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|As formas do tempo ¢ do cronotopo ‘no romance ‘Um ensaio de poética hist6rica Na literarara, 0 processo de assimilagdo do tempo e do espace histéricos reais, e do homem hist6rico e real que neles se revela, transcorreu de forma complexa e descontinua. As- similaram-se aspectos isolados do tempo e do espago acessi- ‘eis apenas em dada fase historica do desenvolvimento da humanidade, claboraram-se nos géneros 06 respectivos mé- todos de representacio ¢ formulagdo artstica dos aspectos assimilados da realidade. ‘Chamaremos de cronotopo (que significa “tempo-espa- 0") a imterligacio essencial das relagées de espago e tempo como foram artsticamente assimiladas na literatura. Esse termo é empregado nas ciéncias matemstica e foi introduzi- do e fundamentado com base na teoria da relatividade (Ein- stein), Para nds ndo importa o seu sentido especifico na teo- tia da relatividade, e o transferimos dat para e4 — para 0 ‘campo dos estuos da literatura — quase como uma meté- fora (quase, mas nao inteiramente; importa-nos ness tetmo a expressio de inseparabilidade do espago e do tempo (0 tem- po como a quarte dimensio do espaco). Entendemos o cro- rnotopo como uma categoria de conteiido-forma da literatura {aqui no comentaremos © cronotopo em outros campos da cultura)? 20 autor dessa linha asta em 1925 a uma pasta de A.A. ‘Usd sobre ocrnotopo na Biologia O paleseate anda tou de As formas do tempo ed cronotopo no romance u [No cronotope artisticoliersrio® ocorr a fusto dos in- 3» do espago e do tempo num todo apreendido concre- to, Aqui o tempo se adensa e ganha corporeidade, torna-se artstcamentevisive; 0 espaco se intensifca,incorpora-e a0 movimento do tempo, do enredo e da histria. Os sinas do tempo se revelam no espago €0 espago é apreendido e medi- do pelo tempo. Esse cruzamento de série ¢ a fusio de sinais ‘aracterizam 0 cronotopo artistico. ‘0 cronotopo tem um significado fundamental para os sgéneros na literatura. Pode-se dizer, sem rodeios, que 0 géne- 10 ¢. modalidades de género sio determinados justamente pelo cronotopo,e, ademas, que na literatura o principio con- dutor no cronotopo € o tempo. O cronotopo como categoria de contetido-forma determina (em grande medida) também a jmagem do homer na literatura; ess imagem sempre € 65: sencialmente cronotépica.> ‘Como ja dissemos, a assimilagio do cronotopo real e histdrico na literatura transcorre de modo complexo ¢ des- continuo: assimilaram-se alguns aspectos determinados do éronotopo, acessives em dadas condicdeshistrica,elabo- raram-se apenas certs formas de representagio artistica do _quesies de ettica, (Ns do A. [Aleksei Alekativitch kbs (1875 1542} fot am inporame olga roto, cis peas exerceram gra de infudnca sobre a flout a aniropoogia e pated eves ees sovieccas. (dT) # On fesional. Ver aespeito no posticio a eae (N. do) 2 Em sus “Esta transcendental” (una das sees baad Cri. tia da reso para, Kant deine 0 epaga eo tenia come formas neces sirias de todo coahecinenta come peas percepts eepeuentnges ementares. eetans a aprecagto kana do ignieado dest formas to proceso de conhecinento, mas, dfreags de Kant, no as concebe ‘mos camo “teascendentas” cai como forms da pda reaidae fa tual. Tentacemos relat o papel deseas formas no proceso do cone mento artstico concer (a visio atta) mas conde do gine r- manesco, (N- do A) 2 Mikhail Bako cronotopo teal. Essas formas de género, produtivas de inicio, foram respaldadas pela tradigéo e no desenvolvimento pos- terior continuaram a existir fenazmente mestno quando ja haviam perdido completamente sua importincia realstica- ‘mente produtiva e adequada. Daf coexistitem na literatura fendmenos profundamente heterotemporais, 0 que confere ‘extrema complexidade a0 processo histéricorlterério. "Nos ensaios de poética historica que propomos, tenta- _remos mostrar esse processo usando o material do desenvol- vimento das diferentes variedades de género do romance eu roped, comecando pelo chamado “romance grego” e termi nando com o comance de Rabelais. A relativa estabilidade tipolégica dos cronotopos dos romances elaborados nesses periodos nos permitira langar um olhar prospectivo sobre al- {gumas variedades do romance nos perfodos posterior. ‘Nao temos a pretensdo de que as nossas formulagbes € definigdes téricas sejam plenas e exatas. 6 hé pouco tempo, iniciou-se em nosso pais e no exterior um sério trabalho vol- tado para o estudo das formas do tempo ¢ do espago na arte ‘ena literatura, Em seu posterior desenvolvimento, este tra- batho completard as caracteristicas dos cronotopos do 10-. mance que apresentamos neste nosso estado e, talvez, venha a corrgi-las em sua esséncia, [As formas do tape e do eroaotopo no romance 8 Jno terreno da Antiguidade, foram criados tés tipos cessenciais de unidade romanesca e, portanto, 0s trésrespec- tivos modos de assimilacio artstica do tempo e do espago rno romance, ou, em termos breves,trés cronotopos do ro- mance, Esses tréstipos se mostraram extraordinariamente produtivoseflexiveis,e em grande parte determinaram o de- senvolvimento de todo © romance de aventuras até meados do século XVIIL Por isso, é necessério comegar por uma ané- lise mais detalhada dos ts tipos antigos, para podermos de- pois desdobrar sucessivamente as suas variagbes no romance ‘europe e desvelar um tipo novo, que foi criado jf em terre no europe. [Em todas as andlises subsequentes, concentraremos a nossa inteira atengio na questio do tempo (esse principio ‘condutor no cronotopo) e de tudo que tem uma relagio di reta ¢ imediata com ele, Deixaremos quase inteiramente de lado todas as questdes de ordem hist6rico-estética. Por uma questio de convencio, chamaremos de “ro- mance aventuresco de peovagio” 6 primeiro tipo de roman- «ce cléssico (primeiro no no sentido cronolégico). Aqui ta- taremos do chamado romance “grego” ou “sofista” que se desenvolveu durance os séculos Ila VI da nossa era. “Mencionaei procétipos que chegaram completos aos ‘nossos dias eestdo disponiveis em tradugo russa: Una bis- {ria etiope ou Etidpica de Heliodoro, Leucipe e Clitofonte cde Aquiles Tacio, Quéreas e Caliroe de Ciriton, As efesfacas (0 romance gseg0 s de Xenofonte de Ffeso, Défnis e Cloé de Longo.* Alguns ‘exemplos caracteristcos chegaram aos nostos dias em frag- ‘mentos ou adaptacoes. ‘esses romances encontramos um tipo de tempo aven- turesco alt esutilmente elaborado, com todas as suas auan- « particulatidades especticas. A elaboragdo desse tempo ea técnica de seu emprego no romance jf sia tio elevadas e ‘completas, que todo o posterior desenvolvimento do roman= ce puramente aventuresco até os nossos dias nie Ihes acres- centa nada de substancial, Por esse motivo as particularida- des especificas do cempo aventuresco melhor se revelam em materais desses comances. (Os enredos de todos esses romances (assim como os de seus sucessores imediatos e diretos — os romances bizanti- ‘os revelam enorme semelhanca e, no fundo, constituemse ‘ssencialmente dos mesmos elementos (motivas); em cada wn ‘dos romances varia 2 quantidade desses elementos, seu peso ‘especifico no conjunto do enredo, suas combinagées E fécil ‘compor um esquema sindptico gerale tipico do enredo com 4 indicagéo dos desvios e variagdes particulares mais impor ‘antes. Vejamos 0 seguinte esquema: ‘Um casal de jovens em idadle de casar. Sua origem & des conhecida, misteriosa (no, nem sempre; por exemplo, isso rio ocorre em Técio}. Os dois sio dotados de uma beleza ‘ara. E também excepcionalmente castos, Sibito, os dois se ‘encontram; de hébito, numa festa solene. Explodem numa ppaixdo micua repentinae instantanea, insuperdvel, como ut fado, como uma doenca sem cura. Mas 0 seu casamento no. pode se realizar logo. Esbarra em obstculos que o retardant, “Dos dese tls fram publicadoe pela Edges Cosmoy, de Po tual: Os amares de Levcipee Clitofomt, em wadvsio de Abel N. Pay ‘As efstacs, em eadugio de Vitor Russ Espice 6 por vezserid como Talgense Cana Huma radio de Outs eCalioe eal ‘ada por Adriane de Siva Duarte, a sir pela Editors 4 (do) 16 Mikal Rakin 0s apaixonados estdo separados, procuram um a0 outro, cencontram-se; tornam a perder um 20 outro, tornam a en: contrat-se, Obstéculos ¢ incidentes habituais com os enamo- rados: 0 rapto da noiva na véspera do casamento, @ recusa dos pais (quando estes existern), que predestinam para os ‘apaixonados outros noivo enoiva (os falsos casas, fuga dos ‘apaixonados e sua viagem, a tempestade marinha, 0 naufrd- ‘0, osalvamento mégico, 0 ataque de piratas, aprisionamen- to. cércere, oatentado contta a castidade do hersie da he- roina, osacrificio purifcatério da heroine, guerras, baalhas, fa venda como escravos, as morte fctcias, travestimentos, 0 reconhecimentoltio reconhecimento, taigdesfctcias, a ten~ tagdo da castidadee da fdelidade, as falsas acusagGes de cri- ime, as provagies judiciais da castidade e da fdelidade dos apaixonados. Os her6is encontram seus pais caso eles sejam ddesconhecidos). Cabe um importante papel aos encontros com amigos ou inimsigos inesperados,palpites, vaticinios, so- hos proféccos, pressentimentos, pogdes para dormit. O ro- ‘mance termina com a feliz unio das apaixonados em matri- ménio, Esse é 0 esquema dos momentos baslares do enredo. A acio desse envedo se desenrola num meio geogrifico amplo e variado, amitide em trés ou cinco patses separados por mares (Grécia, Pérsi, Fenicia, Fito, Babildnia, Ftiopia, fte,). O romance apresenta descrigées is vezes muito deta- thadas de algumas particularidades de paises, cidades,diver- sas edficagdes, obras de arte (quadros, por exemplo), usos © costumes da populacdo, diversos tipos de animais ex6ticos ¢ ‘maravilhosos ¢ outras curiosidades e raridades, Paralelamen- 1 isso, sio incluidas no romance reflexdes (as vezes bastan- te amplas) sobre diferentes temas religiosos filos6ficos, poli- ticos ecientifics (sobre o destino, os pressigios, 0 poder de Eros, as paixdes humanas, lagrimas, ee.) Tém grande peso specifica ios romances 08 discursos das personagens — os de defesa¢ dle outtos tipos —, construfdos segundo todas a5 regras da ret6rica tardia. Assim, por sua composigio 0 r0- 0 comance grego ” ‘mance prego tende a certo enciclopedismo, em geral inerente esse género. ‘Todos 0s referdos elementos do romance (em sua forma abstrata), tanto os do enredo como os descitivos e 08 ret6 cos, sem exceed, no tém nada de novos — estavam todos presentes ¢ bem elaborados em outros géneros da literatura niga: 08 motivos amorosos (o primeiro encontro, a paixéo 8 primeira vista, a saudade} foram elaborados na poesia amo~ rosa do helenismo; outros motivos(tempestades, naufrégios, {guerras,raptos) foram desenvolvidos pela epopeia antiga; al- ‘guns motivos (o reconhecimento) desempenaram um papel Subsanilna age os motivo derives fram cabo rados no romance geogeifico antigo e nas obras historiogeé ficas {em Herédoto, por exemplo} as reflexdes eos discursos, ‘em géneros retéricos. Pode-se avaliar de diferentes maneiras © significado da elegia amorosa, do romance geogtitico, da ret6rica, do drama e do género historiogréfico no processo de nascimento (génesis) do romance grego, mas ndo se pode negar certo sineretismo nos elementos do género do romance _grego. Ele empregou e rfundiu em sua estratuca quase todos (0s géneros da literatura antiga. ‘Contudo, todos esses diferentes elementos constituintes do género estdo aqui refundidos ¢ reunidos numa unidade romanesca nova e especifica,cujo elemento consttutivo 0 tempo romanesco da aventura. Num crootopoa totalmente novo ~ 1m mundo albeioS no tempo aventuresco —, 08 ix ferentes elementos do género ganharam um cardter novo € anges especiais,e por isso deixaram de sero que eram em ‘outros géneros. 4 Teaduio do original thu, que sigatca “shen”, “etranho" ‘8 “estrangizo” etal “outro, et tio mais eonsentne> coin © ape fndamenal que Bakitn acu a0 outro na formato no dese. ‘ovimento do romance. Por iso empregamos cet alhio®,ora “outa”, ora “etranho" es muito raramente“etangsiso™(N. dT) 1s Mikhail Baki Mas qual a essénci do tempo aventreco nos roman- ces rego? "O ponte de partic do movimento do enzedo 0 prime ro encontto do hers com 3 eroina ea repentinaexposio Uk panto entre ces; 0 poto de chegada da a0 do esedo a feliz unido dos dois em matriménio. E entre os dois pon- tosaue se desenrolam rods a ages do romance. tor limites da agio do enredo — so os acomeimentos Shencns nas vidas do herbs «tm por si meses um sig Sifeado biogtfc,Ennetanoy a construgo do romance nao ‘ofan ner, nas no gu ba ala se) ent ees. Contado, to deve haver naa esenil entre os dois postos dexde 0 Ini amor do ese da heroin no ssi nechuma dix vida e esse amor permaneceabsolutamante iabalével 20 Tongo detodoo romance, preserva aantidade dos dois, 0 Cesamento no fal do romance fends nturalmente com amor dos herds que rebentos logo to primero enconro, nono do romance, come se nada sess acontcido entre ‘Ses dois momentos, como so eatarent ese id res- Tea no ia seguinte ao ensoatro, Or dof momentos con viguos da vida bogie do tempo bogrco funda se de modo narra. Agua ropes, aqela pause, agule ia- {6 que suge ene ete dis momentos bogetcos imedia- tement contguon justo no gual consti todo oromar- Cerro entea nasi biogdfica temporal tase fora do tempo biogfc; ele ngo aera em naa a vidas dos hei fo acresteta nada eae, Testa jastamente de um hiato ttatemporl ence doe momentos do tempo biogréc. Se a coisa fos frente, se, por exemple, como ress tao das provagies eda aventuas vivid, pax nical repentinamentesuridn ent os beri tivsegankado for {au pasado por una expernlaconeretaeadgutido as n0- ‘es qualidade de um amor doc experimentad, ous 08 Prépvios herbi vesem amaduceido e conhecido melhor {imo out ent estariamos dante de om ipo de roman- © roman go " ce muito tardio, sem nada do romance aventuresco europew « jamais do romance grego. Pois nesse caso, embora os limi- tes do enredo permanecessem os mesmos (a paixio no inicio, ‘.casamento no final), as préprias peripécias que retardam o ‘casamento ganhariam certo sentido biogréfico ou a0 menos psicol6gico, seriam incorporadas ao tempo real da vida dos |herGis, tempo esse que muda eles prdprios eos acontecimen- 10s (essenciais) de suas vidas. Mas 6 justamente isso que nao. ‘existe no romance grego: aqui ha um aisidisimo hiato entre 0s dois momentos do tempo biogeilico, o qual nao deixa ne- sahum vestigio nas vidas dos her6is nem em seus caracteres “Todos os acontecimentos do romance que preenchem tal histo sio mero desvio do curso normal da vida, desprovidos «da duragdo real dos acréscimos a uma biografia normal. Esse tempo do romance grego carece até de uma dura- ‘gio etria clementarmente biol6gica. Os herbs se encontrar «em idade matcimonial no inicio do romance e, com a mesma idade matrimonial eigualmente belos e vigosos, casam-se no final. Esse tempo, durante o qual eles vivem 0 mais inveros- simil mimero de aventuras, nZo € medido nem contado no ‘romance; sio simplesmente dias, notes, horas einstantestec- nicamente mensurados apenas no émmbito de cada aventura particular, Esse empo aventuresco extraordinariamente in- tensivo, mas indefinido, ndo conta absolutemente para aida- de dos herdis. Aqui também se teata de um hiato extratem- poral entre os dois momentos biolégicos — o despertar da paixao e sua satisfagio. Quando, em seu Candido, Voltaire criou uma parédia do romance de aventuras do tipo grego, que imperou nos sé- culos XVIl e XVIII (o chamado “romance batroco”), ele, entre outras coisas, nio deixou de medir a quantidade de * Na Franc, também conhecidos como rma héoigu 0 rman réceuse (N60 T} 20 Mikhail Rakha tempo real que seria necesséria A habitual dose romanesca de aventuras ¢ “reveses da sorte” do herdi No fim do romance, seus herdis (Candido e Cunegundes), tendo superado todos os reveses,untem-se ntum enlace feliz e predestinado. Mas in- felizmente eles ji estdo velhos,¢ a bela Cunegundes se pare ce com uma beuxa velha e disforme. Quando a paixio da lugar ao peazer, este ja 6 biologicamence impossivet FB evidente que/o tempo aventuresco dos romances gre- ‘gos carece de qualquer cardter cilico natural e consuetudi- nnério capaz de pér ordem temporal e mensuradores humanos nesse tempo, pata assim ligé-o a elementos que se repetem na vida da natureza edo homem. E claro que no tempo aven- turesco no se pode nem falar de localizagio hist6rica. Em todo 0 universo do romance grego, com todos os seus paises, cidades, edificagées, obras de arte, estdo de todo ausentes {quaisquer indicios do tempo hist6rico, quaisquer vestigios da Epoca. Iso se explica ainda pelo fato de que até hoje a cro- nologia dos romances gregos no foi estabelecida de modo cientifico, ¢ de que até recentemente as opinides dos pesqui- sadores sobre a época em que se originaram certos romances ivergiam de cinco ou ses séculos. Desse modo, toda a agio do romance grego, todas as venturas e os acontecimentos que o povoam ficam de fora das séries temporais, sejam elas historicas, consuetudinérias, biogrificas ou elementarmenteexario-biolbgicas. Tais agoes, acontecimentos e aventurassituam-se fora dessasséries e das leis e mensuradores humanos a elas inerentes. Nesse tempo nada muda: 0 mundo permanece o mesmo; em tetmos bio- _grificos, a vida dos herds também no muda, seus sentimen- ‘tos permanccem igualmente inalterados, nesse tempo tat pouco as pessoas envelhecem, Esse tempo vazio no deixa vestigio em lugar algum, nenhum sina} conservado do seu curso, Trata-s, repetimos, de um hiato extratempora, sut- sido entze dois momentos de uma série temporal real, neste caso, da série biogrsfica. 0 romance greg0 a Assim &esse tempo aventuresco no seu conjunto, Como, (cle ex seu interior? Ele se constiui de uma sétie de breves fragmentos cor- respondentes is aventurasisoladassno interior de cada uma delas o tempo se organiza de modo técnico-externo: 0 impor ‘ante é conseguir fugirs conseguir alcangar,ulteapassar, estar ‘ou ndo estar na hora certa em determinado lagat, encontrar -se ou nao, etc. No ambito de uma aventura isolada, os dias, as notes, as horas, até mesmo os minutos eos segundos con- tam como em qualquer luta ¢ em qualquer empreendimento ativo e externo, Esses fragmentos temporais sio inseridos € ctuzados pelos especifcos “sibito” e “justamente”. “Sabito” e *justamente” sio as caracteisticas mais ade- ‘quadas de todo esse tempo, pois em geral ele se inicia © se ‘munifesta plenamente quando é interrompide 0 curso normal « pragmatico, ou casualmente assimilado, dos acontecimen- tos, rendo lugar a irrupgio do mero acaso com sua ligica es pecifica. Essa logica € uma coincidéncia casual, isto é uma Simultaneidade casual ¢ wna ruptura casual, ow seja, uma beterotemporalidade casual. Além disso, nessa simultaneida- de ou heteroremporalidade casual, 0 “antes” ¢ 0 “depois” também tém uma importincia substancial ¢ decisiva. Era s6 acontecer algo um minuto antes ou um minuto depois, ou sea, faltarcerta simultaneidade ou heterotemporalidade ca- sual e ndo haveria nenhum enredo nem sobre o que escrever “Eu estava na casa dos dezenove anos e meu pai prepa- ava meu casamento para o ano seguinte, quando 0 Destino comecou o seu jogo”, conta Clitofonte (Leucipe ¢ Citofonte (livro 1, capitulo 3).” ” Aquies Tio, Leni e Cltofonte, Moseou, 1925. (N. do A.) 2 ‘Mikhail akin E esse “jogo do destino", seu *sibico” e “justamente”, «que compée todo 0 conteiido do romance. Tesperadamente comegou a guerra entre tricios ¢ bi- zantinos. No romance no hé uma palavra sobre as causas essa gucera, mas égragas a cla que Leucipe aparece na casa do pai de Cltofonte. “Mal avi, no mesmo instante me per-

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