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Cevada mais capim-elefante, boa opção para o gado de

leite
"A partir de fórmula simples e de custo acessível é possível obter uma silagem de alta qualidade e de boa
paletabilidade utilizando-se capim-elefante e cevada". A afirmação, do engenheiro agrônomo Pedro Aldo
Amadei, sugere novas perspectivas para os produtores de leite, onde o cultivo de milho se apresente
inviável para a prática da ensilagem, e a falta de verde, comum na entressafra, traga reflexos negativos
sobre a produtividade do rebanho. O ponto de partida para chegar a descoberta foram as pesquisas
visando melhorar a fermentação e o teor de proteína da silagem de capim-elefante. Depois de provar
aditivos, como fubá, farelo de trigo e melaço, sem obter resultados, experimentou resíduos de cervejaria.
Aprovou, mas percebeu que poderia conseguir muito mais.

Tudo começou há dois anos, quando resolveu juntar cevada e capim-elefante testando vários percentuais
da mistura, até chegar a dosagem ideal de 40% e 60%, respectivamente. Assim, obteve a melhor
resposta em produtividade do seu rebanho leiteiro, confinado no Sítio Amadei, em Pindamonhangaba-SP.
"Melhoria na fermentação e ganhos nos teores de proteína bruta em 10% indicaram o caminho", diz. Na
prática, ele comprovou também outras vantagens, uma vez que o valor nutricional do produto é
comparável ao da silagem de milho, apresentando um atrativo a mais: "Como o capim-elefante é
semiperene, possibilita quatro cortes anuais bastante aproveitáveis", compara.

Atualmente, o rebanho é tratado com silagem de capim-elefante com cevada, sal mineral e água. Para se
ter idéia, as 70 vacas Girolando 7/8 em lactação, com uma média de 18 quilos, asseguram uma produção
diária por volta de 1.260 litros, o que significa excelente desempenho nas condições do Vale do Paraíba.
Ao confrontar os dados do final de 1996, quando 56 matrizes em lactação rendiam 830 litros/dia, com
uma média individual de 15,67 litros, ele contabiliza um incremento próximo de 15% com a nova mistura.
Na época, a alimentação, fornecida no cocho durante a entressafra, era composta de 17 kg de napiê, 17
kg de silagem de cevada, 8 kg de cana-de-açúcar, 5 kg de concentrado com 2Q% de proteína e 6 litros de
levedura, representando um custo de R$2,26 por vaca/dia. Foi fazendo essas contas que ele vislumbrou
as vantagens da silagem de cevada na dieta dos animais. Afinal, ela garantia 22% de proteína bruta,
contra 12% do milho, bem maior ainda quando confrontado com o índice bypass de ambos os produtos:
49% na cevada e 25% no milho, perdendo somente em matéria seca: 20% e 30%, respectivamente.
Comparando a qualidade da nova mistura com a silagem de capim-elefante adicionada de polpa cítrica,
ele garante que esta apresenta baixo teor de proteína e alto teor energético. "Mas se não fermentar
direito, pode apresentar o risco de intoxicação. Além do mais, como o aditivo é tamponante, ele não
permite que o pH varie dentro do silo, condição recomendada para que a fermentação aconteça o mais
rapidamente possível", alerta.

Se para Amadei a nova mistura é sucesso comprovado, na avaliação do engenheiro agrônomo José
Roberto Peres, consultor de propriedades leiteiras na região de Piracicaba-SP, a silagem de capim-
elefante com cevada exige que o produtor tenha alguns cuidados. Apesar de não dispor de dados
suficientes para discutir o assunto, ele considera o resultado obtido por Amadei razoável, tecendo
algumas restrições. "A cevada é ótima fonte de proteína, mas é pobre em energia, ao contrário da
silagem de polpa cítrica", esclarece. Segundo ele, outra diferença a ser levada em conta é que a polpa
apresenta alta capacidade de absorção de água, ajudando, inclusive, a absorver grande quantidade de
água do próprio napiê, evitando que os nutrientes se percam durante a fermentação, junto com os
efluentes. Sobre o nível de proteína da polpa cítrica, diz que a saída está em adicionar uma fonte protéica.

Discussões a parte, Amadei assegura os bons resultados de sua prática já no plantio do capim-elefante,
escolhendo a abertura da época das águas e seguindo os indicadores da correção do solo. É hábito
proceder a adubação orgânica, no período seco, com esterco de curral. Depois, é a vez da adubação de
cobertura com NPK 20-5-20 a cada corte. "Com esses cuidados, consigo produzir 100 a 110 toneladas de
napiê por hectare, podendo chegar a 150 toneladas em quatro cortes", garante. Os cortes do capim-
elefante acontecem entre dezembro e março, exatamente no pico de produção das cervejarias,
coincidindo com a maior disponibilidade de cevada e com a queda dos preços do subproduto. Segundo
ele, o ponto ideal de corte acontece quando o capim atinge altura entre 1,60m e 1,80m.

CEVADA PROMOVEU DIFERENTES NÍVEIS DE MATÉRIA SECA

Tradicionalmente, recomenda-se ensilar o material o mais seco possível (milho, sorgo ou napiê). Como a
cevada é bastante úmida, é feita uma pré-secagem, deixando-a 24 horas ao sol, sobre a terra, ao lado do
silo, para que fique com umidade ao redor de 40%. Considerando simples de fazer, Amadei explica que a
silagem de capim-elefante com cevada começa com o corte do napiê, na capineira, onde é picado e
colocado em carreta. A seguir, ele adiciona cevada na proporção de 40%. "Quando jogado no silo, o
material já está misturado. Mas quem preferir uma mistura mais homogênea pode arrumar camadas
alternadas de napiê e de cevada, fazendo, depois, a compactação", explica. Para servir, basta abrir o silo,
retirar a silagem aos poucos, em fatias, cobrindo-a novamente.

Satisfeito com a produtividade do rebanho leiteiro e com o ganho de peso dos bovinos em confinamento,
ele começou a divulgar os resultados da mistura de aparência amarelada, de cheiro característico do ácido
láctico. De boca em boca, a informação sobre a novidade foi se espalhando no meio rural. Foi assim que o
estudante de Zootecnia de Universidade de Alfenas, Gustavo Barreto Fernandes, tomou conhecimento
sobre a pesquisa e entrou em contato com Amadei, visando encontrar um gancho para desenvolver seu
trabalho de pesquisa de graduação. Ele tomou alguns cuidados ao preparar a mistura, a começar com o
ponto de corte do napiê. "Como o resíduo de cervejaria é um material muito úmido, procurei colher o
capim aos 102 dias do plantio, uma idade em que ele apresentava alto teor de matéria seca, sem, no
entanto, comprometer a qualidade e a quantidade de nutrientes", informa.

Depois de cortado manualmente, a 5 cm do solo, o capim-elefante foi picado em pedaços de 2 a 3 cm.


Além de proceder a uma pré-secagem na cevada durante dois dias, fez uma mistura bem-feita, de modo
a homogeneizar o material. Depois de encher os silos, fez a compactação com socadores de madeira,
vedando a entrada com tampas de PVC adaptadas com válvulas tipo Bunsen, para permitir a livre saída
dos gases. Para pesquisa, utilizou microsilos experimentais de PVC (50 cm de comprimento e capacidade
para 2,2), deixando a mistura ensilada durante 72 dias, apresentando, depois da abertura, as
características organopeléticas ideais. Ele fez cinco tratamentos: capim-elefante + 0% de cevada; capim-
elefante + 7,5% de cevada; capim-elefante + 15% de cevada, capim-elefante + 22,5% de cevada e
capim-elefante + 30% de cevada.

Depois de aberto, feita a leitura imediata do pH, o conteúdo de cada silo foi despejado em uma lona
plástica, sendo bem misturado para a retirada das amostras para análise. "Constatei que a adição de
níveis crescentes de cevada ao capim-elefante alterou de modo significativo todos os componentes da
matéria seca das silagens estudadas, apresentando melhor desempenho com dosagens maiores do
aditivo", explica. Nos experimentos realizados em Alfenas, chegou-se a um teor de proteína bruta em
torno de 13%, aumentando a matéria seca e reduzindo o pH e as frações de FDN e FDA. Diz que o
envolvimento de seu trabalho com o desenvolvido pelo criador Pedro Amadei teve início na fase de plantio
do capim, utilizando-se a variedade Cameroon, oriunda de uma capineira ensilada no campo experimental
da escola. Testou vários níveis de mistura capim-elefante e cevada. A melhor combinação, em termos de
nutrientes, foi conseguida com 30% de resíduos de cervejaria e 70% de capim.

Para se ter noção das vantagens do experimento, ele toma como parâmetro o teor de matéria seca da
silagem sem tratamento, que saltou de 19,50% para 27,98% no material ensilado com 30% de cevada. O
nível de proteína bruta foi bem superior ao teor apresentado na silagem de capim-elefante sem cevada:
de 7,83%, alcançou até 13,6%. Como desejado, os níveis de FDN (fibra detergente neutro),
apresentaram redução significativa com a adição de percentuais crescentes de cevada, caindo de 76,40%
para 64,08%. O mesmo aconteceu com o teor de FDA (fibra detergente ácido), reduzida em 5,6%. Por
sua vez, o pH, um dos fatores mais utilizados para avaliação de silagens, fixado como ideal entre 3,8 e
4,2, apresentou condições satisfatórias nas silagens acrescidas de cevada nas dosagens superiores a
15%, com números entre 3.90 e 4,00. Os resultados dos experimentos estão na tabela 1.

Como a cevada entra em processo de fermentação rapidamente, recomenda adquiri-la para preparar a
mistura no máximo em uma semana, cobrindo-a com plástico. Diz, ainda, que a silagem fornecida ao
gado teve boa aceitação, principalmente no caso da mistura adicionada de cevada. "Graças a
palatabilidade, os animais que estavam consumindo silagem de milho, deixaram-na de lado, preferindo a
novidade", ilustra. Com base nos resultados, ele fez o trabalho de conclusão do curso, intitulado Valor
nutritivo de silagens de capim-elefante tratadas com diferentes níveis de resíduos de cervejaria, em que
explica o passo a passo dos experimentos. Bastante animado com os dados da pesquisa, ele admite que
cortes menores do capim e uma homogeneização bem criteriosa podem contribuir com melhores
resultados no processo de ensilagem.

CEVADA EM PELLETS

A Comercial Burity, um dos distribuidores de resíduos de cervejaria da Brahma no Vale do Paraíba, a partir de maio
estará lançando no mercado a cevada desidratada e peletizada formulada a partir do malte, com 22% de proteína
bruta na matéria seca. O produto será comercializado em sacos de 40 quilos. Na sua opinião, a grande vantagem da
novidade é a facilidade de armazenamento, exigindo apenas um lugar arejado e seco. "A cevada peletizado não
substitui a cevada in natura nem a silagem. Trata-se de uma alternativa para vacas de alta produção, que precisam
de grande quantidade de matéria seca", alerta Pedro Antunes, diretor da empresa. Apesar de ainda não ter definido
o preço do produto, ele garante que deverá ter um custo menor que a ração. Para melhorar a qualidade da cevada
em pellets, está testando aditivos, visando elevar o valor energético. Nas condições atuais, o produto tem 25% a
mais de proteína solúvel bruta, com aproveitamento de 75% do total. "Em razão do maior teor de proteína
digestível, a cevada em pellets melhora a digestibilidade em termos de rúmen, porque possui levedura, que cuida
do aspecto da pelagem, deixando-a brilhante, devido a presença dos aminoácidos lisina e metionima" , informa.

Gustavo Barreto Fernandes, São José dos Campos-SP, (12) 322-7162 – fax (12) 321-3564;
Pedro Aldo Amadei, Pindamonhangaba-SP, (12) 243-1600; ou José Roberto Peres (15) 426-1847 / 974-
3184.

FONTE:
Revista Balde Branco – Numero 414 – Abril/1999
R Gomes Cardim, 532 – CEP 03050-900 – São Paulo-SP
Tel: (11) 3315-6294 / 3115-6292 - Fax: 3315-7230
E-mail: baldebranco@baldebranco.com.br
Assinaturas: 3315-6285

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