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TERRITÓRIO OURO-PRETANO
RESULTADOS PRELIMINARES DO PROMOSAT-OP 2022
DEAMB/UFOP:
Alberto Fonseca
Cesar Barella
Guilherme J. C. Gomes
Junho de 2022
Autores
Alberto Fonseca – UFOP
http://lattes.cnpq.br/8103051511528868
Colaboradores Pesquisadores
Clarisse de Oliveira Carmo
Thais Barreto Santana
Colaboradores Institucionais
Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação
Núcleo Gestor da Prefeitura Municipal de Ouro Preto
Apoio
RESUMO
Ouro Preto é um dos mais conhecidos dos 5570 municípios brasileiros. Essa fama é em grande
medida explicada pelas atrações do centro histórico, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional e considerado Patrimônio Cultural Mundial da Humanidade pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Mas o centro histórico de Ouro Preto
representa uma minúscula fração do território municipal, que tem cerca de 1.245 km 2, área quase
quatro vezes maior do que a da capital do estado, Belo Horizonte.
Ouro Preto tem um vasto patrimônio natural e social que resta parcialmente desconhecido pela
população e pelo público em geral. Este relatório apresenta os resultados preliminares (Fase 1) do
Programa de Monitoramento Socioambiental do Território Ouro-pretano (PromoSAT-OP), que objetiva
analisar as condições e tendências biofísicas e socioeconômicas do município. Com base em uma
abordagem Pressão-Estado-Resposta (PER) de análises de dados geoespaciais, o PromoSAT-OP
revelou os seguintes fatos:
• Entre 1985 e 2020, o território ouro-pretano perdeu cerca de 3.189 hectares de florestas (área
equivalente a cerca de 80% de todo o distrito de Lavras Novas);
• O conjunto de áreas urbanas, de silvicultura e de mineração no território ouro-pretano expandiu
de 2.812 hectares, em 1985, para 9.800 hectares em 2020;
• Análises longitudinais das áreas urbanas revelaram avanços significativos sobre áreas protegidas
e unidades de conservação;
• Zonas sensíveis do Plano Diretor do distrito sede não têm cumprido sua função de ordenar o
território;
• O Índice de Desenvolvimento Humano do município subiu de 0,491 (baixo) em 1991 para 0,741
(alto) em 2010, seguindo uma tendência nacional;
• A mortalidade infantil caiu de 27,28 óbitos por mil nascidos vivos, em 2006, para 9,13 em 2010,
também seguindo uma tendência nacional;
• Indicadores econômicos (e.g., salário médio mensal, arrecadação do executivo municipal, etc.)
sugerem haver estagnação econômica na última década, bem como desproporcionalidade entre
os atuais investimentos socioambientais e as demandas territoriais; e
• Dados preliminares indicam que as unidades de conservação de proteção integral, APPs e
reservas legais podem cobrir cerca de 30% do território municipal em 2022.
Esses e outros resultados, ainda que baseados em análises exploratórias, indicam que o território
ouro-pretano está em um claro processo de degradação biofísica. O aumento populacional e a
expansão das áreas urbanas e das atividades produtivas e industriais, sem o devido planejamento e
controle, têm ocasionado perdas de florestas e de outras formas de vegetação nativa (incluindo sua
fauna e flora), redução da disponibilidade de recursos hídricos, aumento de vulnerabilidade a riscos
geotécnicos, dentre outros impactos adversos. Por outro lado, dados censitários, ainda que
desatualizados, sugerem haver melhorias e/ou estagnação em alguns indicadores socioeconômicos.
Ouro Preto aparenta passar por um processo de troca (ou trade-offs1) entre qualidade ambiental e
ganhos de infraestrutura e de melhorais pontuais socioeconômicas. Apesar da existência de diversas
leis e de instituições locais, estaduais e federais voltadas para questões socioambientais, não está
claro se esse trade-off está se desdobrando em bem-estar para a população.
1
O termo trade-off, que não tem equivalente no léxico português, indica um processo de troca no qual um ganho vem
acompanhado de uma perda ou sacrifício.
1
SUMÁRIO
2 A METODOLOGIA PROMOSAT 8
3 O ESTADO DO TERRITÓRIO 13
REFERÊNCIAS 34
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2
Lista de Figuras
Lista de Quadros
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3
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urbano da cidade, conforme se discutirá mais adiante nesse relatório, também são
adotadas diversas zonas territoriais2 que dão diretrizes para o uso do solo, incluindo
parâmetros urbanísticos e condições de permeabilidade, edificação e impacto cênico e
ambiental. Além das divisões administrativas do governo local, Ouro Preto, devido ao
tombamento do IPHAN, também é regrada por um zoneamento federal3, que visa preservar
seu Conjunto Arquitetônico e Urbanístico: Área de Preservação Especial (APE), Área de
Preservação (AP) e Área de Preservação Paisagística, Ambiental e Arqueológica
(APARQ). Ouro Preto conta ainda com diversas Unidades de Conservação (UC) de
domínio federal, estadual e municipal. Detalhes dessas UCs são apresentados mais
adiante no relatório.
2
Ver: LEI COMPLEMENTAR 93/2011 - Uso e Ocupação do Solo; LEI COMPLEMENTAR 91/2010 - Alteração na Lei que estabelece o
Plano Diretor do Município de Ouro Preto; LEI COMPLEMENTAR 29/2006 - Estabelece o Plano Diretor do Município de Ouro Preto; LEI
534/2009 - Regulamenta o art. 58 da Lei Complementar 29/2006
3
Ver: PORTARIA IPHAN Nº 312, DE 20 DE OUTUBRO DE 2010
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(com destaque para o grupo Piracicaba), o Rio das Velhas, o Itacolomi, bem como os
Complexo do Bação e do Santo Antônio do Pirapetinga. Ouro Preto também tem grande
diversidade geomorfológica e sua extensão altimétrica (média de 1179 metros) varia da
cota de, aproximadamente, 700 metros, no distrito de Santo Antônio do Salto, até cerca de
1888 metros, na porção extremo norte do distrito de Antônio Pereira, no maciço rochoso
que leva ao Pico do Coqueiro em Santa Bárbara, que compõe a Serra do Caraça.
O clima em Ouro Preto é o tropical de altitude (Cwb, Köppen-Geiger), cujas chuvas (média
anual de ≈1670 mm) concentram-se no período de outubro a abril, com temperaturas
médias anuais em torno de 18oC. As temperaturas médias mínimas variam de cerca de
8oC no inverno a 16oC no verão; e as máximas de 12oC no inverno a 26oC no verão. Geadas
são comuns em diversas porções do território durante o inverno.
Os solos de Ouro Preto também têm grande diversidade, destacando-se seis grandes
categorias: cambissolos háplicos (≈25% do território), latossolos vermelho-amarelos (≈26%
do território), latossolos vermelhos (≈7,6% do território), argilossolos vermelhos (≈11,8% do
território) e neossolo litólicos (≈17,4% do território) que geralmente estão vinculados a
afloramentos rochosos (≈5,1% do território). O mapa pedológico de Ouro Preto encontra-
se disponível no WebMAPA do PromoSAT.
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A Lei Orçamentária Anual (LOA) de Ouro Preto para o exercício de 2022 estimou uma
receita de R$452 milhões e uma despesa de igual importância. As principais rubricas de
despesa por função de governo estão apresentadas na Figura 2.
A maior parte (≈92%) dos R$ 452 milhões do orçamento municipal de 2022 são para cobrir
despesas correntes, incluindo pessoal e encargos sociais. Previu-se apenas R$ 21,02
milhões para investimentos para todas as pastas administrativas municipais em 2022. Tal
valor é absolutamente desproporcional às atribuições socioambientais (e.g., mobilidade,
saneamento, planejamento urbano, saúde, educação, etc.) do governo municipal, que
precisa investir em diversas porções de um território de 1.245 km2.
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Figura 2 - Previsão de Despesas da LOA de Ouro Preto para 2022 por Função de
Governo
R$ - R$ 50,000,000 R$ 100,000,000 R$ 150,000,000
Saúde R$ 126,799,128
Educação R$ 100,885,354
Administração R$ 76,690,572
Urbanismo R$ 27,313,700
Legislativa R$ 22,620,000
Encargos Especiais R$ 20,188,826
Assistência Social R$ 16,507,493
Transporte R$ 11,642,118
Gestão Ambiental R$ 9,193,872
Habitação R$ 7,232,793
Cultura R$ 7,082,180
Segurança Pública R$ 6,289,319
Energia R$ 4,450,000
Agricultura R$ 4,025,677
Comércio e Serviços R$ 3,193,500
Essencial à Justiça R$ 2,335,767
Previdência Social R$ 2,317,500
Desporto e Lazer R$ 1,328,200
Reserva de Contingência R$ 750,000
Direitos da Cidadania R$ 432,000
Ciência e Tecnologia R$ 277,000
Comunicações R$ 243,001
Judiciária R$ 202,000
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2 A METODOLOGIA PROMOSAT
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Linha de base é um jargão técnico utilizado em avaliações de impacto para descrever as condições do território numa condição base,
ou seja, condições anteriores a mudanças futuras. O PromoSAT permitirá comparações das futuras condições do território de Ouro Preto
(e.g., em 2023, 2024) com a situação aqui relatada.
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Também se pretende, nessa fase, começar a treinar alguns setores da prefeitura para
utilizar o PromoSAT nas suas rotinas. E, finalmente, a fase 2 divulgará um relatório anual
e relatórios específicos, focados em temas pontuais.
Na terceira fase (2023 - 2024), o programa, além das atividades de rotina das fases 1 e 2,
deverá incorporar imagens de satélite e de drone de alta resolução, viabilizando a geração
de alertas mais confiáveis de tendência negativa (e.g., ocupação de áreas susceptíveis a
processos geodinâmicos, invasões de áreas protegidas, irregularidades de ocupação em
zonas do plano diretor). Pretende-se, ainda, sensibilizar a prefeitura para utilizar o
WebMAPA e suas funcionalidades na rotina administrativa de alguns setores.
Na quarta fase (2024 - adiante), o programa deverá se sofisticar para ser capaz de avaliar
impactos ambientais cumulativos na região, diversificar os temas de análise e os tipos de
alerta, além de se tornar um instrumento institucionalizado da UFOP e do poder público
local.
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O PromoSAT adotou o modelo PER para embasar suas análises tendo em vista a
coerência conceitual e instrumental desse modelo, que fica refletida na sua disseminação
mundial. De acordo com esse modelo, existem pelo menos três grupos de variáveis ou
indicadores essenciais para se compreender o território no espaço e no tempo: 1) as
pressões antrópicas, ou seja, as atividades humanas (e.g., urbanização, agricultura,
transporte, indústria etc.) que utilizam recursos naturais e geram emissões, resíduos e
efluentes que afetam adversamente o território; 2) o estado, ou seja, as características dos
meios físicos, bióticos e econômicos que sustentam a vida; e 3) as respostas, ou seja, as
políticas, atividades e ações públicas e privadas voltadas para controlar a interação do
homem com o seu ambiente. Esses três grupos, conforme ilustra a Figura 4, estão em
constante interação.
As condições do território (estado) são afetadas pelas pressões antrópicas sobre ele, bem
como pelas respostas que agentes públicos e privados dão a essa relação. Similarmente,
as respostas dos agentes às condições do território dependem de diversas informações
sobre as pressões e as condições do meio ambiente.
O modelo PER dá apenas uma base para as análises. Diversos outros métodos
qualitativos, quantitativos e mistos são utilizados para gerar informações sobre cada um
dos grupos PER e suas respectivas variáveis e indicadores. O território é um espaço plural
e sua compreensão depende necessariamente de múltiplas lentes conceituais, teóricas e
metodológicas. Mas apesar desse pluralismo o PromoSAT integrará periodicamente todas
as informações coletadas e analisadas, de modo a facilitar a compreensão das interações
desses três grupos informacionais. E, para isso, faz-se essencial a sistematização e a
espacialização de dados, bem como a utilização de um ferramental geotecnológico para
produzir informações e conhecimento.
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Ambiental Rural (SICAR). Parte dos dados também foi adquirida com pesquisadores que
desenvolvem estudos sobre o território ouro-pretano, bem como com a administração
pública local e, em especial, com a diretoria do Plano Diretor de Ouro Preto. Apenas parte
desses dados está publicizada no WebMAPA. A maior parte fica ainda restrita aos
pesquisadores envolvidos no projeto. Está sendo implementada uma curadoria de dados,
por meio da qual as informações são triadas e padronizadas, de modo a permitir análises
e espacializações confiáveis, com baixas margens de erro.
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3 O ESTADO DO TERRITÓRIO
Não existe uma base centralizada de dados sobre o território de Ouro Preto. Para se
entender o que está acontecendo no município é preciso consultar centenas de fontes.
Além disso, tais fontes geralmente trabalham com diferentes objetivos, premissas, recortes
temporais, recortes espaciais e metodologias de análise. A agregação dos dados, nesse
contexto, é um desafio. Raros foram os trabalhos que tentaram integrar e sintetizar tanta
informação. Para mostrar como análise de dados é fundamental para o avanço técnico-
científico, o primeiro ano do PromoSAT já foi capaz de identificar alguns indicadores que
explicam grandes tendências do território. Uma das principais fontes de dados consultadas
para entender condições biofísicas foi a do projeto MapBiomas (MapBiomas, 2022), que
faz mapeamentos anuais do uso e ocupação do solo no Brasil e se tornou uma das mais
influentes ferramentas de monitoramento ambiental da América Latina. Os dados desse
projeto foram organizados na base do PromoSAT e têm permitido uma série de análises
direcionadas para o município de Ouro Preto. Para analisar as condições socioeconômicas,
foram consultadas sobretudo fontes oficiais do governo (e.g., IBGE e bases de órgãos
governamentais). As seções seguintes destacam algumas dessas análises.
Cumpre destacar que o uso e a ocupação do solo variam muito no território. Por exemplo,
as formações florestais são particularmente acentuadas no distrito de São Bartolomeu,
onde existem importantes unidades de conservação ambiental. A mineração, sobretudo de
ferro a céu aberto, é acentuada nos distritos de Miguel Burnier e de Antônio Pereira. A
silvicultura está fortemente concentrada no distrito de Santa Rita de Ouro Preto. E as áreas
urbanas concentram-se no distrito sede, Cachoeira do Campo, Amarantina e Antônio
Pereira.
Na atual fase do PromoSAT ainda não foi possível refinar a análise dessas categorias de
cobertura da terra. Por exemplo, os tipos e proporções de florestas e formações campestres
(e.g., matas primárias, capoeiras, campo rupestre, cerrado, etc.) ainda não foram
devidamente qualificados e quantificados. Também estão em andamento análises das
‘manchas’ urbanas e da infraestrutura viária.
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Na verdade, do ponto de vista técnico, tais áreas foram calculadas com base em classificações supervisionadas de um mosaico
agregado de imagens de satélite com resolução espacial de 30 metros, que são compiladas para revelar o território ‘médio’, sem
cobertura de nuvens, num ano específico.
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de dados, existem alguns indicadores que funcionam como ‘proxies’ de grande quantidade
de dados. Por exemplo, a cobertura florestal de um território é um indicador indireto da
fauna, da flora e outras variáveis físicas, como solo e água.
Dados do MapBiomas indicam que a cobertura florestal tem caído anualmente no Brasil.
Entre 1985 e 2020, o território brasileiro perdeu quase 13% das suas florestas, em razão
do avanço de atividades como a agropecuária que, no mesmo período, avançou em quase
45%. Situação semelhante está acontecendo em Ouro Preto, embora, como se verá mais
adiante no relatório, as pressões antrópicas são mais diversas.
Entre 1985 e 2020, Ouro Preto perdeu 3.188,72 ha de florestas (Figura 7), área 3 vezes
maior do que toda área urbana da sede municipal ou cerca de 80% de toda a área do
distrito de Lavras Novas. O ritmo de desmatamento dos últimos 36 anos (cerca de 90 ha
por ano) é, muito provavelmente, o maior da história ouro-pretana. Mantida essa tendência,
os próximos 300 anos do município poderia testemunhar a destruição de metade de suas
florestas. Junto com as florestas, Ouro Preto perderia grande parte da sua fauna, flora e
serviços ecossistêmicos. Ou seja, trata-se de um indicador alarmante que demanda
atenção do poder público e de toda a população.
Do ponto de vista dos recursos hídricos, a quantidade de água superficial, refletida na área
dos cursos d’água superficiais, é outro indicador que funciona como um ‘proxy’ de diversas
outras variáveis biofísicas. Entre 1985 e 2020, o Brasil perdeu quase 4% da sua água
superficial continental. E, em Ouro Preto a situação aparentar ser pior. Nesse mesmo
período, conforme mostra a Figura 8 que é baseada em dados do MapBiomas, o território
Ouro-pretano perdeu quase 50% da sua área de corpos d’água superficiais.
As causas dessa perda ainda não estão claras, mas podem estar relacionadas à influência
acumulada da crescente atividade minerária no território, do crescimento das áreas
urbanas, das mudanças climáticas, dentre outros fatores reais. Podem também decorrer
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O IDH de Ouro Preto, seguindo uma tendência regional (similar à de outros municípios
como Mariana e Belo Horizonte), também aumentou significativamente nas últimas
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https://hdr.undp.org/sites/default/files/2018_human_development_statistical_update.pdf
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décadas, saindo de 0,491 (baixo), em 1991, para 0,741 (alto) em 2010 (Figura 9).
Infelizmente, não foram encontrados valores atuais confiáveis de IDH para Ouro Preto. Mas
o comportamento longitudinal do IDH em Ouro Preto indica que tem havido melhorias em
indicadores de saúde, educação e renda na população.
Tais melhorias, porém, não são homogeneamente distribuídas no território. Ouro Preto,
assim como diversos municípios brasileiros, apresenta grande desigualdade
socioeconômica no território. Por exemplo, quando se analisa os setores censitários do
município, percebe-se concentração de renda mais nitidamente em alguns deles.
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Figura 10 - Renda nominal média mensal nos setores censitários de Ouro Preto
(verde claro indica valores mais baixos e vermelho escuro, valores mais altos)
Devido à desatualização do censo do IBGE, realizado pela última vez em 2010, resta muito
incerta a situação socioeconômica do município nos últimos anos. Outras fontes de dados
sugerem que, à exemplo do comportamento macroeconômico do país, pode estar havendo
uma estagnação ou mesmo recessão econômica em anos recentes.
Por exemplo, dados não censitários do Cadastro Central de Empresas sobre o salário
médio mensal em Ouro Preto mostram uma queda de salário médio mensal de 3,4 salários-
mínimos, em 2006, para 3,1 salários-mínimos em 2019, conforme ilustra a Figura 11.
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Ouro Preto, à exemplo do que acontece na escala global e regional, também está passando
por um processo de crescimento demográfico acentuado. Somente nos últimos 50 anos,
conforme ilustra a Figura 12, a população cresceu mais do que 60%, passando de cerca
de 46 mil, em 1970, para quase 75 mil em 2019.
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A expansão urbana, todavia, variou muito entre os distritos ouro-pretanos. Glaura e são
Bartolomeu tiveram acréscimos de áreas urbanas relativamente pequenos (< 10 ha) nas
últimas décadas, enquanto o distrito sede e Cachoeira do Campo tiveram expansões da
ordem de centenas de hectares. O quantitativo exato de tais expansões ainda não está
claro. Dados do MapBiomas, baseados em classificações supervisionadas de imagens de
satélite, também indicam grandes expansões de áreas urbanas nos distritos de Miguel
Burnier e de Antônio Pereira. Todavia, ao se confrontar tais áreas com as imagens de
satélite de alta resolução percebe-se que uma proporção relativamente grande dessas
áreas consiste de áreas de mineração que foram equivocadamente classificadas como
áreas urbanas. As expansões urbanas mais claramente identificáveis são aquelas que
ocorreram em Cachoeira do Campo, Amarantina, Santo Antônio do Leite e distrito sede,
conforme ilustra a Figura 14. A sede de Ouro Preto foi a que mais sofreu expansão urbana
desde 1985, havendo um acréscimo acumulado até 2020 de quase mil hectares. Essa
expansão contradiz as diretrizes e zoneamentos do Plano Diretor e da Lei de Uso e
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Figura 14 - Áreas de Expansão Urbana nos distritos de Ouro Preto (1985 – 2020)
Fonte: WebMAPA do PromoSAT com base em dados do MapBiomas 2020 (coleção 6).
Figura 15 - Áreas de Expansão Urbana nas Zonas do Plano Diretor (1985 – 2020)
Fonte: WebMAPA do PromoSAT com base em dados do MapBiomas 2020 (coleção 6).
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A Figura 15 apresenta a expansão urbana desde 1985. Cumpre salientar que a expansão
urbana na Zona de Proteção Especial reduziu significativamente depois de 2011, mas
manteve-se proporcionalmente alta na ZAR2 e ZPAM, dados que sugerem que o Plano
Diretor de Ouro Preto não tem cumprido plenamente sua função de ordenar o território. É
particularmente preocupante a expansão urbana nas zonas de proteção ambiental, pois
estas, além de gerarem supressão de vegetação, coincidem com zonas de risco geotécnico
e de ocorrência de patrimônio espeleológico e arqueológico (ver camada de informação
arqueológica no WebMAPA do PromoSAT-OP). As expansões urbanas também se
concentraram em alguns bairros da sede (veja Figura 16), sobretudo naqueles situados na
porção sul e porção norte que estão em contato com áreas verdes. A caracterização dessas
expansões pode subsidiar ações de educação e fiscalização mais direcionadas por parte
do município.
Fonte: WebMAPA do PromoSAT com base em dados do MapBiomas 2020 (coleção 6).
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Figura 19 - Cronologia das instituições ambientais públicas que atuam em Ouro Preto
Os órgãos ambientais são muito importantes para o meio ambiente, pois eles implementam
de forma direta o planejamento, a gestão e a fiscalização do território. Além disso, os
órgãos ambientais estão à frente da implementação dos instrumentos de política ambiental,
que são imprescindíveis para uso ordenado e sustentável do território. O Brasil tem uma
grande quantidade de leis e respectivos regulamentos voltados para a conservação
ambiental. Dentre os principais marcos da legislação ambiental no Brasil estão os
destacados no Quadro 2.
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Avaliações de eficácia visam entender se os instrumentos estão atingindo seus objetivos principais; enquanto avaliações de eficiência
verificam avanços de natureza administrativa, tais como tempo e custo.
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O município de Ouro Preto abriga, total ou parcialmente, 12 UCs públicas enquadradas nos
grupos de proteção integral e de uso sustentável. Também abriga 6 UCs privadas do tipo
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), e parte da RPPN do Santuário da Serra
do Caraça (Figura 20). A despeito dos objetivos básicos de cada grupo e categoria, UCs
têm como finalidades centrais a preservação, a manutenção e a recuperação de ambientes
naturais que apresentem características relevantes.
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Aproximadamente 12% do território de Ouro Preto é ocupado por UCs de proteção integral
(Quadro 3), que têm uma efetividade de conservação ambiental proporcionalmente
superiores às UCs de uso sustentável e podem em princípio contribuir para o Alvo 11 das
Metas de Aichi estabelecidas no âmbito da Convenção da ONU sobre Diversidade
Biológica. Para o êxito dos objetivos de conservação, as estratégias de gestão do território
devem transcender os limites dos espaços protegidos e de suas zonas de amortecimento
e incluir estratégias socioambientais que, estendidas a todos os distritos, incentivem o
ordenamento urbano, a diversificação de atividades econômicas e a melhoria da qualidade
de vida da população.
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As UCs, APPs e reservas legais constituem reações diretas aos problemas ambientais de
Ouro Preto. Mas existem dezenas de outros instrumentos de controle ambiental, tais como
fiscalizações, licenciamentos ambientais, manifestos de resíduos, inventários de áreas
contaminadas, projetos de recuperação de áreas degradas, etc. O PromoSAT está
compilando e organizando esse conjunto de esforços. Todavia, até o momento, não foram
identificados estudos robustos sobre a eficácia desses instrumentos. De maneira geral, os
instrumentos de política e controle ambiental em Ouro Preto aparentam estar mitigando
(i.e., atenuando a intensidade) dos problemas. A degradação biofísica do território,
discutida nas seções anteriores, demandará reações mais estruturadas e eficazes.
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O município precisa, portanto, tomar as rédeas do seu próprio destino e planejar o uso e a
ocupação do seu território de maneira mais inteligente, com ética intergeracional. O
PromoSAT poderá subsidiar um novo planejamento do território. O fato de o programa estar
institucionalizado em uma universidade o torna pouco vulnerável a vieses partidários e,
principalmente, a mudanças administrativas locais. Planejamento se dá a longo prazo e,
para isso, é preciso insistir em melhorias contínuas, incrementais e, sempre que possível,
transformacionais. As próximas fases do PromoSAT - ao integrar mais dados, análises e
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pessoas em torno de objetivos comuns - poderão mirar objetivos cada vez mais
audaciosos. Por exemplo, espera-se que nos próximos anos, seja possível:
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REFERÊNCIAS
Bebbington, J., Brown, J., & Frame, B. (2007). Accounting technologies and sustainability
assessment models. Ecological Economics, 61, 224-236.
Lei No 6938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente.,
(1981).
Diesendorf, M. (2001). Models of sustainability and sustainable development. International
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Fonseca, A. d. F. C., & Prado Filho, J. F. d. (2006). Um Importante Episódio na História da
Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil: O Controle da Coroa Portuguesa Sobre o
Uso da Água nas Minas de Ouro Coloniais. Revista Brasileira de Recursos Hídricos,
11(3), 5-14.
Lewis, S. L., & Maslin, M. A. (2015). Defining the Anthropocene. Nature, 519(7542), 171-
180. doi:10.1038/nature14258MapBiomas. (2022). MapBiomas v6.0. Retrieved
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