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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

CONTRIBUIÇÕES DE UM ESTUDO
ERGONÔMICO PARA A ANÁLISE DAS
CONDIÇÕES DE TRABALHO DAS
MANICURES EM UM SALÃO DE
BELEZA
Maria Lucia Espanhol (UFF )
luci.espanhol@gmail.com
Bianca Souza Rodrigues Barbosa (UFF )
bia_souza369@hotmail.com
Fabio Henrique Vaz Trigueira Barbosa (UFF )
fabiohenriquevaz@gmail.com
Kamilla Ramos dos Santos (UFF )
kamillaramos@ymail.com
Denise Alvarez (UFF )
denisealvarez@vm.uff.br

O objetivo desse estudo foi realizar uma análise ergonômica do


trabalho em um salão de beleza, a fim de levantar dados a respeito de
riscos e outros fatores ergonômicos presentes neste ambiente, voltados
para a função de manicure. Para o leevantamento dos dados utilizou-
se, além de entrevistas, o diagrama de áreas dolorosas de Corlett e
Manenica, os métodos RULA e Checklist de Couto. As áreas de
maiores desconfortos relatadas nas entrevistas foram mãos, dorso e
pescoço. Além disso, pelo fato de ter o ambiente de trabalho
compartilhado com cabeleireiras, verificou-se a presença de vários
riscos aos quais as manicures ficam expostas. As exigências físicas e
cognitivas intensas do trabalho diário juntamente com os riscos
presentes no ambiente e no decorrer da profissão, os mobiliários
inadequados e a adoção de posturas inadequadas por um longo
período de tempo, são as principais fontes causadoras de doenças
como LER/DORT. Conclui-se, portanto, a potencialidade de uma
intervenção ergonômica, propondo modificações que possam melhorar
tanto o ambiente e as condições de trabalho quanto a saúde do
trabalhador e a produtividade da empresa.

Palavras-chave: Estudo ergonômico, manicure, riscos, salão, RULA,


Checklist de Couto
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1. Introdução

O crescimento econômico do país nos últimos anos impulsionou o setor da beleza que cresceu
além das expectativas. Seja em vendas de cosméticos ou em prestações de serviços, segundo
dados da Associação Brasileira de Normas Técnicas o Brasil é o segundo maior mercado
consumidor em cuidados com o cabelo, no cenário mundial, pois em 2014 eram mais de 600
mil salões de beleza (FRAGOSO, 2014). Em abril de 2014 a ABNT lançou a primeira Norma
Técnica Brasileira para o segmento de salões de beleza, a ABNT NBR 16283:2014,
denominada Estabelecimentos de beleza – Terminologia, que tem o objetivo de compatibilizar
e facilitar o entendimento das diversas partes envolvidas com as atividades de
estabelecimentos de beleza fornecendo as definições de termos específicos.

Nos salões de beleza predominam as relações de serviço, que segundo Peter Hill (1999) apud
(BOUCHEIX, CERF & VALLÉRY, 2007) pode ser considerada como atividade econômica
de mudança de condição requerida por um cliente que recorre a outro agente econômico,
prestador do serviço. As atividades de serviço envolvem variabilidades que podem ser melhor
trabalhadas e estudadas. Uma avaliação ergonômica em estabelecimentos desse setor pode
contribuir, seja através da concepção de ferramentas mais adequadas na prestação do serviço,
seja na ajuda para a elaboração de novas formas de organização do trabalho, sempre com o
objetivo de limitar os impactos provenientes das condições de trabalho (BOUCHEIX, et al.,
2007).

Quanto aos cuidados de biossegurança os salões de beleza, no Brasil, seguem em geral


recomendações da ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Estão entretanto
sujeitos a normas e penalidades previstas em leis que podem ser municipais e, ou, estaduais.
A cidade de Niterói possui uma lei municipal de nº 2396 que dispõe sobre os procedimentos
específicos para a proteção da saúde dos usuários dos serviços de salão de cabelereiros,
institutos de beleza e de estética, incluindo serviços de manicure e pedicure (NITERÓI,
2006). Essas leis e normas ajudam a definir os vários tipos de procedimentos que devem ser
seguidos na realização da tarefa.

De acordo com um estudo de avaliação do desconforto postural em manicures feito por


Machado et al. (2010) concluiu-se que a área mais afetada nas manicures foi a coluna. A faixa
etária das profissionais era de 21 e 30 anos de idade e o tempo de profissão de 1 a 10 anos.
Posturas adotadas por longos períodos, mobiliários e equipamentos inadequados, jornadas de

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trabalho extensas, ausência de pausas, ritmos e movimentos repetitivos podem ser as causas
da frequente aparição de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) ou
das Lesões por Esforços Repetitivos (LER).

As manicures são profissionais que utilizam bastante a musculatura dos membros superiores,
estando na maior parte do tempo sentadas em cadeiras baixas com os membros inferiores em
posição estática. Em algumas situações de trabalho a postura adotada pode produzir
consequências danosas quando da assunção de trabalhos estáticos musculares, ocasionados
por postura parada durante longos períodos, ou pela realização de tarefas que exigem posturas
desfavoráveis, de inclinação e torção de tronco (IIDA, 2005). Essas posturas são comuns em
manicures que podem vir a ter dores e consequentemente a ocorrência de LER/DORT.

A verificação de fatores de risco em uma determinada tarefa, juntamente com avaliação


funcional dos trabalhadores, é de suma importância e facilita uma provável intervenção
ergonômica, já que seus resultados possibilitam a aplicação de medidas preventivas com o
intuito de melhorar a qualidade de vida do trabalhador, segundo Cameron (1996 apud
MORIGUCHI, 2009).

As LER/DORT tem causas variadas e tem origem em diferentes fatores que podem estar
interligados ou não. É necessário conhecer os mecanismos psicológicos e fisiológicos do
trabalhador e determinar que seus limites, que variam de indivíduo para indivíduo, não sejam
ultrapassados (BRASIL, 2001).

A ocorrência de LER/DORT em atividades consideradas leves em um grande número de


pessoas, de diferentes países, questionou o conceito de que o tradicional trabalho pesado que
envolve esforço físico é mais desgastante que o trabalho leve (BRASIL, 2012). A atividade da
manicure não exige grande força para ser realizada e pode ser considerada como leve,
entretanto, existem movimentos que se repetem e exigem atenção visual constante aliada à
dosagem de intensidade de força para não machucar a cliente. Esses fatos despertaram o
interesse dos graduandos em Desenho Industrial – UFF a realizar na disciplina de Ergonomia
um estudo ergonômico com manicures em um salão de beleza, que deu origem a esse artigo.
O objetivo desse estudo foi analisar o trabalho desses profissionais por intermédio de
observações, conversas informais e entrevistas, a fim de obter um diagnóstico dos sintomas
osteomusculares, considerando os fatores presentes nas condições de trabalho dentro do salão
de beleza. Utilizou-se primeiramente o Diagrama das áreas dolorosas de Corlett e Manenica

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para mapeamento dos principais desconfortos que foram posteriormente analisados pelos
métodos RULA e Checklist de Couto, com o auxílio do software Ergolândia.

2. Materiais e métodos

A metodologia proposta pela ergonomia, a Análise Ergonômica do Trabalho - AET, é


organizada em várias etapas articuladas com o objetivo de compreender e transformar o
trabalho, que é resultado de um emaranhado de variáveis que devem ser entendidas no seu
contexto (ABRAHÃO, et al., 2009). Buscou-se analisar o ambiente do ponto de vista de três
domínios especializados, são eles a Ergonomia Física, que está relacionada às características
da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica associada com a atividade
física, a Ergonomia Cognitiva, que refere-se aos processos mentais, percepção, memória e
raciocínio associado com a interação entre pessoas e outros elementos do sistema, e a
Ergonomia Organizacional que abrange as estruturas organizacionais (IIDA, 2005). Para levar
à cabo essa intenção, fez-se uma adaptação da AET para realizar o estudo. A seguir explicita-
se de maneira sucinta a sequência de etapas e os métodos utilizados no estudo.

Definido o objeto de estudo, o trabalho das manicures, à partir das justificativas apresentadas
anteriormente, escolheu-se um salão localizado no centro da cidade de Niterói pela facilidade
de acesso, receptividade e consentimento imediato por parte da proprietária. O salão, que por
sua movimentação comercial e arrecadação enquadra-se como uma microempresa, é de
organização familiar, onde a proprietária também exercia a função de recepcionista e
cabelereira. Nos primeiros contatos foram explicitados os objetivos do estudo, para a
administradora do salão, que permitiu que o levantamento de dados e as observações fossem
realizadas.

Ao total foram feitas seis visitas ao salão a fim de conhecer a organização e a rotina de
trabalho das profissionais. Além da proprietária trabalhavam no estabelecimento seis
funcionárias, uma cabelereira e cinco manicures, contudo duas manicures eram contratadas
apenas em dias de grandes demandas, como feriados e dias festivos. Desse modo,
participaram desse estudo apenas as três manicures que trabalhavam todos os dias no
estabelecimento.

Para avaliar os riscos ergonômicos relacionados a fatores biomecânicos, visando possíveis


ocorrências de LER/DORT foram feitas entrevistas com perguntas relacionadas à rotina de
trabalho, bem como à ocorrência de dores e desconfortos durante ou após a jornada de

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trabalho. As entrevistas foram realizadas antes ou após o horário de almoço, pois era o
período de menor movimento em relação ao atendimento de clientes. Também foram
realizadas filmagens para posterior contagem dos movimentos repetitivos. Para melhor
entendimento e avaliação dos resultados dos riscos ergonômicos utilizou-se o diagrama das
áreas dolorosas de Corlett & Manenica, além dos métodos RULA e Checklist de Couto. A
seguir são apresentados os três métodos referidos.

2.1 Diagrama das áreas dolorosas de Corlett e Manenica

Essa avaliação apresenta uma figura humana na visão posterior, dividindo o corpo em 24
partes. De tal maneira que, o trabalhador ou trabalhadora pode identificar o local que sente
desconforto e classificar sua intensidade numa escala de 0 (sem desconforto) a 7
(extremamente desconfortável).

2.2 Checklist de Couto

O Checklist de Couto é uma opção complementar quando está sendo feita uma análise
ergonômica de trabalho. Ele consiste numa avaliação simplificada do fator biomecânico no
risco para distúrbios musculoesqueléticos de membros superiores relacionados ao trabalho.
São analisados seis fatores, totalizando 25 questões: sobrecarga física, força com as mãos,
postura, posto de trabalho e esforço estático, repetitividade e organização do trabalho e
ferramentas de trabalho (COUTO, 1995). Em cada questão só é possível responder sim ou
não, que contam respectivamente como 1 ou 0 pontos. Os resultados são pontuações
enquadradas em cinco categorias que variam de 0, ausência de risco, a 15 ou mais pontos, alto
risco. A análise de posturas adotadas pelas manicures foi realizada com o auxílio do software
Ergolândia 5.0 que contém o Checklist de Couto.

2.3 O método RULA

O método Rapid Upper Limb Assessment (RULA), desenvolvido em 1993 por Corlett e Mc
Atamney, baseia-se na observação das posturas adotadas das extremidades superiores,
pescoço, ombros e pernas ao se realizar uma tarefa (MÁSCULO, VIDAL, 2011). Integrante
do software Ergolândia 5.0, o método RULA tem por objetivo avaliar a exposição dos
trabalhadores a fatores de risco que podem ocasionar transtornos nos membros superiores do
corpo, tronco e pescoço. Para isso, ele considera cada uma das posições em que essas regiões
se encontram juntamente com o grau de inclinação. Aplicando esse método é possível avaliar

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as principais posições tomadas pela manicure como rotação de punho, inclinação lateral de
pescoço e rotação de tronco. Ao final, o diagnóstico é dado de acordo com a pontuação
obtida, informada e enquadrada em quatro níveis, sendo o primeiro nível de postura aceitável
e o último onde devem ser introduzidas mudanças imediatamente.

3. Resultados

Todas as profissionais eram do sexo feminino, possuíam idade entre 19 e 51 anos, e tinham
escolaridade variando entre ensino fundamental e superior, porém todas com curso
profissionalizante na área e mais de um ano de experiência na função. A jornada de trabalho
iniciava-se as 9:00 da manhã e encerrava-se as 19:00, com intervalo de uma hora de almoço,
totalizando 9 horas diárias de trabalho, entretanto, para compensar as horas a mais de
trabalho, aos sábados a proprietária fechava a loja duas horas mais cedo. As manicures
possuíam meta de atendimento de dez clientes por dia. Para isso, atendiam com hora marcada,
mas, em alguns casos, o cliente sem hora marcada era encaixado caso o serviço da cliente
anterior terminasse mais cedo e fosse possível atendê-lo. As manicures trabalham com
carteira assinada pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, entretanto
recebem apenas comissão como salário.

No salão de beleza analisado trabalham cabelereiras e manicures, e não há qualquer separação


física entre os dois setores. Isso significa que o trabalho de um setor interfere diretamente no
outro, pois há situações em que o cliente deseja fazer a unha ao mesmo tempo em que faz o
cabelo e o arranjo físico precisa ser adaptado. Nas entrevistas foram relatadas pelas manicures
dores frequentes no dorso, mãos e pescoço. Além da aplicação dos métodos para avaliação de
postura, procurou-se identificar os riscos presentes nesse ambiente de trabalho para que se
tivesse uma melhor percepção das condições de trabalho. Alguns riscos presentes no
ambiente, ainda que estejam isoladamente dentro dos limites de tolerância recomendados pela
ANVISA, em conjunto, podem contribuir para tornar o ambiente de trabalho desconfortável.
A seguir os riscos identificados de acordo com suas categorias.

3.1. Riscos físicos

a) Ruídos vindos do secador de cabelos e do ventilador, que mesmo dentro da


normalidade técnica, causam irritação às funcionárias;

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b) Frio gerado pelo ar condicionado que é programado para causar um bem-estar aos
clientes que chegam ao salão, porém quando o salão está vazio torna-se muito severo e
essas mudanças bruscas na temperatura são motivo de queixas pelas funcionárias;
c) Por sua vez, o calor gerado pela autoclave deixa as pessoas temporariamente expostas
a temperaturas elevadas.

3.2. Riscos químicos

a) Vapores e fumaças advindas da secagem do cabelo molhado e quimicamente tratado e


uso da prancha de cabelo;

b) Os produtos químicos usados no salão são todos homologados pela ANVISA (1976),
porém o contado permanente com esses produtos, por vezes podem causar alergias e
irritações;
c) Substancias compostas usadas em certos procedimentos de tintura de cabelo exalam
um forte cheiro difícil de ser suportado para as trabalhadoras que já tem um
diagnóstico de alergia.

3.3. Riscos biológicos

a) O salão segue as regras de esterilização de materiais utilizados pelas manicures e


também a devida troca de materiais descartáveis conforme estabelece a Lei Municipal
(2006), porém o fato de as manicures não utilizarem luvas descartáveis para o
procedimento de retirada da cutícula, as torna expostas aos possíveis sangramentos
advindos de sua cliente.

3.4. Riscos ergonômicos

a) A postura da manicure tende a modificar-se durante o atendimento ao cliente, a falta


de um foco de luz direto faz com que ela aproxime a mão do olho, deixando pescoço e
coluna cervical curvados;
b) Jornada de trabalho extensa e sem horário fixo para almoço, pois a prioridade é sempre
a clientela;
c) Monotonia e repetitividade estão sempre presentes, em dias de menor movimento não
há o que fazer para passar o tempo, e, em outros não há tempo de folga entre um
atendimento e outro;

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d) O esforço físico exigido pela mão com a qual a manicure realiza a tarefa tende a ser
maior pelo fato de ser um movimento preciso em que não podem haver erros, isso
significa que o alicate deve estar amolado o suficiente para retirar a cutícula com
facilidade sem machucar a cliente. Os alicates metálicos também podem causar
compressão mecânica;
e) Situações causadoras de stress e assédio moral por parte de clientes são relatadas com
frequência, muitos clientes estão em horário de almoço ou com pressa e exigem um
serviço rápido;
f) Por ocasião de épocas festivas como final de ano, são exigidos ritmos excessivos de
trabalho, prolongando-se com horas extras e poucos intervalos de descanso;
g) A cadeira usada possui mesa acoplada de trabalho que tem altura regulável, porém o
assento, encosto e altura da cadeira são fixos.

3.5. Riscos acidentais

a) Arranjo físico inadequado quanto a posição da autoclave, que está sob um móvel não
fixo;
b) Há risco de queimaduras por parte das manicures ao retirarem o material da autoclave;
c) A iluminação pode tornar-se inadequada dependendo da posição que a manicure
estiver projetando sua própria sombra sob a mão trabalhada;
d) Tesouras e alicates, por vezes, são alocados diretamente em uma gaveta sem a devida
proteção, e seu manuseio podem causar acidentes.

A interação desses riscos contribui para tornar o ambiente desconfortável e isso pode trazer
uma percepção de aumento de carga de trabalho para essas profissionais, manifestando-se em
cansaço e irritabilidade ao final do dia. A seguir veremos as análises resultantes do Checklist
de Couto e do método RULA.

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3.6. Checklist de Couto

Quinze das 25 questões do checklist obtiveram resposta positiva, onde a soma de pontos
resultou em 12. A pontuação quanto a sobrecarga física resultou em 1 ponto, a força com as
mãos em 2 pontos, a postura no trabalho em 4 pontos, o posto de trabalho e esforço estático
em 1 ponto, a repetitividade e organização do trabalho em 4 pontos e por último as
ferramentas de trabalho não tiveram pontuação. Segundo a tabela o resultado é um fator
biomecânico significativo e indica risco.

3.7. Método RULA

Para as tarefas de retirada da cutícula, limpeza e pintura das unhas as posições adotadas pelas
manicures indicam as seguintes posições avaliadas pelo método RULA com o auxílio do
Ergolândia:

Tabela 1 – Posições analisadas pelo método RULA

Braço: entre -20 e +20 graus, Antebraço: de 0 a 60 graus, cruza Punho: maior que +15 graus, desvio
abdução; o plano sagital ou operações da linha neutra;
exteriores ao tronco;

Rotação do punho: rotação extrema; Pescoço: maior que 20 graus, Tronco: de 0 a 20 graus, rotação;
rotação;

Pernas: pernas e pés bem apoiados e equilibrados;

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Grupo A (braço, antebraço e punho): musculatura com postura estática mantida por mais de 1 minuto ou
repetitiva em mais de 4 vezes por minuto, carga menor que 2 kg intermitente;

Grupo B (pescoço, tronco e pernas): musculatura com postura estática mantida por mais de 1 minuto ou
repetitiva em mais de 4 vezes por minuto, carga menor que 2 kg intermitente;

Fonte: Software Ergolândia

A soma da pontuação para as posturas adotadas foi 7 e seu nível de ação 4 indicando que
devem ser introduzidas mudanças imediatamente.

3.8. Carga de trabalho

A noção carga de trabalho, apesar de muito difundida no senso comum, é de definição


problemática, pois remete, equivocadamente, à ideia de medição do volume de trabalho. Na
verdade, essa concepção de senso comum desconsidera aspectos fundamentais como a
variabilidade, as diferenças estratégicas e as inter-relações entre os fenômenos que não podem
ser mensuradas. (ABRAHÃO, 2009).

A dimensão cognitiva da carga de trabalho é intensa, pois a manicure precisa saber analisar a
unha e decidir rapidamente pelo melhor processo para trabalhar. Pequenos erros exigem
também uma rápida tomada de decisão, a fim de estancar um pequeno sangramento ou
esmaltar uma unha pela segunda vez. O ambiente também é propício para competições entre
as funcionárias para fidelizar os clientes e diminuir o tempo de atendimento.

Quanto à dimensão física da carga de trabalho a musculatura dos membros superiores da


manicure é bastante exigida devido aos movimentos repetitivos que costuma fazer. Pelas
observações realizadas verificou-se que ela abre e fecha o alicate mais de 45 vezes em 1
minuto, e essa operação se repete sempre que fizer o procedimento de retirar a cutícula. Outro
fator agravante é a posição sentada em que ela se encontra, pois, a cadeira não possui
regulagem de altura para o assento, e na maioria das vezes não há espaço para que possa
movimentar suas pernas, que ficam muito próximas às pernas da cliente.

Fatores como horário extenso de trabalho e clientes que exigem serviços que não estão
agendados podem interferir na dimensão psíquica da carga de trabalho. Existe também o fator
de pressão por produtividade, mesmo que oculto, pois quanto mais clientes atenderem maior
será o salário recebido. O fato de o salão estar localizado em uma rua onde existem ao menos

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mais 5 salões também pode trazer consequências porque, se a cliente não for atendida naquele
momento ele pode facilmente se dirigir a outro estabelecimento.

4. Discussão

Os fatores de risco estão relacionados um ao outro e devem ser analisados juntamente. Esses
fatores nem sempre são a causa direta de LER/DORT. Os aspectos biomecânicos, cognitivos,
sensoriais, afetivos e organizacionais interagem entre si (BRASIL, 2012). O movimento de
abrir e fechar um alicate não requer muita força, mas o fato de estar associado a rotação do
pulso e ser feito por repetidas vezes sem pausas pode ser o causador de dores e lesões. Muitas
vezes o tempo que seria destinado a uma pequena pausa, seja para lanche ou até mesmo
necessidades fisiológicas é destinado a atender mais um cliente que teve seu horário
encaixado na agenda, a manicure prioriza um maior ganho salarial ao seu tempo de descanso.

As exigências cognitivas podem causar um aumento da tensão muscular em um momento de


maior stress, esse fato pode ter importante papel no surgimento de lesões e distúrbios
(BRASIL, 2012). A manicure precisa atender bem ao seu cliente, fazer a unha corretamente
da melhor maneira possível e no menor espaço de tempo para ter um maior salário no final do
mês, e isso pode acarretar uma situação de grande stress.

O Ministério da Saúde orienta que utensílio usados por manicures não sejam compartilhados,
a menos que possam ser devidamente esterilizados. Esses materiais podem ser mecanismos de
transmissão de vírus inclusive hepatite C, por isso a orientação é de que qualquer
procedimento que envolva sangue siga os devidos cuidados (BRASIL, 2005). Apesar do salão
analisado seguir as normas de segurança quanto a esterilização dos materiais e usar lixas e
espátulas descartáveis, o fato da manicure não utilizar luvas faz com que ela, por vezes, esteja
exposta ao sangramento proveniente da remoção de cutículas. O compartilhamento de
esmaltes também pode ser um mecanismo propagador de vírus, fungos e bactérias.

Programas sistematizados de atividades físicas orientadas e ou de ginástica laboral


supervisionada poderiam contribuir para minimizar os problemas apresentados, tais práticas
auxiliam no equilíbrio das funções motoras, como manutenção de bons níveis de tônus
muscular, amplitude e estabilidade articular, além de potencializar um melhor funcionamento
neuro-humoral, conforme descrito amplamente no meio científico (PASTRE et al., 2007).

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5. Conclusão

Este estudo mostrou a importância do olhar ergonômico para o trabalho das manicures. As
dores relatadas pelas profissionais nas regiões das mãos, dorso e pescoço podem ter origem
não só na má postura adotada, mas também nos movimentos repetitivos que exercem, na
carga de trabalho intensa, nos mobiliários inadequados e no stress envolvendo demandas e
metas, que, muito constantemente uma atividade de serviço costuma exigir. Esses são fatores
que acarretam graves riscos à saúde, fazendo-se necessário a atribuição de pausas para
descanso ao longo do dia. A prática de ginástica laboral supervisionada e de atividades físicas
orientadas que auxiliem em funções motoras, a fim de evitar a ocorrência de lesões e
distúrbios relacionados ao trabalho. Entretanto as características do setor, tais como,
sazonalidades das jornadas semanais e clientes não agendados dificultam essa prática.

Pela situação de trabalho apresentada, acredita-se que a Ergonomia pode contribuir para o
planejamento desse ambiente de trabalho, adaptando-o positivamente para as trabalhadoras,
de modo a fazer com que estas possam usufruir de sua profissão minimizando alguns danos à
saúde. Consequentemente, a melhoria do ambiente e das condições de trabalho, de forma a
respeitar a saúde daqueles que o fazem, tendem a fazer com que a produtividade do negócio
tome novos rumos, desenvolvendo-se de modo perceptível em relação ao que era antes.

REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, Júlia, SZNELWAR, Laerte Vidal, SILVINO, Alexandre, SARMET, Maurício, PINHO, Diana.
Introdução à ergonomia: da prática a teoria. 1 ed. São Paulo: Blücher, 2009.
BOUCHEIX, J.M., CERF, M., VALLÉRY, G. As atividades de serviço: desafios e desenvolvimentos. In: Ergonomia,
FALZON (org.). 1. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2007.
BRASIL. Decreto-Lei nº 6.360, de 23 de Setembro de 1976. Dispõe sobre a Vigilância Sanitária a que ficam sujeitos os
Medicamentos, as Drogas, os Insumos Farmacêuticos e Correlatos, Cosméticos, Saneantes e Outros Produtos, e dá
outras Providências.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diagnóstico, Tratamento, Reabilitação, Prevenção e Fisiopatologia das
LER/DORT. 1. ed. Brasília: MS, 2001.
BRASIL. Ministério da Saúde. Dor relacionada ao trabalho: Lesões por esforços repetitivos (LER) Distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort). 1. ed. Brasília: MS, 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais: Manual de
aconselhamento em Hepatites Virais. 1. ed. Brasília: MS, 2005.

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COUTO, Hudson de Araújo. Ergonomia aplicada ao trabalho: Manual técnico da Máquina Humana Volume
2. 1 ed. Belo Horizonte: ERGO Editora, 1995.
FRAGOSO, R. Qualidade na beleza. Boletim ABNT. v.11, n.140, p. iii, jul./ago., 2014.
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2 ed. São Paulo: Blucher, 2005.
MACHADO, Daniela Chaves et al, Avaliação do desconforto postural em manicures. ConScientiae Saúde, v. 9, n. 3,
p. 375-380, 2010.
MÁSCULO, Francisco Soares, VIDAL, Mário César (orgs.). Ergonomia: Trabalho adequado e eficiente. 1 ed.
Rio de Janeiro: Elsevier/ABEPRO, 2011.
MORIGUCHI C.S., ALENCAR J.F., MIRANDA-JÚNIOR L.C., COURY H.J.C.G. Sintomas
musculoesqueléticos em eletricistas de rede de distribuição de energia. Revista Brasileira de Fisioterapia, v.
13, n. 2, p. 123-129, 2009.
NITEROI. Decreto-Lei nº 2396, de 11 de Outubro de 2006. Dispõe sobre os procedimentos específicos para a proteção
da saúde dos usuários dos serviços dos locais que menciona e dá outras providências.
PASTRE E.C., FILHO G.C., PASTRE C.M., PADOVANI C.R., ALMEIDA J.S. e NETTO-JUNIOR J. Queixas
osteomusculares relacionadas ao trabalho relatadas por mulheres de centro de ressocialização. Cad. Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n.11, p. 2605-2612, nov, 2007.

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