2019 VIEIRA FARACO Ler e Escrever Escrever e Ler

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Unidade 2 aims Hela ga a 21. Ler e escrever: atividades inter-relacionadas titulo desta segao resume uma questao importante para quem quer aprimorar seu dominio da escrita: ler e escrever so atividades inter-relacionadas. Assim, escrevemos para alguém ler (como discutimos na unidade anterior) e lemos para compreender os sentidos do texto que alguém escreveu. Ha, claro, varios motivos para nos dedicarmos a leitura: entretenimento, fruigdo estética, estudo, busca de informagoes etc, Mas ha também um outro motivo igualmente importante: lemos para aprimorar nosso dominio da propria escrita. Aleitura, de um lado, nos fornece recursos para ampliarmos nosso conhecimento. Sem esse repert6rio sempre em expansao, es erpretar o mundo tarfamos muito limitados quanto ao modo de int eos acontecimentos e, portanto, terfamos pouco a dizer por escrito. De outro lado, a leitura nos fornece exemplos das prat correntes de escrita. Em contato com textos escritos de variados géneros, vamos percebendo como se costuma escrever uma no- LER ESCREVER, ESCREVER E LER Escrever na Universidade atorio, um artigo cientific, em, um relatério, tificg uma reportag °, Uma ticia, a ae one démica, um artigo de opiniao, u esenha, um Poem, tese aca‘ uma cro) Nesse sentido, pel des frequentes neste € no i aprendendo as formas de organ a n selecionar os recursos lingufsticos mais adequados nica e assim por diante. ja observacao ¢ andlise de textos (atividg. s demais livros desta colegao), vamoy ro contetido, de estruturar 0 texto, de guise Em outras palavras, vamos nos familiarizando com as Carag, terfsticas mais comuns da escrita de cada género, Ao ler um texto com 0 objetivo de observagao e anilise, ni, estamos em busca de modelos para serem servilmente imitados Bem ao contrario. Realizamos esse trabalho para desenvolyer parametros que, depois, servirao para avaliarmos nossos pré.- prios textos. Vamos fazer uma pausa aqui e ler trechos de um artigo pro- duzido pela professora de filosofia e escritora Marcia Tiburi.0 texto, publicado numa revista de circulagao mensal (Cult), tema leitura como tema. Seu titulo: Poténcia de pensamento: por una filosofia politica da leitura. O texto é longo e tem varios subtitulos Selecionamos trés trechos para aprofundar nossas reflexdes. Leitura 1 LJ Leitura e democracia A construgao das sociedades democraticas tem tudo a ver com Sscrita ea leitura. A pratica mais antiga da democracia tem aver co™ 2 transmissdo do conhecimento. Que a democracia nao sobreviv? sem a transmissao da informagao pela qual os livros sempre fora mo & algo sobre 0 qual devemos meditar. Ora, se™ serpa muita coisa teria sido perdida. Muita coisa teria deixado 0® a (oe A propria reprodutibilidade dos livros tem aver CO™ Cracia moderna que, em seu melhor sentido, relacionas® com a partilha do proy 3 vide dos livros, [. Proprio conhecimento que em tudo deve 4 Ler para pensar Para aprender a perguntar, precisamos aprender a ler. Ndo porque 0 pensamento dependa da gramatica ou da lingua formal, mas porque ler 6 um tipo de experiéncia que nos ensina a desenvolver racio- cinios, nos ensina a entender, a ouvir e a falar para compreender. Nos ensina a interpretar. Nos ajuda, portanto, a elaborar questées, a fazer perguntas. Perguntas que nos ajudam a dialogar, ou seja, a entrar em contato com o outro. Nem que este outro seja, em urn primeiro momento, apenas cada um de nés mesmos. [...] Livro como meio de comunica¢ao e forma de subjetivacdéo Se 0 livro é 0 mais incrivel suporte dos saberes acurnulados, ele também é um meio de cormunicacao entre pessoas, mas também uma comunicacao no tempo. Viajando na historia, 0 livro foi o su- porte dos saberes e o transmissor de informacées e tradi¢des que conectou pessoas e épocas. Devemos a forma¢do de quem somos como sociedade também — e, talvez, sobretudo — aos livros que, em vasta medida, nos protegeram das inevitaveis perdas que constituem toda cultura, A cultura foi transmitida e protegida pelos livros. Meios mneménicos, 0s livros nos ligam a contetidos passados, mas também aos seres humanos que viveram no passado e que, assim como nés, amaram 0s livros, e, nesse espirito, leram, escreveram e guardaram os livros em casas especialmente feitas para abriga-los, as bibliotecas. Por isso, devemos entender os livros no sentido da “medialidade”, como meios de comunicacao e transmissdo. Isso coloca os livros no mesmo universo dos outros meios de co- municagdo, como o cinema, a televisdo, 0 radio, 0 telefone, 0 com- putador e os mundos objetivos e subjetivos que eles criam. O livro criou um mundo proprio, o mundo dos livros, um mundo povoado de escritores e leitores. Esse mundo é um mundo de textos, um mundo de letras e palavras. A escrita se tornou tao essencial para a construgdo das sociedades democraticas que a luta por direitos se faz muitas vezes como a luta pela educacao e a luta pela educagao se faz também como luta pela alfabetizagdo. Sem alfabetizacao, © que se conquista nesse mundo em que os livros vém a ser do- cumentos e monumentos, nao ha democracia no sentido inicial e essencial de acesso aos meios. Hoje falamos de acesso a meios de comunicacao e transmissdo da informagao como a internet, mas 0 LER EESCREVER, ESCREVER E LER Esorever na Universidade - Fra de acesso mals fundamental ao saber que conhecemos arg meio hoje sempre foi 0 livro. Isso nos leva a pensar ii “forma de subjetivacdo” rel questo das formas de subjetivacao, po, firo-me ao Modo COMO Nos tornamg, quem somos a partir da introje¢do ou Se aeineieee que podemos perceber. [..] Podemos diz 7 eae 0 janelas ou portais, no sentido de que, por melo deles, viajamos a outros mundos, conhecemos, nos informamos, aprendemos a articular teorias, narrativas e linguagens em geral.O mundo dos livros forjoy nossa subjetividade em todos os sentidos. O livro como "meio" jm, plica um modo especifico de percepcdo que também nos constrd) no sentido da forma como nos afeta. Nao se trata, portanto, apenas dos contetidos aos quais temos acesso, mas do tipo de pessoa que nos tornamos em funcdo da experiéncia com os livros. Essa experiéncia diz respeito 4 vivéncia coma forma livro, Nao é dificil encontrar um escritor a dizer que, no ato de escrever, construlu a si mesmo. O que fazemos nos constrdi intimamente, nossa experiéncia é 0 efelto do que fazemos e, cer- tamente, do que é feito de nds, Do mesmo modo, ler é um fazer, e introjetamos de tal modo esse fazer que j4 ndo somos nada semele, (Fonte: Revista Cult 31/01/2016, Dispontvel em: httpsi//revistacult,uol.com,br/home/potencia-de-pensamento-por-uma filosofia-politica-da-leitura/, Acesso em: 18/10/2018) SES CS Algumas questdes para reflexio: (1) Note que a autora acrescentou uma dimensio social politica a leitura, afirmando: a construgdo das sociedades democrdticas tem tudo aver coma escrita é a leitura, Como a autora justifl sua alirmagéo? (2) Argumentamos ante jormer conhecimento eG, nle que a leitura aumer Por isso, Nos fornece recursos pi praticas de eseri t . I de escrita, Aautora Amplia essa nossa argument corre ensar, Por que ¢ Pa NOSSAS 0, icionando ler @ p Portante para que: 1 correlagio ¢ im ™ quer aprimorar Por fim, a autora corre! da nossa propria subje essa correlagtio? cu dominio da eserila? Q) i laciona a leitura com a construgie lividade, Como podemos entent! Numa primeira sintese, podemos dizer que a leitura, pelas varias raz6es discutidas acima, é necessdria para quem quer aprimorar seu dominio da escrita. E por isso que © psicélogo estadunidense Steven Pinker, autor de um livro sobre a escrita (Guia de escrita'), d , que bons escritores sao sempre leitores avidos. Sem leitura, dificilmente escre- veriamos bem: ficarfamos sem repertério e sem parametros do que é um bom texto. No entanto, deve ficar claro que, para escrever bem, nao basta apenas ler. Nao hd uma relacgéo mecanica entre ler e e: crever. Em outras palavras, a leitura é necessdria, mas nao é suficiente. Precisamos também pér a mao na massa, ou seja, temos de praticar a propria escrita. E estamos tendo varias oportunidades de fazer isso neste livro. 2.2. 0 ato de ler Quando observamos alguém lendo, parece que se trata de um evento apenas receptivo. Aparentemente, a pessoa — com 0 livro, a revista, o jornal nas maos ou em frente a tela do compu- tador — esta s6 absorvendo o contetido do que lé. No entanto, ler é muito mais do que isso: é um evento ativo. Quando lemos, nao apenas decodificamos passivamente 0 contetido do que esta escrito. A compreensao de um texto nao resulta s6 e apenas da soma dos sentidos de cada palavra e de cada sentenga que 0 compée. Nés, como leitores, ¢ que cons- truimos os sentidos do texto. Para isso, ativamos uma rede de conhecimentos prévios para produzir uma compreensao global e coerente do texto que estamos lendo. Isso ocorre porque nenhum texto diz tudo: quando escre- vemos, apostamos que nosso leitor presumido tem os conheci- mentos necessarios para: 7 Titulo original: The Sense of Style: The Thinking Person's Guide to Writing in the 2M Century. Traduzido ¢ adaptado para o portugues pelo linguista Rodolfo Mari publicado em 2016 pela Editora Contexto. {ERE ESCREVER, ESCREVER E LER ae Escrever na Universidade - Fun Tomemos aqui um exemplo bem simples desse process armacia e Vocé entra numa > a seguinte placa na pratele; ira dos esmaltes: “Por favor, néo experimente os esmaltes”, f o conhecimento sobre esmaltes que esta no seu repertério cognitivo que faz vocé entender que “experimentar”, neste caso, significa: (@uueueec eine esc OMe tel oleate Ogre one itie Outro exemplo simples. Quando estamos di gindo numa estrada e lemos a placa “Pare fora da pista”, nds nado paramos 0 carro, certo? E nosso conhecimento prévio sobre dirigir que nos faz interpretar a placa néo como uma ordem para parat imediatamente, mas como uma informagao de que, se for ne- cessdrio parar, devemos fazé-lo fora da pista. Ainda um exemplo. Vocé chega em casa e encontra 0 se guinte bilhete: ene ERC eR cutee ig De novo, é seu conhecimento prévio sobre aniversdrios que faz vocé estabelecer uma relagao, que nao esta linguisticament® explicitada, entre a primeira ea segund a informagao desse tex'0 A compreensao nao se daria tao facilmente ssim caso 9 con tetido do bilhete fosse este: “Amanha é aniversdrio da Daniela 3 ori Saf pra comprar um jornal. Beijos!”, Mas ela também nao se" impossivel: tudo dependeria dos conhecimentos prévios parti- lhados entre vocé e 0 autor do bilhete. Vamos ler agora um texto um pouco mais longo e observar o mesmo mecanismo de ativa i0 de conhecimentos prévios para construir uma compreensao global e coerente do que lemos. LeiLura 2 BOTO AMAZONICO E MONITORADO VIA SATELITE Iniciativa inédita no Brasil, Bolivia e Colmbia visa mapear percursos e ampliar conservagdo Um projeto liderado por organizacées ndo governamentais esta monitorando via satélite botos em rios do Brasil, da Bolivia e da Co- lémbia. A iniciativa é inédita e tem como objetivo coletar uma série de informagées sobre os animais, incluindo a distribuigdo no vasto bioma amaz6nico, para tracar estratégias mais eficazes de conserva¢do. No Brasil, o projeto é liderado pela WWF, que desde 0 inicio do ano ja vinha utilizando drones para estimar as populagées locais de bo- tos. De acordo com Marcelo Oliveira, especialista em conservacao do programa Amazénia do WWF-Brasil, o monitoramento revelara dados importantes sobre a distribuicéo das populagées de botos, sua genética e os impactos que elas sofrem com as construgdes de barragens, por exemplo. “E a primeira vez que se rastreiam os botos por satélite. Atualmente, sabe-se que esses animais estéo ameacados, mas todo o conhe- cimento sobre eles tem por base dados pontuais. Sabemos muito pouco sobre o comportamento, habitat ea distribuicdo”, diz ele. “Queremos ter uma ideia geral da saUde desses animais e de seus padrées de deslocamento. E verificar como esses grupos de botos serdo afetados pela proximidade das hidrelétricas que estao pre- vistas para esta regido”, afirma a cientista Miriam Marmontel, do Instituto de Desenvolvimento Sustentavel Mamiraua (ISM) — uma das instituicdes participantes do projeto internacional. Inicialmente, 0 projeto vai monitorar 15 animais, cinco em cada pais, Segundo Oliveira, ¢ preciso capturar os animais para instalar 0 tag — uma espécie de piercing, fixado na nadadeira dorsal do UER E ESCREVER, ESCREVER E LER | | Escrever ra Universidade - Fur, uando 0 boto val a superficie e poea nadadeira fora q; animal. Q' sitivo envia sinais ao satélite. “No Brasil, Capturamgs agua, 0 dispo' na bacia do Rio Tapajés e instalamos tags em Cincy nove SE Marafion, na Colombia, um animal jé foi captur, C als outros quatro. Na Bolivia, estamos agora instalandg os tags em cinco animais, na bacia do Rio Madeira", explicou 0s botos que estdo sendo monitorados sdo todos das espécies Inig geoffrensis & Inia biviensis — dois dos quatro tipos de botos exis. tentes na Amazonia. Os primeiros animais a terem 0 dispositivo instalado — dois dos cin. co brasileiros — comecaram a ser monitorados no fim de outubro Segundo Oliveira, cada um deles jd emitiu mais de 150 posi¢ées, "9 satélite tem sido acionado de trés a quatro vezes ao dia.” Segundo ele, as baterias dos dispositivos podem durar até sete meses. Apés os primeiros testes, 0s pesquisadores pretendem aumentar o ntiimero de botos monitorados para 50. (Fonte: 0 Estado de S. Paulo, 5/12/17, p. 4-14) O texto que acabamos de ler é uma noticia sobre um pro- jeto de monitoramento dos botos amazénicos, que tem como objetivo conhecer melhor esses animais para tracar estratégias mais eficazes de conservacao. Ha varias informagées explicitas no texto. E ha também 's outras que ficam por conta do conhecimento de mundo do leitor. Note, por exemplo, que em nenhum momento 0 texto diz como se faz monitoramento via satélite. O autor pressupoe mee leitor de jornal sabe. Do mesmo modo, 0 texto nao diz © que é um drone nem o que € um piercing. O texto pressup0? também que o lei ™ que 0 leitor sabe que um tag funciona com bateria ¢ © que é uma bateria. Po: de barrage va r fim, © texto faz mengao A construgie al ion . previsiag S¢, mais a frente, fala das hidrelétricas que esti s ara a regiao, Na, Para a regio. Nao correlaciona as barragens com a hidrelétri ica: i i infimaesn re Pressupde que o leitor de jornal tem ess* , be vida da como sabe que as barragens interferem "™ ‘fauna de um rio, " citas no texto, mas precisam ser mobilizadas pelo | Agora é com vocé: que outras informagées nao esto expli- leitor no ato da leitura? ® Leitura 3 Vejamos mais um exemplo que mostra como, ao lermos, combinamos o que esta dito no texto com nosso conhecimento de mundo para construirmos sentidos. Reproduzimos abaixo 0 primeiro paragrafo de uma croni- ca do psicanalista Contardo Calligaris, publicada sob o titulo Leitura de carnaval: Passei 0 Carnaval imerso numa leitura um pouco insdlita (a vista do clima geral). Talvez tenha sido de propésito, para ser do contra. Ou talvez uma leitura filos6fica seja apenas mais uma fantasia. O fato € que li, pela primeira vez, o pequeno livro de George Steiner (escritor e historiador das ideias e das literaturas) sobre “Martin Heidegger” (0 fi- lésofo alemdo, 1889-1976), publicado em inglés em 1979 (Viking Press). (Fonte: Folha de S.Paulo, 15/02/18) (1) (2) (3) (4) Observando o texto O autor comega informando aos leitores que passou 0 Car- naval imerso numa leitura insdlita. Mais a frente, ele nos diz que foi um livro sobre um fil6sofo. Por que tal leitura seria ins6lita durante o Carnaval? O autor diz que a leitura que fez é um pouco insdlita “a vista do clima geral”. Como podemos interpretar essa expressao que aparece no texto entre parénteses? Ele diz que talvez tenha feito essa leitura para ser do contra. Ser do contra em relagao a qué? Por fim, ele diz.que “talvez uma leitura filoséfica seja apenas mais uma fantasia”. Que sentidos podemos atribuir a essa afirmagao do autor? Lembre-se de que ele é psicanalista. LER EESCREVER, ESCREVER E LER screver na Universidade - Fund he Leitura 4 Agrafos abaixo Eles sao tao legiveis para Al Leia agora os pa\ GL vocé quanto os textos anteriores desta unidade? Por qué? Lixiviagdes acidas posteriores repdem sucessivamente os fons calcio, depois aménio, e depois potassio, juntamente com os ions aluminio, até que a argila, por fim, fique saturada. A lixiviagado da caulinita prende-se mais 4 silica, e ndo aos Oxidos de aluminio e ferro. Confirma-o a propria cor dos solos. As tonalidades réseas e vermelhas sdo derivadas das hematitas hidratadas. No cerraddo, em virtude da presenca de goethita e hmus, os solos v4o-se tor- nando brunos. (Fonte: GOODLAND, Robert; FERRI, Mario G. Ecologia do cerrado Belo Horizonte: Ed, Itatiaia; Sao Paulo, Editora da Universidade de So Paulo, 1979, p. 145.) EE MPO I TESS SE O ente enquanto tal, o advento que se oculta no desvelamento, € 0 fundado que, como fundado e assim como obrado, funda a Seu modo, a saber, obra, Isto 6, causa. A deciso entre fundante e fundado enquanto tais ndo mantém apenas ambos separados, ela os mantém na unido reciproca, Os elementos sustentados Na separacao sdo de tal modo imbricados na decisdo que nd0 hha Ser enquanto fundamento funda o ente, mas que 0 Pet perpen meena Como o mais ente, na medida em que “é" a plenitude do ser Fonte: (Fonte: HEIDEGGER, Martin, Conferéncias e escritos filosoficos: — Sto Paulo; Nova Cultural, 1999, p. 198) Estamos quase certos de que vocé teve mais dificuldade em compreender esses dois Paragrafos do que os anteriores. Afinal, o que seriam solos brunos? E hematitas hidratadas? O que seria prender-se mais lica do que aos 6xidos de aluminio e ferro, em se tratando da lixiviagao da calunita? A propésito, o que seria calunita? E lixiviag: 0? Ora, um texto sobre lixiviacao (a dissolugdo e remogo dos constituintes de rochas e de solos), escrito numa linguagem superespecializada, requer um leitor também especializado, que traga consigo conhecimentos prévios para completar as informagées nao explicitas e construir os sentidos pretendidos pelo texto. O mesmo vale para o texto do filsofo alemao Martin Heidegger (0 segundo paragrafo), cujo assunto desafiamos vocé a dizer qual é. Para arrematar essa nossa discussdo, vamos ler um pequeno trecho do artigo Letramento e leitura: formando leitores criticos, escrito pela professora Delaine Cafiero, da Universidade Federal de Minas Gerais. Verifique se 0 que ela diz sobre leitura coincide ou nao com o que dissemos anteriormente Leitura 5 Aleitura é um processo cognitivo, histérico, cultural e social de pro- dugao de sentidos. Isso significa dizer: 0 leitor — um sujeito que atua socialmente, construindo experiéncias e historia — compreende o que esta escrito a partir das relac6es que estabelece entre as infor- macées do texto e seus conhecimentos de mundo. Ou seja, o leitor € sujeito ativo do processo. Na leitura, ndo age apenas decodificando, isto é, juntando letras, silabas, palavras, frases, porque ler é muito mais do que apenas decodificar. Ler é atribuir sentidos. £, a0 com- preender o texto como um todo coerente, 0 leitor pode ser capaz de refletir sobre ele, de critica-lo, de saber como usa-lo em sua vida. (Fonte: RANGEL, E. de 0.; ROXO, R. H.R. (Coord.). portuguesa: ensino fundamental. Brasilia: Ministerio da Educacao, Ungua Secretaria da Educacao Basica, 2010, p. 85-106.) {ERE ESCREVER, ESCREVER E LER screves 1a Wnbveridae -Furdameray, 73,0 problema das fake news Mais um dado importante sobre a leitura precisa ser des. tacado: todo texto tem autor. Pode parecer Obvio, No entanto, ca b : muitas vezes, esse fato passa despercebido dos leitores, ido ou n4o assinar o texto. Mas O autor pode ser desconhi ele esta sempre 14. Nao ha neutralidade completa na escrita, que se revela sempre subjetiva. Para lermos sem ingenuidade, é pre- ciso ter isso claro, Quem escreve ocupa um lugar de observagao particular (nao universal); olha € recorta o mu ndo sob determi- nadas perspectivas; tem interesses, crengas ¢ valores pessoais, Tudo isso, de uma forma ou de outra, aflora na sua escrita. Oautor pode transformar esteticamente sua visao de mundo e criar uma obra de arte literéria: um romance, um conto, um poema, uma pega de teatro; pode relatar um acontecimento de relevancia social e escrever, entéo, uma noticia; pode construir um argumento a favor ou contra uma ideia e redigir, assim, um artigo de opiniao ou um trabalho académico. Portanto, atras de cada texto, ha uma inteng&o: o autor quer fazer arte, transmitir uma informagao, argumentar e assim por diante. No entanto, é possivel também que o autor tenha a intengao de enganar ou confundir seus leitores. Nos tltimos anos, por exemplo, as chamadas fake news (noticias falsas) viraram um tema constante dos debates publicos. Vamos falar um pouco sobre elas nesta tltima segao da unidade. Comecemos com algumas ponderagées sobre 0 que s40 fake news, a partir da leitura de um artigo do professor Pablo Ortellado, da Universidade de Sao Paulo (USP), publicado na a ’ 4presentado aqui em trés partes, putados para Punir oe antes a iiod aigumienaeee Bagao de noticias falsas e desenvolve 620 contraria a taig Propostas, considerando trés aspectos: a dificuldad ini oa : le de definir o que sao fake news, a quant tisco a liberdade ue S40 produzidas diariamente no Brasil ¢° © expresso embutido nas propostas. he Leilura 6 7 Tres DESAFIOS PARA REGULAR A CIRCULAGAO DE NOTICIAS FALSAS Pablo Ortellado 1. Definigéo Otermo fake news, em portugues, noticias falsas, ganhou difusdo em dezembro de 2016 no contexto da campanha presidencial america- na. £ um termo que nasceu na cobertura jornalistica e na dindmica do debate politico e, por isso, nunca foi propriamente definido. Primeiro, 0 termo foi utilizado para se referir a sites maliciosos que promoviam informagado equivocada travestida de jornalismo — sites que se disseminaram no contexto da campanha eleitoral americana, principalmente para atacar adversdrios. Depois, o proprio Donald Trump passou a utilizar o termo para se referir a veiculos da grande imprensa que faziam matérias que ele ndo considerava adequadas. O termo se tornou assim excessivamente elastico, sendo utilizado tanto para se referir ao post de um blog que promovia boatos sobre Hillary Clinton, como para se referir a uma matéria investigativa do New York Times. Para escapar da imprecisdo, alguns tedricos tém tentado dar consisténcia ao conceito, circunscrevendo o fendmeno aquelas matérias inveridicas que aparentam ser fruto de apura¢ao jornalis- tica e cujo erro advém nao de uma apuracao ruim ou descuidada, mas de uma intencdo maliciosa (busca de lucro econdmico ou beneficio politico). Embora essa definicdo mais precisa seja mais util, ela ainda é incapaz de dar conta do fendmeno. Quase todos os sites aos quais queremos nos referir ao utilizar a expressdo “site de noticias falsas” apenas ocasionalmente produzem noticias falsas, no sentido circunscrito de mentiras travestidas de noticias. Amaior parte do que é produzido regularmente por esses sites sao matérias recheadas de pequenas distor¢Ges: exageros, manchetes apelativas, sensacionalistas ou em desacordo com 0 texto, especu- lagdes apresentadas como fatos, falsas atribuicdes e uma miriade de outros procedimentos de fraude e logro. O uso do termo “no- LER E ESCREVER, ESCREVER E LER A eee eee Escrever na Universidade - ticias falsas” aponta s6 para a ponta mais extrema e visive| di le um problema que é maior e mais nuangado. Embora possamos suspeitar que hd motiva¢do politica ou €Condm). ca por tras de algumas dessas noticias enganosas, é dificil comprovar a mé-fé e garantir que nao se trata apenas de erro, Como, na pra. tica, separar uma informacdo falsa, fruto de urn erro de apuracao, daquela que foi produzida intencionalmente, de forma Maliciosa? Além disso, qual o grau de erro que deve ser objeto de algurn tipo de sanc4o? Um exagero apoiado nos fatos deveria ser aceito? Uma frase tirada de contexto e langada na manchete? Uma especulacag apresentada de maneira a parecer um fato concreto? Como se vé, a linha é dificil de ser tragada e uma série desses expedientes sdo também utilizados pela chamada “imprensa profissional". J aera Bi Relendo 0 texto até aqui (1) O autor mostra que a expressdo “fake news” se tornou ex- cessivamente eldstica. Por qué? (2) Diante disso, alguns teéricos tém tentado delimitar 0 con- ceito. Segundo eles, a que fendmeno se deveria aplicar a expressao? (3) Mesmo assim, 0 autor considera que a expressao “fake news” continua problematica. Por qué? O texto traz, em seguida, reflex6es sobre a quantidade de no- ticias que se produzem diariamente no Brasil, o que, por si s6, difi- culta a verificagdo da veracidade de todas as informagoes. Vejamos. (1 2. Extensdo Essas consideragées nos levam ao segundo ponto, a dimensé0 do fendmeno das noticias falsas. Nosso problema nao € apenas identificar 0 erro, avaliar o grau do erro e determinar a inten¢a0-0 problema é também de escala. O Brasil tem hoje trés agéncias de verificagdo de fatos, o que no Jargdo do meio se conhece como fact-checking: as agéncias Lupa, Aos Fatos e Publica. Estamos falando de trés iniciativas profissionais, vinculadas a International Fact Checking Network, com jornalistas exclusivamente dedicados a tarefa de apurar e verificar o embasa- mento factual do que disse um politico ou do que alegou um artigo. Se somarmos tudo 0 que as trés iniciativas produziram na Ultima semana, ndo chegamos a dez verificagées. Enquanto isso, todo dia se produzem no Brasil de 3,000 a 5.000 noticias de politica nacional, entre as matérias que sdo produzidas pela grande imprensa, pelo jornalismo digital e pela imprensa alternativa, tanto a de esquerda, como a de direita. Adesproporcao entre tudo o que se produz e a estrutura existente para verificar é muito grande. Estamos falando de pelo menos 20 mil matérias por semana, podendo chegar a quase 0 dobro disso, contra uma estrutura disponivel capaz de verificar apenas uma dezena, ou seja, 0,05% do total. Para dizer sem rodeios, é impossivel verificar com rigor as noticias de politica que o Brasil produz diariamente. Para escapar desse problema, podemos supor uma abordagem diferente que enfatize nado as matérias, mas os veiculos respon- saveis pelas materias, retirando do ar os sites que reiteradamente produzem noticias falsas. Mas ai enfrentamos um outro desafio. Quando olhamos para a propriedade e para o desenvolvimento desses sites engajados que promovem a desinformacao, vemos que frequentemente seus operadores tém um portfolio de varios dominios que vao utilizando e descartando quando passam a ter problemas com a Justiga ou quando as plataformas os punem. Vi- mos isso recentemente quando o Facebook mudou seu algoritmo para degradar o desempenho de sites que tinham certas condutas maliciosas e em seguida varios operadores passaram a descartar dominios antigos e migrar para outros mais novos que contornam as exigéncias da plataforma. Com a hospedagem no exterior e a adocao de servicos de anonimizacao, estabelecer quem esta por tras de cada site de noticias falsas nao é trivial e seguramente toma mais tempo do que a dura¢ao do periodo eleitoral. CJ EE LER EESCREVER, ESCREVER ELER Esorevr ra Universidade - Furdarerte parte do texto “Para dizer sem rodeios, ¢ impossfvel yer). politica que 0 Brasil produ ” Q que sustenta essa sua afirmagao? es que reiteradamente produzem noticias io plausivel para o problema das fake Relendo a segunda (1) O autor afirma: . ficar com rigor as noticias de diariamente” (2) Retirar do ar os sit falsas seria uma solug news? Por qué? O texto é conclufdo com observagoes sobre quem teria com- peténcia para regular a circulacdo das noticias falsas. Vamos a leitura: [1 3. Competéncia Quem deveria ser responsdvel pela regulacdo da circulacao de no- ticias falsas? As policias judicidrias, como as policias civis € a Policia Federal? O Judicidrio, por meio dos tribunais eleitorais? Uma for¢a-ta- refa, como se propés, incluindo o exército e os Orgos de inteligéncia? Creio que nao é necessdrio discorrer sobre o grave risco a liberdade de expressdo que consiste no Estado ter o poder de definir qual noticia é legitima e qual nado € e poder censurar ou perseguir 0 emissor. Isso simplesmente nao condiz com uma democracia liberal, em qualquer acepcao do termo. Além desse argumento de principio, que deveria ser suficiente, ha ainda outro, de natureza pratica e operativa. Dado os problemas de definicdo e de escopo, uma abordagem orientada para a san¢a0 (multa, censura ou punicéo) seguiria apenas dois caminhos: seria inécua ou cometeria arbitrariedades, Ou bem cometeria abusos reiterados buscando a eficiéncia, ou seria cuidadosa e estéril, ja que ndo teria como processar 0 grande volume do que é produzido. es que escolher entre as Principais propostas que esta0 aca mesa, 0 melhor é ndo fazer nada e ficar como estamos. 0 © imposto pelos sites de noticias falsas ndo tem solucao facil ea aborda i : co gem mais adequada, que inclui transparéncia, educa¢40 ‘orregulacdo, apenas Mmitiga o problema. eee (Fonte: Fotha de S.Paulo, 16/01/'8) Relendo a terceira parte do texto (1) O autor usa dois argumentos para se posicionar contra i mente as propostas de regulag news. Qu o de circulagao das fake sao eles? (2) O autor conclui que, diante das propostas de regulamenta- go que estao sendo discutidas, “o melhor é nao fazer nada e ficar como estamos”. Por qué? Outra voz sobre o tema A partir da leitura do artigo do professor Pablo Ortellado, dificuldades de elaborar uma legislagao que cofba a circulagao das noticias falsas. O docente argu- solugdo e a abordagem mais pudemos constatar menta: 0 problema nao é de facil adequada, que inclui transparéncia, educacdo e autorregula- cao, apenas o mitiga. Entretanto, nds, que estamos inevitavelmente expostos a informagées falsas, precisamos desenvolver estratégias de defe- sa. Veja o que diz sobre isso 0 jornalista e cientista social Diogo Anténio Rodriguez, criador do site Me Explica?, em entrevista concedida a revista Vida simples: Leitura 7 NAO ACREDITE EM TUDO O QUE LE Pode parecer exagero, mas ndo é. Em tempos de compartilhamento facil da informacao, isso se faz mais do que necessdrio Ana Holanda As redes sociais podem nos aproximar de pessoas que admiramos ou que moram longe, bem como resgatar antigas amizades. E tam- bém costumam ser uma boa fonte de informacao, desde que vocé cheque o que Ié antes de replicar. Isso mesmo. E cada vez maior a quantidade de noticias falsas, conforme alerta 0 jornalista e cientista social Diogo Anténio Rodriguez. “As mentiras hoje podem chegar a milhares de pessoas. Vidas podem ser arruinadas por conta de LER E ESCREVER, ESCREVER E LER screver 1a Universidade - fundamen er expostas a hurnilhagées pUblicas”, aler. boatos. Pessoas podem s ‘aforma de ta. Diogo & criador do Me Explica? (meexplica.com), pla’ jornalismo explicativo, de politicaa tratamentos médicos, € defensor ancia de checarmos toda noticia que nos € apre: da import. entada de maneira chamativa. O que 6a chamada pés-verdade? “pés-verdade” 6 um termo que entrou na moda. Ele descreve a ideia de um mundo em que, mais importante que relatar fatos, 6 ser convincente. Isso aconteceria devido a dificuldade de saber a verdade sobre qualquer assunto. Ainternet seria a culpada de nos inundar com informagées, tornando a verifica¢do de qualquer tipo de verdade impossivel. Como isso surgiu? Esse termo comegou a aparecer na internet de maneira esponta- nea e se tornou um chavao para falar do mundo em que vivernos. € essencial saber que, de fato, o mundo esta repleto de informa- G6es e, mais importante, falsas. O fato de existir um termo como pos-verdade mostra que estamos com dificuldade de entender e contextualizar os acontecimentos. Hoje, recebemos diversos mate- riais pelo celular, muitas vezes vindos de familiares, falando sobre assuntos variados. Na grande maioria das vezes, 6 impossivel saber se a informacdo é verdadeira. Como estamos muito ocupados, acabamos nao pensando muito naquilo e, na duvida, repassamos o contetido. Essa é uma das maneiras pelas quais ajudamos a cons- truir a pds-verdade. Devemos checar tudo o que lemos? Pode parecer neurose, mas 0 ideal seria que checassemos tudo. Como isso é impossivel, os jornalistas so, em teoria, os responsa- veis por fazer isso. Mas um dos problemas que enfrentamos agora € que, na pratica, qualquer um pode publicar o que quiser, seja verdade, seja mentira. Basta ter uma conexdo com a internet. E muita gente se aproveita dessa facilidade para manipular a popu- lacao, Existem indicios disso, no Brasil e no exterior, Um exemplo éa interferéncia da Russia nas eleicées americanas (de 2016], um caso que esta sendo investigado. O que podemos fazer para checar minimamente uma infor- magao? Existem varias técnicas faceis, Em primeiro lugar, ndo acredite em conteudos que chegam sem links. Essa triage j4 consegue eliminar uns 60% das noticias falsas. Mesmo que exista um fink, olhe com cuidado se ele é mesmo do veiculo que diz representar. Diversos sites confundem as pessoas usando nomes de jornais e revistas famosos com pequenas variacées para “pegar” os leitores. Quando estiver lendo a matéria original no /ink, procure ler 0 texto até o fim. Muita gente usa uma velha técnica do mau jornalismo, 0 sensacionalismo, para espalhar informacées falsas usando uma matéria verdadeira. Quando vocé |é 0 texto, nao encontra tal informagao ali. Se vocé nao souber se um site é confiavel, olhe outras matérias. Veja se ele fala de outros assuntos, se usa manchetes sensacionalistas e catastrofi- cas. Se sim, desconfie. Preste atencado também ao uso de adjetivos. Eles sao um sinal de que ou 0 texto é opinativo, ou esta tentando manipular sua opiniao. Textos informativos evitam adjetivos. Quais as consequéncias de compartilhar inverdades? Informacées falsas podem até matar. Em 2014, no Guaruja (SP), uma pagina de Facebook espalhou um retrato falado de uma mulher que supostamente usava criangas em rituais de magia negra. Uma mulher foi confundida com o retrato e, apesar de nao ter qualquer relacao com esse tipo de ritual, foi linchada e morreu, Imagine isso numa escala de milhares de pessoas. Podemos tomar decis6es er- radas a respeito do nosso voto, podemos acusar pessoas por crimes que elas nao cometeram. Especialistas afirmam que Donald Trump. se beneficiou de noticias falsas para ganhar a eleicao presidencial nos EUA [em 2016], embora nao se possa atribuir sua vitoria apenas aisso. Outro caso famoso € 0 do referendo a respeito do Brexit [os eleitores britanicos foram consultados se queriam ou nao a retira- da do pais da Unido Europeial, que também viu uma inundagdo de dados falsos sobre a economia britanica, que podem ter induzido muita gente a votar pela saida do Reino Unido da Unido Europeia. Que conselhos vocé daria para evitar que as mentiras se pro- paguem? Acho que as pessoas deveriam ter mais calma na hora em que recebem algo, principalmente em aplicativos de mensagens, como AER EESCREVER ESCREVER E LER SR EE EE DSTO PI ST ET Escrever na Universidade - Furtderney WhatsApp. Devem olhar para aquilo de manelra critica: *Serq 0 What : éverdade?", “Onde posso encontrar uma fonte confidye| para aa isso?”. Digo que, geralmente, sé algo parece bom demais Se verdade, geralmente esse algo é mente, Fontelds que dizem exatamente aquilo que a gente pensa podem ser ay. madilhas. Sempre tome cuidado com 0 que todo mundo diz que é verdade, Muitas vezes, a certeza das pessoas ndo se baseia er fatos, Todos temos 0 direito de ter opinido, mas ndo podemos usar mentiras para confirmar nosso ponto de vista, Outra coisa importante é sempre procurar ler jornais, revistas, blogs e sites que fazem jornalismo de verdade. Os jornalistas sdo profissionais treinados e preparados para procurar fatos, confirmd-los e conta- -los a nds. Parece uma coisa facil de ser feita, mas nao é. Leva tempo, custa dinheiro e é necessario ter pessoas que sabem fazer isso. De novo, escrever na internet qualquer um consegue. Fazer jornalismo é outra historia. Ends, hoje, precisamos de jornalistas mais do que nunca. (Fonte: Revista Vida simples, 26/12/2017. Disponivel em: http://vidasimples uuol.com.br/noticias/compartilhe/um-cafe-com-diogo-antonio-rodriguez-nao- acredite-em-tudo-o-que-le.phtml#.WtUply_ceRs. Acesso em: 19/10/2018) Relendo a entrevista (1) (2) (3) (4) Como 0 entrevistado explica o surgimento do termo “pés- -verdade”? Segundo ele, devemos checar tudo o que lemos. Que pro- cedimentos ele sugere para isso? Que recomendacées ele da aos leitores para evitar a propa- gacao de noticias falsas? Por que é relevante ter cuidado em nao repassar noticias falsas? Releia as seguintes afirmagées do entrevistado e responda a Nossas questées;: fa) et (a) "O fato de existirum termo como pés-verdade mostra que estamos com dificuldade de e1 F ; ntender e contextualizar OS acontecimentos,” * Aquea a que acontecimentos ele esta se referindo? (b) “Preste atengdo também ao uso de adjetivos.” * Por que ele faz essa recomendagao? (©) “Muitas vezes, a certeza das pessoas nao se baseia em fatos.” * Qual a consequéncia disso para nds, leitores? Producao escrita Agora é hora de vocé escrever um texto sobre o proble- ma das fake news. Para tanto, voltaremos a um dos principais motes desta unidade: a inter-relacao entre leitura e escrita. Por certo, a leitura do artigo do professor Pablo Or- tellado e a entrevista com o jornalista Diogo Anténio Ro- driguez foram relevantes para a construgao de sua opiniao sobre as formas de combate as noticias falsas. Entretanto, quanto mais vocé ler sobre esse assunto, mais vai expan- dir seu conhecimento e avivar sua criticidade acerca da quest&o. Consequentemente, seu dominio da escrita sobre o tema vai se ampliar. Afinal, é pela leitura de bons textos escritos (e falados) que nossas formas de interpretagao dos acontecimentos sociais se estendem e passamos a ter algo consistente a ser dito por escrito. Pediremos, entdo, que vocé pesquise na internet bons textos que o ajudem a confirmar, ampliar ou mesmo rea- valiar os argumentos do professor e do jornalista sobre as formas de combate as fake news. Como ponto de partida, vamos sugerir a leitura de trés textos jornalisticos, cujos links estao disponibilizados a seguir. E importante, porém, que vocé também faga a sua propria pesquisa. Europa adota caminho opc Keel eri aa eet ena ENA ole) co.com.br/2018/( I foto econ 2m: 19/1 LER E ESCREVER, ESCREVER E LER Perey nae h eke 8 (dude oa PREP ceed Talon EU OuuL enso-critico-e-arma-para-combater news. Acesso em: 19/10/2018 Apésa leitura de diferentes informacées e opiniées sobre ¢ tema em pauta, escreva um texto em que vocé responda a segui pergunta: Seu leitor presumido é alguém que desconhece o tema Portanto, cabera a vocé apresentar a ele didaticamente o fen meno das fake news e suas consequéncias na contemporaneidade antes mesmo de langar e fundamentar seu ponto de vista sobre a questao. Faca de conta que seu texto vai ser divulgado num jor- nal mensal de sua faculdade ou universidade, destinado aos estudantes de graduacao. Ele sera publicado em uma pagi inteira, na coluna “Opiniao do estudante”, dedicada a trazera voz dos universitarios Para explicar questées sociais e opinat sobre elas. Leitura 8 i E para findar esta unidade, nad cronica do escritor Leitura deleite, se Vamos 14? la mais justo do que uma Rubem Alves sobre 0 segredo da leitura- ™ atividades de compreensao ou escrit@ SOB O FEITICO DOS LIVROS Rubem Alves Nietzsche estava certo: “De manhd cedo, quando 0 dia nasce, quando tudo esta nascendo — ler um livro é simplesmente algo depravado.. Eo quesinto ao andar pelas manhas pelos maravilhosos caminhos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronémico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li nos livros. E preciso que a cabeca esteja vazia de pensamentos para que os olhos possam ver. Aprendi isso lendo Alberto Caeiro, especialista inigualavel na dificil arte de ver. Dizia ele que “pensar é estar doente dos olhos...” Mas meus esforcos sao frustrados. As coisas que vejo sao como 0 beijo do principe: elas vio acordando os poemas que aprendi de cor € que agora estdo adormecidos na minha memoria. Assim, a0 nao pensar da visdo une-se 0 nao pensar da poesia. E penso que 0 meu mundo seria muito pobre se em mim ndo es- tivessem os livros que li e amei. Pois, se nado sabem, somente as coisas amadas s4o guardadas na memoria poética, lugar da beleza. “Aquilo que a memoria amou fica eterno”, tal como o disse a Adélia Prado, amiga querida. Os livros que amo nao me deixam. Caminham comigo. Ha os livros que moram na cabeca e vdo se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas hd os livros que moram no corpo. Esses sao eternamente jovens. Como no amor, uma vez nao chega. De novo, de novo, de novo... Um amigo me telefonou. Tinha uma casa em Cabo Frio. Convidou- -me. Gostei. Mas meu sorriso entortou quando ele disse: “Vado também cinco adolescentes...” Adolescentes podem ser uma alegria. Mas podem ser também uma perturbacdo para 0 espirito. Assim, resolvi tomar minhas providéncias. Comprei uma arma de amansar adolescentes. Um livro. Uma versdo condensada da Odisseia, as fan- tasticas viagens de Ulisses de volta 4 casa, por mares traigoeiros... Primeiro dia: praia; almogo; sono. La pelas cinco os dorminhocos acordaram, sem ter o que fazer. E antes que tivessem ideias proprias, eu tomei a iniciativa, Com voz autoritaria, dirigi-me a eles, ainda sob 0 efeito do torpor: “Ei, vocés... Venham ca na sala. Quero Ihes mostrar uma coisa...” No consultei as bases. Teria sido terrivel, Uma decis3o democratica das bases optaria por ligar a televisdo. Claro, Como poderiam decidir por uma coisa que ignoravam? Peguei 0 livro e comecei a leitura. LER E ESCREVER, ESCREVER E LER Escrever na Universidade Fundam ‘0 inicial seguiu-se siléncio e aten¢do. Vi, pelos S€us olhos, tavam sob 0 dominio do encantamento. Daf para frente que ja es 6, Nao me delxavam. Por onde quer que eu fosse umn Set na mao, pedindo que eu lesse mais, Ao espant foi la vinham eles com a Odisse/a Nem na praia me deram descanso. Essa experiéncia me fez pensar que deve haver algo errado ng afirmagdo que sempre se repete de que os adolescentes nao gos. tam da leitura, Sei que, como regra, Ndo gostam de ler, O que nao éamesma coisa que ndo gostar da leitura. Lembro-me da escola priméria que frequentei. Havia uma aula de leltura, Era a aula que mais amavamos. A professora lia para que nds ouvissemos, Ley todo o Monteiro Lobato. E leu aqueles livros que se lia naqueles tempos: Heidi, Poliana, A ilha do tesouro. Quando a aula terminava, era a tristeza. Mas 0 bom mesmo é que nao havia provas ou avaliagdes. Era prazer puro. E estava certo, Porque esse é 0 objetivo da literatura: prazer. O que os exames vestibulares tentam fazer é transformar a literatura em informacées que podem ser armazenadas na cabeca. Mas o lugar da literatura nao é a cabega: é o coracao. A literatura é feita com as palavras que desejam morar no corpo. Somente assim ela provoca as transformacées alquimicas que deseja realizar. Se ndo concordam, que leiam Guimaraes Rosa, que dizia que literatura é feiticaria de que se faz o sangue do coragado humano. Quando minha filha estava sendo introduzida na literatura, 0 pro- fessor Ihes deu como dever de casa ler e fichar um livro chatissimo. Sofrimento dos adolescentes, sofrimento Para os pais. A pura visd0 do livro provocava uma preguica imensa, aquela preguica que Barthes declarou ser essencial 8 experiéncia escolar. Escrevi carta delicada ao professor lembrando-lhe que Borges havia declarado que ndo havia razao para se ler um livro que nao da prazer quando ha milhares de livros que dao prazer. puget ine comear por algo mais Préximo da condi¢ao emotiva dos suet Ele me respondeu com o discurso de esquerda, que sempre as, eh “O meu objetivo é produzir a consciéncia mohetenes me i isso, percebi que nao havia esperanca. 0 produzir consciéne! essencial. Nao sabia que literatura nao é pacg 9 critica. O escritor no escreve com intengoes didatico-pedagégicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler sdo formas de fazer amor. E por isso que os amores pobres em literatura ou sdo de vida curta, ou séo de vida longa e tediosa... Parodiando as palavras de Jesus, “nem so de beijos e transas vivera o amor, mas de toda palavra que sai das maos dos escritores...” E foi em meio a essas meditagdes que, sem que eu 0 esperasse, foi-me revelado o segredo da leitura... { (Fonte: Folha Online, 27/01/2004. Disponivel em: www1.folha.uol.com.br/folha/ | sinapse/ult1063u727.shtml, Acesso em: 19/10/2018.) ee (ER EESCREVER, ESCREVER E LER ES

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