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O ESTADO SOCIOAMBIENTAL DO

TERRITÓRIO OURO-PRETANO
RESULTADOS PRELIMINARES DO PROMOSAT-OP 2022

DEAMB/UFOP:

Alberto Fonseca
Cesar Barella
Guilherme J. C. Gomes

Junho de 2022
Autores
Alberto Fonseca – UFOP
http://lattes.cnpq.br/8103051511528868

Cesar Facão Barella – UFOP


http://lattes.cnpq.br/4863812981386504

Guilherme J. C. Gomes – UFOP


http://lattes.cnpq.br/1437609255681568

Colaboradores Pesquisadores
Clarisse de Oliveira Carmo
Thais Barreto Santana

Colaboradores Institucionais
Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação
Núcleo Gestor da Prefeitura Municipal de Ouro Preto

Como citar este documento:

Fonseca, A; Barella, C. F.; Gomes, G. J. C. O Estado Socioambiental do Território Ouro-


pretano: Resultados Preliminares do PromoSAT-OP 2022. Ouro Preto: Laboratório
Interdisciplinar de Gestão Ambiental (LiGA) / Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Apoio
RESUMO

Ouro Preto é um dos mais conhecidos dos 5570 municípios brasileiros. Essa fama é em grande
medida explicada pelas atrações do centro histórico, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional e considerado Patrimônio Cultural Mundial da Humanidade pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Mas o centro histórico de Ouro Preto
representa uma minúscula fração do território municipal, que tem cerca de 1.245 km 2, área quase
quatro vezes maior do que a da capital do estado, Belo Horizonte.

Ouro Preto tem um vasto patrimônio natural e social que resta parcialmente desconhecido pela
população e pelo público em geral. Este relatório apresenta os resultados preliminares (Fase 1) do
Programa de Monitoramento Socioambiental do Território Ouro-pretano (PromoSAT-OP), que objetiva
analisar as condições e tendências biofísicas e socioeconômicas do município. Com base em uma
abordagem Pressão-Estado-Resposta (PER) de análises de dados geoespaciais, o PromoSAT-OP
revelou os seguintes fatos:

• Entre 1985 e 2020, o território ouro-pretano perdeu cerca de 3.189 hectares de florestas (área
equivalente a cerca de 80% de todo o distrito de Lavras Novas);
• O conjunto de áreas urbanas, de silvicultura e de mineração no território ouro-pretano expandiu
de 2.812 hectares, em 1985, para 9.800 hectares em 2020;
• Análises longitudinais das áreas urbanas revelaram avanços significativos sobre áreas protegidas
e unidades de conservação;
• Zonas sensíveis do Plano Diretor do distrito sede não têm cumprido sua função de ordenar o
território;
• O Índice de Desenvolvimento Humano do município subiu de 0,491 (baixo) em 1991 para 0,741
(alto) em 2010, seguindo uma tendência nacional;
• A mortalidade infantil caiu de 27,28 óbitos por mil nascidos vivos, em 2006, para 9,13 em 2010,
também seguindo uma tendência nacional;
• Indicadores econômicos (e.g., salário médio mensal, arrecadação do executivo municipal, etc.)
sugerem haver estagnação econômica na última década, bem como desproporcionalidade entre
os atuais investimentos socioambientais e as demandas territoriais; e
• Dados preliminares indicam que as unidades de conservação de proteção integral, APPs e
reservas legais podem cobrir cerca de 30% do território municipal em 2022.

Esses e outros resultados, ainda que baseados em análises exploratórias, indicam que o território
ouro-pretano está em um claro processo de degradação biofísica. O aumento populacional e a
expansão das áreas urbanas e das atividades produtivas e industriais, sem o devido planejamento e
controle, têm ocasionado perdas de florestas e de outras formas de vegetação nativa (incluindo sua
fauna e flora), redução da disponibilidade de recursos hídricos, aumento de vulnerabilidade a riscos
geotécnicos, dentre outros impactos adversos. Por outro lado, dados censitários, ainda que
desatualizados, sugerem haver melhorias e/ou estagnação em alguns indicadores socioeconômicos.
Ouro Preto aparenta passar por um processo de troca (ou trade-offs1) entre qualidade ambiental e
ganhos de infraestrutura e de melhorais pontuais socioeconômicas. Apesar da existência de diversas
leis e de instituições locais, estaduais e federais voltadas para questões socioambientais, não está
claro se esse trade-off está se desdobrando em bem-estar para a população.

Os dados preliminares do PromoSAT-OP indicam que as administrações públicas, as empresas e os


cidadãos não têm sido capazes de ocupar, gerir e planejar o território ouro-pretano de maneira
sustentável. As futuras gerações de ouro-pretanos terão menos recursos naturais à sua disposição,
situação que poderá dificultar ainda mais a busca por qualidade de vida. O município precisa, portanto,
tomar as rédeas do seu próprio destino e planejar o uso e a ocupação do seu território de maneira
mais inteligente, com ética intergeracional. As informações apresentadas aqui provêm uma linha de
base para a implementação efetiva (e não apenas retórica) de um planejamento territorial sustentável.

1
O termo trade-off, que não tem equivalente no léxico português, indica um processo de troca no qual um ganho vem
acompanhado de uma perda ou sacrifício.
1

SUMÁRIO

1 BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O TERRITÓRIO OURO-PRETANO 3

2 A METODOLOGIA PROMOSAT 8

2.1 ABORDAGEM FASEADA 8


2.2 O MODELO BASE “PRESSÃO-ESTADO-RESPOSTA” DAS ANÁLISES TERRITORIAIS 9
2.3 BANCO DE DADOS GEOESPACIAL E WEBMAPA 11
2.4 COLETA, AGREGAÇÃO, INTEGRAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS 11

3 O ESTADO DO TERRITÓRIO 13

3.1 CLASSES DE USO E COBERTURA DO SOLO 13


3.2 INDICADORES BIOFÍSICOS CRÍTICOS 14
3.3 INDICADORES SOCIOECONÔMICOS CRÍTICOS 16

4 PRESSÃO ANTRÓPICA SOBRE O TERRITÓRIO 20

4.1 EXPANSÃO DE ÁREAS URBANAS E DE OUTRAS ATIVIDADES POTENCIALMENTE POLUIDORAS 21


4.2 ATIVIDADES INDUSTRIAIS, INTERFERÊNCIAS AMBIENTAIS E PASSIVOS AMBIENTAIS 24

5 RESPOSTAS POLÍTICAS E INSTITUICIONAIS 26

5.1 INSTITUIÇÕES E LEIS FEDERAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS 26


5.2 ÁREAS PROTEGIDAS E DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 28

6 LIÇÕES, IMPLICAÇÕES E PRÓXIMOS PASSOS 32

REFERÊNCIAS 34

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2

Lista de Figuras

Figura 1 - Principais Distritos do Território Ouro-pretano ................................................... 4


Figura 2 - Previsão de Despesas da LOA de Ouro Preto para 2022 por Função de Governo
........................................................................................................................................... 7
Figura 3 - Principais Fases de Implementação do PromoSAT ........................................... 8
Figura 4 - O modelo Pressão-Estado-Resposta (PER) .................................................... 10
Figura 5 - Layout do WebMAPA do PromoSAT................................................................ 11
Figura 6 - Classes de Uso e Cobertura da Terra em Ouro Preto (2020) .......................... 14
Figura 7 - Cobertura de Formações Florestais em Ouro Preto (1985 a 2020) ................. 15
Figura 8 - Perda de Água Superficial em Ouro Preto entre 1985 e 2020 ......................... 16
Figura 9 - Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Ouro Preto e de outros
Municípios Mineiros .......................................................................................................... 17
Figura 10 - Renda nominal média mensal nos setores censitários de Ouro Preto ........... 18
Figura 11 - Salário Médio Mensal de Ouro Preto e de Outros Municípios Mineiros ......... 19
Figura 12 - Evolução da População Residente de Ouro Preto e de Outros Municípios ... 20
Figura 13 - Expansão das áreas urbanas, de mineração e silvicultura no território Ouro-
pretano entre 1985 e 2020 ............................................................................................... 21
Figura 14 - Áreas de Expansão Urbana nos distritos de Ouro Preto (1985 – 2020)......... 22
Figura 15 - Áreas de Expansão Urbana nas Zonas do Plano Diretor (1985 – 2020)........ 22
Figura 16 - Expansão Urbana em Bairros da Sede de Ouro Preto (1985 – 2020) ........... 23
Figura 17 - Mapeamento de áreas de mineração, silvicultura, empreendimentos
potencialmente poluidores, barragens, áreas contaminadas, interferências em recursos
hídricos e passivos ambientais ......................................................................................... 24
Figura 18 - Imagem Aérea do Lixão de Ouro Preto .......................................................... 25
Figura 19 - Cronologia das instituições ambientais públicas que atuam em Ouro Preto .. 27
Figura 20 - Unidades de Conservação no Território de Ouro Preto ................................. 29
Figura 21 - Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais cadastradas no SiCAR
em Ouro Preto (2022) ....................................................................................................... 31

Lista de Quadros

Quadro 1 - Indicadores Socioeconômicos do Território de Ouro Preto .............................. 6


Quadro 2 - Principais marcos da legislação ambiental no Brasil ...................................... 28
Quadro 3 - Área e Domínio das UCs de Proteção Integral em Ouro Preto ...................... 30

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1 BREVE INTRODUÇÃO SOBRE O TERRITÓRIO


OURO-PRETANO
A atual Ouro Preto é um produto ‘pouco’ planejado da Coroa Portuguesa e dos sucessivos
governos, empresários e moradores que geriram e ocuparam seu território nos séculos
passados. O ambiente construído e natural de 2022 não reflete plenamente os sonhos e
expectativas dos antepassados. Embora sempre tenha existido, em alguma medida,
planejamento na cidade, sobretudo nas últimas décadas, as implementações de grande
parte desses planos têm sido ineficazes.

Ouro Preto originou-se da junção de arraiais que bandeirantes portugueses fundaram na


atual serra de Ouro Preto no final do século XVII. Em 1711, esse aglomerado urbano foi
elevado à categoria de vila, ganhando o nome de Vila Rica, e sendo escolhida, em 1720,
para capital da nova capitania de Minas Gerais. Depois da Independência do Brasil em
1823, Vila Rica recebeu o título de Imperial Cidade por D. Pedro I e passou a se chamar
Imperial Cidade de Ouro Preto, permanecendo como capital da província de Minas Gerais
até 1897, quando então perdeu o status de capital para a recém-criada Belo Horizonte.
Devido ao declínio das atividades minerárias e a transferência da capital, ocorreu um
esvaziamento na cidade que inibiu o crescimento e as alterações urbanas, propiciando a
preservação do Centro Histórico de Ouro Preto. Em 1933, Ouro Preto foi elevada a
Patrimônio Nacional e anos depois, em 1938, foi tombada pelo órgão público que hoje é o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 1980, Ouro Preto foi
reconhecida, pelo Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), como Patrimônio Cultural da Humanidade,
corroborando a vocação turística da cidade.

O conjunto arquitetônico do centro histórico de Ouro Preto representa uma minúscula


fração do território municipal, que tem cerca de 1.245 km 2, área quase quatro vezes maior
do que a de Belo Horizonte, capital do estado. Ouro Preto tem um vasto patrimônio natural
e social que resta parcialmente desconhecido pela população e pelo público em geral.
Administrativamente, Ouro Preto é hoje dividida em 12 distritos. Além da sede, integram o
território Amarantina, Antônio Pereira, Cachoeira do Campo, Engenheiro Correia, Glaura,
Lavras Novas, Miguel Burnier, Rodrigo Silva, Santa Rita de Ouro Preto, Santo Antônio do
Leite, Santo Antônio do Salto e São Bartolomeu (Figura 1). Em 2010, ocasião do último
censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população residente no
território ouro-pretano foi estimada em 70.281, estando a maior parte no distrito sede
(35.063), seguida pelos distritos de Cachoeira do Campo (7.575), Antônio Pereira (3.907),
Amarantina (2.824) e Santa Rita de Ouro Preto (1.778).

Outras divisões administrativas utilizadas na cidade incluem os 36 bairros do distrito sede,


bem como diversos subdistritos e lugarejos, tais como Coelhos, Dom Bosco, Catete, Vila
Tropeiro, Rancharia, Botafogo, Soares, Mota, Engenho D'água etc. No planejamento

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urbano da cidade, conforme se discutirá mais adiante nesse relatório, também são
adotadas diversas zonas territoriais2 que dão diretrizes para o uso do solo, incluindo
parâmetros urbanísticos e condições de permeabilidade, edificação e impacto cênico e
ambiental. Além das divisões administrativas do governo local, Ouro Preto, devido ao
tombamento do IPHAN, também é regrada por um zoneamento federal3, que visa preservar
seu Conjunto Arquitetônico e Urbanístico: Área de Preservação Especial (APE), Área de
Preservação (AP) e Área de Preservação Paisagística, Ambiental e Arqueológica
(APARQ). Ouro Preto conta ainda com diversas Unidades de Conservação (UC) de
domínio federal, estadual e municipal. Detalhes dessas UCs são apresentados mais
adiante no relatório.

Figura 1 - Principais Distritos do Território Ouro-pretano

Fonte: WebMAPA do PromoSAT (https://promosatop.ufop.br).

Ouro Preto localiza-se na Serra do Espinhaço e a geologia do seu território é, do ponto de


vista litológico e estrutural, muito diversa. Dentre os maiores supergrupos estão o Minas

2
Ver: LEI COMPLEMENTAR 93/2011 - Uso e Ocupação do Solo; LEI COMPLEMENTAR 91/2010 - Alteração na Lei que estabelece o
Plano Diretor do Município de Ouro Preto; LEI COMPLEMENTAR 29/2006 - Estabelece o Plano Diretor do Município de Ouro Preto; LEI
534/2009 - Regulamenta o art. 58 da Lei Complementar 29/2006
3
Ver: PORTARIA IPHAN Nº 312, DE 20 DE OUTUBRO DE 2010

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(com destaque para o grupo Piracicaba), o Rio das Velhas, o Itacolomi, bem como os
Complexo do Bação e do Santo Antônio do Pirapetinga. Ouro Preto também tem grande
diversidade geomorfológica e sua extensão altimétrica (média de 1179 metros) varia da
cota de, aproximadamente, 700 metros, no distrito de Santo Antônio do Salto, até cerca de
1888 metros, na porção extremo norte do distrito de Antônio Pereira, no maciço rochoso
que leva ao Pico do Coqueiro em Santa Bárbara, que compõe a Serra do Caraça.

O clima em Ouro Preto é o tropical de altitude (Cwb, Köppen-Geiger), cujas chuvas (média
anual de ≈1670 mm) concentram-se no período de outubro a abril, com temperaturas
médias anuais em torno de 18oC. As temperaturas médias mínimas variam de cerca de
8oC no inverno a 16oC no verão; e as máximas de 12oC no inverno a 26oC no verão. Geadas
são comuns em diversas porções do território durante o inverno.

A Serra de Ouro Preto, localizada na porção centro-oeste do território, é um marco histórico


e fisiográfico do município, dividindo duas bacias hidrográficas: a do Rio São Francisco,
mais especificamente sua sub-bacia do Rio das Velhas, e a bacia do Rio Doce, mais
especificamente sua sub-bacia do Ribeirão do Carmo, que se sobrepõe ao Distrito Sede e
seu centro histórico. Numerosos cursos d’água superficiais escorrem pelas bacias ouro-
pretanas. Parte desses córregos contribuíram para nomes de bairros e regiões do território.

Os solos de Ouro Preto também têm grande diversidade, destacando-se seis grandes
categorias: cambissolos háplicos (≈25% do território), latossolos vermelho-amarelos (≈26%
do território), latossolos vermelhos (≈7,6% do território), argilossolos vermelhos (≈11,8% do
território) e neossolo litólicos (≈17,4% do território) que geralmente estão vinculados a
afloramentos rochosos (≈5,1% do território). O mapa pedológico de Ouro Preto encontra-
se disponível no WebMAPA do PromoSAT.

Do ponto de vista socioeconômico, Ouro Preto reflete algumas características típicas de


economias em desenvolvimento da América Latina. É uma cidade de médio porte, que, em
2010, tinha uma população de 70.281 pessoas e densidade demográfica de 56,41 hab/km 2.
A taxa de escolarização de 6 a 14 anos, em 2010, era de 98,8%. A mortalidade infantil, em
2020, era de 9,13 óbitos por mil nascidos vivos. O Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) avançou para 0,741 (alto) em 2010; e o PIB per capita, em 2019, foi
estimado em R$ 42.294,45. Já o salário médio mensal dos trabalhadores formais foi
estimado neste mesmo ano em 3,1 salários-mínimos.

Esses e outros dados socioeconômicos estão dispersos em diversas fontes informacionais.


Todavia, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais
(Fecomércio MG), principal representante do setor terciário no estado, compilou em 2019
diversos indicadores adicionais. Parte deles é destacada no Quadro 1.

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Quadro 1 - Indicadores Socioeconômicos do Território de Ouro Preto


Indicador Ano Valor Fonte
Tribunal Superior
Eleitorado Apto 2019 60.690
Eleitoral (TSE)
Fundo de Participação dos Municípios
2019 R$ 31.191.686 Tesouro Nacional
(FPM)
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos 2019 R$ 28.984.676 Tesouro Nacional
Profissionais da Educação (FUNDEB)
Secretaria de Estado
Arrecadação Tributária 2019 R$ 209.195.514 da Fazenda (SEF) de
MG
Arrecadação de ICMS do Comércio
2017 R$ 5.041 SEF/MG
Varejista
Distribuição do Imposto Sobre Serviços de
2018 R$ 2.156.422 Simples Nacional
Qualquer Natureza
Estabelecimentos Industriais 2018 353 RAIS/MTE
Postos de Trabalho Industriais 2018 5.014 RAIS/MTE
Estabelecimentos Comerciais 2018 991 RAIS/MTE
Postos de Trabalho Comerciais 2018 2.748 RAIS/MTE
Estabelecimentos de Serviços 2018 1.510 RAIS/MTE
Postos de Trabalho de Serviços 2018 4.866 RAIS/MTE
Estabelecimentos de Administração Pública 2018 7 RAIS/MTE
Postos de Trabalho de Administração
2018 4.489 RAIS/MTE
Pública
Estabelecimentos Agropecuários 2018 101 RAIS/MTE
Postos de Trabalho na Agropecuária 2018 176 RAIS/MTE
Estabelecimentos de Saúde Públicos e
2009 130 DATASUS
Privados
Estabelecimentos de Hotéis e Similares 2018 84 RAIS/MTE
Departamento
Frota de veículos 2018 36.937 Nacional de Trânsito
(DENATRAN)
Fonte: Fecomercio MG (2019), https://drive.google.com/file/d/1u39Ts0I7cj_aVU2YaH9-WH9xT_PSr_HS/view?usp=sharing

A Lei Orçamentária Anual (LOA) de Ouro Preto para o exercício de 2022 estimou uma
receita de R$452 milhões e uma despesa de igual importância. As principais rubricas de
despesa por função de governo estão apresentadas na Figura 2.

A maior parte (≈92%) dos R$ 452 milhões do orçamento municipal de 2022 são para cobrir
despesas correntes, incluindo pessoal e encargos sociais. Previu-se apenas R$ 21,02
milhões para investimentos para todas as pastas administrativas municipais em 2022. Tal
valor é absolutamente desproporcional às atribuições socioambientais (e.g., mobilidade,
saneamento, planejamento urbano, saúde, educação, etc.) do governo municipal, que
precisa investir em diversas porções de um território de 1.245 km2.

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Figura 2 - Previsão de Despesas da LOA de Ouro Preto para 2022 por Função de
Governo
R$ - R$ 50,000,000 R$ 100,000,000 R$ 150,000,000

Saúde R$ 126,799,128
Educação R$ 100,885,354
Administração R$ 76,690,572
Urbanismo R$ 27,313,700
Legislativa R$ 22,620,000
Encargos Especiais R$ 20,188,826
Assistência Social R$ 16,507,493
Transporte R$ 11,642,118
Gestão Ambiental R$ 9,193,872
Habitação R$ 7,232,793
Cultura R$ 7,082,180
Segurança Pública R$ 6,289,319
Energia R$ 4,450,000
Agricultura R$ 4,025,677
Comércio e Serviços R$ 3,193,500
Essencial à Justiça R$ 2,335,767
Previdência Social R$ 2,317,500
Desporto e Lazer R$ 1,328,200
Reserva de Contingência R$ 750,000
Direitos da Cidadania R$ 432,000
Ciência e Tecnologia R$ 277,000
Comunicações R$ 243,001
Judiciária R$ 202,000

Fonte: Lei Municipal 1.259 de 22 de dezembro de 2022

A pequena capacidade de investimento da Prefeitura de Ouro Preto fica clara quando


comparada a de empresas privadas. Por exemplo, algumas mineradoras de grande porte
no município têm investimentos anuais da ordem de bilhões de reais, apesar das limitadas
responsabilidades territoriais. A União, o governo de Minas Gerais, dentre outros agentes,
também contribuem com investimentos socioambientais em Ouro Preto. Entretanto, tais
esforços, conforme se verá nas seções seguintes, não têm alterado a tendência de
degradação biofísica do território. Nesse contexto, o município precisará aperfeiçoar sua
capacidade de planejamento territorial com base em informações claras, objetivas e
confiáveis. Esse objetivo poderá ser potencializado com a nova plataforma de análises
socioambientais do PromoSAT.

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2 A METODOLOGIA PROMOSAT

2.1 Abordagem Faseada


O Programa de Monitoramento Socioambiental do Território (PromoSAT), ora em
implementação em Ouro Preto, nasceu para integrar esforços da universidade e da
administração pública local em prol da qualidade socioambiental do território - para as
presentes e futuras gerações. Para atingir esse objetivo, planejou-se um programa de longo
prazo que, gradativamente, mobilize diferentes partes interessadas em torno de objetivos
específicos complementares e cada vez mais ambiciosos. O programa prevê quatro fases
principais conforme mostra a Figura 3.

Figura 3 - Principais Fases de Implementação do PromoSAT

Fonte: Autoria própria.

Na primeira fase (2021 - 2022), o PromoSAT focou na criação de um banco de dados e de


um WebMAPA (https://promosatop.ufop.br) para integrar as informações secundárias
disponíveis sobre o território ouro-pretano. Os dados foram extraídos de diversas fontes
públicas e trabalhadas de forma preliminar para viabilizar a construção de um WebMAPA
acessível para a toda a população. O atual banco de dados já permitiu algumas análises
exploratórias sobre o estado do território e as principais pressões antrópicas sobre ele. Os
resultados preliminares dessa análise exploratória são brevemente divulgados nas seções
seguintes.

Na segunda fase (2022 - 2023), o programa continuará fortalecendo o banco de dados e o


WebMAPA, além de dar continuidade a diversos tipos de análises exploratórias. Com base
da linha de base4 gerada na primeira fase, também serão conduzidas algumas pesquisas
pontuais de caráter mais inferencial tentando prever alterações futuras no território.

4
Linha de base é um jargão técnico utilizado em avaliações de impacto para descrever as condições do território numa condição base,
ou seja, condições anteriores a mudanças futuras. O PromoSAT permitirá comparações das futuras condições do território de Ouro Preto
(e.g., em 2023, 2024) com a situação aqui relatada.

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Também se pretende, nessa fase, começar a treinar alguns setores da prefeitura para
utilizar o PromoSAT nas suas rotinas. E, finalmente, a fase 2 divulgará um relatório anual
e relatórios específicos, focados em temas pontuais.

Na terceira fase (2023 - 2024), o programa, além das atividades de rotina das fases 1 e 2,
deverá incorporar imagens de satélite e de drone de alta resolução, viabilizando a geração
de alertas mais confiáveis de tendência negativa (e.g., ocupação de áreas susceptíveis a
processos geodinâmicos, invasões de áreas protegidas, irregularidades de ocupação em
zonas do plano diretor). Pretende-se, ainda, sensibilizar a prefeitura para utilizar o
WebMAPA e suas funcionalidades na rotina administrativa de alguns setores.

Na quarta fase (2024 - adiante), o programa deverá se sofisticar para ser capaz de avaliar
impactos ambientais cumulativos na região, diversificar os temas de análise e os tipos de
alerta, além de se tornar um instrumento institucionalizado da UFOP e do poder público
local.

Todas essas fases contarão com a liderança e o apoio técnico-acadêmico em tempo


integral de docentes e discentes de diversas áreas acadêmicas da UFOP. Prevê-se a
participação de analistas e gestores externos mais adiante no programa, quando os dados
e métodos de trabalho estiverem suficientemente amadurecidos para viabilizar o uso
rotineiro, legal e estável das informações na prática da administração pública. Na fase 1,
que trabalha com dados secundários gerados por terceiros, existem diversas limitações de
escala e imprecisões nos dados (e.g., falta ou conflito de projeções, tabelas de atributos
incompletas, etc.). Deve-se, portanto, utilizar os dados do atual WebMAPA com cautela.

2.2 O Modelo Base “Pressão-estado-


resposta” das Análises Territoriais
A literatura acadêmica oferece diversas abordagens metodológicas para se fazer análises
territoriais (Bebbington, Brown, & Frame, 2007; Diesendorf, 2001; Ness, Urbel-Piirsalu,
Anderberg, & Olsson, 2007; Smeets & Weterings, 1999). Não há qualquer consenso sobre
qual abordagem é melhor ou pior, pois cada contexto decisório permite o uso de diversas
abordagens e respectivas adaptações. Para o contexto de análises do território onde se
pretende identificar e avaliar causalidades e interações entre as condições do território e
os seus respectivos atores, uma das abordagens mais utilizadas em todo o mundo é a
Pressão-Estado-Resposta (PER). Originalmente concebido por Anthony Friend e David
Rapport (OECD, 2004; Rapport & Friend, 1979), o modelo PER tem sido utilizado desde o
final da década de 1970 por diversas instituições públicas e privadas, incluindo as Nações
Unidas e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD)
(Wang, Lu, Li, & Ni, 2021).

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10

O PromoSAT adotou o modelo PER para embasar suas análises tendo em vista a
coerência conceitual e instrumental desse modelo, que fica refletida na sua disseminação
mundial. De acordo com esse modelo, existem pelo menos três grupos de variáveis ou
indicadores essenciais para se compreender o território no espaço e no tempo: 1) as
pressões antrópicas, ou seja, as atividades humanas (e.g., urbanização, agricultura,
transporte, indústria etc.) que utilizam recursos naturais e geram emissões, resíduos e
efluentes que afetam adversamente o território; 2) o estado, ou seja, as características dos
meios físicos, bióticos e econômicos que sustentam a vida; e 3) as respostas, ou seja, as
políticas, atividades e ações públicas e privadas voltadas para controlar a interação do
homem com o seu ambiente. Esses três grupos, conforme ilustra a Figura 4, estão em
constante interação.

Figura 4 - O modelo Pressão-Estado-Resposta (PER)

Fonte: Adaptado de OECD (2004)

As condições do território (estado) são afetadas pelas pressões antrópicas sobre ele, bem
como pelas respostas que agentes públicos e privados dão a essa relação. Similarmente,
as respostas dos agentes às condições do território dependem de diversas informações
sobre as pressões e as condições do meio ambiente.

O modelo PER dá apenas uma base para as análises. Diversos outros métodos
qualitativos, quantitativos e mistos são utilizados para gerar informações sobre cada um
dos grupos PER e suas respectivas variáveis e indicadores. O território é um espaço plural
e sua compreensão depende necessariamente de múltiplas lentes conceituais, teóricas e
metodológicas. Mas apesar desse pluralismo o PromoSAT integrará periodicamente todas
as informações coletadas e analisadas, de modo a facilitar a compreensão das interações
desses três grupos informacionais. E, para isso, faz-se essencial a sistematização e a
espacialização de dados, bem como a utilização de um ferramental geotecnológico para
produzir informações e conhecimento.

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2.3 Banco de Dados Geoespacial e WebMAPA


Um dos principais componentes do PromoSAT é uma base geoespacial de informações
biofísicas e socioeconômicas do território. Tal base foi estruturada por docentes da UFOP
e parte dela foi disponibilizada em formato interativo webgis, que consiste no WebMAPA
PromoSAT, disponível em https://promosatop.ufop.br, cujo layout pode ser visto na Figura
5.
Figura 5 - Layout do WebMAPA do PromoSAT

Fonte: WebMAPA do PromoSAT (https://promosatop.ufop.br).

No WebMAPA do PromoSAT, a população ouro-pretana, incluindo seus gestores, poderão:


1) consultar, visualizar e fazer download de diversos mapas e tabelas de dados; 2) criar e
customizar seus próprios mapas utilizando diversos tipos de bases e recortes e
zoneamentos territoriais; 3) exportar mapas e dados em diferentes formatos; 4) analisar e
calcular distâncias e áreas; 5) fazer download dos relatórios periódicos do estado
socioambiental de Ouro Preto; dentre mais. O WebMAPA está em constante evolução. Um
dos objetivos do PromoSAT é a revisão e ampliação contínua dos dados espaciais.

2.4 Coleta, Agregação, Integração e Análise


de Dados
Um grande volume de dados biofísicos e socioeconômicos está sendo coletado, revisado
e agregado. Na fase 1, foram coletas informações de diversas bases públicas, tais como:
IBGE; MapBiomas; Infraestrutura de Dados Espaciais do Sistema Estadual de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (IDE-Sisema); Agência Nacional de Mineração (ANM);
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA); e Sistema Nacional de Cadastro

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12

Ambiental Rural (SICAR). Parte dos dados também foi adquirida com pesquisadores que
desenvolvem estudos sobre o território ouro-pretano, bem como com a administração
pública local e, em especial, com a diretoria do Plano Diretor de Ouro Preto. Apenas parte
desses dados está publicizada no WebMAPA. A maior parte fica ainda restrita aos
pesquisadores envolvidos no projeto. Está sendo implementada uma curadoria de dados,
por meio da qual as informações são triadas e padronizadas, de modo a permitir análises
e espacializações confiáveis, com baixas margens de erro.

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3 O ESTADO DO TERRITÓRIO
Não existe uma base centralizada de dados sobre o território de Ouro Preto. Para se
entender o que está acontecendo no município é preciso consultar centenas de fontes.
Além disso, tais fontes geralmente trabalham com diferentes objetivos, premissas, recortes
temporais, recortes espaciais e metodologias de análise. A agregação dos dados, nesse
contexto, é um desafio. Raros foram os trabalhos que tentaram integrar e sintetizar tanta
informação. Para mostrar como análise de dados é fundamental para o avanço técnico-
científico, o primeiro ano do PromoSAT já foi capaz de identificar alguns indicadores que
explicam grandes tendências do território. Uma das principais fontes de dados consultadas
para entender condições biofísicas foi a do projeto MapBiomas (MapBiomas, 2022), que
faz mapeamentos anuais do uso e ocupação do solo no Brasil e se tornou uma das mais
influentes ferramentas de monitoramento ambiental da América Latina. Os dados desse
projeto foram organizados na base do PromoSAT e têm permitido uma série de análises
direcionadas para o município de Ouro Preto. Para analisar as condições socioeconômicas,
foram consultadas sobretudo fontes oficiais do governo (e.g., IBGE e bases de órgãos
governamentais). As seções seguintes destacam algumas dessas análises.

3.1 Classes de Uso e Cobertura do Solo


Dados mais recentes (2020) de cobertura do solo evidenciam que a maior parte (> 63%)
de Ouro Preto ainda é constituída por formações naturais florestais e campestres.
Ocupações antrópicas (e.g., agricultura e pastagem, silvicultura, mineração e áreas
urbanas) englobam cerca de 31% do território. Os quantitativos de tais áreas são
apresentados na Figura 6.

Cumpre destacar que o uso e a ocupação do solo variam muito no território. Por exemplo,
as formações florestais são particularmente acentuadas no distrito de São Bartolomeu,
onde existem importantes unidades de conservação ambiental. A mineração, sobretudo de
ferro a céu aberto, é acentuada nos distritos de Miguel Burnier e de Antônio Pereira. A
silvicultura está fortemente concentrada no distrito de Santa Rita de Ouro Preto. E as áreas
urbanas concentram-se no distrito sede, Cachoeira do Campo, Amarantina e Antônio
Pereira.

Na atual fase do PromoSAT ainda não foi possível refinar a análise dessas categorias de
cobertura da terra. Por exemplo, os tipos e proporções de florestas e formações campestres
(e.g., matas primárias, capoeiras, campo rupestre, cerrado, etc.) ainda não foram
devidamente qualificados e quantificados. Também estão em andamento análises das
‘manchas’ urbanas e da infraestrutura viária.

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Figura 6 - Classes de Uso e Cobertura da Terra em Ouro Preto (2020)

Fonte: Baseado em dados do MapBiomas, Coleção 6, 2020 ( https://mapbiomas.org).

Os dados apresentados na Figura 6 revelam uma ‘fotografia recente’5 do território. Para


compreender melhor o que acontece no município é preciso adotar uma lente longitudinal,
como fazem as seções seguintes.

3.2 Indicadores Biofísicos Críticos


As condições biofísicas do município incluem diversos tipos de dados, tais como geologia,
solos, recursos hídricos superficial e subterrâneo, árvores, arbustos, gramíneas, lianas,
mastofauna, herpetofauna, avifauna, ictiofauna, dentre mais. Apesar da grande diversidade

5
Na verdade, do ponto de vista técnico, tais áreas foram calculadas com base em classificações supervisionadas de um mosaico
agregado de imagens de satélite com resolução espacial de 30 metros, que são compiladas para revelar o território ‘médio’, sem
cobertura de nuvens, num ano específico.

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de dados, existem alguns indicadores que funcionam como ‘proxies’ de grande quantidade
de dados. Por exemplo, a cobertura florestal de um território é um indicador indireto da
fauna, da flora e outras variáveis físicas, como solo e água.

Dados do MapBiomas indicam que a cobertura florestal tem caído anualmente no Brasil.
Entre 1985 e 2020, o território brasileiro perdeu quase 13% das suas florestas, em razão
do avanço de atividades como a agropecuária que, no mesmo período, avançou em quase
45%. Situação semelhante está acontecendo em Ouro Preto, embora, como se verá mais
adiante no relatório, as pressões antrópicas são mais diversas.

Entre 1985 e 2020, Ouro Preto perdeu 3.188,72 ha de florestas (Figura 7), área 3 vezes
maior do que toda área urbana da sede municipal ou cerca de 80% de toda a área do
distrito de Lavras Novas. O ritmo de desmatamento dos últimos 36 anos (cerca de 90 ha
por ano) é, muito provavelmente, o maior da história ouro-pretana. Mantida essa tendência,
os próximos 300 anos do município poderia testemunhar a destruição de metade de suas
florestas. Junto com as florestas, Ouro Preto perderia grande parte da sua fauna, flora e
serviços ecossistêmicos. Ou seja, trata-se de um indicador alarmante que demanda
atenção do poder público e de toda a população.

Figura 7 - Cobertura de Formações Florestais em Ouro Preto (1985 a 2020)

Fonte: Baseado em dados do MapBiomas Coleção 6 2020.

Do ponto de vista dos recursos hídricos, a quantidade de água superficial, refletida na área
dos cursos d’água superficiais, é outro indicador que funciona como um ‘proxy’ de diversas
outras variáveis biofísicas. Entre 1985 e 2020, o Brasil perdeu quase 4% da sua água
superficial continental. E, em Ouro Preto a situação aparentar ser pior. Nesse mesmo
período, conforme mostra a Figura 8 que é baseada em dados do MapBiomas, o território
Ouro-pretano perdeu quase 50% da sua área de corpos d’água superficiais.

As causas dessa perda ainda não estão claras, mas podem estar relacionadas à influência
acumulada da crescente atividade minerária no território, do crescimento das áreas
urbanas, das mudanças climáticas, dentre outros fatores reais. Podem também decorrer

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de imprecisões metodológicas do MapBiomas, que trabalhou com escala espacial de 30


metros, a qual tem baixa precisão para se detectar alterações em curso d’água de pequeno
porte. Análises mais refinadas serão conduzidas nos próximos anos para minimizar as
incertezas sobre as reais condições da disponibilidade hídrica superficial em Ouro Preto.

Figura 8 - Perda de Água Superficial em Ouro Preto entre 1985 e 2020

Fonte: Baseado em dados do MapBiomas Coleção 6 2020 (https://mapbiomas.org)

Na base de dados do PromoSAT e seu respectivo WebMAPA existem diversos outros


indicadores do estado biofísico do território, tais como, cartas geológicas, pedológicas,
hidrografia, dentre mais.

3.3 Indicadores Socioeconômicos Críticos


O meio socioeconômico, assim como o meio biofísico, é muito complexo e diverso,
incluindo temas relacionados à demografia, saúde, educação, trabalho, renda, receitas e
despesas, produção, etc. Todavia, alguns indicadores são críticos para se entender
grandes tendências sobre a população que ocupa o território.

Um desses principais indicadores é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que é um


conjunto agregado e de indicadores de educação, saúde e renda normalizados em uma
escala de 0 a 1 com quatro faixas (< 0,550: Baixo | 0,550 - 0,699: Médio | 0,700 - 0,799:
Alto | >= 0,800: Muito Alto). O IDH do Brasil, assim como o de diversos países da América
Latina, tem subido há décadas, alcançando 0,759 em 20176, valor, todavia, inferior ao de
diversos países da América Latina (e.g., Chile, Argentina, México, etc.).

O IDH de Ouro Preto, seguindo uma tendência regional (similar à de outros municípios
como Mariana e Belo Horizonte), também aumentou significativamente nas últimas

6
https://hdr.undp.org/sites/default/files/2018_human_development_statistical_update.pdf

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17

décadas, saindo de 0,491 (baixo), em 1991, para 0,741 (alto) em 2010 (Figura 9).
Infelizmente, não foram encontrados valores atuais confiáveis de IDH para Ouro Preto. Mas
o comportamento longitudinal do IDH em Ouro Preto indica que tem havido melhorias em
indicadores de saúde, educação e renda na população.

Figura 9 - Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Ouro Preto e de


outros Municípios Mineiros

Fonte: IBGE Cidades (2022)

Tais melhorias, porém, não são homogeneamente distribuídas no território. Ouro Preto,
assim como diversos municípios brasileiros, apresenta grande desigualdade
socioeconômica no território. Por exemplo, quando se analisa os setores censitários do
município, percebe-se concentração de renda mais nitidamente em alguns deles.

Uma das camadas de dados socioeconômicas disponíveis no WebMAPA do PromoSAT


ilustra tal fenômeno, conforme pode ser visto na Figura 10. Em 2010, enquanto no bairro
Vila dos Engenheiros (Sede) e no condomínio Tripuí (Amarantina), a renda nominal média
mensal do responsável era de aproximadamente R$ 7 mil e R$3,7 mil respectivamente,
outros setores censitários, localizados, por exemplo, nos bairros 13 de Maio, Piedade,
Morro Santana, Taquaral e Santa Cruz apresentaram rendas inferiores a R$ 1 mil mensal.

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Figura 10 - Renda nominal média mensal nos setores censitários de Ouro Preto
(verde claro indica valores mais baixos e vermelho escuro, valores mais altos)

Fonte: WebMAPA do PromoSAT (https://promosatop.ufop.br).

Devido à desatualização do censo do IBGE, realizado pela última vez em 2010, resta muito
incerta a situação socioeconômica do município nos últimos anos. Outras fontes de dados
sugerem que, à exemplo do comportamento macroeconômico do país, pode estar havendo
uma estagnação ou mesmo recessão econômica em anos recentes.

Por exemplo, dados não censitários do Cadastro Central de Empresas sobre o salário
médio mensal em Ouro Preto mostram uma queda de salário médio mensal de 3,4 salários-
mínimos, em 2006, para 3,1 salários-mínimos em 2019, conforme ilustra a Figura 11.

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Figura 11 - Salário Médio Mensal de Ouro Preto e de Outros Municípios Mineiros

Fonte: Cadastro Central de Empresas (IBGE Cidades, 2022)

Na base de dados do PromoSAT e seu respectivo WebMAPA existem diversos outros


indicadores do estado socioeconômico dos municípios. Tais indicadores serão
frequentemente atualizados e analisados para futuras divulgações.

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4 PRESSÃO ANTRÓPICA SOBRE O TERRITÓRIO


O meio ambiente é um sistema complexo cujos componentes interagem em diferentes
escalas temporais e espaciais. A dinâmica desse sistema pode ser alterada por diversos
fatores naturais e antrópicos. O aumento significativo da população mundial, sobretudo a
partir da segunda metade do século 20, tornou-se uma das principais causas das
alterações ambientais no planeta. A interferência do homem nos sistemas naturais é tão
forte que diversos pesquisadores têm argumentado que estamos vivendo o “antropoceno”,
isto é, uma nova era geológica na qual o homem é o principal fator de mudança planetária
(Lewis, 2015).

Ouro Preto, à exemplo do que acontece na escala global e regional, também está passando
por um processo de crescimento demográfico acentuado. Somente nos últimos 50 anos,
conforme ilustra a Figura 12, a população cresceu mais do que 60%, passando de cerca
de 46 mil, em 1970, para quase 75 mil em 2019.

Figura 12 - Evolução da População Residente de Ouro Preto e de Outros Municípios

Fonte: IBGE Cidades (2022)

O crescimento demográfico em Ouro Preto veio acompanhado do crescimento de


atividades industriais, agricultura, infraestrutura e expansões de áreas urbanas. Tal
fenômeno exerce uma pressão significativa sobre os recursos naturais do município,
conforme destacam as seções seguintes.

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4.1 Expansão de Áreas Urbanas e de outras


Atividades Potencialmente Poluidoras
Dentre as principais pressões sobre o território ouro-pretano estão as expansões das áreas
urbanas, de mineração e silvicultura. Conforme ilustra a Figura 13, conjunto dessas áreas
em Ouro Preto expandiu de 2.812 hectares, em 1985, para 9.800 hectares em 2020. Ou
seja, a taxa de crescimento de áreas antropizadas foi proporcionalmente maior do que o
crescimento demográfico do município. Isso reflete uma série de fatores, tais como
aumento do consumismo, incentivos industriais e dinâmicas regionais de produção e
consumo.

Figura 13 - Expansão das áreas urbanas, de mineração e silvicultura no território Ouro-


pretano entre 1985 e 2020

Fonte: Baseado em dados do MapBiomas, Coleção 6, 2020 (https://mapbiomas.org).

A expansão urbana, todavia, variou muito entre os distritos ouro-pretanos. Glaura e são
Bartolomeu tiveram acréscimos de áreas urbanas relativamente pequenos (< 10 ha) nas
últimas décadas, enquanto o distrito sede e Cachoeira do Campo tiveram expansões da
ordem de centenas de hectares. O quantitativo exato de tais expansões ainda não está
claro. Dados do MapBiomas, baseados em classificações supervisionadas de imagens de
satélite, também indicam grandes expansões de áreas urbanas nos distritos de Miguel
Burnier e de Antônio Pereira. Todavia, ao se confrontar tais áreas com as imagens de
satélite de alta resolução percebe-se que uma proporção relativamente grande dessas
áreas consiste de áreas de mineração que foram equivocadamente classificadas como
áreas urbanas. As expansões urbanas mais claramente identificáveis são aquelas que
ocorreram em Cachoeira do Campo, Amarantina, Santo Antônio do Leite e distrito sede,
conforme ilustra a Figura 14. A sede de Ouro Preto foi a que mais sofreu expansão urbana
desde 1985, havendo um acréscimo acumulado até 2020 de quase mil hectares. Essa
expansão contradiz as diretrizes e zoneamentos do Plano Diretor e da Lei de Uso e

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Ocupação do Solo, tendo em vista que as maiores expansões se deram em zonas de


adensamento restrito, proteção especial e proteção ambiental, conforme ilustra a Figura
15. A zona que teve menos expansão urbana foi, ironicamente, a zona para expansão
urbana (Figura 15).

Figura 14 - Áreas de Expansão Urbana nos distritos de Ouro Preto (1985 – 2020)

Fonte: WebMAPA do PromoSAT com base em dados do MapBiomas 2020 (coleção 6).

Figura 15 - Áreas de Expansão Urbana nas Zonas do Plano Diretor (1985 – 2020)

Fonte: WebMAPA do PromoSAT com base em dados do MapBiomas 2020 (coleção 6).

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A Figura 15 apresenta a expansão urbana desde 1985. Cumpre salientar que a expansão
urbana na Zona de Proteção Especial reduziu significativamente depois de 2011, mas
manteve-se proporcionalmente alta na ZAR2 e ZPAM, dados que sugerem que o Plano
Diretor de Ouro Preto não tem cumprido plenamente sua função de ordenar o território. É
particularmente preocupante a expansão urbana nas zonas de proteção ambiental, pois
estas, além de gerarem supressão de vegetação, coincidem com zonas de risco geotécnico
e de ocorrência de patrimônio espeleológico e arqueológico (ver camada de informação
arqueológica no WebMAPA do PromoSAT-OP). As expansões urbanas também se
concentraram em alguns bairros da sede (veja Figura 16), sobretudo naqueles situados na
porção sul e porção norte que estão em contato com áreas verdes. A caracterização dessas
expansões pode subsidiar ações de educação e fiscalização mais direcionadas por parte
do município.

Figura 16 - Expansão Urbana em Bairros da Sede de Ouro Preto (1985 – 2020)

Fonte: WebMAPA do PromoSAT com base em dados do MapBiomas 2020 (coleção 6).

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4.2 Atividades Industriais, Interferências


Ambientais e Passivos Ambientais
Diversos outros fatores, além da expansão das áreas urbanas, exercem pressão sobre o
território ouro-pretano. Dentre esses, destacam-se as atividades industriais. No caso de
Ouro Preto, ganham destaque a mineração (sobretudo a mineração de ferro a céu aberto)
e a silvicultura (cultivo de florestas de eucalipto). Conforme mostrado anteriormente na
Figura 13, as áreas de mineração e de silvicultura no território ouro-pretano aumentaram
de 951 ha e 563 ha respectivamente, em 1985, para 2543 ha e 5080 ha em 2020. Ou seja,
a ocupação desses dois tipos de atividades industriais no território aumentou em mais de
5 vezes nos últimos 36 anos, um fenômeno que ocorreu sobretudo nos distritos de Miguel
Burnier e Antônio Pereira, no caso da Mineração, e em Santa Rita de Ouro Preto, no caso
da silvicultura. A Figura 17 compila tais dados; para entender as legendas, sugere-se
consultar o WebMAPA do PromoSAT-OP.

Figura 17 - Mapeamento de áreas de mineração, silvicultura, empreendimentos


potencialmente poluidores, barragens, áreas contaminadas, interferências em recursos
hídricos e passivos ambientais

Fonte: WebMAPA do PromoSAT (https://promosatop.ufop.br).

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Além da mineração e da silvicultura, centenas de empreendimentos de pequeno e médio


porte ocupam o território de Ouro Preto com potencial de degradação ambiental. Também
se acumulam em Ouro Preto diversas barragens de rejeito, áreas contaminadas por
resíduos industriais, interferências significantes em recursos hídricos e passivos
ambientais, à exemplo do aterro não controlado (lixão) de resíduos sólidos urbanos de Ouro
Preto que fica na porção oeste do distrito sede em área adjacente ao distrito de Rodrigo
Silva conhecida como Rancharia (Figura 18), que está visualizável no WebMAPA do
PromoSAT-OP.

Figura 18 - Imagem Aérea do Lixão de Ouro Preto

Fonte: Arquivo Primus Drone (https://www.instagram.com/primus_drone)

Grande parte dessas atividades e interferências ambientais foram mapeadas no PromoSAT


e podem ser visualizadas no WebMAPA. A Figura 17 ilustra a localização e a dispersão de
tais áreas, atividades industriais e interferências ambientais no território ouro-pretano. O
WebMAPA do PromoSAT será um ambiente para visualização de áreas contaminadas e
passivos ambientais no município. Diversas áreas contaminadas já foram cadastradas,
porém poucos passivos ambientais foram mapeados, o que abre uma enorme oportunidade
de contribuição do PromoSAT. Dentre os problemas de contaminação existente, destacam
aqueles relacionados a antigos lançamentos de rejeitos da indústria do alumínio. Esses
lançamentos contribuíram para a contaminação do solo e água subterrânea em vários
pontos da cidade, mais notadamente, os bairros Cabeças e Pocinho. Apesar de esforços
para a remediação dessas áreas contaminadas, ainda há passivos ambientais espalhados
pelo município. Outras fontes de contaminação incluem postos de combustíveis que
liberam derivados do petróleo sobre o solo e o referido lixão da cidade.

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5 RESPOSTAS POLÍTICAS E INSTITUICIONAIS


Os problemas socioambientais sempre despertaram reações sociais na humanidade. Ao
longo da história são inúmeros os exemplos de ações públicas e domésticas de controle e
fiscalização da natureza e dos recursos naturais. Ouro Preto é testemunha desse processo.
A corrida do ouro no século XVIII gerou conflitos por acesso não apenas a recursos
minerais, mas também a recursos hídricos (imprescindíveis para a mineração aurífera) e
lenha (imprescindível para as vicissitudes das embrionárias vilas). A Coroa Portuguesa
reagiu a tais conflitos com a instituição de regramentos e sanções, incluindo um pioneiro
sistema de autorização de captação de recursos hídricos na década de 1720 (Fonseca &
Prado Filho, 2006).

As reações sociais aos problemas socioambientais multiplicaram-se nas últimas décadas.


A explosão demográfica, a escassez de recursos naturais e a crescente poluição do solo,
do ar e da água estão impondo à humanidade uma nova ética civilizatória, na qual o
desenvolvimento econômico não pode se dar a ‘qualquer custo’. Espera-se, cada vez mais,
que o desenvolvimento seja sustentável, ou seja, que o crescimento das economias venha
acompanhado de qualidade ambiental e de equidade e responsabilidade social para as
presentes e futuras gerações (WCED, 1987).

O discurso do desenvolvimento sustentável tornou-se comum nas esferas públicas e


privadas. Mas ainda é controversa a operacionalização desse conceito. A promoção da
sustentabilidade demanda a criação e articulação de diversos instrumentos nas escalas
locais, regionais, nacionais e globais. Isso está acontecendo em alguma medida, mas,
como ilustra o contexto ouro-pretano, ainda vivemos uma época de criação de iniciativas,
mais do que de colheita de resultados.

5.1 Instituições e Leis Federais, Estaduais e


Municipais
Uma das mais (senão ‘a mais’) fundamentais formas de reação a problemas
socioambientais que existe é a criação de instituições e leis. As instituições do passado
foram criadas para outro contexto, recrutaram pessoas sem capacitação adequada para
lidar com os novos problemas ambientais, e tinham orçamentos para executar um espectro
restrito de atribuições. Ciente dessas limitações, os governos de dezenas de países
começaram a institucionalizar a pasta ambiental na década de 1960. O Brasil fez parte
desse movimento. Já na década de 1970, surgiram os primeiros órgãos ambientais nos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Com a publicação da Política
Nacional do Meio Ambiente (Brasil, 1981) no início da década de 1980, incentivou-se a
criação de um sistema institucional de meio ambiente (conhecido como SISNAMA) para
operacionalizar diversos instrumentos de política ambiental. A partir daí, o governo federal

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e os governos estaduais começaram a criar diversos órgãos voltados para o controle


ambiental, às vezes com foco mais restrito aos recursos hídricos, florestas e recursos
hídricos, às vezes com atuação mais ampla e interdisciplinar, voltados para o licenciamento
ambiental, a avaliação de impacto ambiental (AIA), zoneamentos, padrões de qualidade
ambiental, etc.

Os municípios, de maneira geral, institucionalizaram mais tardiamente a pasta ambiental.


Isso fica claro em Ouro Preto, um município que, apesar de ter mais de 300 anos de história,
só criou órgãos dedicados exclusivamente às questões ambientais nos últimos 30 anos
(Figura 19).

Figura 19 - Cronologia das instituições ambientais públicas que atuam em Ouro Preto

Fonte: PromoSAT (2022)

Os órgãos ambientais são muito importantes para o meio ambiente, pois eles implementam
de forma direta o planejamento, a gestão e a fiscalização do território. Além disso, os
órgãos ambientais estão à frente da implementação dos instrumentos de política ambiental,
que são imprescindíveis para uso ordenado e sustentável do território. O Brasil tem uma
grande quantidade de leis e respectivos regulamentos voltados para a conservação
ambiental. Dentre os principais marcos da legislação ambiental no Brasil estão os
destacados no Quadro 2.

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Quadro 2 - Principais marcos da legislação ambiental no Brasil


Foco temático Número e Ano da Lei
Fauna LEI N° 5.197, DE 3 DE JANEIRO DE 1967
Recursos minerais DECRETO-LEI Nº 227, DE 28 DE FEVEREIRO DE 1967
Bases da política ambiental brasileira LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981
Base ambiental constitucional ARTIGO 225 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Recursos hídricos LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997
Sistema de unidades de conservação LEI No 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000
Uso e ocupação do solo urbano e municipal LEI No 10.257, DE 10 DE JULHO DE 2001
Saneamento básico (água, esgoto, resíduos LEI Nº 11.445, DE 5 DE JANEIRO DE 2007 e LEI Nº
sólidos e drenagem) 14.026, DE 15 DE JULHO DE 2020
Resíduos sólidos LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010
LEI COMPLEMENTAR Nº 140, DE 8 DE DEZEMBRO DE
Licenciamento ambiental
2011
Vegetação nativa, APP e reserva legal LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012
Fonte: Compilado pelos autores.

As leis destacadas no Quadro 2 e seus respectivos regulamentos (por meio de decretos,


resoluções, portarias, instruções normativas, etc.) são federais e se aplicam a todo o
território brasileiro. Em Minas Gerais, incidem ainda diversas leis e regulamentos do
governo estadual, tais como as Deliberações Normativas COPAM 213 e 217 de 2017 que
regulamentam o licenciamento ambiental municipal e estadual respectivamente. No nível
municipal, infelizmente, Ouro Preto é um dos municípios brasileiros que ainda não possuem
um marco ambiental local, situação que limita sobremaneira a atuação dos órgãos
municipais que dependem de órgãos estaduais e federais (muito demandados e nem
sempre disponíveis) para exercer papeis fiscalizatórios e de polícia.

A mera existência de instituições e leis ambientais não garante qualidade socioambiental.


Isso fica muito claro quando se analisa os indicadores de qualidade do território, conforme
ficou visto nas seções anteriores. Por isso é preciso sempre monitorar a eficiência e,
principalmente, a eficácia7 dos instrumentos de política ambiental. A seção seguinte discute
esse tema no contexto dos instrumentos relacionados a criação de áreas protegidas no
território.

5.2 Áreas Protegidas e das Unidades de


Conservação
Áreas protegidas consistem em espaços territoriais especialmente protegidos que
originalmente foram delimitados por motivações socioculturais para a conservação de
paisagens icônicas e animais silvestres. A evolução do conceito de áreas protegidas
derivou um conjunto adicional de objetivos econômicos, sociais e de conservação, como o

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Avaliações de eficácia visam entender se os instrumentos estão atingindo seus objetivos principais; enquanto avaliações de eficiência
verificam avanços de natureza administrativa, tais como tempo e custo.

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uso sustentável dos recursos ambientais, o bem-estar da população humana, a


manutenção do equilíbrio climático e a proteção de recursos hídricos e de suas áreas de
entorno. No Brasil, áreas de preservação permanente (APP), reservas legais, áreas de
proteção especial e unidades de conservação (UC) são alguns exemplos de espaços
territoriais especialmente protegidos que, disciplinados por mecanismos legais próprios e
dotados de finalidades específicas, auxiliam na proteção e na conservação ambiental.

O município de Ouro Preto abriga, total ou parcialmente, 12 UCs públicas enquadradas nos
grupos de proteção integral e de uso sustentável. Também abriga 6 UCs privadas do tipo
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), e parte da RPPN do Santuário da Serra
do Caraça (Figura 20). A despeito dos objetivos básicos de cada grupo e categoria, UCs
têm como finalidades centrais a preservação, a manutenção e a recuperação de ambientes
naturais que apresentem características relevantes.

Figura 20 - Unidades de Conservação no Território de Ouro Preto

Fonte: PromoSAT (2022)

Em Ouro Preto, as unidades de conservação sob gestão municipal, em razão de sua


localização, estão sob forte pressão antrópica promovida pelo processo de urbanização.
Ademais, a localização das unidades de conservação em áreas contíguas a zonas
densamente povoadas favorece a perda de conectividade biológica que é intensificada pela
crescente descaracterização das funções ecossistêmicas de áreas de preservação
permanente, sobretudo as de entorno de cursos d’água.

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Aproximadamente 12% do território de Ouro Preto é ocupado por UCs de proteção integral
(Quadro 3), que têm uma efetividade de conservação ambiental proporcionalmente
superiores às UCs de uso sustentável e podem em princípio contribuir para o Alvo 11 das
Metas de Aichi estabelecidas no âmbito da Convenção da ONU sobre Diversidade
Biológica. Para o êxito dos objetivos de conservação, as estratégias de gestão do território
devem transcender os limites dos espaços protegidos e de suas zonas de amortecimento
e incluir estratégias socioambientais que, estendidas a todos os distritos, incentivem o
ordenamento urbano, a diversificação de atividades econômicas e a melhoria da qualidade
de vida da população.

Quadro 3 - Área e Domínio das UCs de Proteção Integral em Ouro Preto


Area (ha) contida no
UCs de Proteção Integral em Ouro Preto Domínio território de Ouro
Preto
Parque Nacional da Serra da Gandarela Federal 3.284
Monumento Natural Estadual de Itatiaia 2.985
Floresta Estadual do Uaimii 4.669
Estação Ecológica Estadual do Tripui Estadual 398
Parque Estadual Serra do Ouro Branco 867
Parque Estadual do Itacolomi 1.818
Parque Natural Municipal Arqueológico do Morro da Queimada 71
Parque Natural Municipal de Cachoeira do Campo 4
Parque Natural Municipal do Horto dos Contos Municipal 6
Monumento Natural Municipal Gruta Nossa Senhora da Lapa 22
Parque Natural Municipal das Andorinhas 592
Total 14.716
Fonte: PromoSAT (2022)

As APPs e reservas legais, que desempenham importantes funções ecossistêmicas e


contribuem para a manutenção da qualidade ambiental do território, somavam, até março
de 2022 quando foram obtidos os dados, cerca de 27 mil hectares ou aproximadamente
21% do território Ouro-pretano (Figura 21). Grande parte dessas áreas protegidas não se
sobrepõe às UCs acima mencionadas, desempenhando, portanto, um papel importante
nos distritos mais antropizados do município como Miguel Burnier. Tais áreas refletem,
todavia, cadastramentos realizados pelos proprietários de terras, prescindindo de
validações governamentais sobre a acurácia das informações. Nesse sentido, as
informações podem estar sub ou superestimadas. O PromoSAT pretende analisar tais
áreas nos próximos meses e gerar bases mais precisas e confiáveis. Com base nessas
informações será possível, por exemplo, identificar áreas aptas para formação de
corredores ecológicos e novas UCs.

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Figura 21 - Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais cadastradas no SiCAR


em Ouro Preto (2022)

Fonte: PromoSAT (2022)

As UCs, APPs e reservas legais constituem reações diretas aos problemas ambientais de
Ouro Preto. Mas existem dezenas de outros instrumentos de controle ambiental, tais como
fiscalizações, licenciamentos ambientais, manifestos de resíduos, inventários de áreas
contaminadas, projetos de recuperação de áreas degradas, etc. O PromoSAT está
compilando e organizando esse conjunto de esforços. Todavia, até o momento, não foram
identificados estudos robustos sobre a eficácia desses instrumentos. De maneira geral, os
instrumentos de política e controle ambiental em Ouro Preto aparentam estar mitigando
(i.e., atenuando a intensidade) dos problemas. A degradação biofísica do território,
discutida nas seções anteriores, demandará reações mais estruturadas e eficazes.

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6 LIÇÕES, IMPLICAÇÕES E PRÓXIMOS PASSOS


O território de Ouro Preto é avaliado e monitorado há séculos, mas de maneira fragmentada
e desarticulada. Analistas fazendários preocupam-se com receitas e despesas;
engenheiros civis preocupam-se com infraestrutura e edificações; gestores ambientais
preocupam-se com podas de árvore, áreas protegidas, licenciamento e fiscalizações;
analistas de patrimônio e desenvolvimento urbano preocupam-se com o ordenamento da
cidade e seu patrimônio; turismólogos e agentes culturais preocupam-se com atividades
turísticas e festividades; professores preocupam-se com o ensino, pesquisa e extensão;
vereadores e ocupantes de cargos públicos comissionados preocupam-se com suas
agendas temáticas específicas e partidárias, etc. Tal fragmentação também se dá entre
escalas de governo. Agentes locais têm uma leitura do território que nem sempre se alinha
às dos agentes regionais, estaduais e federais. E a fragmentação também se dá entre
agentes públicos e privados que frequentemente trabalham em prol do município, mas
baseados em premissas distintas e por vezes conflitantes.

O PromoSAT-OP, ao integrar e geoespacializar um grande conjunto de dados biofísicos e


socioeconômicos, está abrindo oportunidades para uma compreensão mais holística e
apurada do território. A primeira fase do programa – apesar de baseada em análises
exploratórias de dados secundários sobre o estado do município, suas pressões antrópicas
e reações políticas e institucionais - identificou que o território ouro-pretano está em um
claro processo de degradação biofísica. O aumento populacional e a expansão das áreas
urbanas e das atividades produtivas e industriais, sem o devido planejamento e controle,
têm ocasionado perdas de florestas e outras formas de vegetação nativa (incluindo sua
fauna e flora), redução da disponibilidade de recursos hídricos, aumento de vulnerabilidade
a riscos geotécnicos, contaminação do solo e da água, dentre outros impactos adversos.
Por outro lado, dados censitários, ainda que desatualizados, sugerem haver melhorias e/ou
estagnação em alguns indicadores socioeconômicos. Ouro Preto aparenta passar por um
processo de trade-off entre qualidade ambiental e ganhos de infraestrutura e de melhorais
pontuais socioeconômicas. Apesar da existência de diversas leis e de instituições locais,
estaduais e federais voltadas para questões socioambientais, não está claro se esse trade-
off está se desdobrando em bem-estar para a população. Ao contrário, as análises até
agora indicam que as futuras gerações de ouro-pretanos terão menos recursos naturais à
sua disposição, situação que poderá dificultar ainda mais a busca por qualidade de vida.

O município precisa, portanto, tomar as rédeas do seu próprio destino e planejar o uso e a
ocupação do seu território de maneira mais inteligente, com ética intergeracional. O
PromoSAT poderá subsidiar um novo planejamento do território. O fato de o programa estar
institucionalizado em uma universidade o torna pouco vulnerável a vieses partidários e,
principalmente, a mudanças administrativas locais. Planejamento se dá a longo prazo e,
para isso, é preciso insistir em melhorias contínuas, incrementais e, sempre que possível,
transformacionais. As próximas fases do PromoSAT - ao integrar mais dados, análises e

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pessoas em torno de objetivos comuns - poderão mirar objetivos cada vez mais
audaciosos. Por exemplo, espera-se que nos próximos anos, seja possível:

• Aquisição e análises de imagem de satélite de alta resolução de todo o território;


• Monitoramento anual da expansão e adensamento urbano da sede por drone;
• Criar mapas cadastrais precisos;
• Mais integração e agregação de dados da UFOP (e.g., qualidade da água,
sedimentos, geologia, etc.), de entidades privadas (e.g., licenciamento, outorgas,
processos minerários, etc.) e da administração local;
• Geração de dados primários na UFOP e em setores da PMOP (e.g., defesa civil,
meio ambiente, fazenda, turismo, patrimônio, obras, etc.);
• Fortalecimento dos dados e análises econômicas, e.g., análises de
desenvolvimento econômico na escala local e regional, análises de geografia
econômica e de economia dos recursos naturais;
• Triangulação de técnicas de monitoramento das APPs e reservas legais no
território;
• Análises de ocupação das APPs, sobretudo urbanas;
• Modelagem de regeneração florestal em recortes territoriais específicos, tais
como matas ciliares;
• Estudos de aptidão de áreas prioritárias para compensação por intervenção em
APP e reserva legal;
• Análises de vulnerabilidades sociais e suas implicações territoriais;
• Análises dos eixos de expansão urbana e suas correlações com áreas de risco;
• Análises de espaços públicos, mobilidade urbana, emprego e renda local;
• Análises de efetividade de fiscalizações, autorizações e licenciamentos
ambientais;
• Estudo da variabilidade climática e eventos extremos de precipitação em Ouro
Preto com aplicações para a defesa civil;
• Balanço hídrico climatológico e sequencial e classificação climática de Ouro
Preto com aplicações para abastecimento de água, proteção da vegetação e
agricultura;
• Índices de susceptibilidade a incêndios baseados em dados meteorológicos para
a região;
• Realização de eventos sobre temas específicos, tais como clima e adaptação a
mudanças no clima, áreas protegidas, riscos geotécnicos, etc.; e
• Uso do PromoSAT como ferramenta de educação ambiental nas escolas
municipais e, em especial, nas disciplinas de geografia.
O desenvolvimento sustentável não implica em decrescimento ou recessão econômica;
implica, mais propriamente, na transição para uma cultura de desenvolvimento que
enxergue a capacidade de suporte do meio ambiente e o bem-estar das presentes e das
futuras gerações. Esperamos que o conhecimento que está começando a ser gerado no
PromoSAT auxilie-nos nessa transição.

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REFERÊNCIAS
Bebbington, J., Brown, J., & Frame, B. (2007). Accounting technologies and sustainability
assessment models. Ecological Economics, 61, 224-236.
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Fonseca, A. d. F. C., & Prado Filho, J. F. d. (2006). Um Importante Episódio na História da
Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil: O Controle da Coroa Portuguesa Sobre o
Uso da Água nas Minas de Ouro Coloniais. Revista Brasileira de Recursos Hídricos,
11(3), 5-14.
Lewis, S. L., & Maslin, M. A. (2015). Defining the Anthropocene. Nature, 519(7542), 171-
180. doi:10.1038/nature14258MapBiomas. (2022). MapBiomas v6.0. Retrieved
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