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A CIDADE ¢ para brincar. Sou crianca de 0a 99 anos. Concep¢ao: Coletivo Basurama. Sao Paulo (SP), 2013. De que modo a arte estimula transformacées individuais que se refletem na vida coletiva? Para que transformacées acontecam em um contexto social amplo, é preciso que elas acontecam também nos individuos? 1 Observe a imagem ao lado. 0 que as pessoas nos balancos parecem estar sen- tindo? Explique. ‘2. Uma intervengao como a que vocé vé na imagem sugere transformagées indivi- duais ou coletivas? Quais? Como vocé acredita que elas acontecem? Em 2013, os artistas do coletivo espanho! Basurama instalaram varios balangos em um local histérico no centro da cidade de Sao Paulo (SP) e convidaram as pessoas que transitavam por la a se aventurar nos brinquedos, intervindo no cotidiano agitado da metrépole com uma aco geralmente associada ao universo infantil. Agora imagine quantos adultos gostariam de repetir essa experiéncia pessoal da infancia mas nao tém coragem de se expor em puiblico e romper com os padrées de comportamento social geralmente associados a quem "ja cresceu"! Neste capitulo, ao apresentar algumas obras de artistas contempora- neos, convidamos vocé a vivenciar possiveis transformacées internas e a pensar em como elas podem se refletir em seu entorno. Reflita sobre as seguintes questdes e compartilhe suas respostas com os colegas € com o professor. 1 Como vocé se vé dentro do coletivo que é a sua turma escolar? @ De que forma a sua turma se vé inserida em um coletivo maior, dentro da escola? SOBREVOO Transformacoes cotidianas Vocé vai conhecer a seguir alguns artistas que fizeram de suas obras ou propostas artisticas disparadores para reflexdes que buscam transformar modo de pensar e de agir dos individuos em suas atividades cotidianas. As instrugdes de Yoko Ono Make one tunafish sandwich and eat. a : 4 PEGA SANDUICHE DE ATUM i : Imagine mil s6is no : ‘TUNAFISH SANDWICH PIECE céu ao mesmo tempo. 3 age ert Deixe-os brilhar por uma hora. i sky at the same time. Ento, deixe-os gradualmente derreter $ Let them shine for one hour. é ‘Then, let them gradually melt no céu. 5 into the sky. Faca um sanduiche de atum ¢ coma-o. i 1964 spring 1964, primavera [Traduzido pelos autores desta obra] Leia a tradugao do texto na imagem acima. Em seguida, procure seguir a “instru- Gao” contida nele. Como vocé se sentiu realizando essa proposta? A artista japonesa Yoko Ono (1983+) publicou, em 1964, o livro Grapefruit, em que apresenta diversas “instrucées” que en- volvem propostas simples e convidam o leitor a ressignificar al- gumas de suas aces corriqueiras. 2 Por que vocé acha que Yoko Ono criou essas instrugdes? E) Quais transformacdes essas instrugdes podem provocar no pubblico? Yoko Ono nasceu no Japao, mas ainda bebé foi levada para os Estados Unidos, onde seu pai trabalhava. Anos de- pois, voltou para Téquio (Japao), onde morou até os 18 anos, quando mudou-se para Nova York (Estados Unidos). Nessa cidade, conheceu 0 compositor estadunidense John Cage (1912-1992) ¢ também integrou um grupo de artistas chamado Fluxus. Yoko tem formacao académica em misica e suas experimentag6es no campo das artes visuais, da musica, da performance e do cinema fizeram com que se tornasse uma referéncia para artistas do mundo todo. Ela foi esposa do misico e ativista inglés John Lennon (1940-1980), integrante da banda The Beatles. Em Lennon, a artista encontrou um parceiro de vida e de criacao artis- tica. As obras do casal tinham carater ideolégico, de defesa dos direitos humanos e promocdo da paz. PARA. INSTRUCGOES Que tal participar de um jogo para despertar os sentidos estimular novas percepgées? iM Vocé terd uma semana para cumprir as instrugées abaixo e, na semana sequinte, o professor organizard um dia para a turma compartilhar os resultados das experiéncias. 1. Vocé pode escolher cumprir uma ou duas das instrucées a seguir. Serd um desafio 4 sua criatividade e d sua persisténcia, a) Observe uma flor durante cinco dias, esteja com ela pelo menos duas vezes ao dia, Anoteem seu didrio de bordo 0 que ela vai “contar" a vocé. 6) Durante trés dias, encontre um modo de espalhar perfumes em lugares inusitados. Nos dias seguintes, investigue se alguém os percebeu. Anote em seu didrio de bordo o que aconteceu. ¢) Durante cinco dias, procure experimentar um sabor novo a cada dia. Anote todas as sensacdes em seu didrio de bordo. 2. No dia combinado com o professor e com a turma, leve seus registros e conte como foi a sua experiéncia, 3 Para concluir, converse com os colegas e com o professor sobre as sequintes questées. a) Como voce se sentiu ao longo da(s) experiéncia(s) que escolheu fazer? 6) Oque voce descobriu sobre si mesmo ao realizar essa(s) atividade (5)? ) Caso vocé e os seus colegas de turma tenham realizado a instrugdo Tc, quais foram as reagdes mais surpreendentes? YARD. Out of Actions. Concepcio: Allan Kaprow. Geffen Contemporary, Museum of Contemporary Art, Los Angeles, Estados Unidos, 1998. Arte e vida na obra de Allan Kaprow Observe a imagem acima. 0 que parece estar acontencendo nessa cena? O artista estadunidense Allan Kaprow (1927-2006) é autor da obra Yard, que vocé vé na imagem acima. Assim como Yoko Ono, Kaprow também integrou 0 grupo Fluxus e foi quem, na década de 1960, criou e deu nome aos primeiros happenings, “eventos artisticos” que acontecem em diversos locais - nem sempre de arte — sem ensaio prévio e com a participacao do publico. Um dos principios de Kaprow é 0 de que um happening nun- ca é igual a outro e pode ser reinventado muitas vezes, inclusi- ve por outras pessoas. Seus happenings podiam ser refeitos em muitos contextos, como aconteceu com varios deles, incluin- do Yard, em que ele usa pneus para compor um ambiente e propée que o piiblico interaja como preferir com tudo o que ha no espaco. Allan Kaprow se interessava pela relacdo entre arte e vida, as- sim como 0 artista francés Marcel Duchamp (1887-1968) que ja havia questionado essa relacdo anos antes com seus ready-mades - objetos comuns convertidos em obras de arte. Entretanto, Kaprow nio levava os elementos da vida cotidiana para o mundo da arte; em vez disso levava a arte para 0 contexto da vida. Em suas propostas denominadas activities [atividades], quem par- ticipa é convidado a tomar consciéncia das agGes automaticas i 5 que realiza em privado, longe do piiblico, como escovar os den- tes, olhar-se no espelho ou lavar a louca. Para Kaprow, quando alguém se dispée a realizar uma acdo conscientemente, uma transformacao acontece, pois a pessoa comeg¢a a prestar atencao no movimento realizado, nas partes do corpo envolvidas e no som produzido, por exemplo. A rcla- ¢ao do individuo com o tempo também se transforma: muitas acées precisam ser feitas demorada e repetidamente para que cada detalhe seja percebido e assimilado. | A partir da proposta de Allan Kaprow, reflita: Quais agdes vocé realiza automati- camente e quando elas se tornaram automaticas? Como vocé as percebe? Drs PESQUISAR °° e MARCEL DUCHAMP E OS READY-MADES O artista francés Marcel Duchamp influenciou varias geragées de artistas com sua postura questionadora e revolucionéria. Ele integrou um movimento artistico chamado Dadaismo, em que os artistas contestavam o sistema de arte e os padrées culturais da época com obras provocativas € irénicas. Duchamp chamou de ready-made as obras que produziu com objetos do cotidiano escolhidos aleatoriamente e apresentadas em ambientes tradicionais de arte, como saldes e galerias. Por ter sido um artista importante para a histéria da arte, sugerimos que vocé amplie 0 seu repertério pesquisando e conhecendo alguns dos trabalhos mais relevantes de Duchamp. Para isso, pode consultar livros de historia da arte moderna e contemporanea na biblioteca de sua escola ou de sua cidade ou buscar informacées na internet. Se optar pela pesquisa on-line, acesse fontes de pesquisa variadas, confronte as informacées € procure escolher sites de museus e de revistas de arte. Se necessdrio, peca ajuda ao professor. Peprate roian At 18d Osco Far 1 Individualmente, pesquise imagens das seguintes obras: Roda de bicicleta ¢ Marcel Duchamp em (1913), Porta-garrafas (1914) e Fonte (1917). uma galeria de arte em Hanover, Alemanha, 2 Escolha uma das obras e apés analisd-la responda as questdes 1965. a) O que essa obra despertou em vocé? ° b) O que ha de contestador nela? o) Quais transformagdes Duchamp provocou no mundo das artes? 3 Para concluir, converse com os colegas ¢ com 0 professor sobre as ¢ respostas de cada um. cece ‘BRDGEMIN MAGESKEYSTONE RAL .COLECAO PRATEXLAR 2 ANATOMIA das coisas encalhadas. Concepcao ¢ interpretacao: Silvia Moura. Itati Cultural, ‘Sao Paulo (SP), 2012. Quando as coisas contam historias Observe a imagem acima, Quais temas esse espetéculo de danga parece abordar? Explique sua resposta, No espetaculo Anatomia das coisas encathadas, a bailarina cea- rense Silvia Moura (1965-) apresenta a si prpria ¢ 0 seu coti- diano por meio de suas colegdes. A colecao de objetos de Silvia Moura segue um critério: sao colecionaveis os produtos descar- tados apés 0 consumo de seu contetido. Assim, ela coleciona cabides de roupas intimas, caixas de remédios, chaves, fones de ouvido quebrados, entre outros objetos que sio organizados segundo a data, o que continham e a quem pertenciam. A bai- larina anuncia que quer aumentar o tempo de vida das coisas, descobrindo novos modos de usé-las. Além dos objetos, ela considera que suas coreografias anterio- res também formam uma colecao. E, na colecdo de movimen- tos, Silvia Moura apresenta suas criagdes da década de 1990. Mas seri que é mesmo possivel catalogar um movimento criado € executado ha tantos anos, como se ele fosse permanecer igual? Como garantir que 0 movimento permanecera o mesmo? Ao expor esses movimentos corporais, criados muitos anos antes, Silvia Moura também expée o proprio corpo, que envelheceu. Nesse espeticulo, além de repensar o ciclo de vida titil dos objetos que os rodeiam, os espectadores também sao convidados a pensar sobre si, sobre como envelhecem e sobre como lidam com as marcas e com as transfor macées ¢ limitacdes corporais que a acio do tempo impée. \Vocé quarda objetos que poderiam formar uma colegdo? O que esses objetos contam sobre vocé? No seu ponto de vista, qual é a diferenga entre colecionar e acumular? Transformacao na velocidade das informagoes digitais Observe a imagem acima. O que chama sua atengao nos figurinos desse conjun- ‘to de dangarinos? Por qué? No espetaculo Os superficiais, 0 elenco da Cia. Etc., que atua em Pernambuco, organiza a coreografia mesclando referéncias relacionadas 4 profissao de bailarino, ao lazer, aos estudos etc. O grupo brinca com essas referéncias, misturando e sobrepondo ideias, apresentando recordagées de infancia ¢ contando casos. Além disso também problematiza temas veiculados em meios de comunicacao de massa ou a relacao das pessoas com os dispos vos eletrénicos, por exemplo. Todas essas referéncias sio usadas na composi¢ao da coreografia ¢ dos figurinos dos bailarinos. E] Como vocé interpreta o titulo do espetdculo? O que vocé considera ser superficial? Em quais momentos da sua vida vocé considera que foi superficial? O que diferencia uma pessoa ou uma experiéncia superficial de outras nao superficiais? Com o espetaculo Os superficiais, a Cia. Etc. propée um en- contro com espectadores de diferentes geracées, convidando- -08 a pensar nas relacGes entre as pessoas e na forma como lida- mos com a vida de hoje. Esse trabalho parte do pressuposto de que produzimos e re- cebemos diariamente uma enxurrada de informacées. E, em meio a isso, a tendéncia é que a nossa capacidade de fazer esco- Ihas e de prestar atencao diminua. OS SUPERFICIAIS. Direcao e trilha sonora: Marcelo Sena. Interpretacao: Cia. Ete. (Elis Costa, José W. Junior, Marcelo Sena, Renata Vieira). Praca da Sé, Olinda (PE), 2015. Cia. Etc. e conhega mais sobre o espetdculo 0s superficiais. Disponivel em: . Acesso em: 18 mar. 2018. PARA. RIMEN O COTIDIANO EM UMA DANCA Convidamos vocé e seus colegas o compor uma dana sorteando movimentos que ja conhecem. A coreografia vai ser 0 modo de organizar os movimentos com a musica. 1 Preparagdo para o sorteio: @) Cada integrante da turma escreverd em um pedaco de papel alguma sugestdo de movimento do seu cotidiano ou de uma danga de que goste. 6) Todos os papeis da turma seréo dobrados e depositados em um recipiente. Em outro, que seré preparado pelo professor, haveré papéis com titulos de musicas diferentes. 2, Sorteio e colagem: a) Retina-se com os colegas em um grupo de cinco integrantes. b) Um representante de cada grupo deverd retirar oito papéis do primeiro recipiente, que serdo as indicagdes de movimentos para a coreografia, e, do segundo recipiente, deverd sortear 0 papel como titulo da missica que seré usada na danga do grupo. ) Faca com seus colegas de grupo os movimentos sorteados para criar a coreografia. Vocés inventarao um modo de combinar todos os oito movimentos entre i, usando a musica sorteada como trilha sonora. d) Em seguido, os grupos apresentardo suas coreografias para a turma. 3. Apés opresentar e assistir ds dancas, converse com os colegas e com o professor sobre as sequintes questées: a) Vocé enfrentou alguma dificuldade para fazer esta atividade? Se sim, como a resolveu? 6) Quais adaptacdes seu grupo precisou fazer nos movimentas para conecté-los entre sie todos eles com a miisica? ¢) As composicées coreogréficas criaram novas possibilidades de perceber um movimento jd conhecido? Quais foram as leituras? — —— Para refletic Reflita sobre as seguintes questdes © compartilhe suas respostas com 0s colegas € com o professor. 1 O que pode haver em comum entre as obras apresentadas neste Sobrevoo? @ Quais foram as suas reagées € reflexdes perante cada uma das obras apresentadas? 3 Quais obras o fizeram pensar em (ou transformar) suas agbes cotidianas? OCG Euperimentagées do Flunus BEAD PUZZLE Arrange the beads so that th at they are the same. Arrange the beads so that they are different. e TY Observe a imagem do jogo acima, criado pelo artista estadunidense George Brecht. Nas instrugGes, esta escrito (em inglés): “BEAD PUZZLE / Arrange the beads so that they are the same. / Arrange the beads so that they are different.” ["QUEBRA-CABECA DE CONTAS / Organize as contas de forma que elas fiquem iguais. / Organize as contas de forma que elas fiquem diferentes.”, em tradugao livre.] Como vocé imagina que esse jogo pode acontecer? Por que vocé acha que artista o chamou de quebra-cabega? BRECHT, George. Games and Puzzles [Jogos e quebra- -cabecas, em traducio livre] da obra Flux Year Box 2. c. 1968. Edi¢io do Fluxus anunciada em 1964. 1 caixa de plastico com rétulo em offset, contendo quatro contas de plistico dois cartes em offeet Design e montagem de George Maciunas. 1,7em X 6,7 cm x 7.5m, Pense nos jogos que vocé conhece. Vocé considera algum deles uma obra de arte? Por qué? A relacao entre arte e vida esteve no centro das discussdes e experimentacoes de diversos artistas proximos ao Fluxus. Fluxus era 0 nome de uma revista organizada pelo artista e designer lituano George Maciunas (1931-1978). Num segundo momento, o nome foi adotado por um coletivo de artistas que se tornou uma referéncia na historia da arte. A palavra “fluxus” significa “mudanga”, “movimento” ou “fluxo” em latim. Os ar- tistas propunham, portanto, uma mudanca na forma de se pen- sar € conceber arte. Criado por Maciunas em 1961, durante um festival celebra- do na Alemanha, o Fluxus reuniu artistas de diversas naciona- lidades (franceses, japoneses, alemaes, estadunidenses, entre outros) que produziam em diversas linguagens e modalidades artisticas — como artes visuais, musica, teatro, performance, fo- tografia e video. Alguns deles se reuniam no esttidio de Yoko Ono, em Nova York, para desenvolver seus happenings e seus concertos. O Fluxus também é entendido como um movimento, pois seus ideais se difundiram e foram explorados em muitas produ- ces artisticas, tanto na época quanto atualmente. Diversos artistas criaram, e ainda hoje criam, obras baseadas nas experimentacées do Fluxus, com destaque para o alemao Joseph Beuys (1921-1986), o sul-coreano Nam June Paik (1932- -2006), o francés Ben Vautier (1935-) e o estadunidense George Brecht (1926-2008). Com artistas tao variados, as criacdes propostas pelo gru- po rompiam 0s limites entre as linguagens artisticas, com trabalhos que podiam ser considerados performances ou con- certos. Muitas obras eram experimentos influenciados pe- las aulas que varios de seus integrantes (incluindo Ono e Kaprow) tiveram com 0 misico John Cage, que explorava em suas composicées elementos sonoros diversos, incluin- do ruidos do cotidiano, Nam June Paik, um dos artistas pioneiros nas produgdes de videoarte, criou — entre muitas outras obras — a TV Cello, um instrumento unico que misturava televisores de diversos tamanhos com elementos de um instrumento de corda, re- sultando em um violoncelo alternativo, que pode ser visto na imagem a seguir. Observe a imagem de novo. Como vocé imagina que as linguagens artisticas de artes visuais e mUsica se integram nesse “concerto/performance"? Por que vocé acha que 0 artista usou aparelhos que na época eram de tecnologia avan- ada para (re)criar um instrumento tradicional como o violoncelo? Como essa obra poderia ser recriada com a tecnologia disponivel atualmente? Como outros movimentos de vanguarda, o Fluxus divulgou, em 1963, um manifesto no qual expressava seu objetivo de pro- mover uma arte revoluciondria, que questionava o sistema ar- tistico 0 sistema politico da época. Mesmo quando criavam jogos ou chamavam a atencdo para as acées cotidianas, 0 tom de ironia demonstrava um posicionamento politico. A violoncelista estadunidense Charlotte Moorman (1933-1991) usando TV Glasses ¢ tocando a TV Cello de Nam June Paik, Nova York, Estados Unidos, 1971. * Assista a um & trecho da performance de Charlotte Moorman tocando a TVCello de Nam June Paik. Disponivel em: . Acesso em: 2 maio 2018, 38 Nesse manifesto, eles declaram: “Promovam uma arte viva, uma antiarte, uma realidade nao artistica, para ser compreen- dida por todos, nao apenas pelos criticos, diletantes e profissio- nais. [...]” [em traducao livre]. O Fluxus questionava instituicées artisticas como museus e galerias, assim como o individualismo excessivo da producao artistica tradicional. Seus membros acreditavam que a arte de- veria ser feita para o piblico, com o ptiblico e pelo piiblico. Suas propostas buscavam uma aproximacdo com a vida, usando elementos do cotidiano e sendo realizadas em ambientes co- muns, como vimos nas produgées dos artistas Allan Kaprow e Yoko Ono. O Fluxus encerrou suas atividades em 1978, quando George Maciunas faleceu. Contudo, os seus ideais continuaram pre- sentes nas producées dos integrantes, que desenvolveram suas carreiras paralelamente. ~FOCONA LIEV h| OS MANIFESTOS ARTISTICOS No século XX, a comunicagao entre pessoas se tornou algo imediato e facil, especialmente com © surgimento das redes sociais. Entretanto, muito antes disso, os artistas ja criavam suas redes, de contatos € de trocas de ideias. Uma forma de apresentar e divulgar seus ideais era publicando documentos chamados manifestos em veiculos de comunicacao. Eventos como saraus também eram celebrados para difundir esses manifestos. Como vocé viu anteriormente, os artistas do Fluxus usaram esse recurso para divulgar o que eles pensavam e esperavam da arte. Os manifestos artisticos séo declaragdes escritas nas quais um grupo, geralmente formado por artistas, € intelectuais, apresenta a sua visdo da arte; os objetivos que pretende alcancar com suas producdes; justifica suas escolhas e, em alguns casos, até convida o leitor ou ouvinte a participar da criacao das obras, das aces artisticas ou de uma reflexdo. Os manifestos também podem ter objetivos politicos, de forma direta ou indireta, dependendo do contexto histérico no qual esto inseridos. Essa forma de comunicago textual teve destaque entre os artistas de vanguarda do inicio do século XX, que buscavam romper com os padrdes artisticos da época, especialmente com a ideia de arte apenas como representacao da realidade. Alguns manifestos se tornaram referencia no cenario artistico, como o Manifesto Futurista, publicado pelo poeta, escritor e editor italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944). O Futurismo, que se destacou na Italia, valorizava ao extremo a modernidade, assim como a importancia das maquinas e da tecnologia, representando a velocidade e o movimento como simbolo de renovacao. Artistas ligados a diversas modalidades artisticas (arquitetura, cinema, pintura e teatro) aderiram ao movimento futurista, publicando seus proprios manifestos. Eles contribuiram para divulgar propostas estéticas de diversos movimentos como os das vanguardas histdricas europeias, os manifestos Suprematista (1915), Dadaista (1916 e 1918), Surrealista (1924), entre outros. ee No século XX, diversos artistas brasileiros também publicaram ifestos, destat mcncrooces MU DTU ir a Antropofagico) (1928), Manifesto shereex = erdsre = de bores — fojer — heer ~ soto ~ wledplow » Ruptura (1952, ligado & Arte =m eve ta grende.qwonde fo ane ‘conde, © none Inigtace nde pede ver © de Leororda Concreta), 0 Neoconcreto (1959), | "e binea dev um soho quale, BATU OUERS ola: briarcise “adivinit do ha mais continvidade! Na danga do século XX, foi sige nbs siviegvimes Peete ee: me corm te previ soba publicado o No Manifesto [Nao 1 sae apa slam fore. eset 0s) phelps mnie: manifesto, em traducdo livre) por que? (1965), pela dancarinaecoredgrafa 12 natwalime ciate de reeicenga — 9 méteds pore rapre. YWonne Rainer (1934-), em que oto ae et propunha a oposicéo as dancas, foi a crise foi a renovagdo espetaculares e extravagantes _ que eram produzidas nos Estados SO rN REO 1960.e 1+ © Inuiso nines dotoda de dove « ou nee Prineloe Inalgnntas © de grandes pombe ‘Recro raban. At. 184 do igo Pre ‘MSE DEAE CONTENPORINEA A UNVERBOADE DE 3A PANO. SLO PALO 40 {elefe so CONHECIMENTO Arte efemera Vocé sabe o que significa “efémero”? Esse conceito € amplo e utilizado em muitos outros contextos além do artistico. Observe agora a seguinte definicao, extraida do Pequeno di- cionério Houaiss da lingua portuguesa: efémero (e.fé.me.ro) adj. que dura pouco In: Pequeno diciondrio Houaiss da lingua portuguesa Instituto Antonio Houaiss de Lexicografia (Org.). Sao Paulo: Moderna, 2015. p. 358. Quando 0 conceito é empregado no campo da arte, ele pode abarcar propostas de diversas linguagens artisticas. A arte eféme- ra pode ser aquela que foi criada com o objetivo de se desfazer com 0 tempo ou aquela que dura um tempo predeterminado. Algumas formas de arte que se enquadram nesse conceito sao: 1 Espetaculos de danga, de musica e de teatro Esses espetaculos acontecem dentro de um intervalo de tem- po e espaco predeterminado. Ha formas de registrar essas produgées de modo a preservé-las total ou parcialmente, mas a acdo em si é efémera. 2 Happenings Sao “eventos”, “acontecimentos” que, ainda que sigam um roteiro, a cada vez que sao realizados apresentam elementos diferentes, como 0 local, os participantes, 0 clima, o ambien- te. Um happening nunca sera igual a outro. 3 Performances ‘Assim como os happenings, as performances sao eventos que acontecem em um intervalo de tempo determinado. Elas po- dem ser registradas, mas uma performance em si € uma propos- ta artistica realizada em um determinado momento e espaco. 4 Grafites Os grafites sao pinturas produzidas em espacos ptiblicos; podem durar alguns anos ¢ se transformam ao sofrer as agoes do clima: chuva, vento e sol vao alterando suas caracteristi- cas 4 medida que o tempo passa. Outra razio que também determina sua efemeridade é que um grafite esta sujeito a qualquer tipo de intervengao externa — por exemplo, uma nova pintura que o apague total ou parcialmente ou que o tansforme. 5 Action paintings O foco de uma action painting esta na acao do pintor e nao no resultado da pintura em si. Essa técnica teve como seu maior representante o artista estadunidense Jackson Pollock (1912-1956). 6 Algumas produgées de Land Art Algumas dessas obras, quando produzidas diretamente na natureza, também sofrem com a acdo do tempo, assim como © grafite. As obras podem se transformar de acordo com as mudangas da prépria natureza (mata que cresce, maré que sobe ¢ areia que se movimenta sao alguns exemplos de altera- des do ambiente que podem transformar obras que foram realizadas em um ambiente natural). Por fim, ha obras de arte que {também podem ser considera- t das efémeras, dependendo do; | PS Se hie SAN ry = ah } material com que sio produzi- aed ust heats Pancrewae tas rear ren feitas de algum material orga- vate way Pores oe , read rea) nico (por exemple, alimentos) d lo. Veja Tad a igo ote None: | ee ee ea nimo, da artista Néle Azevedo. das, como é 0 caso de esculturas AZEVEDO, Néle. Monumento minimo. Para refletir 2018. 5 mil esculturas Reflita sobre as seguintes questdes e compartilhe suas respostas oe pelo exposes na com os cole 1m 0 professor. Praca Chamberlain, Saas ; Birmingham, I Quais sao os desafios que podem ser enfrentados pelos artistas que Inglaterra. produzem obras efémeras? 2 Considerando a defini¢do apresentada, o que vocé descreveria como efémero no mundo contemporaneo? E em sua vida? EE crincio Nesta proposta, vocé terd liberdade para criar explorando a linguagem artistica que escolher, mas deve respeitar as seguin- tes regras: * Oresultado deve ser uma obra efémera. * O processo deve prever a interac4o com 0 piblico. 1 Retinase com os colegas em grupos de trés a cinco integrantes. 2 Elaborem uma proposta que estimule sutis transformacdes nos participantes. Por exemplo, algo que os instigue a pensar na forma como se relacionam com os colegas, com a escola ou com o ambiente em que vivem. oo Com 0 auxilio do professor, facam um planejamento da pro- posta. Ele deve conter a descri¢do da acdo, por que escolhe- ram essa atividade, como preveem a participacao do ptiblico € 0 que esperam transformar nele, além do tempo de dura- ¢4o da acio, o local onde vai acontecer e os materiais que serao utilizados. 4 Seguindo a organizaco proposta pelo professor, as acdes se- rio realizadas com a presenca ¢ a participacao do puiblico no dia determinado. Organize-se com seu grupo para participar das propostas de todos os colegas da turma. Para refletir Reflita sobre as seguintes questées e compartilhe suas respostas com 0s colegas e com o professor. I Seu grupo conseguiu realizar tudo o que foi planejado no projeto? O que deu certo? 0 que aconteceu de modo diferente na pratica? 2 Quais elementos da agao vocé acha que contribuiram para evidenciar a reflexao proposta por seu grupo? E quais foram os elementos que atrapalharam essa reflexdo? 3 Como suas ideias ou seus relacionamentos se transformaram depois de vivenciar as acdes propostas pelos colegas? As propostas dos artistas apresentados neste capitulo provocam ex- periéncias que podem ser transformadoras para o pubblico, ainda que nem sempre essas mudancas acontecam imediatamente. Algumas transformacées sdo um processo que ocorre ao longo da vida e de- pendem da disposigao de pensar sobre si e sobre sua ago no mundo. Desse modo, as transformacées se iniciam como experiéncias indi- viduais que se ampliam para o coletivo, criando uma conexao entre as pessoas a partir de uma experiéncia comum. Para concluir, reflita sobre as seguintes questées e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor. 1 Quais transformagdes voce percebeu em suas proprias acdes apés conhecer os artistas e as obras deste capitulo? 2 Quais mudangas vocé percebeu nas atitudes de seus colegas apos experimentar as propostas praticas apresentadas neste capitulo? 3 Quais descobertas vocé fez ao longo deste capitulo? O que vocé gostaria de continuar aprofundando?

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