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SS. 2) METODOS EM PSICOLOGIA | DA PERSONALIDADE / | "Neste capitulo, itemos abordar os seguintes t6picos: ‘stabelecer teorias e para as ensar 42 Pacorocia os Pexsonauipane [coe cre. harm tm proce decree congrtmerto dos het, pal do ert conigo do atemes de cesolongbo ou eosin’ eo rcessace de ssa es Outs Stra ANiatomstos noteaaeaeo ee tominimerecsensSeso qu mesnormctalcne custarrronene eens de personae. Quando os dveros autres a, ce forma Sgfeata Hhoen Glfamaplalga de porsonacadepropsoravas os concepts egies bom quo absovortes separa Coa quate metre nee geet ae otservades: como foram a obsaragdes elead,sobeic ases Cedars pricblogesintgr ete cual cae, de que odolowm stteraeacoroscadoa fomeciges pos absongses, co quo fom forum eacas avo ms soiree Come proctamam os pecSogos a aldnco de ua tara? Cams fenen oe ce problemas slo cers nodomno do persoalcae, sree gerane ate fants paras eta concn beste od os cretes pores sod soot ae iguanore vdeo para cuts lpnas, posta cepetoogs Sar dorcer ta oe A psicologia é uma ciéncia relativamente jovern; existem ainda vastos dominios a investigar, antes de fazer emergir teorias sblidas ¢ exaustivas. E fundamental conhe- cer os métodos exactos que levaram ao estabelecimento de uma teoria, Frequente- mente, os métodos utlizados determinam o valor que se pode atribuiras observagées, bem como a teoria que dai resulta. Abordaremos, neste capitulo, os grandes métodos Utilizados em psicologia da personalidade. | Mérovos tu Pscovocia oa Prasowauipaoe 43 As duas grandes abordagens da Personalidad idiografica e nomotética Se como veremos de seguida, existem trés diferentes métodos para apreender os comportamentos humanos e, portanto, a personalidade, antes de mais, ha que distin, Buir duas grandes vias de abordagem no estudo da personalidade, a abordagem | ilogrifica* © a abordagem nomotéticat. A primeira considera 0 individuo como oe Pessoa intcira € tinica; a segunda procura regras que possam see aplicadas a vities indiyiduos. Estas duas abordagens podem ser apresentadas de forma esquematica (qua- aro 2.1). De acordo com a abordagem idiografica, o processo consiste em concentrar-nos __ fium individuo ¢ em observarmos as suas caracterstcas {uma ou mais) em divers 7 shi2tbes, como se procede nos estudos de caso. Descasca-se 0 individuo sob todoc nt Angulos, procurando-se compreendé-lo no interior da sua propria existencia. O sujeito Pode ser observado na vida quotidiana, através de gravagies em video, por exemplo; Sceuidamente, os seus comportamentos sio avaliados de mancira objective, com Lace ep critérios previamente estabelecidos. Também se pode observat 0 sujcite em can, Sbes experimentais especificas ou através de provas estandardizadas*, como sejam os Eeates on questionérios. Podemos ainda recolher observagdes durante intimeras entte, vistas clinicast, sejam elas estandizadas ou nao. Neste contexto, » generalizagao visa a Predigio dos comportamentos dest indviduo num grande nimero de sitaagoes Agene- __allzacao destas informagdes a outros individuos € dificil, pois tanto ax caracteristicas dos outros sujeitos como as situagdes nas quais estas esther informagoes se manifes- __ tam nao sio necessariamente compardveis, No caso da abordagem nomotética,a diligencia € radicalmente diferente essa diligén- «ia dominou, als, a investigagio em psicologia da personalidade, Neste caso, estudam- S88 caracteristicas (uma ou mais) de um grande atimero de individuos, ‘comparando- daca nm OF outros. A descrigdo da personalidade, neste caso, consiste em enumersy Hin Conjunto de sagos que podem servir para descrever cada um dees, As diferengas Sujeito1 Sueito2 Sujet Syjeto4 —SujetoS —Sujoito Suto Varidver 1 Varisver 2 Varisvet 3 Varidvel 4 Varivel 5 Abordagem nomotética Variavel 6 Varisver (Quadro 21. Reprecentacdo esquemética das duas grandes abordagens Gerais em psicologia da personalida 44° Pacococis pa Pexsonatio4oe entre 0s individuos estabelecem-se com base em resultados desses tragos. Dito de outro modo, variadissimos sujeitos so observados nas mesmas condig&es com vista a dai serem deduzidas caracteristicas estaveis, susceptiveis de os diferenciar. As fontes de informagiio podem ser, também elas, miltiplas: situagées experimentais estandardizadas, observagdes naturais ou entrevistas clinicas. Estas diferentes observacdes naturais sero generalizadas ao conjunto da populaco. Para fazé-lo, veremos mais adiante ser imperativo respeitar determinados critérios, pois de contrério as generalizacdes serio impossiveis ou pouco vilidas. Podemos colocar a questio de saber qual das duas abordagens nos conduz de forma mais segura a descricio, explicagao e predicéo do comportamento, que constituem, recordemorlo, os trés grandes objectivos da psicologia da personalidade, Alguns, e muito Particularmente os clinicos, respondem que 0 método idiogréfico é o mais adequado, ois procura compreender o individuo na sua propria existéncia e na sua intimidade. ‘Todavia, os clinicos conscientes dos problemas metodolégicos da sua disciplina insist rio na complementaridade das duas abordagens. Efectivamente, ¢ dificil generalizar a partir de um caso particular, como fez Freud, nomeadamente com os seus casos torna- dos célebres — o Homem dos Lobos, o pequeno Hans e Anna O. (Freud, 2001), Conse- uentemente, parece sensato tirar proveito, simultaneamente, das descricées completas € extraidas dos casos clinicost, mas também testar as hipdteses* elaboradas a partir dessas mesmas descrigées realizadas relativamente a um grande mimero de sujeitos. Dito de outro modo, a combinagao das duas abordagens parece ser a mais correcta. Apés termos esbocado as abordagens gerais de estudo da personalidade, vamos passar agora a descrever os métodos particulares que permitem dar resposta aos pro- blemas que se colocam na investigagéo empirica da personalidade, O método do estudo de caso © método do estudo de caso* (andlise de casos) tem uma longa tradigdo em psico- logia clinica, Este método consiste na recolha do maximo de informagao possivel sobre ‘uma pessoa, durante uma grande parte da sua vida. O estudo de caso é, com frequén- cia, realizado num contexto clinico para determinar as causas de um problema com- Portamental especifico. Por exemplo, se um paciente nos consulta por uma perturba- sao ansiosa generalizada, antes de iniciar um tratamento psicoldgico, procura-se circunscrever o problema o melhor possivel, perguntando-Ihe desde quando existe essa perturbagao, com que intensidade se manifesta e, sobretudo, em que circunstancias. Ainda que esta patologia, caracterizada principalmente por uma confusio invasora, seja conhecida, é conveniente analisar-se clinicamente 0 caso em pormenor, antes de qualquer intervencio terapéutica. Algyns dirio mesmo que esta fase da avaliagio é a mais crucial e a mais determinante pars\o éxito do tratamento. Os pormenores da histéria do individuo séo fornecidos, principalmente, pelo pré- prio, mas também por pessoas significativas para ele. Tal é particularmente verdadeiro Ro caso de pessoas cujo estado de consciéncias esteja modificado, como se observa nos estados psicéticos, nas depressdes graves, nas perturbagées da personalidade ¢ nos 45 ‘Meronos em PsicoLocia 04 PeRSONALIDADE estados de coma, & também importante confrontar as informagdes fornecidas pelo sujeito com as que sao facultadas pelas pessoas do seu circulo proximo, pois um dos problemas da anélise de casos radica no lado subjectivo da informago recolhida. O individuo avaliado pode, conscicntemente ou no, omitir alguns elementos que julgue pouco importantes, senio mesmo esconder deliberadamente dados por conside. rar serem pouco confesséveis, A desejabilidade social+ desempenha aqui um papel nada negligenciavel. Na anilise ou estudo de casos, as informagdes obtidas provém habitualmente de diferentes fontes: 1) a situagio da familia (quantas pessoas vivem juntas, quais os habi. tos da casa), 2) a cultura (0 grupo cultural, o desvio cultural), 3) a anammese® ¢ os exames médicos (0 estado de saiide, as doencas, 0 desenvolvimento fisico ¢ sexual), 4) o desenvolvimento (o nascimento, os primeiros sinais desenvolvimentais, 0 desen. volvimento da inteligéncia, o desenvolvimento emocional e social), 5) a educacio (os estudos, as aspiragSes educativas e 0 projectos), 6) a economia (trabalho, ambigdes, realizagies), 7) a justica (condenacdes, delitos) e 8) as actividades (hobbies, interesses, vida social, habitos de vida). Apesar do interesse que tem este método de recolha de grande quantidade de infor- magio sobre uma pessoa e do forecimento de uma descrigio rica dessa mesma pessoa, © estudo de caso padece de muitas fragilidades. A primeira fragilidade reside no facto dese basear em recordagdes da prépria pessoa sobre a sua vida, Como todos sabemos, a recolha retrospectiva de informacao comporta importantes limitagdes, na medida em que nem sempre pademos verificar a veracidade das informagées recolhidas. Qualquer Pessoa pode muito bem conceder uma importancia primordial a um acontecimento, negligenciando a relevancia de outro acontecimento que, de um ponto de vista clinico, Porém, € muito importante. Uma segunda fragilidade deste método refere-se a circuns. ‘Ancia de a pessoa que realiza o estudo nao ser neutra, sendo a escolha das suas interro- gages e temas enviesada por variadissimos factores, como sejam as suas posigies te ricas € as suas expectativas. Paralelamente, a sua atitude pode influenciar as respostas da pessoa interrogada. Esta limitagio do método de anilise de casos pode set ilustrada, especialmente, pela interpretagio psicanalitica dos sonhos. De acordo com a psicand lise, ha que distinguir 0 contetido manifesto do conteido latente de um sonho. O pri= meio corresponde a lembranca que a pessoa tem do sonho, correspondendo o segundo 20 verdadeiro significado do sonho. Os dois contetidos sao distintos, pois a censura Opera uma modificagio do contetido real para produzit o conteiido manifesto. Um dos mecanismos do sonho 6 0 deslocamentos. Dito de outro modo, as pessoas relatadas no sonho nao sao aquelas com quem explicitamente sonhimos. Todo o trabalho de inter. pretacao consiste em reencontrat 0 sentido camuflado do sonho, ou seja, portanto, em desmascarar as verdadeiras pessoas. Obviamente que o terapeuta que vai interpretar 0 sonho 0 fard, partindo do principio que este mecanismo é verdadeiro e procurara, com © paciente, as personagens reais que foram deslocadas. Ora, nio existe qualquer prova teal de que este mecanismo exista, nem que opere sempre desta forma. So apenas os Exitos terapéuticos que Ihe conferem existéncia. A terceira limitagao refere-se a0 facto de ser particularmente dificil e ousado generalizar os resultados obtidos com uma pes- Soa a um conjunto mais vasto de individuos e de situagGes. De facto, um determinado 46 Psrcovosin vs PexsonaLipAe individuo pode nao ser representativo dos seus congéneres. Estabelecer uma teoria com base num caso dé conta da maior ingenuidade, devendo ser condenado quando ce aborda uma posicao cientifica, Se empregarmos diversas medidas em diferentes situagdes ¢ se estivermos atentos ‘208 aspectos singulares préprios deste método, podemos reduzir, sem no entanto elimi nar as falsas interpretagdes, bem como as generalizagées abusivas. Tudo isto se torna dificil, na prética, pois a pessoa observada é frequentemente um paciente com quem téenico se encontra - concebemo-lo facilmente ~ pessoalmente implicado. Porcm, os estudos baseados em casos individuais so, por vezes, ites para ilustrar 0 funciona mento da personalidade. O método das correlagées O método das correlagdes consiste no estudo da relagdo (associacao) entre duas ‘cis para examinar se as suas variagdes aparecem em conjunto. Duas varidveis estéo correlacionadas entre elas se as variacdes de uma corresponderem mais ou menos solidamente as variagdes da outra. Para que tal se afirme, hé que medir as duas vari, veis em diversos individuos ¢ caleular o indice de correlacdo. Como exemplo, conside. zemos 0 facto de diversos investigadores terem querido determinar se o estado depres. sivo de um individuo exerce influéneia sobre a sua personalidade (Flete et al. 1995; Flansenne et al, 1999; Hirschfeld et al, 1997). Diversos estudos (Hansenne et al. 1998, 1999; Sato et al, 2001) demonstra que a gravidade do estado depressivo, me. dida através de escalas de avaliagao clissicas da depressio, como a escala de Hamilton (Hamilton, 1960, 1967) ow a de Caroll (Caroll, 1981), nas quais o sujeito é avaliado ‘elativamente a critérios precisos (humor depressivo, insénias, ideas de suicidio, deses. Pero, tristeza...), apresenta uma relagao positiva com o evitamento do perigo, uma dimensao da personalidade do modelo de Cloninger, modelo este que seri descrite imais adiante (fig. 2.1). Esta relacio € postiva, isto , os valorest baixos de gravidade ds depressdo correspondem aos baixos valores da dimensio da personalidade, por um lado, e os valores altos de gravidade de depressio correspondem aos valores altos da dimensio da personalidade, por outro lado. Dito de outro modo, os sujeitos que apre. sentam notas elevadas de gravidade de depressio, ou seja, que esto francamente deprimidos, tém igualmente notas clevadas na dimensio de evitamento do pevigo, Eimporante compreendermos que esta correlacdo foi obtida com base numa amen, de pacientes deprimidos e que é generalizavel a0 conjunto da populagio. A correlacao € representada por um valor que designamos por coeficiente de corre- lasdo, que ¢ simbolizado pela letra r. Habitualmente, este coeficiente calcula se atsaves do método de Pearson para as variaveis paramétricas (que se distribuem de uma man £3 normale, segundo a lei de Laplace-Gauss), e através do método de Spearman, para as variaveis nfo paramétricas (que nao se distribuem de maneira normal), No case das Correlagdes positivas, 0 coeficiente varia entre 0 e +1. Quanto mais se aproxima de 1, ais forte €a relagio entre as duas variaveis. Na figura 2.1, a correlagao entre as duas Varlavels obteve-se a partir de 40 doentes deprimidos e © cocficiente de correlagao, neste caso de Pearson, é de 0.47. Evitamento do perigo a 78 Gravidade da depressao (escala de Hamitor) resenack tacko do una corelagso posta, Os cferentes pontos do geo aera sya suettos (0, neste caso), sendo cada um caracterizado por dose hea: ‘uma Para o evitamento do pergo @ a outra para a gravidade da deproseee (de acordo com Hansenne et a, 1909) Uma correlacio também pode ser negativa, Seguindo ainda o mesmo exempfo, um estudo demonstrou que a gravidade da depressao apresenta uma relagao negativa com 4 dimensio de autodeterminacio do modelo de Cloninger (fig. 22) (Hansenne et al, 1308). Esta selagdo € negativa porque os valores baixos de pravidade de depressio Palen ondem 208 valores elevados desta dimensao de personalidad, por um lado, eos Hpuares tlevados de gravidade da depressio correspondem aos valéeee barsee desta inensio de personalidade. Por outras palavras, os doentes francamente deprimidos obtém notas fracas em autodeterminago, No caso das correlagies negativas, o coefi- Gionte de correlagio varia entre —1 ¢ 0. Uma vez mais, quanto mis eee Coeficiente se aproxima de -1, mais forte € a associagao entre as duas variaveis, Na figura 2.2, 0 oeficiente de correlacio € de -0,48 (Lansenne et al, 1999), Além do sinal da correlacio (positivo ow negativo), ha que ter em conta a nogio de 0.3 € 0,5 ¢ uma correlagio inferior a 0,3 € considerada fraca ou no Significativa. O valor estatistico depende, obviamente, da dimensio a amostra. No caso de uma grande amostea, wna correlagao fraca (0,30) sera significativa, enquanto em relacdo a uma amostra pequena, nio o serd. Trata-se de ume dee armadilhas da Sstatistica que pode fazer passar a informagio de uma associagao real (significativa) entre duas variaveis, ainda que ela sea fraca (<0,20), porque muito simplesmente a dita lash 20 & obtém numa grande amostra. Portanto, é importante relativiear uma cans ‘elasdo: ainda que uma correlacdo sea considerada significative do onto de vista esta- tstico, ou seja, se ela se pode generalizar & populagio, hi que nto perder de vista a sua 48 Psico.ocin a Pensonsatipane BR 8 gs Autodetermin 18 2 Grevidade da depressdo (escala de Hamiton) Figura 2.2. llustragio de uma correlagdo negativa (segundo Hansenne et a, 1999) 82 8 8 Procura de novidade 30 Gravidade da depressao Figura 2.. llstragao de uma correlagio nula (segundo Hansenne eta, 1999) ‘M0008 #4 PsicoLocia Da PrxsoNaLtpane 49 forge, Biilegiaremos as associagdes fortes © mais paricalarmente as associagSes re- produzidas em diferentes estudos. Como ¢ evident, as relagées entre duas varidveis nio so sempre significativas, isto 6.38 Naridvels nio tém relacao entre si, Por exemplo, a relacio entre a gravidade de depressio ea dimensio da personalidade de procura de novidade do modelote Cloninger i Gimais ou menos nul ig 2.3) (Hansenne etal, 1998), Est dado indica que os val, dda primeira variével em nada correspondem (positiva ou negativamente) cos valore da segunda. © método das correlagdes é muito interessante, sendo, de longe, o mais uilizado em Psicologia da personalidade. Mas este método apresenta tambem limitayoes, A sean Importante reside no facto de, ainda que permita precisar o grau de associagao entre dluas vatiéves, 0 método em questao em nada pode estabelecer se ua varisvcl doce puna af variagdes da ourra. Por outras palavras, tal método nao nos informa em aben, futo sobre a causalidade entre as variaveis, Deste modo, correlagao nao significa causa- lidade. Duas varidveis podem estar fortementecorrelacionadas sem por tal acta estarem siuma relasio causal, porque, por exemplo, dependem ambas de um factor neg nnn 4 dado, Para ilustrar este ponto, imaginemos que um estudo (puramente ficticio) demons- Ainda que este método nao forneca informagées relativas & ligagao causal entre dluas varidveis, erata-se, todavia, de um método muito ttl. De factor om determinados Gaaos, nao € necessério saber qual das varidveis determina a outra. imaginemos quea Procura de sensagdest (uma das dimensGes da personalidade do modelo de Zucker, due sera descrita mais adiante) esté correlacionada positivamente com o éxito despor- t0s radicais. Os responsaveis do recrutamento desportivo no se Procupam em saber se # personalidade determina as performances, se estas determinam 5 ersonalidade, ou se saeaeetesitt variével, ainda nao estudada, explica uma das duas. Basta-lhes tere rethann bans notas clevadas em matéria de procura de sensagdes para esperat que eles fenham boas performances. Paralelamente, nouttos casos, ¢ mévode dee correlagdes Pode sugerir relagdes causais entre duas varidveis ¢ suecitat investigagées destinadas a verificar, através da experimentacao, se uma tal relagao existe ou eae Finalmente, ha Gis Mencionat também que a andlise factorial, método extatistico empregue por diene eee res da psicologia da personalidade, como Eysenck e Cattell, assenta em cone, laces entre numerosas variéveis. Este método seré deserito na seccio consagrada aos modelos destes dois autores. O método experimental Quando duas variaveis esto correlacionadas, o experimentador no pode dizer se las estdo, ou nio, em relagio causal. Ainda que o métode das, cortelagées seja interessante 50 Pstcovocia na PERSONALIDADE para fazer predigdes de uma varidvel a partir de outra, o referido método revela-se bastante limitado para explicar ¢ interpretar as relagdes entre as varidveis. Por outras palavras, como atras referimos, quando duas variaveis estdo correlacionadas, desco- nhecemos a razo por que assim sucede. Este método fornece elementos conjecturais sobre a natureza da ligago causal entre as duas varidveis. Consideremos 0 seguinte exemplo, no qual se observa uma correlacdo positiva entre a presenca de sintomas depressivos e os graus académicos em 100 estudantes: quanto mais sintomas depressi- vos os estudantes apresentavam, piores eram os resultados académicos do ano prece- dente. Como se pode interpretat esta relagdo? Espontaneamente, poderiamos pensar que o facto de termos sintomas depressivos ndo nos leva a investirmos nos estudos, 0 que desencadeia piores resultados ¢, inversamente, 0 facto de nio termos sintomas depressivos leva-nos a envolvermo-nos mais nos estudos ¢, consequentemente (ainda que nem sempre seja verdade), a alcangarmos bons resultados: neste caso, os sintomas depressivos seriam a causa do grau académico (fig. 2.4). Poderfamos também encarar 0 problema de forma inversa: o facto de termos mauss resultados no ano anterior induz os sintomas depressivos ¢ o facto de ter bons resultados impede o aparecimento de sinto- mas depressivos. Neste caso, o grau académico € causa dos sintomas depressivos. Estas duas explicagdes si0 muito diferentes e parecem, tanto uma como outra, verosimeis. Este ponto ilustra precisamente a fragilidade do método correlacional no estabeleci- mento da causalidade. Ha que saber que, em variadissimos casos, as relagbes entre vvariéveis podem explicar-se mais facilmente em termos de causalidade. Detenhamo- nos na associagio entre o tabaco e o cancro. Neste caso, ninguém diria que é o cancro que determina a dependéncia do tabaco, mas, antes, que 0 segundo € responsavel pelo primeiro. Quando duas varidveis esto correlacionadas, poder-se-ia também dizer que uma terceira variavel, que nao é nem mensuravel nem tomada em linha de conta, nem sequer, por vezes, imaginada, possa ter uma influéncia causal sobre as duas outras varidveis. Pode ser que a personalidade determine os sintomas depressivos, bem como as performances académicas. ‘Sintomas depressivos Grau académico Figura 2.4. Quando duas varéveis estdo correlacionadas, nom sempre 6 facil sabor se 6 uma que causa a outra ou oinverso, tanto mais que uma terceira variavel [pode determinar as outras duas —- to ‘MéToD0S Eu PsicoLocia DA PaasoxaLioane $1 Contrariamente ao método correlacional, o método experimental permite dar res- Post & questio da causalidade e goza de um maior poder de explicagio, Neste método, amplamente uilzado em ciencias exactas e cognitives 0 experimentador interessa-se Pelos efeitos que a manipulaczo de uma varifvel sobre sag produz. A varidvel que ‘manipulamos designa-se por varidvel independenter, sende a variavel dependentes a gue medimos. A varidvel independente assume diferentes valores, que o experimentador fixa, com base noutros estudos ou noutras hipéteses, enquanto nte. O método experi- experiéncia, isto é, um procedimento utiizado pelo le define, desde para-quedism informamo-los que o segundo para-quedas No caso do segundo grupo, apenas evocs. {hos elementos positivos, omitindo mengdes aos perigos Par fim, ao terceiro grupo, amos informagies normais. Se, aps estas sessdee ta informagio, o geupo que recebeu informagdes negativas mostrar mais vontade de decline convite para saltar de péra- -gueddas que os sujeitos que receberam informayoes ositivas, podemos concluir que a ‘maNpulagio de informagao determina as escolhas das pessoge No método experimental, manipulacgdo de uma variavel s2o" mais extensa do que os resultados obtidos ent 10 essoas, Paralelamente, utili- Zando um grande nimero de sujcitos, os resultados generalizam-se mais facilmente do [ite &¢tivessem sido obtidos com um pequeno grupo. Por exemplo, um estudo recente povita due dimensao de exteoversio obtida atcavén do modeh, dos 5 factores estava Positivamente correlacionada em 10 sujeitos com « amplitude da onda P300* (uma onda cerebral associada a diversos processos cognivivosc afectivoss para mais informacées $2 Pstcovocia ba PeRsONALDADE sobre esta questo, ver Hansenne 2000a e 2000b) (Herrmann et al., 2001).Este resultado contrasta com os de outros estudos (Daruna et al., 1985; Polich e Martin, 1982), deven- do, obviamente, ser replicado numa amostra maior. Acrescente-se a isto que, ainda que 0 tamanho da amostra seja bastante importante para a pertinéncia das conclusées de uma experincia, a sua natureza é igualmente capital. Efectivamente, as conclusdes de um estudo realizado com estudantes universitérios no serdo idénticas as do mesmo estado realizado com sujeitos repartidos por diferentes classes socioeconémicas. Foi deste modo que um estudo mostrou uma correlacao positiva e significativa entre a procura de novi- dade ¢ a amplitude da onda P300 em estudantes universitérios (Hansenne, 1999). Claro est que, para que este resultado possa ser considerado como um dado adquirido, hé que replicar a experiéncia numa amostra de sujeitos mais diversificados. Uma segunda precaugio consiste em utilizar um grupo experimental® ¢ um grupo de controlox, Dividimos a amostra em duas partes, assegurando-nos de que os dois grupos resultantes sao iguais em diversas variéveis, como a idade, o sexo e 0 estatuto socioecondmico. Esta precaugao é de tal forma importante nas experiéncias em psico- Jogia que o simples facto de se participar numa experiéncia pode modificar © compor- tamento dos individuos. Por exemplo, se quisermos estudar também o efeito de um tratamento farmacolégico em doentes (grupo experimental), sera necessério estudar 0 feito de um placebo* — isto é um produto sem acco farmacolégica - em sujeitos que sofrem da mesma doenga. Se 0 produto induzir manifestagdes especificas no grupo experimental, no se produzindo as mesma manifestagdes no grupo de controlo, pode- remos concluir que 0s efeitos sio claramente provocados pelo produto. Tal s6 tem validade se os sujeitos forem comparaveis. Com alguma frequéncia, observamos contudo efeitos no grupo de controlo, aquele que ndo recebeu tratamento real: fala-se ento do feito placebo. Trata-se de um efeito clissico que nao convém desprezar e que depende de diferentes variaveis. Descreve-se também 0 efeito Hawthorne* co efcito Jobn Henrys. O primeiro, proveniente do nome de um baicro periférico de Chicago, onde foi levada a efeito uma experiéncia de psicologia social numa fabrica, em 1927, refere-se ao facto de 0 comportamento dos sujeitos envolvidos numa experiéncia ser influenciado pela circunstincia de tais sujeitos estarem prevenidos de que o seu comportamento vai ser estudado. Por exemplo, se, num teste de reconhecimento, um grupo for informado de que se vai registar a velocidade das reacgdes, como variavel principal, esta dtima sera mais répida quando comparada com a do grupo de controlo, a quem nao foram dadas quaisquer instrugées relativas a velocidade. Para controlar este efeito, basta ser vago quanto aos objectivos do estudo e dar instrugdes num tom téo neutro quanto possivel. O segundo efeito surge quando os sujeitos do grupo de controlo estdo conscientes de estarem a ser comparados com os do grupo experimental: como sio competitivos, tentam superar-se. Por exemplo, se informarmos um grupo de individuos de que as suas performances de recordagio, numa tarefa mnésica, sero comparadas com as de tum outro grupo (que foi alvo de um treino mnésico especial), as suas prestagdes serdo superiores as de um grupo de sujeitos controlados a quem nao foi feita a adverténcia de que os resultados seriam objecto de uma comparacio. A Gltima precaugao prende-se com o facto de os sujeitos incluidos na experiéncia, bem como os préprios experimentadores, terem frequentemente ideias e expectativas ‘Meropos nu PstcoLocia pa Pexsonauipaoe $3 relativamente 3 experiéncia, facto que pode enviezar o feito real induzido pela mani- ulagao da variével. Por exemplo, no quadro de uma experiéneia de psicofarmacolgia, cn de ada © feito de uma anfetamina sobre a atencao, se os sujiton exten prevenidos de que tomaram realmente o produto activo, e nde'o placebo, arriscam-se a Somportar-se de modo diferente do que se comportariam se nao tivessem side reveni- dos. De igual modo, quando o investigador sabe quais os sueitos que tomaran oplacebo sone aeatzam a anfetamina, existe o risco de este conhecimento poder enviewss sa suas avaliagdes das modificagdes comportamentais:trata-se do ecg Rosenthals. Rosenthal € o nome de um psicélogo americano que mostrou que o experimentador Pode agit (involuntariamente) de tal forma que as suas hipdteses ve vernon Por estar convencido de quao bem fundadas elas estao (Rosenthal e Jacobson, 1966), Poe, forma Protea epcblemas, uilizam-se prorocolos simples cegos ou duplo cegos. Neva Protocolo simples cegot, os sujeitos desconhecem © produto tomade (contrariamente a0 experimentador) e num protocolo duplo cego, tanto os sucitos, como experimen- fador desconhecem quem tomou 0 produto activo. E neste caso que as observaces aera nn maior validade, pois sujeito e experimentador estdo cegos relativamient as ‘manipulagdes das variaveis que tiveram lugar. A experimentacao nao se limita a manipulagdo de uma sé varie podendo arti- cilae-se com 2 , 3 oti 4 varidveis, Fala-se, entio de estudos multifuctoriag Poe exem- Blo, pode estudar-se seas performances para uma arefa de ceconheermenns cae influen: ciadas, por um lado, pela personalidade, e pelo sexo, por outro, Qual o método mais utilizado em psicologia da personalidade? Fistoricamente, com todas as reservas que se Ihes devem associas, os estudos de moment stam a origem de diversas teorias da personalidade. Foi deste modo gue, nomeadamente, a teoria psicanalitica de Freud foi claborada Actualmente, os estudos A caso estio menos divulgados no dominio da psicologia da Personalidade, pois as pets respondem a critérios cienificos mais rigorosos paca permitirem uaa aborda- gem objectiva da personalidade, isto €, baseada em observasbee objectivas, em hipéte- Ss solidas em estudos experimentas de verificagao. Trata ve da tice fens decons- truir uma teoria psicol6gica da personalidade valida; de outro modo, as teorias nio pelea {sPago na psicologia, encontrando-o, talvez, na filosofia ou aé oe Para- bsicologia. Isto explica que, em virtude dos seus defetos proprios s eshen auséncia de generalizasao ea implicasao pessoal do expetimentador, cx cavados de-caso nao dio “ posibilidade de se construir uma teoria racional da personalidade, No atue concerne aos 2 outros métodos, é forgoso verificar que, na maioria das Taser o método das correlagées o que é mais uilizado em psicolog da personalidade. ‘Todavia, nalguns estudos, tal mézodo no aparece directamenee Lag siuagao verifica-se, 54 Pscorocia na Pensonauipape recisamente, quando os experimentadores separam os individuos que obtém classifi- cagées elevadas na dimensao de extroversao dos que obtém notas baixas. Estando os. dois grupos construidos, registam-se entdo as variagées da varidvel dependente, a que é medida. Assim sendo, podemos ter a impressdo de que a vatidvel independente ~ no caso, os dois grupos ~ foi manipulada. Ora esta situagéo ndo corresponde a nada. Através deste artificio, apenas elimindmos os individuos que obtém notas médias nesta dimensio, para maximizar as hipéteses de se obter diferencas entre os dois grupos, Nao cridmos individuos extrovertidos e indi iduos introvertidos; apenas os seleccioné- mos. Também nio os incluimos de modo aleatério num ow noutro grupo. O valor dos resultados, apresentados como no quadro de uma experimentagao, é apenas correla- ional. Em caso algum estes suscitam qualquer idcia sobre a relagdo causal entre as duas variveis. Resumo 1. Distinguem-se duas grandes vias de aborda- Gem para o estudo da personaiidade: a aborda- ‘gem igiogrética © a abordagem nomotttica. A Brimeira considera incividuo como uma pessoa inera e dnica, a segunda procura regras que ’possam aplicar-se a dvorsosindividues. No.caso {da abordagem idlogrtica, 0 procedimento con- siste numa concentragdo num individvo, obser- vando-se as suas caracteristicas (uma ou mais) fem diversas siutuagées. Segundo a abordagem omotética, estudam-se as caracterstices (uma ou varias) de um grande nimero de individuos, comparando-os. 2.0 método do estudo de caso tem uma grande tradigao em psicologia clinica, consistindo numa recotha do maximo possivel de lntormacao sobre luma pessoa, durante uma grande parte da sua Vida. Os pormenores da histéra do indviduo s80 principalmente fornecidos pelo préprio, mas tam- bbém por pessoas que ihe sejam signficativas, Este método padeco de inimeras fragiidades: ‘basela-se em recordagdes da pessoa sobre asua vida: « pessoa que reaiza 0 estudo no 6 neutrae ‘a escolha das suas questées 0 interrogacoes & ‘enviesada por diversos factorae, como sejamasua Posigto teérica e as suas expectativas. € part ‘cularmente dificil e ousado generalizar os resulta: {d08 obtidos com uma pessoa a um Conjunto mais vasto de individuos @ de situagdes, 3. O método das correlagées consiste no estudo \darelagdo (associagdo) entre duas variaveis, para os garantic que as suas variagdes aparecem juntas. Duas varidvets estao correlacionadas en tte si se as variagbes de uma comresponderem, ‘mais ou menos profundamente, &s variagSes da uta, Para afar tal, hi. que mediras dues varié- Veis em numerosos individuos e calcularo indice do correlagao. 4. A correlagio 6 representada por um valor que

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