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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

JEYCE NIELLE CÂMARA AVELINO

ANÁLISE DA CONTRIBUIÇÃO DA PROTENSÃO À


RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO EM VIGAS PRÉ-
FABRICADAS DE CONCRETO PROTENDIDO

NATAL-RN
2021
Jeyce Nielle Câmara Avelino

Análise da contribuição da protensão à resistência ao cisalhamento em vigas pré-fabricadas de


concreto protendido

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade


Monografia, submetido ao Departamento de
Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como parte dos requisitos
necessários para obtenção do Título de Bacharel em
Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr. José Neres da Silva Filho

Natal-RN
2021
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Avelino, Jeyce Nielle Câmara.


Análise da contribuição da protensão à resistência ao
cisalhamento em vigas pré-fabricadas de concreto protendido /
Jeyce Nielle Camara Avelino. - 2021.
111 f.: il.

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande


do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Civil,
Natal, RN, 2021.
Orientador: Prof. Dr. José Neres da Silva Filho.

1. Viga - Monografia. 2. Cisalhamento - Monografia. 3.


Concreto protendido - Monografia. I. Silva Filho, José Neres da.
II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 621

Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinôco - CRB-15/262


Jeyce Nielle Câmara Avelino

Análise da contribuição da protensão à resistência ao cisalhamento em vigas pré-fabricadas de


concreto protendido
Trabalho de conclusão de curso na modalidade
Monografia, submetido ao Departamento de
Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como parte dos requisitos
necessários para obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Civil.

Aprovado em 13 de Setembro de 2021.

___________________________________________________
Prof. Dr. José Neres da Silva Filho – Orientador

___________________________________________________
Prof. Dr. Joel Araújo do Nascimento Neto – Examinador interno

___________________________________________________
Eng. MSc. Pedro Mitzcun Coutinho – Examinador externo

Natal-RN
2021
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, Francisca Patrícia, ao meu pai, Josenildo Avelino e ao meu
irmão, Nadson Natan.
AGRADECIMENTOS

Diante de todo o apoio e incentivo recebidos durante a formação acadêmica, expresso


aqui os meus mais sinceros agradecimentos:
Aos meus pais, Josenildo Avelino e Francisca Patrícia, e ao meu irmão Nadson Natan,
por todo amor, incentivo e por toda luta para que ao longo destes cinco anos, eu pudesse me
dedicar a universidade, acreditando em mim e sendo minha maior motivação para um futuro
melhor para nós todos.

À meus avós, tios e tias, por todo carinho, suporte e orações.

Ao meu namorado, Renan Carielo, que sempre esteve ao meu lado me ouvindo e me
incentivando a dar o meu melhor mesmo quando as coisas pareciam difíceis.

Ao meu orientador José Neres da Silva Filho, por ser um grande exemplo de professor
e engenheiro e por ter me guiado com tanta dedicação desde o momento que me tornei sua
aluna.

Aos meus amigos do curso, por tanto companheirismo nos momentos felizes e nos
momentos difíceis, por tanta risada partilhada, noites de estudo e por terem trazido tanta
felicidade aos meus dias longe da minha família. Também, aos meus amigos que conquistei ao
longo da vida, que sempre se fizeram presente e me apoiaram nesse sonho.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte por ter sido berço dessa jornada e
proporcionar um ensino de excelência àqueles que almejam o sucesso profissional. Agradeço
a todos os professores por todo conhecimento transmitido com empenho e profissionalismo.

Não tenho palavras pra expressar minha felicidade em ter tido vocês em meu caminho.
Muito obrigada.
RESUMO

Análise da contribuição da protensão à resistência ao cisalhamento em vigas pré-


fabricadas de concreto protendido

Esta pesquisa teve por objetivo estudar a colaboração da protensão na capacidade


resistente ao esforço cortante de vigas pré-fabricadas de concreto protendido, através da revisão
da literatura e análise de vigas de diferentes alturas e de resistência à compressão do concreto
variando de 35 a 90MPa. Em complemento, avaliou-se também a influência do traçado dos
cabos de protensão (reto ou poligonal) e sua quantidade na colaboração dos mecanismos
complementares a treliça na região das tensões tangenciais máximas. Esta análise paramétrica
do efeito da protensão na resistência ao cisalhamento foi realizada sob os critérios das normas
NBR 6118:2014, EUROCODE 2:2004 e ACI 318:2019. Como resultados, observou-se que esse
efeito foi considerado com mais intensidade pela norma americana ACI 318:2019, seguido da
NBR 6118:2014 e EUROCODE 2:2004. Para todos os grupos, o acréscimo da contribuição da
protensão da viga de altura 60 cm para a de altura 100 cm foi maior que o da viga de 80 cm
para a de 100 cm, e, de modo geral, a contribuição no acréscimo de resistência ao cisalhamento
foi diminuindo conforme aumentava o 𝑓 . Ambos os fatos se devem principalmente à
diminuição da tensão de compressão no concreto (menor força de protensão aplicada devido a
menor quantidade de armadura ativa necessária), visto que a inércia da seção aumentou
significativamente enquanto que o carregamento permaneceu praticamente o mesmo. Por fim,
o acréscimo de 20% na área de aço fez com que a parcela da contribuição da protensão
aumentasse em média 22% para a NBR 6118:2014, 6,22 % para o ACI 318:2019 e 29,1% para
o EUROCODE 2:2004. Estes resultados demonstram que a norma americana considera pouco
ou nem considera, no caso do método aproximado, a área de aço em seu processo de cálculo,
enquanto que as normas brasileira e europeia consideram de modo relevante essa influência.

Palavras-chave: Viga; Cisalhamento; Concreto Protendido.


ABSTRACT

Analysis of the contribution of prestressing to shear strength in prefabricated prestressed


concrete beams

This research aimed to study the collaboration of prestressing in the shear-resistant capacity of
prefabricated prestressed concrete beams, through literature review and analysis of beams of
different heights and concrete compressive strength ranging from 35 to 90MPa. In addition, the
influence of the design of prestressing strands (straight or polygonal) and their quantity on the
collaboration of complementary mechanisms to the truss in the region of maximum tangential
stresses was also evaluated. This parametric analysis of the effect of prestressing on shear
strength was performed under the criteria of NBR 6118:2014, EUROCODE 2:2004 and ACI
318:2019 standards. As a result, it was observed that this effect was considered more intensely
by the American standard ACI 318:2019, followed by NBR 6118:2014 and EUROCODE
2:2004. For all groups, the increase in the prestressing contribution of the 60 cm-height beam
to the 100 cm-height beam was greater than that of the 80-cm beam to the 100 cm beam, and,
in general, the contribution to the increase in strength to shear was decreasing as the
compressive strength of concrete increased. Both facts are mainly due to the decrease in the
compressive stress in the concrete (less prestressing force applied due to the smaller amount of
prestressed reinforcement needed), since the inertia of the section increased significantly while
the loading remained practically the same, changing only the portion due to own weight.
Finally, the 20% increase in the steel area caused the portion of the prestressing contribution to
increase on average 22% for NBR 6118:2014, 6.22 % for ACI 318:2019 and 29.1% for
EUROCODE 2:2004. These results demonstrate that the American standard considers little or
nothing, in the case of the approximate method, the steel area in its calculation process, while
the Brazilian and European standards consider this influence in a relevant way.

Keywords: Beam; Shear; Prestressed Concrete.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA PÁGINA

1 Diagrama tensão-deformação simplificado dos aços de armadura 26


passiva
2 Diagrama tensão-deformação simplificado do aço de armadura ativa 27

3 Tabela 13.4 da NBR 6118 – Exigências de durabilidade relacionadas à 31


fissuração e à proteção da armadura, em função das classes de
agressividade ambiental
4 Treliça clássica com diagonais de tração inclinadas em um ângulo 36
qualquer entre 45º e 90º, banzos paralelos e diagonais comprimidas a
45º
5 Exemplo de configuração de armadura de cisalhamento ensaiada por 36
Mörsch
6 Treliça generalizada com diagonais de tração inclinadas em um ângulo 37
qualquer entre 45º e 90º, banzos paralelos e diagonais comprimidas com
inclinação 𝜃 variável
7 Mecanismos complementares a treliça 40

8 Componentes de força geradas pela protensão 41

9 Tipos de fissuras em vigas de concreto 50

10 Configuração do traçado dos cabos para as vigas de concreto protendido 60


LISTA DE TABELAS

TABELA PÁGINA
1 Valores característicos e de projeto para deformação do aço CA 26
2 Valores característicos e de projeto para deformação do aço CP 27
3 Apresentação dos modelos de vigas 59
4 Resultado da área de aço longitudinal para as vigas armadas 88
5 Resultado da área de aço e do valor da força de protensão para as vigas 89
em concreto protendido
6 Valores da parcela de contribuição do concreto à resistência ao esforço 90
cortante para vigas em concreto armado
7 Valores da parcela de contribuição do concreto à resistência ao esforço 90
cortante para vigas em concreto protendido
8 Efeito da protensão na contribuição da resistência ao cisalhamento 91
9 Análise da variação percentual (%) da parcela de contribuição da 99
protensão entre vigas de diferentes alturas
10 Variação percentual (%) da influência do fck na contribuição da parcela 100
Vc nas vigas em concreto protendido
11 Variação percentual (%) da influência do fck na contribuição da 102
protensão nas vigas
12 Acréscimo percentual de contribuição da protensão devido ao aumento 106
da área de aço de armadura ativa
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO PÁGINA
1 Valores da parcela Vc (kN) para vigas do Grupo 1 em concreto armado 92
e em concreto protendido com traçado reto
2 Valores da parcela Vc (kN) para vigas do Grupo 1 em concreto armado 93
e em concreto protendido com traçado poligonal
3 Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento 94
para as vigas do Grupo 1 e traçado reto (valores em kN)
4 Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento 94
para as vigas do Grupo 2 e traçado reto (valores em kN)
5 Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento 94
para as vigas do Grupo 3 e traçado reto (valores em kN)
6 Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento 95
para as vigas do Grupo 4 e traçado reto (valores em kN)
7 Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento 95
para as vigas do Grupo 1 e traçado poligonal (valores em kN)
8 Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento 95
para as vigas do Grupo 2 e traçado poligonal (valores em kN)
9 Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento 96
para as vigas do Grupo 3 e traçado poligonal (valores em kN)
10 Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento 96
para as vigas do Grupo 4 e traçado poligonal (valores em kN)
11 Análise da contribuição do concreto resistência ao cisalhamento para 98
as vigas do Grupo 2 não protendidas e protendidas com traçado reto
(valores em kN)
12 Porcentagem de contribuição da parcela de resistência devido a 103
protensão em relação a Vsk para as vigas do Grupo 1 e traçado reto
13 Porcentagem de contribuição da parcela devido a protensão em relação 103
a Vsk para as vigas do Grupo 1 e traçado poligonal
14 Valores da parcela de contribuição da protensão para as vigas de 104
traçado reto e poligonal segundo a NBR 6118
15 Valores da parcela de contribuição da protensão para as vigas de 105
traçado reto e poligonal segundo o método aproximado do ACI 318
16 Valores da parcela de contribuição da protensão para as vigas de 105
traçado reto e poligonal segundo o método detalhado do ACI 318
17 Valores da parcela de contribuição da protensão para as vigas de 106
traçado reto e poligonal segundo o EUROCODE 2
LISTA DE SÍMBOLOS

SÍMBOLO SIGNIFICADO
Ac Área da seção transversal do concreto (EUROCODE 2)
Ag Área da seção transversal (ACI 318)
Ap Área da armadura ativa longitudinal
Aps Área de armadura longitudinal não protendida (ACI 318)
Ap,ef Área da armadura ativa longitudinal efetiva
As Área de armadura longitudinal não protendida (ACI 318)
Asl Área de armadura longitudinal (EUROCODE 2)
Asw Área da seção transversal dos estribos
Av Área de armadura transversal (ACI 318)
Av,min Área de armadura transversal mínima requerida (ACI 318)
bw Largura da viga
CRd,c Fator com valor recomendado de 0,18/𝛾 , sendo 𝛾 igual a 1,2 ou 1,5
de acordo com a tabela 2.1N da referida norma (EUROCODE 2)
d Altura útil da seção
db Diâmetro da cordoalha/barra
dp altura útil da seção considerando o aço protendido (ACI 318)
𝜀 Deformação específica do concreto
Ep Módulo de Elasticidade dos fios e cordoalhas
ep Excentricidade dos cabos de protensão
𝜀 Deformação da armadura ativa
𝜀 Deformação de escoamento da armadura ativa
Es Módulo de elasticidade do aço de armadura passiva
εsyk Deformação característica de escoamento
εsuk Deformação característica de ruptura
∆𝜀 Pré-alongamento do aço de concreto protendido
𝑓 Resistência do concreto (ACI 318)
fcd Resistência de cálculo à compressão do concreto.
fck Resistência característica do concreto (EUROCODE 2)
fctd Resistência de cálculo do concreto à tração direta
fctk,f Resistência do concreto a tração na flexão
fct,m Resistência média à tração do concreto
fd Tensão do peso próprio gerado pelo carregamento externo
fpc Tensão de compressão do concreto, no centroide da seção transversal,
que resiste ao carregamento externo
fpe Tensão de compressão no concreto devido a força efetiva de protensão
fpe,r Tensão de compressão no concreto devido a força de protensão
fptk Resistência à tração do aço de armadura ativa
fpu Resistência à tração especificada da armadura protendida (ACI 318)
fpyd Resistência de cálculo ao escoamento do aço de armadura ativa
fpyk Resistência ao escoamento do aço de armadura ativa
fs Tensão na armadura passiva
fse Tensão efetiva na armadura ativa (ACI 318)
fy limite de elasticidade especificado para armadura não protendida
(ACI 318)
fyd Resistência de cálculo ao escoamento do aço de armadura passiva
fyk Valor característico da resistência ao escoamento
fyt Tensão de escoamento especificada da armadura transversal
fywd Tensão na armadura transversal passiva
I Momento de inércia da seção transversal
k1 Fator de valor recomendado igual a 0,15 (EUROCODE 2)
lcr Distância do apoio até a secção crítica da seção
lx Distância da seção considerada à seção marca o início do
comprimento de transferência da protensão (EUROCODE 2)
lpt2 É o valor superior do comprimento de transferência da protensão,
calculado conforme item 8.10.2.2 da norma (EUROCODE 2)
M Momento fletor
M0 Valor do momento fletor que anula a tensão normal de compressão na
borda da seção
Mcre Momento que gera fissuras de flexão na seção devido ao
carregamento externo
Mmax Momento máximo de projeto na seção considerada devido às cargas
externas
Mp Momento devido a protensão
Mperm Momento devido ao carregamento permanente
Ms Momento elástico da área
Msd Momento solicitante de projeto
Msd,máx Momento fletor solicitante máximo na seção
𝑀 Momento fletor de projeto na seção considerada (ACI 318)
Mvar Momento devido ao carregamento variável externo
NEd Força axial na seção transversal devido ao carregamento axial ou
protensão (EUROCODE 2)
𝑁 Força axial devido a protensão
Npf Força de protensão após decorrido todas as perdas (NBR 318)
𝑁 ∞
Força axial devido a protensão no tempo infinito (após ocorrido todas
as perdas)
𝑁 Carga axial, positiva para compressão (ACI 318)
P∞ Força de protensão após decorrida todas as perdas de protensão
S Primeiro momento de área acima e abaixo do eixo centroidal
(EUROCODE 2)
s Espaçamento entre elementos da armadura transversal
St,máx Espaçamento transversal máximo
t Tempo
t0 Tempo inicial
t∞ Tempo infinito
V Força cortante
v1 Fator de redução de resistência para concreto fissurado por
cisalhamento (EUROCODE 2)
Vc Parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares
ao da treliça
Vccd Parcela proveniente da componente vertical da força em caso de
armaduras inclinadas no bordo comprimido da peça (EUROCODE 2)
𝑉 Resistência ao cisalhamento fornecida pelo concreto onde as fissuras
resultam do esforço cortante combinado ao momento fletor (flexo-
cisalhamento)
Vcw Resistência ao cisalhamento fornecida pelo concreto onde as fissuras
diagonais decorrem da tensão de tração elevada na alma
Vd Esforço cortante característico na seção considerada devido a carga
morta, ou simplesmente do peso próprio
Vd,cr Força cortante devido ao carregamento morto atuante na seção
VEd Esforço cortante de projeto na seção imediatamente após o apoio
(EUROCODE 2)
Vi Esforço cortante de cálculo na seção considerada ao carregamento
externo, ocorrendo simultaneamente com 𝑀
Vn Resistência nominal ao cisalhamento
Vp Componente vertical da força de protensão
VRd Resistência ao cisalhamento de cálculo de elementos sem armadura de
cisalhamento (EUROCODE 2)
VRd2 Força cortante resistente de cálculo relativa à ruína das diagonais
comprimidas de concreto (esmagamento das bielas)
VRd3 Força cortante resistente de cálculo relativa à ruina por tração diagonal
VRd,c Resistência ao cisalhamento de cálculo de elementos sem reforço de
cisalhamento (EUROCODE 2)
VRd,s Parcela proveniente da armadura transversal (EUROCODE 2)
Vs Parcela da resistência fornecida pela armadura transversal
Vsd Força cortante solicitante de projeto
Vsk Força cortante solicitante característica
Vsw Parcela da força cortante resistida pela armadura transversal
Vtd Parcela proveniente da componente vertical da força em caso de
armaduras inclinadas no bordo tracionado da peça (EUROCODE 2)
Vu Esforço solicitante de cálculo na seção em análise
Vu,cr Força cortante solicitante na seção crítica
Wb Módulo de resistência elástico em relação a base
𝑊 Módulo de resistência elástico em relação a borda inferior
wk Abertura máxima característica de fissura
𝑊 Módulo de resistência elástico em relação a borda superior
yt Distância do centro de gravidade da peça à face tracionada
z Braço de alavanca (EUROCODE 2)
α Ângulo de inclinação da armadura transversal em relação ao eixo
longitudinal do elemento estrutural,
𝛼 Coeficiente que considera a existência de força de compressão aplicada
(EUROCODE 2)
γs Coeficiente de minoração de resistência aço de armadura passiva
γp Coeficiente de minoração de resistência aço de armadura ativa
𝜃 Ângulo entre a biela de compressão de concreto e o eixo da viga
perpendicular à força de cisalhamento. (EUROCODE 2)
𝜆 Fator de modificação das propriedades mecânicas do concreto (ACI
318)
𝜆 Fator usado para modificar a resistência ao cisalhamento com base
nos efeitos da profundidade/altura do elemento (ACI 318)
𝜌 Taxa da armadura longitudinal (EUROCODE 2)
𝜌 Taxa de armadura longitudinal mínima
𝜌 Taxa de armadura passiva transversal
𝜌w Proporção entre a área da armadura longitudinal e a área útil da seção
(ACI 318)

𝜎 ,
Tensão de compressão limite do concreto

𝜎 Tensão de compressão máxima no concreto calculada a partir de uma


, ,
combinação frequente de ações
𝜎 , , Tensão de compressão máxima no concreto calculada a partir de uma
combinação quase permanente de ações
𝜎 Tensão de compressão no concreto devido a protensão (EUROCODE
2)
𝜎 Tensão sob combinação frequente na borda inferior
𝜎 Tensão final na armadura ativa
𝜎 Tensão da armadura de protensão na saída do aparelho tensor
𝜎 , Tensão da armadura de protensão no tempo infinito, após ocorrido
todas as perdas
𝜎 Tensão sob combinação frequente na borda superior
∆σs Variações de tensões na armadura passiva
∆σp Variações de tensões na armadura ativa
τ Tensões tangenciais
∅ Fator de redução de força (ACI 318)
𝜓 Fator de redução de combinação frequente para ELS
𝜓 Fator de redução de combinação quase permanente para ELS
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................... 21

1.1 – Considerações Iniciais .................................................................................. 21

1.2 – Objetivos....................................................................................................... 22
1.2.1 – Objetivo Geral .......................................................................................... 22
1.2.2 – Objetivos específicos ................................................................................ 22

1.3 – Estrutura do Trabalho ................................................................................... 23

2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 24

2.1 – Concreto Protendido ........................................................................................ 24


2.1.1 – Conceitos iniciais ...................................................................................... 24
2.1.2 – Materiais ................................................................................................... 25
2.1.3 – Vantagens e desvantagens do Concreto Protendido ................................. 28
2.1.4 – Sistemas de Protensão............................................................................... 29
2.1.5 – Quanto às exigências relativas à fissuração e à proteção das armaduras.. 30
2.1.6 – Perdas de Protensão .................................................................................. 32
2.1.7 – Traçado dos cabos..................................................................................... 33

2.2 – Cisalhamento ................................................................................................... 33


2.2.1 – Analogia da treliça clássica....................................................................... 35
2.2.2 – Analogia da treliça generalizada ............................................................... 36
2.2.3 – Tipos de ruptura à força cortante .............................................................. 37
2.2.4 – Fatores que influenciam a capacidade resistente ao cisalhamento de vigas
em concreto armado .............................................................................................. 38
2.2.5 – Mecanismos de transferência de esforço cortante .................................... 39
2.2.6 – Efeito da protensão no cisalhamento ........................................................ 41

2.3 – Dimensionamento à força cortante segundo as normas NBR 6118, ACI 318 e
EUROCODE 2.............................................................................................................. 42

2.3.1 – NBR 6118:2014 ........................................................................................ 42


2.3.2 – ACI 318:2019 ........................................................................................... 46
2.3.3 – EUROCODE 2:2004 ................................................................................ 52

3 – MODELOS E METODOLOGIA DE ESTUDO .................................................... 58


3.1 - Dimensionamento a flexão das vigas ............................................................... 60

3.2 - Verificação ao Estado Limite de Serviço (ELS) ............................................ 65

3.3 - Dimensionamento ao cisalhamento segundo a NBR 6118:2014 ................... 69

3.4 - Dimensionamento ao cisalhamento segundo a ACI 318:2019....................... 73

3.5 - Dimensionamento ao cisalhamento segundo o EUROCODE 2:2004 ........... 80

4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................... 88

4.1 – Análise geral comparativa das normas NBR 6118:2014, ACI 318:2019 e
Eurocode 2:2004 ....................................................................................................... 92

4.2 – Análise de vigas com diferentes alturas ........................................................... 98

4.3 – Análise de vigas com diferentes resistências a compressão do concreto ...... 100

4.4 – Análise da contribuição do efeito da protensão em relação à força cortante


solicitante característica das vigas .......................................................................... 102

4.5 – Comparação dos resultados para vigas de diferentes traçados ...................... 104

4.6 – Comparação dos resultados para vigas de diferentes áreas de aço ................ 106

5 – CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............. 108

5.1 Conclusão ......................................................................................................... 108

5.2 Sugestões para trabalhos futuros ...................................................................... 109

6 – REFERÊNCIAS ................................................................................................... 110


21

1 – INTRODUÇÃO

1.1 – Considerações Iniciais

O aumento da resistência ao cisalhamento de peças de concreto armado e/ou protendido tem


sido tema de estudo e análise de várias pesquisas que buscam avaliar o comportamento de elementos
estruturais com diferentes tipos de concretos, quantidade de armaduras longitudinais e
transversais, vão livre, características do carregamento e níveis de protensão.
A ruptura por cisalhamento em estruturas de concreto armado e/ou protendido ocorre de
forma abrupta e inesperada (comportamento frágil). Essa ruptura se inicia com o surgimento de
fissuras inclinadas provocadas pelo carregamento a qual a peça está submetida e, ao contrário
do que ocorre na ruptura por flexão, a sua previsão é extremamente complexa devido aos
mecanismos que envolvem o fenômeno. Neste contexto, o dimensionamento ao cisalhamento de
vigas de concreto armado e/ou protendido é de grande importância e, por conta dessa natureza
frágil, deve ser feito com bastante critério.
A resistência da viga a este esforço cortante é proporcionada pelo concreto comprimido
e seus mecanismos auxiliares e por uma armadura transversal, normalmente dimensionada
através dos modelos de treliça clássica e treliça generalizada.
Se tratando das estruturas protendidas, podem ser destacadas mais duas contribuições
a esta resistência: a redução do valor da força cortante solicitante e a redução da tensão principal
de tração.
De modo simplificado, os elementos de concreto protendido são aqueles em que se tem
armaduras ativas (pré-alongadas por equipamentos especiais de protensão e constituídas de aços
de alta resistência) que submetidas a uma força de protensão fazem surgir tensões de
compressão no concreto, de modo que tensões de tração geradas pelo carregamento só serão
mobilizadas após a descompressão da seção. Dessa maneira, é possível utilizar o aço com maior
aproveitamento da capacidade resistente do material e maximizar a utilização da resistência a
compressão do concreto. O resultado é uma seção resistindo a cargas mais elevadas com menos
fissuras.
O desenvolvimento da protensão no que se refere aos estudos e práticas da construção
desse tipo de estrutura, cada vez mais comum em obras de médio e grande porte, foi
impulsionado pelas diversas vantagens que o efeito da aplicação de uma força de protensão traz
à peça quanto ao desempenho em serviço e segurança. Dentre essas vantagens pode-se citar o
aumento da durabilidade das estruturas, devido à ausência ou redução da fissuração e
22

consequentemente maior proteção das armaduras quanto a corrosão; a redução dos


deslocamentos (flechas), proporcionado pelo equilíbrio da força de protensão com uma parcela
do carregamento da estrutura; a possibilidade da execução de estruturas mais leves e esbeltas,
com vãos maiores; o melhor aproveitamento da resistência dos materiais concreto e aços de alta
resistência, disponíveis no mercado; a redução do valor da força cortante e a redução da tensão
principal de tração, dentre outras vantagens.
Assim, sabendo dessa contribuição na resistência ao cisalhamento, diversos podem ser
os estudos realizados para entender os parâmetros que influenciam e como eles se relacionam
sob diferentes metodologias normativas. Neste sentido, essa pesquisa analisa vinte e quatro
vigas de concreto protendido com características diferentes, estudando a contribuição da
protensão no cisalhamento e apresenta e discute os resultados obtidos, sob as perspectivas da
NBR 6118:2014, o EUROCODE 2:2004 e o ACI 318:2019.

1.2 – Objetivos

1.2.1 – Objetivo Geral

O objetivo geral deste trabalho é avaliar a contribuição do efeito da protensão no


aumento da resistência ao esforço cortante em vigas pré-fabricadas de concreto protendido, a
fim de fazer uma análise comparativa entre os valores de resistência obtidos pelas normas NBR
6118:2014, ACI 318:2019 e EUROCODE 2:2004.

1.2.2 – Objetivos específicos

Os objetivos específicos deste trabalho são:


 Realizar uma revisão bibliográfica a respeito dos modelos de cálculo para
dimensionamento à força cortante e da influência da força de protensão nos
mecanismos complementares que resistem a este esforço;
 Obter os esforços cortantes resistentes destacando a contribuição da força de
protensão nos mecanismos complementares conforme o processo de cálculo de cada
uma das normas: NBR 6118:2014, ACI 318:2019 e EUROCODE 2:2004;
 Avaliar a influência da protensão no aumento da resistência ao cisalhamento através
de uma análise paramétrica das vigas considerando as características geométricas da
23

seção, a resistência característica do concreto e a taxa de armadura longitudinal


passiva;
 Analisar a influência do traçado dos cabos de protensão no aumento da resistência
ao cisalhamento.

1.3 – Estrutura do Trabalho

O trabalho está dividido em seis capítulos, contando com esse primeiro, que apresenta
uma ideia geral do trabalho, a introdução.

O Capítulo 2 trata da fundamentação teórica. Inicia apresentando os conceitos relativos


à protensão em estruturas de concreto, abordando os materiais utilizados, os tipos de protensão,
as perdas de protensão e as verificações necessárias ao dimensionamento das peças. Em
seguida, são desenvolvidos os conceitos a respeito do cisalhamento em elementos de concreto
e os modelos utilizados para simular seu comportamento. Quanto ao dimensionamento ao
cisalhamento, será apresentado o modelo e as considerações de cálculo para o projeto de vigas
segundo as normas NBR 6118:2014, ACI 318:2019 e EUROCODE 2:2004.

O Capítulo 3 apresenta a metodologia utilizada e detalha todos os cálculos realizados


para o dimensionamento de uma viga modelo selecionada.

O Capítulo 4 é destinado a apresentação e discussão dos resultados.

O Capítulo 5 se refere as considerações finais da pesquisa e sugestões para trabalhos


futuros, e o Capítulo 6 às referências bibliográficas utilizadas.
24

2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 – Concreto Protendido

2.1.1 – Conceitos iniciais

No dimensionamento de elementos estruturais de concreto armado /ou protendido


busca-se o equilíbrio das seções resistentes, considerando sua geometria, materiais e
solicitações externas. Para tanto utiliza-se técnicas de probabilização das variáveis: ações e
resistências, e métodos como o dos estados-limites, numa tentativa de fazer o melhor
aproveitamento do concreto e do aço.
Conceitualmente, o concreto e o aço são aderidos de forma que as deformações
correspondentes ao escoamento do aço seriam acompanhadas das deformações no concreto.
Essa aderência está principalmente relacionada ao tipo de superfície da barra. O aço é
necessário nos elementos estruturais pois o concreto não resiste bem a tração (resistência na
ordem de 10% da resistência a compressão), fissurando para cargas ainda baixas de serviço,
mas mesmo com sua utilização, a capacidade resistente do concreto à compressão não é
totalmente aproveitada.
A escolha do tipo de aço a ser utilizado depende da relação entre sua resistência ao
escoamento e o limite de abertura de fissuras permitidos para o concreto. No aço CA-50, por
exemplo, a deformação para atingir a tensão característica de escoamento (500MPa) é de
2,38‰, ou 2,07‰ se tratando de valores de projeto. O aço CP-190 por sua vez, muito usado
nas estruturas de concreto protendido, para atingir sua tensão de escoamento (1710 MPa), exige
deformações de 8,55‰. Isso significa que utilizar aços de maior resistência, ou seja, de tensões
de escoamento mais elevadas, implica em mobilizar deformações maiores, resultando em um
concreto extremamente fissurado, para que seja possível aproveitar toda capacidade do aço. O
controle das fissuras, em serviço, define o limite máximo de deformação do aço, e logo, da sua
resistência, fazendo com que não seja possível fazer uso de aços mais resistentes, disponíveis
para uso no mercado.
Para resolver o problema da fissuração surge a protensão, sistema construtivo que
através da aplicação de forças externas nas seções fletidas/tracionadas de concreto, permite o
aumento das capacidades resistentes, redução das deformações, aumento da durabilidade,
dentre outras vantagens.
A NBR 6118: 2014 define no item 3.1.4 que os elementos de concreto protendido são
“aqueles nos quais parte das armaduras é previamente alongada por equipamentos especiais de
25

protensão, com a finalidade de, em condições de serviço, impedir ou limitar a fissuração e os


deslocamentos da estrutura, bem como propiciar o melhor aproveitamento de aços de alta
resistência no estado-limite último (ELU)”.
Com o pré-alongamento das armaduras, surge tensões de compressão no concreto.
Assim, tensões de tração só serão mobilizadas após a descompressão da seção. Dessa maneira,
é possível utilizar o aço com maior aproveitamento da capacidade resistente do material, e
maximizar a utilização da resistência a compressão do concreto. O resultado é uma seção
resistindo a cargas mais elevadas com menos fissuras.

2.1.2 – Materiais

As peças de Concreto Protendido são compostas normalmente pelo concreto simples,


armadura ativa (CP 190 ou CP 210) e também armadura passiva (CA-25, CA-50 ou CA-60).
Geralmente, são escolhidos concretos com alta resistência a compressão, como por exemplo,
concretos com resistência superior a 50MPa, devido a diversos fatores como: as solicitações
prévias causadas pela própria força de protensão são elevadas e podem levar ao esmagamento
do concreto ainda na fase de construção; geralmente são mais impermeáveis, dificultando a
entrada de agentes que provocam a corrosão do aço sob tensões elevadas; apresentam maiores
módulos de elasticidade e com isso, menores deformações, diminuindo as flechas e também as
“perdas de protensão”; dentre outros fatores.
De acordo com Veríssimo & César Jr (1998) os aços usados no concreto protendido
caracterizam-se por elevada resistência e pela ausência de patamar de escoamento. Eles diferem
da armadura passiva, pois esta não é pré-alongada, ou seja, não é aplicado alongamento inicial
nas armaduras antes da materialização de sua aderência ao concreto. São representados na
forma de barras, fios e cordoalhas sendo classificados de acordo com o valor característico da
resistência ao escoamento (fyk) nas categorias CA25, CA50 e CA60, com massa específica 7850
kg/m³ e módulo de elasticidade Es = 210GPa. O diagrama tensão-deformação ilustrado na
Figura 1, utilizado no cálculo e análise dos estados limite último (ELU) e de serviço (ELS),
apresenta de forma simplificada a relação entre os valores característicos da resistência ao
escoamento fyk, deformação característica de escoamento (εsyk = fyk /Es), no ínicio do patamar
horizontal, e de ruptura (εsuk). Os valores de projeto são os valores característicos minorados
por um coeficiente γs.
26

Figura 1- Diagrama tensão-deformação simplificado dos aços de armadura passiva

Fonte: NBR 6118 (ABNT,2014)

Os valores característicos e de projeto da deformação dos aços de armaduras passivas


utilizados na construção civil estão apresentados na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1 - Valores característicos e de projeto para deformação do aço CA

Categoria εsyk εsyd


CA-25 1,19‰ 1,03‰
CA-50 2,38‰ 2,07‰
CA-60 2,86‰ 2,48‰
Fonte: Adaptado de Cholfe & Bonilha (2019)

Já no concreto protendido, em que parte das armaduras é pré-alongada (armadura ativa),


a classificação se dá de acordo com o valor característico da resistência à tração (fptk) e de
acordo com a relaxação (CP – RN ou RB), em que RN é o aço de relaxação normal e RB o de
relaxação baixa. Estes aços são representados por barras, fios e cordoalhas, sendo esta última a
forma de maior utilização nas estruturas correntes. Os aços das cordoalhas são produzidos na
condição de relaxação baixa (RB) e os mais usados são os da categoria CP190 e CP210, cujas
características são:
Categoria CP190: fpyk = 1710 MPa e fptk = 1900MPa
Categoria CP210: fpyk = 1890 MPa e fptk = 2100MPa
γp = 78,5 kN/m³ (massa específica)
Ep = 200 GPa (Módulo de Elasticidade dos fios e cordoalhas)
27

As normas NBR 7482 e NBR 7483 tratam das características de resistência,


classificação quanto à relaxação, diâmetro, área dos fios e das cordoalhas, dentre outras, sendo
importante fonte de consulta no desevolvimento dos projetos.
Para análise dos estados limites último (ELU) e de serviço (ELS), pode-se utilizar o
diagrama simplificado ilustrado da Figura 2, baseado no diagrama apresentado no item 8.4.5 da
NBR 6118:2014.

Figura 2 - Diagrama tensão-deformação simplificado do aço de armadura ativa

Fonte: Adaptado de Cholfe & Bonilha (2018)

Os valores característicos e de projeto da deformação dos aços de armaduras ativas


utilizados na construção civil estão apresentados na Tabela 2 abaixo:

Tabela 2 - Valores característicos e de projeto para deformação do aço CP

Categoria εpyk εpyd


CP190 8,55‰ 7,43‰
CP210 9,45‰ 8,22‰
Fonte: Adaptado de Cholfe & Bonilha (2019)
28

Comparando as Tabelas 1 e 2, especificamente o aço CP210 e o CA50, é possível


perceber que para atingir as respectivas tensões de escoamento, o aço CP210 exigirá
deformações cerca de 3,97 vezes maior que o CA50. Se toda essa deformação corresponder a
fissuração no concreto (pelo conceito de aderência), o concreto teria fissuras com aberturas
maiores que 9,45mm/m ou 0,945mm/10cm, quando a NBR 6118:2014, no item 13.4.2,
recomenda que a abertura máxima característica (wk) das fissuras não exceda valores na ordem
de 0,2mm a 0,4mm (concreto armado) para proteção contra corrosão das armaduras passivas e
valores ainda menores para o concreto protendido, devido a possibilidade de corrosão das
armaduras sob tensão.
Em Cholfe & Bonilha (2018) foi demonstrado, a partir das formulações fornecidas no
item 17.3.3.2 da NBR 6118:2014, que aberturas na ordem de wk = 0,2mm restringem as tensões
de tração da armadura a 413,6 MPa, limitando o uso dos aços acima do CA50. Assim, a
protensão surge para resolver o problema da fissuração, quando da aplicação prévia de forças
de protensão na armadura que fazem surgir tensões de compressão no concreto nas regiões que
estariam tracionadas. Isso faz com que apareçam tensões de tração somente após a
descompressão, sendo os acréscimos de tensão com funcionamento agora passivo da armadura
protendida, os responsáveis pelas novas deformações do aço e consequente fissuração do
concreto.

2.1.3 – Vantagens e desvantagens do Concreto Protendido

Uma das principais vantagens de protender as estruturas é a possibilidade de redução


das quantidades de concreto e aço, já que a protensão resulta no melhor aproveitamento da
resistência mecânica de ambos os materiais. Assim, se tratando de uma mesma situação de
carregamento, isso propicia seções mais esbeltas, vãos maiores e estruturas mais leves.
A durabilidade é outra importante vantagem dessas estruturas, pois um problema muito
comum nos elementos de concreto armado é a corrosão das armaduras, que vai diminuindo a
capacidade resistente do aço e promove desplacamentos no concreto. A redução da fissuração
nas peças protendidas inibem este problema e garantem maior proteção às armaduras. Além
disso a protensão equilibra uma grande parcela do carregamento, reduzindo os deslocamentos
finais (flechas) e consequentemente acarretando na melhoria dos acabamentos das peças.
Em se tratando de fadiga, os elementos de concreto armado apresentam menor
resistência a este fenônomeno diante de ações repetitivas do que os elementos protendidos. Isso
29

acontece pois a variação de tensão no aço de armadura ativa é geralmente pequena se comparada
com o valor de sua resistência característica.
Ainda, vale ressaltar que a protensão foi uma técnica (sistema) que alanvancou a
industrialização da construção civil. As empresas de pré-moldados oferecem a mão de obra
especializada e permitem que engenheiros se utilizem das vantagens da protensão sem ter todo
o maquinário e o tempo necessário, pois já entregam a peça pronta. O ganho de produtividade,
a redução do peso dos elementos (ou até do número de pilares e vigas, por exemplo), o maior
aproveitamento dos materiais, a durabilidade e qualidade estética, são vantagens que só
impulsionam a procura por estas peças e a competitividade da indústria da construção civil,
incentivando a busca pela otimização dos processos construtivos e redução dos desperdícios.
Como desvantagens, esse sistema apresenta maiores exigências de projeto e maiores
exigências na construção. O projeto deve conter todos os procedimentos executivos da
construção, orientações do uso da estrutura, verificações e detalhamentos mais abrangentes,
verificações do ELU no ato da protensão, verificações de transporte e içamento, e outros
cuidados especiais. Erros de projeto ou de execução podem levar a estrutura à ruína quando da
aplicação da força de protensão, por exemplo.
A corrosão pode ser grave nesses tipos de estruturas quando se tem peças em que a
armadura não está protegida por bainhas, reforçando os cuidados com o cobrimento e
fissuração.
Com toda a aparelhagem necessária: atuadores (“macacos hidráulicos”), controladores
de pressão, bombas injetoras, dentre outros, é fato de que a protensão envolve maior
complexidade e portanto deve ser executada apenas por equipe especializada e equipamentos
calibrados.

2.1.4 – Sistemas de Protensão

O sistema de protensão pode ser do tipo com armaduras pré-tracionadas ou pós-


tracionadas. No sistema pré-tracionado, a armadura é ancorada em duas extremidades, sendo
tensionada por elas, e posteriormente é feita a concretagem nas formas. Após o endurecimento
do concreto, quando atingida a resistência necessária, os fios de aço são soltos das ancoragens
e o esforço de protensão é então transferido para a peça (LEONHARDT, 1983; PFEIL, 1984).
Devido à aderência existente entre os materiais, é transferida uma força de compressão ao
concreto pela tendência do aço retornar ao seu comprimento inicial (CARVALHO, 2012).
30

No sistema com armadura pós-tracionada, são deixadas bainhas dentro da forma, por
onde serão alojados os cabos, e a peça é concretada antes da aplicação da protensão. Quando o
concreto atinge a resistência necessária, os cabos de aço são tracionados, apresentando um pré-
alongamento. A tendência de encurtamento dos cabos faz com que um esforço de compressão
seja transferido ao concreto na região das ancoragens.
Esse tipo protensão pós-tracionada pode ser com ou sem aderência posterior. Se tratando
dos sistemas com aderência posterior, tem-se a injeção de calda de cimento preenchendo os
espaços vazios no interior das bainhas, criando a aderência de modo permanente entre armadura
ativa e concreto. É um tipo de protensão que é usualmente empregada em estruturas de médio
e grande porte, como pontes e viadutos, em que geralmente tem-se estruturas moldadas e
protendidas no local da construção (CHOLFE & BONILHA, 2018).
Já na protensão sem aderência posterior, não se tem a aderência entre a armadura ativa
e o concreto, sendo ligados apenas nas ancoragens, onde a força de protensão é transferida ao
elemento estrutural. Segundo Cholfe & Bonilha (2018), a protensão com cordoalhas engraxadas
está presente na maioria dos projetos de lajes planas ou nervuradas. Isso se deve ao fato da
possibilidade do uso de equipamentos e acessórios mais acessíveis.

2.1.5 – Quanto às exigências relativas à fissuração e à proteção das armaduras

A norma brasileira classifica a protensão em três níveis: protensão completa, protensão


limitada e protensão parcial. Segundo Catoia (2007 apud SILVA, 2018), a escolha do nível de
protensão é determinada principalmente pela agressividade do meio ambiente, tendo em vista
o risco da corrosão das armaduras e o tipo de construção. O item 6 da NBR 6118:2014 apresenta
diretrizes para durabilidade das estruturas de concreto e exige que estas sejam projetadas e
construídas, para que sob as condições ambientais previstas e o uso preconizado, conservem a
segurança, estabilidade e aptidão em serviço durante toda sua vida útil. Para garantia dessa
durabilidade, é preciso entender os mecanismos de envelhecimento e deterioração relativos ao
concreto, à armadura e a estrutura como um todo, cujas definições e orientações estão descritas
no item 6.3 da referida norma.
Assim, um dos primeiros passos de projeto de dimensionamento de estruturas é a
determinação da classe de agressividade ambiental (CAA), que vai direcionar a escolha do
concreto a ser utilizado. Junta-se a isso a relação água-cimento, cobrimento, tipo de protensão,
exigências relativas a fissuração, etc., cuja classificação é apresentada na Tabela 6.1 da NBR
6118 (ANBT, 2014).
31

A Tabela 13.4 NBR 6118 (ANBT, 2014) relaciona a classe de agressividade ambiental
com o tipo de concreto, as exigências relativas a fissuração e quais combinações de ações em
serviço utilizar.

Figura 3 - Tabela 13.4 da NBR 6118 – Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e


à proteção da armadura, em função das classes de agressividade ambiental

Fonte: NBR 6118 (ABNT,2014)

Na Figura 3, nota-se que o concreto protendido está dividido em CP nível 1, nível 2 e


nível 3, relacionados aos estados limites de serviço (ELS) referentes à fissuração.
O concreto protentido de nível 1 ou de protensão parcial, abrange o concreto protentido
pré-tração com CAA I ou pós-tração com CAA I e II. Neste caso, o concreto pode fissurar pois
a tensão de tração é maior do que a que o concreto suporta, devendo ser verificado para
combinações frequentes de ações, o limite de abertura de fissuras com wk ≤ 0,2mm.
32

Já o concreto protendido de nível 2, ou protensão limitada, abrange os tipos de pré-


tração com CAA II ou pós-tração com CAA III e IV. Nesta categoria verificam-se duas
condições: o ELS-F para combinação frequente e o ELS-D para combinação quase permanente.
A protensão limitada é comumente empregada em pontes, passarelas, viadutos, dentre outros.
No nível 3, ou protensão completa, tem-se a pré-tração com CAA III e IV. Nesta
categoriam devem ser verificados o ELS-F para combinação rara de serviço, e o ELS-D para
combinação frequente. É aplicada em casos de obras situadas em ambientes muito agressivos,
e proporciona melhores condições de proteção das armaduras contra corrosão (protensão é de
tanta intensidade que elimina as tensões de tração no concreto, e por tanto, as fissuras) limitando
também as flutuações de tensões no aço a valores moderados. Exemplos de aplicação são em
tirantes, reservatórios e muitos outros, pois basicamente não há limitação técnica, mas sim,
econômica.

2.1.6 – Perdas de Protensão

Para realizar o dimensionamento e as verificações necessárias ao adequado


comportamento do elemento estrutural é preciso conhecer os esforços de protensão que atuam
a longo da peça em análise. A força de protensão está diretamente relacionada com o
alongamento na armadura ativa, sendo responsável por garantir o estado de protensão durante
a vida útil da estrutura. O problema então consiste em determinar qual o valor da força de
protensão numa determinada seção S se aplicado um valor P de protensão na extremidade do
cabo, conforme a época na vida da estrutura. Via de regra há uma diminuição desse esforço,
entendida como perda, que depende de vários fatores como: traçado do cabo, sistemas de
ancoragem, liberação dos cabos, dentre outros, como o próprio comportamento dos materiais
concreto e aço.
No dimensionamento dessas estruturas, estima-se as perdas da força de protensão em
relação ao seu valor inicial, para que seja possível determinar uma sobretensão que deve ser
aplicada à peça, de modo que, após as perdas, a força de protensão que atua efetivamente seja
igual a força calculada necessária, suficiente para neutralizar, em parte ou no todo, os esforços
de tração provocados por um determinado carregamento.
Essas perdas ocorrem antes da transferência da protensão ao concreto, durante essa
transferência e depois, ao longo da vida útil da estrutura. Podemos então, agrupá-las em:

Antes: Perdas Iniciais na Pré-tração


33

Durante: Perdas Imediatas na Pré e Pós-tração, no tempo t = t0.


Depois: Perdas progressivas na Pré e Pós-tração, entre t0 e t∞.

De maneira sucinta, as perdas iniciais da força de protensão são aquelas ocorridas na


pré-tração antes da liberação do dispositivo de tracionamento da armadura, que pode ser
decorrente do escorregamento da armadura na ancoragem, atrito nos pontos de desvio da
armadura poligonal, relaxação inicial da armadura e retração inicial do concreto. As perdas
imediatas são aquelas que ocorrem durante a transferência da força de protensão para as seções
de concreto e decorrem devido ao encurtamento imediato do concreto, ao atrito entre as
armaduras e as bainhas ou o concreto, ao deslizamento da armadura junto à ancoragem e à
acomodação dos dispositivos de ancoragem. As perdas progressivas, por sua vez, ocorrem ao
longo do tempo e podem ser provocadas por fatores como retração e fluência do concreto e
relaxação do aço de protensão.

2.1.7 – Traçado dos cabos

O traçado dos cabos de protensão pode ser retilíneo, poligonal, curvilíneo ou misto,
dependendo do tipo de protensão a ser utilizado e das características da peça. Na pré-tração, por
exemplo, admite-se apenas o traçado retilíneo ou poligonal, fazendo uso de desviadores.
Esse traçado define como serão os esforços provenientes da protensão, sendo
geralmente projetados seguindo o traçado do diagrama de momento fletor da peça, de modo a
atuar em sentido contrário às cargas solicitantes.
Quanto à curvatura dos cabos, devem ser respeitados os raios mínimos de curvatura em
função do diâmetro dos cabos e/ou bainhas. Independente do traçado, é recomendado as
extremidades sejam retas, pelo menos 100cm (ou 50cm no caso de monocordoalhas
engraxadas), para permitir o alinhamento do eixo do cabo com o eixo dos dispositivos de
ancoragem. Estas e outras recomendações são apresentadas no item 18.6 da NBR 6118:2014.

2.2 – Cisalhamento

Elementos lineares estruturais submetidos a carregamentos verticais, vão apresentar


como esforços internos: momento fletor e esforço cortante. A variação da intensidade do
momento fletor nas seções vão fazer surgir tensões tangenciais que equilibram a força cortante.
Desse modo, não é possível que se tenha cisalhamento sem flexão, mas é possível que exista
flexão sem cisalhamento, nos trechos em que o momento fletor é constante. A flexão e o
34

cisalhamento são, em geral, tratados separadamente, admitindo a hipótese da superposição dos


efeitos.
No flexo-cisalhamento, os elementos são compostos de um estado biaxial de tensões:
tensões normais de flexão e tensões tangenciais. O efeito dessas tensões tangenciais
normalmente resulta em tensões principais de tração e compressão inclinadas em relação ao
eixo da viga. Este é um problema de solução complexa, pois o mecanismo resistente que se
forma é essencialmente tridimensional e influenciado pela forma da seção, variação da forma
da seção ao longo da peça, esbeltez da peça ( ≥ 2), disposição das armaduras longitudinais e

transversais, aderência, condições de apoio, carregamento, dentre outros (CARVALHO &


FILHO, 2019). O autor explica que a consideração de ≥ 2 é para que o estudo se resuma às

vigas, nas quais a seção transversal permanece plana após a deformação, pois quando a relação
é inferior a 2 as seções transversais sofrem um empenamento. Para complementar, Araúz (2002)
descreve que para cargas de pequena intensidade, as tensões principais de tração não
ultrapassam a resistência à tração do concreto, o que facilita a análise do estado de tensão
existente. Entretanto, quando as cargas aumentam de intensidade, o concreto fissura e produz-
se um complexo reajuste de tensões entre o concreto e as armaduras que se altera à medida que
a fissuração aumenta até que seja atingida a ruptura.
Até que se inicie a fissuração, as tensões normais (σ) e tangenciais (τ) em uma viga de
seção constante sujeita a flexão simples não pura, podem ser calculadas utilizando as Equações
2.1 e 2.2, obtidas da resistência dos materiais:

𝑀
𝜎= ∙𝑦 (2.1)
𝐼
𝑉∙𝑀
𝜏= (2.2)
𝑏 ∙𝐼

Em que:
M momento fletor;
y distância do centro de gravidade da seção ao ponto considerado;
V força cortante;
𝑀 momento estático da área da seção homogênea situada acima da fibra de
ordenada y em relação a linha neutra;
𝑏 largura da seção;
𝐼 momento de inércia da seção em relação a seu centro de gravidade.
35

Com o início da fissuração, a resistência a estas tensões se dá através do concreto


comprimido (íntegro entre as fissuras), combatendo as tensões de compressão e através de uma
armadura transversal, ou armadura de cisalhamento, resistindo as tensões de tração e mantendo
a fissuração dentro dos limites aceitos por norma. Diversos modelos e teorias foram
desenvolvidos para dimensionamento ao cisalhamento de vigas como modelos com base em
campos de compressão tais como o Diagonal Compression Field Theory (CFT), proposto por
Mitchell & Collins, e o Modified Compression Field Theory (MCFT) de Vecchio & Collins, e
os modelos de treliça refinados, que consideram, por exemplo, o atrito entre as superfícies das
fissuras inclinadas (Truss Model with Crack Friction). Porém, o modelo que continua sendo o
mais utilizado pelas normas brasileiras e internacionais é o de treliça clássica e treliça
generalizada, que conduz a bons resultados com uma metodologia simplificada.

2.2.1 – Analogia da treliça clássica

Os primeiros estudos relacionados a esse assunto são datados no início do século XX,
com os primeiros trabalhos de Mörsch entre 1906 e 1908. Durante esta época era considerado
que o aparecimento de fissuras de cisalhamento era originado quando as tensões de
cisalhamento presentes na peça se apresentavam superiores à resistência à tração do concreto.
Nessa época Mörsch divulgou seu modelo de cálculo baseado na analogia da treliça
considerando os banzos paralelos, diagonais comprimidas a 45º em relação ao eixo longitudinal
e diagonais de tração com um ângulo α qualquer entre 45º e 90º. Neste modelo a treliça tem
múltiplos elementos (superposição de treliças isostáticas com elementos simples), de modo que
as distâncias entre as diagonais tracionadas e, portanto, entre as armaduras de tração, sejam
pequenas, evitando que ocorram fissuras de cisalhamento entre elas (Figura 4). Diversos
modelos de vigas com armadura de cisalhamento foram ensaiados por Mörsch (1910) com
configurações que utilizavam estribos verticais e barras longitudinais inclinadas (Figura 5).
Apesar da armadura de cisalhamento com diagonais de tração a 45º ser mais favorável (por
corresponder à direção das tensões principais de tração no Estádio I e empregar barras de tração
na alma que cortam perpendicularmente as fissuras de cisalhamento), os estribos verticais são
adotados por razões práticas (execução mais simples), calculados conforme as barras de tração
verticais da treliça.
36

Figura 4 – Treliça clássica com diagonais de tração inclinadas em um ângulo qualquer entre
45º e 90º, banzos paralelos e diagonais comprimidas a 45º

Fonte: Adaptado de Luca (2006)

Figura 5 - Exemplo de configuração de armadura de cisalhamento ensaiada por Mörsch

Fonte: Mörsch (1910)

Da Figura 5 pode-se perceber a configuração das fissuras de cisalhamento até a ruptura


da peça e a importância dos estribos neste ensaio, visto que a peça rompeu no trecho em que
foi empregado apenas a barra longitudinal dobrada. A barra dobrada é dificilmente empregada
em vigas atualmente devido ao uso de aços de maior resistência (aço CA-50 ao invés do CA-
25) e avanço nos modelos de dimensionamento a flexão (Combinação de ações e Estados
Limites), que fez diminuir a quantidade de barras longitudinais e consequentemente, aumentou
o espaçamento entre as barras dobradas, reduzindo a eficiência no combate a abertura de
fissuras de cisalhamento.

2.2.2 – Analogia da treliça generalizada

A continuidade dos estudos e o crescimento das pesquisas experimentais mostraram que


o cálculo por meio da treliça de Mörsch conduz a uma armadura transversal exagerada, ou seja,
a tensão real atuante nos estribos era menor que a obtida com o modelo (CARVALHO &
FILHO, 2019). Essa diferença se deve a fatores como:
 A treliça é hiperestática (os nós não podem ser considerados como articulações
perfeitas);
37

 Nas regiões mais solicitadas pela força cortante, a inclinação das fissuras, e, portanto,
das bielas, é menor que os 45º admitidos por Mörsch;
 Parte do esforço cortante é absorvido na zona de concreto comprimido (devido à flexão);
 Os banzos não são paralelos (o banzo superior é inclinado);
 As bielas de concreto estão parcialmente engastadas na ligação com o banzo
comprimido, e, assim, são submetidas à flexo-compressão, aliviando as diagonais
tracionadas;
 As bielas são mais rígidas que a diagonais tracionadas, e absorvem uma parcela maior
do esforço cortante do que aquela determinada pela treliça clássica;
 A quantidade (taxa) de armadura longitudinal influi no esforço da armadura transversal.

Introduzir todos esses fatores na teoria da analogia de treliça seria muito complexo.
Assim, foi acrescentada então a consideração da inclinação das diagonais comprimidas em um
ângulo diferente de 45º, chamando este modelo de analogia a treliça generalizada de Mörsch,
ou simplesmente, treliça generalizada (Figura 6).

Figura 6 - Treliça generalizada com diagonais de tração inclinadas em um ângulo qualquer


entre 45º e 90º, banzos paralelos e diagonais comprimidas com inclinação 𝜃 variável

Fonte: Adaptado de Luca (2006)

2.2.3 – Tipos de ruptura à força cortante

Como já descrito, a ruína devido à força cortante é extremamente frágil. Destaca-se


então que as peças fletidas devem ser dimensionadas de modo a que se atingida a ruptura, esta
ocorra devido a atuação do momento fletor, que apresenta grandes deformações, ao contrário
da ruína por cisalhamento, avisando para que a estrutura tenha seu uso interrompido. Leonhardt
& Monning (1979) descrevem quatro tipos de ruptura à força cortante:

(a) ruptura por força cortante-flexão;


(b) ruptura por força cortante-tração;
38

(c) ruptura das diagonais de compressão (ruptura por força cortante-compressão);


(d) e, ruptura por falha de ancoragem.

A ruptura por força cortante-flexão ocorre com o desenvolvimento das fissuras de


cisalhamento devido às fissuras de flexão na região de força cortante, que provocam o aumento
da tensão atuante nos elementos, fazendo com que as fissuras de cisalhamento se encurvem
segundo as trajetórias das tensões principais de compressão. Quando a armadura transversal
atinge o limite de escoamento, ocorre o rápido desenvolvimento de fissuras inclinadas nas
proximidades do apoio com uma direção quase plana e inclinada para o alto, diminuindo a zona
comprimida por flexão, que por fim, rompe bruscamente. Leonhardt & Monning (1979)
acrescenta a situação em que a diagonal comprimida comprime a armadura longitudinal para
baixo, separando-as do resto da viga, o que causa fissuração ao longo da armadura.
A ruptura por força cortante-tração acontece quando o limite de escoamento da
armadura da alma é atingido por ocasião da evolução das fissuras de cisalhamento decorrentes
de um aumento de carga no elemento.
No caso de vigas muito armadas ao cisalhamento e almas delgadas, as diagonais
comprimidas de concreto, entre as fissuras de cisalhamento, rompem-se de maneira brusca
quando solicitadas até o limite de sua resistência a compressão, antes que o aço da armadura
transversal entre em escoamento. Esse tipo de ruptura é caracterizado como ruptura da diagonal
comprimida, ou, ainda, ruptura por força cortante-compressão.
O último tipo, a ruptura por falha de ancoragem, também é brusca e acontece devido a
ancoragem insuficiente das armaduras longitudinais no apoio (ancoragem do banzo tracionado
na diagonal comprimida), fazendo com que essas barras deslizem e provoquem a ruptura por
cisalhamento da alma (colapso na junção da diagonal comprimida com o banzo tracionado).
Tem maior probabilidade de acontecer em vigas de almas espessas, onde a armadura
longitudinal é altamente solicitada até o apoio, pelo efeito de arco.

2.2.4 – Fatores que influenciam a capacidade resistente ao cisalhamento de vigas em


concreto armado

De acordo com O’ Brien & Dixon (1994 apud LUCA, 2006), a resistência do concreto
ao esforço cortante em vigas é baseada em formulações empíricas derivadas de extensos
programas experimentais. Isto se deve à influência de diferentes parâmetros que afetam a
39

capacidade resistente ao cisalhamento. Leonhardt & Monning (1979) apresentam estes fatores,
sendo eles:
 Tipo de carregamento;
 Posição da carga e esbeltez da viga;
 Modo de introdução da carga e tipos de apoio;
 Influência da armadura longitudinal;
 Classe e granulometria do concreto;
 Forma da seção transversal;
 Cargas penduradas na parte inferior;
 Taxa de armadura transversal;
 Altura total da viga;
 Sistema estrutural.

Existem outros fatores que influenciam essa capacidade de resistência a força cortante,
no entanto, pouco se tem conhecimento sobre suas influências.

2.2.5 – Mecanismos de transferência de esforço cortante

Uma parcela do esforço cortante é absorvida por mecanismos complementares de


treliça, conhecida como parcela 𝑉 e comumente chamada de parcela de resistência do concreto.
Desconsiderando a armadura transversal, (𝑉 ), Leonhardt & Monning (1979) aponta cinco
mecanismos: (a) força cortante na zona de concreto comprimido não fissurado (𝑉 ), (b)
engrenamento dos agregados ou atrito das superfícies nas fissuras inclinadas (𝑉 ), (c) ação de
pino na armadura longitudinal (𝑉 ), (d) ação de arco e (e) tensão de tração residual transversal
existente nas fissuras inclinadas. A Figura 7 ilustra três desses mecanismos em uma viga com
armadura transversal.
40

Figura 7 - Mecanismos complementares a treliça

Fonte: Bastos (2021)

O primeiro deles, o concreto comprimido não fissurado (Zona de compressão do


concreto), proporciona uma parcela de resistência à força cortante (componente 𝑉 ilustrada na
Figura 7) que depende principalmente da altura da zona comprimida.
O segundo mecanismo citado se refere a parcela de resistência fornecida pela resistência
ao deslizamento entre as duas superfícies do concreto, em ambos os lados da fissura, devido à
rugosidade e engrenamento dos agregados e da própria matriz do concreto (Aggregate
interlock), que proporcionam uma transferência de força cortante através da fissura inclinada.
Assim, vai influenciar a largura da fissura, o tamanho dos agregados e a resistência à
compressão do concreto (concretos com maiores resistência tendem a apresentar superfícies
menos rugosas).
A ação de pino (Dowel action), segundo O’Brien & Dixon (1994 apud LUCA, 2006)
transfere o esforço de cisalhamento através da armadura longitudinal, gerando um
fendilhamento no concreto adjacente. Esse mecanismo depende da quantidade de armadura,
diâmetro e espaçamento entre barras, tensões axiais na armadura, dentre outros parâmetros.
O mecanismo de ação de arco (Arch action) ocorre quando o banzo de concreto
comprimido pela flexão, especialmente em vigas relativamente curtas, inclina-se em direção
aos apoios, formando um arco na viga entre os apoios, e a biela comprimida inclinada que surge
absorve uma parte da força cortante.
Por fim, as tensões residuais de tração se referem à capacidade do concreto fissurado de
resistir à tração quando essas fissuras tem abertura pequena, entre 0,05 e 0,15mm
(comportamento softening), pois nesses casos, não ocorre uma separação completa, e pequenas
41

partículas do material continuam ligando as duas superfícies da fissura e transmitindo forças de


tração (TAPAJÓS, 2017). No entanto, Hordijk (1992) afirma que a atuação desse mecanismo
se restringe a fissuras com larguras de até 0,2 mm.

2.2.6 – Efeito da protensão no cisalhamento

Segundo Naaman (2004, apud JÚNIOR & OLIVEIRA, 2016) a força de protensão
longitudinal aplicada em peças de concreto protendido com cabos inclinados gera uma
componente vertical de força relacionada a força total do cabo que reduz o esforço cortante
solicitante e, acrescenta que a protensão induz tensões de compressão na peça que reduz as
tensões principais de tração, propiciando uma menor quantidade de estribos necessários para o
bom comportamento do elemento estrutural. A Figura 8 ilustra a componente vertical de força
gerada pelo cabo de formato parabólico pré-tracionado, com sentido contrário a componente
vertical da força cortante associada ao carregamento atuante na viga.

Figura 8 - Componentes de força geradas pela protensão

Fonte: Júnior & Oliveira (2016)

Dito de outro modo, o efeito da força normal (excêntrica ou não em relação ao eixo da
peça) provocada pela protensão causa um estado de tensões de compressão na peça que
dificulta/retarda o alcance das tensões de tração do concreto, (pois é necessário primeiro a
descompressão das seções). Esse fato pode ser interpretado como um ganho de resistência à
flexão e ao cisalhamento.
42

2.3 – Dimensionamento à força cortante segundo as normas NBR 6118, ACI 318 e
EUROCODE 2

As resistências ao cisalhamento das vigas foram obtidas conforme as prescrições das


normas: (a) NBR 6118:2014, (b) o ACI 318:2019 e, (c) o EUROCODE 2:2004. A seguir serão
apresentados detalhes e considerações de cada uma delas.

2.3.1 – NBR 6118:2014

A norma brasileira de projetos de estruturas de concreto, a NBR 6118:2014 prescreve


para vigas armadas ou protendidas dois modelos de cálculo para dimensionamento ao
cisalhamento no Estado Limite Último (ELU). Esses modelos se baseiam na analogia com
modelo em treliça, de banzos paralelos, associados a mecanismos complementares resistentes,
que absorvem uma parcela 𝑉 da força cortante. Para os elementos protendidos, a norma permite
considerar o efeito da projeção da força de protensão na sua direção no cálculo de 𝑉 e orienta
que, quando esse efeito for favorável, a armadura longitudinal de tração junto à face tracionada
por flexão deve satisfazer a condição:

𝐴 ∙𝑓 +𝐴 ∙𝑓 ≥𝑉 (2.3)

A resistência da peça, em uma determinada seção transversal, é satisfatória quando são


verificadas simultaneamente as condições:

𝑉 ≤ 𝑉 (2.4)

𝑉 ≤ 𝑉 = 𝑉 +𝑉 (2.5)

Onde:
𝑉 é a força cortante solicitante de cálculo, na seção;
𝑉 é a força cortante resistente de cálculo relativa à ruína das diagonais
comprimidas de concreto (esmagamento das bielas), de acordo com os modelos
de cálculo I ou II;
𝑉 força cortante resistente de cálculo relativa à ruina por tração diagonal;
𝑉 parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares ao da
treliça;
43

𝑉 parcela da força cortante resistida pela armadura transversal, de acordo com os


modelos de cálculo I ou II.

A norma permite uma redução no valor da força cortante agente na região dos apoios
para o cálculo de 𝑉 . No caso de apoio direto em que a carga externa aplicada e a reação do
apoio tem sentidos opostos, a força cortante oriunda da carga distribuída pode ser considerada
constante e igual à da seção situada à uma distância d/2 da face interna do apoio. No caso de
força cortante oriunda de uma carga concentrada aplicada a uma distância 𝑎 ≤ 2𝑑 do eixo
teórico do apoio, pode-se multiplicar essa força cortante por 𝑎/2𝑑. Essa redução não se aplica
às forças cortantes provenientes de cabos inclinados de protensão, nem são permitidas no caso
de apoios indiretos ou para verificação da resistência à compressão diagonal do concreto.

a) Modelo de cálculo I

O modelo de cálculo I admite que as diagonais de compressão são inclinadas no ângulo


𝜃 = 45° em relação ao eixo longitudinal da peça e que a parcela 𝑉 tem valor constante.
A resistência à compressão diagonal do concreto é verificada através das Equações 2.6
e 2.7:
𝑉 ≤ 𝑉 (2.6)

𝑉 = 0,27𝛼 ∙𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (2.7)

Sendo:
𝛼 = (1 − 𝑓 ⁄250) com 𝑓 expresso em MPa;
𝑓 resistência de cálculo à compressão do concreto.

Assumindo 𝑉 = 𝑉 , a parcela da força cortante absorvida pela armadura transversal


é calculada conforme a Equação 2.8:

𝑉 =𝑉 −𝑉 (2.8)

Em que:
𝑉 = (𝐴 ⁄𝑠) ∙ 0,9 ∙ 𝑑 ∙ 𝑓 ∙ (𝑠𝑒𝑛𝛼 + 𝑐𝑜𝑠𝛼)
𝑉 = 0 nos elementos tracionados quando a linha neutra se situa fora da seção;
44

𝑉 = 𝑉 na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção;


𝑉 = 𝑉 (1 + 𝑀 ⁄𝑀 , á ) ≤ 2𝑉 na flexo-compressão;
𝑉 = 0,6 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑
𝑓 = 𝑓 , /𝛾

Onde:
𝑏 menor largura da seção, compreendida ao longo da altura útil d; entretanto, no
caso de elementos estruturais protendidos, quando existirem bainhas injetadas com diâmetro φ
> 𝑏 /8, a largura resistente a considerar deve ser (𝑏 – 1/2Σφ), na posição da alma em que
essa diferença seja mais desfavorável, com exceção do nível que define o banzo tracionado da
viga;
𝑑 altura útil da seção, igual à distância da borda comprimida ao centro de gravidade
da armadura de tração; entretanto no caso de elementos estruturais protendidos com cabos
distribuídos ao longo da altura, d não precisa ser tomado com valor menor que 0,8h, desde que
exista armadura junto à face tracionada;
𝐴 área da seção transversal dos estribos;
𝑠 espaçamento entre elementos da armadura transversal 𝐴 , medido segundo o
eixo longitudinal do elemento estrutural;
𝑓 tensão na armadura transversal passiva, limitada ao valor 𝑓 no caso de estribos
e a 70 % desse valor no caso de barras dobradas, não se tomando, para ambos os casos, valores
superiores a 435 MPa; entretanto, no caso de armaduras transversais ativas, o acréscimo de
tensão devida à força cortante não pode ultrapassar a diferença entre 𝑓 e a tensão de
protensão, nem ser superior a 435 MPa;
α ângulo de inclinação da armadura transversal em relação ao eixo longitudinal do
elemento estrutural, podendo-se tomar 45° ≤ α ≤ 90°;
𝑀 valor do momento fletor que anula a tensão normal de compressão na borda da
seção (tracionada por 𝑀 , á ), provocada pelas forças normais de diversas origens
concomitantes com 𝑉 , sendo essa tensão calculada com valores de γf e γp iguais a 1,0 e 0,9,
respectivamente; os momentos correspondentes a essas forças normais não podem ser
considerados no cálculo dessa tensão, pois são considerados em 𝑀 ; devem ser considerados
apenas os momentos isostáticos de protensão;
45

𝑀 , á momento fletor de cálculo máximo no trecho em análise, que pode ser


tomado como o de maior valor no semitramo considerado (para esse cálculo não se consideram
os momentos isostáticos de protensão, apenas os hiperestáticos).
A área dessa armadura transversal, para o caso de estribos verticais assume a forma
descrita na Equação 2.9:

𝐴 𝑉
𝑠 = 0,9 ∙ 𝑑 ∙ 𝑓 (2.9)

b) Modelo de cálculo II

O modelo de cálculo II admite diagonais de compressão inclinadas de 𝜃 em relação ao


eixo longitudinal do elemento, com 𝜃 variando entre 30º e 45º. Além disso, a parcela 𝑉 sofre
redução com o aumento de 𝑉 .
A verificação da compressão diagonal do concreto é feita a partir das Equações 2.10 e
2.11:
𝑉 ≤ 𝑉 (2.10)

𝑉 = 0,54𝛼 ∙ 𝑓 ∙ 𝑏 ∙ 𝑑 ∙ 𝑠en 𝜃 ∙ (cotg𝛼 + cotg𝜃) (2.11)

O procedimento para cálculo da armadura transversal parte da Equação 2.12:

𝑉 =𝑉 −𝑉 (2.12)

Em que:
𝑉 = (𝐴 ⁄𝑠) ∙ 0,9 ∙ 𝑑 ∙ 𝑓 ∙ (cotgα + cotgθ) ∙ senα
𝑉 = 0 nos elementos tracionados quando a linha neutra se situa fora da seção;
𝑉 = 𝑉 na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a seção;
𝑉 = 𝑉 (1 + 𝑀 ⁄𝑀 , á ) < 2𝑉 na flexo-compressão, com:
𝑉 = 𝑉 quando 𝑉 ≤𝑉
𝑉 = 0 quando 𝑉 =𝑉 , interpolando-se linearmente para valores intermediários.

Para o caso de estribos verticais, a área de aço é calculada conforme a Equação 2.13
abaixo:
46

𝐴 𝑉
𝑠 = 0,9 ∙ 𝑑 ∙ 𝑓 (2.13)
∙ cotθ

A norma exige o emprego de uma área de armadura transversal mínima constituída por
estribos, calculada a partir da Equação 2.14 e 2.15:

𝐴
= 𝜌 ∙ 𝑏 ∙ 𝑠𝑒𝑛𝛼 (2.14)
𝑠

𝑓 ,
𝜌 ≥ 0,2 (2.15)
𝑓

Onde:
𝜌 taxa de armadura de flexão para vigas;

𝑓 , = 0,30 ∙ 𝑓 para concretos de classe até C50;
𝑓 , = 2,12 ln(1 + 0,11𝑓 ) para concretos de classes C55 até C90.
𝑓 resistência característica ao escoamento do aço na armadura transversal;

2.3.2 – ACI 318:2019

A norma americana ACI 318:2019 trata da resistência ao cisalhamento de vigas baseada


na analogia de uma treliça modificada, em que a força vertical é resistida pelas armaduras
transversais. Estas devem ser projetadas para resistir ao cisalhamento que excede aquele
suportado pelo concreto, ou seja, aquele capaz de provocar fissuras inclinadas na peça. Assim
como na norma brasileira, os mecanismos complementares de contribuição do concreto são
associados principalmente à resistência na sua zona de compressão, o intertravamento dos
agregados e a ação de pino.
Nos elementos em que a armadura transversal pode ser dispensada, o cisalhamento é
assumido como resistido apenas pelo concreto, enquanto que nos elementos com a presença de
armadura transversal, o esforço cortante é resistido pelo concreto e pelo aço. Na revisão do ano
de 2019, a norma passou por modificações para incluir os efeitos da profundidade do elemento
(efeito do tamanho ou Size Effect), e da contribuição da armadura longitudinal.
De modo geral, a resistência nominal ao cisalhamento em uma seção (𝑉 ), é calculada a
partir da Equação 2.16. e deve ser maior que o esforço cortante de cálculo na seção (𝑉 ):
47

𝑉 = ∅𝑉 + ∅𝑉 (2.16)

𝑉
𝑉 ≥ (2.17)

Em que:
𝑉 resistência nominal ao cisalhamento;
𝑉 parcela da resistência fornecida pelo concreto;
𝑉 parcela da resistência fornecida pela armadura transversal;
𝑉 esforço solicitante de cálculo na seção em análise;
∅ fator de redução, que de acordo com a tabela 21.2.1 da referida norma, tem valor
∅ = 0,75. Esta redução é definida para considerar a variação das forças
aplicadas, variação das dimensões dos materiais, imprecisões das equações de
projeto, dentre outras variáveis.

Para elementos de concreto não protendido, a parcela 𝑉 é calculada conforme dois


critérios:
i) Se a armadura transversal (𝐴 ) for maior que a armadura mínima requerida
(𝐴 , í ), a contribuição do concreto pode ser calculada por qualquer uma das
equações abaixo:

𝑁
𝑉 = 0,17 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 𝑏 ∙𝑑 (2.18)
6𝐴

/
𝑁
𝑉 = 0,66 ∙ 𝜆 ∙ (𝜌 ) 𝑓 + 𝑏 ∙𝑑 (2.19)
6𝐴

ii) Se a armadura transversal (𝐴 ) for menor que a armadura mínima requerida


(𝐴 , í ), tem-se:

/
𝑁
𝑉 = 0,66 ∙ 𝜆 ∙ 𝜆 ∙ (𝜌 ) 𝑓 + 𝑏 ∙𝑑 (2.20)
6𝐴

Em todos os casos:
48

𝑁
≤ 0,05 ∙ 𝑓 (2.21)
6𝐴

Onde:
𝜆 fator de modificação das propriedades mecânicas do concreto relacionadas ao
peso do concreto leve em comparação ao peso do concreto convencional. Como
será admitido concreto convencional neste trabalho, o valor desse fator será
sempre igual a 1.
𝜆 fator usado para modificar a resistência ao cisalhamento com base nos efeitos da
profundidade/altura do elemento, comumente referido como “fator de efeito de
tamanho”. A Equação 2.22 é utilizada para cálculo de 𝜆 .

2
𝜆 = ≤1 (2.22)
1 + 0,004𝑑

𝑓 resistência do concreto em MPa;


𝑁 carga axial, positiva para compressão, em N;
𝐴 área da seção transversal, em mm²
𝑏 largura do elemento em mm;
d altura útil da seção em mm;
𝜌 proporção entre a área da armadura longitudinal e a área útil da seção.

Ainda, o valor de 𝑉 não deve ser superior ao valor da Equação 2.23:

𝑉 ≤ 0,42 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (2.23)

Ressalta-se, que mesmo fornecendo equações para o cálculo da resistência ao


cisalhamento para a situação de (𝐴 ) < (𝐴 , í ), a norma recomenda que seja adotada a
armadura mínima transversal.
Para elementos de concreto protendido a norma especifica dois métodos para a parcela
𝑉 , o Método Simplificado ou Aproximado e o Método Detalhado. O Método Aproximado é
utilizado quando o elemento apresenta uma tensão de protensão efetiva superior a 40% da
tensão de tração da armadura de flexão total (𝐴 ∙𝑓 ≥ 0,4(𝐴 𝑓 + 𝐴 𝑓 )). Neste método,
49

a parcela de contribuição do concreto adotada deve ser a menor entre as Equações 2.24a, 2.24b
e 2.24c, mas não precisando ser menor que o resultado da Equação 2.25:

𝑉 ∙𝑑
𝑉 = 0,05 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 4,8 𝑏 ∙𝑑 (2.24a)
𝑀

𝑉 = 0,05 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 4,8 𝑏 ∙ 𝑑 (2.24b)

𝑉 = 0,42 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 𝑏 ∙𝑑 (2.24c)

𝑉 ≥ 0,17 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (2.25)

Sendo:
𝑉 força cortante de projeto na seção considerada, em N;
𝑑 altura útil da seção considerando o aço protendido, em mm;
𝑀 momento fletor de projeto na seção considerada, em N ∙ mm.

O Método Detalhado considera dois tipos de fissuras inclinadas ocorrendo no concreto:


a fissura por flexo-cisalhamento e a fissura por cisalhamento da alma. Essas fissuras iniciam
com o aumento das tensões de tração no concreto, ultrapassando sua resistência à tração. A
resistência ao cisalhamento nominal fornecida pelo concreto (𝑉 ) é assumida como o menor
valor entre (𝑉 ) e (𝑉 ), sendo o primeiro referente a resistência ao cisalhamento fornecida
pelo concreto onde as fissuras resultam do esforço cortante combinado ao momento fletor
(flexo-cisalhamento) e o último referente a resistência ao cisalhamento fornecida pelo concreto
onde as fissuras diagonais decorrem da tensão de tração elevada na alma. A Figura 9 ilustra
esses dois tipos de fissuras.
50

Figura 9 – Tipos de fissuras em vigas de concreto

Fonte: Adaptado de ACI 318 (2019)

A resistência ao flexo-cisalhamento (𝑉 ) deve ser tomado como o maior valor


encontrado a partir das Equações 2.26 e 2.27 ou 2.26 e 2.28:

𝑉 ∙𝑀
𝑉 = 0,05 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 + 𝑉 + (2.26)
𝑀

Para elementos com 𝐴 ∙ 𝑓 < 0,4(𝐴 𝑓 + 𝐴 𝑓 ):

𝑉 = 0,14 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (2.27)

Para elementos com 𝐴 ∙ 𝑓 ≥ 0,4(𝐴 𝑓 + 𝐴 𝑓 ):

𝑉 = 0,17 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (2.28)

Onde:
𝑉 esforço cortante característico na seção considerada devido a carga morta, ou
simplesmente do peso próprio, em N;
𝑉 esforço cortante de cálculo na seção considerada ao carregamento externo,
ocorrendo simultaneamente com 𝑀 , em N;
51

𝑀 momento máximo de projeto na seção considerada devido às cargas externas,


em N ∙ mm;
𝑀 momento que gera fissuras de flexão na seção devido ao carregamento externo,
em N ∙ mm.

Em que 𝑑 não precisa ser menor que 0,8h e os valores de 𝑉 e 𝑀 devem ser
calculados a partir das combinações de carga que resultem o maior momento de projeto na
seção. O momento 𝑀 é calculado conforme:

𝐼
𝑀 = ∙ 0,5 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 +𝑓 −𝑓 (2.29)
𝑦

Sendo:
𝐼 momento de inércia da seção, em 𝑚𝑚 ;
𝑦 distância do centro de gravidade da peça à face tracionada, em mm;
𝑓 tensão de compressão no concreto devido a força efetiva de protensão, em MPa;
𝑓 tensão do peso próprio gerado pelo carregamento externo, em MPa.

A resistência ao cisalhamento na alma (𝑉 ) é calculada fazendo uso da Equação 2.30:

𝑉 = 0,29 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 0,3 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 + 𝑉 (2.30)

Em que:
𝑓 tensão de compressão do concreto, no centroide da seção transversal, que resiste
ao carregamento externo, em MPa;
𝑉 componente vertical da força de protensão, em N.

Nas seções em que a força cortante solicitante ultrapassa a resistência de projeto do


cocnreto ao cisalhamento (𝑉 > ∅𝑉 ), a armadura transversal (𝑉 ) deve obedecer:

𝑉
𝑉 ≥ − 𝑉 (2.31)

Para estribos verticais:


52

𝐴 ∙𝑓 ∙𝑑
𝑉 = (2.32)
𝑠

𝐴 𝑉
= (2.33)
𝑠 𝑓 ∙𝑑

Com:
𝑉 resistência ao cisalhamento nominal fornecida pelo aço da armadura transversal,
em N;
área de aço da armadura transversal em mm²/mm;

𝑓 tensão de escoamento específica da armadura transversal, em MPa.

Por fim, a norma recomenda o emprego de uma armadura mínima, sendo raros os casos
em que este emprego pode ser dispensado, como por exemplo, no caso em que o concreto é
capaz de resistir ao esforço cortante e a viga tem altura menor ou igual a 250mm. A armadura
mínima é definida a partir do tipo de viga. Para vigas não protendidas ou protendidas com 𝐴 ∙
𝑓 < 0,4(𝐴 𝑓 + 𝐴 𝑓 ), a armadura mínima é a maior dentre:

𝐴 , 𝑏
= 0,062 ∙ 𝑓 ∙ (2.34)
𝑠 𝑓

𝐴 , 𝑏
= 0,35 ∙ (2.35)
𝑠 𝑓

Para vigas protendidas com 𝐴 ∙ 𝑓 ≥ 0,4(𝐴 𝑓 + 𝐴 𝑓 ), a armadura mínima é a


menor entre a definida para o caso acima (maior entre o resultado das Equações 2.34 e 2.35) e
a calculada com a Equação 2.36:

𝐴 , 𝐴 ∙𝑓 𝑑
= (2.36)
𝑠 80𝑓 ∙ 𝑑 𝑏

2.3.3 – EUROCODE 2:2004

A norma europeia de dimensionamento de estruturas de concreto, o EUROCODE


2:2004, considera quatro aspectos da resistência de elementos sujeitos a esforço cortante:
53

resistência dos elementos sem reforço de cisalhamento (armadura transversal), expressa em


termos de 𝑉 ; resistência dos elementos com reforço de cisalhamento, expressa em termos de
𝑉 ; cisalhamento máximo que pode ser suportado por um elemento e comportamento próximo
aos apoios. Na existência de armaduras inclinadas, a parcela de contribuição da componente
vertical da força no cabo em elementos com armadura transversal também é considerada, de
modo que a resistência à força cortante pode ser calculada conforme:

𝑉 =𝑉 , +𝑉 +𝑉 (2.37)

Onde:
𝑉 resistência ao cisalhamento de cálculo de elementos com armadura de
cisalhamento;
𝑉 , parcela proveniente da armadura transversal;
𝑉 parcela proveniente da componente vertical da força em caso de armaduras
inclinadas no bordo comprimido da peça;
𝑉 parcela proveniente da componente vertical da força em caso de armaduras
inclinadas no bordo tracionado da peça.

De acordo com o Designers’ guide to EUROCODE 2 (BEEDY & NARAYANAN,


2009), o cisalhamento tem sido uma das áreas mais pesquisadas, mas ainda não há uma teoria
geral aceita que descreve o comportamento final de elementos sem armadura transversal. As
equações que serão apresentadas foram desenvolvidas a partir de uma grande quantidade de
ensaios experimentais, em que o efeito das principais variáveis pôde ser estabelecido de modo
que as fórmulas foram consideradas confiáveis.
O cálculo da resistência ao cisalhamento para elementos estruturais sem armadura
transversal tem maior relevância para o caso de lajes, em que a disposição desse tipo de
armadura é considerada inviável de ser executada. No caso de vigas, quando a resistência ao
cisalhamento devido ao concreto (𝑉 , ) é superior ao esforço solicitante de cálculo, deve-se
empregar uma armadura mínima, que pode ser dispensada tomada as devidas verificações para
o caso de lajes e elementos simples, como, por exemplo, lintéis de comprimento até 2 metros.
Quando há a necessidade de reforço, a resistência ao cisalhamento se dá apenas através do aço,
sendo desconsiderada a parcela de colaboração do concreto.
A parcela (𝑉 , ) é calculada conforme a Equação 2.38:
54

𝑉 , = [𝐶 , ∙ 𝑘 ∙ (100𝜌 ∙ 𝑓 ) + 𝑘 ∙ 𝜎 ] ∙ 𝑏 ∙ 𝑑 (2.38)

Não devendo ser menor que:

(𝑉 , ) í = (𝑣 í +𝑘 ∙𝜎 )∙𝑏 ∙𝑑 (2.39)

Em que:
𝑉 , resistência ao cisalhamento de cálculo de elementos sem reforço de
cisalhamento;
𝐶 , fator com valor recomendado de 0,18/𝛾 , sendo 𝛾 igual a 1,2 ou 1,5 de acordo
com a Tabela 2.1N da referida norma;

𝑘 = 1+ ≤ 2,0 com d em mm;

𝑓 resistência característica do concreto em MPa;


𝜌 taxa da armadura longitudinal, dada por 𝜌 = ≤ 0,02;

𝐴 área de armadura longitudinal em mm²;


𝑏 menor largura transversal da seção em mm;
𝑑 altura útil da seção transversal em mm;
𝑘 fator de valor recomendado igual a 0,15;
𝜎 tensão de compressão no concreto devido a protensão, expressa por:

𝜎 = ≤ 0,2𝑓 em MPa;

𝑁 força axial na seção transversal devido ao carregamento axial ou protensão, em


N;
𝐴 área da seção transversal do concreto, em mm²;
/
𝑣 í = 0,035𝑘 ∙ 𝑓

Em elementos protendidos de vão único sem armadura transversal, a resistência ao


cisalhamento de regiões não fissuradas na flexão (em que a tensão de tração de flexão é menor
que 𝑓 ) pode ser calculada através da expressão 2.40:

𝐼∙𝑏
𝑉 , = ∙ 𝑓 + 𝛼 ∙𝜎 ∙𝑓 (2.40)
𝑆
55

Onde:
𝐼 segundo momento de área (𝑚𝑚 );
𝑆 primeiro momento de área acima e abaixo do eixo centroidal em 𝑚𝑚 ;
𝑓 resistência à tração do concreto em MPa;

𝛼 = ≤ 1 para elementos pré-tensionados e 𝛼 = 1 para outros tipos de protensão;

𝑙 distância da seção considerada à seção marca o início do comprimento de


transferência da protensão;
𝑙 é o valor superior do comprimento de transferência da protensão, calculado
conforme item 8.10.2.2 da norma;

No caso de elementos com armadura de cisalhamento, a resistência ao cisalhamento é


calculada a partir de um 𝑉 , e como descrito anteriormente, pode ter seu valor acrescido de
uma contribuição referente a componente vertical da força de cabos inclinados. Para prever os
efeitos dos estribos transversais é utilizado o modelo de treliça, modelo também utilizado pela
norma brasileira. O valor do 𝑉 , adotado no caso de estribos verticais deve ser o menor entre
𝑉 , e𝑉 , , calculados conforme as Equações 2.41 e 2.42:

𝐴
𝑉 , = ∙𝑧∙𝑓 ∙ 𝑐𝑜𝑡𝜃 (2.41)
𝑠

𝛼 ∙𝑏 ∙𝑧∙𝑣 ∙𝑓
𝑉 , = (2.42)
𝑐𝑜𝑡𝜃 + 𝑡𝑎𝑛𝜃

Em que:
𝐴 área da seção transversal da armadura de cisalhamento;
s espaçamento dos estribos;
z braço de alavanca;
𝑓 tensão de escoamento da armadura transversal;
𝜃 ângulo entre a biela de compressão de concreto e o eixo da viga perpendicular à
força de cisalhamento. Deve ser limitado a 1 ≤ 𝑐𝑜𝑡𝜃 ≤ 2,5;
𝑣 fator de redução de resistência para concreto fissurado por cisalhamento;
𝛼 coeficiente que considera a existência de força de compressão aplicada.
56

O ângulo 𝜃 pode ser obtido utilizando a expressão 2.43 retirado da página 57 do Manual
for the design of concrete Building structures to Eurocode 2 (IStructE,2006).

5,56𝑉
𝜃 = 0,5𝑠𝑖𝑛 (2.43)
𝑓
𝑏 ∙𝑑 1− 𝑓
250

Com 𝑏 e 𝑑 em mm, 𝑉 em N e 𝑓 em MPa. 𝑉 pode ser tomado como o esforço


cortante de projeto na seção imediatamente após o apoio.
Se 𝑐𝑜𝑡𝜃 < 1 algumas soluções devem ser adotadas, como: redimensionamento da
geometria da viga, aumento da resistência do concreto ou redução no carregamento aplicado.
Se 𝑐𝑜𝑡𝜃 ≥ 2,5 assumir 𝑐𝑜𝑡𝜃 = 2,5 para o cálculo da armadura transversal.

O fator 𝑣 pode ser calculado de modo:


𝑓
𝑣 = 𝑣 = 0,6 1 − (2.44)
250
com 𝑓 em MPa.

Se a tensão de projeto da armadura transversal for menor que 80% da tensão


característica de escoamento, 𝑣 assume valor:

𝑣 = 0,6 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑓 ≤ 60𝑀𝑃𝑎 (2.45)

𝑓
𝑣 = 0,9 − > 0,5 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑓 ≤ 60𝑀𝑃𝑎 (2.46)
200

O valor recomendado para 𝛼 é:


1 para concreto não protendido;
(1+ 𝜎 /𝑓 ) para 0 < 𝜎 ≤ 0,25𝑓 ;
1,25 para 0,25𝑓 <𝜎 ≤ 0,5𝑓 ;
2,5 (1- 𝜎 /𝑓 ) para 0,5𝑓 < 𝜎 < 1𝑓 ;

No caso de armaduras transversais inclinadas, são utilizadas as equações 6.13 e 6.14 da


norma europeia.
57

Ao fim deste item é importante ressaltar que o EUROCODE 2 adota uma abordagem
em que nas peças onde o esforço cortante solicitante de projeto tem valor maior que a resistência
do concreto ao cisalhamento, todo o cisalhamento deve ser absorvido pela armadura transversal
e que o ângulo da treliça 𝜃 pode assumir qualquer valor entre 22º e 45º. Ainda, quando o
concreto tem resistência suficiente ao cisalhamento, é recomendado o emprego de uma
armadura mínima, calculada conforme a equação 2.47 e 2.48, encontrada no item 9.2.2 da
norma:

𝐴
= 𝜌 ∙ 𝑏 (2.47)
𝑠

𝜌 = (0,08 𝑓 ) ∙ 𝑓 (2.48)

O espaçamento transversal não deve exceder 𝑠 , á = 0,75𝑑 ≤ 600𝑚𝑚.


58

3 – MODELOS E METODOLOGIA DE ESTUDO

Para analisar o efeito da protensão no aumento da resistência ao cisalhamento de vigas


de concreto protendido foram esquematizados quatro grupos de vigas, que variam a altura da
seção, o 𝑓 do concreto, o traçado dos cabos e a quantidade de aço. O comprimento das peças
foi fixado em dez metros e a largura em trinta centímetros (30cm). A carga atuante considerada
é apenas do peso próprio e de uma alvenaria em tijolo cerâmico vazado, simulando uma viga
biapoiada intermediária da fachada externa de um galpão.
As vigas foram dimensionadas a flexão no Estado Limite Último (ELU) a partir do
equilíbrio de forças da seção, e em seguida verificadas no Estado Limite de Serviço (ELS),
segundo a norma brasileira. O dimensionamento ao cisalhamento foi realizado conforme as
prescrições da NBR 6118:2014, ACI 318:2019 e EUROCODE 2:2004, e dele foi obtido os
valores de força cortante resistente, destacando a contribuição do efeito da protensão em cada
uma das vigas. Ressalta-se, portanto, que o dimensionamento foi realizado para consideração
da viga em concreto armado e em concreto protendido, de modo a permitir tal comparação. Os
cálculos foram desenvolvidos em planilha Excel, de modo a permitir a análise das variáveis em
estudo.
Os resultados dos esforços resistentes para as cargas últimas obtidas para cada uma das
normas foram comparados entre si e discutidos quanto a quantidade de colaboração que a
protensão introduz as vigas de concreto.
Na Tabela 3 são apresentados os grupos de vigas e suas características iniciais,
atribuindo uma identificação para cada uma delas. Para facilitar essa identificação,
exemplificam-se aqui duas vigas (uma do Grupo 1 e outra do Grupo 4) com as seguintes
nomenclaturas de acordo com a resistência do concreto a compressão fck, o traçado do cabo e a
altura da viga:
V1R - 60: Viga do Grupo1 com fck de 35 MPa, traçado de Cabo Reto e altura de 60 cm.
V4P - 80: Viga do Grupo 4 com fck de 90 MPa, traçado de Cabo Poligonal e altura de 80 cm.
59

Tabela 3- Apresentação dos modelos de vigas

Traçado dos cabos Seção transversal


Grupos Identificação
de protensão Altura (cm)
60 V1R - 60
Reto 80 V1R - 80
G1 100 V1R - 100
(Concreto de
35MPa) 60 V1P - 60
Poligonal 80 V1P - 80
100 V1P - 100
60 V2R - 60
Reto 80 V2R - 80
G2 100 V2R - 100
(Concreto de
50MPa) 60 V2P - 60
Poligonal 80 V2P - 80
100 V2P - 100
60 V3R - 60
Reto 80 V3R - 80
G3 100 V3R - 100
(Concreto de
70MPa) 60 V3P - 60
Poligonal 80 V3P - 80
100 V3P - 100
60 V4R - 60
Reto 80 V4R - 80
G4 100 V4R - 100
(Concreto de
90MPa) 60 V4P - 60
Poligonal 80 V4P - 80
100 V4P - 100
Fonte: Autor (2021)

Uma outra característica importante, comum a todas as vigas, é que foram verificadas
considerando uma protensão do tipo limitada (Concreto Protendido Nível 2), com sistema de
pós-tração com aderência posterior e Classe de Agressividade Ambiental III (CAA III), o que
implica em um concreto de no mínimo 35MPa, segundo a recomendação da Tabela 7.1 da NBR
6118:2014. Além disso, foi adotado, em todos os casos, aço CP190-RB. A Figura 10 apresenta
a configuração para o traçado dos cabos protendidos e a distância do centro de gravidade das
armaduras à borda inferior da seção (d’) considerada. A inclinação do cabo no caso das vigas
com traçado poligonal é considerada como iniciando na altura média da seção retangular até a
distância de um metro das extremidades da peça, sendo reto no trecho central.
60

Figura 10 – Configuração do traçado dos cabos para as vigas de concreto protendido

Fonte: Autor (2021)

3.1 - Dimensionamento a flexão das vigas

Neste item será apresentado o dimensionamento a flexão da viga modelo V1R-60. Os


passos a serem descritos foram aplicados a todas as vigas em software Excel e os resultados
serão expostos em uma tabela resumo, devido a grande quantidade de dados.
O dimensionamento das peças protendidas é iterativo, e pode passar por mais de uma
iteração, dependendo do cálculo das perdas e das verificações nos estados limites de serviço e
fadiga. O cálculo da armadura longitudinal é feito no tempo infinito, ou seja, após a
consideração de todas as perdas de protensão, e para esta análise foi estimada uma perda de
protensão de 30%.

i. Esforços solicitantes de cálculo

Sendo o peso específico do concreto protendido, de acordo com a NBR 6120:2019 igual
a 25 kN/m³, a viga V1R-60, de seção transversal (0,3x0,6)m, tem peso próprio calculado de
modo:
𝑔 , = 25 ∙ 0,30 ∙ 0,60 = 4,5 𝑘𝑁/𝑚 (3.1)

A outra carga que atua sobre a viga é a de uma parede de alvenaria constituída por tijolos
cerâmicos furados revestidos por uma argamassa de cimento e areia. Para encontrar o peso
específico representativo destes materiais fez-se uma média ponderada entre os pesos
específicos de cada um, retirados da NBR 6120:2019, de modo que foi estabelecido a espessura
61

de 9 cm de tijolos furados com 𝛾 = 13 𝑘𝑁/𝑚³ e a espessura de 3cm de cada lado de


argamassa 𝛾 = 21 𝑘𝑁/𝑚³. Assim:

𝑒 ∙𝛾 +𝑒 ∙𝛾
𝛾 = (3.2)
𝑒 +𝑒

0,09 ∙ 13 + 0,06 ∙ 21
𝛾 = = 16,2 𝑘𝑁/𝑚³ (3.3)
0,09 + 0,06

Considerando a altura (h) da parede igual a 2,6 metros e sendo a espessura (𝑒) igual a
0,15 metros, tem-se:
𝑔 =𝛾 ∙𝑒∙ℎ (3.4)

𝑔 = 16,2 ∙ 0,15 ∙ 2,6 = 6,318 𝑘𝑁/𝑚 (3.5)

Dessa forma, a carga distribuída ao longo do comprimento da viga é:

𝑔 = 𝑔 , +𝑔 (3.6)

𝑔 = 4,5 + 6,318 = 10,818 𝑘𝑁/𝑚 (3.7)

Como a estrutura é simplesmente apoiada, essa carga resulta em um momento fletor


máximo no meio do vão de valor:

𝑞∙𝑙 10,818 ∙ 10
𝑀 = = = 135,225 𝑘𝑁/𝑚 (3.8)
8 8

A NBR 6118:2014 na Tabela 11.1, apresenta que para combinação normal de ações os
coeficientes para majoração da carga das ações permanentes e variáveis desfavoráveis valem
para ambas 1,4. Assim o esforço de cálculo é de:

𝑀 , = 1,4 ∙ 135,225 = 189,315 𝑘𝑁/𝑚 (3.9)

ii. Estimativa da tensão de protensão no tempo infinito


62

A NBR 6118:2014 recomenda, no item 9.6.1.2.1, que a tensão 𝜎 da armadura de


protensão na saída do aparelho tensor (macaco) não ultrapasse os seguintes valores no caso de
pós-tração aderente:

𝜎 = 0,74𝑓 𝑒 0,82𝑓 (Aços RB) (3.10)

Como será utilizado aço CP190 RB, onde 𝑓 = 1900 𝑀𝑃𝑎 e 𝑓 = 1710 𝑀𝑃𝑎,
tem-se:

𝜎 = 0,74 ∙ 1900 = 1406 𝑀𝑃𝑎 (3.11)

𝜎 = 𝜎 = 0,82 ∙ 1710 = 1402,2 𝑀𝑃𝑎 (3.12)

Adota-se, portanto, o menor dentre os valores e a tensão inicial de protensão na


armadura ativa é 𝜎 = 1402,2 𝑀𝑃𝑎.

iii. Cálculo da deformação de pré-alongamento

Para o cálculo da deformação de pré-alongamento é necessário conhecer a tensão de


protensão que atua num tempo infinito, ou seja, após decorridas todas as perdas de protensão.
Para este trabalho foi considerada uma perda total de 30%. A tensão num tempo infinito é
calculada a partir de Equação 3.13:
𝜎
𝜎 , = (3.13)
(100% + %𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠)

1402,2 1402,2
𝜎 , = = = 1078,62 𝑀𝑃𝑎 (3.14)
(100% + 30%) 1 + 0,3

O pré-alongamento (∆𝜀 ) será definido pela Lei de Hooke:

𝜎 ,
∆𝜀 = (3.15)
𝐸

Com módulo de elasticidade de fios e cordoalhas 𝐸 = 200 𝐺𝑃𝑎 = 200000𝑀𝑃𝑎.


Dessa forma:
63

1078,62
∆𝜀 = = 0,539% = 5,39‰ (3.16)
200000

iv. Determinação da armadura de protensão

Foi considerado que o centro da armadura ativa está a 8cm da borda inferior na seção
de meio vão, ou seja:
𝑑 = 0,52𝑚
(3.17)

Do equilíbrio da seção tem-se que:


𝑀
𝑑± 𝑑 −2∙ (3.18)
𝑏 ∙𝛼 ∙𝑓
𝑥=
𝜆

Sendo 𝜆 = 0,8 e 𝛼 = 0,85 para concretos do Grupo I e λ = 0,8 − e𝛼 =

0,85 ∙ 1,0 − para concretos do Grupo II. No caso da viga modelo em análise, 𝜆 = 0,8

e 𝛼 = 0,85. Neste caso:

189,315
0,52 + 0,52 − 2 ∙
0,30 ∙ 0,85 ∙ 35000/1,4 (3.19)
𝑥 =
0,8

𝑥 = 1,2242𝑚 (3.20)

189,315
0,52 − 0,52 − 2 ∙
0,30 ∙ 0,85 ∙ 35000/1,4 (3.21)
𝑥 =
0,8

𝑥 = 0,0758𝑚 (3.22)

Portanto, 𝑥 = 0,0758𝑚.
No limite entre os domínios 2 e 3 (𝜀 = 3,5‰ e 𝜀 = 10‰), a posição da linha
neutra é 𝑥 , = 0,259 ∙ 𝑑 = 0,259 ∙ 0,52 = 0,13𝑚, valor maior que o encontrado para
esta situação, indicando que se trata de uma peça dimensionada no domínio 2, com aço
escoando (𝑓 = 𝑓 = ,
= 43,478 𝑘𝑁/𝑐𝑚²).
64

No domínio 2, a deformação específica do aço é 𝜀 = 10‰ e a deformação específica


do concreto pode ser calculada a partir de semelhança de triângulo conforme a Equação 3.23:
10‰
𝜀 = ∙𝑥 (3.23)
𝑑−𝑥

10‰
𝜀 = ∙ 0,0758 = 1,71‰ (3.24)
0,52 − 0,0758

A deformação total da armadura ativa é dada por:

ε = ∆ε + ∆ε (3.25)

ε = 5,39 + 10 = 15,39‰ (3.26)

A equação da tensão final no aço de armadura ativa é obtida a partir do diagrama tensão-
deformação do aço, expressa de modo:

𝑓 − 𝑓
𝜎 = 𝑓 + ∙ (𝜀 −𝜀 ) (3.27)
40‰ − ε

Em que, para o aço CP190 RB:


𝑓 1710
𝑓 = = = 1486,96 𝑀𝑃𝑎
𝛾 1,15 (3.28)

𝑓 1486,96
𝜀 = = = 7,4348‰ (3.29)
𝐸 200000

𝑓 1900
𝑓 = = = 1652,17 𝑀𝑃𝑎 (3.30)
𝛾 1,15

Portanto,
1652,17 − 1486,96
𝜎 = 1486,96 + ∙ (15,39 − 7,4348) (3.31)
40‰ − 7,4348

𝜎 = 1527,32 𝑀𝑃𝑎 (3.32)

𝜎 = 152,732 𝑘𝑁/𝑐𝑚² (3.33)


65

Também a partir do equilíbrio das seções, sabe-se que a área de aço necessária para
resistir ao momento solicitante é dada pela expressão:

𝑀 𝑀
𝐴 = = (3.34)
𝑧∙𝜎 (𝑑 − 0,4𝑥) ∙ 𝜎

189,315
𝐴 = = 2,53 𝑐𝑚²
(0,52 − 0,4 ∙ 0,0758) ∙ 152,732 (3.35)

A partir do catálogo Fios e Cordoalhas para Concreto Protendido da ArcelorMittal, uma


cordoalha com 7 fios CP 190 RB 9,5 tem uma área aproximada de 56mm², que equivale a 0,56
cm². Adota-se então 5 cordoalhas, resultando em uma área de aço efetiva de 2,80cm².

𝐴 , = 2,80 𝑐𝑚² (3.36)

3.2 - Verificação ao Estado Limite de Serviço (ELS)

Para protensão limitada a verificação é feita para os seguintes estados-limites de serviço


e combinações: ELS-F, sob combinação frequente de serviço (CF) e ELS-D, sob combinação
quase-permanente de serviço (CQP). As condições a serem atendidas são:

ELS-F: 𝜎 , á , ≤𝑓 ,

ELS-D: 𝜎 , á , ≥0

Isso quer dizer que sob combinação quase permanente de serviço não são permitidas
tensões de tração e sob combinação frequente de serviço essa tensão de tração não pode
ultrapassar a resistência do concreto a tração na flexão (𝑓 , ).

a) Verificação do ELS-F (CF)

A condição que deve ser atendida tanto na borda inferior quanto na borda superior é:

𝜎, á , ≤𝑓 , (3.37)
Em que 𝑓 , é a resistência do concreto a tração na flexão, aqui adotada como a
inferior, a qual segundo a NBR 6118:2014 pode ser calculada de modo:
66

𝑓 , = 𝛼 ∙ 0,7 ∙ 𝑓 (3.38)

/
𝑓 = 0,3 ∙ 𝑓 (3.39)

Onde α é um coeficiente de forma, que para seções retangulares tem valor 1,5. (NBR
6118: 2014, item 17.3.1). Assim:

/
𝑓 , = 1,5 ∙ 0,7 ∙ 0,3 ∙ 35 = 3,37𝑀𝑃𝑎 (3.40)

Também, impõe-se a condição que a tensão de compressão não deve ser superior a
0,7f , ou seja, 𝜎 , ≤ 24,5 𝑀𝑃𝑎.

i) Borda inferior

A expressão para o cálculo da tensão sob combinação frequente de ações na borda


inferior é:
𝑁 𝑀 𝑀 𝜓 𝑀
𝜎 = + + + (3.41)
𝐴 𝑊 𝑊 𝑊

Não existe nas vigas em estudo carregamento variável, de modo que a última parcela da
equação é nula. Assim, a expressão assume a forma:

𝑁 𝑀 𝑀
𝜎 = + + (3.42)
𝐴 𝑊 𝑊

A força de protensão total na peça após decorrida todas as perdas é igual a 𝑁 =


273,03 𝑘𝑁.

273,03 273,03 ∙ 22 135,23 ∙ 100


𝜎 = + − (3.43)
1800 18000 18000

𝜎 = − 0,266 𝑘𝑁/𝑐𝑚² (3.44)

A tensão de tração de 2,66 MPa é menor que a tensão de tração limite para essa
verificação 𝑓 , = 3,37 𝑀𝑃𝑎, portanto, a condição está satisfeita.
67

ii) Borda superior

A expressão para o cálculo da tensão sob combinação frequente de ações na borda


superior é:
𝑁 𝑀 𝑀 𝜓 𝑀
𝜎 = + + + (3.45)
𝐴 𝑊 𝑊 𝑊

273,03 273,03 ∙ 22 135,23 ∙ 100


𝜎 = − + (3.46)
1800 18000 18000

𝜎 = 0,569 𝑘𝑁/𝑐𝑚² (3.47)

𝜎 = 5,69 𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜) (3.48)

Não houve tensão de tração e a tensão de compressão é inferior a tensão de compressão


limite 𝜎 , ≤ 24,5 𝑀𝑃𝑎, portanto, condição satisfeita.

b) Verificação no ELS-D

Neste caso, a condição que deve ser atendida tanto na borda inferior quanto na borda
superior é:
𝜎 , á , ≥0 (3.49)

Da mesma forma impõe-se também a condição que a tensão de compressão não deve
ser superior a 0,7f , ou seja, 𝜎 , ≤ 24,5 𝑀𝑃𝑎.

i) Borda inferior

A expressão para o cálculo da tensão sob combinação quase permanente de ações na


borda inferior é:
𝑁 𝑀 𝑀 𝜓 𝑀
𝜎 = + + + (3.50)
𝐴 𝑊 𝑊 𝑊

Sendo a parcela de momento variável nula, tem-se:


68

𝑁 𝑀 𝑀
𝜎 = + + (3.51)
𝐴 𝑊 𝑊

Esta equação se torna então igual a equação:


273,03 273,03 ∙ 22 135,23 ∙ 100
𝜎 = + − (3.52)
1800 18000 18000

𝜎 = −0,266 𝑘𝑁/𝑐𝑚² (3.53)

𝜎 = 2,66 𝑀𝑃𝑎 (𝑡𝑟𝑎çã𝑜) (3.54)

Existe, portanto, uma tensão de tração, não admitida pela norma para verificação do
Estado Limite de Serviço de Descompressão, mas que poderá ser combatida com uma armadura
passiva.

ii) Borda superior

A expressão para o cálculo da tensão sob combinação quase permanente de ações na


borda superior é:
𝑁 𝑀 𝑀 𝜓 𝑀
𝜎 = + + + (3.55)
𝐴 𝑊 𝑊 𝑊

273,03 273,03 ∙ 22 135,23 ∙ 100


𝜎 = − + (3.56)
1800 18000 18000

𝜎 = 0,569 𝑘𝑁/𝑐𝑚² (3.57)

𝜎 = 5,69 𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜) (3.58)

Não houve tensão de tração e a tensão de compressão é inferior a tensão de compressão


limite 𝜎 , ≤ 24,5 𝑀𝑃𝑎, portanto, condição satisfeita.

Foi concluído que a peça atende aos Estados Limite de Serviço exigidos para protensão
nível II.
69

3.3 - Dimensionamento ao cisalhamento segundo a NBR 6118:2014

Para o dimensionamento da viga V1R à força cortante segundo a norma brasileira foi
adotado o modelo de cálculo I. Os cálculos foram realizados para situação da viga armada e
protendida, utilizando as equações apresentadas no item 2.3.1 deste trabalho.
O esforço cortante solicitante característico e de projeto é igual, respectivamente, à:

𝑉 = 54,09 𝑘𝑁 (3.59)

𝑉 = 1,4 ∙ 54,09 = 75,73 𝑘𝑁 (3.60)

a) Sem a consideração da protensão

O cálculo de 𝑉 utilizando o modelo de cálculo I é dado por:

𝑉 = 0,27𝛼 ∙𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (3.61)

𝛼 = (1 − 𝑓 ⁄250) (3.62)

𝛼 = (1 − 35/250) = 0,86 (3.63)

3,5
𝑉 = 0,27 ∙ 0,86 ∙ ∙ 30 ∙ 55 = 957,825 𝑘𝑁 (3.64)
1,4

𝑉 ≤ 𝑉 (3.65)

75,73 𝑘𝑁 ≤ 957,825 𝑘𝑁 (3.66)

Como foi verificado que 𝑉 ≤ 𝑉 , não ocorre esmagamento das bielas comprimidas
de concreto.
Como se trata de um caso de flexão simples, a parcela 𝑉 pode ser calculada conforme:

𝑉 = 𝑉 = 0,6 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (3.67)

𝑓 =𝑓 , /𝛾 (3.68)

𝑓 = 0,7𝑓 , /𝛾 (3.69)
70

/
𝑓 = 0,7 ∙ 0,3𝑓 /𝛾 (3.70)

𝑓 = 0,7 ∙ 0,3 ∙ 35 /
/1,4 (3.71)

𝑓 = 1,605 𝑀𝑃𝑎 (3.72)

𝑉 = 0,6 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (3.73)

𝑉 = 0,6 ∙ 0,1605 ∙ 30 ∙ 55 = 158,89 𝑘𝑁 (3.74)

A parcela 𝑉 tem valor maior que 𝑉 , isso significa que o concreto e seus mecanismos
complementes oferecem resistência suficiente ao esforço cortante solicitante de projeto,
podendo ser empregada na peça apenas a armadura transversal mínima, calculada através da
equação:

𝐴
= 𝜌 ∙ 𝑏 ∙ 𝑠𝑒𝑛𝛼 (3.75)
𝑠

𝑓 ,
𝜌 ≥ 0,2 (3.76)
𝑓

3,21 0,1284
𝜌 ≥ 0,2 ≥ (3.77)
500 100

𝐴 0,1284
= ∙ 30 ∙ 𝑠𝑒𝑛90° (3.78)
𝑠 100

𝐴
= 0,03852 𝑐𝑚 /𝑐𝑚 (3.79)
𝑠

𝐴
= 3,85 𝑐𝑚 /𝑚 (3.80)
𝑠

b) Com a consideração da protensão

O cálculo de 𝑉 utilizando o modelo de cálculo I é dado por:

𝑉 = 0,27𝛼 ∙𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (3.81)
71

𝛼 = (1 − 𝑓 ⁄250) (3.82)

𝛼 = (1 − 35/250) = 0,86 (3.83)

3,5
𝑉 = 0,27 ∙ 0,86 ∙ ∙ 30 ∙ 52 = 905,58 𝑘𝑁 (3.84)
1,4

𝑉 ≤ 𝑉 (3.85)

75,73 𝑘𝑁 ≤ 905,58 𝑘𝑁 (3.86)

Como 𝑉 ≤ 𝑉 , não ocorre esmagamento das bielas comprimidas de concreto.


Agora, devido a protensão, temos um caso de flexo-compressão e a parcela 𝑉 pode ser
calculada conforme:
𝑉 = 𝑉 (1 + 𝑀 ⁄𝑀 , á ) ≤ 2𝑉 (3.87)

𝑉 = 0,6 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (3.88)

𝑓 = 1,605 𝑀𝑃𝑎 (3.89)

𝑉 = 0,6 ∙ 0,1605 ∙ 30 ∙ 55 = 158,89 𝑘𝑁 (3.90)

A parcela 𝑀 corresponde ao momento fletor de descompressão da seção, ou seja,


aquele que anula a tensão normal na borda menos comprimida. Pode-se calcular 𝑀 fazendo
uso da expressão:

𝑊
𝑀 = 𝛾 ∙𝑃 +𝛾 ∙𝑃 ∙𝑒 (3.91)
𝐴

𝛾 = 0,9 (3.92)

30 ∙ 60
𝐼 12
𝑊 = = = 18000 𝑐𝑚³ (3.93)
𝑦 60
2

𝐴 = 30 ∙ 60 = 1800 𝑐𝑚² (3.94)


72

𝑀 = (0,9 ∙ 273,03) ∙ 10 + 0,9 ∙ 273,03 ∙ 22 (3.95)

𝑀 = 7863,3 𝑘𝑁 ∙ 𝑐𝑚 (3.96)

𝑀 = 78,633 𝑘𝑁 ∙ 𝑚 (3.97)

A parcela 𝑀 , á assume o maior valor do momento fletor do semitramo, nesse caso,


o momento fletor de projeto para o meio do vão:

𝑀 , á = 189,32 𝑘𝑁 ∙ 𝑚 (3.98)

Desse modo,
𝑉 = 𝑉 (1 + 𝑀 ⁄𝑀 , á ) ≤ 2𝑉 (3.99)

𝑉 = 158,89 (1 + 78,633⁄189,32) ≤ 2 ∙ 158,89 (3.100)

𝑉 = 224,88 𝑘𝑁 ≤ 317,78 𝑘𝑁 (3.101)

𝑉 = 224,88 𝑘𝑁 (3.102)

Assim como para o caso sem a consideração da protensão, a parcela 𝑉 tem valor maior
que 𝑉 , podendo então ser empregada na peça apenas a armadura transversal mínima, calculada
como = 3,85 𝑐𝑚 /𝑚.

A contribuição da protensão ao cisalhamento tem termos de dimensionamento pode ser


calculada como a diferença entre o valor das parcelas 𝑉 obtidas para o caso da viga armada e
da viga protendida, de maneira:

𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 = 224,88 − 158,89 = 65,99 𝑘𝑁 (3.103)

Este valor representa aproximadamente 87% do valor do esforço cortante solicitante, e


um acréscimo de 29,3% a parcela de resistência do concreto e seus mecanismos
complementares ao cisalhamento.
73

3.4 - Dimensionamento ao cisalhamento segundo a ACI 318:2019

Será apresentado a sequência de dimensionamento ao cisalhamento da viga V1R-60


segundo o ACI 318:2019 para o caso sem protensão e com protensão, este último utilizando o
método aproximado e o método detalhado. As equações utilizadas foram mostradas no item
2.3.2 deste trabalho.

a) Sem a consideração da protensão

Como a armadura empregada na viga (𝐴 ) será maior ou igual a armadura mínima


requerida (𝐴 , í ), a contribuição do concreto é calculada utilizando a Equação 3.104 ou 3.107:

𝑁
𝑉 , = 0,17 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 𝑏 ∙𝑑 (3.104)
6𝐴

𝑉 , = 0,17 ∙ 1 ∙ √35 + 0 ∙ 300 ∙ 550 (3.105)

𝑉 , = 165946 𝑁 = 165,95 𝑘𝑁 (3.106)

/
𝑁
𝑉 , = 0,66 ∙ 𝜆 ∙ (𝜌 ) 𝑓 + 𝑏 ∙𝑑 (3.107)
6𝐴

𝐴 8,35
𝜌 = = = 0,00506 (3.108)
𝑏 𝑑 30 ∙ 55

𝑉 , = 0,66 ∙ 1 ∙ (0,00506) / √35 + 0 ∙ 300 ∙ 550 (3.109)

𝑉 , = 110610,43 𝑁 = 110,61 𝑘𝑁 (3.110)

O esforço cortante solicitante 𝑉 foi calculado utilizando o coeficiente da norma americana


(Tabela 5.3.1 do ACI 318:2019), que tem valor 1,4 para cargas “mortas”, ou seja, com
características de permanência.

𝑉 = 1,4 ∙ 𝑉 = 1,4 ∙ 54,09 = 75,73 𝑘𝑁 (3.111)

Considerando a parcela 𝑉 assumindo o valor mais desfavorável, 𝑉 = 110,61 𝑘𝑁,


verifica-se que:
74

𝑉 ≤ ∅𝑉 (3.112)

75,73 𝑘𝑁 ≤ 0,75 ∙ 110,61 𝑘𝑁 (3.113)

75,73 𝑘𝑁 ≤ 82,96 𝑘𝑁 (3.114)

Ok! É necessário apenas adotar a armadura mínima.

A armadura mínima é a maior entre:

𝐴 , 𝑏
= 0,062 ∙ 𝑓 ∙ (3.115)
𝑠 𝑓

𝐴 , 300 𝑚𝑚
= 0,062 ∙ √35 ∙ = 0,22 = 2,2𝑐𝑚 /𝑚 (3.116)
𝑠 500 𝑚𝑚

𝐴 , 𝑏
= 0,35 ∙ (3.117)
𝑠 𝑓

𝐴 , 300 𝑚𝑚
= 0,35 ∙ = 0,21 = 2,1 𝑐𝑚 /𝑚 (3.118)
𝑠 500 𝑚𝑚

Logo,
𝐴 𝐴 ,
= = 2,1 𝑐𝑚 /𝑚 (3.119)
𝑠 𝑠

b) Considerando a protensão

i) Método Aproximado

É comum no dimensionamento ao cisalhamento das peças protendidas, calcular os


esforços solicitantes numa seção crítica distante h/2 da seção intermediária do apoio. Assim:

𝑙 ℎ 0,20 0,60
𝑥 = + = + = 0,40𝑚 (3.120)
2 2 2 2
75

𝑉 75,73
𝑉, =𝑉 − 𝑥 = 75,73 − 0,4 (3.121)
𝑙 ⁄2 5

𝑉, = 69,67 𝑘𝑁 (3.122)

𝑥 𝑙 0,4
𝑀 , =𝑞∙ − 𝑥 = 10,818 ∙ 1,4 ∙ (5 − 0,4) (3.123)
2 2 2

𝑀 , = 29,08 𝑘𝑁. 𝑚 (3.124)

𝑙 𝑑 −𝑑
𝑑 = 𝑥 + +𝑑 (3.125)
2 0,5𝑙

No caso de cabo reto, 𝑑 = 𝑑 = 0,52𝑚.


A resistência ao cisalhamento do concreto é calculada então como o menor entre os
valores encontrados através das equações 3.126, 3.129, 3.132 e 3.134:

𝑉 ∙𝑑
𝑉 = 0,05 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 4,8 𝑏 ∙𝑑 (3.126)
𝑀

69670 ∙ 520
𝑉 = 0,05 ∙ 1 ∙ √35 + 4,8 ∙ 300 ∙ 520 (3.127)
29,08 ∙ 1000²

𝑉 = 979030 𝑁 = 979,03 𝑘𝑁 (3.128)

𝑉 = 0,05 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 4,8 𝑏 ∙ 𝑑 (3.129)

𝑉 = 0,05 ∙ 1 ∙ √35 + 4,8 ∙ 300 ∙ 520 (3.130)

𝑉 = 794945,4 𝑁 = 794,94 𝑘𝑁 (3.131)

𝑉 = 0,42 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 𝑏 ∙𝑑 (3.132)

𝑉 = 387621,5 𝑁 = 387,62 𝑘𝑁 (3.133)

𝑉 ≥ 0,17 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (3.134)
76

𝑉 ≥ 0,17 ∙ 1 ∙ √35 ∙ 300 ∙ 520 (3.135)

𝑉 ≥ 15689,4 𝑁 (3.136)

𝑉 ≥ 156,894 𝑘𝑁 (3.137)

Portanto, adotando o menor dentre os valores de 𝑉 encontrados:

𝑉 = 387621,5 𝑁 = 387,62 𝑘𝑁 (3.138)

O valor da contribuição do concreto a ser considerado no dimensionamento é:

∅𝑉 = 0,75 ∙ 387,62 = 290,72 𝑘𝑁 (3.139)

Este valor é maior que o esforço cortante solicitante, e, dessa forma, a viga necessita
apenas de uma armadura mínima, já calculada anteriormente como 2,2cm²/m.

ii) Método Detalhado

A contribuição do concreto ao cisalhamento é o menor valor entre 𝑉 e 𝑉 . Para o


cálculo de 𝑉 , deve-se antes, calcular os seguintes componentes:

𝑉
𝑉, =𝑉 − 𝑥 (3.140)
𝑙 ⁄2

75,73
𝑉, = 75,73 − 0,4 = 69,67 𝑘𝑁 (3.141)
5

𝑙
𝑉 , = − 𝑥 ∙𝑞 (3.142)
2

10
𝑉 , = − 0,4 ∙ 4,50 ∙ 1,4 = 28,98 𝑘𝑁 (3.143)
2

𝑉 = 𝑉 − 𝑉 (3.144)

𝑉 = 69,67 − 28,98 = 40,69 𝑘𝑁 (3.145)


77

𝑞∙𝑥
𝑀 , = (𝑙 − 𝑥 ) (3.146)
2

1,4 ∙ 10,818 ∙ 0,4


𝑀 , = (10 − 0,4) (3.147)
2

𝑀 , = 29,08 𝑘𝑁 ∙ 𝑚 (3.148)

𝑞 ∙𝑥
𝑀 , = (𝑙 − 𝑥 ) (3.149)
2

𝑞 ∙𝑥
𝑀 , = (𝑙 − 𝑥 ) (3.150)
2

1,4 ∙ 4,5 ∙ 0,4


𝑀 , = (10 − 0,4) (3.151)
2

𝑀 , = 12,1 𝑘𝑁 ∙ 𝑚 (3.152)

𝑀 = 𝑀 , −𝑀 , (3.153)

𝑀 = 𝑀 , −𝑀 , (3.154)

𝑀 = 29,08 − 12,1 = 16,98 𝑘𝑁 ∙ 𝑚 (3.155)

𝐼
𝑀 = ∙ 0,5 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 +𝑓 −𝑓 (3.156)
𝑦

É preciso verificar se a seção crítica se localiza dentro do comprimento de transferência.


De modo simplificado o comprimento de transferência pode ser calculado de modo:
𝑙 = 50 ∙ 𝑑 (3.157)
𝑑 (𝑑𝑖â𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 𝑑𝑎 𝑐𝑜𝑟𝑑𝑜𝑎𝑙ℎ𝑎/𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎)

𝑙 = 50 ∙ 𝑑 = 50 ∙ 9,5 = 475𝑚𝑚 = 0,475𝑚 (3.158)

A seção crítica está localizada a uma distância da extremidade igual a:


𝑙 0,2
𝑙 =𝑥 + = 0,4 + = 0,5𝑚 (3.159)
2 2
78

Como a seção crítica está localizada em uma seção fora do comprimento de


transferência (𝑙 = 0,475𝑚), não é necessário reduzir a força de protensão efetiva dessa seção,
assim:
𝑓 , = 𝑓 (3.160)

𝑓 , = 1078,6 𝑀𝑃𝑎 = 107,86 𝑘𝑁/𝑐𝑚² (3.161)

A força de protensão na seção é então:

𝑃 = 2,53 ∙ 107,86 = 272,8858 𝑘𝑁 𝑜𝑢 272885,8 𝑁 (3.162)

𝑒 = 22𝑐𝑚 = 220𝑚𝑚 (3.163)

𝐼
𝑀 = ∙ 0,5 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 +𝑓 −𝑓 (3.164)
𝑦

𝐼 𝑃 𝑃 ∙𝑒 𝑀
𝑀 = ∙ 0,5 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + + − (3.165)
𝑦 𝐴 𝐼 ⁄𝑦 𝐼 ⁄𝑦

𝐴 = 𝑏 ∙ ℎ = 300 ∙ 600 = 180000𝑚𝑚² (3.166)

, ∙ , , ∙
𝑀 = ∙ 0,5 ∙ 1 ∙ √35 + + −
, ∙ , ∙
(3.167)

𝑀 = 128470000 𝑁 ∙ 𝑚𝑚 = 128,47 𝑘𝑁 ∙ 𝑚 (3.168)

𝑉 ∙𝑀
𝑉 = 0,05 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 + 𝑉 + (3.169)
𝑀

40690 ∙ 128470000
𝑉 = 0,05 ∙ 1 ∙ √35 ∙ 300 ∙ 520 + 28980 + (3.170)
16,98 ∙ 1000²

𝑉 = 382980𝑁 = 382,98 𝑘𝑁 (3.171)

Como será adotada uma tensão efetiva de protensão maior que 40% da tensão de
protensão necessária somada a tensão da armadura passiva, tem-se: 𝐴 ∙ 𝑓 ≥ 0,4(𝐴 𝑓 +
𝐴 𝑓 ) e consequentemente, utiliza-se a expressão:
79

𝑉 = 0,17 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 (3.172)

𝑉 = 0,17 ∙ 1 ∙ √35 ∙ 300 ∙ 520 = 156894,43 𝑁 = 156,89 𝑘𝑁 (3.173)

Adota-se o maior entre os valores de 𝑉 calculados, logo, 𝑉 = 382,98 𝑘𝑁.


O próximo passo consiste em determinar a parcela 𝑉 .

𝑉 = 0,29 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 0,3 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 + 𝑉 (3.174)

272885,8
𝑉 = 0,29 ∙ 1 ∙ √35 + 0,3 ∙ ∙ 300 ∙ 520 + 0 (3.175)
180000

𝑉 = 338594 𝑁 = 338,6 𝑘𝑁 (3.176)

A parcela de contribuição do concreto (𝑉 ) é definida como o menor valor entre 𝑉 e


𝑉 , portanto, assume valor:
𝑉 = 338,6 𝑘𝑁 (3.177)

∅𝑉 = 0,75 ∙ 338,6 = 253,95 𝑘𝑁 (3.178)

Também neste caso, o concreto sozinho tem resistência suficiente para resistir ao
cisalhamento na peça, sendo necessário apenas o emprego de uma armadura mínima, calculada
anteriormente como 2,2cm²/m.
A análise da contribuição da protensão a resistência ao cisalhamento pode ser feita
considerando o método aproximado e detalhado. Os valores de 𝑉 para cada um dos casos foi:
Sem protensão: ∅𝑉 = 82,96 𝑘𝑁
Método aproximado: ∅𝑉 = 290,72 𝑘𝑁
Método detalhado: ∅𝑉 = 253,95 𝑘𝑁
Contribuição da protensão considerando o método aproximado:
𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 = 290,72 − 82,96 = 207,75 𝑘𝑁 (3.179)
Contribuição da protensão considerando o método detalhado:

𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 = 253,95 − 82,96 = 170,99 𝑘𝑁 (3.180)


80

3.5 - Dimensionamento ao cisalhamento segundo o EUROCODE 2:2004

Os passos a seguir descrevem o procedimento de cálculo e resultados para a viga V1R-


60 utilizando as equações apresentadas no item 2.3.3 deste trabalho.

a) Sem a consideração da protensão

i) Cálculo do 𝑉 (kN):

𝑉 54,09
𝑉 = = = 73,02 𝑘𝑁 (3.181)
𝛾 1,35

ii) Cálculo dos parâmetros d, z e dos coeficientes 𝐶 , ,𝑘e𝑘

𝑑 = 550𝑚𝑚 (3.182)

𝑧 = 0,9 ∙ 𝑑 = 0,9 ∙ 550 = 495𝑚𝑚 (3.183)

200 200
𝑘 =1+ = 1+ = 1,60 ≤ 2,0 (3.184)
𝑑 550

0,18 0,18
𝐶 , = = = 0,12
𝛾 1,5 (3.185)

𝑘 = 0,15 (3.186)

iii) Cálculo da taxa de armadura longitudinal

𝐴 8,35
𝜌 = = = 0,005 ≤ 0,02 (3.187)
𝑏 𝑑 30 ∙ 55

iv) Cálculo de (𝑉 , ) í :

(𝑉 , ) í = (𝑣 í +𝑘 ∙𝜎 )∙𝑏 ∙𝑑 (3.188)
81

𝜎 = 0 (sem força de protensão atuando na peça) (3.189)

𝑣 í = 0,035𝑘 /
∙ 𝑓 = 0,035 ∙ 1,6 ∙ √35 = 0,42 (3.190)

(𝑉 , ) í = (0,42 + 0,15 ∙ 0) ∙ 300 ∙ 550 = 69340𝑁 = 69,34𝑘𝑁


(3.191)

v) Cálculo de 𝑉 , :

𝑉 , = [𝐶 , ∙ 𝑘 ∙ (100𝜌 ∙ 𝑓 ) + 𝑘 ∙ 𝜎 ] ∙ 𝑏 ∙ 𝑑 (3.192)

𝑉 , = 0,12 ∙ 1,6 ∙ (100 ∙ 0,005 ∙ 35) + 0,15 ∙ 0 ∙ 300 ∙ 550 (3.193)

𝑉 , = 82740 = 82,74 𝑘𝑁 (3.194)

𝑉 , > (𝑉 , ) í (3.195)

𝑉 , = 82,74 𝑘𝑁 (3.196)

vi) Verificação da necessidade de armadura de cisalhamento:

𝑉 , = 82,74 𝑘𝑁 > 𝑉 = 73,02 𝑘𝑁 (3.197)

Não é necessário reforço de cisalhamento, recomenda-se o emprego de uma armadura


mínima. A armadura mínima é calculada conforme:

𝐴
= (0,08 𝑓 ) ∙ 𝑓 ∙ 𝑏 (3.198)
𝑠

𝐴
= (0,08 35) ∙ 500 ∙ 300 = 0,284 𝑚𝑚 /𝑚𝑚 (3.199)
𝑠

𝐴
= 2,83 𝑐𝑚 /𝑚 (3.200)
𝑠
82

O espaçamento transversal não deve exceder 𝑠 , á = 0,75𝑑 ≤ 600𝑚𝑚.

𝑠 , á = 0,75 ∙ 55,0 = 41,25𝑐𝑚 ≤ 60𝑐𝑚 (3.200)

𝑠 , á = 41,25𝑐𝑚 (3.200)

Pode então ser adotado o seguinte detalhamento para os estribos, 𝜑5 𝑐/13.

b) Com a consideração da protensão

i) Cálculo do 𝑉 (kN):

𝑉 54,09
𝑉 = = = 73,02 𝑘𝑁 (3.201)
𝛾 1,35

ii) Cálculo dos parâmetros d, z e dos coeficientes 𝐶 , ,𝑘e𝑘

𝑑 = 520𝑚𝑚 (3.202)

𝑧 = 489,68𝑚𝑚 (3.203)

200 200
𝑘 =1+ = 1+ = 1,62 ≤ 2,0 (3.204)
𝑑 520

0,18 0,18
𝐶 , = = = 0,12 (3.205)
𝛾 1,5

𝑘 = 0,15 (3.206)

iii) Cálculo da taxa de armadura longitudinal

𝐴 5,48
𝜌 = = = 0,004 ≤ 0,02 (3.207)
𝑏 𝑑 30 ∙ 52

iv) Cálculo de (𝑉 , ) í :

(𝑉 , ) í = (𝑣 í +𝑘 ∙𝜎 )∙𝑏 ∙𝑑 (3.208)
83

𝑁
𝜎 = (3.209)
𝐴
(𝑁 sendo a força de protensão atuando na peça no tempo infinito)

𝑁 273032,41 𝑁
𝜎 = = = 1,52 𝑁/𝑚𝑚 = 1,52 𝑀𝑃𝑎 (3.210)
𝐴 300 ∙ 600 𝑚𝑚²

35
𝜎 = 1,52 𝑀𝑃𝑎 ≤ 0,2𝑓 = 0,2 ∙ = 4,66 𝑀𝑃𝑎 (3.211)
1,5

𝜎 = 1,52 𝑀𝑃𝑎 (3.212)

𝑣 í = 0,035𝑘 /
∙ 𝑓 = 0,035 ∙ 1,62 ∙ √35 = 0,427 (3.213)

(𝑉 , ) í = (0,427 + 0,15 ∙ 1,52) ∙ 300 ∙ 520 (3.214)

(𝑉 , ) í = 102110𝑁 = 102,11𝑘𝑁 (3.215)

v) Cálculo de 𝑉 , :

𝑉 , = [𝐶 , ∙ 𝑘 ∙ (100𝜌 ∙ 𝑓 ) + 𝑘 ∙ 𝜎 ] ∙ 𝑏 ∙ 𝑑 (3.216)

𝑉 , = 0,12 ∙ 1,62 ∙ (100 ∙ 0,004 ∙ 35) + 0,15 ∙ 1,52 ∙ 300 ∙ 520 (3.217)

𝑉 , = 105510 = 105,51𝑘𝑁 (3.218)

𝑉 , = [𝐶 , ∙ 𝑘 ∙ (100𝜌 ∙ 𝑓 ) + 𝑘 ∙ 𝜎 ] ∙ 𝑏 ∙ 𝑑 (3.216)

vi) Verificação da necessidade de armadura de cisalhamento:

𝑉 , = 105,51 𝑘𝑁 > 𝑉 = 73,02 𝑘𝑁 (3.217)

Também não é necessário reforço de cisalhamento, empregando-se então uma armadura


mínima, já calculada anteriormente:
84

𝐴
= 2,83 𝑐𝑚 /𝑚 (3.218)
𝑠

𝜑5 𝑐/13

A contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento da peça pode ser


considerada igual a diferença entre os dois 𝑉 , calculados. Portanto:

𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 = 105,51 − 82,74 = 22,77 𝑘𝑁 (3.219)

Esse valor de contribuição corresponde a aproximadamente 31,2% do esforço cortante


solicitante de projeto. Em se tratando de área de aço, para este caso, não houve contribuição na
redução da área de aço necessária.

Desprezando a contribuição do concreto e optando por considerar apenas a armadura


transversal resistindo ao cisalhamento, como quando a norma recomenda para situações em que
𝑉 , > 𝑉 , temos os seguintes processos de cálculo:

i) Cálculo do ângulo 𝜃 para situação com e sem protensão

5,56𝑉
𝜃 = 0,5𝑠𝑖𝑛 (3.220)
𝑓
𝑏 ∙𝑑 1− 𝑓
250

𝑉 = 73,02 𝑘𝑁 = 73020 𝑁 (3.221)

5,56 ∙ 73021,5
𝜃 = 0,5𝑠𝑖𝑛 = 2,34° (3.222)
35
300 ∙ 550 1 − 35
250

𝑐𝑜𝑡𝜃 = 24,42 (3.223)

1 ≤ 𝑐𝑜𝑡𝜃 ≤ 2,5 (3.224)


85

𝑐𝑜𝑡𝜃 = 2,5 (3.225)

De mesmo modo, com d = 520, referente ao aço protendido, a 𝑐𝑜𝑡𝜃 permanece


resultando 2,5.

ii) Cálculo da área de aço necessária no caso sem protensão:

𝐴
𝑉 , = ∙𝑧∙𝑓 ∙ 𝑐𝑜𝑡𝜃 (3.226)
𝑠

𝐴 𝑉 ,
= (3.227)
𝑠 𝑧∙𝑓 ∙ 𝑐𝑜𝑡𝜃

𝐴 73021,5 𝑚𝑚
= = 0,1357 = 1,357 𝑐𝑚 /𝑚
𝑠 500 𝑚𝑚 (3.228)
0,9 ∙ 550 ∙ ∙ 2,5
1,15

𝐴
= 2,83 𝑐𝑚 /𝑚 (3.229)
𝑠 í

Adota-se então a armadura mínima.

iii) Área de aço necessária no caso com protensão:

𝐴 𝑉 ,
= (3.230)
𝑠 𝑧∙𝑓 ∙ 𝑐𝑜𝑡𝜃

𝐴 73021,5 𝑚𝑚
= = 0,1372
𝑠 500 𝑚𝑚 (3.231)
489,67 ∙ ∙ 2,5
1,15

𝐴
= 1,372 𝑐𝑚 /𝑚 (3.232)
𝑠

𝐴
= 2,83 𝑐𝑚 /𝑚 (3.233)
𝑠 í
86

Adota-se então a armadura mínima.

iv) Cálculo do 𝑉 , :

Neste cálculo, a parcela de contribuição da protensão se faz presente através do fator


𝛼 . Para concreto não protendido 𝛼 = 1 e, portanto:

𝛼 ∙𝑏 ∙𝑧∙𝑣 ∙𝑓
𝑉 , = (3.234)
𝑐𝑜𝑡𝜃 + 𝑡𝑎𝑛𝜃

𝑓
𝑣 = 𝑣 = 0,6 1 − (3.235)
250

35 35
1 ∙ 300 ∙ 0,9 ∙ 550 ∙ 0,6 ∙ 1 − ∙
250 1,5 (3.236)
𝑉 , =
𝑐𝑜𝑡2,34º + 𝑡𝑎𝑛21,80º

35 35
1 ∙ 300 ∙ 0,9 ∙ 550 ∙ 0,6 ∙ 1 − ∙
250 1,5 (3.237)
𝑉 , =
𝑐𝑜𝑡2,34º + 𝑡𝑎𝑛21,80º

𝑉 , = 616537,1 𝑁 = 616,54 𝑘𝑁 (3.238)

Com a protensão, sendo 0 < 𝜎 ≤ 0,25𝑓 , tem-se:

𝛼 = 1 + 𝜎 /𝑓 (3.239)

1,52
𝛼 =1+ = 1,0651
35 (3.240)
1,5

35 35
1,0651 ∙ 300 ∙ 489,67 ∙ 0,6 ∙ 1 − ∙
250 1,5 (3.241)
𝑉 , =
2,5 + 𝑡𝑎𝑛21,80º
87

𝑉 , = 649602,82 𝑁 = 649,6 𝑘𝑁 (3.242)

A contribuição da protensão no caso do cabo reto só é considerada, como visto, no


cálculo do 𝑉 , , neste caso, a contribuição teve valor igual a:

𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖çã𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 = 649,6 − 616,54 = 33 𝑘𝑁 (3.243)


88

4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da metodologia descrita, as vinte e quatro vigas, com a configuração de vigas


armadas e vigas protendidas, foram dimensionadas a flexão e ao cisalhamento. Do
dimensionamento a flexão, realizado conforme as prescrições normativas da NBR 6118:2014
e considerando a seção mais solicitada da peça, obteve-se como resultado a área de aço
longitudinal necessária para cada uma das vigas e a respectiva força de protensão aplicada, no
caso das vigas protendidas. A Tabela 4 apresenta os valores de área de aço para as vigas em
concreto armado e Tabela 5 apresenta os valores de área de aço e força de protensão para as
vigas em concreto protendido.

Tabela 4 – Resultado da área de aço longitudinal para as vigas armadas

Área de armadura longitudinal


VIGA
necessária (As) (cm²)
V1 - 60 8,35
V1 - 80 6,82
V1 - 100 5,98
V2 - 60 8,21
V2 - 80 6,76
V2 - 100 5,94
V3 - 60 8,12
V3 - 80 6,71
V3 - 100 5,92
V4 - 60 8,07
V4 - 80 6,69
V4 - 100 5,90
Fonte: Autor (2021)
89

Tabela 5 – Resultado da área de aço e do valor da força de protensão para as vigas em


concreto protendido

Área de aço Força de protensão


VIGA longitudinal após as perdas
CP190 (cm²) (kN)
V1R-60 2,53 273,03
V1R-80 2,03 218,83
V1R-100 1,76 189,98
V1P-60 2,53 273,03
V1P-80 2,03 218,83
V1P-100 1,76 189,98
V2R-60 2,48 267,84
V2R-80 2,01 216,50
V2R-100 1,75 188,63
V2P-60 2,48 267,84
V2P-80 2,01 216,50
V2P-100 1,75 188,63
V3R-60 2,23 240,42
V3R-80 1,81 195,09
V3R-100 1,58 170,25
V3P-60 2,23 240,42
V3P-80 1,81 195,09
V3P-100 1,58 170,25
V4R-60 2,22 239,42
V4R-80 1,80 194,62
V4R-100 1,58 169,98
V4P-60 2,22 239,42
V4P-80 1,80 194,62
V4P-100 1,58 169,98
Fonte: Autor (2021)

O dimensionamento ao cisalhamento, realizado para cada uma das normas estudadas,


resultou em todos os casos na necessidade de uma armadura mínima para combater os esforços
cortantes solicitantes, tendo a vista o baixo nível de carregamento das vigas.
A parcela de contribuição do concreto para as vigas armadas e protendidas estão
apresentadas nas Tabelas 6 e 7, respectivamente. Nota-se que para o caso das vigas não
protendidas, os valores para o traçado reto ou poligonal são os mesmos.
90

Tabela 6 – Valores da parcela de contribuição do concreto à resistência ao esforço cortante


para vigas em concreto armado

Parcela de contribuição do concreto à


resistência ao esforço cortante para as vigas
VIGA
em concreto armado (kN)
NBR 6118 ACI 318 EUROCODE 2
V1-60 158,89 82,95 82,73
V1-80 216,67 95,37 89,97
V1-100 274,45 106,87 103,98
V2-60 201,55 98,59 92,66
V2-80 274,83 113,62 103,98
V2-100 348,12 127,45 124,28
V3-60 227,02 116,24 103,28
V3-80 309,57 134,15 123,03
V3-100 392,12 150,58 147,05
V4-60 250,68 131,55 112,09
V4-80 341,83 151,93 139,51
V4-100 432,99 170,60 166,74
Fonte: Autor (2021)

Tabela 7 - Valores da parcela de contribuição do concreto à resistência ao esforço cortante


para vigas em concreto protendido

Parcela de contribuição do concreto (kN)


VIGA ACI 318 ACI 318 EUROCODE
NBR 6118
APROX DET 2
V1R-60 212,62 290,72 253,95 105,51
V1R-80 294,16 402,53 322,25 113,94
V1R-100 376,04 514,34 394,47 127,68
V1P-60 241,99 177,97 174,91 158,28
V1P-80 327,56 241,52 232,01 173,95
V1P-100 412,23 306,93 284,21 193,94
V2R-60 268,19 347,47 292,08 117,09
V2R-80 371,96 481,12 376,04 130,10
V2R-100 475,99 614,76 463,52 147,31
V2P-60 290,84 212,72 196,57 166,20
V2P-80 397,94 288,67 266,86 189,47
V2P-100 503,90 366,85 330,55 213,09
V3R-60 293,14 411,13 322,60 125,46
V3R-80 406,92 569,26 432,60 145,69
V3R-100 520,91 727,39 537,52 166,99
V3P-60 310,16 251,69 216,43 171,93
91

Continuação da Tabela 7 - Valores da parcela de contribuição do concreto à


resistência ao esforço cortante para vigas em concreto protendido

V3P-80 426,53 341,56 300,84 199,19


V3P-100 541,79 434,06 327,22 226,37
V4R-60 323,33 466,18 346,66 137,95
V4R-80 449,04 645,48 485,01 161,61
V4R-100 574,94 824,79 604,77 186,17
V4P-60 337,23 285,39 238,35 184,22
V4P-80 465,08 387,29 334,93 214,98
V4P-100 591,78 492,18 365,12 245,45
Fonte: Autor (2021)

Por fim, a Tabela 8 a seguir apresenta o valor do efeito da protensão na resistência ao


cisalhamento, obtido a partir da diferença entre o resultado da parcela de contribuição do
concreto à resistência ao esforço cortante para vigas em concreto armado e o resultado para
vigas em concreto protendido, para cada uma das normas.

Tabela 8 – Efeito da protensão na contribuição da resistência ao cisalhamento

Contribuição devido a protensão (kN)


VIGA EUROCODE
NBR 6118 ACI 318 APROX ACI 318 DET
2
V1R-60 53,73 207,76 170,99 22,78
V1R-80 77,48 307,16 226,88 23,97
V1R-100 101,59 407,48 287,60 23,70
V1P-60 83,10 95,02 91,96 75,54
V1P-80 110,89 146,15 136,64 83,97
V1P-100 137,78 200,06 177,34 96,95
V2R-60 66,65 248,88 193,49 24,43
V2R-80 97,12 367,50 262,42 26,12
V2R-100 127,86 487,31 336,08 23,03
V2P-60 89,29 114,12 97,98 73,55
V2P-80 123,10 175,05 153,24 88,47
V2P-100 155,78 239,40 203,10 104,10
V3R-60 66,12 294,90 206,36 22,18
V3R-80 97,35 435,12 298,45 22,66
V3R-100 128,78 576,82 386,95 19,94
V3P-60 83,15 135,45 100,20 68,65
V3P-80 116,96 207,41 166,69 76,16
V3P-100 149,66 283,49 219,71 79,32
V4R-60 72,65 334,64 215,11 25,86
92

Continuação da Tabela 8 – Efeito da protensão na contribuição da resistência ao


cisalhamento
V4R-80 107,21 493,55 333,07 22,11
V4R-100 141,95 654,18 434,17 19,43
V4P-60 86,55 153,84 106,80 72,13
V4P-80 123,25 235,36 182,99 75,48
V4P-100 158,79 321,58 239,82 78,71
Fonte: Autor (2021)

A princípio, no item 4.1, será apresentada uma análise geral do tratamento de cada uma
das normas em estudo a fim de se fazer uma melhor compreensão dos resultados obtidos.
Posteriormente serão apresentadas as análises e comparações dos resultados feitas para cada
variável deste estudo: (a) a altura da viga, (b) a resistência à compressão do concreto, (c) o
traçado do cabo e (d) a quantidade de área de aço.

4.1 – Análise geral comparativa das normas NBR 6118:2014, ACI 318:2019 e Eurocode
2:2004

Os resultados apresentados nas Tabelas 6 e 7, que tratam da parcela de resistência ao


cisalhamento fornecida pelo concreto, para as vigas não protendidas e protendidas,
respectivamente, serão ilustrados graficamente para as vigas do Grupo 1.

Gráfico 1 – Valores da parcela 𝑉 (kN) para vigas do Grupo 1 em concreto armado e em


concreto protendido com traçado reto

Fonte: Autor (2021)


93

Gráfico 2 - Valores da parcela 𝑉 (kN) para vigas do Grupo 1 em concreto armado e em


concreto protendido com traçado poligonal

Fonte: Autor (2021)

Com a visualização desses resultados (que apesar de estarem ilustrados apenas para o
Grupo 1, representa o comportamento dos demais grupos), observou-se para vigas em concreto
armado que:

 NBR 6118:2014 apresentou os maiores valores da parcela de contribuição do concreto


(𝑉 ), na ordem de duas vezes maior, que os valores obtidos a partir das outras normas
(média de 2,3 vezes maiores que os resultados do ACI e 2,5 vezes maiores que os do
EUROCODE 2);
 Os valores de (𝑉 ) obtidos a partir do ACI 318:2019 e do EUROCODE 2:2004 são
inicialmente muito próximos e a diferença vai se acentuando com o aumento da altura
da seção.
No caso das vigas protendidas, observou-se que:
 O ACI 318:3019 apresentou os maiores valores de 𝑉 para as vigas com traçado reto,
enquanto que a NBR 6118:2014 apresentou os maiores valores de 𝑉 para as vigas com
traçado poligonal.
 A NBR 6118:2014 apresentou resultados de 𝑉 cerca de 2,7 vezes maior para as vigas
com traçado reto e cerca de 2 vezes maior para as vigas com o traçado poligonal, quando
comparado com o EUROCODE 2.

Ao se destacar o efeito da protensão, cuja contribuição na parcela de 𝑉 foi apresentada na


Tabela 8, tem-se os seguintes gráficos:
94

Gráfico 3 – Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento para as vigas


do Grupo 1 e traçado reto (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)


Gráfico 4 - Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento para as vigas
do Grupo 2 e traçado reto (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)

Gráfico 5 - Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento para as vigas


do Grupo 3 e traçado reto (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)


95

Gráfico 6 - Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento para as vigas


do Grupo 4 e traçado reto (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)

Gráfico 7 - Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento para as vigas


do Grupo 1 e traçado poligonal (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)

Gráfico 8 - Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento para as vigas


do Grupo 2 e traçado poligonal (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)


96

Gráfico 9 - Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento para as vigas


do Grupo 3 e traçado poligonal (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)

Gráfico 10 - Análise da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento para as


vigas do Grupo 4 e traçado poligonal (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)

Observando os gráficos acima percebe-se que, para todas as vigas analisadas, a


contribuição do efeito da protensão foi considerado com mais intensidade pela norma americana
ACI 318:2019, seguida da norma brasileira NBR 6118:2014 e por fim a norma europeia
EUROCODE 2:2004. Do ACI 318 nota-se também que o método aproximado resulta em
valores maiores de contribuição do que o método detalhado. Para entender melhor esse
comportamento pode-se realizar uma abordagem comparativa das Equações 2.47 a 2.51 já
apresentadas no item 2.3 deste trabalho.

𝑀
𝑉 = 0,6 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑 1+ (2.47)
𝑀 á
97

𝑉 = (0,42 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙ 𝑏 ∙ 𝑑) ∙ 0,75 (2.48)

𝑉 = 0,29 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 + 0,3𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑+ 𝑉 ∙ 0,75 (2.49)

𝑉 ∙𝑀
𝑉 = 0,05 ∙ 𝜆 ∙ 𝑓 ∙𝑏 ∙𝑑+ 𝑉 + ∙ 0,75 (2.50)
𝑀 á

𝑉 = [0,12 ∙ 𝑘 ∙ (100𝜌 ∙ 𝑓 ) + 0,15 ∙ 𝜎 ] ∙ 𝑏 ∙ 𝑑 (2.51)

Onde:
𝑉 expressão da parcela de contribuição do concreto à resistência ao cisalhamento
da norma NBR 6118:2014;
𝑉 expressão da parcela de contribuição do concreto à resistência ao cisalhamento
utilizando o método aproximado da norma ACI 318:2019;
𝑉 expressão da parcela de contribuição do concreto à resistência ao cisalhamento
na alma utilizando o método detalhado da norma ACI 318:2019;
𝑉 expressão da parcela de contribuição do concreto à resistência ao flexo-
cisalhamento utilizando o método detalhado da norma ACI 318:2019;
𝑉 expressão da parcela de contribuição do concreto à resistência ao cisalhamento
da norma EUROCODE 2:2004;

A Equação 2.48 referente ao ACI 318:2019, que trata do método aproximado para
cálculo da parcela 𝑉 , tem como dados de entrada a resistência do concreto, a largura e a altura
útil da seção, se caracterizando como uma equação altamente empírica, pois o fator 0,42,
calibrado através de modelos experimentais, é quem considera o efeito dos mecanismos
complementares do concreto em conjunto com o efeito da protensão. O uso dessa equação
resultou em valores de contribuição do efeito da protensão em média 4,2 vezes maiores que o
da NBR 6118:2014; 1,4 vezes maiores que os resultados do método detalhado do ACI 318:2019
e 17 vezes maiores que o da norma EUROCODE 2:2004, para o caso das vigas com traçado
reto. Se tratando do traçado poligonal, os resultados foram em média 1,5 vezes maiores que o
98

da norma brasileira; 1,2 vezes maiores que o calculado pelo método detalhado da norma
americana e 2,1 vezes maiores que o da norma europeia.
É fundamental destacar que apesar do efeito da protensão ser maior considerado na
norma americana, o valor final da resistência ao cisalhamento fornecida pelo concreto pode não
ser. É o caso, por exemplo, da viga V2R-100, em que, para a NBR 6118:2014, 𝑉 = 476𝑘𝑁 e
para o ACI 318:2019, 𝑉 = 463,5𝑘𝑁, ilustrados no Gráfico 11.

Gráfico 11 - Análise da contribuição do concreto resistência ao cisalhamento para as vigas do


Grupo 2 não protendidas e protendidas com traçado reto (valores em kN)

Fonte: Autor (2021)

Comparando as equações 2.49, 2.50 e 2.51, correspondentes do método detalhado do


ACI 318:2019 e do EUROCODE 2:2004, nota-se que a norma americana considera uma
contribuição de 30% tensão de compressão no concreto, enquanto que o EUROCODE 2:2004
considera apenas 15%. Ou seja, a norma americana considera o dobro de vezes o efeito da
protensão em sua equação quando comparada a norma europeia.

4.2 – Análise de vigas com diferentes alturas

Nesta análise serão comparadas vigas de mesma resistência à compressão do concreto


(𝑓 ) e mesmo traçado dos cabos. A Tabela 9 apresenta o acréscimo percentual de resistência
fornecida pela protensão em vigas com diferentes alturas.
99

Tabela 9 - Análise da variação percentual (%) da parcela de contribuição da protensão entre


vigas de diferentes alturas

ACI 318 ACI 318


COMPARATIVO NBR 6118 EUROCODE 2
APROX DET
V1R-60 V1R-80 44% 48% 33% 5%
V1R-80 V1R-100 31% 33% 27% -1%
V2R-60 V2R-80 46% 48% 36% 7%
V2R-80 V2R-100 32% 33% 28% -12%
V3R-60 V3R-80 47% 48% 45% 2%
V3R-80 V3R-100 32% 33% 30% -12%
V4R-60 V4R-80 48% 47% 55% -15%
V4R-80 V1R-100 32% 33% 30% -12%
V1P-60 V1P-80 33% 54% 49% 11%
V1P-80 V1P-100 24% 37% 30% 15%
V2P-60 V2P-80 38% 53% 56% 20%
V2P-80 V2P-100 27% 37% 33% 18%
V3P-60 V3P-80 41% 53% 66% 11%
V3P-80 V3P-100 28% 37% 32% 4%
V4P-60 V4P-80 42% 53% 71% 5%
V4P-80 V1P-100 29% 37% 31% 4%
Fonte: Autor (2021)

Para todos os grupos, o acréscimo da contribuição da protensão para a viga de altura


60cm para de 80cm foi maior que o da viga de 80cm para a de 100cm. Este fato se deve a
diminuição da área de armadura ativa necessária e consequente diminuição da tensão de
compressão no concreto (menor força de protensão aplicada ao concreto), visto que a inércia
da seção aumentou significativamente enquanto que o carregamento permaneceu praticamente
o mesmo, alterando apenas a parcela devido ao peso próprio.
Ao contrário das normas brasileira e americana, a norma europeia apresentou um
decréscimo de contribuição de resistência devido ao efeito de protensão. Isso não quer dizer
que a contribuição do concreto (parcela 𝑉 ) diminuiu de uma viga para outra. A contribuição da
protensão das vigas com traçado reto resultou menor conforme o aumento da altura devido a
diminuição da tensão de compressão no concreto, como explicado no parágrafo anterior, nas
quais o aumento no valor da altura útil da seção, não foi suficiente para contornar essa perda.
Para esclarecer, toma-se como base a Equação 2.51 deste capítulo, onde se identifica a
contribuição da protensão dada por 0,15𝜎 ∙ 𝑏 ∙ 𝑑. Ou seja, a redução de 𝜎 resultou mais
significativa que o aumento da altura útil 𝑑 . Já se tratando das vigas com traçado poligonal,
passou-se a ter um acréscimo devido a contribuição da força de protensão vertical, que aumenta
100

conforme a inclinação do cabo (maior para as vigas de maior altura), contornando, em partes,
a perda devido a diminuição da tensão de compressão no concreto.
Ressalta-se também que a contribuição da protensão está sendo analisada considerando
vigas não protendidas com altura útil maior que as vigas protendidas, pois este foi um critério
de dimensionamento adotado, usualmente praticado nas construções.
Outra observação a ser evidenciada é a proximidade dos resultados de acréscimo de
resistência com os aumentos das alturas obtidos com a NBR 6118:2014 e com o método
aproximado do ACI 318:2019, em que mesmo apresentando equacionamentos tão distintos
apresentaram comportamento semelhante neste aspecto.

4.3 – Análise de vigas com diferentes resistências a compressão do concreto (𝒇𝒄𝒌 )

Esta análise consiste na verificação da influência da resistência a compressão do


concreto na resistência ao cisalhamento das vigas estudadas. Assim, compara-se vigas de
mesma altura, carregamento, nível de protensão e traçado de cabo, variando apenas o valor de
𝑓 . A Tabela 10 abaixo apresenta os resultados obtidos.

Tabela 10 - Variação percentual (%) da influência do 𝑓 na contribuição da parcela 𝑉 nas


vigas em concreto protendido

NBR ACI 318 ACI 318


COMPARATIVO EUROCODE 2
6118 APROX DET

V1R-60 V2R-60 26% 20% 15% 11%


V2R-60 V3R-60 9% 18% 10% 7%
V3R-60 V4R-60 10% 13% 7% 10%
V1R-60 V4R-60 52% 60% 37% 31%
V1R-80 V2R-80 26% 20% 17% 14%
V2R-80 V3R-80 9% 18% 15% 12%
V3R-80 V4R-80 10% 13% 12% 11%
V1R-80 V4R-80 53% 60% 51% 42%
V1R-100 V2R-100 27% 20% 18% 15%
V2R-100 V3R-100 9% 18% 16% 13%
V3R-100 V4R-100 10% 13% 13% 11%
V1R-100 V4R-100 53% 60% 53% 46%
V1P-60 V2P-60 20% 20% 12% 5%
V2P-60 V3P-60 7% 18% 10% 3%
V3P-60 V4P-60 9% 13% 10% 7%
V1P-60 V4P-60 28% 38% 27% 14%
V1P-80 V2P-80 21% 20% 15% 9%
101

Continuação da Tabela 10 - Variação percentual (%) da influência do 𝑓 na


contribuição da parcela 𝑉 nas vigas em concreto protendido

V2P-80 V3P-80 7% 18% 13% 5%


V3P-80 V4P-80 9% 13% 11% 8%
V1P-80 V4P-80 30% 38% 31% 19%
V1P-100 V2P-100 22% 20% 16% 10%
V2P-100 V3P-100 8% 18% 12% 6%
V3P-100 V4P-100 9% 13% 11% 8%
V1P-100 V4P-100 30% 38% 31% 21%
Fonte: Autor (2021)

O primeiro aspecto a ser observado é a diferença do acréscimo de resistência ao


cisalhamento entre as vigas dos Grupos 1 e 2, e 2 e 3. Para a NBR 6118:2014, os grupos 1 e 2
caracterizam-se pela resistência menor ou igual a 50 MPa, ou seja, pertencem aos concretos do
Grupo I de resistência (classificação normativa), enquanto dos grupos 3 e 4 fazem parte do
Grupo II (C55 a C90). Ainda de acordo com esta norma, a resistência do concreto ao
cisalhamento depende da resistência do concreto à tração direta (𝑓 ), que para concretos do
grupo I apresenta uma formulação e para concretos do grupo II, outra, que conduz a resultados
de valor menor quando comparado ao uso da equação anterior. Essa ocorrência pode estar
associada ao fato de que os concretos com 𝑓 superiores a 50MPa (Grupo II) apresentarem
uma superfície de ruptura lisa e quase plana fazendo com que ocorra a diminuição do atrito
entre as superfícies das fissuras que, de acordo com os estudos de mecanismos complementares
à treliça, contribui para a resistência ao cisalhamento da peça. Dessa maneira, para o traçado
reto, entre as vigas dos grupos 1 e 2 nota-se um acréscimo significativo de resistência devido
ao aumento do 𝑓 , na ordem de 27%. Já entre as vigas dos grupos 2 e 3, esse acréscimo assume
um valor na ordem de 9%. Quando avaliado os grupos 3 e 4, o acréscimo volta a aumentar pois
estes dois grupos utilizam as mesmas formulações de cálculo, mas chega a atingir um acréscimo
apenas na ordem de 10%.
Diferente da norma brasileira, as normas americana e europeia não consideram
diretamente uma redução na resistência nas propriedades do concreto para aqueles de maiores
resistência. Ainda assim, o acréscimo de resistência ao cisalhamento foi diminuindo conforme
aumentava o 𝑓 . Este fato se deve a diminuição da tensão de compressão no concreto, pois
uma menor quantidade de armadura era necessária à medida que se utilizava um concreto mais
resistente, podendo ser observado também a partir da Tabela 11, que apresenta a influência do
𝑓 diretamente na parcela de contribuição a resistência ao cisalhamento devido ao efeito da
protensão.
102

Tabela 11 – Variação percentual (%) da influência do 𝑓 na contribuição da protensão nas


vigas

ACI 318
COMPARATIVO NBR 6118 ACI 318 DET EUROCODE 2
APROX

V1R-60 V2R-60 24% 20% 13% 7%


V2R-60 V3R-60 -1% 18% 7% -9%
V3R-60 V4R-60 10% 13% 4% 17%
V1R-60 V4R-60 35% 61% 26% 14%
V1R-80 V2R-80 25% 20% 16% 9%
V2R-80 V3R-80 0% 18% 14% -13%
V3R-80 V4R-80 10% 13% 12% -2%
V1R-80 V4R-80 38% 61% 47% -8%
V1R-100 V2R-100 26% 20% 17% -3%
V2R-100 V3R-100 1% 18% 15% -13%
V3R-100 V4R-100 10% 13% 12% -3%
V1R-100 V4R-100 40% 61% 51% -18%
V1P-60 V2P-60 7% 20% 7% -3%
V2P-60 V3P-60 -7% 19% 2% -7%
V3P-60 V4P-60 4% 14% 7% 5%
V1P-60 V4P-60 4% 38% 14% -5%
V1P-80 V2P-80 11% 20% 12% 5%
V2P-80 V3P-80 -5% 18% 9% -14%
V3P-80 V4P-80 5% 13% 10% -1%
V1P-80 V4P-80 10% 38% 25% -11%
V1P-100 V2P-100 13% 20% 15% 7%
V2P-100 V3P-100 -4% 18% 8% -24%
V3P-100 V4P-100 6% 13% 9% -1%
V1P-100 V4P-100 13% 38% 26% -23%
Fonte: Autor (2021)

4.4 – Análise da contribuição do efeito da protensão em relação à força cortante


solicitante característica das vigas

Os gráficos 12 e 13 mostram a relação entre a resistência fornecida pelo efeito da


protensão e a força cortante solicitante para vigas do Grupo 1 com traçado reto e poligonal,
respectivamente.
103

Gráfico 12 – Porcentagem de contribuição da parcela de resistência devido a protensão em


relação a 𝑉 para as vigas do Grupo 1 e traçado reto

Fonte: Autor (2021)


Gráfico 13 - Porcentagem de contribuição da parcela devido a protensão em relação a 𝑉
para as vigas do Grupo 1 e traçado poligonal

Fonte: Autor (2021)

Verifica-se que em todos os casos do traçado poligonal, o efeito exclusivo da protensão


já fornece uma resistência a força cortante muito superior à que atua na peça. No caso do traçado
reto a norma europeia é que a menos considera esse efeito, pois grande parte de sua
consideração está na parcela vertical da força de protensão. Apesar das vigas estudadas
apresentarem baixo nível de carregamento, fica claro a contribuição da protensão no combate
aos esforços cortante quando só a parcela referente ao ato de protender já é capaz de resistir a
estas solicitações. Os Grupos 2, 3 e 4 não serão apresentados, no entanto, indicam valores ainda
maiores de tal contribuição.
104

4.5 – Comparação dos resultados para vigas de diferentes traçados

As diferenças entre a contribuição da protensão no traçado reto e poligonal podem ser


visualizadas através dos gráficos abaixo, que apresentam os resultados dessa contribuição
segundo os critérios de cada uma das normas estudadas.

Gráfico 14 - Valores da parcela de contribuição da protensão para as vigas de traçado reto e


poligonal segundo a NBR 6118:2014

Fonte: Autor (2021)

Como demonstra o Gráfico 14, para a NBR 6118:2014 a contribuição ao cisalhamento


das vigas com traçado poligonal resultaram maior que do traçado reto em todos os casos. Isso
ocorre devido a consideração da componente vertical da força de protensão, contrária a
componente do esforço cortante solicitante.
105

Gráfico 15 - Valores da parcela de contribuição da protensão para as vigas de traçado reto e


poligonal segundo o método aproximado do ACI 318:2019

Fonte: Autor (2021)

Gráfico 16 - Valores da parcela de contribuição da protensão para as vigas de traçado reto e


poligonal segundo o método detalhado do ACI 318:2019

Fonte: Autor (2021)

O dimensionamento segundo as prescrições americanas orienta a utilização do menor


valor dentre os obtidos através das várias equações fornecidas. Esta orientação conduziu a uma
menor contribuição nas vigas de traçado poligonal, pois na maioria dos casos devia-se adotar a
equação que não considera a componente vertical da força de protensão e, ainda, a
excentricidade dos cabos na seção considerada era menor que no caso das vigas de traçado reto.
106

Gráfico 17 - Valores da parcela de contribuição da protensão para as vigas de traçado reto e


poligonal segundo o EUROCODE 2:2004

Fonte: Autor (2021)

A norma europeia, assim como a norma brasileira, permite considerar a parcela referente
a componente vertical da força de protensão, e esta, como ilustrado no Gráfico 17, tem grande
influência na resistência ao cisalhamento do elemento estrutural.

4.6 – Comparação dos resultados para vigas de diferentes áreas de aço

A última análise consiste em aumentar em 20% a área de armadura longitudinal ativa e


verificar sua influência no resultado da contribuição da protensão na resistência ao cisalhamento
das vigas. A Tabela 12 apresenta os resultados deste aumento:

Tabela 12 - Acréscimo percentual de contribuição da protensão devido ao aumento da área de


aço de armadura ativa

ACI 318
VIGA NBR 6118 ACI 318 DET EUROCODE
APROX
V1R-60 23,23% 0,00% 6,27% 40,35%
V1R-80 22,24% 0,00% 3,91% 32,09%
V1R-100 21,71% 0,00% 2,73% 22,12%
V1P-60 22,09% 0,00% 12,72% 26,14%
V1P-80 21,56% 0,00% 8,42% 21,33%
V1P-100 21,26% 0,00% 6,28% 19,08%
V2R-60 23,30% 0,00% 5,44% 37,22%
V2R-80 22,26% 0,00% 3,34% 26,82%
V2R-100 21,72% 0,00% 2,32% 22,61%
V2P-60 22,46% 0,00% 11,70% 25,35%
V2P-80 21,79% 0,00% 7,51% 20,03%
V2P-100 21,41% 0,00% 5,49% 17,64%
V3R-60 23,75% 0,00% 8,45% 28,18%
107

Continuação da Tabela 12 - Acréscimo percentual de contribuição da protensão


devido ao aumento da área de aço de armadura ativa

V3R-80 22,54% 0,00% 2,63% 23,24%


V3R-100 21,92% 0,00% 1,79% 23,57%
V3P-60 22,98% 0,00% 10,08% 22,64%
V3P-80 22,12% 0,00% 6,21% 34,46%
V3P-100 21,65% 0,00% 6,30% 52,79%
V4R-60 23,76% 0,00% 12,68% 24,07%
V4R-80 22,55% 0,00% 2,43% 23,77%
V4R-100 21,93% 0,00% 1,59% 24,15%
V4P-60 23,16% 0,00% 9,44% 21,46%
V4P-80 22,22% 0,00% 5,82% 43,69%
V4P-100 21,72% 0,00% 5,77% 64,80%
Fonte: Autor (2021)

O acréscimo de 20% na área de aço fez com que a parcela da contribuição da protensão
aumentasse em média 22% para a NBR 6118:2014, 0,00% para o método aproximado do ACI
318:2019 6,22 % para o ACI 318:2019 (método detalhado) e 29,1% para o EUROCODE
2:2004. Estes resultados demonstram que a norma americana considera pouco ou nem
considera, no caso do método aproximado, a área de aço em seu processo de cálculo, enquanto
que as normas brasileira e europeia consideram de modo relevante essa influência.
108

5 – CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

5.1 Conclusão

Neste trabalho foi investigado o comportamento da influência da protensão na


resistência ao cisalhamento de vigas de diferentes características de seção, resistência a
compressão do concreto, traçado de cabos e área de aço, sob uma perspectiva de
dimensionamento, comparando os procedimentos de cálculo das normas NBR 6118:2014, ACI
318:2019 e EUROCODE 2:2004.
Os resultados mostraram que a mais atual das normas, a ACI 318:2019, é a que
considera com maior intensidade o efeito da protensão na resistência ao esforço cortante. Com
o traçado reto os valores foram em torno de 3 vezes maiores que a norma brasileira, contra cerca
de 1,3 vezes para as vigas com traçado poligonal (considerando o método detalhado). Quanto
a norma europeia, esses valores apresentaram variações distintas conforme a altura da seção. A
parcela de contribuição da componente vertical da força de protensão é muitas vezes desprezada
no cálculo devido às suas recomendações de adotar o menor valor entre os calculados.
Apesar de considerar mais o efeito da protensão, o valor final da parcela referente à
resistência do concreto ao cisalhamento (parcela de força cortante absorvida por mecanismos
complementares ao da treliça) pode ser menor quando comparado a NBR 6118:2014, sendo,
inclusive, sempre menor para o caso dos cabos com traçado poligonal. Aqui, ressalta-se que, se
tratando de vigas em concreto armado, a NBR 6118:2014 apresentou os maiores valores da
parcela de contribuição do concreto (𝑽𝒄 ), na ordem de duas vezes maior que os valores obtidos
através das outras normas e que os valores para o ACI 318:2019 e EUROCODE 2:2004 são
inicialmente muito próximos, se diferenciando à medida que aumenta a altura da seção.
O aumento da altura da seção e consequentemente da sua área e inércia, para o mesmo
carregamento externo, resultou em uma menor tensão de compressão no concreto (menor força
de protensão aplicada devido a diminuição da quantidade de armadura ativa necessária),
fazendo com que o acréscimo de contribuição da protensão na parcela 𝑽𝒄 diminuísse conforme
esse aumento. Essa diferença de tensão é mais significativa para o EUROCODE 2, que chegou
a ter uma diminuição de até 15% de contribuição da protensão entre as vigas de 60cm e 80cm.
Esta análise também permitiu perceber que a proximidade dos resultados de acréscimo de
resistência com o aumento das alturas obtidos com a NBR 6118:2014 e com o método
aproximado do ACI 318:2019, o qual se utiliza uma equação com alto grau de experimentação.
Esse fato pode ser interpretado como uma semelhança positiva entre as normas, propiciando
109

ainda mais confiabilidade dos resultados.


Quando à influência da quantidade de área de aço, os resultados para o aumento de 20%
nessa área foram de um acréscimo na parcela da contribuição da protensão na ordem de 22%
para a NBR 6118:2014, 6,22 % para o ACI 318:2019 e 29,1% para o EUROCODE 2:2004
demonstrando que a norma americana considera pouco ou nem considera, no caso do método
aproximado, a área de aço em seu processo de cálculo, enquanto que as normas brasileira e
europeia consideram de modo relevante essa influência.
Com a elaboração deste trabalho, foram alcançados os objetivos propostos, contribuindo
com os estudos sobre a influência da protensão na resistência ao cisalhamento de vigas, que
conta com uma pouca quantidade de pesquisas nacionais publicadas.

5.2 Sugestões para trabalhos futuros

Diante do que foi estudado e visando uma maior abrangência dos conhecimentos sobre
o tema, são feitas a seguintes sugestões para trabalhos futuros:

 Fazer um estudo mais aprofundado a respeito das equações de dimensionamento das


normas, principalmente da ACI 318:2019, a fim de compreender como foram definidos
os coeficientes nelas presentes e quais as considerações de mecanismos complementares
foram feitas.
 Fazer ensaios experimentais em vigas protendidas com objetivo de avaliar a influência
dos parâmetros de projeto tais como: traçado dos cabos, taxas de armadura, etc., no
aumento da resistência ao cisalhamento.
 Realizar uma modelagem computacional em vigas protendidas, de modo a possibilitar
um estudo mais refinado acerca dos parâmetros supracitados e suas influências no
comportamento das tensões de tração e compressão na região de cisalhamento.
110

6 – REFERÊNCIAS

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19); and Commentary (ACI 318R-19). Farmington Hills: American Concrete Institute, 2019.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de


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CARVALHO, R, C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. Cálculo e detalhamento de estruturas


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