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NEUROFISIOLOGIA

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2 ANATOMIA DO SISTEMA NERVOSO ..................................................................... 5

2.1 Sistema nervoso central........................................................................................ 7

2.2 Sistema nervoso periférico.................................................................................... 9

2.3 Padrões de processamento neural ..................................................................... 10

3 FORMAÇÃO RETICULAR ..................................................................................... 12

3.1 Conexões da formação reticular ......................................................................... 13

3.2 Funções da formação reticular ............................................................................ 14

4 FISIOLOGIA DO HIPOTÁLAMO ........................................................................... 21

4.1 Administração do sistema nervoso autônomo .................................................... 22

4.2 Regulação da temperatura corporal .................................................................... 23

4.3 Coordenação da pressão sanguínea e do equilíbrio hidrossalino ....................... 23

4.4 Controle no consumo de alimentos ..................................................................... 24

4.5 Controle do sistema endócrino ........................................................................... 25

4.6 Controle e criação de ritmos circadianos ............................................................ 27

4.7 Administração do mecanismo de vigília e sono .................................................. 28

4.8 Associação com o comportamento sexual .......................................................... 28

5 FISIOLOGIA DO SISTEMA LÍMBICO ................................................................... 29

5.1 Córtex Cingular Anterior...................................................................................... 31

5.2 Córtex Pré-Frontal Orbitofrontal .......................................................................... 31

5.3 Hipotálamo .......................................................................................................... 31

5.4 Região Septal ..................................................................................................... 32

5.5 Núcleo Accumbens ............................................................................................. 33

5.6 Habênula............................................................................................................. 33

5.7 Amígdala ............................................................................................................. 34


5.8 Sistema de prazer e recompensa ....................................................................... 37

5.9 Estresse e ansiedade ......................................................................................... 38

6 REGIÕES SENSITIVAS DO CÓRTEX CEREBRAL ............................................. 39

6.1 Regiões Corticais Relacionadas à Sensibilidade Somática ................................ 40

6.2 Regiões Corticais Referentes à Visão ................................................................ 43

6.3 Regiões Corticais Referentes à Audição ............................................................ 45

6.4 Área Vestibular ................................................................................................... 46

6.5 Área Olfatória ...................................................................................................... 47

6.6 Área Gustativa .................................................................................................... 47

7 CÓRTEX CEREBRAL, MOTRICIDADE E ASSOCIAÇÕES TERCIÁRIAS ............ 47

7.1 Área Motora Primária .......................................................................................... 48

7.2 Regiões motoras secundárias............................................................................. 49

7.3 Planejamento motor ............................................................................................ 50

7.4 Sistema Neurônios-Espelho................................................................................ 51

7.5 Área Pré-Frontal ................................................................................................. 52

7.6 Área Pariental Posterior ...................................................................................... 53

7.7 Córtex Insular Anterior ........................................................................................ 54

7.8 Áreas Límbicas ................................................................................................... 55

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 56


1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
2 ANATOMIA DO SISTEMA NERVOSO

A estrutura do sistema nervoso consiste em ligações entre os órgãos e os


nervos, cujo papel é reconhecer mensagens, informações e outros estímulos internos
e externos para gerar a resposta adequada. Ele também cumpre o papel de
administrar não só os movimentos voluntários, como também os involuntários de
nosso corpo, incluindo os mecanismos fisiológicos como os batimentos cardíacos e a
respiração.
O sistema nervoso possibilita o armazenamento, o reconhecimento e a
interpretação tanto dos estímulos internos, como sensação de sede, fome e cansaço,
quanto dos estímulos externos, como cheiros, gostos, imagens, toques e sons.
Podemos separar o sistema nervoso em dois tipos: o periférico e o central. Além
disso, suas células também são divididas em dois tipo, sendo os neurônios,
considerados as células nervosas, adaptadas para realizar uma comunicação rápida,
e as neuróglias, consideradas as células gliais, de suporte, que ajudam no
funcionamento do sistema nervoso central.
Junqueira e Carneiro (2004) afirmam que a estrutura de um neurônio é um
corpo alongado com dois prolongamentos denominados axônio e dendritos. Os
axônios consistem em terminais responsáveis pela sinapse, já os dendritos
transmitem os impulsos nervosos pela extensão do corpo celular. Ao redor dos
axônios, podemos evidenciar substâncias protéicas e camadas lipídicas, que dão
origem à bainha de mielina, responsável por ampliar a velocidade do impulso nervoso.
São inúmeros os neurônios presentes em nosso corpo, podendo ser
classificados conforme sua função ou forma, sendo que, quanto à forma, podem ser
multipolares, bipolares ou unipolares. Os neurônios multipolares são formados por
diversos prolongamentos, isto é, possuem vários axônios e dendritos. Por sua vez, os
neurônios bipolares apresentam apenas um axônio e um dendrito ou outro
prolongamento contendo dendritos e neurônios unipolares, que possuem apenas o
axônio.
Dependendo da função, os neurônios podem se classificar em sensitivos,
motores e integradores. Os neurônios sensitivos reconhecem os estímulos advindos
externamente ao organismo, sendo produzidos internamente para serem repassados
para o sistema nervoso central. Enquanto os neurônios motores transmitem os
estímulos do sistema nervoso central para as glândulas e os músculos. Por fim, temos
os neurônios integradores, que estão presentes no sistema nervoso central e se
conectam com outros neurônios, são responsáveis por interpretar os estímulos
sensoriais.
Partindo para as neuroglias, também denominadas como células de glia,
consistem em células que são cinco vezes maior quando comparadas a um neurônio.
Possuem organelas não excitáveis, formando uma parte essencial do tecido nervoso,
com a função de isolar, apoiar e nutrir os neurônios.
Junqueira e Carneiro (2004) conceituam as neuroglias como células que
assistem o sistema nervoso central em seu funcionamento e, assim como os
neurônios, podem ser divididas conforme sua função e forma, sendo as mais
conhecidas as células de Schwann, oligodendrócitos, astrócitos, células ependimárias
e micróglia.
As células de Schwann estão presentes em torno dos axônios do sistema
nervoso periférico. São responsáveis pela produção da bainha de mielina ao redor de
um segmento de somente um axônio. Já as oligodendrócitos cumprem um papel
similar ao das células de Schwann, no entanto, a produção de bainha de mielina se
restringe aos neurônios do sistema nervoso central, tendo uma função
importantíssima no isolamento térmico. Possuem prolongamentos em torno dos
axônios.
Por sua vez, os astrócitos possuem um formato estrelado contendo diversos
processos que são emitidos pelo corpo celular. Apresentam feixes de filamentos
intermediários constituídos pela proteína fibrilar ácida da glia que dá sustentação ao
arranjo celular. Fazem a ligação entre os vasos capilares e os neurônios, bem como
a ligação entre a pia-máter e os neurônios.
As células epidimárias consistem em células epitelias colunares,
responsáveis por cobrir o canal central da medula e os ventrículos cerebrais. Em
diversos lugares, as células epidimárias apresentam cílios, que permitem sua
movimentação pelo líquido cefalorraquidiano.
Por fim, a micróglia consiste em células fagocitárias alongadas e pequenas,
contendo prolongamentos irregulares e curtos. São células mononucleadas que se
assemelham aos monócitos, no entanto, estão presentes no sistema nervoso central,
se originam de células precursoras que chegam na medula óssea através da corrente
sanguínea.
As micróglias participam ativamente da inflamação e, consequentemente, da
reparação do sistema nervoso central, responsáveis por liberar citocinas que
estimulam o sistema imunológico e retiram detritos celulares originados das lesões no
sistema nervoso central.

2.1 Sistema nervoso central

Essa parte do sistema nervoso se divide, principalmente, em duas partes,


sendo elas a medula espinal e o encéfalo, responsáveis por comandar e integrar os
estímulos que entram e saem, elas também participam de processos mentais
superiores, como o raciocínio e o aprendizado.
Moore, Dalley e Agur (2014) afirmam que as células presentes no sistema
nervoso central são denominados núcleos, podemos citar o núcleo caudado como
exemplo, localizado anteriormente ao tálamo, cumprindo um papel importante em
relação a informações sensoriais sobre a posição espacial do corpo, bem como sua
postura e a precisão dos movimentos. Os axônios dos neurônios se ligam aos núcleos,
tanto os distantes quanto os mais próximos ao cérebro, dando origem ao trato.
O encéfalo fica presente dentro da calota craniana, sendo uma parte muito
complexa do sistema nervoso central por estar ligado com processos mentais
relacionados com a inteligência e a razão, incluindo também a regulação da
temperatura e da pressão arterial. Ele pode ser dividido em três partes principais,
sendo elas o cerebelo, o cérebro e o tronco cerebral.
Segundo Schunke (2007), o cérebro cumpre o papel de formar respostas
motoras voluntárias e captar os sinais sensitivos, preenchendo quase a totalidade do
espaço da caixa craniana. O cérebro pode ser anatomicamente dividido em dois
“hemisférios”, o esquerdo e o direito, onde ambos estão conectados através do corpo
caloso, um feixe formado por fibras brancas.
Ambos os hemisférios possuem duas extremidades e três faces, sendo que as
faces se dividem em inferior, externa e interna. A face inferior é bastante irregular,
sendo localizada sobre a base craniana e em cima do cerebelo. Por sua vez, a face
externa fica arqueada em relação à abobada craniana, enquanto a face interna possui
um formato plano e vertical, estando presente na face interna do hemisfério oposto.
Nos dois hemisférios temos uma cavidade denominada ventrículo lateral, que
não se comunicam diretamente entre si, precisando ser intermediados por um terceiro
ventrículo, denominado ventrículo médio, que se encontra presente no meio de ambos
os hemisférios.
Além disso, o cérebro fica coberto pelas meninges, sendo elas a aracnóide
(porção média), dura-máter (porção externa) e a pia-máter (porção interna), contando
também com o líquido cefalorraquidiano na divisão entre a pia-máter e a aracnóide.
Partindo para o cerebelo, ele consiste em um órgão originado da porção dorsal
do mesencéfalo, estando presente em um local mais posterior comparado com a ponte
e o bulbo. Lent (2005) explana que, em relação ao cérebro, a função do cerebelo se
diferencia ter um funcionamento involuntário e inconsciente, cumprindo um papel
importante somente em relação ao movimento, englobando a coordenação e o
equilíbrio. é inferior à da ponte e do bulbo
Conhecido também como tronco encefálico, o tronco cerebral se trata de uma
região localizada na divisão entre o tálamo e a medula espinal, sendo dividido em três
estruturas denominadas mesencéfalo, bulbo e ponte. As áreas anteriormente citadas
são fundamentais para processos essenciais e básicos da manutenção da vida, como
a respiração, os batimentos do coração e a pressão sanguínea.
A outra parte do sistema nervoso central é a medula espinal, que está presente
nos canais vertebrados no interior da coluna vertebral, pela extensão do eixo crânio
caudal. Em um indivíduo adulto, ela começa na divisão entre a primeira vértebra e o
crânio, indo até a divisão entre a segunda e primeira vértebra lombar.
Conseguimos observar na medula espinal a presença de todos os neurônios
motores que se conectam com os músculos, além dos eferentes que conduzem os
estímulos nervosos para que os músculos realizem o movimento. Esses estímulos se
originam de toda a parte do corpor humano, sendo responsável por fazer o primeiro
processamento da informação contida nesses estímulos.
As estruturas presentes na medula espinal são as substâncias cinzentas e
brancas, similares àquelas presentes no encéfalo, sendo que a matéria cinzenta são
formadas pelos corpos dos neurônios encontrados na parede interna, enquanto a
matéria branca possui em sua estrutura sistemas com fibras intercomunicantes.
Quando observamos a medula por meio de um corte transversal, evidenciamos
a matéria cinza em um formato semelhante à letra H, cobrida pela matéria branca.
Denominamos os “braços” do H como cornos, tendo dois posteriores e dois anteriores.

2.2 Sistema nervoso periférico

Schunke (2007) afirma que o sistema nervoso periférico engloba os gânglios,


os nervos e as terminações nervosas, e cumpre o papel de transmitir os estímulos
para o sistema nervoso central, além de repassar as respostas a esses estímulos para
os respectivos órgãos.
As fibras nervosas ficam cobertas por um tecido conjuntivo que conseguem
proteger os nervos, dando origem a diversas camadas, como o perineuro, o epineuro
e o endoneuro. Em meio às camadas do tecido conjunto, podemos considerar o
epineuro como a mais externa dentre as que envolvem os nervos, sendo formado por
tecido conjuntivo denso, fortemente irrigado e com a presença de fibroblastos e
colágeno tipo I.
Por sua vez, o perineuro cobre todo o fascículo nervoso, se originando das
invaginações presentes no epineuro. Contém em sua estrutura camadas
homocêntricas de fibroblastos ligados por junções de oclusão e cobertos por lâminas
basais.
Já o endoneuro envolve toda a fibra nervosa, sendo formado por colágeno tipo
III e tecido conjuntivo frouxo sintetizado pelas células de Schwann, além de alguns
fibroblastos. Também é irrigado por vasos capilares envoltos pelo endotélio não
frenestrado, sendo ligados por junções de oclusão.
Os nervos são muito resistentes e possuem uma grande capacidade de
adaptação por ser revestido pelo tecido conjuntivo presente nas fibras nervosas,
sendo responsáveis por garantir a comunicação entre os órgãos efetores e o sistema
nervoso central. Vale ressaltar que são divididos em 31 pares presentes na medula
espinal e 12 pares no crânio.
Partindo para os gânglios, podemos considerá-los como um conjunto de corpos
celulares de neurônios presentes no exterior do sistema nervoso central. Comumente,
os gânglios possuem dilatações ligeiras em determinados nervos. Cumprem o papel
de interligar os órgãos e os neurônios, podendo ser autônomos ou sensitivos.
As terminações nervosas estão presentes nas extremidades das radículas
nervosas, sendo divididas entre motoras e sensitivas. Os receptores nas terminações
sensitivas se localizam na extremidade distal dos nervos e, quando são devidamente
estimulados, os receptores reconhecem os estímulos e geram impulsos nervosos que
são transmitidos até o sistema nervoso central.
Quando alcançam o objetivo final, o estímulo é reconhecido e dá origem a uma
percepção de sensibilidade que pode ser específica ou geral. Por fim, as terminações
motoras conectam os órgãos efetores ao sistema nervoso, dentre esses órgãos,
podemos citar glândulas, músculos e vísceras.

2.3 Padrões de processamento neural

Esses padrões de processamento podem ser divididos em processamentos em


paralelo ou em série quando nos referimos aos de entrada. O processamento em série
é caracterizado pela entrada neural se direciona para um determinado destino durante
o percurso, já o processo paralelo se caracteriza pela entrada percorrendo diversas
vias e sendo integrada em diferentes locais no sistema nervoso central.
Segundo Consenza (2013), cada uma dessas formas de processamento neural
possui vantagens particulares em relação ao funcionamento do encéfalo e contribui
para sua capacidade de processar informações de maneira eficiente.

Processamento em série

Nesse tipo de processamento, o sistema nervoso opera como um todo, onde


um neurônio estimula seu sucessor e assim por diante, dando origem a uma resposta
antecipada em específico. A título de exemplo, podemos citar as vias sensorias diretas
(que percorrem dos receptores para o encéfalo) e os reflexos espinais.
Os reflexos cosistem em respostas automáticas e ágeis aos estímulos, sendo
que cada um gera uma resposta em específico, costuma ter um comportamento
simples, previsível e dependente do estímulo. Um bom exemplo é quando afastamos
nossa mão ao ter contato com uma panela quente, bem como o reflexo dos olhos, que
se fecham quando algo se aproxima subitamente a eles.
O processo de produção do reflexo tem origem nas vias neurais, denominadas
arcos reflexos, formados por cinco partes principais, o neurônio sensorial, o receptor
sensorial, o neurônio motor, o centro de integração no sistema nervoso central e o
órgão efetor. Podemos observar na imagem 1 um arco reflexo simples, onde os
receptores são aqueles que reconhecem modificações no meio externo ou interno e
os efetores são órgãos como as glândulas e os músculos que reagem à resposta.

Imagem 1 – Arco reflexo simples

Fonte: Adaptado de Marieb e Hoehn (2009).

Processamento paralelo

Consistem em processos que separam as entradas em diversas vias, onde a


informação que é transmitida por uma delas acaba sendo usada simultaneamente
pelos vários componentes do circuito nervoso. Como exemplo, podemos citar um
indivíduo que cheire uma lata de milho, que representa a entrada sensorial, ela pode
te trazer memórias sobre uma plantação de milho na fazenda ou até lembrá-lo de que
esqueceu de comprar milho na feira e até que não gosta desse alimento, ele também
pode trazer todas essas memórias ao mesmo tempo.
Cada pessoa tem um processamento único que estimula simultaneamente
certas vias. O estímulo de cheirar a lata de milho consegue proporcionar diversas
respostas que não se resumem à sensação do cheiro. Lent (2005) afirma que o
processamento em paralelo não age como uma mera repetição, uma vez que cada
via proporciona ações diferentes, no entanto, cada canal traduz a informação com o
auxílio de todos os outros.
Agora, vamos imaginar que uma pessoa pisou em um prego enquanto estava
descalço. O processamento em série se encarrega de desencadear o reflexo do
afastamento do pé através de um estímulo de dor. Simultaneamente, diversos
impulsos são transmitidos para o encéfalo rapidamente por meio das vias paralelas,
que podem fazer com que essa pessoa decida tanto se dirigir para um hospital ou
tentar aliviar a dor esfregando a região com a mão.
O processamento paralelo é fundamental para os procedimentos neurológicos
superiores, já que reunem todos os componentes para interpretar a situação como um
todo. O fato de conseguirmos reconhecer uma moeda em questão de segundos, só
acontece por meio desse processamento, pois um computador levaria um tempo
muito maior para processar essa mesma informação. Um neurônio consegue
transmitir esse estímulo para diversas vias ao invés de somente uma, agilizando o
processamento de mais informações que o usual.

3 FORMAÇÃO RETICULAR

Podemos definir a formação reticular como um conjunto mais ou menos difuso


de neurônios contendo diversos tipos e tamanhos, sendo divididos por um
agrupamento de fibras nervosas presentes na porção central do tronco encefálico.
Sendo assim, a formação reticular contém uma estrutura que não condiz totalmente
com a da massa cinzenta ou branca, isto é, sua estrutura é um meio termo entre as
duas (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Ela consiste em uma área evolutivamente antiga do sistema nervoso e, mesmo
pertencendo quase totalmente ao troco encefálico, algumas partes podem ser
encontradas no diencéfalo e nos níveis mais altos da medula, preenchendo uma
pequena região do funículo lateral. No interior do tronco encefálico, está presente em
uma grande parte, ocupando toda a área não preenchida pelos fasículos, tratos e
núcleos mais compactados em sua estrutura.
Através de técnicas de impregnação metálica, podemos evidenciar uma
característica interessante da formação reticular, que são seus neurônios com axônios
bem grandes que se bifurcam, originando um ramo descendente e um ascendente,
que abrangem ao longo do tronco encefálico, alcançando o diencéfalo, a medula e o
telencéfalo.
Ela não pode ser considerada uma estrutura homogênea nem no conceito
bioquímico nem no modo como suas células se organizam, pois possui agrupamentos
relativamente bem definidos de neurônios, bem como diversos tipos de
neurotransmissores, em especial as monoaminas, como serotonina, noradrenalina e
dopamina. Segundo Machado e Haertal (2014), esses neurônios podem ser
classificados como os núcleos da formação reticular, cumprindo diferentes papéis.
Podemos salientar os seguintes:

➢ Núcleos da rafe: Consistem em um agrupamento com nove núcleos, cujo mais


importante é o núcleo magno da rafe, que se estende pela rafe mediana por
toda região do encéfalo. São formados por neurônios ricos em serotonina.
➢ Locus ceruleus: Um núcleo que contém neurônios ricos em noradrenalina.
Estão presentes na região de mesmo nome, dentro do assoalho IV do
ventrículo.
➢ Área tegumentar ventral: Se localiza na porção ventral do tegumento do
mesencéfalo, no sentido medial em relação à massa negra, tendo a presença
de neurônios ricos em dopamina.

3.1 Conexões da formação reticular

Temos diversas ligações variadas e amplas na formação reticular. Ela recebe


estímulos não só dos nervos cranianos, como também do cerebelo, de ambos os
sentidos do cérebro e da medula, como podemos evidenciar a seguir:

➢ Ligações com o cérebro: A formação reticular possui fibras conectadas por


todo o córtex cerebral pelas vias extratalâmica e talâmica. Também possui
fibras conectadas na região do diencéfalo. Além disso, diversas regiões do
hipotálamo, do córtex cerebral e do sistema límbico se ligam com a formação
reticular por meio de fibras descendentes.
➢ Ligações com o cerebelo: Possuem ligações em ambos os sentidos tanto da
formação reticular quanto do cerebelo.
➢ Ligações com a medula: Temos dois conjuntos principais de fibras
conectados com a medula, que são as fibras que formam os tratos
reticuloespinhais e as fibras rafe espinhais. Além disso, a formação reticular
recebe estímulos da medula por meio das fibras espinorreticulares.
➢ Ligações com os núcleos dos nervos cranianos: A formação reticular
recebe estímulos provenientes dos nervos cranianos sensitivos por meio das
fibras que se dirigem a elas, vindas de seus núcleos (GUYTON; HALL, 2007).

3.2 Funções da formação reticular

Mesmo que sejam feitas de forma bem simplificada, observamos no tópico


anterior algumas ligações da formação reticular, que são bastante amplas. Com isso,
podemos concluir que ela consegue alterar a maioria das regiões do sistema nervoso
central, condizendo com grande gama de funções que são concedidas a ela. A seguir,
iremos listar algumas das funções mais relevantes:

➢ Manejo eferente da dor e da sensibilidade;


➢ Capacidade de manusear a atividade elétrica cortical, como o ciclo de sono e
vigília;
➢ Manejo do sistema nervoso autônomo;
➢ Manejo da postura e da motricidade somática;
➢ Associação de reflexos, como os vasomotores e do ciclo respiratório;
➢ Manejo do sistema neuroendócrino.

Capacidade de manusear a atividade elétrica cortical: cliclo do sono e


vigília

A atividade elétrica espontânea acontece no córtex cerebral, definindo os


diversos graus de consciência. Tal atividade pode ser evidenciada quando fazemos
um EEG ou um eletroencefalograma na superfície do crânio. Os traçados elétricos
advindos de um animal ou uma pessoa dormindo, denominados traçados de sono,
possuem uma diferença considerável em relação aos chamados traçados de vigília,
que se apresentam em animais ou pessoas despertos.
Quando estamos no modo de vigília, podemos observar um traçado
dessincronizado, ou seja, contendo uma frequência elevada com uma amplitude
reduzida, enquanto no modo de sono, o traçado se torna sincronizado, contendo uma
alta amplitude em ondas mais lentas. Desse modo, o uso do eletroencefalograma não
se resume a fins clínicos, pois também permite analisar a atividade cortical no homem
em estudos sobre vigília e sono (ALOÉ; AZEVEDO; HASAN, 2005).

Ciclo vigília-sono

Consiste em um ciclo controlado pelo SARA através dos neurônios


hipotalâmicos. A atividade desses neurônios consegue ser mensurada por meio da
taxa de disparos dos potenciais de ação. No dia, quando estamos no modo de vigília,
podemos evidenciar esta taxa bastante elevada, o que aponta uma ativação do córtex
por esses neurônios, geralmente recebendo as aferências dos núcleos talâmicos
sensitivos (ALOÉ; AZEVEDO; HASAN, 2005).
Quando estamos no final da vigília, um pouco antes da hora de dormir, as
atividades dos neurônios monoaminérgicos presentes no SARA são bloqueadas por
um conjunto de neurônios presentes no hipotálamo anterior, causando a desativação
do córtex. Ao mesmo tempo, também temos o bloqueio da ação dos núcleos talâmicos
sensitivos pelo núcleo reticular do tálamo, impedindo que os estímulos das vias
sensoriais cheguem no córtex.
Por meio dos processos descritos acima, começamos a entrar no modo de sono
com ondas lentas, onde a atividade elétrica do córtex acontece, predominantemente,
por meio de circuitos intrínsecos livres da intervenção de estímulos externos, com a
sincronização com o eletroencefalograma. Alguns momentos antes de acordar, os
neurônios do SARA começam a disparar novamente devido à suspensão do bloqueio
feito pelo núcleo reticular, permitindo o começo de um novo modo de vigília.
Não podemos considerar o modo de sono como uniforme, uma vez que o
eletroencefalograma demonstra traçados de vigília de 4 a 5 vezes por noite, mesmo
que o indivíduo esteja adormecida com os músculos totalmente relaxados. Sendo
assim, chamamos este período do sono como sono paradoxal, caracterizado pelo
movimento rápido dos olhos, sendo definido pela sigla REM (rapid eye moviment, ou
“movimento rápido dos olhos”) (ALOÉ; AZEVEDO; HASAN, 2005).
Desse modo, podemos dividir o sono em duas categorias que oscilam entre si,
o sono não REM e o sono REM ou sono de ondas lentas, sendo este segmentado nas
fases I a IV. No decorrer do sono REM, podemos observar que o cérebro consome a
mesma quantia de oxigênio ou até mais quando comparado com o modo de vigília,
indicando a presença de atividade cortical. Aqui, os olhos se movimentam com
velocidade enquanto a pessoa sonha.
Em contrapartida, temos um descanso do cérebro durante o sono não REM,
reduzindo consideravelmente a taxa de consumo de oxigênio, com o predomínio do
tônus parassimpático, ocasionando a diminuição da frequência respiratória e cardíaca.
Sendo assim, podemos caracterizar o sono REM como um cérebro atuante em um
corpo imóvel e o sono não REM como um cérebro adormecido em um corpo móvel.
Em relação ao tempo de sono, o sono REM tem entre 20 e 25% da duração do
sono em um jovem adulto saudável, tendo uma função fundamental na conservação
de memórias. Isso pode explicar as imagens estranhas que podem surgir durante um
sonho, que acontece pela ativação eventual das regiões do córtex (ALOÉ; AZEVEDO;
HASAN, 2005).
O sono REM se origina dos neurônios colinérgicos presentes na fomração
reticular do núcleo pendúculo-pontino. No decorrer desse sono, diversas regiões
corticais ficam ativadas como se estivesse em modo de vigília, entre elas o córtex
motor, que não consegue originar movimentos pelo fato de seus neurônios estarem
bloqueados, proporcionando uma atonia no corpo. Tal atonia é estimulada pelos
neurônios presentes no núcleo pedúnculo-pontino através das vias colinérgicas
descendentes.
Podemos observar em alguns indivíduos, especialmente nos idosos, que o
bloqueio da movimentação muscular não funciona durante o sono REM,
caracterizando eventos denominados transtorno comportamental do sono REM.
Os indivíduos acometidos podem se machucar com frequência enquanto estão no
meio de sonhos com movimento. Como exemplo, podemos citar um indivíduo que
está brigando no seu sonho e desperta batendo em si mesmo (ALOÉ; AZEVEDO;
HASAN, 2005).
Os neurônios presentes no locus cereleus ficam encarregaos de finalizar o sono
REM, cuja atividade cresce na mudança do sono paradoxal para o modo de vigília,
sendo frequentemente denominados como os neurônios do despertar.
Manejo eferente da sensibilidade

É um consenso que o sistema nervoso não recebe estímulos sensoriais de


modo passivo. Dentro de seus limites, ele consegue mediar o envio desses estímulos
por meio de fibras eferentes cuja ação se endereça, especialmente, para os núcleos
relés presentes nas grandes vias aferentes.
A existência das vias eferentes que controlam a sensibilidade podem justificar
a nossa habilidade de selecionar as informações mais pertinentes, capazes de chamar
nossa atenção, desconsiderando algumas para focar em outras, caracterizando um
evento chamado de atenção seletiva. Esse evento pode acontecer ao mesmo tempo
que outro, chamado de habituação, onde temos a tendência de desconsiderar
informações que aparecem frequentemente (MACHADO; HAERTEL, 2014).
A título de exemplo, vamos imaginar que estamos vendo um filme, por diversas
vezes não conseguimos notar as sensações sensitivas referentes à cadeira do
cinema. Também podemos desconsiderar um ruído no local, principalmente se ele
está sendo continuamente emitido, como é o caso do barulho do ventilador que
ouvimos durante a leitura de um livro.
Este evento acontece devido a um mecanismo ativo que engloba fibras
centrífugas ou eferentes, cujo papel é conduzir a transmissão de estímulos nervosos
por determinadas vias aferentes.
O manejo que o sistema nervoso faz na sensibilidade costuma acontecer por
inibição, sendo que as vias encarregadas por esse processo se iniciam no córtex
cerebral e, especialmente, na formação reticular. Podemos ressaltar as fibras capazes
de bloquear os estímulos dolorosos no sistema nervoso central, principalmente pela
sua relevância clínica devido às vias de analgesia (MACHADO; HAERTEL, 2014).

Manejo da postura e da motricidade somática

Uma outra função da formação reticular é a de coordenar a motricidade


somática por meio dos tratos reticuloespinhais bulbar e pontino. Ambos cumprem o
papel de manter tanto a postura quanto a motricidade voluntária referente às
musculaturas apendiculares proximais e axial. Ela também recebe estímulos vindos
do córtex motor e do cerebelo a fim de realizar suas funções motoras.
No entanto, os tratos reticuloespinhais também transmitem informações
motoras descendentes, criados pela própria formação reticular, estando associados a
certos padrões estereotipados e complexos referentes à movimentação, como é o
caso da caminhada.
Manejo do sistema nervoso autônomo

O hipotálamo e o sistema límbico são duas das regiões mais relevantes na


coordenação do sistema nervoso autônomo. As duas possuem grandes ligações com
a formação reticular, que está conectada com neurônio pré-ganglionares referentes
ao sistema nervoso autônomo, construindo uma configuração que permite que a
formação reticular tenha comando sobre esse sistema.

Manejo do sistema neuroendócrino

É um consenso que os impulsos elétricos provenientes da formação reticular


do mesencéfalo conseguem estimular a liberação do hormônio antidiurético e do
ACTH. Também é comprovado que os sistemas serotoninérgicos e noradrenérgicos
se relacionam com a administração da liberação de diversos hormônios adeno-
hipofisários pelo hipotálamo, o que envolve, por consequência, a formação reticular,
pois a maioria das fibras que possuem as monoaminas supracitadas partem dela e se
dirigem para o hipotálamo.

Associação de reflexos

Com o passar dos anos, ficou comprovado que diversas regiões presentes na
formação reticular conseguem originar respostas estereotipadas e motoras quando
recebem os devidos impulsos, dentre essas respostas, podemos citar deglutição,
vômito, mastigação, locomoção, modificações vasomotoras e respiratórias, bem como
movimentos oculares.
Tais regiões possuem neurônios capazes de estimular padrões de atividade
motora na respiração, cuja atividade pode ser transformada ou iniciada tanto por
aferências sensoriais quanto por comandos vindos do hipotálamo ou do córtex. Em
relação às aferências sensoriais, elas operam como uma forma de associação de
reflexos onde os estímulos aferentes impulsionam padrões motores complexos,
envolvendo diversas regiões e núcleos.
Temos o núcleo parabducente presente na formação reticular localizada na
ponte, perto do núcleo do nervo abducente, que é vista como a região encarregada
de coordenar a movimentação dos olhos horizontalmente. Por sua vez, a formação do
mesencéfalo possui a região locomotora, que opera com os centros locomotores
localizados na medula. Os neurônios presentes na formação reticular próximos aos
núcleos motores dos nervos facial (lábios), trigêmeo (mandíbula) e hipoglosso (língua)
se encarregam de coordenar a mastigação (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Além disso, tais neurônios conseguem controlar a respiração e também são
retroalimentados sensorialmente pelo núcleo do trato solitário, responsável pelo
paladar, e pelo trigêmeo, que identifica a temperatura e a textura dos alimentos, bem
como a posição da mandíbula.
Os neurônios responsáveis pelos modelos de atividade motora estereotipada
que ficam em torno do núcleo motor facial controlam os gestos que definem um
determinado evento emocional, como o choro ou o sorriso, bem difíceis de serem
retratadas de modo voluntário. A formação reticular no tronco possui um conjunto de
neurônios que controlam padrões motores e reflexos que seriam mais difíceis de
serem coordenados voluntariamente por meio do córtex cerebral.
Devemos salientar o sistema vasomotor e o sistema respiratório, pelo papel
que cumprem na coordenação tanto da frequência respiratória quanto da frequência
dos batimentos do coração, sendo ambos procedimentos fundamentais para a
conservação da vida. Sendo assim, ambas as regiões são de importância vital,
tornando uma lesão em qualquer uma delas completamente perigosa.
Os sistemas vasomotores e respiratórios divergem dos outros devido à sua
oscilação, isto é, suas atividades rítmicas são sincronizadas, respectivamente, com
os ritmos cardíaco e respiratório, além de serem espontâneas. Aparentemente,
consiste em uma atividade rítmica endógena, isto é, não depende de estímulos
sensoriais (MACHADO; HAERTEL, 2014).

Manejo do sistema respiratório

Diversos estímulos relacionados com o nível de distensão dos alvéolos do


pulmão são transmitidos frequentemente para o núcleo do trato solitário por meio das
fibras aferentes viscerais gerais presentes no nervo vago. Os estímulos nervosos
partem desse núcleo e vão em direção ao centro respiratório, estruturado na formação
reticular do bulbo, contendo uma porção posterior que administra a inspiração,
enquanto a porção anterior se encarrega da expiração.
Algumas fibras reticuloespinhais partem do centro respiratório para terminarem
na sinapse com os neurônios motores presentes nas partes torácicas e cervicais da
medula. Aqueles localizados na parte cervical geram as fibras que se direcionam ao
diafragma por meio do nervo frênico, enquanto os neurônios da parte torácica geram
fibras que se direcionam à musculatura intercostal através dos nervos intercostais,
onde ambas as vias se encarregam de administrar os movimentos automáticos e
reflexos da respiração.
Alguns neurônios preservam de forma espontânea a frequência de disparos,
originando uma atividade motora mesmo não estando mediadas por estímulos. Os
neurônios motores condizentes com os nervos intercostais e frênicos se conectam
com fibras corticoespinhais, possibilitando a administração da respiração de modo
voluntário.

Manejo do sistema vasomotor

A região do sistema vasomotor está presente na formação reticular do bulbo,


sendo responsável por controlar os procedimentos reguladores do calibre da artéria,
que interfere diretamente na pressão arterial e também pode alterar a frequência
cardíaca.
Os estímulos referentes à pressão arterial partem dos barorreceptores
localizados no seio carotídeo e alcançam o núcleo do trato solitário através das fibras
aferentes viscerais gerais do nervo vago. Ao sair do núcleo do trato solitário, os
estímulos atravessam a região vasomotora, de onde se projetam fibras em direção
aos neurônios pré-ganglionares do núcleo dorsal do vago, dando origem a fibras
reticuloespinhais e estímulos parassimpáticos direcionados aos neurônios pré-
ganglionares presentes na lateral da medula, criando estímulos simpáticos
(MACHADO; HAERTEL, 2014).
Outros elementos fundamentais para a estabilização da pressão sanguínea são
os quimiorreceptores da aorta e os mecanorreceptores do coração. Com o controle
do hipotálamo, a região vasomotora se encarrega de fazer a pressão subir
dependendo das oscilações emocionais ou em casos de estresse exagerado.
4 FISIOLOGIA DO HIPOTÁLAMO

Em grande parte, o hipotálamo é formado por uma massa cinzenta que fica
reunida em grupos que, geralmente, são muito difíceis de serem separados. Temos
também um conjunto de fibras ligadas a ele, sendo alguns bastante perceptíveis,
como é o caso do fórnix. Ele atravessa cada metade do hipotálamo de cima para
baixo, acabando em seu corpo mamilar específico. O fórnix ainda consegue separar
o hipotálamo em duas regiões, a lateral e a medial.
A região medial se localiza na divisão entre as paredes do terceiro ventrículo
e o fórnix, contendo muita massa cinzenta, além de ser o local com a presença dos
núcleos mais relevantes do hipotálamo. Por sua vez, a região lateral se encontra na
lateral em relação ao fórnix, contendo corpos de neurônio em menor quantidade com
uma grande quantia de fibras de direção longitudinal.
Atravessando a região lateral, temos o feixe presenfálico medial, um sistema
de fibras bastante complexo que possui ligações em ambos os sentidos, no divisão
da formação reticular do mesencéfalo e a região septal presente no sistema límbico.
Podemos separar o hipotálamo em três planos frontais, sendo eles o tuberal, o
supraótico e o mamilar (AIRES, 2012).
Em relação ao hipotálamo supraóptico, ele engloba o quiasma óptico e toda
a região presente em sua parte superior, começando nas paredes do terceiro
ventrículo e terminando no sulco hipotalâmico. Por sua vez, o hipotálamo tuberal
engloba o tuber cinéreo conectado com o infundíbulo e toda a região presente em sua
parte superior. Por fim, o hipotálamo mamilar engloba as regiões da parede do
terceiro ventrículo e os corpos mamilares com seus núcleos, terminando no sulco
hipotalâmico.
Vale ressaltar que, na porção ventral da parede do terceiro ventrículo,
adjacente à lâmina terminal, temos uma região pequena que ficou conhecida como
região pré-óptica, um local que se origina, no ponto de vista embrionário, da parte
central da vesícula telencefálica, sendo assim, não pertence ao diencéfalo (AIRES,
2012).
Ainda assim, a região pré-ópitica, didaticamente, é abordada em conjunto com
o diencéfalo pelo fato de estar conectado funcionalmente ao hipotálamo supraóptico.
Além disso, temos nessa região a presença do órgão vascular da lâmina terminal, que
cumpre o papel de detectar sinais químicos próprios para o metabolismo salino e
termorregulação, com a ausência de uma barreira hematoencefálica.
Em relação às funções do hipotálamo, elas são diversas, como a administração
da homeostase, isto é, a conservação do organismo conforme os limites para um bom
funcionamento dos órgãos. Nesse contexto, o hipotálamo tem a função de regular
tanto o sistema endócrino quanto o sistema nervoso autônomo, os associando com
os comportamentos condizentes com as demandas cotidianas (AIRES, 2012).
O hipotálamo também coordena diversos processos motivacionais
fundamentais para manutenção da vida, tanto da espécie quanto do indivíduo, como
a sede, a fome e o sexo. Esses processos consistem em estímulos internos que
incentivam adaptações corporais e ações específicas. Como exemplo, podemos citar
a sensação de calor, que cria um desconforto capaz de estimular mecanismos
involuntários para amenizá-lo, como procura por um ambiente fresco e sudorese.
Isso acontece também com as sensações de sede, fome e frio, originando
ações específicas e adaptações internas com o intuito de manter a vida do indivíduo
e sua estabilidade em relação ao ambiente. Iremos abordar sobre as funções mais
relevantes do hipotálamo nos tópicos seguintes.

4.1 Administração do sistema nervoso autônomo

O hipotálamo é considerado como uma área suprassegmentar fundamental


para o sistema nervoso autônomo, ele cumpre esse papel com o auxílio de outras
regiões do cérebro, principalmente com o sistema límbico. Dependendo da região do
hipotálamo que receber impulsos elétricos, conseguimos evidenciar respostas
condizentes com o sistema nervoso simpático ou parassimpático.
Caso os impulsos sejam direcionados ao hipotálamo anterior, podem
potencializar a contração da bexiga, o peristaltismo gastrintestinal, constrição da
pupila, além de reduzir a pressão arterial e os batimentos cardíacos, ou seja, um
predomínio de respostas parassimpáticas. Por sua vez, os impulsos direcionados ao
hipotálamo posterior geram respostas contrárias, uma vez que controla o sistema
nervoso simpático (MACHADO; HAERTEL, 2014).
4.2 Regulação da temperatura corporal

Sendo um aspecto fundamental dos animais homeotérmicos, os mecanismos


de controle da temperatura corporal são controlados pelo hipotálamo, que recebe
dados referentes à temperatura tanto dos termorreceptores periféricos quanto dos
neurônios que são capazes de reconhecer a temperatura.
Com isso, podemos afirmar que o hipotálamo opera como um termostato que
consegue reconhecer as oscilações da temperatura do sangue que percorre por ele,
estimulando processos de manutenção ou perda de calor, dependendo das exigências
para a estabilização da temperatura corporal. O hipotálamo possui dois centros
conhecidos como centro da conservação do calor, presente em sua parte posterior
e o centro da perda do calor, localizado em sua parte anterior (GUYTON; HALL,
2007).
Impulsos direcionados à parte anterior do hipotálamo estimulam a sudorese e
a vasodilatação periférica, gerando a perda de calor, consequentemente. Por outro
lado, impulsos direcionados à parte posterior estimulam calafrios (tremores
musculares), vasoconstrição periférica e, em alguns casos, a liberação do hormônio
tireoidiano, que potencializa o metabolismo e, consequentemente, aumenta a
temperatura corporal. Podemos evidenciar um aumento incontrolável na temperatura
em casos de lesões nesses locais, um fenômeno conhecido como febre central.
Além disso, Machado e Haerter (2013) apontam a probabilidade do hipotálamo
ter a capacidade de estimular áreas corticais visando definir ações para procurar
ventilação e local fresco para o calor ou vestimentas e abrigo para o frio.

4.3 Coordenação da pressão sanguínea e do equilíbrio hidrossalino

Para manter o equilíbrio hidrossalino, precisamos de processos automáticos


que administrem a quantidade de líquido no organismo que se apresenta na
osmolaridade (representada, especialmente, na concentração de íons de sódio fora
da célula) e na volemia ou volume sanguíneo. Conseguimos compreender que a
pressão sanguínea se relaciona de forma direta com a concentração de sódio e a
volemia.
Nesse contexto, o hipotálamo libera o hormônio antidiurético com o objetivo de
controlar o equilíbrio hidrossalino, sendo que esse hormônio produzido pelos
neurônios dos núcleos paraventricular e supraóptico, sendo liberado na neuro-
hipófise. Esses neurônios recebem dados para cumprir esse papel, por meio de
aferências mantidas com o órgão subfornical e o órgão vascular da lâmina terminal
(MACHADO; HAERTEL, 2014).
Não tem uma barreira hematoencefálica presente nos dois órgãos
supracitados, possibilitando o reconhecimento dos níveis sanguíneos de um
compressor do calibre dos vasos sanguíneos denominado angiotensina II (órgão
subfornical) e da osmolaridade sanguínea (órgão vascular da lâmina basal). Este
consiste em um processo natural do organismo, no entanto, é ativado nos casos de
redução da pressão sanguínea, como acontece nas hemorragias, proporcionando um
aumento na liberação do hormônio antidiurético.
Podemos perceber que o hipotálamo consegue coordenar a volemia por meios
inconscientes e automáticos. Além disso, também estimula o consumo de sal e água,
podendo ou não aumentar a vontade de ingerir alimentos salgados ou crescimento da
sensação de sede.
Temos uma região lateral no hipotálamo denominada centro da sede que, caso
receba impulsos, é capaz de potencializar a sede do animal, que também pode vir a
óbito caso beba muita água. Por outro lado, uma lesão nessa região pode cessar o
estímulo da sede, fazendo com que o indivíduo morra de desidratação.
As informações relatadas no parágrafo anterior foram descobertas há muito
tempo, porém, recentemente foi descoberto que a região lateral do hipotálamo
consegue coordenar os mecanismos da sede por estar conectado com o órgão
subfornical (MACHADO; HAERTEL, 2013).

4.4 Controle no consumo de alimentos

Além da sede, impulsos direcionados à região lateral do hipotálamo também


estimulam uma sensação de fome que faz com que o indivíduo se alimente
excessivamente. Por outro lado, impulsos direcionados ao núcleo ventromedial do
hipotálamo geram uma sensação de saciedade, fazendo com que o indivíduo não
tenha desejo de comer até mesmo alimentos que considera apetitosos (MACHADO;
HAERTEL, 2014).
Caso a região lateral sofra alguma lesão, a vontade de comer desaparece por
completo, um quadro que se assemelha à certos casos de anorexia, resultando em
fraqueza severa. Em contrapartida, lesões no núcleo ventromedial estimula um
consumo excessivo de alimentos, fenômeno conhecido como hiperfagia, aumentando
as chances de obesidade.
Nesse contexto, podemos dividir o hipotálamo em duas regiões, sendo aquela
localizada na região lateral nomeada como centro da fome e aquela presente no
núcleo ventromedial de centro da saciedade. Vale ressaltar que essas regiões
consistem em explicações simplistas que cumprem objetivos didáticos, uma vez que
os mecanismos de alimentação são bem mais complexos, englobando processos
endócrinos e neurais (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Um processo endócrino fundamental está relacionado com o hormônio leptina,
liberado na corrente sanguínea pelas células adiposas denominadas adipócitos. A
leptina chega ao núcleo arqueado do hipotálamo com dados sobre o excesso de
gordura no organismo, que é diretamente proporcional à quantidade de leptina
liberada.
Por sua vez, o hipotálamo libera um hormônio denominado alfa-melanócito-
estimulante, que estimula a sensação de saciedade. A obesidade pode ter causas
genéticas, sendo causada pela ausência de receptores de leptina nos neurônios
presentes no núcleo arqueado do hipotálamo.

4.5 Controle do sistema endócrino

Relações entre a neuro-hipófise e o hipotálamo

Essa relação começou a ser estudada por causa de uma doença conhecida
como diabetes insipidus, que consiste no excesso de urina produzida por um
indivíduo, no entanto, não é estimulado pelo excesso de açúcar, como é o caso da
diabetes mellitus, e sim pela redução de ADH (antidiuretic hormone, ou “hormônio
antidiurético”) na corrente sanguínea (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Foi constatado que a diabetes insipidus não acontece exclusivamente por uma
patologia que acomete a neuro-hipófise, também pode estar relacionado com lesões
hipotalâmicas. Isso acontece pelo fato do ADH ser produzido pelos neurônios dos
núcleos paraventricular e supraóptico do hipotálamo, sendo enviado para a neuro-
hipófise através das fibras do trato hipotálamo-hipofisário para, assim, ser secretado.
Os capilares de aspecto fenestrado presentes na neuro-hipófise favorecem a
liberação do ADH na corrente sanguínea, uma liberação que também é potencializada
pela ausência da barreira hematoencefálica. A ação do ADH acontece nos túbulos
renais, estimulando a reabsorção de água.
É importante ressaltar também que a ocitocina não é exclusivamente
importante para a estimulação da contração uterina e das células mioepteliais das
glândulas mamárias. Ela também é conhecida por desempenhar um papel importante
na regulação do comportamento social, emoções e vínculo afetivo entre indivíduos,
como na relação entre mãe e filho.
O leite consegue ser liberado através de um reflexo neuroendócrino estimulado
pela sucção do mamilo, que envia impulsos para a medula e, posteriormente, para o
hipotálamo, que produz ocitocina nos núcleos paraventricular e supraóptico, sendo
liberado na neuro-hipófise. Além disso, o choro do bebê também estimula a liberação
de ocitocina.

Relações entre a adeno-hipófise e o hipotálamo

Também podemos atribuir ao hipotálamo o papel de controlar a liberação dos


hormônios da adeno-hipófise, que acontece através de um processo que engloba uma
conexão vascular e uma nervosa. Por meio desta última, os neurônios presentes no
núcleo arqueado e regiões adjacentes do hipotálamo tuberal liberam ativos que são
transportados para capilares especiais por meio do fluxo axoplasmático das fibras do
trato túbero-infandibular, os capilares se localizam na haste infundibular e na
eminência mediana.
Os hormônios transportados para os capilares partem das veias do sistema
porta para alcançar a segunda rede capilar presente na adeno-hipófise, que
administram a liberação dos hormônios adeno-hipofisários por meio de estimulação
ou inibição (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Sendo assim, os hormônios produzidos no hipotálamo podem ser tanto
inibidores ou estimuladores da liberação dos hormônios adeno-hipofisários. A título de
exemplo, podemos citar o TSH (tireotrópico), ACTH (adrenocorticotrópico) e o GH
(hormônio do crescimento).
A comprovação do controle do hipotálamo sobre os hormônios adeno-
hipofisários modificou o pensamento de que a adeno-hipófise seria uma glândula que
controla o sistema endócrino como um todo, passando a ser considerada como uma
ligação entre suas glândulas endócrinas e o hipotálamo neurossecretor.

4.6 Controle e criação de ritmos circadianos

Grande parte de nossos padrões metabólicos, fisiológicos e comportamentais


costumam variar no decorrer do dia. Podemos constatar isso com a quantidade de
eosinófilos na corrente sanguínea, com a temperatura corporal, com a glicose, com
os hormônios e diversas outras substâncias, isso também pode ser notado por meio
de comportamentos de vigília e sono e de atividades motoras.
Algumas dessas oscilações rítmicas são endógenas, isto é, acontecem mesmo
que o indivíduo esteja presente em um local permanentemente escuro. Porém, o ritmo
interno perde gradualmente sua sincronia com o ritmo externo, caracterizado pela
noite e pelo dia, se diferenciando do funcionamento normal de um organismo durante
as 24 horas.
A palavra circadiano vem do latim circadies (onde circa significa “cerca” e dies
significa “dias”), isto é, uma oscilação com a duração de cerca de um dia. O ritmo
circadiano acontece na maioria dos organismos vivos, sendo representados por
relógios biológicos ou marca-passos. Nos dias de hoje, sabemos que o marca-passo
principal se localiza no núcleo supraquiasmático dos mamíferos, que altera
drasticamente o ritmo caso seja lesado (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Temos a presença de relógios biológicos no sistema nervoso central, que
originam ritmos circadianos sem a interferência do núcleo supraquiasmático, como é
o caso dos núcleos arqueados e supraópticos, que se encarregam de manter o ritmo
dos hormônios hipofisários. Também foram constatados alguns relógios biológicos
fora do sistema nervoso, como é o caso dos hepatócitos, que regulam o ritmo
circadiano de substâncias relacionadas às funções do fígado, dentre elas, temos as
enzimas da glicogênese.
Os dados referentes à iluminação local são enviados aos núcleos
supraquiasmáticos por meio do trato retino-hipotálamo, que possibilita uma
sincronização dos ritmos da noite e do dia, envolvendo tanto os relógios biológicos
que estão fora do sistema nervoso quanto os que estão dentro do sistema nervoso
(MACHADO; HAERTEL, 2014).

4.7 Administração do mecanismo de vigília e sono

Desde 1930 reconhecemos o papel do hipotálamo sobre o mecanismo de vigília


e sono, sendo descoberto por Constantine von Economo, um médico austríaco que
traçou paralelos entre lesões no hipotálamo e o conjunto de sinais e sintomas da
encefalite letárgica, que inclui sonolência severa. No entanto, a importância do
hipotálamo nesse mecanismo foi descorberta alguns anos depois.
A sincronização e criação deste ritmo começa no núcleo supraquiasmático,
sendo transmitido para o núcleo pré-óptico ventrolateral e a um conjunto de neurônios
presentes na região lateral do hipotálamo que possui a orexina como
neurotransmissor. Os neurônios localizados no núcleo pré-óptico ventrolateral
bloqueiam os neurônios monoaminérgicos do sistema reticular ativador ascendente,
resultando em um estímulo do sono (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Quando o sono está próximo do fim, o bloqueio é descontinuado devido à ação
do núcleo supraquiasmático, dando origem a uma estimulação do neurônio
orexinérgico que opera sobre os neurônios deste sistema, começando o período de
vigília. Além disso, os neurônios orexinérgicos conseguem também bloquear os
neurônios colinérgicos presentes no núcleo pendúculo-pontino, que são fundamentais
na sinalização do sono REM.
Caso os neurônios orexinérgicos sejam lesados, o estado de vigília é
interrompido por crises repentinas de sono REM, como acontece em um transtorno
denominado narcolepsia, podendo também resultar em uma perda de tônus e,
consequentemente, uma queda repentina, o que caracteriza um transtorno
denominado cataplexia.

4.8 Associação com o comportamento sexual

A sinalização química e neural geradas em nosso corpo estão relacionadas


com o comportamento sexual, com o envolvimento do hipotálamo e de outras áreas
do organismo. A excitação sexual, por exemplo, está relacionada com diversas
regiões encefálicas como o sistema límbico, o córtex pré-frontal e estriado ventral,
todos os exemplos citados possuem ligações com o hipotálamo.
Nesse contexto, a excitação se relaciona diretamente com dois núcleos pré-
ópticos do hipotálamo. Por meio de uma ressonância magnética funcional, podemos
constatar que esses núcleos recebem impulsos em ocasiões que geram uma
excitação sexual, como quando um indivíduo está assistindo filmes eróticos.
Em relação à ejaculação e à ereção, ambos dependem do sistema nervoso
autônomo controlado pelo hipotálamo. Em contrapartida, o prazer sexual se relaciona
com regiões do sistema dopaminérgico mesolímbico, principalmente com o núcleo
accumbens, que também está ligado ao hipotálamo (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Quando comparamos o hipotálamo de humanos do sexo feminino e masculino,
observamos que um núcleo presente na região pré-óptica é muito maior em homens,
uma diferença que é claramente perceptível no final da gravidez, um período onde o
nível de testosterona circulante no feto aumenta consideravelmente.

5 FISIOLOGIA DO SISTEMA LÍMBICO

Podemos evidenciar um anel cortical contínuo presente na faces medial dos


hemisférios cerebrais, sendo formado pelo giro para-hipocampal, giro do cíngulo e
hipocampo. O anel em questão rodeia as estruturas entre os hemisférios, sendo
chamada de grande lobo límbico.
No sentido evolutivo, este lobo é muito antigo pelo fato de fazer parte do
organismo de todo vertebrado, contendo certas semelhanças na organização de suas
células, uma vez que seu córtex é menos complexo que o isocórtex que o rodeia.
Para entender as emoções, foram estudadas as partes que formam o lobo
límbico, bem como os núcleos do hipotálamo e do tálamo, conectados por um circuito
denominado circuito de Papez, que engloba em sua estrutura o fórnix, o hipocampo,
o trato mamilotalâmico, o corpo mamilar, a cápsula interna, os núcleos anteriores do
tálamo, o giro do cíngulo, o giro para-hipocampal e, concluindo o circuito, tempos outro
hipocampo (MACHADO; HAERTEL, 2014).
O envolvimento desse circuito nas emoções foi comprovado alguns anos
depois, quando o psicólogo Heinrich Klein e o neurologista Paul Bucy observaram uma
mudança de comportamento de macacos que tiveram o ápice dos lobos temporais
lesionado, mudanças essas que foram denominadas Síndrome de Klein e Bucy,
caracterizadas pelos seguintes aspectos:

➢ Animais que, geralmente, possuem um comportamento agressivo e selvagem


conseguem ser domesticados sem maiores problemas;
➢ Apetite vicioso, de tal modo que o animal passa a consumir coisas que não
comiam antes;
➢ Agnosia visual, caracterizada pela inaptidão em diferenciar animais ou objetos
por meio da visão;
➢ Incapacidade de sentir medo de animais que antes o amedrontavam, como
escorpiões e cobras;
➢ Fetiche oral, representado pelo costume de colocar qualquer objeto em sua
boca, incluindo seres vivos menores;
➢ Grande apetite sexual, levando os animais a se masturbarem a todo momento
ou a tentarem praticar o ato frequentemente, inclusive com animais do mesmo
sexo ou de espécies diferentes (MACHADO; HAERTEL, 2014).

Sintomas semelhantes já foram observados em seres humanos, vindos como


complicações de uma ablação bilateral do lobo temporal, usada no tratamento de
quadros severos de epilepsia. Atualmente, temos conhecimento que a agnosia visual
que provém da Síndrome de Klüver e Bucy acontece devido a lesões nas regiões
visuais de associação secundária, presentes no córtex do lobo temporal. Os demais
sintomas se originam pela retirada da amígdala, não tendo relação com o hipocampo.
Sendo assim, podemos compreender o sistema límbicocomo um agrupamento
de estruturas subcorticais e corticais com relações tanto no sentido funcional quanto
no sentido morfológico, estando relacionadas com a memória e as emoções.
Anatomicamente falando, o centro do sistema límbico é formado pelo lobo
límbico e estruturas adjacentes. Quando consideramos o sentido funcional, podemos
separar o sistema límbico em dois grupamentos, sendo um deles relacionados à
memória e outro relacionado à emoção (GUYTON; HALL, 2007). A seguir, iremos
abordar sobre algumas estruturas do sistema límbico.
5.1 Córtex Cingular Anterior

Atualmente, temos conhecimento sobre o envolvimento do giro do cíngulo nas


emoções. Sabemos também que esses sintomas estão relacionados com uma lesão
no córtex cingular anterior, uma vez que somente a porção anterior do giro do cíngulo
está envolvido com o reconhecimento das emoções.
Isso foi comprovado por meio de estudos com pessoas saudáveis, que
relataram acontecimentos pessoas com forte apelo emocional enquanto faziam uma
ressonância magnética funcional. Como resultado, observaram a ativação do córtex
cingular anterior em um relato envolvendo tristeza, não tendo o mesmo resultado em
pacientes depressivos crônicos, pois esse córtex apresenta um aspecto mais delgado
(MACHADO; HAERTEL, 2014).
Em relação aos pacientes com depressão grave possuem resistência aos
medicamentos, foi observado um desaparecimento dos sintomas quando o córtex
cingular anterior recebeu estímulos elétricos. No entanto, vale ressaltar que a
depressão possui uma fisiopatologia bem mais complexa, que não se resume à
participação do córtex cingular anterior, pois envolve também os núcleos de habênula
e outras regiões encefálicas.

5.2 Córtex Pré-Frontal Orbitofrontal

Em relação a essa estrutura, somente sua porção orbitofrontal está relacionada


com o processamento das emoções. Ela possui ligações com o núcleo dorsomedial
do tálamo e com o corpo estriado, estando associado ao circuito em alça orbifrontal.
Alguns estudos apontam que as disfunções e funções que antes eram compreendidas
como exclusivas da região pré-frontal orbitofrontal, agora são atribuídas ao circuito
que ele integra (MACHADO; HAERTEL, 2014).

5.3 Hipotálamo

Abordamos sobre a fisiologia do hipotálamo na aula anterior, analisando


detalhadamente suas principais funções. Entre elas, vimos que o controle dos
mecanismos emocionais é uma delas, uma vez que lesões ou impulsos elétricos em
algumas regiões do hipotálamo, caso o indivíduo não esteja anestesiado, geram
respostas emocionais como medo e raiva, dependendo da área, também pode gerar
mansidão.
Uma lesão no núcleo ventromedial, por exemplo, pode tornar o indivíduo mais
agressivo e até perigoso. Foi constatado em um estudo usando gatos que quando
retiramos os hemisférios cerebrais, incluindo o diencéfalo, conservando apenas a
porção posterior do hipotálamo, o felino teve um quadro de raiva que some quase
totalmente quando lesionamos o hipotálamo por completo (GUYTON; HALL, 2007).
O hipotálamo também tem uma função importante no controle das
manifestações periféricas da emoção por meio de suas ligações e seu impacto no
sistema nervoso autônomo.
Grande parte das mudanças comportamentais constatadas por meio de
pesquisas com o hipotálamo de mamíferos também puderam ser visualizadas em
seres humanos após uma cirurgia ou como resultado de tumores, traumatismos,
infecções ou lesões vasculares na área hipotalâmica (GUYTON; HALL, 2007).

5.4 Região Septal

Uma região localizada na parte de baixo do rosto do corpo caloso, no sentido


ventral em relação à comissura anterior e à lâmina terminal. Estão inclusos na região
septal um conjunto de neurônios de disposição subcortical que se alongam pela base
do septo pelúcido, denominado núcleo septal.
A região septal tem ligações bastante complexas e amplas, com conexões, por
meio do feixe prosencéfalo medial, direcionadas ao hipocampo, à amígdala, ao giro
de cíngulo, ao tálamo, à formação reticular e ao hipotálamo. Este feixe faz com que a
região septal receba fitas dopaminérgicas vindas da região tegumentar ventral, sendo
parte do sistema de recompensa do cérebro (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Caso a região septal de um animal sofra lesões bilaterais, iremos observar um
quadro denominado raiva septal, cujos sintomas incluem ferocidade, hiperatividade
emocional e raiva em situações que não mudariam seu comportamento habitual.
Impulsos direcionados à região septal resultam em oscilações no ritmo respiratório e
na pressão sanguínea, demonstrando sua importância no controle das atividades
viscerais.
Em contrapartida, experiências de autoestimulação demonstraram que a região
septal também funciona como um dos centros de prazer no cérebro, uma vez que sua
estimulação gera animação. Caso essa região seja completamente destruída, iremos
observar um quadro de estímulos raivosos e sexuais completamente exagerados
(MACHADO; HAERTEL, 2014).

5.5 Núcleo Accumbens

Um núcleo presente na divisão entre o putâmen e a cabeça do núcleo caudado,


consiste em um corpo estriado ventral. Recebe estímulos dopaminérgicos vindos,
especialmente, da região tegumentar ventral do mesencéfalo, além de enviar
estímulos por meio de suas ligações para a porção orbifrontal da região pré-frontal. O
núcleo accumbens se trata de um integrante fundamental do sistema de prazer ou
recompensa do cérebro (MACHADO; HAERTEL, 2014).

5.6 Habênula

Se localiza no trígono das habênulas dentro do hipotálamo, na parte lateral e


de baixo da glândula pineal. A habênula é formada, principalmente, por dois núcleos
habenulares, um lateral e outro medial. O lateral possui ligações muito complexas,
com evidência para os estímulos transmitidos pelos núcleos septais com direção à
estria medular do tálamo, além de suas ligações com os neurônios dopaminérgicos
do sistema mesolímbico e com o núcleo interpeduncular do mesencéfalo por meio do
fascículo retroflexo, que proporcionam um efeito inibitório nessas áreas.
Além disso, conseguem inibir determinadas regiões do sistema serotoninérgico
de projeção difusa por meio de suas ligações com os núcleos da rafe. Desse modo, a
habênula cumpre o papel de controlar os níveis dopaminérgicos dos neurônios
presentes no sistema mesolímbico (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Impulsos direcionados aos núcleos habenulares geram um efeito inibitório no
sistema serotoninérgico de projeção difusa e no sistema dopaminérgico mesolímbico.
Tal efeito inibitório está incluso na fisiopatologia de determinados transtornos de
humor, como é o caso da depressão, onde podemos evidenciar uma inibição
desproporcional ao sistema mesolímbico.
Alguns pacientes acometidos por uma depressão de nível grave, onde a terapia
medicamentosa não surte efeito, conseguiram receber tratamento por meio de
impulsos elétricos de alta frequência direcionados ao núcleo lateral da habênula, que
bloqueia a atividade espontânea realizada por este núcleo, gerando um tipo especial
de ablação funcional desses neurônios.
Alguns sintomas da depressão podem ser justificados pela diminuição da
atividade dopaminérgica dentro da via mesolímbica, dentre eles, a inaptidão de
conseguir sentir prazer e a tristeza severa.
A ativação da via mesolímbica pode ser observada em estudos onde
incentivamos macacos a puxar uma alavanca para ganhar uma determinada
recompensa, enquanto o núcleo habenular lateral é estimulado caso o macaco puxe
a alavanca e não tenha nenhuma recompensa, isto é, é ativado quando nos frustramos
com algo. Com isso, podemos concluir que a habênula se encarrega por reações
referentes à frustração e o sistema mesolímbico se encarrega do sistema de prazer e
recompensa (MACHADO; HAERTEL, 2014).

5.7 Amígdala

Também conhecida como corpo amigdaloide, se trata de uma palavra vinda do


grego amygdala, que significa “amêndoas”, uma referência clara ao seu formato.
Consiste em um dos integrantes fundamentais do sistema límbico e, por este motivo,
iremos abordar sobre ela com maior profundidade.

Ligações e estrutura

Mesmo tendo um tamanho considerado pequeno, a amígdala possui doze


núcleos e, por este motivo, também é chamada de complexo amigdalóide. Esses
núcleos são separados em três grupos, sendo eles basolateral, corticomedial e
central. Em relação ao grupo corticomedial, temos ligações com o sistema olfatório,
além de aparentar cumprir um papel no comportamento sexual, já o grupo basolateral
recebe grande parte dos estímulos direcionados à amígdala e, por fim, o grupo central
origina as ligações aferentes.
A estrutura da amígdala é subcortical, contendo o maior número de ligações
em todo o sistema nervoso, contendo, aproximadamente, 20 ligações eferentes e 14
ligações aferentes, sendo que as aferentes estão presentes em todas as regiões de
associação secundária do córtex, transmitindo dados sensoriais já processados,
assim como dados das regiões supramodais (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Além disso, recebem aferências vindas de determinados núcleos dorsomediais
do tálamo, hipotalâmicos, septais e também do núcleo presente no trato solitário. A
via amigdalofuga dorsal se conecta com o núcleo accumbens, os núcleos septais e
com diversos núcleos presentes na habênula e no hipotálamo, enquanto a via
amigdalofuga ventral se conecta com as mesmas regiões talâmicas, corticais e
hipotalâmicas que as fibras aferentes, assim como se conecta com o núcleo basal de
Meynert.
Os núcleos da amígdala não fazem somente essas ligações extrínsecas, uma
vez que conseguem comunicar entre si através de fibras majoritariamente
glutamatérgicas, o que aponta um processamento intenso de informações na região.
No sentido neuroquímico, a amígdala possui uma variedade enorme de
neurotransmissores, entre eles, temos GABA, acetilcolina, noradrenalina, serotonina,
encefalinas e substância P (MACHADO; HAERTEL, 2014).
A amígdala é muito complexa em questão de neuroquímica e estrutura, estando
diretamente proporcional com a importância de suas funções, pois se encarrega como
estimuladora do comportamento emocional e como processadora das emoções.

Funções

Impulsos direcionados aos núcleos presentes no grupo basolateral da amígdala


resulta em sensações de medo, que resultam em fuga. Por sua vez, impulsos
direcionados aos núcleos presentes no grupo corticomedial originam ações mais
raivosas e defensivas, sendo que o comportamento raivoso pode ser consequência
de uma estimulação tanto da amígadala quanto do hipotálamo.
Temos uma gama gigantesca de receptores sexuais na amígdala, sendo a
região do sistema nervoso central com o maior número desses receptores. Caso
sejam estimulados, geram diferentes comportamentos sexuais e, em caso de lesão
local, geram comportamentos de hipersexualidade (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Dentre essas funções, podemos considerar o processamento do medo como a
função da amígdala mais relevante, uma vez que pacientes com lesões bilaterais
nessa região não possuem medo, nem mesmo em eventos de perigo evidente, como
a presença de um leão faminto. Podemos observar por meio de um exame de
neuroimagem funcional que a ativação da amígdala pode ser desencadeada quando
visualizamos uma pessoa com uma expressão de medo.
Também podemos observar através da neuroimagem funcional que a amígdala
também participa do reconhecimento de expressões faciais como alegria e medo,
sendo algumas dessas expressões reconhecidas somente pela amígdala. A principal
região encarregada pelo reconhecimento dessas expressões é a região visual
secundária presente no lobo temporal e, ainda assim, pacientes com lesões nessa
região ainda reconhecem algumas expressões por meio da amígdala (MACHADO;
HAERTEL, 2014).

A relação entre o medo e a amígdala

A principal função da reação de medo é a de nos avisar sobre um potencial


perigo, resultando em secreção de adrenalina através da glândula suprarrenal e,
consequentemente, em uma estimulação total do sistema simpático, um fenômeno
denominado Síndrome de Emergência de Cannon, que possui o objetivo de preparar
o organismo para uma possível situação de luta ou fuga (VANVOSSEN, 2016).
Vamos supor que visualizamos um boi mugindo bem alto, a informação visual
é transmitida ao tálamo, mais especificamente ao corpo geniculado lateral, para
depois seguir para as regiões visuais primárias e secundárias. Quando chegam nessa
etapa, a informação pode ser direcionada pela via direta ou pela via indireta.
Caso siga para a via direta, a informação é transmitida para a amígdala, onde
é processada nos núcleos do grupo basolateral e repassados para o grupamento
central, que aciona o alarme por meio do sistema simpático. Isso proporciona uma
reação imediata com ações comportamentais e autonômicas condizentes com a
situação. Caso siga para a via indireta, a informação chega primeiro ao córtex pré-
frontal para, depois, ser direcionada para a amígdala
Mesmo sendo mais lenta, a via indireta possibilita uma análise mais detalhada
da informações e do ambiente pelo córtex pré-frontal, sendo assim, caso a situação
não proporcione um perigo real, como o boi não sendo agressivo, o alarme é
desativado. A via direta não proporciona uma reação consciente, com isso, o indivíduo
experiencia a sensação de medo somente após a chagada dos estímulos ao córtex
(VANVOSSEN, 2016).
Nos animais, o medo consiste em uma reação inata, uma vez que ele já nasce
temendo os perigos mais usuais dentro de seu habitat. A título de exemplo, podemos
citar a reação de medo que um macaco demonstra quando observa uma cobra,
mesmo nunca tendo visto uma antes. No entanto, eles podem aprender a condicionar
esse sentimento.
Alguns ratos foram submetidos a um estudo onde era emitido um som
aparentemente inofensivo, como uma campainha para, posteriormente, sofrerem um
choque elétrico, caracterizando, respectivamente, um estímulo condiciionado e um
não condicionado. Quando esse procedimento é repetido por algumas vezes, o roedor
começou a temer o som da campainha, mesmo quando não vem acompanhada pelo
choque.
Tanto o estímulo condicionado quanto o não condicionado são processados no
núcleo lateral, sendo a resposta desencadeada pelo sistema nervoso simpático. No
ser humano, o condicionamento acontece igual aos animais, no entanto, pode ser
desencadeado sem ter experienciado a situação como, por exemplo, quando alguém
fala que determinada coisa é muito perigosa, isso fará com que o indivíduo a tema,
mesmo sem nunca ter encontrado com ela.

5.8 Sistema de prazer e recompensa

Os psicólogos James Olds e Peter Milner conseguiram constatar um evento


muito importante no ano de 1954, quando colocaram eletrodos no cérebro de ratos
com o intuito de permitir aos roedores estimularem seu sistema nervoso por meio de
uma alavanca.
Devido a esse método, observaram que os ratos estimulavam certas regiões
com uma frequência maior, alcançando 800 estimulações em uma hora, onde o roedor
deixava de se alimentar ou beber água e se estimulavam até se esgotar
completamente, essa região passou a ser chamada de área de recompensa
(MACHADO; HAERTEL, 2014).
Foi considerado que essa autoestimulação proporcionava tanto prazer quanto
a saciação de sensações como sede e fome, podendo ser comparadas, inclusive, com
as sensações de prazer proporcionadas pelo sexo. Alguns pacientes humanos foram
submetidos a um estudo semelhante visando encontrar alternativas para problemas
neurológicos, confirmando a existência dessas regiões que geram prazer ao serem
estimuladas.
Atualmente, é de conhecimento mútuo que as estimulações mais intensas são
feitas no sistema mesolímbico por meio dos neurônios dopaminérgicos, que saem da
região tegmentar ventral, atravessa o feixe prosencefálico medial e terminam no
núcleo accumbens e nos núcleos septais para, posteriormente, seguirem para o córtex
pré-frontal orbitofrontal. Existem também ligações diretas entre a região tegmentar
ventral e a região pré-frontal, bem como conexões de retroalimentação entre essas
regiões.
O sistema mesolímbico gera sensação de prazer quando realizamos ações
fundamentais para nossa sobrevivência, sendo estimulado também em eventos
cotidianos relacionados à alegria, como é o caso de quando ouvimos uma piada
engraçada e nos dá vontade de rir, bem como quando tiramos uma nota boa em um
teste, quando superamos uma tarefa difícil e até quando observamos a felicidade de
uma pessoa querida.
Também sabemos que essa sensação é desencadeada com o uso de drogas,
como crack e heroína, que gera impulsos para o sistema dopaminérgico mesolímbico
dirigidos, especialmente, ao núcleo accumbens. A dependência dessas drogas pode
ser explicada pela redução progressiva da sensibilidade dos receptores neurológicos
ocasionada pela quantidade exagerada de estímulos direcionados a eles, o que exige
doses cada vez maiores para alcançar um determinado grau de prazer (MACHADO;
HAERTEL, 2014).

5.9 Estresse e ansiedade

Vimos nos tópicos anteriores que a sensação de medo cumpre o papel de


preparar o organismo para acontecimentos emergenciais. Nesse contexto, entra a
ansiedade, que consiste em um transtorno de natureza psíquica muito comum,
caracterizada por uma reação exagerada de medo, sendo bastante duradoura e
estimulada por situações perigosas não muito conhecidas ou por acontecimentos
pretéritos que, supostamente, comprovam a periculosidade do evento presente.
Caso a ansiedade seja estimulada constantemente, pode dar origem ao
estresse e causar danos ao organismo. Um indivíduo saudável aprende a controlar as
reações referentes ao medo de modo natural como, por exemplo, o medo de avião,
que sempre é maior na primeira vez, sendo amenizado nas viagens posteriores
quando percebemos que o perigo não é evidente (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Em indivíduos ansiosos, mesmo sem vivenciar o perigo, a amígdala pode ser
estimulada, gerando impulsos para os neurônios do hipotálamo, induzindo a liberação
de ACTH (Adrenocorticotrofic hormone, ou “hormônio adrenocorticotrófico”) para que
a glândula adrenal libere cortisol. O excesso de cortisol ocasiona a morte ou a
disfunção de neurônios do hipocampo, que controla a transmissão de impulsos pela
via hipotálamo-hipófise-adrenal, o que resulta em um aumento da resposta de
estresse.
Por meio de neuroimagem, conseguimos perceber uma diminuição no volume
do hipocampo, que afetou a memória dos pacientes acometidos elo transtorno de
estresse pós-traumático. Podemos associar a reação de estresse não só à
hiperatividade da amígdala, como também à uma diminuição na ação do hipocampo.

6 REGIÕES SENSITIVAS DO CÓRTEX CEREBRAL

No córtex cerebral, temos regiões sensitivas presentes nos lobos temporal,


parietal e occipital. No ser humano, a região mais relevante é a que se encarrega da
visão, preenchendo grande parte do lobo occipital. Em relação às regiões sensitivas,
podemos dividí-las em áreas primárias, responsáveis pela projeção, e áreas
secundárias, encarregadas pela associação, isto é, se encarregam, respectivamente,
pela sensação do impulso recebido e pelo reconhecimento de aspectos específicos
deste impulso.
Em relação às regiões visuais, temos diversas áreas secundárias, nas quais
cada uma se encarrega de processar determinadas características relacionadas à
visão, entre elas, a cor, a forma, o movimento, entre outros.
6.1 Regiões Corticais Relacionadas à Sensibilidade Somática

Área Somestésica Primária

Também conhecida como S1, tanto ela quanto a área de sensibilidade somática
geral estão presentes no giro pós central, que representa as áreas 1, 2 e 3 de
Brodmann. A área 3 se encontra no fundo do sulco central, já as áreas 1 e 2 estão na
superfície do giro pós central, como podemos visualizar nas imagens 1 e 2.
Essa área recebe radiações talâmicas vindas dos núcleos ventrais
posteromedial e posterolateral, transportando estímulos nervosos referentes à dor,
temperatura, tato, pressão e propriocepção. Caso impulsos nervosos sejam
direcionados à área somestésica, podemos observar que o indivíduo terá
manifestações sensitivas mal definidas em certas partes do corpo, semelhantes ao
formigamento ou à dormência.

Imagem 1 – Parte dorsolateral das áreas corticais de Brodmann. Primárias


em vermelho, secundárias em amarelo e terciárias em azul

Fonte: Adaptado de Machado e Haertel (2014).


Imagem 2 - Parte medial das áreas corticais de Brodmann. Primárias em
vermelho, secundárias em amarelo e terciárias em azul

Fonte: Adaptado de Machado e Haertel (2014).

Em contrapartida, quando os impulsos são direcionados aos receptores


exteroceptivos ou até se uma pessoa movimenta certas articulações para estimular
tais receptores, podemos receber potenciais evocados nas porções que
correspondem às áreas somestésicas.
Desse modo, podemos constatar que existe uma relação entre certas regiões
do corpo com as regiões da área somestésica, sendo conhecida como somatotopia.
Podemos visualizar na imagem 3 uma comprovação dessa somatotopia por Penfield
e Rasmussem (1968), que representaram uma espécie de “homúnculo sensitivo” de
ponta cabeça presente no giro pós-central.
Imagem 3 – Homúnculo sensitivo

Fonte: Adaptado de Penfield e Rasmussem (1968).

Temos uma região específica para os pés e para os órgãos genitais localizadas
na parte superior do giro pós-central, enquanto na porção superolateral do hemisfério
temos as regiões que representam o tronco, a perna e o braço, que não ocupam muito
espaço. Logo abaixo uma região maior, encarregada pela sensibilidade da mão, com
a região responsável pela cabeça localizada logo em seguida, contendo uma região
bem grande ocupada pelas áreas encarregadas pela boca e pela face. Por fim,
seguimos com as regiões que representam a faringe e a língua no sulco lateral.
Tal somatopia se assemelha bastante àquela evidenciada na região motora,
onde temos uma área responsável pela mão que tem um tamanho considerável,
principalmente a área relacionada com os dedos. Isso consegue comprovar que a
extensão da representação cortical de uma porção específica do corpo tem relação
com a relevância funcional e com a densidade de aferências em relação à biologia da
espécie.
Lesões que acometem essa área podem surgir com acidentes vasculares
cerebrais que podem afetar tanto a artéria cerebral média quanto a artéria cerebral
anterior, com isso, temos uma perda da capacidade de diferenciação no lado oposto
da lesão, uma vez que o paciente perde a habilidade de notar movimentos das partes
do corpo, de discernir dois pontos ou diferenciar as intensidades de um estímulo.
O paciente com essa área lesada também é incapaz de detectar a região do
corpo que foi tocada, além de não conseguir diferenciar os níveis de peso, temperatura
e textura daquilo que toca. Desse modo, o paciente não possui estereognosia, isto é,
a habilidade de identificar sensorialmente os objetos que segura em sua mão.
Vale ressaltar que as categorias de sensibilidade mais rústicas, como é o caso
da sensibilidade protopática (incluindo sensibilidade dolorosa e térmica e o tato não
discriminativo) continuam quase totalmente intactos, uma vez que estão relacionadas
com o tálamo.

Área Somestésica Secundária

Consiste em uma área que está presente no lobo parietal superior, logo atrás
da área somestésica primária, representando a área 5 e uma porção da área 7 de
Brodmann. Caso essa área seja lesionada, origina uma agnosia tátil, isto é, inaptidão
para reconhecer objetos por meio do tato.

6.2 Regiões Corticais Referentes à Visão

Área Visual Primária

Também conhecida como V1, essa região pode ser encontrada nos lábios do
sulco calcarino, que representa a área 17 de Brodsmann, denominada também como
córtex estriado, é por essa região que as fibras do trato genículo-calcarino se ligam,
vindas do corpo geniculado lateral.
Caso a área visual primária receba impulsos elétricos, pode gerar alucinações
visuais, onde a pessoa pode visualizar círculos reluzentes, sem conseguir perceber
objetos com formas definidas. Quando direcionamos certos estímulos a locais
específicos, podemos visualizar impulsos elétricos em determinadas porções da área
17.
Ficou constatado que a retina se direcionou ao lábio superior do sulco calcarino,
enquanto a metade inferior foi direcionada para o lábio inferior, a parte posterior da
retina também se direciona para a porção posterior do mesmo sulco e, por fim, a parte
anterior se direcionou para a porção anterior. Com isso, podemos concluir que temos
uma correspondência perfeita entre o córtex visual e a retina, conhecida como
retinotopia. Vale ressaltar que uma ablação bilateral feita na área 17 resulta na perda
total da visão em um ser humano.
No entanto, a maioria dos mamíferos não possui sua visão completamente
corticalizada, podendo detectar uma certa sensação luminosa que possibilita que o
animal evite os objetos em seu caminho, mesmo tendo uma lesão bilateral na região
visual. A visualização do contorno dos objetos é de responsabilidade do córtex
primário VI, dando origem a uma forma rústica que é moldada nas áreas visuais
secundárias.

Áreas Visuais Secundárias

Consistem em regiões de associação unimodal, contendo relações


exclusivamente com a visão. Antigamente, essa região era caracterizada como uma
área única, localizada somente no lobo occipital, um pouco à frente da área visual
primária, o que corresponderia às áreas 18 e 19 de Brodmann. Faz pouco tempo que
descobrimos seu verdadeiro tamanho, que ocupa grande parte do lobo temporal em
grande parte dos primatas, inclusive nos humanos.
Utilizando uma ressonância magnética funcional para examinar quadros de
lesões corticais isoladas, conseguimos observar que existem diversas áreas visuais
secundárias, que podem ser visualizadas na imagem 4. Todas estão conectadas por
duas vias corticais originadas da área visual primária, sendo a via cortical dorsal, que
se conecta com a porção posterior do lobo pariental, e a via cortical ventral, ligada
com as regiões visuais presentes no lobo temporal.
Imagem 4 – Áreas Visuais Secundárias

Fonte: Adaptado de Machado e Haertel (2014).

Resumidamente, a via ventral possibilita a identificação do objeto, enquanto a


via dorsal permite verificar sua localização e se está imóvel ou em movimento. Caso
as áreas visuais secundárias sejam lesionadas, o indivíduo pode ter agnosias, isto é,
perda da habilidade de reconhecer objetos ou as características dos mesmos, mesmo
que a área visual primária esteja intacta. Temos diversos casos de agnosias
envolvendo lesões no lobo temporal com relação à via cortical ventral.
Alguns casos de agnosias foram detectadas onde os pacientes foram
incapazes de reconhecer desenhos ou objetos, incluindo cores e até mesmo o rosto
de indivíduos conhecidos, um fenômeno conhecido como prospagnosia. Caso a via
dorsal, em especial a porção V5, seja lesionada, podemos observar casos onde o
paciente não consegue perceber visualmente a movimentação, ou seja, um quadro
de acinetopsia. Com isso, ele possui problemas para passar por uma rua
movimentada, além de visualizar a água das cachoeiras sempre imóveis.

6.3 Regiões Corticais Referentes à Audição

Área Auditiva Primária

Também conhecida como A1, essa região está presente em um local


denominado giro de Heschl, representando as áreas 41 e 42 de Brodsmann. Estão
ligadas ao corpo geniculado medial por meio das fibras de radiação auditiva.
Caso uma pessoa desperta receba impulsos elétricos nessa área, pode sofrer
alucinações auditivas não muito precisas, sendo representadas majoritariamente
como zumbidos. Por sua vez, o giro lateral transverso anterior afetado por lesões
bilaterais originam uma surdez completa, enquanto lesões unilaterais causam uma
pequena limitação na audição, uma vez que a via auditiva não é completamente
cruzada igual às outras vias sensitivas.
Desse modo, cada cóclea possui uma região que a representa em um dos dois
hemisférios do córtex. Temos uma representação tonotópica na área auditiva, isto é,
sons contendo uma frequência específica são direcionados às porções desta área
especializadas em seu reconhecimento, o que indica uma correspondência entre a
cóclea e essas porções.

Área Auditiva Secundária

Está presente no lobo temporal, representando a área 22 de Bodmann, próximo


à área auditiva primária. Não está claro na literatura o papel que esta área cumpre, no
entanto, sabemos que ela tem relação com algumas formas especiais de informação
auditiva.

6.4 Área Vestibular

Atualmente, sabemos que essa área está presente no lobo pariental, mais
especificamente em uma pequena região adjacente à área somestésica que se
encarrega pelo rosto. Com isso, podemos afirmar que a área vestibular possui
relações, predominantemente, com a região de projeção da sensibilidade
proprioceptiva, muito mais que com a região auditiva.
Os receptores vestibulares já foram conhecidos como proprioreceptores
especiais, uma vez que reconhecem e transmitem estímulos referentes ao movimento
e à posição da cabeça. Alguns estudiosos sugerem que a área vestibular do córtex
teria uma importância fundamental na apreciação consciente da orientação no espaço
(MACHADO; HAERTEL, 2014).
6.5 Área Olfatória

Consiste em uma região muito grande nos mamíferos, no entanto, está


presente em uma região muito pequena da porção anterior do giro para-hipocampal e
do úneus no ser humano, que também é conhecida como córtex piriforme.
Em quadros de epilepsia local do úneus, evidenciamos alucinações olfatórias,
onde os pacientes sempre reclamam de cheiros inexistentes que, geralmente,
descrevem como extremamente desagradáveis. Esse quadro é conhecido como crise
uncinada, que pode se manifestar como esse sintoma isolado ou como complemento
para uma crise epilética do tipo “grande mal”.

6.6 Área Gustativa

Temos uma controvérsia em relação à sua localização exata na literatura, no


entanto, sabemos atualmente que ela está presente na porção posterior da ínsula no
ser humano, não sendo encontrada em nenhum outro primata, esta área consiste em
um isocórtex heterotípico granular.
Uma curiosidade é que o pensamento ou a mera visualização de uma comida
saborosa é capaz de estimular a região gustativa presente na ínsula. Além disso,
temos nessa região neurônios sensíveis tanto ao paladar quanto ao olfato e à
sensibilidade somestésica relacionada à boca, evidenciando a relevância biológica
dos estímulos no interior da boca.

7 CÓRTEX CEREBRAL, MOTRICIDADE E ASSOCIAÇÕES TERCIÁRIAS

A movimentação tem um objetivo formulado previamente pelo córtex pré-


frontal, que transmite os impulsos referentes à essa decisão para as regiões motoras
do córtex, sendo elas: as áreas motoras secundárias e primárias, bem como as áreas
motoras suplementares e pré-motoras.
7.1 Área Motora Primária

Também conhecida como M1, se localiza na porção posterior do giro pré-


central, representado pela área 4 de Brodsmann. No sentido de formação celular,
consiste em um isocórtex heterotípico agranular, com um aspecto de células
piramidais grandes, também conhecidas como células de Betz. Essa área possui o
menor limiar para estimular movimentos por meio de impulsos elétricos, além de
definir a movimentação dos músculos presentes no lado oposto (GUYTON; HALL,
2007).
Além disso, os focos epiléticos localizados na área 4 geram movimentos em
conjuntos musculares isolados, tendo a possibilidade de se estender aos poucos para
outros conjuntos dependendo da velocidade com que os impulsos são propagados.
Com o acompanhamento de quadros epilépticos focais e de impulsos elétricos,
conseguimos mapear o córtex motor primário conforme a reação das regiões do corpo,
isto é, conseguimos traçar a somatotopia que, assim como a região sensorial, também
pode ser representada por um homúnculo, como podemos observar na imagem 1.

Imagem 1 – Homúnculo motor

Fonte: Adaptado de Penfield e Rasmussem (1968).

Podemos identificar uma região extensa na porção responsável pela mão em


comparação com as regiões do membro inferior e do tronco. Com isso, podemos
evidenciar que a extensão condizente com a área 4 se refere à sutileza dos
movimentos feitos pelos conjuntos musculares.
Tal configuração somatotópica pode mudar dependendo das lesões e dos
aprendizados no decorrer da vida. As ligações aferentes mais relevantes da região
motora são feitas com o tálamo, por onde recebe dados dos núcleos de base e do
cerebelo (GUYTON; HALL, 2007).
É da área 4 do ser humano que partem a maioria das fibras dos tratos
corticonuclear e corticoespinhal, que cumprem o papel de enviar informações
referentes à movimentação voluntária, principalmente para a musculatura distal dos
membros.

7.2 Regiões motoras secundárias

Área Pré-Motora

Consiste em uma região presente no lobo frontal, à frente da região motora


primária (área 4), preenchendo totalmente a área 6 de Brodmann, localizada na face
lateral do hemisfério. Precisa de impulsos elétricos mais intensos para originar
respostas motoras, quando comparado com a região primária, pelo fato de ter
características menos excitáveis. Proporciona respostas menos localizadas,
englobando grupos musculares como os da base dos membros inferiores e do tronco.
Caso a área pré-motora seja lesionada, os grupos musculares citados acima
perdem um pouco da sua força, um quadro conhecido como paresia, que faz com que
o paciente não consiga levantar completamente a perna ou o braço. Essa área coloca
o corpo em uma posição própria para fazer movimentos sutis por meio da via córtico-
retículo-espinhal, principalmente quando estamos tratando da musculatura proximal e
distal dos membros (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Além disso, a área pré-motora tem conexões com a região motora primária e
recebe estímulos de diversas partes de associação do córtex e do cerebelo, este
último por meio do tálamo. Porém, o papel mais relevante que essa área cumpre se
refere ao planejamento motor, que veremos mais adiante.
Área Motora Suplementar

Se trata de uma região que preenche uma boa porção da área 6, estando
presente na face medial do giro frontal superior. Possui ligações com a área motora,
com o corpo estriado e com a área pré-frontal, sendo a segunda por meio do tálamo.
Essa área também cumpre um papel relevante no planejamento motor, especialmente
em sequências de movimentos mais complicadas (MACHADO; HAERTEL, 2014).

7.3 Planejamento motor

Através da neuroimagem funcional, conseguimos evidenciar que, ao fazermos


um gesto como esticar o braço para pegar um objeto, temos uma estimulação da área
motora suplementar ou da área pré-motora, o que aponta um aumento da atividade
neurológica nesta região. Passados cerca de dois segundos, tal atividade é
interrompida para iniciar uma nova estimulação na região motora primária e, ao
mesmo tempo, o movimento se inicia.
Com isso, temos uma fase de planejamento estimulada pelas regiões motoras
secundárias durante a movimentação, além de uma fase de execução estimulada pela
região primária. O planejamento engloba a seleção dos grupos musculares que
sofrerão a contração em questão de velocidade, trajetória e distância a ser percorrida.
Esses dados são transmitidos para a região primária para poder executar o movimento
conforme foi planejado previamente (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Vale ressaltar que o cerebelo também participa do processo de planejamento,
uma vez que seu núcleo denteado é estimulado antes da região motora primária. No
entanto, a iniciativa de fazer o planejamento parte somente da área pré-frontal, não
tendo relação com nenhuma das regiões motoras secundárias, essa área será
abordada no próximo tópico.
Algumas informações clínicas confirmam que as regiões secundárias cumprem
um papel relevante no processo de planejamento, já que, caso sejam lesionadas, dão
origem a disfunções chamadas apraxias, onde o paciente fica incapaz de executar
movimentos simples como abotoar uma camisa ou escovar os dentes, ainda que não
esteja paralítico.
Nesse contexto, a região motora primária não foi comprometida pelo fato da
pessoa conseguir executar um gesto, somente os ajustes sutis não estão sendo feitos,
o que indica o comprometimento na das regiões secundárias. Resumidamente, a
região primária consegue executar no gesto, porém, não tem idéia de como irá fazê-
lo, recaindo sobre as regiões secundárias, em conjunto, a função de orientá-la.
A título de exemplo, vamos imaginar uma pessoa sentado em uma mesa de
jantar e precisa escolher entre a cerveja e o vinho. A escolha fica a cargo do córtex
pré-frontal devido à sua complexidade envolvendo muitas variáveis, como suas
preferências pessoais, o preço das bebidas e se misturar ambas seria uma boa ideia.
A escolha é transferida para a área motora suplementar, que formula o plano
motor com o grupo de músculos que são necessários para o movimento, bem como o
nível de contração que cada um fará. Para cumprir esse papel, a área motor
suplementar também recebe impulsos do cerebelo e do cérebro, por meio da via
dentro-talâmico-cortical.
Com o plano motor completo, podemos prosseguir para a execução, por meio
de estímulos transmitidos do trato corticoespinhal para os músculos distais dos
membros, e do retículo espinhal para os músculos proximais. Sendo assim, o
antebraço e o braço se direcionam para a garrafa de vinho, com impulsos trasnmitidos
pela via córtico-retículo-espinhal, agarrando a garrafa com os dedos por meio de
impulsos transmitidos pelo trato corticoespinhal (MACHADO; HAERTEL, 2014).

7.4 Sistema Neurônios-Espelho

Consiste em uma categoria de neurônio cuja estimulação não acontece


somente quando a pessoa executa um determinado ato motor, também ocorre quando
observa uma outra pessoa executando o mesmo ato. Tanto no macaco quanto no ser
humano, esses neurônios se localizam na região frontoparietal, preenchendo uma
porção da área pré-motora, se prolongando para a porção inferior do lobo parietal.
Quando localizamos os neurônios-espelho por meio da movimentação de
diversas partes do corpo, podemos observar uma configuração somatotópica similar
àquela que vimos na região motora primária. Eles são capazes de modular a
estimulação dos neurônios envolvidos na movimentação motora, visando facilitar a
execução, sendo a base para a aprendizagem motora através da imitação
(MACHADO; HAERTEL, 2014).
Sendo assim, podemos aprender um movimento específico de ginástica com
mais rapidez quando visualizamos alguém o executando, bem mais rápido que
quando ouvimos uma descrição ou quando vemos uma ilustração em um livro. Por
esse motivo, os neurônios-espelho cumprem um papel fundamental na aprendizagem
motora das crianças, que observam a movimentação tanto da babá quanto dos pais.
Agora, iremos abordar sobre algumas regiões de associação terciária.

7.5 Área Pré-Frontal

Se localiza na porção anterior não motora do lobo frontal. Consegue preencher,


aproximadamente, ¼ da superfície do córtex cerebral. Possui ligações com a maioria
das regiões corticais e com diversos núcleos talâmicos, incluindo a amígdala, o núcleo
dorsomedial, os núcleos da base, hipocampo, tronco encefálico e cerebelo, isto é, está
conectado com quase todo o encéfalo, sem contar com as projeções
monoaminérgicas presentes nos sistemas modulatórios de projeção difusa.
Em relação à funcionalidade da área pré-frontal, tivemos algumas constatações
para comprová-la, entre elas, o caso de um funcionário americano de uma ferrovia
chamado P. T. Gage que, em 1868, sofreu um acidente com uma barra de ferro,
resultando na destruição completa de seu córtex pré-frontal.
Mesmo tendo sobrevivido e mantido suas funções cognitivas, foram
observadas mudanças consideráveis na personalidade de Gage, pois ele perdeu por
completo seu senso de responsabilidade social e começou a vagar pela cidade
falando coisas grosseiras e exibindo a barra de ferro que o machucou. Sua
personalidade mudou de tal modo que seus amigos chegaram a questionar se ele era
uma outra pessoa (MACHADO; HAERTEL, 2014).
Em questão de funcionalidade, podemos separar a área pré-frontal em duas
subregiões, a dorsolateral e a orbitofrontal. A região dorsolateral se localiza no lobo
frontal, preenchendo tanto a porção dorsolateral quanto a porção anterior. Ela cumpre
um papel fundamental nas funções executivas, englobando o planejamento e
execução de ações sociais condizentes com a situação social e física do indivíduo,
examinando as possíveis consequências dessas ações, planejando e organizando as
soluções para os problemas que surgem.
Por sua vez, a região orbitofrontal preenche somente a porção anterior do lobo
frontal, próximo às órbitas que representam os giros orbitários. Ele participa da
contenção de comportamentos não aceitos socialmente, do processamento das
emoções e na manutenção da atenção (MACHADO; HAERTEL, 2014).

7.6 Área Pariental Posterior

Ocupa completamente o lobo pariental inferior, isto é, os giros angulares,


representados pela área 39 de Brodmann e os giros supramarginais, na área 40.
Sendo assim, se localiza próximo às regiões secundárias visual, auditiva e
somestésica, operando como uma área que concilia todos os dados provenientes
dessas três regiões.
Podemos afirmar que a área pariental posterior armazena dados que foram
processados por diferentes sistemas visando formular uma caracterização total dos
objetos por meio das percepções, englobando cheiro, aparência, textura, som e nome.
Essa área também participa do processo de atenção seletiva e do planejamento de
movimentos, sendo essencial na identificação da relação entre o ambiente e os
objetos.
Além disso, também é responsável por compor uma imagem mental em relação
ao seu próprio corpo e o modo como se relaciona com o espaço. Tais funções ficam
mais evidentes quando observamos sintomas clínicos referentes à uma lesão que ela
sofre, que incluem desorientação espacial completa, de tal modo que o paciente não
consegue se deslocar do trabalho para a casa e vice-versa, em casos mais extremos,
sequer consegue se dirigir para sua cama (MACHADO; HAERTEL, 2014).
É mais comum que os sintomas manifestados sejam característicos de um
quadro denominado síndrome da negligência, desencadeada por lesões no lado
direito, isto é, no hemisfério associado aos mecanismos visuoespaciais, onde ocorre
uma falta de percepção do próprio corpo em relação ao espaço ocupado.
Temos casos onde o paciente não consegue reconhecer o lado esquerdo de
seu corpo e começa a ignorá-lo, ou seja, ele deixa de fazer a barba, limpar e até usar
calçados em seu lado esquerdo.
Em quadros relacionados com o espaço extrapessoal e peripessoal, acontece
algo semelhante ao quadro anterior, no entanto, qualquer parte do mundo localizado
em seu lado esquerdo deixa de existir em sua concepção. Sendo assim, ele escreve
somente do lado direito do papel, lê frases pela metade e ignora os alimentos
localizados no lado esquerdo do prato. Nesse contexto, um neurologista consegue
estabelecer um diálogo com esse paciente caso o aborde pelo seu lado direito
(MACHADO; HAERTEL, 2014).

7.7 Córtex Insular Anterior

A ínsula consiste em uma região que contém duas porções divididas pelo sulco
central, a posterior e a anterior, que divergem tanto em função quanto em estrutura.
O córtex insular posterior é descrito como um isocórtex heterotípico agranular, um
aspecto particular que pode ser evidenciado em regiões primárias da área sensorial
visceral e da área gustativa.
Por sua vez, o córtex insular anterior consiste em um isocórtex homótipo, um
aspecto presente nas áreas de associação. Quando realizamos um processo de
neuroimagem nessa região em seres humanos, conseguimos perceber que ela está
envolvida nas seguintes funções:

➢ Habilidade de sentir empatia pelas pessoas, identificando e se apiedando pela


situação emocional de um indivíduo. O córtex insular anterior é estimulado em
pessoas saudáveis quando visualizam situações dolorosas, como uma pessoa
prendendo seu dedo na porta de um carro. Porém, esse estímulo não ocorre
caso o dedo esteja apenas encostado na porta. Tal habilidade pode ser perdida
quando lesionamos a insula, resultando em diversas psicopatias.
➢ Capacidade de diferenciar sua fisionomia com a de outros seres humanos. A
título de exemplo, vamos imaginar que um indivíduo esteja se observando em
uma foto ou em um espelho, o córtex insular anterior é estimulado para permitir
esse reconhecimento, que também fica a cargo das áreas visuais secundárias.
➢ Estimulação da sensação de nojo quando estamos próximos ou visualizamos
vômitos, fezes, carniça ou outro evento que tenha algum elemento nojento.
Essa estimulação também acontece quando visualizamos um outro indivíduo
com uma expressão de nojo. O nojo consiste em uma sensação adaptativa,
uma vez que faz as pessoas se retirarem do local pelo risco que algumas
situações trazem de contrair alguma doença. Com isso, uma lesão na insula
também ocasiona a perda dessa sensação.
➢ Reconhecimento dos elementos subjetivos referentes à emoção, permitindo
que o indivíduo identifique emoções, algo que também é característico de
regiões subcorticais e corticais presentes no sistema límbico (MACHADO;
HAERTEL, 2014).

7.8 Áreas Límbicas

Englobam as regiões do alocórtex, que engloba o giro denteado, o hipocampo


e o giro para-hipocampal, bem como as áreas do isocórtex e do mesocórtex que
incluem, respectivamente, a ínsula anterior e o giro do cíngulo. Essas regiões estão
integradas no sistema límbico que, como vimos na aula 6, está envolvido com as
emoções.
Em relação ao giro do cíngulo, ele cumpre duas funções distintas em diferentes
regiões. Na porção anterior do cíngulo, que preenche cerca de 1/3 da região total,
temos o processamento das emoções, já a porção posterior se relaciona com a
memória, preenchendo 2/3 da região total (MACHADO; HAERTEL, 2014).
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Koogan, 2013.

GUYTON, A.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.

JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: textos e atlas. 10. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência.


2. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.

MACHADO, A.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Paulo:


Atheneu, 2014.

MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada pela clínica. 7.


ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

PENFIELD, W.; RASMUSSEM, T. The Cerebral Cortex of Man: A Clinical Study of


Localization of Function. JAMA Psichiatry. v. 206, n. 2, p. 380, 1968.

SCHUNKE, M. Prometheus atlas de anatomia: cabeça e neuroanatomia. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

VANVOSSEN, A. C. Influência da estimulação do córtex pré-límbico no


processamento de memória aversiva. Tese (Doutorado em Farmacologia) –
Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas, Programa de
Pós-Graduação em Farmacologia, Florianópolis, 2016.

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