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TEXTO: LEITURA E PRODUÇÃO

2022/1

 LUZMARA CURCINO
A LINGUAGEM
COMO OBJETO DE CONHECIMENTO

Breve trajeto pela história das ideias linguísticas

Jürgen Trabant

TRABANT, Yürgen. A linguagem como objeto de conhecimento. São Paulo:


Parábola, 2021.

Originalmente foi publicado em 2008, com o título “Constitution du langage em


objet du savoir et traditions linguistiques”.
Jürgen Trabant

Professor de Língua e Literatura Romanas na


Universidade Livre de Berlim e de Linguística e de
Filologia Românica da Universidade Humboldt -
Berlim

Especialista em Linguística francesa e italiana;


historiografia linguística; filosofia da linguagem

Professor convidado de importantes universidades:

Stanford University;
University of California;
École des Hautes Études en Sciences Sociales;
Por que refletimos sobre a
linguagem?

Quais são as razões que nos


levaram a refletir sobre a linguagem
e torná-la objeto de saber, objeto de
conhecimento?
Para responder, ele parte de
uma ideia SIMPLES:

 A HUMANIDADE PRODUZIU CONHECIMENTO


SOBRE A LINGUAGEM SEMPRE QUE
IDENTIFICOU OU FOI CONFRONTADA COM UM
PROBLEMA (REAL) OU ENTÃO QUANDO SUPÔS
ESTAR DIANTE DE UM PROBLEMA
(IMAGINÁRIO) RELACIONADO A UMA DAS
FUNÇÕES BÁSICAS DA LINGUAGEM.
DE QUE TIPO DE
CONHECIMENTO
RELACIONADO À LINGUAGEM
ESTAMOS FALANDO?
CONHECIMENTO LINGUÍSTICO

CONHECIMENTO EPILINGUÍSTICO

CONHECIMENTO METALINGUÍSTICO
CONHECIMENTO LINGUÍSTICO

Segundo Noam Chomsky (1928- ) este


conhecimento é o que ele nomeia como tacit
knowledge em oposição ao conscious knowledge

Segundo Eugenio Coseriu (1921-2002), esse


conhecimento linguístico encontra-se em três níveis
distintos:

 UNIVERSAL – saber elocucional


 PARTICULAR – saber idiomático
 TEXTUAL-DISCURSIVO – saber expressivo
CONHECIMENTO EPILINGUÍSTICO
É um tipo de saber não sabido, não-consciente,
ou seja, que é ativado, construído, sem que
dele tenhamos perfeita consciência. É ele que
permite inferir regras, reconhecer estruturas,
dispor da língua como um falante nativo.

Exemplos: desvios por extensão de regra, por analogia


➢ na aquisição da língua: “Eu sabo”; “Eu di;” “Eu pido/Vou pessar”;
linguando; sangre;
➢ no uso das normas (hipercorreção): “A telha de aranha”; “doce
de fígado”; “Vou ponhar”;
➢ na aquisição de língua estrangeira: “le chambre”; “ele
insistava”; “Eu tô engordecendo”; “infringimento”; “apontações”;
➢ no uso poético: lambeijo;
CONHECIMENTO METALINGUÍSTICO
Diz respeito ao conhecimento SOBRE a língua,
um conhecimento sobre um
conhecimento, uma vez que se trata de
um tipo de saber intenso, rico, detalhado,
externalizado, sistematizado, organizado e
validado institucionalmente. Sua produção
e transmissão é garantida por meios
formais, é ritualizada, institucionalizada,
conta com instrumentos próprios, com
procedimentos delimitados.
CONHECIMENTO METALINGUÍSTICO

É esse o tipo de saber de que o


professor Trabant vai buscar traçar as
razões de seu surgimento e as
tradições que geraram e nas quais se
inscrevem e se organizam esses
conhecimentos, assim como nas quais
se inscrevem os estudos linguísticos
no Ocidente.
Por que refletimos sobre a
linguagem e tão intensamente?

Todo humano reflete, de algum modo, sobre a


linguagem, mas a reflexão linguística intensa,
consequente, com intenção e propósito, de
modo sistematizado e institucionalizado
(CONHECIMENTO METALINGUÍSTICO) não
se estabelece nem se realiza em TODO
LUGAR nem em TODOS OS TEMPOS.
Assim sendo, POR QUE e
QUANDO esse objeto que é a
língua, que é a linguagem humana
(que, em si mesma, já é um
conhecimento – linguístico e
epilinguístico) se torna um OBJETO DE
CONHECIMENTO METALINGUÍSTICO?
Para responder esta pergunta é preciso refletir antes
sobre a função do saber linguístico, ou seja: para que
nos serve o conhecimento linguístico?

Jürgen Trabant resume para que serve esse


conhecimento linguístico em duas funções basilares:

1 – PARA ORGANIZAR O CONHECIMENTO HUMANO


DO MUNDO (COGNIÇÃO)

2 – PARA COMUNICAR ESSE CONHECIMENTO AOS


OUTROS (COMUNICAÇÃO)
HIPÓTESE DE JÜRGEN TRABANT

A língua/linguagem torna-se objeto de


conhecimento (portanto objeto de
conhecimento metalinguístico) quando a
humanidade é confrontada com um
problema (real ou imaginário) em uma ou
em outra dimensão de suas finalidades
basilares: a função Cognitiva e/ou a
função Comunicativa.
PROBLEMAS DE ORDEM COMUNICATIVA

São os problemas que parecem ter


surgido primeiro, são os mais
primitivos, os mais frequentes e os
que mais geraram respostas,
instrumentos, procedimentos,
métodos dedicados a resolvê-los...
PROBLEMAS DE ORDEM
COMUNICATIVA
 Quando um falante desconhece uma palavra em sua
língua;
 Quando dois falantes não podem se comunicar porque
falam línguas distintas;
 Quando um falante precisa se comunicar com outro, sem
que este esteja presente
 Quando dois falantes falam a mesma língua mas, por
razões diversas, se considera que um a fala “mal”;
EXEMPLOS DE PROBLEMAS DE
ORDEM COMUNICATIVA

 Quando um falante desconhece uma palavra em sua


língua

➢ Criam-se estudos do léxico e instrumentos como os


dicionários, os corretores e tradutores automáticos etc.
Verbete de um dicionário
Mouse - substantivo masculino / inf dispositivo de entrada dotado de um a três botões, que
repousa em uma superfície plana sobre a qual pode ser deslocado, e que, ao ser movimentado,
provoca deslocamento análogo de um cursor na tela [O mouse permite ao usuário comandar a
execução de determinadas ações, quer movendo o cursor até ícones, regiões da tela ou
entradas de menus que correspondam às ações desejadas, quer clicando um dos botões.].
➢ Formulam-se perguntas com os recursos
metalinguísticos da língua;
É uma ordem? / Não, de modo algum, é só um pedido.
FAMIGERADO de Guimarães Rosa
EXEMPLOS DE PROBLEMAS DE ORDEM
COMUNICATIVA

➢ Quando dois falantes falam línguas distintas

Inventam-se dispositivos para lidar com isso


(gramáticas, dicionários, cursos, metodologias,
intérpretes, tradutores automáticos etc.)

1. I’m sick / J’ai mal au coeur / Eu estou enjoado


2. Cadeau empoisonée / presente de grego
EXEMPLOS DE PROBLEMAS DE ORDEM
COMUNICATIVA

 Outra reação para a situação em que dois


falantes falam línguas diferentes

Inventam-se MITOS (primeiro passo em


direção a uma teoria) para explicar a
existência de diferentes línguas

a origem da linguagem humana;


 a origem das línguas distintas;
 a origem da primeira língua;
Tema 1: ORIGEM DA LINGUAGEM HUMANA

Há uma identidade dos mitos fundadores em diferentes


culturas que explicam a origem da linguagem humana:

Um homem, um semi-deus ou um deus é quem nomeia as


coisas do mundo no início do mundo.

 HINDUS origem divina deus Indra

 GREGOS Platão (Crátilo) onomaturgo (387 a.C)


OCIDENTE - Bíblia (Gênesis) - o primeiro homem - Adão
Tema 2: ORIGEM DA DIVERSIDADE DAS LÍNGUAS

como CASTIGO
Tema 2: ORIGEM DA DIVERSIDADE DAS LÍNGUAS
como BENÇÃO

• POLIGLOSSIA (PENTECOSTES)
• Tipo de xenoglossia
•GLOSSOLALIA (LÍNGUA DOS ANJOS e DOS
ESPÍRITOS sem interloculação nem mediação e com valor ritual da palavra
incompreensível)

Glossolalia é definida como dádiva divina de se


expressar em línguas celestiais ou estrangeiras,
desconhecidas do praticante.

O caso Hélène Smith, estudado por Saussure: entre sânscrito e extraterrestres


“Saussure no Centro Espírita” de Jean-Jacques Courtine
Tema 3: ORIGEM DA PRIMEIRA LÍNGUA

Mito narrado por Heródoto, acerca do Faraó


Psamético I (664 – 610 a.C.)
Frígio – bécos - pão
Essas especulações sobre
a ORIGEM DA LINGUAGEM E DA
PRIMEIRA LÍNGUA e sobre a
DIVERSIDADE DAS LÍNGUAS são
retomadas e exploradas
diferentemente ao longo da história,
com variações em diferentes culturas.
EXEMPLOS DE PROBLEMAS DE ORDEM
COMUNICATIVA

Quando um falante precisa se


comunicar com outro, sem que este
esteja presente

INVENTA-SE A ESCRITA

Toda escrita é uma operação metalinguística


EXEMPLOS DE PROBLEMAS DE ORDEM
COMUNICATIVA

Dois falantes falam a mesma língua


mas, por razões diversas, se
considera que um a fala “mal”, não a
emprega ‘corretamente’.

INVENTA-SE a GRAMÁTICA
EXEMPLOS DE PROBLEMAS DE ORDEM
COMUNICATIVA

Um falante tem dificuldades de se


expressar em público e isso gera
proposições de como falar bem
nessas situações.

INVENTA-SE A RETÓRICA
RELEMBRANDO A HIPÓTESE DE
JÜRGEN TRABANT
A linguagem (conhecimento linguístico)
torna-se objeto de conhecimento (portanto
de conhecimento metalinguístico) quando
há um problema em uma ou em outra
dimensão de suas finalidades:

COGNITIVA X COMUNICATIVA
São os PROBLEMAS
COMUNICATIVOS que, além de
serem os mais primitivos, são os
que desencadeiam a reflexão
linguística sobre as línguas
nacionais na Europa,
desembocando na gramatização,
no século XVI.
SÉCULO XVI - GRAMATIZAÇÃO

Emergem as preocupações em torno da


sistematização e normatização das línguas
vernaculares.

A produção de gramáticas e dicionários, e


o seu objetivo didático e normatizador,
gera um conhecimento prático.
Esse conhecimento prático,
técnico, gera uma tradição
linguística de cunho escolar
(e por isso de valor idêntico a
outros tipos de saberes
práticos).
SABER PRÁTICO x SABER CIENTÍFICO

Conhecimento prático ensina o


uso

Conhecimento científico explica


as causas, as razões, descreve
o fenômeno.
TENDO EM VISTA ESSA
DIFERENÇA ENTRE OS TIPOS DE
CONHECIMENTOS, POR QUE E
QUANDO O CONHECIMENTO
CIENTÍFICO SOBRE A LÍNGUA FOI
GERADO?
RELEMBRANDO A HIPÓTESE DE
JÜRGEN TRABANT
A linguagem (conhecimento linguístico)
torna-se objeto de conhecimento (portanto
de conhecimento metalinguístico) quando
há um problema em uma ou em outra
dimensão de suas finalidades:

COGNITIVA X COMUNICATIVA
SEGUNDO TRABANT, ESSE SABER
CIENTÍFICO SOBRE A LÍNGUA EMERGE
QUANDO A LINGUAGEM SE TORNA
PROBLEMÁTICA DO PONTO DE VISTA
DE SUA FUNÇÃO COGNITIVA, QUANDO
HÁ UM PROBLEMA DE ORDEM
COGNITIVA.
Esses problemas surgem quando
nos damos conta:

1. de que falar tem uma função cognitiva,


ou seja, de que o pensamento está em
jogo quando se fala. (Platão e
Aristóteles)

2. quando ocorre uma experiência de


diversidade linguística.
PROBLEMAS DE ORDEM COGNITIVA

Dois grandes eventos na Europa estão na origem histórica


e cultural desses conhecimentos linguísticos:

 EVENTO INTERNO - Perda do poder, DA


UNIVERSALIDADE do LATIM, gerando uma
diversidade linguística na Europa;

 EVENTO EXTERNO - Descoberta do Novo Mundo,


expondo os europeus aos seus povos e a suas
línguas;
LATIM X LÍNGUAS VULGARES

 Os humanistas defendiam, na ciência, o uso


do latim como língua UNIVERSAL;

 Mas alguns cientistas (médicos, matemáticos)


viam nessa necessidade bilíngue uma grande
dificuldade.
LATIM X LÍNGUAS VULGARES

 Os problemas gerados em torno da


regulamentação do uso do LATIM ou
das LÍNGUAS VULGARES na ciência
gerou várias discussões, uma delas
designada pelos italianos como
questione della lingua
MAIS DO QUE A NÃO
COMPREENSÃO (problema
comunicativo), O PROBLEMA QUE
É LEVANTADO EM RELAÇÃO AO
USO DAS LÍNGUAS VULGARES É
DE ORDEM CULTURAL E
COGNITIVA
PROBLEMA CULTURAL
 AS LÍNGUAS VULGARES SERIAM TAMBÉM NOBRES,
DIGNAS, BELAS COMO LATIM?

PROBLEMA COGNITIVO
AS LÍNGUAS VULGARES SERIAM CAPAZES DE
DESEMPENHAR AS FUNÇÕES DO LATIM, OU SEJA, ELAS
SÃO CAPAZES DE MANIFESTAR OS MESMOS
PENSAMENTOS?
O PROBLEMA COGNITIVO FOI O QUE MAIS
GEROU DISCUSSÕES NESSE PERÍODO

 Os vulgaristas argumentavam (segundo a


perspectiva aristotélica) que o pensamento
independe da linguagem, não tem relação
nenhuma com ela : PODE-SE DIZER TUDO
EM TODAS AS LÍNGUAS.
 Oslatinistas argumentavam que só se pode
pensar cientificamente, de modo complexo, por
meio do latim: APENAS O LATIM POSSUI
CONCEITOS, TERMOS ADEQUADOS PARA
EXPRESSAR UM PENSAMENTO
CIENTÍFICO, A CIÊNCIA.
SEGUNDO OS LATINISTAS

 PENSA-SE DIFERENTEMENTE EM LATIM;

 PENSA-SE MELHOR EM LATIM;

Exemplo: Bacon afirma que as línguas vulgares


recortam o mundo de maneira não-científica e
exemplifica dizendo que, em Alemão, baleia é
tida por peixe já que a chamam “Walfisch”
SEGUNDO OS VULGARISTAS

 DANTE ALIGHIERI é o primeiro


teórico das línguas vulgares (De
Vulgari Eloquentia). Essa sua
obra tem como objetivo ser
compreendida por um público
mais amplo. ELE DEFENDIA A
CONSTITUIÇÃO DO ITALIANO
COMO LÍNGUA TÃO ILUSTRE
QUANTO O LATIM E, COMO
ESTE, CAPAZ DE EXPRIMIR
TUDO.
DESSA QUERELA NOS INTERESSA:

 A INTUIÇÃO DE QUE AS LÍNGUAS APRESENTAM


SEMÂNTICAS PARTICULARES.

 ELAS NÃO APRESENTAM APENAS SONS


DIFERENTES, MAS TAMBÉM UMA DIVERSIDADE
DO PENSAMENTO, UMA DIVERSIDADE
COGNITIVA.
O ASPECTO COGNITIVO

Tende desde então a evoluir, até


cair no exagero do
RELATIVISMO da teoria “SAPIR-
WHORF”, segundo a qual as
palavras PROVOCAM E
MOLDAM nosso pensamento.
NO SÉCULO XVI –
A ALTERIDADE É VISTA COMO UM PERIGO

Destruiu duas certezas medievais:

1. O latim como língua universal;

2. Opensamento humano como sendo o


mesmo em todos os lugares.
A ALTERIDADE É VISTA COMO UM
PERIGO E POR ISSO SURGEM AS
REAÇÕES A ESSE PERIGO, QUE
GERARAM O DEBATE ENTRE

RELATIVISMO LINGUÍSTICO
X
UNIVERSALISMO LINGUÍSTICO
RELATIVISMO LINGUÍSTICO
 Cada língua é única e tem de ser CONCEBIDA e
DESCRITA como tal;

 Se pensamento e linguagem são


interdependentes, línguas diferentes recortam e
apresentam o mundo de maneira diferente, por
isso o homem concebe o mundo segundo sua
língua;

 Em sua versão mais forte, não há possibilidade de


tradução.
UNIVERSALISMO LINGUÍSTICO

 AS LÍNGUAS HUMANAS POSSUEM


PROPRIEDADES COMUNS, mesmo não tendo
tido qualquer contato que permita atribuir essas
características comuns à difusão cultural. POR
ISSO É PRECISO BUSCAR OS UNIVERSAIS
LINGUÍSTICOS.
 Ex.: a arbitrariedade, a produtividade, a dualidade
e a descontinuidade;
 Traços fonéticos mínimos / verbo e substantivo /
nomes próprios / designações lexicais para partes
do corpo, cores / tempo e espaço;
REAÇÕES AO PERIGO DA ALTERIDADE

1. Recusa da diversidade linguística e tentativa de provar a profunda


unidade estrutural das línguas, quando se acreditava que as diferenças
eram lexicais: GRAMÁTICA GERAL (XVII);
2. Recusa da diversidade linguística e tentativa de provar a origem comum
das línguas: Harmonia Linguarum (XVI –XVII); PESQUISA HISTÓRICO-
COMPARADA (XVIII-XIX);
3. Reconhecimento da diversidade linguística e tentativa de construir uma
NOVA LÍNGUA universal ou aperfeiçoar as já existentes (XIX);
4. Recusa da diversidade linguística e preocupação em defender uma
TEORIA LINGUÍSTICA da universalidade do pensamento humano e de
sua relação com a língua (gramáticas universais), apesar das diferenças
lexicais e gramaticais de superfície das línguas (XX).
5. Reconhecimento da diversidade linguística e tentativa de construir uma
teoria geral da língua enquanto sistema formal (sincrônica e estrutural)
ESTRUTURALISMO (XX)
PROBLEMAS DE ORDEM COGNITIVA

O Novo Mundo e o elogio da diferença


O problema cognitivo se intensifica com a radical
experiência da diversidade linguística, quando da
descoberta das línguas faladas no Novo Mundo e
em outros continentes. O encontro com a
alteridade certamente provoca problemas
comunicativos, mas também e, talvez, até de
modo mais decisivo, problemas cognitivos,
promovendo, como resultado, a produção de
conhecimento específico.

Tradições européia e americana e seus
saberes linguísticos

 A experiência europeia – a perda da hegemonia


do catolicismo latino (do latim) e a ascensão das
línguas nacionais – produz predominantemente uma
busca pela unidade, uma busca pelo “paraíso
perdido”. Já a experiência americana gera, antes,
uma busca pela diversidade, ou seja, enceta uma
resposta positiva ao contato com a diferença. Trata-
se de uma reação pentecostal ou, talvez, neopagã.
Colonização e descolonização do
pensamento

A emergência dos
CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS
SOBRE A LÍNGUA dependeu do
encontro com a diferença, dependeu
da experiência da alteridade.
O colonialismo foi uma condição para o encontro
dos europeus com seus “outros”; SEM
COLONIALISMO NÃO HAVERIA LINGUÍSTICA.
Mas a LINGUÍSTICA não é intrinsecamente
colonialista. Boa parte dos SABERES
LINGUÍSTICOS REPRESENTA, ao contrário, um
passo decisivo rumo à DESCOLONIZAÇÃO, à
medida que respeita e celebra as diferenças
entre os seres humanos.

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