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Holding Familiar
Holding Familiar
O contrato social não é apenas o documento que liga os sócios com os órgãos públicos.
É através dele que será disciplinado o convívio dos sócios, a estrutura e a forma de
funcionamento do empreendimento. Ou seja, este documento irá ditar a vida da empresa e
dos sócios.
Não significa que todas as sugestões aqui apresentadas serão usadas. Isso dependerá da
análise caso a caso.
É recomendável que o fundador ou a família empresária busque ajuda de um profissional
para entender o alcance das cláusulas especiais. O contador e o advogado são os
profissionais indicados nessa missão.
Assim, se você pretende constituir uma holding ou gostaria de adequar o contrato social já
existente, você está no lugar certo. Fique até o final e você se surpreenderá com as
cláusulas especiais e legais que iremos sugerir.
É muito comum os sócios utilizarem de documento padrão definido pela junta comercial ou
até mesmo, valer-se de modelos disponibilizados nas plataformas digitais. O modelo é
apenas uma recomendação, um guia. Análise o modelo para servir de sugestão, de uma
luz, de uma ideia.
Estas cláusulas não são comuns nos contratos sociais, entretanto, são importantes e
devem ser pensadas para quem pretender adotar o sistema de holding familiar.
As cláusulas especiais servem para trazer maior proteção para a holding familiar. Quando
a família decide criar uma holding, sobretudo, está o desejo de proteger o patrimônio, fugir
do inventário e pagamento de impostos, e, além disso, evitar conflitos familiares. Entretanto,
poucos são os contratos sociais de holding que não tratam de questões relacionadas, por
exemplo, à administração vitalícia, regra de entrada e saída de sócios ou proteção contra
terceiros. Tais situações, além de outras que serão aqui tratadas, precisam ser
consideradas no contrato social.
Claro que o só fato de a família ter decidido criar uma holding já um avanço pois, cerca de
70% dos negócios familiares não passam da primeira para a segunda geração, exatamente
pela falta de combinados sucessórios, chegando em alguns casos extremos, em que a
simples sugestão ao tema, atrairia mau agouro.
Assim, sua família está de parabéns se já tem holding. O que se pretende com as cláusulas
especiais e legais é melhorar a estrutura societária existente, trazendo ainda mais
segurança, conforme será mostrado a seguir.
Administração vitalícia
Constará no contrato que os demais sócios não poderão deliberar sobre este assunto
enquanto vivo estiver o administrador. Com esta disposição contratual, permitirá que o dono
ou fundador continuará mandando na holding e por conseguinte em todo patrimônio, tendo
poderes para comprar e vender bens, praticando todos os atos de gestão sem que os
demais sócios possam fazer alguma deliberação em contrário.
É muito razoável esta cláusula, porque foi o fundador que constituiu o patrimônio e
transferiu para holding, não sendo justo que esta transferência dos bens do CPF para o
CNPJ da holding, possa diminuir o poder do fundador.
Pensa comigo: se uma empresa tem dois sócios e um deles venha a falecer, a empresa
não deve parar.
Então nesta parte do contrato social você define como será a continuidade da empresa em
casos similares.
Primeiramente aqui é importante especificar se será aceito ou não novo sócio. Seguindo o
mesmo exemplo, se a esposa do sócio falecido poderá ou não passar a fazer parte da
sociedade.
Em suma, esta cláusula é importantíssima no contrato social e necessita ser o mais precisa
possível! Isso porque cerca de 70% das empresas que são fechadas no Brasil tinham
dificuldade de fazer sucessão, por brigas por poder e dinheiro.
O Código Civil (art. 83, II e art. 1028,I) permite que os sócios estabeleçam cláusula de
sucessão no contrato social, de modo a deixar clara a forma como será feita a sucessão do
sócio que vier a falecer. Trata-se, como se vê, de uma cláusula especial do contrato social
de extrema importância, mas raramente usada.
Os sócios poderão designar administrar que não seja sócio para gerir os negócios
societários. Trata-se da cláusula mandato prevista no artigo 653 do Código Civil que se
manifesta “(…) quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos
ou administrar interesses. (…)”
Direitos Políticos
No quesito quórum para tomada de decisões, o Código Civil (art. 1.010) prevê a maioria de
votos (50% + 1), contados segundo o valor das quotas de cada um. Contudo, não há nada
que impeça que os sócios estabeleçam de forma diferente quanto ao quórum para
determinadas deliberações, podendo este ser estipulado conforme a importância das
situações tratadas.
Acordo de sócios
A principal diferença entre “Acionistas” e “Cotistas” é a forma como está dividido o capital
na empresa, ou seja, em quotas ou ações.
Este acordo de sócios pode ser feito em documento em separado e normalmente o é, mas
nada impede que conste do contrato social, mesmo porque na holding familiar estão
envolvidos somente parentes.
No acordo de sócios, poderá ser tratado: (i) compra e venda de cotas; (ii) diferença de
preferência de aquisição de cotas; (iii) poder de controle (iv); quorum de deliberação
societária; (v) Critério de avaliação da sociedade – valuation.
Embora a Lei 10.303/2001 tratou da emissão de ações de classe especial por companhias
“objeto de desestatização” – cujos principais exemplos são justamente a Empresa Brasileira
de Aeronáutica S.A. e a Companhia Vale do Rio Doce – o mecanismo é também utilizado
no Brasil por sociedades anônimas fora do contexto das privatizações.
Cláusula Anti-diluição
A cláusula anti-diluição não assegura a proteção nos casos em que a diluição ocorre pela
diminuição do valor patrimonial das quotas/ações em decorrência, por exemplo, da menor
valorização da empresa.
No caso da Sociedade Anônima – S. A., é exigido pela Lei 6.404/76 que as empresas
justifiquem a necessidade do aumento de capital, assim como os preços estabelecidos para
emissão de novas ações, evitando que a diluição seja utilizada de forma indiscriminada e
de má-fé.
O direito de Tag Along, ou direito de venda conjunta, foi internalizado na Lei das
Sociedades Anônimas (artigo 254-A), prevê que, em caso de obtenção de ações do sócio
majoritário ou da soma de ações equivalente à participação majoritária, o
adquirente/comprador das quotas deverá oferecer aos minoritários o valor equivalente ou,
no mínimo, 80% do valor pago por ação integrante do bloco de controle.
Resumindo, essa cláusula permite que os sócios minoritários exijam o direito de receber a
mesma proposta (ou no mínimo 80% do valor) oferecida ao sócio/acionista majoritário por
suas quotas/ações, em caso de alienação destas.
Doação com reserva de usufruto é o ato de doar algo a alguém, mantendo o direito de
usufruir deste bem. É muito comum esse tipo de situação entre pais e filhos, como uma
maneira de adiantar herança e evitar o inventário.
Cláusula de reversão
Esta disposição contratual permite que os bens doados retornem ao patrimônio do doador,
na hipótese de morte do donatário. É o que diz o artigo 547 do Código Civil: “O doador pode
estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário”.
A cláusula de inalienabilidade impede que os bens dados sejam vendidos pelo donatário,
por prazo determinado ou indeterminado. Inalienabilidade é a exclusão da possibilidade de
alienação do bem. É a supressão de um dos direitos da propriedade, o de dispor.
Já a cláusula de incomunicabilidade tem previsão no art. 1668 do Código Civil e tem por
objetivo retirar o bem da comunhão, impedindo a comunicação do bem com o patrimônio
do outro cônjuge.
Esta cláusula é inerente à doação. Em caso de falecimento dos donatários beneficiados por
ato gratuito do doador das cotas, os bens doados voltarão ao patrimônio do doador na
forma do artigo 547 do Código Civil, segundo o qual “o doador pode estipular que os bens
doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário”
Direito de Retirada
O direito de recesso/retirada (previsto no art. 1.029 e 1.077 do CC e no art. 137 da Lei das
S/A) dá ao sócio a prerrogativa de retirar-se da empresa, mediante o reembolso do valor
de suas ações/quotas, caso seja dissidente – discorde em deliberações sobre alguns
temas.
Apuração de Haveres
Caso a forma de apuração dos haveres não esteja prevista no contrato social, está reger-
se-á pelo art. 1.031 do Código Civil, que determina a realização de um “balanço especial”,
de modo a se verificar a situação patrimonial da sociedade, podendo ocorrer variações de
acordo com o método aplicado.
O art. 1.007 do Código Civil permite que os sócios contratem a proporção que caberá a
cada um, na distribuição de lucros, ou seja, o lucro poderá ser distribuído em proporção
distinta à participação dos sócios no Capital Social, sendo vetado, porém, excluir qualquer
sócio de participar com uma parcela dos lucros ou das perdas.
De fato, dispõe o artigo 1.007 mencionado, que “salvo estipulação em contrário, o sócio
participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas (…).” Assim, o
Código Civil aceita e legitima a distribuição desproporcional à participação de cada sócio
no capital social, desde que todos recebam parcela do lucro.
Diferentemente do que ocorre nas sociedades limitadas (regidas pelo Código Civil) em que
basta haver previsão de distribuição desproporcional de lucros entre os sócios no contrato
social, nas sociedades anônimas a lei expressamente prevê que as ações de mesma classe
deverá conferir iguais direitos aos seus titulares, além de prever uma distribuição mínima
obrigatória de acordo com alguns requisitos.
Isso não significa, contudo, que não há possibilidade de distribuição de dividendos de forma
desproporcional entre os acionistas. Uma das possibilidades se dá pela criação de ações
preferenciais. Enquanto as ações ordinárias conferem aos possuidores o direito a voto nas
Assembleias Gerais, as ações preferenciais gozam das seguintes vantagens: (a) prioridade
na distribuição do dividendo, fixo ou mínimo; (b) prioridade no reembolso do capital, com
prêmio ou sem ele; ou (c) a acumulação das vantagens previstas nos itens (a) e (b).
Código Civil (art. 1053) permite que as sociedades limitadas, nos pontos em que for omisso
o capítulo destinado a reguláa-las, seja completada no que couber pelos dispositivos
pertencentes às sociedades simples, permitindo que o contrato social preveja utilização
supletiva das normas das sociedades anônimas.
Com isso, temos que nas sociedades anônimas (art. 202 da Lei 6404/76) existe uma
regra que obriga o pagamento mínimo de dividendos em caso de inexistência de norma
específica no estatuto da empresa. Assim, se a sociedade limitada optar por utilizar
supletivamente a legislação das S/As, o referido artigo pode ser invocado para garantir ao
minoritário o recebimento de um percentual mínimo nos lucros.
Call Option
A cláusula de Call Option obriga um sócio a vender sua participação aos outros sócios,
mediante pagamento de um valor predefinido. Neste sentido, o sócio majoritário poderá
compelir um minoritário a vendê-las, caso aquele estivesse causando problemas ao bem-
estar da sociedade. A cláusula de CALL é bastante utilizada em favor do sócio majoritário,
outorgando-lhe poder de comprar a participação do minoritário quando este estiver
causando impasses na empresa.
Put Option
Cláusula de Put Option, o sócio tem o direito de vender suas ações/quotas e o outro sócio é
obrigado a comprá-las, por um valor já estabelecido. As Call e Put Options fazem parte das
“Deadlock Provisions”, que são um conjunto de cláusulas com o objetivo resolver problemas
societários de forma desburocratizada. Em outras palavras, esta cláusula outorga ao sócio
o direito de vender sua participação enquanto obriga o outro sócio a comprá-la. É bastante
comum, por exemplo, a previsão de direito de PUT a sócios minoritários, quando não
concordarem com alguma decisão relevante do sócio majoritário.
Este meio de solucionar conflitos é destinado a litígios que se referem a direitos patrimoniais
disponíveis. Logo, constitui um método eficaz, sigiloso, seguro e com capacidade técnica
em resolução de conflitos.
Conclusão
Para resumir, além do contrato social, às cláusulas especiais precisam ser bem
estruturadas para evitar que o empreendimento idealizado não vire um problema. A ideia
da holding familiar é justamente evitar problemas, certo?
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