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‘oordenadores Paige Goncalves Silva José Rodrigo Rodriguez oGto Manual 0& Turi 2013 CB Sireive Roo Hemique Schourann, 270, Cui César — Séo Paulo — SP cer 05413 909 #88X: (11) 3613 3000 SACI: 0800 055 7688 De 206 dos 8:30 ds 19:30 sorivajur@editorosoaiva.com.br ‘cess: wor sorivjutcom br UALS AVATONAS/RONDONIA/RORAIA/ACRE ua Coste Azevedo, $6— Corto Fen: (92) 3633427 ~ Fa: (92) 36334782 — Mancas BAHIASERGIPE a in De, 3 ~ Bots Foo: (71) 338-5854 / 33815895 Fo (71) 3381-0959 ~Sohada BaURU (SHO PaO} Ros Mase Cao, 255/257 ~ Cento Fone: (14) 32345643 ~ Fo (14) 32347401 ~ Ba ‘ceani/rul/maRanlo ‘flonan Gomes, 670 loorecanga one (85) 32382323 / 37381384 Fox (65) 3238-1331 ~ Foren DISTRITO FEDERAL SW/SUL ech 2 toe 850 ~ Seer dns Absteceto Fone: (61) 33442920 / 33442951 Fo (6) 33441709 — sta ous rocanms ‘den, 5330 ~ Seto Argo Fone: (62) 3225 2882 / 32122806 Fax (62) 32242016 ~ Goa ‘NATO GROSSO D0 SUL/HATO GROSSO Rar 14 de ub, 3148 Certo Fev: (7) 3382687 — Fox: (47) 33820112 Compo Gede MAS GERAIS Fo Am un, 449 Lona Fore: (31) 34294300 ~Fox (31) 34298310 ~ Bb Hare PARA/AMAPA Tove, 186 ~ Best Compas Fo: (1) 32229034 / 32249038 x (90) 3241049 ~ Bale PARANA/SANTA CATARINA Tho Cowen and, 2895 — a elo eve fo (41) 33324894 ~ Cut PERNAMBUCO/PARAIBAR. 6 DO NORTE/ALAGDAS Fa area do Bo, 185— Bo Visto Fone: (81) 34214246 ~ Far (Bl) 3421-4510 —Rcle NERAO PRETO (Sh PAULO) ‘Foc qe, 1255 ~ Cato Fone: (16) 36105843 Fax (16) 36108784 ~ Ria Pto 10 DE JANEO/ASPiarO SANTO Aur Vscnde de Sots tel 1130119 ~ Via be Faw: (21) 2577-9494 — fax: (21) 2577-8067 / 25779565 — Ra de ro iO GRANDE D0 Sut cA Ree, 231 —Faops Fone /Fx: (51) 33714001 / 371-1487 / 337-1567 — Pato Aege sio eawto ‘fai, 92 ~ Bara Fado For: PBK (11) 36163666 ~ So Po Ta oT ISBN 978-85-02-19711-4 Dados Internaconas de Catlogaréo no Publcacéo (CIP) (Cémara Brosileia do Lio, SP, Brasil Indices para catélogo sistemético: 1. Sociologia dodiceito 34.301 2. Sociologia juridica 34.301 Diretr edi Lue Roberto Cia Geant de prod edtral Ui Aes Asistenle etre Bana argrta Dorota rodutra eda liso Bosch Maa Arte, diogramarao e revisio Knowhow Edita! Services edtrais Conia Lowcio Mase Ceca Coin ors Copa 10EE arte @ comnicosdo Produc gréca Nat Rang Inprssio. lye ‘Acabamento Elle 2013 Dividas? ‘Acesse www.saraivajur.com.br Nenhuma parte desta publicagéo poderd ser reproduzida por qualquer meio on forma sem a prévia autorizagao da Baitors Saraiva A violacio dos direitos autorais € crime estabelecido na Lei n, 9.610/98 e ponido pelo artigo 184 do Cédigo Penal Introdugio... 2 Sumario PARTE I - 0 Direito na Teoria Social Critica da Ideologia e Emancipacao: Marx, 0 direito ea democracia. Rarion Melo Sociologia e Direito na Teoria Durkheimiana.... Raquel Weiss Formalismo como Conceito Sociolégico: uma introducao ao conceito weberiano de direito... Samuel Rodrigues Barbosa Franz L. Neumann: direito e luta de classes. José Rodrigo Rodriguez e Flavio Marques Prol 13 19 51 61 ELD Manual de Sociotogia Juridica 5 10 i 12 13 4 Consideragées sobre 0 Direito na Sociologia de Pierre Bourdieu ... 9 ‘Ana Carolina Chasin Michel Foucault: 0 direito nos jogos entre a lei e a norma.. 93 Marcio Alves da Fonseca 0 Direito na Sociologia de Niklas Luhmann. ul Guilherme Leite Gongalves e Joao Paulo Bachur Habermas e Ambiguidade do Direito Moderno... 133 Felipe Gongalves Silva PARTE II - Direito, Sociedade e Estado: temas atuais Pluralismo Juridico: principais ideias e desafios... 157 Marcus Faro de Castro ‘Transformacées da Cidadania e Estado de Direito no Brasil...... 179 Raphael Neves Reforma do Judicidrio: entre legitimidade e eficiéncia. 197 Jacqueline Sinhoretto e Frederico de Almeida Acesso a Justica: a construgao de um problema em mutagao. 219 Carmen Silvia Fullin Movimentos Sociais e Direito: o Poder Judiciario em disputa Evorah Lusci Cardoso e Fabiola Fanti 255 Como Decidem os Juizes? sobre a qualidade da jurisdicao brasileira José Rodrigo Rodriguez e Carolina Cutrupi Ferreira 15 16 7 18 19 ‘Sumario Desempenho Judicial, o quanto a Sociedade Confia e como Avalia 0 Poder Judici nas instituigées .. rio Brasileiro: importancia das medidas de confianga Luciana Gross Cunha e Fabiana Luci de Oliveira Internacionalizacao da Advocacia e 0 Perfil da Profissao no Brasil. Maria da Gloria Bonelli Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil Renato Sérgio de Lima e Liana de Paula O Direito Penal é Capaz de Conter a Violéncia? Marta Rodriguez de Assis Machado e Maira Rocha Machado Direito, Diferengas e Desigualdades: género, gerago, classe e raga Marcella Beraldo de Oliveira e Daniela Feriani 269 289 309 327 351 Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil Renato Sérgio de Lima Liana de Paula A violéncia é um problema social que. tem preocupado a sociedade brasileira, Di- ferentes pesquisas de opiniao tém indicado que, com o declinio das taxas de desempre- g0 nos anos 2000, a violéncia (associada aos temas da criminalidade e da seguranga pii- blica) passou a ocupar um lugar de destaque entre os principais problemas apontados pe- Jos brasileiros, ficando atras apenas da sati- de!, Em certo sentido, essa preocupagao re- Ver La seguridad ciudadana, ef problema principal de Amé- sca Latina, levantamento realizado pela Cosporacisn Lati- obar6metro publicado em maio de 2012, Disponivel em: . Acesso em: 14 ago. 2012, Ver também pesquisa de avaliagZo do governo Dilma, relizada pelo IBOPE em de- zemmbro de 2011 (Disponive! em: , Acesso em: 14 ago. 2012), € de avalia- (odo governo Lula, realizada pela Datafolha em janeiro de 2010 (Disponivel em: . Acesso em: 14 ag0, 2012). 0 Manual de Sociologia Juridica homicidios por 100 mil habitantes. Assim, embora se possa dizer que tenha havido uma reducao em 2010, comparativamente ao pico atingido em 2003, as taxas de homi- cidios regisiradas no final dos anos 2000 permaneceram muito altas, principalmente se comparadas ao inicio da década de 1980. De igual modo, dados disponiveis nos Anuérios do Férum Brasileiro de Seguran- ¢a Publica, indicam que, em paralelo a ma- nutengao de patamares elevados de hom cfdios, o Brasil gasta cerca de 1,4% do seu PIB com seguranga publica e ainda assim paga mal aos seus policiais, mantém estru- turas duplicadas, convive com padroes operacionais permissivos com incidéncia de altas taxas de letalidade da agao poli- cial, entre outros exemplos da faléncia do modelo de organizacao do Estado para fa- zer frente a violéncia e prover servigos direitos. Até por essa realidade, a preocu- pacdo com a violéncia também reflete a existéncia de um imaginario sobre a vio- s de léncia, alimentado_ pelas sensaci medo e ins eguranca experimentadas pela populagao Diante de tal contexto, este capitulo propée apresentar um olhar sociolgico sobre as formas como a violéncia vem sen- do apropriada enquanto problema social pelo Estado e enquanto fendmeno pelas ciéncias sociais no Brasil. Para tanto, a discussao esta dividida em trés momentos. O primeiro dedica-se & construgao da vio- Iéncia ¢ do Estado enquanto objetos de es- tudo sociolégico, procurando estabelecer a divisdo entre o saber cientifico e outras formas de saber. O segundo foca a apro- priacdo do conceito de violéncia pelo Esta- do brasileiro, principalmente com a rede- mocratizacao a partir da década de 1980. Enfim, 0 tereeiro momento estabelece a relagao entre esse contexto de apropria- Gao do conceito de violéncia pelo Estado e a emergéncia do campo de estudos socio- logicos sobre violéncia no Brasil. 17.1. Violéncia e Estado enquanto objetos de estudo sociolégico O primeiro desafio que se coloca a re- flexdo sociolégica sobre a violéncia refere- -se & sua construgéio enquanto objeto de estudo, o que implica sua conceituagao teé- rica. Diferentemente de outros conceitos teéricos — tais como individualize cializagao e identidade -, que sao catego- rias analiticas criadas pela teoria sociols- gica para descrever e explicar fendmenos da vida social, 0 conceito de violéncia nao 6 originado no campo te6rico, Nesse senti- do, como salienta Maria Stella Grossi Por- to, a violéncia 6 “um fendmeno empfrico antes do que um conceito tedrico” (POR- TO, 2010, p. 17) Como indica Porto (2010), 0 ponto de partida para a construgao da violéncia en- quanto conceito teérico é a divisio do fe- Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil Ei nomeno em diferentes tipos, a saber, a vio~ léncia fisica ¢ a violéncia simbdlica. Essa tipologia considera que a violéncia nao se refere apenas a danos fisicos causados a alguém, mas também se manifesta na di- mensio simbélica, por meio de constran- gimentos e danos morais (PORTO, 2010 e CARDOSO DE OLIVEIRA, 2008). Ade- mais, embora a violéncia fisica seja comu- mente acompanhada de violéncia simb6li- ca, 6 possivel a ocorréncia dessa ultima sem que haja danos fisicos. Além da subdivisao do fenomeno em violéncia fisica e simbdlica, dev e con- siderar também “as formas ou os sentidos que a violéncia assume em seu processo de coneretizagao” (PORTO, 2010, p. 21) Sao diversas as formas assumidas pela violencia, podendo ser mencionadas, den- tre outras, a violéncia como forma de do- minagao, de sobrevivéncia, de afirmagao da ordem institucional-legal, de contesta- cdo dessa ordem, de manifestagao da nao cidadania, de violéncia criminal e de ma- nifestagao da inseguranga e do medo (PORTO, 2010). As formas e os sentidos que a violén- cia assume na realidade empfrica indicam seu cardter instrumental, podendo ser so- ciologicamente entendida como um ins- trumento pelo qual se manifestam dife- rentes conflitos da vida social. Nesse sentido, uma das abordagens classicas da violéncia aproxima-a da nogao de conflito, a qual pressupée a existéncia de um siste- ma de atores cujas relagdes sociais sio conflitivas (WIEVIORKA, 1997; MICHAUD, 1989). A violencia se inscreve nessas rela des de forma instrumental, podendo “ser utilizada por um ator para tentar pene- trar o interior de um sistema de relacoes institucionalizadas" (WIEVIORKA, 1997, p. 12). Pensar a instrumentalidade da vio léncia implica considerd-la parte inte- grante dos calculos e estratégias dos ato- res em conflito, isto 6, pressupde uma racionalidade instrumental na qual a vio- Iéncia seria um meio para atingir deter- minado fim. Nesse sentido, Max Weber (1999) chama a atengao para a apropria- cdo da violéncia como instrumento espe- cifico do Estado, passando este a estabe- lecer as situag6es nas quais 0 recurso 2 violéncia pode ser reconhecido como tole- ravel. Segundo Weber, embora diversos agrupamentos politicos que antecederam © Estado moderno tenham recorrido a violéncia fisica como instrumento normal de poder, ele € definido, especificamente, como “uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado terri- trio — [...] — reivindica 0 monopélio do uso legitimo da violéncia fisica” (WE- BER, 1999, p. 56, grifo original). Dito de outro modo, o Estado consis- te, para o autor, em uma relagao de domi- nag&o baseada no “instrumento da violén- 312 Manual de Sociologia Juridica cia legitima” (WEBER, 1999, p. 57), 0 que coloca a questao dos fundamentos sobre. os quais a legitimidade dessa dominacao estaria assentada. Entendendo a domina- 40 como a probabilidade de encontrar obe- diéncia a uma determinada ordem, Weber (1995) aponta como trés as bases de sua le- gitimidade. A primeira delas é a crenga na santidade dos costumes, validados por sua existéncia imemorial e pelo hébito, tratan- do-se, nesse caso, da dominagao de tipo tradicional, O segundo tipo é a dominagao 4 funda- carismatica, cuja legitimidade da na devocao e na confianga depositadas em um individuo pelos seus dons pessoais e extraordinérios, seu herofsmo ou por ou- tas qualidades sobrenaturais atribuidas a ele — em uma palavra, seu carisma. Enfim, a dominacao legal esta baseada na enca, na validade de um estatuto legal, ou seja, sua legitimidade é conferida pelo estabele- cimento de normas formalmente abstratas. Essa tiltima 6 a dominagao que correspon- de a estrutura moderna do Estado’ e, por conseguinte, a violéncia enquanto instru- mento do Estado é legitima na medida em. que as normas abstratas que a regulamen- tam s&o reconhecidas como vilidas. O estabelecimento dessas_normas nao elimina, contudo, 0 risco de que a vio- Jéncia venha a suplantar os fins para os * Deve-se ressaltar ue a dominagao legal nao éexclusiva no Estado modemo, podendo haver também a ocorréncia dos ‘ultos tipos de dominacao. Ver Weber, 1995, quais ela serve de instrumento. Isso por- que 0 equilibrio entre violéncia ¢ domina- cdo legitima é ténue. Enquanto a domina- cao pressupde a existéncia de relagdes sociais que a legitimem — e que podem ser institucionalizadas, como 6 0 caso do Es- tado moderno -, a violéncia enquanto ins- trumento nao depende de relagées sociais, mas de implementos, ferramentas, artefa- tos humanos. Ao tratar da relacao entre violéncia e poder, Hannah Arendt (1994) salienta que o poder corresponde a habilidade hu- mana para agir em concerto e, por isso, “nunca 6 propriedade de um individuo; pertence a um grupo e permanece em existéncia apenas na medida em que o grupo (ARENDT, 1994, p. 36). O poder, definido dessa for- ma, pressupée a existéncia de uma comu- conserva-se unido” nidade politi , a qual Ihe confere legiti- midade. Jé a violéncia é um instrumento e, como tal, depende de orientagao e jus- tificagdo para o fim que almeja. Para Arendt (1994), a violencia pode ser justi- ficdvel, mas nao legitima, Embora os fendmenos da violencia e do poder aparecam usualmente juntos, a diminuicao do poder faz com que ele deixe de escorar ou restringir a violéncia, acar- retando 0 risco da inversio do célculo en- tre meio ¢ fim (ARENDT, 1994), A violén cia, quando nao restringida pelo poder, pode destr f-lo, pois: Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil 313 “A propria substancia da agdo violenta é re- gida pela categoria meio-fim, cuja principal caracteristica, quando aplicada aos negécios humanos, fol sempre a de que o fim corre o perigo de ser suplantado pelos meios que ele justifica e que sao necessarios para alcanga- -lo" (ARENDT, 1994, p. 14) Segundo Arendt (1994), devido a seu cardter instrumental, a violéncia tem um potencial desagregador, de destruigéo do poder. Se, por um lado, nao € possivel pen- sar em poder sem violéncia, uma vez que 0 poder coloca o problema da dominagao; por outro, a violéncia é justificavel até cer- to limite, a partir do qual cla ameaga rom- per a legitimidade do poder. Além disso, mesmo considerada como um meio que integra uma racionalidade instrumental, a violéncia tem uma dimen- sao irracional ou expressiva que escapa a essa racionalidade. Dessa forma, outra abordagem sociol6gica possivel da violéncia a define por sua expressividade, isto 6, entende-a como expressao de crise nas re- lagdes sociais. Incorporada a nogao de cri- se, a violencia é interpretada como um ma- nifesto patolégico do sistema social, traduzindo um déficit na integragao dos atores ao sistema ou nas relag6es entre eles. A violéncia funcionaria, assim, de ma- neira expressiva e manifestaria uma dis- fungdo da vida social (WIEVIORKA, 1997). Se a tipificagao da violéncia como fi- sica e simbdlica permanece atual, a defini- ntidos a partir de ao de suas formas e sua instrumentalidade ou expressividade nao parecem ser suficientes para explicar a violéncia contemporanea. Isso porque, como salienta Michel Wieviorka (1997), as nogées de conflito e de crise perderam sua forga explicativa face As novas formas as- sumidas pelo fendmeno da violéncia em suas manifestagdes contemporaneas’. Ha, por exemplo, manifestagdes da violéncia como um fim em si mesmo, uma violéncia hidica, ou como pura afirmagao do sujei to, Ha também, para alguns estudiosos, a emergéncia de uma cultura da violéncia, na qual os atos violentos seriam valoriza- dos por alguns grupos sociais e conferi- riam prestigio aos membros do grupo que os pratiquem (SPAGNOL, 2005) Para refletir sobre as condigdes ge- rais que produzem uma mudanca de para- digma da violéncia, Wieviorka (1997) pro- poe a andlise em quatro niveis: do sistema internacional, dos Estados nagdo, das s0- ciedades e dos individuos. No nivel do sistema internacional, as duas principais mudangas ocorridas, a partir dos anos 1980, foram o fim da Guer- ra Fria e a acentuagaio do proceso de mundializagéo da economia. O fim da Guerra Fria produziu efeitos consideraveis 3 Vale consieray, portant, que novas manitestagbes de vio- lencia também colocam em xeque o modelo penal como {forma privilegiada de administragdo de contitos nas socie~ fades ocidentas EE] Manual de Sociologia Juridica aexpressividade da violéncia, uma vez que marcou 0 término da ordem nuclear e 0 surgimento de uma nova era das armas nucleares, tornando-as simbolo de crise, desestabilizagao e terrorismo. Jéa acentua- cao do processo de mundializagao da eco nomia, que envolve 0 cimento da in- terdependéncia das economias nacionais, produz como efeito 0 aumento da desi- gualdade e da exclusao, além de alimentar a fragmentacao social e cultural, o que es- timula processos reativos de retraimento identitdrio e, com isso, as violéncias racis- tas ou xenofobicas No nivel dos Estados-nacdo, ainda de acordo com Wieviorka (1997), a principal mudanga a ser ressaltada 6 o enfraqueci- mento do Estado, em decorréneia, ao me nos em parte, do processo de mundializa- cao. Com esse processo, os Ustados veem, reduzida sua ¢ pacidade de controlar a economia, uma vez que os fluxos, as deci sOes e a circulagdo de pessoas, capital e informagao se dio em escala mundial, e: trapolando os limites de seu territério* Além disso, ha a perda do monopélio do uso legitimo da violéncia, seja pela privati- +. Mpior exemplo desse quadro, a ctise mundial de 2008 e seus reflexos alvais, na Eutopa (Grécia, Espanha, Ilia, Portugal, ent outros), nos EUA eaté mesmona China eno Basil, mostram o quo complexa éa regulagdo de merca- dos num cendrio de alta volatiidade de capitals e #enues Fronteras teritoriais. Os confronts entre movimentos do tipo “Occupy Wall Steet” e programas de redugao dréstica de deficits pablicas, muitos dos quais com interveni8ncia de forgas polciais, antagonizam duas formas de se pensar 0 Estado conternporgneo zagao desse uso com a expansio do mer- cado de seguranga privada, seja pelo uso ilegitimo pelo préprio Estado, exemplifica- do pela tortura e pela violéncia policial e militar. No nivel das sociedades, hé um esgo- tamento das relagées sociais préprias da industria classica e, com isso, 0 conflito entre capital ¢ trabalho perde sua centrali- dade. Contudo, para Wieviorka (1997), ‘4 uma relacao direta entre as mudan- ndo ¢as sociais decorrentes desse esgotamen- to —notadamente o desemprego e a pobre- za — e a violéncia, sendo esta ocasionada por outros fatores. E, enfim, no nivel individual, Wie- viorka (1997) destaca o aprofundamento do individualismo na contemporaneidade, que s e manifesta tanto pelo anseio do indi- viduo em participar da modernidade e do que ela oferece, especialmente em relacao ao consumo de massa quanto pela expecta- tiva de ser reconhecido como sujeito, po- dendo efetuar escolhas ¢ produzir sua iden- tidade. Ambas as faces do individualismo mantém uma forte relagao com a violéncia. Por um lado, 0 individuo pode tornar-se ator de violéncias instrumentais que visam, justamente, assegurar os ganhos econdmi- cos que 0 mantém ou o tornam um consu- midor. Por outro, o nao reconhecimento ou a interdig&o do individuo em se tornar su- jeito podem levar a manifestacdes explosi- vas ou lidic s da violéncia, sendo que ela Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil pode ser entendida tanto como a busca de sentido, um “esforgo para produzir por meios prdprios aquilo que antes Ihe era dado pela cultura ou pelas instituigées” (WIEVIORKA, 1997, p. 23), quanto como um apelo a subjetividade impossivel. As andlises acima apontam, em seus diferentes niveis, que o desregulamento das relagdes sociais nao se faz acompa- nhar de um novo regulamento, mas indi- caamutagao ¢ possivel superagio de ato- res ¢ sistemas sociais modernos. Assim, 0 fendmeno da violencia se atualiza, na in- terpretagdo contemporanea, pelas ex- pressées de caos, fragmentagao e decom- posigao e se aproxima, portanto, da nogao de anomia. Originalmente definida por Smile Durkheim (1996) como um estado momentaneo de desregramento, no qual as regras tradicionais perdem sua autori- dade, nao podendo mais refrear desejos expectativas individuais, essa nogdo se redefine na contemporaneidade pela pos- sibilidade de sua permanéncia, isto é, pela tensdo constante entre regulamenta- oes sociais enfraquecidas e desejos ¢ ex: pectativas individuais® Para Wieviorka, “[...] a violéncia vem preencher o vazio deixado por atores ¢ re- lagoes sociais e politicas enfraquecidas” (WIEVIORKA, 1997, p. 2 da sociologia mostrar as mediagées ausen- 5), sendo tarefa % A permanéncia do estado de anomia era admitida por urkneim (1996) na economia, 315 tes que criam o espaco da violencia. E esse vazio se faz sentir, sobretudo, na politica. Com isso, a violéncia passa a buscar outras formas que se manifestam e se definem fora da politica e se inserevem nas sociabi- lidades contemporaneas. Antoine Garapon (1999), por sua vez, defende que ainda é possivel pensar a apropriacao da violéncia pela politica ao se considerar, como caracteristica das de- mocracias contemporaneas, a centralidade assumida pela justiga enquanto fonte sim- bélica da politica. Nesse sentido, 0 autor destaca que 0 “espago simbélico da demo- cracia emigra silenciosamente do Estado para a justica” (GARAPON, 1999, p. 47). 0 enfraquecimento do Estado nao significa necessariamente um vazio de mediagoes, tornando-se a justica 0 espaco no qual a violencia passa a ser mediada e simboliza- da, Ao mostrar tanto 0 espetaculo da vio- Iencia quanto o de sua reabsorgao e confe- rir, assim, sentido a violéncia, combinando sua irracionalidade a uma elaboracao ra- cional, 0 ritual judiciario opera a simboliza- (do da violéncia, convertendo-a em repre- sentagdes que Ihe conferem significados socialmente compartilhados, Ha um pacto sobre tais representa- oes @ papéis; sobre como o Estado deve lidar com a violéncia, A questao que se co- loca 6, por conseguinte, como © em que medida as instituigdes democraticas — es- mente o Estado e o seu sistema de pe Manual de Sociologia Juridica justica criminal — podem se apropriar da violéncia, tragando a linha divisoria entre violéncia justificdvel e violéncia nao justi- ficdvel; estabelecendo-se a conversao da violéncia em seu estado bruto para a sua igni forma falada e vada. Essa questo é tanto mais especifica quando se analisa 0 caso brasileiro, pois nele temos a tensdo gerada pelo enfraque- cimento do Estado moderno e, simultanea- mente, a tensdo entre o declinio do Estado autoritario e a redemocratizacao da vida social. 17.2. A apropriagao do conceito de violéncia pelo Estado brasileiro Ao pensar sobre as formas como o conceito de violéncia é apropriado pelo Es- tado brasileiro, constata-se a evolucao do modo como o Estado foi absorvendo as de- mandas por ordem e de que modo elas vao se configurando e/ou moldando aos mode- Jos de desenvolvimento do Pais. Da pribli- ca tranquilidade, tal como era chamada pelo Cédigo Criminal, de 1830, & ordem publica presente na Constituigao de 1988, nota-se a enorme dificuldade em se definir conceitualmente o que pode ser considera- do o substrato pelo qual as instituicdes do Estado brasileiro vao organizar suas es- truturas e basear seu funcionamento, so- bretudo as policias ¢ o sistema de justiga criminal. gundo estudo realizado pelo F6- rum Brasileiro de Seguranga Publica e pelo Escritério Rubens Naves, Santos Jr. e Hesket, em 2011, identifica-se que, na le- gislagdo e na jurisprudéncia brasileiras, os conceitos de seguranga e ordem pibli- cas sao circulares e pouco claros, cabendo a doutrina juridica orientar as decisbes dos operadores do sistema de justica cri- minal. Nao obstante esse fendmeno, a pes- quisa também verificou que, na constru- Ao do significado de ordem piiblica, essa mesma doutrina nao estd, por sua vez, in- formada pelos princfpios da Constituicao de 1988 e baseia-se, muito, em pressupos- tos da ideologia da seguranca nacional for- mulada durante o regime autoritério CFBSP, 2011). Com isso, abre-se a possibi- lidade para diferentes usos do sistema de justiga criminal brasileiro. Diante de tais resultados, no plano da produgdo académica da sociologia, corroboram-se linhas de pesquisas que in- vestigam como é construida, de um lado, a sujeigao criminal a partir de determinadas caracteristicas biograficas e sociais de parcela da populacao (MISSB, 2011); e, de outro lado, a submissao dos interesses da sociedade aos intere do Estado, que, por sua vez, so influenciados por uma parcela da elite que consegue mobilizar e pautar as agendas ptiblicas de acordo com seus interesses privados. No limite, 0 mo- delo de tratamento penal dos conflitos so- Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil ciais é priorizado, mas diferentes concep- gdes de ordem estariam em disputa pelo sentido do uso legitimo da violéncia (SI- NHORETTO, 2010). Em termos histéricos, foi no final dos anos 40 do século XX, que a organizagao das policias e do sistema de justiga crimi- nal ganhou os contornos moldados na Bs- cola Superior de Guerra (BSG), cuja peca fundamental se estruturava a partir da co- nexdo entre o bindmio seguranga nacional € desenvolvimento econdmico. Esse bind- mio respaldava-se em concepgoes de Esta- do oriundas da Guerra Fria e que ainda conformam boa parte do cenério geopoliti- co mundial contempordneo, mesmo que em fase de transmutagao, como menciona- do anteriormente. Em outras palavras, 0 que se destaca aqui ¢ que essas concepgdes, forjadas na ESG a partir de sua criagdo em 1949, ao associarem seguranga e desenvolvimento, produziram um modelo para o desenvolvi- mento politico e econémico do Brasil mui- to robusto e que até hoje nos impée consi- deraveis constrangimentos burocraticos e estruturais. O modelo seguranca e desen- volvimento nao nasceu pronto, foi fruto de desdobramentos institucionais e de arti- culagdes entre militares e civis; de razdes, econdmicas e razGes politicas; e da combi- nacdo de razées politicas e de cultura juri- dica que atribuem papel ambiguo as insti- tuigdes policiais e judiciais. 317 Em suas andlises da formagao da ideologia desenvolvimentista, que busca- va aprimorar a subordinagao da sociedade ao Estado, Otavio Tani (2004) destaca a ocorréncia, entre 1949 e 1964, do amadu- recimento de uma metamorfose na ideolo- gia militar. Para ele, nesse perfodo a dou- trina da Defesa Nacional, propugnada com forga pela ESG, foi absorvida, pés- -1968, pela doutrina da seguranca nacio- nal. © principal viés doutrinario dessa ideologia é fazer crer que em torno do de- senvolvimento econémico circulam con- flitos e disputas pela hegemonia politica da nagdo tanto por concorrentes externos como por interesses de opositores inter- nos, exigindo a subordinagao e 0 controle absoluto da sociedade. Por essa ra: a seguranca nao é um fim em si, mas arti- cula-se e depende da economia e da capa- cidade de intervengao do Estado. A partir de ent&o, seguranga e desenvolvimento passam a ter um cardter de muitua causa- lidade (LIMA e BRITO, 2011). Ou seja, o que poderfamos chamar de modelo da ESG é visto pela literatura como uma es- tratégia de desenvolvimento que instituiu um poderoso mecanismo de reprodugao de uma logica de desenvolvimento econd- mico baseado numa profunda subordina- cao e enfraquecimento da sociedade em. relagao ao Estado, Nesse processo, as instituigées en- carregadas de manter a ordem publica, em. Manual de Sociologia Juridica especial as policias e o Judiciario, sao sub- sumidas por tal ideologia e mobilizadas na defesa do Estado (LIMA e BRITO, 2011). Dito de outro modo, na medida em que, nesse proceso, vislumbra-se a insti- tucionalidade da ordem e o Estado apare- ce como forga, materializado pela insti- tuigao policial e pelo sistema de justica criminal, percebe-se que o projeto de de- senvolvimento brasileiro circunscreveu-se apenas na sua dimensao econdmica. 0 de- senvolvimento social, reforgado pela Cons- tituigdo de 1988, é lemmbrado apenas como distribuigao de renda, sem inclusao dos demais direitos de cidadania. Ademais, a Constituigdo de 1988 tao somente deslocou,.em seu art. 144, 0 con- ceito de seguranga nacional e o substituiu pelo de seguranga piblica, sem, no entan- to, avancar na regulamentacao ou remode- lagem do sistema de justiga criminal ¢ do aparato institucional encarregado de ga- rantir lei e ordem no Pais. Seguranga Pti- blica 6, por sinal, uma das areas mais afe- tadas pela ndo regulamentagao do art. 23 da Constituicao, que trata das atribuigdes concorrentes entre os entes da federagao. Sobre essa realidade, outro estudo do Forum Brasileiro de Seguranga Publica, sobre mecanismos de financiamento da seguranca publica no Brasil (2012), indica que a proeminéncia dos Estados na elabo- ragdo, ou melhor, na implementagao de po- Iticas de seguranga publica e a baixa ca- pacidade de indugdo e coordenagao do Governo Federal estao em muito relacio- nadas a esse vacuo constitucional. De acordo com esse estudo, a aus n- cia de regras que regulamentem as fun- GOes e 0 relacionamento das policias fede- rais e/ou estaduais produzem no Brasil um quadro de diversos ordenamentos para a solugdo de problemas similares de seguranga e violéncia sem, contudo, lo- grarem éxito. Outro fator relevante é que, no plano legal e normativo, a existéncia de uma zona de sombra muito intensa em. relagao A definigao conceitual sobre o sig- nificado de seguranga e ordem abre mar- gem para que as instituigdes indicadas no art. 144 da CF e as demais que integram 0 Sistema de Justiga brasileiro operem com alto grau de autonomia e discricionarie dade (FBSP, 2012) Paradoxalmente, nao obstante esse cenério de crise aguda, a situagao histéri- ca da seguranga publica inaugura uma im- portante inflexdo a partir de 1995, quando alguns poucos governos estaduais passam a defender que a atuacao das policias de- veria ser voltada para a defesa da cidada- nia, e néo mais do Estado. Para tanto, tais governos buscaram integrar as suas polt- cias e priorizaram ganhos incrementais de cficiéncia a partir da ideia de se investir pesadamente em gestao e tecnologi Varias sao as agdes mobilizadas, com destaque para a integragao de reas de ju- Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil risdigdo operacional das duas policias esta- duais, a adogdo de ferramentas de andlise criminal e georreferenciamento, a incorpo- ragao de mecanismos de accountability (como a obrigatoriedade de publicagao re- gular de estatisticas sobre crimes e mortes envolvendo a policia), a informatizagio da Justiga, entre outras. Bi serd a partir delas que, apés o fi- nal dos anos 1990 e com a criagao da Se- cretaria Nacional de Seguranga Publica (SENASP), no Ambito do Ministério da Justiga, as politicas de seguranga publica no Brasil parecem ter dado uma guinada modernizante e se ampliaram. Entre as caracteristicas desta guinada, notam-se: a entrada em cena e o fortalec’ mento dos municipios como atores relevan- tes na seguranga publica; o financiamento de pesqui as aplicadas e a aproximagao en- tre as institui encarregadas de prover seguranga piblica e as universidades e cen- tros de pesquisa; bem como a introdugaio de novos contetidos nos curriculos dos cursos de formacao policial e de guardas. No campo do Judicidrio, seré em 2004, com a criagao do Gonselho Nacional de Justiga, que 0 movimento de pressio democratica iniciado pelas instituigdes de seguranca publica comegara a ganhar for- de fun- cae a pautar mudangas na logic cionamento do sistema de justiga como um. todo. Porém, as evidéncias empfricas ain- da sao poucas e recentes para se afirmar 0 EAE) carater mais ou menos perene das trans- formagdes em curso. Seja como for, como efeito dessa nova postura em relagao a seguranga publica, ha um importante deslocamento discursivo, ea democracia, apesar de todas as resistencias postas, consegue pautar debates acerca da necessidade de um modelo de ordem priblica baseada na cidadania, garantia de direitos e acesso & justiga. Ha uma mudanga de reper- tério, que introdu: a questo dos direitos humanos como central na esfera politica. Por certo, a transformagao do di surso ern préticas de governo ainda enfrenta resistén- cias consideraveis e, por vezes, até mesmo retrocessos, mas é inegavel a conquista de posigdes politicas e institucionais. Nes de Lima e Jacqueline Sinhoretto (2011). > proces 0, para Renato Sérgio essa postura estaria por valorizar os direi- tos civis como componente fundamental das politic de seguranca, numa inflexio no processo de construgao em longa dura- cdo da cidadania no Brasil. 0 problema é que ha, por certo, uma ruptura com o modelo vigente, mas ela nao provocou grandes transforma: socioju- ridicas e ainda sofre resisténcias e influén- cias de outros processos sociais mais am- plos. Entre eles, chama atengéo o aumento da violéncia urbana, principalmente quan- do considerados o crescimento dos indica- dores de crimes contra a vida exatamente no momento de redemocratizagao do Pati a partir da década de 1980. 320 Manual de Sociologia Juridica Segundo Angelina Peralva (2000), a redemocratizacio foi acompanhada da passagem da violéncia urbana relacionada aos crimes contra o patriménio, cujas ocorréncias haviam crescido na década de 1970, para a violencia manifestada nos cri- mes contra a vida, sobretudo os homict dios, cujas taxas cresceram acentuada- mente a partir dos anos 1980. No processo de transi¢ao para a de- mocracia, a Assembleia Constituinte foi um “espago de condensacao de demandas dispares de grupos de pressio” (PERAL- VA, 2000, p. 20), no qual os movimentos sociais foram bem-sucedidos ao incluirem direitos sociais e culturais das minorias no texto constitucional. Bi Peralva (2000), transformou as bases das relagdes sociais ¢ o lugar de cada indiv- ‘a inchusio, para duo na coletividade nacional, gerando des- compassos entre a maneira hierarquizada como os brasileiros se viam ¢ se definiam € 0 novo olhar da igualdade democratica. Novos conflitos sociais surgiram desses descompassos, desafiando as instituigdes democraticas que se firmavar, Segundo Peralva (2000), S¢1_.] a medida que a transigdo democratica ocorreu sob a forma de uma ruptura progres- siva com a experiéncia autoritaria, importan- tes demandas relativas & reconstrugdo das instituig6es responsaveis pela ordem piblica foram deixadas de lado, Sem realmente poder contar com instituigées novas em terreno sensivel, e j4 nao mais dispondo dos meca- nismos de regulagdo caracteristicos do perio- do autoritario, a democracia terminou abrin- do amplas possibilidades para que a violéncia se desenvolvesse” (PERALVA, 2000, p. 20). Se, por um lado, as instituigdes autor tarias responsdveis pela seguranga publica j4ndo mais respondiam ao fendmeno da vio- Iéncia urbana, nao houve, por outro, respos- ta das instituigdes democraticas. Ainda con- forme Peralva, a sociedade brasileira, por sua vez, “mmanifestou alto grau de tolerancia e, em resposta a violencia, produziu estraté- gias de adaptagao” (PERALVA, 2000, p. 21). Essas estratégias podem ser observadas pela circulagao de armas de fogo no Pais e também pelas adaptagdes no meio urbano, com a construgao de espagos prote; ‘omno estra- A fortificagao das cidad tégia social frente ao aumento dos crimes violentos e do medo também 6 apontada por Teresa Caldeira (2000). No entanto, para essa autora, a expansao dos condomi- nios fechados, verdadeiros “enclaves fortifi- cados” que modificam a paisagem urbana, vai além da protegdo contra os riscos da violéncia. Essa expansao resulta também. da recente experiéncia de igualdade demo- cratica, cristalizando a segregaco social e reorganizando hierarquias que pareciam ameagadas ou perdidas com a democratiza- cdo. Trata-se, assim, de um movimento de retraimento, no qual as elites desocupam 0 espaco piiblico das ruas e se recolhem a es- pagos privados em que podem acionar me- canismos de estigmatizagao, controle e Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil 321 exclusao, justificando-os pelo medo da violéncia. Nesse cendrio, seria o sistema de se- guranga ptblica ¢ justiga criminal uma das saidas democratica possiveis para se responder a violéncia urbana no Brasil? Os estudos disponiveis indicam que esse sistema tem operado menos como possibi- lidade de constituigao da sociedade de- mocratica e mais como mecanismo de re- colocagao da ordem autoritaria, Até porque, mesmo com novos discur- sos e praticas incrementais de gestao, pa: sados 25 anos da Constituigao de 1988, as instit nigdes policiais e de justi¢a criminal nao experimentaram reformas significati- vas nas suas estruturas organizacionais e normativas. Avancos eventuais no aparato policial, conquista de maior transparéncia sobre o funcionamento das instituigdes da firea e reformas na legislacdo penal tém se revelado insuficientes para reduzir a inci- déncia da violéncia urbana, numa forte evi- déncia da falta de coordenagao e controle. 17.3. A emergéncia de um campo de estudos sociolégicos sobre violéncia no Brasil® Num deslocamento de olhar, as ques- tes destacadas nos itens anteriores per- Este item baseta-se fortemente, em texto initulado “A influén- cla da trajetoria intelectual de Sérgia Adorno nos estudos so bre violencia no Bras’, submetido para publicagao em 2012, mitem uma observagao de natureza meto- dolégica e que percebe 0 actmulo de reflexdes acerca de como a violencia foi apropriada pelo Estado brasileiro e de que modo esse movimento tem impactos na conformagao de um campo de estudos so- ciolégicos sobre violéncia no Brasil, que é, por exemplo, auténomo em relaciio aos es- tudos criminolégicos. Com pesquisas pioneiras que remon- tam ao inicio dos anos 1970, os alicerces desse campo epistémico ganharam solidez no final dos anos 2000, com a instituciona- lizagao de linhas de pesquisa, o langamento de editais tematicos nas agéncias oficiais de fomento e o crescimento de grupos de pesquisas nas universidades brasileiras de- dicados, em maior ou menor grau, a investi- gagao das questoes associadas a violencia, Nao obstante esse fato, as feigbes que esse campo foi assumindo sao tributarias de algumas fronteiras bem delimitadas, como aquelas dedicadas pioneiramente ao estudo das prisdes e de outras, ainda em formagdo e em meio a disputas, como no caso dos estudos sobre seguranga publica. No meio do caminho, temas centrais das ciéneias sociais contemporaneas, como violencia contra mulheres, direitos huma- 1, fluxos da justica nos, discriminagao rat e conflitos sociais ajudaram a guiar as pes- quisas e os debates intelectuais da area. Em termos quantitativos, nesses tilti- mos 10 anos, o campo deixa de ser perifé- Err Manual de Sociologia Juridica rico na produgao da pés-graduagao brasi- leira para se tornar prioridade em estudos de varias dis iplinas e dreas. Segundo le- vantamento no banco de teses e disserta- Goes da Capes, havia em 2006 mais de 8 mil trabalhos ligados a area, sendo que as ciéneias sociais contribufam, junto ao di- reito, com as maiores parcelas de textos desse acervo (LIMA, 2011). E essa produ- Ao nao se resume apenas a producao de teses e dissertagdes: ainda segundo o le- vantamento citado, existiam, em 2006, 255 Grupos de Pesquisas registrados no CNP@ ligados & Area, mimero quase sete vezes superior ao existente em 2000, que somava 41 grupos, segundo Roberto Kant de Lima, Miche! Misse e Ana Paula Mendes Miranda (2000). No que diz respeito especificamente as ciéncias soci , contudo, se & possivel pensar ern um campo ja em estgio avanca- do de formagao, também 6 necessario pen- sar que algumas de suas marcas si eriam a forte disputa de posigdes, o dinamismo dela derivado e a pluralidade de abordagens, tradigdes tedricas e perspectivas metodols- gies a toa, a propria nomeagio do campo é con- dotadas. Evidéncia de tais fatos, nao troversa e varidvel, reconhecendo-se a existéncia de uma grande zona de incerte- zas na definicao dos seus principais territ6- rios explicativos. As revis6es da literatura disponivel nao se preocupam especificamente em de- limitar as fronteiras e divisas do conheci- mento cientifico e os seus esforcos buscam identificar e mapear a produgdo existente, que jé acumula um elevado mimero de obras (ADORNO, 1993; KANT DE LIMA, MISSE e MIRANDA, 2000; ZALUAR, 1999; BARREIRA e ADORNO, 2010)’. Mais recentemente, alguns autores, como Francisco Vasconcelos (2009; 2011), tm iniciado reflexdes sobre as origens de uma das vertentes desse campo — a socio- logia da violencia ~ no Brasil e 0 seu im- pacto na universidade e nas politicas pa- blic: Esse autor (2011) vai demonstrar como as produgées carioca, mineira e pau- lista sobre violéncia vao se “especializar” em torno de uma “triade” de objetos: pri- so e justiga criminal; policia e sua relagao com a percepgao do aumento da criminali- dade urbana; movimento da criminalidade © espacos urbanos. Para Vasconcelos, mes- mo com énfases diferentes, as varias pers- pectivas regionais acabam por recolocar uma quest&o que, a nosso ver, vai marcar 0 campo; qual seja, a que vai refletir sobre do Es- tado e da sociedade para os contornos da “os desafios trazidos pela violéncia democracia brasileira” (2011). Nesse processo, ¢ significativo perce- ber que as pesquisas reconhecidas pelo * 0 texto de Adorno (1993) localiza 264 referéncias que co- trem o perioda de 1972 a 1993. Kant de Lima, Misse e Mi- ‘anda (2000) indicam 1.040 obras. 0 texto de Zaluar (1999), relaciona 224 obras e, por fim, ode Bareira e Adorno (2010), identifica 1.374 e elaciona 345 reteréncias bibliogratcas Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil campo como pioneiras tém mum grupo re- duzido de pesquisadores 0 seu nicleo irra- diador e que, portanto, idiossincrasias perfis individuais de atuagio tém, tanto quanto as questoes politicas e institucio- nais, forte impacto nos processos de deli- mitagao de fronteiras e territérios explica tivos que giram em torno da temética da seguranga publica (LIMA e RATTON, 2011). Temética que, no Brasil, ganhou forga nas ciéncias sociais e matizou a recepcao das matrizes e influéncias internacionais as- sociadas aos estudos criminolégicos e/ou sobre justiga criminal, tradicionalmente mais acionadas pelo direito penal. Assim, a conformagao desse novo campo de estu- dos esta sujeita a uma mirfade de cara risticas pessoais e de fatores politicos e institucionais que, no limite, estabelecem uma forte correlacao entre programas aca- démicos e politicas pablicas. As pesquisas oriundas das ciéncias sociais estariam conformando 0 que José Vicente Tavares dos Santos intitula como um campo de estudos sobre “seguranga ptiblica e sociedade”, muito em funcao da capacidade desses tiltimos serem assumi- dos como insumos ao planejamento de ages governamentais. Em termos de contetido, como jé pu- demos observar nos itens anteriores, a preocupagao com direitos humanos e de- mocracia deu o tom de como os temas as- sociados foram sendo institucionalmente 323 absorvidos na arena publica nos tiltimos 10, 15 anos, mas foi por meio da questo do crescimento da violéncia urbana nos anos. 1990 e das politicas de seguranga publica dele derivadas que se viabilizou a alianca de interesses sociais e corporativos que culminaram com a atual configuragao do campo de estudos sobre seguranga pibli- ca. As pesquisas sobre violéncia urbana e democracia passaram, pouco a pouco, a re- fletir sobre como essa violencia podia ser associada a forma de organizacao e as res- postas do Estado brasileiro a um fenome- no social complexo e multifacetado. Aceita essa tese, a questdo que surge 6 sobre como podemos compreender tais movimentos. Em termos institucionais, é possivel associar esse cendrio ao efeito combinado de politicas de indugao demo- critica levadas a cabo pela Fundagao Ford, de um lado, e pela Secretaria Nacio- nal de Seguranca Publica - Senasp, por outro®. No caso da Fundagao Ford, que com- pletou 50 anos no Brasil em 2012, muito se pode discutir sobre o papel que ela exer- ceu para o processo de retomada da demo- cracia brasileira e/ou sobre as influéncias que exerce ao padrao de desenvolvimento do Pafs. Contudo, no caso da seguranga ptiblica, Lima (s/data) defende a ideia de E verdade que também nao pademos desconsiderar a con- tribuiggo da Secretaria de Dirltos Humanos da Presidencia dda Replica (SD4), Manual de Sociologia Juridica que foi por meio dos apoios da Fundagao que conseguimos aleangar um conjunto significativo de stakeholders mobilizado para o tema da seguranga publica e direi- tos humanos. ‘A Fundagao Ford foi a responsivel pelos apoios estruturantes e iniciais de praticamente todos os centros de pesquisa especializada, sejam eles académicos ou nao, incluindo 0 aporte inicial que deu ori- gem ao Nticleo de Estudos da Violéncia da Universidade de So Paulo (NEV/USP) e/ou aos primeiros cursos universitérios dedi- cados a policiais ministrados pelo Nticleo Fluminense de Estudos e Pesquisa da Uni- versidade Federal Fluminense (NUFEP/ UFF). Mais recentemente, a Fundagao Ford contribui para o fortalecimento do CESEC/UCAM e/ou do Férum Brasileiro de Seguranga Piiblica. Foi gracas a esses apoios que pesquisas puderam e podem ser produzidas, intercdmbios estabeleci- dos e pesquisadores puderam se dedicar ao tema. Por fim, uma lembranca fundamental 6 o apoio da Fundagao Ford para a tradu- cao e publicagao, pelo NEV/USP e pela Edusp, da colegio “Policia e Sociedade’, com varios livros clissicos sobre policia ¢ policiamento no cixo Europa~América do Norte. Essa colecao supriu uma caréneia de bibliografia disponivel em lingua portu- guesa e pode ser vista como um divisor de Aguas e como subsidio basico dos varios cursos que foram sendo criados nos tilti- mos anos. Como destacado anteriormente, apés 0 ano 2000, a criacdo da Secretaria Nacio- (Seni ave. Foi por meio desta secre- nal de Seguranga Public: sp) é um momento. taria que as propostas formuladas no am- biente académico das ciéncias sociais fo- ram sendo assumidas e ressignificadas pelo Estado, A Senasp foi, direta ou indire- tamente, a responsavel pela entrada em cena e pelo fortalecimento dos municipios como atores relevantes na seguranga pt- blica, ao inclu‘-los como passiveis de se- rem beneficiados com recursos do Fundo Nacional de Seguranga Publica. Da mesma. forma, foi pioneira, ao firmar, em 2004, parceria com a ANPOCS para financiar amplo edital de pesquisas aplicadas e aproximar organicamente o universo das instituigdes encarregadas de prover segu- ranga piiblica das universidades e centros de pesquisa. Foi também por meio da se- cretaria que os contetidos dos curriculos dos cursos de formagao policial e de guar- das foram discutidos e a universidade cha- mada a oferecer cursos regulares na area. Diante desse cenério, fortalecimen- to de agéncias e associagdes de coordena- cao, pesquisa e avaliacaio, como Capes, CNPa, FAPESP, ANPOCS, SBS, entre ou- tras deixa de ser uma mera formalidade burocratica. Tal movimento reduz 0 espa- ¢0 de projetos individuais e, nao sem ten- Violéncia, Estado e Sociologia no Brasil sdes, estabelece um padrao de trabalho em rede que ainda nao foi completamente absorvido pela universidade brasileira, em especial pelas ciéncias humanas e pelo di- reito. O exemplo mais atual desse movi- mento € 0 programa dos Institutos Nacio- nais de Ciéncia e Tecnologia (INCT), do CNPq e com parcerias de diversas outras agéncias de fomento nacionais e estaduais Os INCTs buseam reunir grupos de pes- quisa consolidados em torno de um gran- de e comum programa de trabalho e sio uma aposta integradora de sforgos, mas ainda esbarram em nao poucas limitacoes burocraticas e financeiras para a persecu- Gao de seus objetivos" Em conclusao, os estudos sobre vio- léncia no Brasil configuram um robusto programa de pesquisas, que pode ser assu- mido como um rico microcosmo da produ- cdo académica nas ciéncias sociais no Bra- sil, Por certo, varios nomes contribuem para as atuais configuragdes do campo de estudos sobre seguranca piiblica e socieda- de, mas, ao redigir este texto, frisamos nos- sa intengdo de destacar caracteristicas e, com isso, contribuir para uma historia das © Ha dois INCTs diretamente vinculados ao campo de estu: dos sobre “sequranga pica e sociedade’, sendo um de- les liderado por Sérgio Adorno (USP) e o outro por Roberto Kant de Lima (UFF). Ha ainda dois outros INCTs que pos: ‘uem, €m Seus programas, projetos que os vinculam a te- malica, mas que nao séo ditetamente dedicados a estudos ‘que poderiam inseri-tos entre os do campo mencionado (CEM/CEBRAP e OM/UFRJ). 325 ideias que circulam e dao sentido as princi- pais pautas da agenda contemporanea. Feita esta trajetéria, um ponto surge com forca: hd, no Brasil, um forte hiato en- tre a produgao sociolégica sobre “violéncia” gerada em torno do campo de estudos so- bre “seguranga publica e sociedade” e a produgao do que se tradicionalmente consi- dera como “sociologia juridica’, em muito pautada pelos aspectos filoséficos e norma- tivos do sistema de justiga criminal. Sio dois mundos apartados e que, no limite, 0, por ambas as prejudicam a compreen tradigdes, dos fendmenos sociais, politicos, institucionais e culturais associados ao funcionamento das instituigdes de Estado encarregadas de mediar e fazer frente & violéncia no Pais. Faz-se, portanto, mais do que necessdrio um programa académico e intelectual que marque divisas, mas (re)es- tabelega pontes entre esses dois universos; entre as ciéncias sociais e o direito, Bibliografia ADORNO, S. A criminalidade urbana violenta no Brasil: um recorte tematico, Boletim Bibliogréfico e Intormativo em Ciéncias Sociais, $0 Paulo, v. 35, p. 3-24, 1993. ARENDT, H. Sobre a violéncia. Rio de Janeiro: Relume- -Dumard, 1994. BARREIRA, C.; ADORNO, S. A violéncia na SOCIEDADE brasileira. In: MARTINS, Carlos Benedito; MARTINS, Heloisa Helena T, de Souza (Org.). Horizontes das Ci- éncias Sociais no Brasil Sao Paulo: Barcarola, 2010, v1, p. 308-374 CALDEIRA, T. P. R. Cidade de muros: crime, segregacao e cidadania em $40 Paulo. S40 Paulo: Edusp, Editora 34, 2000. 326 Manual de Sociologia Juridica CARDOSO DE OLIVEIRA, LR. Existe violéncia sem agres- do moral? Revista Brasileira de Ciéncias Sociais, v, 23, 1, 67, jun. 2008. Disponivel em: . 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