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ENSAIO DE INTRODUÇÃO AO MODERNISMO: “MODERNO E

MODERNISTA NA LITERATURA BRASILEIRA”

O autor inicia seu ensaio afirmando que a emergência do novo é sempre um


ponto nevrálgico para a história da literatura. Muitas das obras consideradas
“novidades” para a literatura brasileira se basearam em acontecimentos ao redor do
mundo, através de um processo social e econômico que gerava uma sede de
contemporancidade, ao mesmo tempo que parte da população ainda insistia nas
tendências parnasianas. O movimento modernista, por exemplo, teve a seu favor a
simpatia do governo do estado de São Paulo para a realização da Semana de Arte
Moderna de 1922. A combinação de uma nova perspectiva histórica, o novo espaço-
tempo da cidade grande e a bateria de estímulos artístivos europeus foi um fator
essencial para esse evento, que buscava uma nova modernização da linguagem e se
opunha ao Parnaso e à Academia.
Esse núcleo de 22 também representou uma ruptura drástica com aquele passado
acadêmico e simbolista. Apoiados nos contatos com algumas vanguardas europeias,
surviu uma reflexão, uma consciência crítica acerca da metalinguagem. Entretanto,
muito além do uso de uma nova linguagem, o principal problema dessa emergência do
novo se baseava na situação interna em que aparece o texto modernista.
Desde a segunda metade do século XIX, a cidade de São Paulo passou por
grandes transformações, que fizeram surgir imagens novas, como a indústria, a
metrópole, as classes sociais e o intelectual sofrido e irônico, que ganharam destaque na
poesia de Mário e Oswald de Andrade. Essas novas obras também representavam a
união da alta burguesia paulistana com uma inteligência crítica, cujos focos de
consciência se moviam dentro de uma classe inquieta e com vontade de mudanças. Isso
também gerou um novo modo de ver os aspectos fundamentais da existência, como as
interações familiares, as instituições políticas e religiosas e a nova ótica antinaturalista,
que regia os processos de descrição e narração.
Assim, segundo o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, escrito por Oswald de
Andrade, uma nova perspectiva assumiu uma grande relevância, trabalhando contra o
detalhe naturalista, a morbidez romântica, a aparência e a cópia. Prefere-se a síntese à
minúcia descritiva, com um tom intelectual e irônico. A partir da Semana,a os
modernistas são um ponto de vista dentro da história da cultura nacional.
Sob um ângulo de observação externo, o Brasil era visto ou como um espaço de
modernidade (representado principalmente por São Paulo) ou como um território mítico
e natural, como é o caso da obra Macunaíma. Assim, por possuir vários contrastes, era
difícil explorar criticamente a veia desse nacionalismo, e os modernistas colocaram em
prática um primitivismo culto, que não tolerava o jeito parnasiano das falas rústicas.
Somente a partir dos anos 30, o Brasil era representado sob o seu lado mais
contraditório, com romances neo-realistas e uma literatura abertamente política.
Mesmo depois de anos da inauguração do Modernismo, a indefinição do caráter
nacional e a linguagem cehia de técnicas modernas ainda são temas de estudo para os
especialistas. Muitas dessas produções estão diretamente ligadas aos conceitos do
Futurismo e do Surrealismo, cuja identidade era “a poesia da Revolução Industrial e
Técnica”. Além da São Paulo industrial e as tripos míticas, o Modernismo representou
apenas uma “porta aberta”, que foi capaz de conduzir o resto do Brasil ao seu
verdadeiro caminho: o da cultura como inteligência histórica, sem tematizar as
conquistas da técnica moderna ou o entoar dos rios do Brasil selvagem. O mundo
sertanejo sofria com as contradições cada vez mais agudas, mas que não eram tão
representadas pelos poetas paulistanos.
Outra grande mudança de temática ocorreu nos anos pós-guerra, principalmente
a partir de 1950, com uma perspectiva mais pessimista e reflexiva com relação ao
mundo real. A contemporaneidade reclama do escritor os seus direitos, principalmente
dentro dos centros mais urbanizados (eixo São Paulo-Rio), enquanto o resto do país (a
“massa”) não compreendia os vaivéns dos discursos e os caminhos adotados para os
pensamentos.
Por fim, o autor conclui que o ano de 22 representou tanto a primeira grande
mudança modernizante quanto o fim da Velha República das Letras. Assim, “o
Modernismo foi a metáfora brilhante de um certo ângulo de consciência, que escolheu
formas e mitos adequados a uma zona determinada da vida e da cultura brasileira”. Essa
nova ideologia foi muito importante para as “iluminações” posteriores ao movimento, e
saber descobrir o sentido dessa literatura moderna sem modernismo é uma das tarefas
prioritárias da crítica brasileira.

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