia da gestante, respeitando suas escolhas e lhe assegurando
em cada momento é fundamental para a boa execução do exercício da enfermagem
obstétrica. A sobrecarga de atividades, principalmente no setor público, não deve
interferir na prestação de cuidados. Isto é, as potencialidades devem sempre ser
encorajadas (LIMA; SOUSA; PASSOS, 2022).

Além disso, a enfermagem deve fornecer apoio emocional e estimular o


empoderamento da mulher, assim como incentivar a participação do parceiro em todos
os momentos desde o pré-natal até o pós-parto, servindo como suporte em todos os
casos (FERREIRA et al., 2021).

Como você pode observar, a atuação do enfermeiro não é linear e apresenta


importância viral dentro da equipe de saúde, seja em um parto por via vaginal, ou ainda
no procedimento cirúrgico de cesárea. O enfermeiro possui responsabilidades voltadas
ao registro e a burocracia, como também no cuidado direto e especial a mulher em seus
quatro estados: o de planejamento conceptivo, pré-natal, parto/pós-parto e puerpério
(CHEFFER; NENEVÊ; OLIVEIRA, 2021).

171
4 O ALEITAMENTO MATERNO
O aleitamento materno é essencial para o estabelecimento do vínculo entre a
mãe e o bebê, pois estimula afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais
sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil.
Além disso, permite ainda um elevado impacto na promoção da saúde integral de
ambos. A partir do aleitamento materno adequado, a introdução de alimentos seguros,
acessíveis e culturalmente aceitos na dieta da criança, em época oportuna e de forma
adequada, será mais fácil e desenvolvida com maior segurança, de forma sustentável
e equitativa para a promoção da alimentação saudável em consonância com os direitos
humanos fundamentais e para a prevenção de distúrbios nutricionais de grande impacto
na saúde pública (FERREIRA et al., 2021).

Recomenda-se o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais,


devendo ser ofertado de modo exclusivo até os seis meses de idade, quando se inicia
a introdução alimentar. Além disso, o leite materno possui anticorpos que protegem
a criança de possíveis infecções, porém a implementação das ações de proteção e
promoção do aleitamento materno e da adequada alimentação complementar depende
de esforços coletivos intersetoriais e constitui enorme desafio para o sistema de saúde,
numa perspectiva de abordagem integral e humanizada (SILVA et al., 2019).

4.1 QUAIS SÃO OS CASOS EM QUE O LEITE MATERNO É


CONTRAINDICADO?
Quando a mulher apresentar doenças cardíacas, renais, pulmonares ou hepáticas
graves, depressão e psicose grave ou uso de drogas incompatíveis com a amamentação,
infectadas pelo HIV ou pelo vírus T-linfotrópicos humanos tipo I ou II, na quimioterapia/
radioterapia oncológica materna, em crianças com galactosemia, doença rara em que
ela não pode ingerir leite humano ou qualquer outro que contenha lactose, dentre
outras condições que impossibilitam a amamentação temporariamente ou definitiva.
Nas demais doenças causadas por outros vírus, bactérias e fungos, o profissional de
saúde deve realizar uma avaliação, mas na maioria dos casos, o aleitamento materno é
mantido, pelo efeito protetor que oferece (FERREIRA et al., 2021).

Na maioria das vezes, não há nenhuma contraindicação para uma mãe amamentar
seu bebê, se esse for o seu desejo. As restrições, quando existem, podem ser definitivas
ou temporárias. Mulheres infectadas com os vírus HIV (vírus da Aids) ou HTLV (vírus que
afeta a imunidade das pessoas) não devem amamentar, pois existe o risco desses vírus
serem transmitidos para a criança pelo leite materno. Somente a vacina de febre amarela,
em mães que estejam amamentando crianças abaixo de 6 meses de vida, tem como
recomendação a suspensão do aleitamento materno por dez dias (LIMA; SOUSA; PASSOS,
2022).

172
São poucos os medicamentos usados pela mãe que impedem a amamentação,
entre eles, por exemplo, os usados na quimioterapia, mas para a maioria dos remédios não
há problema, mesmo para os antibióticos e os antidepressivos. Dentre as diversas opções
para um tratamento, o profissional poderá escolher aquela que seja mais segura para ser usada
durante a amamentação. Às vezes poderá ser necessário suspender temporariamente o
aleitamento durante o tratamento. Mães que sejam usuárias regulares de drogas ilícitas
(maconha, cocaína, crack, anfetamina, ecstasy e outras) não devem amamentar seus filhos
enquanto estiverem fazendo uso dessas substâncias (SANTOS et al., 2022).

Em algumas outras situações (algumas infecções, exame com radiofármacos,


consumo eventual de álcool etc.) é recomendado que se suspenda o aleitamento
materno temporariamente, sempre sob a orientação de profissionais de saúde. O tempo
sem amamentação varia de acordo com cada situação. A mulher precisa ser orientada
como proceder para manter a produção de leite durante o período em que ela não pode
amamentar (OLIVEIRA et al., 2022).

Quando a suspensão da amamentação for transitória, se for possível programar,


a mulher pode tentar retirar o leite antes da suspensão, para ser oferecido à criança
durante o período em que ela não puder amamentar. Esse leite pode ser mantido 12 horas
na geladeira e até 15 dias congelado. Enquanto isso, é importante que a mãe continue
estimulando a produção do seu leite, com retiradas de leite regulares, nos horários em
que a criança costumava mamar. Assim, quando ela puder voltar a amamentar, terá leite
suficiente para alimentar o seu filho (SEHNEM, 2020).

4.2 INTERCORRÊNCIAS E COMPLICAÇÕES DO ALEITAMENTO


MATERNO
Existem inúmeros fatores que interferem na amamentação, em especial as
complicações mamárias, que podem ocorrer durante o aleitamento materno, em especial
nos primeiros dias de internação, em decorrência da apojadura. Dessa maneira, o manejo
inadequado ou a ausência do leite durante a ocorrência da complicação, pode influenciar na
introdução de fórmulas lácteas desnecessariamente, com consequente desmame precoce.
Dessa forma, na sua ocorrência, devem ser manejadas ainda no alojamento conjunto,
permitindo a condução com auxílio de pessoal especializado (GOMES et al., 2019).

IMPORTANTE
Uma mulher produz até um litro de leite por dia. Uma criança
consome entre 200 e 250 ml a cada mamada. O alimento é rico
em DHA, uma fração do ômega 3 que, dentre outras funções no
nosso organismo, participa da formação de células nervosas, ao
mesmo tempo em que facilita a comunicação entre elas.

173
Com relação às complicações mamárias no pós-parto relacionadas à
amamentação, foram identificados 36 (58%) casos de trauma mamilar, 22 (35,4%) casos
de ingurgitamento mamário, 3 (5%) casos de trauma mamilar e ingurgitamento mamário
concomitantemente e 1 (1,6%) caso de abscesso mamário. As intercorrências mamárias
relacionadas à lactação identificadas foram, fissura mamilar, ingurgitamento mamário e
mastite. Dentre as intercorrências mamárias, as que incidiram com maior frequência na
amostra de puérperas foram: ingurgitamento mamário (28,3%), fissura mamilar (7,6%) e
mastite (2,8%) (SILVA et al., 2019, SANTOS et al., 2022).

No que concerne os sinais e sintomas secundários às complicações mamárias


relacionadas à amamentação, do total de casos identificados de trauma mamilar,
33 (91,7%) mulheres apresentaram fissuras, 25 (69,4%) apresentaram sensação de
queimação e 18 (50%) apresentaram eritema, além de apresentarem outros sintomas
como edema, prurido e algia. Do total de casos identificados de ingurgitamento mamário,
todas apresentaram aumento das mamas e algia, sendo que 8 (36,4%) apresentaram
a mama edemaciada e 1 (4,5%) apresentou febre. As mulheres que apresentaram
ingurgitamento mamário e trauma mamilar, 2 (66,7%) relataram os sinais e sintomas de
mama edemaciada, aumento das mamas, algia e fissura e 1 (33,3%) relatou apresentar
mama edemaciada, algia, fissura e sensação de queimação. A paciente que apresentou
o caso de abscesso mamário, relatou sinais e sintomas de calafrio, algia, febre, mama
edemaciada, eritema, mama quente e pus (OLIVEIRA et al., 2022).

4.3 ALEITAMENTO MATERNO E O PAPEL DO ENFERMEIRO


É fundamental que o enfermeiro e a equipe multidisciplinar desempenhem
um papel essencial no auxílio e orientação das mães, não se limitando a simplesmente
fornecer informações e educá-las. É necessário orientá-las adequadamente no manejo
e na pega do peito, de forma a garantir que a alimentação do bebê seja adequada e que
a mãe desfrute de um momento agradável e eficaz. Embora a amamentação pareça
simples, é um processo que requer um conjunto complexo de condições interacionais
no contexto social da mulher e de seu filho.

A presença de patologias mamárias pode resultar em um desmame prematuro,


razão pela qual a atuação do enfermeiro junto a essas mães é de extrema importância. O
objetivo é fornecer informações detalhadas e orientações adequadas, a fim de promover
uma experiência agradável e saudável tanto para as mães quanto para os bebês.

A técnica de amamentação, incluindo o posicionamento adequado da dupla


mãe/bebê durante a amamentação e a pega/sucção correta do bebê, são cruciais para
garantir que o bebê possa retirar o leite da mama de maneira eficiente, sem causar lesões
nos mamilos da mãe. Além disso, é importante que profissionais de saúde trabalhem
em conjunto com as mulheres, promovendo a saúde e incentivando a amamentação,
oferecendo apoio em momentos de dificuldade durante a prática.

174
De acordo com o Ministério da Saúde, o enfermeiro deverá observar a mamada,
considerando diferentes itens, como: as roupas da mãe e do recém-nascido (RN)
devem ser adequadas (não devem restringir movimentos), a mãe deve estar em posição
confortável, o corpo do bebê deve estar voltado a mãe (barriga a barriga) e estar próximo,
o braço inferior do RN não deve estar entre o corpo da mãe e o dele. Além disso, outras
recomendações são: o bebê deve abocanhar, além do mamilo, parte da aréola, o queixo
toca na mama e as narinas ficam livres. Os lábios se curvam para fora e as mandíbulas
se movimentam, bem como a deglutição é visível e/ou audível (BRASIL, 2009).

Figura 9 – Pega correta

Fonte: Brasil (2009, p. 22)

175
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Os protocolos da APS na saúde da mulher durante a fase gravídica puerperal.

• A atuação da enfermagem obstétrica.

• As transformações físicas, psicológicas e sociais da mulher nessa fase.

• A educação em saúde e a maior segurança e vinculação da mulher ao profissional.

176
AUTOATIVIDADE
1 A gestação é um período especial em que o enfermeiro tem o papel de realizar as
consultas de pré-natal, auxiliar a mulher na compreensão do período gestacional, o
que envolve modificações pessoais e de sua família, acompanhar gestações de baixo
risco, solicitar exames de rotina e orientar tratamento de acordo com o protocolo
institucional, e assim como, coletar exame citopatológico. Durante esse período, é
comum que a mulher apresente inseguranças e incertezas, por isso o enfermeiro
precisa informar à mulher quais os momentos específicos considerados alarmantes,
os quais, necessitarão de apoio e acompanhamento profissional. Com relação aos
sinais de alerta na gestação, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as
Falsas:

( ) Cefaleia contínua.
( ) Contrações de Braxton Hicks.
( ) Náuseas intensas e persistentes.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – F.
c) ( ) V – F – V.
d) ( ) F – F – V.

2 Durante as consultas de enfermagem de pré-natal, a enfermeira deve abordar a


temática do aleitamento materno, tendo em vista que é o momento da construção
de um processo importante. É fundamental considerar todas as expectativas da
gestante e sua família, história(s) anterior(es) de amamentação e esclarecer dúvidas.
Em todas as consultas a temática pode ser pontuada, entretanto é interessante que
uma delas seja destinada apenas à abordagem da amamentação. Fica a critério do
profissional ser consulta individualizada ou em grupo com outras gestantes. Ações
coletivas podem ser benéficas no sentido de facilitar a troca e fortalecer uma rede de
apoio entre mães. Independentemente de ser coletiva ou individual, é sempre bom
que a mulher esteja acompanhada com uma pessoa da sua rede de apoio, para ser
alvo da educação também. Acerca do tema proposto, analise as sentenças a seguir:

I- As situações especiais em que existe a contraindicação da amamentação incluem


hepatite B, tuberculose bacilífera, catapora, psicose puerperal e o uso de algumas
medicações.
II- Dentre as principais complicações do aleitamento materno existem: mastite, trauma
mamilar, ingurgitamento mamário e bloqueio ductal.
III- As mulheres que possuem prótese de silicone nas mamas não podem amamentar
devido ao risco acentuado de transmissão de toxinas ao bebê.

177
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O parto de risco refere-se a complicações que podem aumentar o risco tanto para a
parturiente quanto para o bebê durante o trabalho de parto e o parto em si. Existem
várias condições que podem contraindicar o parto vaginal em casos de risco. Acerca
das contraindicações consideradas para o parto de risco habitual, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as Falsas:

( ) Gestantes que apresentem condições crônicas prévias como doenças autoimunes,


cardiopatias e alterações genéticas.
( ) Aumento de peso, sem exceções.
( ) Antecedentes pessoais de parto com alto risco.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Durante o trabalho de parto, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na


assistência à gestante, fornecendo cuidados físicos, emocionais e educacionais.
Descreva quais são as atribuições do enfermeiro durante o trabalho de parto.

5 O pré-natal é uma ferramenta essencial de acompanhamento da mulher durante


todo o período gestacional. As consultas poderão ser feitas na unidade de saúde ou
durante visitas domiciliares. Assim, de acordo com a Portaria n° 520, de 1 de junho
de 2000, qual a periodicidade estabelecida pelo Ministério da Saúde para a realização
das consultas de pré-natal?

178
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
SAÚDE DA MULHER NO CLIMATÉRIO

1 INTRODUÇÃO
Você já ouviu falar em climatério? O conceito de climatério diz respeito à transição
da mulher do ciclo reprodutivo para o não reprodutivo, o qual pode ocorrer entre os 40 e 65
anos. É uma fase fisiológica da vida da mulher e um período que pode vir acompanhado de
mudanças psicossociais, afetivas, sexuais, familiares e ocupacionais, que podem refletir
nos demais aspectos da vida, o que pode envolver a forma como essa mulher compreende
esse momento.

Para compreendermos melhor essa fase, é essencial conceituar o termo


“menopausa” como um marco importante do período climatérico, e pode ser definido
como a interrupção permanente da menstruação, cujo diagnóstico é realizado de forma
retroativa, após 12 meses consecutivos da ausência da menstruação, conhecida como
amenorreia, na faixa etária dos 48 a 50 anos de idade.

É importante mencionar que a menopausa pode ocorrer de forma precoce, antes


dos 40 anos, evento marcado pela falência ovariana precoce. Nestes casos, é essencial
o manejo correto da situação, excluindo-se, por exemplo, a gravidez. A confirmação do
climatério e da menopausa é essencialmente clínica, ou seja, não é necessário realizar
dosagens hormonais.

Devemos lembrar que o ser humano é plural e que nenhum organismo é igual ao
outro, por isso, muitas mulheres podem passar pelo climatério sem queixas, porém outras
podem apresentar queixas diversificadas e com intensidades diferentes. A apresentação
universal é a ocorrência da irregularidade menstrual, assim como os fogachos e suores
noturnos, muito comuns nesse momento.

Uma característica importante que merece destaque é a ênfase nas queixas


que mais interferem na qualidade de vida da mulher no climatério, as de ordem
psicossocial e afetiva, por isso o enfermeiro precisa realizar a abordagem humanizada
dessas mulheres, com o mínimo de intervenção possível, já que o reconhecimento do
climatério é essencialmente clínico e a maior parte das manifestações pode e deve ser
manejada com hábitos de vida saudáveis, medidas comportamentais e autocuidado.

Fique atento! O envelhecer é um processo biológico, não patológico, o que


requer dos profissionais da saúde o cuidado puramente ético, com abordagem que
considere a educação para a saúde e o estímulo da qualidade de vida.

179
2 FISIOLOGIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO CLIMATÉRIO
Como vimos anteriormente, algumas mulheres poderão apresentar manifestações
clínicas desagradáveis ou simplesmente mudanças, as quais necessitarão de intervenções
rápidas e eficazes dos profissionais envolvidos no cuidado (SANTOS; PINTO, 2022). São elas:

• menstruais: as pacientes podem apresentar o intervalo entre as menstruações mais


curtos ou mais longos do que o habitual, além disso o fluxo pode ser abundante e
com maior duração;
• neurogênicas: são caracterizadas pela presença das ondas de calor, também
conhecidas como fogachos, o que pode vir acompanhado de sudorese, calafrios,
palpitações, cefaleia, dentre outras alterações que necessitam de avaliação;
• psicogênicas: as alterações neste nível são marcadas pela diminuição da autoestima,
irritabilidade, ausência de estabilidade emocional, características depressivas,
dificuldade de memorização e concentração, dificuldades sexuais e insônia.
• urogenitais: a mucosa pode tornar-se mais delgada, o que pode ocasionar os
prolapsos genitais, assim como o ressecamento e sangramento vaginal, dor durante
a relação sexual, e/ou ao urinar, aumento da frequência e da urgência ao urinar.
• metabolismo lipídico: com as mudanças nos níveis de estrogênio nesse período, é
importante considerar a ocorrência de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares
isquêmicas, devido ao aumento das frações de LDL e TG, assim como a redução da HDL.
• metabolismo ósseo: podem ocorrer mudanças no metabolismo ósseo, que podem
ser agravadas também por características genéticas, composição corporal, estilo
de vida, hábitos (como tabagismo e sedentarismo) e comorbidades. É essencial
considerar a maior ocorrência de lesões nas regiões da coluna e do colo do fêmur.
• ganho de peso e modificação no padrão de distribuição de gordura corporal:
tendência ao acúmulo de gordura na região abdominal. Lembre-se que a adoção de
hábitos mais saudáveis como a prática regular de exercícios e alimentação adequada
reduz a chance de ocorrer essa manifestação desagradável.

Após conhecer todas as modificações, você já parou para pensar em qual o


primeiro passo para melhorar a qualidade de vida dessa mulher? O que podemos fazer?
Quem pode intervir? Como intervir?

Alguns procedimentos podem auxiliar na investigação e intervenção para


melhorar o atendimento à mulher. Vamos conhecer um pouco mais sobre eles?

O primeiro deles é a realização do acolhimento com escuta qualificada, em


que será possível realizar a identificação dos motivos que fizeram com que a paciente
procurasse o serviço, assim é mais fácil realizar o direcionamento do atendimento. A
presença de equipe multiprofissional também é um ponto importante para que ocorra
a avaliação global da mulher. Durante a entrevista, informações essenciais como a data
da última menstruação, utilização de métodos anticoncepcionais, tabagismo, história
familiar de câncer de mama, assim como a data da última coleta de citopatológico do
colo do útero, devem ser realizadas (MELO; SILVA; GIOTO, 2019).

180
Outras perguntas que não poderão ser esquecidas pelo profissional que estará
realizando a abordagem são: presença de sangramento genital pós-menopausa; a
existência de queixas e outras demandas relacionadas ao ciclo de vida, realização de
exame físico geral, sempre considerando problemas cardiovasculares e cânceres de
mama e colo do útero, bem como a avaliação dos dados vitais e antropométricos, risco
cardiovascular, exame ginecológico, para que assim a confirmação do climatério ocorra
(GOMES CARNEIRO et al., 2020).

Como vimos, a confirmação do climatério e menopausa é eminentemente clínica,


sendo desnecessárias dosagens hormonais, porém, em casos específicos que possam
ocasionar dúvida diagnóstica, é possível dosar FSH (valores acima de 40 mUI/ml indicam
hipofunção ovariana; valores inferiores não confirmam climatério) (ANDRADE et al., 2020).

Não esqueça que a abordagem à mulher deve ser integral, assim não deve
anular a aplicação de práticas integrativas e complementares, em especial a fitoterapia.
Alguns fitoterápicos podem auxiliar no alívio dos sintomas presentes no climatério, em
especial os fogachos, as ondas de calor relatadas por um grande número de mulheres
(BELÉM et al., 2021).

A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) possui alguns


fitoterápicos, porém o único que está associado ao tratamento dos sintomas do climatério é
a isoflavona, da soja (PILAR; MENDES; BATISTA, 2020).

É essencial a realização de ações de prevenção de forma individualizada,


em especial quanto a existencia doenças crônico-degenerativas cardiovasculares,
metabólicas e neoplásicas, de acordo com faixa etária, história, fatores de risco e
comorbidades, além disso, é interessante estimular a mulher a participar de rodas de
conversa, para que ocorram trocas de experiência entre as pacientes e, assim, facilitar o
processo de transição para uma nova fase (CURTA; WEISSHEIMER; 2020).

IMPORTANTE
Tente memorizar as principais queixas das mulheres nessa fase, como vimos no texto
anterior: presença de ondas de calor ou fogachos – episódios que causam a sensação de
calor na face, pescoço e parte superior do tronco, geralmente acompanhados de rubor facial,
suores, palpitações no coração, vertigens, cansaço muscular. Fique atento, pois, quando
mais intensos, podem atrapalhar as tarefas do dia a dia; irregularidades na duração dos
ciclos menstruais e na quantidade do fluxo sanguíneo; manifestações como dificuldade para
esvaziar a bexiga, dor e pressa para urinar, perda de urina, infecções urinárias e ginecológicas,
ressecamento vaginal, dor à penetração e diminuição da libido; sintomas psíquicos – a
redução dos níveis de hormônios femininos interfere com a liberação de neurotransmissores
essenciais para o funcionamento harmonioso do sistema nervoso central, fazendo com
que aumentem as queixas de irritabilidade, instabilidade emocional, choro descontrolado,
depressão, distúrbios de ansiedade, melancolia, perda da memória e insônia; alterações na

181
pele, que perde o vigor, nos cabelos e nas unhas, que ficam mais
finos e quebradiços; alterações na distribuição da gordura o corpo,
fazendo com que se concentre mais na região abdominal; perda de
massa óssea característica da osteoporose e da osteopenia; risco
aumentado de doenças cardiovasculares: a doença coronariana é a
principal causa de morte depois da menopausa.

3 INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM FRENTE ÀS


PRINCIPAIS QUEIXAS ASSOCIADAS AO CLIMATÉRIO
Durante o climatério, período de transição entre a fase reprodutiva e a não reprodutiva
da mulher, podem surgir diversas queixas e sintomas que podem impactar a qualidade de
vida. O enfermeiro desempenha um papel importante na assistência às mulheres nessa
fase, oferecendo intervenções direcionadas às principais queixas associadas ao climatério.

3.1 TRATAMENTO NÃO HORMONAL


Este método terapêutico pode proporcionar uma melhora nos sintomas vaso-
motores, especialmente em casos leves ou moderados, assim como em quadros de
ansiedade e depressão.

• Ciclofenil: ação na redução do FSH e prolactina (200 a 400 mg/dia).


• Veraliprida: ação em nível central (100 mg/dia).
• Tranquilizantes ou ansiolíticos: de preferência, diazepínicos.
• Clonidina: atuação central (0,1 mg/2xdia): ação hipotensora, agonista alfaadrenérgico.
• Nicergolina, 300 mg/dia: ativadora do metabolismo cerebral.
• Propanolol, 80 mg/dia: ação betabloqueadora.
• Antidepressivos: Carbonato de lítio 300 mg/dia: ação central; Imipramina 25 a 50mg/
dia: ação central, Nomifensina 25 a 50 mg/dia: ação central.
• Antidepressivos tetracíclicos: Cloridrato de fluoxetina 20mg/dia: ação central (UFSC,
2016, p. 96).

Os moduladores seletivos de receptores de estrogênio, conhecidos como Serm,


têm a capacidade de proporcionar os benefícios do estrogênio sem seus possíveis riscos.
O raloxifeno, um Serm de segunda geração, apresenta vantagens como diminuição
da perda óssea, ausência de efeito no endométrio e efeito protetor contra o câncer
de mama, embora ainda seja objeto de estudo quanto ao seu papel na prevenção
secundária de doenças cardiovasculares. Alguns estudos sugerem aumento de doenças
tromboembólicas e outros contraindicam o uso devido ao risco de doença coronariana,
sendo necessário confirmar por meio de pesquisas. O raloxifeno também pode causar
fogachos e câimbras. Por outro lado, o tamoxifeno tem ação benéfica na circulação para
osteoporose e proteção contra o câncer de mama (UFSC, 2016).
182
Há ainda os fitoestrógenos, proveniente de plantas, e possuem atividade
biológica semelhante à dos estrogênios, diminuindo a incidência de fogachos. Ainda
são benéficos para a saúde cardiovascular (UFSC, 2016). As três principais classes de
fitoestrogênios são:

• Isoflavonas, que são as mais importantes e com maiores ações


estrogênicas, destacando-se a genisteína e a daidzeína, presentes
em grande quantidade na semente ou gérmen de soja, na ervilha
verde, na lentilha, no feijão e seus derivados e em legumes.
• Coumestanos, com destaque ao coumestrol, encontrado em
brotos de feijão, da soja e, principalmente, da alfafa.
• llignanos, destacando-se o enterodiol e a enterolactona, encon-
trados em grãos oleosos como a linhaça, farelos de cereais, cereais
integrais, vegetais, legumes e frutas (UFSC, 2016, p. 97).

Além dessas medidas, há também o tratamento fitoterápico utilizando plantas


medicinais, homeopatia e acupuntura como tratamentos alternativos (UFSC, 2016).

INTERESSANTE
Você sabia? O tratamento homeopático está disponível no SUS.

3.2 ABORDAGEM NÃO FARMACOLÓGICA


Deve envolver educação em saúde, abrangendo a orientação individual e coletiva
para as mulheres acerca de pontos como: a ressignificação do climatério do ponto de
vista biopsicossocial, enfatizar que, como nas demais fases da vida, o climatério também
pode ser experimentado de forma saudável, produtiva e feliz, incentivar e promover a
troca de experiências entre as mulheres e a realização de atividades prazerosas, de lazer,
de trabalho, de aprendizagem, de convivência em grupo, de acordo com os desejos,
necessidades e oportunidades das mulheres e coletivos (SANTOS; PINTO, 2022).

Além disso, o enfermeiro pode identificar as queixas do climatério, as quais


observamos anteriormente, assim como o estímulo à execução de exercícios da musculatura
perineal, alimentação saudável, estímulo a alimentação rica em vitamina D e em cálcio,
por meio do consumo de leite, iogurte, queijos (principais fontes), couve, agrião, espinafre,
taioba, brócolis, repolho, sardinha e castanhas (SCHMALFUSS; SEHNEM; ROSSETTO, 2020).

Outras orientações envolvem a manutenção do peso normal, a prática de


atividade física, por 150 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada/
semana (sejam ocupacionais ou de lazer), sendo ao menos 10 minutos de atividades
físicas de forma contínua por período.

183
Promover a realização de atividades de fortalecimento muscular duas ou
mais vezes por semana, além de práticas corporais que envolvem lazer, relaxamento,
coordenação motora, manutenção do equilíbrio e socialização, diariamente ou sempre
que possível, alterações e medidas de promoção à saúde bucal, prevenção e tratamento
de Infecções sexualmente transmissíveis, HIV, hepatites (DA SILVA; DIAS; OLIVEIRA, 2019).

Como vimos, a osteoporose é comum, por isso é importante o estímulo à


prevenção primária da doença e prevenção de quedas, devido ao risco de fraturas
associadas. As orientações podem abranger a orientação da dieta rica em cálcio (1.200
mg/dia) e vitamina D (SCHMALFUSS; SEHNEM; ROSSETTO, 2020).

O enfermeiro também pode aconselhar a paciente à exposição solar, sem


fotoproteção, por pelo menos 15 minutos diariamente antes das 10h ou após as 16h,
suplementação de cálcio e vitamina D só está recomendada se não houver aporte
dietético adequado desses elementos e/ou exposição à luz solar, recomendar exercícios
físicos regulares para fortalecimento muscular e ósseo, melhora do equilíbrio e da
flexibilidade (DA SILVA; DIAS; OLIVEIRA, 2019).

É importante também aconselhar a cessação do tabagismo e a redução do


consumo de bebidas alcoólicas e de cafeína, avaliar fatores de risco para quedas como
a ambiência doméstica e o uso de psicotrópicos.

Em um contexto geral, os cuidados que o enfermeiro pode desenvolver juntamente


ao NASF (Núcleos de Apoio à Saúde da Família), quanto à saúde da mulher no climatério,
estão listados a seguir, de acordo com a Universidade Federal de Santa Catarina:

a) Realizar a avaliação nutricional por meio do IMC e orientar dietas,


ressaltando a importância da mastigação adequada.
b) período pós-menopausa, a mulher deve ingerir 1000 mg/dia
de cálcio. Por isso, orientar que evite ingerir alimentos ricos em
cálcio em conjunto com fibras vegetais, pois elas diminuem a sua
absorção. Ainda, orientar ao uso de café e sal com moderação,
uma vez que o sódio e a cafeína facilitam a excreção de cálcio.
c) Orientar a realização de exercícios, regulares, de baixo impacto,
estando devidamente nutridas e hidratadas. Estimular atividades,
como caminhada, corrida, natação, ciclismo e outros exercícios,
entre eles a musculação após avaliação médica.
d) Orientar exercícios de Kegel para o reforço da musculatura do
assoalho pélvico e a conservação de sua estática.
e) Propiciar espaços de lazer e ocupações para mulheres nesta
faixa etária. Orientar para a prática de atividades laborativas,
como escultura, tear, pintura, tricô, para escutar músicas, dançar,
conversar com as amigas, ler bons livros, atualizar-se, entrar em
contato com outras gerações e aprender com elas.
f) Manter um ritmo de vida adequado. O importante não é tanto o
número de horas de sono, mas a disposição com que se acorda.
g) Encaminhar ao especialista para identificar ou rastrear fatores de
risco para doenças crônicas ou agravos e tratar, se necessário:
doenças cardiovasculares; câncer de colo uterino, de ovário,
de endométrio e de mama; hipertensão; hipotireoidismo;
osteoporose; diabetes etc.

184
h) Orientar para ficar atenta aos sinais que indicam doenças e
depressão e procurar ajuda; encaminhar para psicoterapia, caso
seja necessário.
i) Orientar sobre os riscos e benefícios da terapia hormonal,
fitoestrógenos, fitoterápicos, homeopatia e acupuntura,
indicações e contraindicações destes.
j) Orientar na perimenopausa com relação ao uso dos métodos
contraceptivos – oral combinado ou com progesterona e injetável,
DIU, métodos de barreira, camisinha feminina e masculina,
espermicida, diafragma, anéis vaginais e os anticoncepcionais
transdérmicos e implantes. Lembre-se que qualquer método
deve estar associado ao uso de preservativo para evitar IST.
k) Informar que podem viver sua sexualidade. Viver com intensidade o
prazer e a sua sexualidade, deixando de lado os tabus e as culpas.
É necessário conversar com o companheiro, evitando conflitos
conjugais, comuns nesse período, decorrentes do desconhecimento
dele sobre as transformações inerentes ao climatério, e solicitar
mais carinho, mais aproximação, mais companheirismo, para viver a
sexualidade plenamente (UFSC, 2016, p. 99-100).

3.3 ABORDAGEM FARMACOLÓGICA (TERAPIA HORMONAL – TH)


Você já ouviu falar em terapia de reposição hormonal? Saiba que é um tratamento
importante para mulheres que sofrem de sintomas mais graves advindos da fase do
climatério, porém deve ser feito um acompanhamento médico rigoroso durante todo o
período, visto que a terapia estrogênica pode acarretar vários efeitos colaterais severos
(DA SILVA; DIAS; OLIVEIRA, 2019).

Embora o estrógeno já esteja disponível para venda há mais de seis décadas,


as mulheres ainda permanecem confusas quanto ao risco e aos benefícios da
terapia hormonal na menopausa (THM), terapia estrogênica isolada ou associada a
progestágenos (SCHMALFUSS; SEHNEM; ROSSETTO, 2020).

A publicação de estudos controlados, randomizados, como o Heart and Estrogen/


Progestin Replacement Study (HERS) e Women’s Health Initiative (WHI), intensificou
essa controvérsia risco/benefício. Milhares de mulheres são tratadas com THM para
alívio dos sintomas menopausais, incluindo sintomas vasomotores e sudorese, principal
indicação da estrogenoterapia. Outras podem persistir no tratamento na esperança de
prevenir doenças crônicas. A manutenção da massa óssea e a prevenção de fraturas
são efeitos do estrógeno já bem estabelecidos.

Estudos observacionais dos efeitos metabólicos e vasculares do estrógeno


sugerem um benefício em potencial na redução do risco de doenças vasculares, mas
estudos randomizados e controlados não demonstraram nenhuma evidência de que a
terapia hormonal pudesse beneficiar as mulheres com doença vascular previamente
instalada ou em mulheres aparentemente saudáveis.

185
O aumento do risco de câncer de mama e doença tromboembólica tem se confir-
mado nesses estudos. A incidência em números absolutos de efeitos adversos é baixa
e o risco individual no primeiro ano de tratamento é muito baixo. Os riscos são cumulativos
com o tempo de uso. A relação risco/benefício deve ser individualizada (GOMES; ARAÚ-
JO; MAGALHÃES, 2021).

186
LEITURA
COMPLEMENTAR
ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER CLIMATÉRICA:
UMA REVISÃO DE LITERATURA

Bruna Mickaelly Silva de Souza


Eulaine Carolino Santos
Giullia Campos Moreira
Rebeka Oliveira da Costa
Sheila Cristina de Almeida Rodrigues
Andrey Hudson Interaminense Mendes de Araújo

1 Introdução

Ao observar o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística [IBGE] (2021), o Brasil conta com uma população de mais de 212 milhões
de habitantes, e, dentro desta projeção do ano de 2021, cerca de 3,30% da população
feminina, corresponde às mulheres com idade entre 45 e 49 anos, desta forma, podemos
perceber o aumento da expectativa de vida das mulheres no que se refere aos cuidados
da saúde climatérica (RAPKEVICZ et al., 2020).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que até o ano de 2025, a


expectativa de vida das mulheres nos países em desenvolvimento chegará a ser de
78 anos (LIMA et al., 2019). Em virtude disso, poderá haver uma progressão no número
de mulheres que vivenciam os sintomas climatéricos presumindo-se que passem mais
de um terço da vida em estado de deficiência hormonal (BELIZÁRIO et al., 2021). Por
isso, é importante assegurar que a saúde da mulher seja monitorada ao longo da vida,
visto que a informação, a prevenção e o diagnóstico precoce podem ajudar a reduzir os
agravos (MOTA et al., 2021).

Cerca de 50% a 70% das mulheres demonstram piora na qualidade de vida,


durante e após o período do climatério. Além do aparecimento dos desconfortos físicos
como fogachos, tabus vivenciados (preconceitos perpetuados pela sociedade), são
fatores diretamente relacionados a agravos emocionais e psicológicos como ansiedade,
depressão e até mesmo dispareunia (BISOGNIN et al., 2015).

Desta forma, para garantir a qualidade de vida dessas mulheres, o acesso à


informação em relação as alterações hormonais, aos sintomas apresentados e o
atendimento especializado, tornam-se um grande aliado nessa fase (MEIRA et al., 2021).

187
Outra situação relevante que podemos compreender é que um número
significativo de mulheres acaba por não procurar o atendimento de saúde, por acreditarem
não haver o necessário acolhimento das queixas e sintomas por elas apresentadas,
relatando não terem a devida atenção fornecida pelos profissionais da saúde. Assim,
perdas do ânimo, do desejo sexual, da estrutura óssea, vão atrapalhando o cotidiano,
fragilizando a si e suas relações interpessoais nos diversos ambientes frequentados
(BISOGNIN et al., 2015).

Optar pelo tratamento medicamentoso como principal terapêutica, não assegura


que seja a alternativa com maior eficácia para resolutividade da sintomatologia (GELATTI
et al., 2016).

Por essa razão, é importante que o enfermeiro ofereça suporte a estas mulheres,
por meio por exemplo da escuta qualificada e converse de maneira a passar as devidas
orientações necessárias podendo sugerir como melhoria e implementação, por parte do
paciente a rotina de exercícios físicos (BRASIL, 2016).

Além disso, essa mudança de comportamento pode auxiliar também no


controle das doenças crônicas (obesidade, diabetes e hipertensão), uma vez que
essas comorbidades associadas, são diretamente correlacionados às mulheres, a um
agravamento no estado de saúde (SILVA et al., 2016). A pandemia da Covid-19, afetou a
oferta e o acesso dos serviços de saúde, inclusive os direcionados ao acompanhamento
da saúde multidisciplinar e contínua das mulheres na menopausa. Observamos que
devido a essas limitações, houve uma interrupção quanto aos cuidados da saúde
da mulher no que se refere a terapia de reposição hormonal, exacerbando assim os
sintomas e os fatores de risco para tromboembolismo (obesidade, tabagismo, diabetes,
hipertensão), além dos efeitos adversos causado pela Covid-19.

Logo, mesmo que a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares


(PNPIC) conceda aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) suas práticas de saúde,
baseadas no modelo de atenção humanizada e centrada na integralidade do indivíduo
e mantenha a visão ampliada do processo saúde-doença corroborada para uma
abordagem mais humanizada, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento
do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e na
sociedade (BRASIL, 2018).

Faz se necessário, contudo, considerar as necessidades apontadas pelas


mulheres, de modo que elas possam reassumir o controle de suas vidas, podendo
discernir as mudanças no próprio corpo e como isso vai implicar em sua saúde (CARDOSO;
CAMARGO, 2017). Diante deste cenário apresentado, o estudo parte da seguinte pergunta
norteadora: “Como é ofertada a assistência para as mulheres climatéricas no Brasil?” O
objetivo deste trabalho é, com base na literatura recente, avaliar a assistência prestada
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às mulheres climatéricas.

188
2 Metodologia

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura utilizando as bases de dados


Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS) e na Bases de dados em enfermagem (BDENF), no período
de fevereiro a novembro de 2021. Foram utilizados na busca dos artigos científicos os
seguintes descritores contidos no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), seguidos do
operador booleano “and”: climatério and enfermagem; climatério and políticas públicas;
e climatério and saúde da mulher. Utilizou-se como critérios de inclusão, previamente
estabelecidos na estratégia de busca dos artigos: artigos originais publicados entre 2016 e
2020, em língua portuguesa e disponíveis na íntegra. Na exclusão de artigos, os seguintes
critérios de exclusão foram aplicados: materiais publicados anterior a 2016, artigos em
outros idiomas, revisões bibliográficas e temas que fugiam da temática escolhida.

Após a leitura na íntegra de todos os trabalhos que estão inclusos nesta


revisão de literatura, emergiram-se três temas: a implementação de exercício físico
para melhoria dos sintomas climatéricos; o papel do enfermeiro na atenção à saúde da
mulher climatérica; e a escassez de políticas públicas voltadas para o climatério.

[...]

4.1 A implementação de exercício físico para melhoria dos sintomas climatéricos

A maioria das mulheres apresentam alguma queixa relacionada ao climatério,


algumas têm sintomas mais presentes outras não. Foi visto dentro dos estudos que as
mulheres mais ativas tinham sintomas menos severos comparados com as mulheres
menos ativas (VIEIRA et al., 2018). A prática de exercícios físicos influencia a secreção de
β-endorfinas hipotalâmica, auxiliando na redução das ondas de calor e garantindo uma
melhora no humor durante o período. Mulheres fisicamente ativas, apresentam menores
intensidades quanto aos sintomas relacionados ao psicológico (PROBO et al., 2016).

De modo geral, a prática de exercícios físicos auxilia na melhoria de sintomas


somáticos e físicos, inclusive, proporcionando menor intensidade dos sintomas que são
causados durante o climatério. Dentro dos estudos foi possível analisar que as mulheres
que eram mais ativas fisicamente praticam em sua maioria atividades físicas como
caminhadas, pilates, musculação, dança ou hidroginástica (CURTA; WEISSHEIMER, 2020).

Sob uma perspectiva da literatura, observa-se que diversos apontamentos com


relação à prática de exercícios indicam resultados extremamente positivos no impacto da
qualidade de vida de mulheres no climatério. Tratamentos utilizados na redução dos sintomas
do climatério, envolvem “mudanças na alimentação, exercícios físicos e até tratamentos de
reposição hormonal (TRH) ou não hormonais”. Tais alternativas demonstram que o período
do climatério não precisa ser um período de intenso sofrimento, mas pode ser adequado à
prática regular de exercícios que pode fornecer a estas mulheres, mudanças na rotina e na
resposta do corpo que influenciam positivamente outros aspectos da vida (VIEIRA et al., 2018).

189
[...]

4.2 O papel do enfermeiro na atenção à saúde da mulher climatérica

O papel da enfermagem é largamente discutido na literatura sob os mais variados


aspectos. No âmbito dos cuidados da saúde da mulher climatérica, há uma significativa
redução destas publicações, provavelmente devido aos poucos estudos relacionados a
essa intersecção. Ao longo da fase do climatério, a mulher enfrenta alguns efeitos das
transformações biológicas que estão ocorrendo dentro dela. Nesse ponto, o papel do
enfermeiro é o de auxiliador, de capacitador e de orientador de como passar por esse
período sem que se perca o valor pela vida ou a autoestima (CURTA et al, 2020).

O papel dos profissionais da saúde básica é importantíssimo, servindo como um


guia para que estas mulheres saibam o que e como fazer para lidar com as dificuldades
que surgem das mudanças internas do corpo (LUZ; FRUTUOSO, 2021) A enfermagem,
mais especificamente, a atenção fornecida pelo profissional, é uma ferramenta
extremamente necessária para a orientação destas mulheres, explicando a elas como
as mudanças ocorrem, quais os impactos sobre o ciclo menstrual, o aumento do peso,
a sudorese e as ondas de calor intenso, incentivando modelos alternativos de tratamento
e evidenciando que existem métodos de cuidado que podem garantir uma passagem
mais tranquila por este período (BANAZESKI et al., 2021).

No âmbito da promoção da saúde e da qualidade de vida, a enfermagem tem


papel fundamental na identificação das alterações clínicas e nas anormalidades que
podem aparecer durante esta fase. A enfermagem, sob uma abordagem mais humanizada
e preocupada em dar visibilidade a estas mulheres, ainda carece de desenvolvimento,
mas é fundamental que fique evidente o quanto o profissional de enfermagem detém um
papel extremamente necessário aos cuidados de tais mulheres (PATRÍCIO et al., 2020).

Muitas mulheres não compreendem, exatamente, quais são as mudanças


causadas pelo climatério. Justamente por isso que o papel da enfermagem se sobressai,
no acolhimento e no incentivo à busca por informações. A preparação destes profissionais
para entender qual o tipo de abordagem a ser utilizada é extremamente fundamental,
garantindo assim que estas mulheres sejam ouvidas e atendidas, recebam o cuidado
necessário dos serviços públicos de saúde. É nesse processo que se constroem
programas de acolhimento mais efetivos, assim como treinamento de profissionais para
que estes estejam preparados para atenderem aos problemas enfrentados por estas
mulheres (VIEIRA et al., 2018).

190
O climatério causa nas mulheres (depressão, secura vaginal, cefaleia, irritabilidade,
dificuldade de concentração, dentre outros), surgindo por meio de três fases: a pré-
menopausa, a perimenopausa e a pós-menopausa, causando desconforto e outros
problemas com os quais é muito mais fácil conviver se as informações relacionadas a
estas são orientativas. Frente a isso, a enfermagem é um dos elementos determinantes
na qualidade de vida da mulher, porque essa profissão é capaz de orientar e de acolher,
estabelecendo uma relação efetiva entre a mulher, espaço público de saúde e acolhimento
(JÚNIOR et al., 2016).

Destaca-se, nesse sentido, que o papel do profissional de enfermagem não só


se relaciona aos cuidados do climatério, mas precisa se fazer presente. Observa-se,
contudo, algumas lacunas relacionadas a esse processo, especificamente no que tange
a maior visibilidade destas mulheres no atendimento e nos cuidados, tendo em vista
que esse período não recebe o mesmo desenvolvimento acadêmico e científico quando
comparado às mulheres puérperas (LUZ et al., 2021).

4.3 Escassez de políticas públicas voltadas para o climatério:

Existe pouco interesse em estudos relacionados ao climatério, em especial no


que tange a compreender como as mulheres se sentem durante este período. Para
os autores, existe uma lacuna acadêmica nesse sentido, assim como uma falta de
acolhimento de modo geral, justamente pela pequena visibilidade que este grupo de
mulheres encontra na sociedade (BANAZESKI et al., 2021).

Nenhum programa efetivo que tenha sido desenvolvido no âmbito da saúde


básica está, de fato, sendo aplicado na sociedade para garantir melhorias na qualidade
de vida destas mulheres. Posto isso, verifica-se uma lacuna no atendimento a elas, pela
falta de profissionais preparados, de programas públicos direcionados a orientações
básicas e ao acompanhamento que auxilie na qualidade de vida durante o climatério.
É possível considerar que a saúde da mulher é bastante seletiva, praticamente
condicionada de forma exclusiva às questões reprodutivas (LUZ et al., 2021).

A leitura dos textos aponta uma dificuldade quanto aos cuidados no climatério no
que tange à busca por informações. Poucas são as orientações para mulheres nessa
fase da vida, o que se associa, possivelmente, a uma temática de estudo que não se
apresenta como interesse superior. É evidenciada a escassez de políticas públicas no
que tange aos cuidados de mulheres no climatério. Os autores apontam “inexistência
de ações centradas na população feminina no climatério, pois apesar dos esforços
este campo de atuação não se estabelece como prioritário” (PATRÍCIO et al., 2020, p.
3), indicando uma prevalência do interesse de saúde pública no sistema reprodutivo
(PATRÍCIO et al., 2020).

191
O que surge disso, é uma assistência extremamente fragmentada, que ainda
precisa ser desenvolvida com maior afinidade para com as necessidades destas
mulheres. Verifica-se um conhecimento sumário delas sobre si e o período pelo qual
estão passando, restringindo atendimentos mais específicos apenas a casos que
apresentam gravidade ou problemas que condicionam a existência destas mulheres a
sofrimento e problemas relacionados à saúde (PATRÍCIO et al., 2020).

Os cuidados nesse período exigem uma rede de apoio e atendimento, isto porque
este é um período delicado da vida feminina, em que as mudanças fisiológicas exigem
adaptações, tanto físicas como psicossociais, somam-se outras variáveis potencialmente
negativas, especialmente se estas mulheres estão empregadas, exercem funções
domésticas ou precisam contribuir no sustento da casa. O cansaço, a solidão e os problemas
relacionados a este período precisam ser melhor explorado no sentido de instituir políticas
públicas que sejam voltadas para mulheres climatéricas (ALBUQUERQUE et al., 2019).

“O fato de o climatério ser caracterizado por mudanças biológicas, psíquicas


e sociais talvez induza a associá-lo com doença e nesta fase as mulheres acabam
sendo medicadas com psicotrópicos em demasia”, apontam Vieira et al. (2018, p. 41),
indicando que a falta de estudos nesse sentido, que objetivem investigar as diferentes
possibilidades de cuidado e identificação desse período, precisa evoluir. Nota-se,
inclusive, que há pouca orientação da própria equipe de atendimento básico para lidar
com os problemas oriundos do climatério (VIEIRA et al., 2018).

5 Considerações Finais

O climatério é representado como a passagem da fase reprodutiva para a


não reprodutiva, causando várias mudanças no corpo e na vida da mulher. O estudo
ressalta a necessidade de uma maior preocupação com as mulheres que vivenciam
o climatério, pois nas unidades de saúde não existem orientações específicas para
esta fase. Como não há ações apropriadas e instruções de como fazer o acolhimento,
muitos profissionais não sabem como acolher adequadamente essas mulheres focando
somente nos sintomas clínicos da menopausa.

É importante que os profissionais acolham estas mulheres implementando-


as dentro das ações que já são realizadas na Atenção Primária à Saúde (APS), como
na consulta de hiperdia e no preventivo, onde poderá ser feito a educação em saúde,
explicar a fase que estão vivenciando, sua sintomatologia e os tratamentos disponíveis.

Vale ressaltar que o estudo apresentou algumas limitações. Não existem, ao


que se pode observar na literatura analisada, políticas públicas que melhor qualifiquem
o atendimento destas mulheres, ou mesmo que gerem movimentos de instrução e
orientação para que elas possam lidar com as mudanças ocorridas nesta fase. Profissionais
envolvidos diretamente com o cuidado à saúde da mulher, precisam ser precursores de
um movimento que não invisibilize estas mulheres, mas que as coloque em destaque e
permita que o sistema de saúde público passe a atentar-se às suas necessidades.
192
O fato de não existirem muitos artigos sobre o tema escolhido e de ter poucas
políticas públicas relacionadas ao climatério, dificultou a pesquisa. Existe a necessidade
de que sejam elaborados mais artigos e trabalhos futuros acerca desta temática,
visando assim uma maior abrangência do cuidado e nos serviços prestados as mulheres
climatéricas.

Fonte: SOUZA, B. M. S. de et al. Assistência à saúde da mulher climatérica: uma revisão de


literatura. Research, Society and Development, Vargem Grande Paulista, v. 10, n. 17, p. 1-9, 2021.
Disponível em: https://bit.ly/45en9EU. Acesso em: 13 maio. 2023.

193
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Os princípios fundamentais da atenção à saúde da mulher no climatério.

• A importância da ética nas relações entre profissional e usuária.

• A fisiologia do envelhecimento.

• Visão holística da mulher quanto aos aspectos sexuais e reprodutivos nesse período

194
AUTOATIVIDADE
1 Durante o climatério, período de transição entre a fase reprodutiva e a não reprodutiva
da mulher, podem surgir diversas queixas e sintomas que podem impactar a qualidade
de vida. O enfermeiro desempenha um papel importante na assistência às mulheres
nessa fase, oferecendo intervenções de enfermagem direcionadas às principais
queixas associadas ao climatério. Com relação aos cuidados de enfermagem à
mulher climatérica, analise as sentenças a seguir:

I- Desestimular a utilização de preservativos durante as atividades sexuais, devido às


alterações dos níveis hormonais com ressecamento da mucosa vaginal, assim como
devido ao risco reduzido de aquisição de Infecções sexualmente transmissíveis na
faixa etária.
II- Estímulo à autovalorização e à autoestima da mulher com objetivo de promover a
longevidade e a qualidade de vida.
III- Orientar o uso de lubrificantes vaginais durante a relação sexual, hidratantes a base
de óleos vegetais durante os cuidados corporais diários.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças II e III estão corretas
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.

2 Quando as mulheres relatam fogachos e sudorese noturna durante o climatério,


existem algumas orientações que os enfermeiros podem fornecer para ajudar a lidar
com esses sintomas. Com relação às orientações adequadas para mulheres que
relatam fogachos e sudorese noturna, analise as sentenças a seguir:

I- Evitar bebidas alcoólicas e cafeína; praticar atividade física.


II- Dormir em ambiente bem ventilado; usar tecidos que deixem a pele respirar; não
fumar; realizar hidratação.
III- Consumir alimentos ricos em mate, chá preto e chocolates.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

195
3 A menopausa é um processo natural que marca o fim da fase reprodutiva da mulher.
É definida como a cessação permanente da menstruação, que ocorre devido à
diminuição gradual da produção de hormônios sexuais, principalmente estrogênio
e progesterona, pelos ovários. Com relação à menopausa, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O período posterior a essa fase é denominado irregularidade menstrual.


( ) O climatério é a fase que compreende dois anos antes da última menstruação,
sendo menopausa a última menstruação.
( ) A última menstruação costuma ocorrer por volta dos 45-50 anos de idade e o
período pós-menopausa se estende até aproximadamente 65 anos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Para algumas mulheres a fase da menopausa e do climatério não apresenta sintomas,


porém a maioria delas começa a ter sintomas já no início do climatério, e com a
diminuição progressiva dos hormônios femininos os sintomas vão aumentando. Cite
os mais comuns.

5 A reposição hormonal sofreu grandes mudanças ao longo dos anos. Seu objetivo
é tratar os sintomas decorrentes da falta do estrogênio. Esses sintomas são mais
intensos nos dois anos antes e dois anos após a última menstruação. Neste contexto,
disserte sobre o tema.

196
REFERÊNCIAS
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