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Estudo Bíblico - 20231023 - 182759 - 0000
Estudo Bíblico - 20231023 - 182759 - 0000
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Está pois, respondida a questão dos sacerdotes: se aqueles
investidos de poder sagrado (sacerdotes, escribas e outros tantos)
se esquecem da origem de sua autoridade, que é Deus, e
pretendem se apossar da vinha (Israel, a religião do povo, os
sacrifícios do povo) para proveito próprio, o “dono da vinha” virá e
despedirá a todos, entregando a vinha a outros – exatamente
àqueles rejeitados pelos agricultores assassinos. Só é legítima,
portanto, a autoridade exercida para o bem e o cuidado daqueles
que lhe foram confiados, atenta sempre à provisoriedade de sua
condição de “arrendatários” de uma terra que não lhes pertence. O
Templo não pertence aos sacerdotes, nem a Torah aos escribas.
Eles são apenas “arrendatários” dos bens do céu, administradores e
cultivadores dos rebentos divinos.
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O embaraço da questão reside no quadro político da Palestina e
nas inquietações populares no tempo de Jesus. O Império Romano
entrara em Israel como aliado, contra os dominadores gregos (cf.
Livros dos Macabeus). Submetidos os gregos, os romanos se
apossam também da Palestina e a agregam à Província da Síria. A
estratégia romana de dominação consistia não na abolição, mas
na subordinação dos governos locais e na cobrança de impostos.
Assim, durante a vida pública de Jesus, o Sinédrio continuava
governando a Judeia, assim como Herodes Antipas continuava
reinando sobre a Galileia. Todos, porém, submetidos ao
Procurador Romano, residente em Cesareia Marítima. Nesse
momento, por volta do ano 30, o Procurador era Pôncio Pilatos. A
cobrança de impostos era também delegada a famílias influentes
ou autoridades locais, que, por sua vez, entregavam esse
desdenhoso ofício a empregados (os “publicanos”) que logo se
enriqueciam pela desonestidade. O povo, naturalmente,
abominava essa dominação que, politicamente sutil e sofisticada,
gerava miséria, se opunha aos ideais messiânicos de Israel e
despertava reações violentas. De modo que Jesus poderia se
indispor de uma só vez com muitos movimentos do povo, caso se
colocasse favorável à cobrança dos impostos, ou teria problemas
com as autoridades imperiais, caso se pusesse contra o
pagamento dos tributos. É preciso admitir: a armadilha foi bem
arquitetada.
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Em vez de uma resposta simples, pede-lhes que lhe mostre uma
moeda. Trazida a moeda, Jesus ainda lhes pergunta de quem o
rosto e a inscrição nela contidos. Ao que prontamente confirmam:
“De César” (v. 16). Ora, é como se Jesus lhes dissesse: “Vejam, são
vocês que trazem a moeda e reconhecem facilmente sua inscrição;
estão envolvidos até a cabeça nesse jogo imundo, sobre o qual
querem minha opinião”. De modo que a proposta de Jesus é
audaciosa: “Devolvei a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus” (v. 17). O que equivale dizer: “Se vocês vivem da conivência
com o Império, se sobrevivem graças às benesses que o poder de
Roma lhes concede e se vocês tem sua autoridade legitimada por
ele, pelo menos tenham a coragem de devolver a ele a parte que
lhes exige nesse acordo. Ou tenham a hombridade de negar-se a
esse jogo de favorecimentos, interesses e lucros – que não rende só
ao Império –, mas também a vocês, enquanto custa a vida do povo.
Não finjam estar contra a dominação de Roma, que garante a
autoridade de vocês diante do povo. Se vocês fossem de fato
autoridades legitimadas por Deus e não pelo poder, preocupariam-
se com o povo e o defenderiam da exploração romana”. Pois, de
fato, a vida e o povo pertencem a Deus e é a eles que as
autoridades civis e religiosas devem servir. Ora, Marcos se irrita
com tanta hipocrisia. Os poderosos do judaísmo querem usar Deus
para se opor a César. Mas Deus não é manipulável. A ele deve ser
devolvida a vida; não a moeda da corrupção romana que comprou
as autoridades judaicas. Que pensem bem os fariseus e demais
líderes se estão dando a Deus o que é devido ou se estão
instrumentalizando-o em prol de causa própria. A Deus, a vida
defendida com unhas e dentes, acima de tudo, como fez Jesus.
Tudo o mais (a fraude, a mentira, a usurpação e o domínio)
pertence a César e deve ser devolvido a ele. Deus não aceita
negociação escusa”.
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Embora esse texto, sobretudo o último versículo “Dai a César...”
tenha sido recorrentemente usado para justificar o poder político e
a obediência civil, vemos que Mc pretende dizer outra coisa. O que
faz pensar na legitimidade de nossas instituições religiosas e nossas
comunidades quando se tornam coniventes ou até cúmplices das
mais ardilosas manobras políticas e financeiras. Serão capazes de
servir simultaneamente a “César” e a Deus? Ou terminarão por
sacrificar a César o povo que a Deus pertence? Como de costume,
em Mc, todos ficam admirados com o ensinamento de Jesus, para
que essa admiração os conduza à pergunta fundamental: “quem é
ele?”.
O Reino de Deus e o “Reino de César” não são apenas diferentes,
mas opostos. Porém, os dois encontram-se tão entremeados em
nossa vida pessoal e em nossas instituições comunitárias que, às
vezes, podemos cometer sérios erros e tomar um pelo outro. Como
discípulos, devemos cuidar de distinguir bem esses Reinos, devolver
a César o que lhe pertence para, livres, oferecermos a Deus o que é
verdadeiramente dele. Nisso reside a “autoridade” que Jesus legou à
sua Igreja.
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A próxima provocação a Jesus, depois de tantas já vistas nos
Estudos 31 e 32, vem dos saduceus (v. 18). A eles estava entregue o
cuidado do Templo de Jerusalém e somente dentre eles se elegia o
Sumo Sacerdote. Mc nos informa que os saduceus não acreditam
na ressurreição. Não é propriamente uma surpresa, pois quem goza
dos poderes e das riquezas raramente pode querer ou esperar uma
vida diferente desta que leva. Mas há razões históricas para essa
descrença. Os saduceus, como bons vigilantes da Lei que vivem no
centro do controle religioso, não aceitam outro livro inspirado que
não o miolo da Lei, a Torah em seu sentido estrito, ou seja, os cinco
livros primitivos da Escritura Judaica. E, de fato, nesses ainda não se
manifesta a esperança da ressurreição. A fé numa vida para além
da morte começa a despontar nos escritos sapienciais mais tardios,
após o Exílio da Babilônia e, sobretudo, a partir da influência grega
(livro da Sb, por exemplo), até aparecer explicitamente na literatura
apocalíptica, que gera os livros de Tb, Dn, 1 e 2Mc. Sem aceitar a
inspiração divina desses livros, os saduceus se atêm à observância
estrita daquilo que chamamos “Pentateuco”.
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Jesus responde com uma advertência: a descrença dos saduceus na
ressurreição revela ignorância das Escrituras e incompreensão do
poder de Deus (v. 24). Lida no seu conjunto, a Escritura conduz à
esperança de que Deus, por poder e por graça, não deixa perecer
aqueles que ama. Ou seja, Deus nos ressuscita sempre. Entretanto,
a ressurreição não é o retorno ou a continuação eterna desta vida,
vivida como se a vive aqui e agora. Talvez, muitos de nós ainda
compreendamos assim, hoje. Pelo contrário, a ressurreição insere
os ressuscitados numa vida transformada, profundamente
diferente desta que agora se experimenta. Não haverá posses, nem
bens, nem direito de uns sobre outros (v. 25); “serão como anjos”.
Vale explicar que a expressão não significa que o ser humano,
depois da morte, torna-se um anjo com asas e cabelos cacheados
como na iconografia barroca, nem muito menos que os humanos
serão “espíritos soltos’, sem vínculo com sua identidade humana.
“Serão como anjos” significa: desprovidos de todo direito de posse,
mas irmãos uns dos outros, na mais perfeita fraternidade. Na
ressurreição, não se manterão as relações de poder estabelecidas
na terra: homens que se acham senhores e proprietários de suas
mulheres. E, para reafirmar a vida eterna pelos saduceus
desacreditada, Jesus ainda retruca com um argumento do Livro do
Êxodo (Ex 3,6), aceito pelos eles, citando o mesmo Moisés cuja
autoridade haviam evocado: ao revelar-se a Moisés como Deus dos
Patriarcas, Yahweh não se proclama deus de mortos, mas Deus dos
vivos, dos que vivem para sempre, no mistério divino e na história
de Israel (v. 26-27).
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Mas adiciona um “segundo mandamento”, justapondo o amor a
Deus e o amor ao próximo (v. 31 – cf. Lv 19,18; Dt 4,35). Nisso se
resume, segundo Jesus, toda a Tradição de Israel e a Escritura. O
escriba concorda, inclusive reconhecendo que observar esses dois
mandamentos, agora feitos um só, supera os sacrifícios de expiação
dos pecados. Ou seja, a prática do amor é o verdadeiro culto que se
presta a Deus (v. 32-33). E esse “de fora”, segundo admite Jesus,
“não está longe do Reino de Deus” (v. 34).
Por fim, Mc nos diz que “ninguém tinha coragem de fazer mais
perguntas a Jesus”. Ou seja, suas respostas eram tão cheias de
“autoridade” que, mesmo após muitas tentativas, as supostas
“autoridades” não conseguiram seu perverso objetivo: surpreender
Jesus em algum ensinamento incorreto.
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A segunda crítica de Jesus aos escribas se refere à sua posição
notável no meio do povo – bem adequada ao tipo de Messias
davídico que esperavam (v. 38-40). Não obstante serem respeitados
e ocuparem lugares de honra nas orações, “devoram as casas das
viúvas enquanto rezam” (v. 40), ou seja, exploram os pobres sob o
pretexto de cumprirem um mandado de Deus. É o risco de toda
autoridade religiosa, quando passa a esperar um Messias mais
afeito ao poder do que ao serviço aos pequenos. Eles “serão
julgados com mais rigor”, assegura Jesus. Como Lc também dirá: “a
quem muito foi dado, muito será cobrado” (cf. Lc 12,48). A
responsabilidade do sagrado é inseparável da atenção e diligência
para com os mais pobres. O próprio escriba, interlocutor de Jesus,
admitiu isso há pouco: não há melhor amor a Deus do que o amor
zeloso para com o próximo.
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Ninguém entra no Reino de uma vez por todas. Há sempre
caminhos que nos levam para dentro ou para fora dele, todos ao
alcance de nossos pés. Precisamos, pois, manter os olhos no
Mestre, para dele aprender. Quem sabe, compreendendo “quem
ele é”, compreendamos também melhor o Reino ao qual Ele nos
chama.
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Referências:
Sites:
https://www.fiquefirme.com.br/32_a_cesar_e_a_deus_mc_11
27_1217
https://www.fiquefirme.com.br/33_para_dentro_e_para_fora
_do_reino_mc_1218_44
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