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27/09/2018 Candeia

Transgênicos no Brasil: as verdadeiras conseqüências

Flavia Londres[1]

O que são organismos transgê nicos

Os Organismos Ge ne ticame nte Modificados, também chamados Transgê nicos, são seres vivos manipulados em
laboratório com a intenção de que sejam neles incorporadas uma ou mais caracte rísticas e ncontradas
naturalme nte e m outras e spé cie s. Na Natureza esse processo não ocorre, pois diferentes espécies não se cruzam,
mas cientistas criaram um processo de transferência artificial de genes (responsáveis pelas características desejadas)
de uma espécie para outra. Através desta técnica, pode-se introduzir genes de qualquer ser vivo (por exemplo, vírus,
bactérias ou animais) no código genético de qualquer outro ser vivo (como soja ou milho). Ou seja, esta tecnologia
permite que o homem realize “cruzamentos” entre espécies, jamais possíveis na Natureza.

O uso de sementes transgênicas na agricultura tem sido defendido no Brasil como “alte rnativa fundame ntal” para se
atingir consideráveis aumentos de produtividade, aliados a significativa re dução de custos de produção e me nore s
impactos ambie ntais – estes últimos devidos ao suposto menor uso de agrotóxicos. De quebra, os transgênicos
contribuiriam para aume ntar nossas divisas, por proporcionarem maior participação de nossos produtos no mercado
internacional. Ainda, como fim social, as sementes transgênicas contribuiriam para resolver o proble ma da fome nos
países em desenvolvimento.

Gostaria de discutir brevemente cada uma destas implicações, usando, como objeto de comparação, dados obtidos e m
paíse s que cultivam transgê nicos já há alguns anos.

Produtividade

É importante termos ciência de quais são os transgênicos que estão no mercado atualmente – exatamente os mesmos
que as empresas de biotecnologia (como a Monsanto e a Syngenta)[2] e o governo brasileiro querem introduzir no
Brasil.

Existem hoje, basicamente, quatro cultivos transgê nicos sendo plantados comercialmente, todos de exportação:
soja, milho, algodão e canola. Esses transgênicos, desenvolvidos pelo pequeno grupo de indústrias de biotecnologia
(que englobam a produção de sementes, agrotóxicos e fármacos) que dominam o mercado mundial, foram
desenvolvidos para re sistir a he rbicidas e/ou para matar inse tos.

Explicando melhor: 77% dos transgê nicos cultivados atualme nte apre se ntam, como dife re ncial, a
caracte rística de se re m re siste nte s a he rbicidas (agrotóxicos que matam mato). Nada mais. Ou seja, se antes
o agricultor precisava utilizar o agrotóxico com cuidado, sob risco de danificar a própria lavoura, com os cultivos
re siste nte s a he rbicidas e le pode pulve rizar o produto à vontade , sobre a lavoura, que todas as plantas morrerão,
salvo a cultura transgênica. Notem que a empresa que desenvolveu e vende a semente transgênica é a mesma que
produz e vende o agrotóxico.

Outros 15% dos transgê nicos são os chamados cultivos Bt, que tiveram inseridos em seu código genético ge ne s
de uma bacté ria, chamada Bacillus thuringiensis[3], que produz toxinas inseticidas. Dessa forma, os cultivos Bt são
plantas inseticidas. Quando o inseto-alvo, por exemplo, a lagarta do cartucho (que ataca lavouras de milho), se alimenta
de qualquer parte da planta Bt, ela morre. Nada mais.

Os 8% re stante s dos transgê nicos e xiste nte s no mundo combinam as duas caracte rísticas citadas acima:
re sistê ncia a he rbicidas e proprie dade s inse ticidas.

Ou se ja, os transgê nicos de se nvolvidos até hoje não foram de se nvolvidos para se re m mais produtivos.
Foram desenvolvidos para resistir a herbicidas e/ou para matar insetos.

Para atestar este fato, podemos citar um informe publicado em 3 de maio de 2001 pelo Dr. Charles Benbrook, do
Centro de Ciência e Política Ambiental do Noroeste, de Idaho (EUA), que confirma os resultados de outros estudos do
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mesmo centro de pesquisa. O trabalho mostra que a produtividade da soja transgê nica é , e m mé dia, 2 a 8%
me nor do que das varie dade s conve ncionais.

Um outro estudo, da Universidade de Nebraska (EUA), conduzido por dois anos, também colocou em xeque as
vantagens das plantações de soja Roundup Ready, da empresa Monsanto, modificada para ser resistente ao herbicida
glifosato (ou Roundup), da mesma empresa. Ao comparar plantaçõe s alte radas e não-alte radas, o e studo
mostrou que as colhe itas foram de 5% a 10% maiore s para os cultivos não-transgê nicos (Folha de São
Paulo, 03/08/01).

O caso dos cultivos Bt é parecido. Estudos de Hal Wilson, do Departamento de Entomologia da Universidade do Estado
de Ohio (EUA) indicam, após três anos de comparação, que não há dife re nça de produtividade e ntre os cultivos
Bt e os conve ncionais.

De todas as pesquisas independentes às quais tivemos acesso, a única que relata aumentos de produtividade
relacionados ao uso de sementes Bt foi um estudo publicado em novembro de 2001 por Charles Benbrook. Ele relata os
resultados econômicos do cultivo de milho Bt nos Estados Unidos durante o período de 1996 a 2001. Benbrook constata
que o milho Bt foi capaz de proporcionar ganhos de produtividade da ordem 6,95 milhões de toneladas, mas que este
ganho não compe nsou o aume nto dos custos de produção, o que resultou para os agricultores americanos um
prejuízo líquido de US$ 92 milhões ao longo deste período (ver item custos de produção).

Em verdade, do ponto de vista agronômico, é muito improvável que uma modificação genética em si possa
promover aumentos significativos de produtividade. Para se atingir este objetivo é necessário um conjunto de
estratégias integradas, incluindo a re cupe ração da capacidade produtiva do solo, o aume nto da biodive rsidade
do siste ma, a ciclage m de nutrie nte s, e tc., além do aumento do potencial genético da planta.

Custos de produção e re dução do uso de agrotóxicos

A suposta re dução dos custos de produção das lavouras transgênicas estaria baseada na re dução do uso de
agroquímicos. Por sua vez, a suposta redução do uso de agroquímicos contribuiria para a conservação do meio
ambiente. No entanto, os dados das pe squisas realizadas nos EUA que temos disponíveis não confirmam e sta
re dução no uso de agrotóxicos.

Segundo o Departamento de Agricultura do Governo Americano (USDA, na sigla em inglês) a soja modificada
tolerante a herbicida (toda a soja transgênica plantada) re que r e m mé dia 11% mais agrotóxicos do que a soja
conve ncional para controlar o mato, have ndo zonas onde se tê m utilizado até 30% mais. O informe do Dr.
Charles Benbrook, citado acima, também relata como o aume nto massivo da utilização de um só he rbicida fe z
aume ntar re sistê ncia do mato ao agrotóxico, o que levou os agricultores, naturalmente, a usarem maiores
quantidades do herbicida para compensarem sua perda de eficácia.

Dados anteriores de outros institutos mostram que o aume nto no uso do he rbicida e stá de ixando re síduos até
200 ve ze s maiore s nos alime ntos proce ssados que contê m soja, que representam mais de 60% dos produtos que
compramos em qualquer supermercado.

No caso das plantas Bt a história é um pouco diferente, mas o resultado não. Nos EUA, por exemplo, o milho Bt foi
desenvolvido para matar lagartas que só causam dano econômico uma vez a cada 4 anos (intervalo que chega, às
vezes, a até 8 anos). A partir da inte nsa propaganda fe ita pe las indústrias, o país adotou o milho Bt e m larga
e scala. Na prática isto significa pagar, todos os anos, por um controle que só seria necessário uma vez a cada 4 (ou 8)
anos. Além disso, outro estudo do governo americano indica que, no período entre 1995 e 1998, e mbora a áre a
se me ada com cultivos Bt te nha aume ntado e m 18%, a re dução no uso de inse ticidas foi só de 2%. Muitos
cientistas apontam que mesmo esta redução é totalmente irrelevante, considerando que em 1995 houve uma grande
infestação de lagartas que exigiriam um maciço uso de agrotóxicos, enquanto em 1998 a infestação foi 20 vezes menor.

Há também demonstrações de que o algodão Bt aume nta o ataque de pe rce ve jos. Relatórios de campo recentes[4]
indicam que os cultivos de algodão Bt em Carolina do Norte e Georgia (EUA) estão sendo infestados percevejos, que
estão devorando as lavouras. Além da toxina Bt não matar os insetos, eles aparentemente adoram as plantas mutantes.

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A recomendação da Monsanto, colocada no seu site Farmsource [5], é a de pulverizar as pragas com pesticidas
tóxicos, entre eles o methyl parathion, um dos químicos mais mortais usados na agricultura americana.

Dois renomados pesquisadores da atualidade, Miguel Altieri (Universidade da Califórnia, Berkeley) e Peter Rosset
(Food First), explicam de forma bastante clara a causa destes fenômenos. Segundo eles, as plantas transgênicas que
produzem seu próprio inseticida seguem a mesma lógica dos inseticidas químicos, que muito rapidamente deixam de ter
efeito devido à resistência que as pragas adquirem. No lugar do falido mode lo “para cada nova praga, um novo
inse ticida”, a e nge nharia ge né tica e nfatiza uma aproximação ao mode lo “para cada nova praga, um novo
ge ne ”. E, segundo estes autores, já foi exaustivamente provado em laboratório que as espécies praga se adaptam e
adquirem resistência ao inseticida presente na planta muito rapidamente. Ne ste se ntido, as novas varie dade s irão,
ine vitave lme nte , fracassar no curto ou mé dio prazo. Especialmente porque, de uma maneira geral, quanto maior a
pressão de seleção através do tempo e do espaço, mais rápida e mais profunda é a resposta evolucionária da praga. Ou
seja, quando o produto é e nge nhe irado de ntro da própria planta, a e xposição da praga à toxina salta de
mínima e ocasional para massiva e contínua, ace le rando o de se nvolvime nto da re sistê ncia dramaticame nte .
De ssa forma, o próprio Bt se tornará se m se rve ntia muito rapidame nte (Altie ri e Rosse t, 1999).

Há ainda uma outra conseqüência dos transgênicos que vem levando, em alguns casos, ao maior uso de agrotóxicos –
os cultivos transgê nicos, e spe cialme nte aque le s de polinização abe rta ou cruzada, contaminam os cultivos
vizinhos. Há um exemplo bastante forte deste fenômeno verificado no Canadá em 2001: três tipos de canola
transgênica, cada uma modificada para resistir a um tipo de herbicida, cruzaram entre si produzindo novas variedades
resistentes a vários herbicidas. Ao invés de ajudar os agricultores a evitar as plantas invasoras, a própria canola
transgê nica se transformou na planta invasora. Essa nova superpraga, que não pode se r e liminada pe la
maioria dos he rbicidas, e stá se e spalhando por campos de trigo e por áre as onde não são de se jadas pe los
agricultore s.

Segundo o relatório divulgado recentemente pela Royal Society of Canada’s Biotech Experts (Sociedade Real dos
Especialistas Canadenses em Biotecnologia), a canola-superpraga é especialmente ruim nas pradarias, onde a canola
representa um cultivo multibilionário. A indústria de biote cnologia foi “ingê nua” ao acre ditar que ape nas bons
mé todos agrícolas se riam suficie nte s para mante r as supe rpragas sob controle , diz o relatório. E o grupo de
cientistas adverte ainda que a próxima geração de cultivos geneticamente modificados será mais complexa, e será mais
difícil eliminar as superpragas no futuro. (...) Este fe nôme no obrigará os agricultore s a re troce de r para
he rbicidas de amplo-e spe ctro, químicos altame nte tóxicos que matam simple sme nte tudo, como o 2,4-D.
Este s são produtos dos quais os agricultore s e stavam te ntando se afastar e m prime iro lugar (The Ottawa
Citizen, 06/02/01).

Em suma, o que temos visto em decorrência do uso de sementes transgênicas na agricultura é, ao invé s da
propagande ada re dução do uso de agrotóxicos, um re al aume nto no se u uso – com conseqüências óbvias
também para o meio ambiente.

Pre ços de se me nte s, taxas de te cnologia e pate nte s

É necessário considerarmos ainda um outro fator relacionado aos custos de produção, que não costuma ser citado pelas
empresas de biotecnologia ou por aqueles que defendem o uso das sementes transgênicas. As e mpre sas que
de se nvolve m os cultivos re siste nte s a he rbicidas e stão te ntando transfe rir o máximo possíve l dos custos
por he ctare com he rbicidas para as se me nte s, atravé s do se u pre ço (e m mé dia 20 a 30% mais caras do que
as se me nte s conve ncionais) e /ou das taxas de te cnologia. Em Illinois (EUA), a adoção dos cultivos resistentes a
herbicidas criou o mais caro sistema “semente + controle de mato” para soja da história moderna: entre US$ 98,80 e
US$ 148,00 por hectare. Três anos antes este custo era de US$ 64,22 por hectare e representava 23% dos custos
variáveis. Hoje eles representam 35 a 40% destes custos (Benbrook, 1999).

Num estudo publicado em novembro de 2001, Charles Benbrook avalia os custos de produção do milho Bt nos Estados
Unidos durante os últimos cinco anos. Os resultados obtidos mostram que os agricultore s ame ricanos pagaram pe lo
me nos US$ 659 milhõe s a mais para plantar milho Bt do que te riam pagado usando se me nte s
conve ncionais, e nquanto o aume nto de sua colhe ita foi de ape nas 6,95 milhõe s de tone ladas – e quivale nte s
a aproximadame nte US$ 567 milhõe s e m ganho e conômico. O resultado para os agricultores foi um prejuízo
líquido de US$ 92 milhões – cerca de US$ 3,24 por hectare.

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E é preciso considerar ainda que as sementes transgênicas são patenteadas. Quando o agricultor as compra, ele assina
um contrato que o proíbe de re utilizá-las e m safras se guinte s (prática de guardar sementes, tradicional da
agricultura) assim como de comercializá-las, trocá-las ou passá-las adiante. Dessa forma ele é obrigado a comprar
sementes todos os anos.

Há, também como conseqüência do sistema de patentes, ce nte nas de agricultore s nos EUA e no Canadá que
foram proce ssados pe la e mpre sa Monsanto, que ale ga te r e ncontrado se me nte s transgê nicas e m suas
proprie dade s, que não te riam sido compradas da e mpre sa. Há o caso famoso de um agricultor[6] que teve sua
lavoura de canola contaminada por pólen de plantações transgênicas vizinhas, foi processado pela Monsanto, perdeu o
processo e está sendo obrigado a pagar US$ 10 mil por taxas de licença e mais de US$ 75 mil por lucros sobre sua
lavoura de 1998.

Saldo final para a re nda do agricultor

Com base nos dados citados acima, chegamos à conclusão de que, ao contrário do que divulgam as indústrias de
biotecnologia, muitos dos custos de produção aumentarão nos cultivos transgênicos. Como já demonstramos, não há
re dução no uso de agroquímicos – ou seja, não haverá redução nos custos de produção.

Como também já foi demonstrado, normalmente, os cultivos transgênicos te m uma produtividade e quivale nte às
dos cultivos conve ncionais ou me nor. No único caso relatado em que a semente transgênica proporciona algum
aumento de produtividade, este aumento é anulado pelo preço da semente somado às taxas de tecnologia – ou seja, os
transgênicos não contribuirão para o aumento da renda do agricultor.

Considerando ainda que as sementes transgênicas são patenteadas – que o agricultor, além de ter que pagar taxas de
tecnologia e preços mais elevados, fica proibido de reproduzir sementes e obrigado a comprá-las todos os anos –
percebemos que ele é colocado numa condição de de pe ndê ncia com re lação aos se us insumos básicos, o que
fragiliza ainda mais sua situação econômica.

Ou seja, os cultivos transgênicos não só não reduzirão os custos de produção na agricultura, como também contribuirão
para a diminuição da re nda do agricultor.

Para agravar este quadro, há as questões de mercado, que você verá a seguir.

Me rcado inte rnacional

A este respeito, o primeiro mito que devemos esclarecer é o de que “os transgênicos já estão espalhados por todo o
mundo e o Brasil é um dos únicos países que ainda não os adotaram”. Em verdade, três países, EUA, Arge ntina e
Canadá, conce ntram 96% da áre a cultivada com transgê nicos no mundo[7]. A China [8] responde por 3% do total
e o resto é dividido por outros 9 países. O cultivo de transgênicos não está crescendo pelo planeta, mas aumentando nos
mesmos lugares.

A área plantada com transgênicos no mundo é também mínima se comparada com a área agrícola total:
- Área total plantada com transgênicos no mundo: 52,6 milhõe s de he ctare s.
- Área total livre de transgênicos: 10 trilhõe s de he ctare s.

Os defensores dos transgênicos costumam afirmar que “o Brasil perderá espaço no mercado internacional se não
acompanhar a evolução tecnológica (não adotando os cultivos transgênicos)”, associando a suposta redução nos custos
de produção desses cultivos ao ganho de competitividade no mercado internacional.

Tendo-se partido de uma pre missa falsa - como já discutimos anteriormente, os transgênicos não proporcionam
redução nos custos de produção das lavouras -, a conclusão apresentada não passa de um grande equívoco: nosso País
não ganhará competitividade no mercado internacional ao adotar os transgênicos. Pelo contrário, temos que a
re sistê ncia que os consumidore s e urope us e asiáticos – os maiore s importadore s mundiais de grãos – vê m
apre se ntando e m re lação aos alime ntos transgê nicos é e norme e cre sce nte .

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Quase todos os países da Europa têm rejeitado os produtos transgênicos. Devido à pressão de grupos ambientalistas e
da população, os governos europeus proibiram sua produção, regulamentaram seu consumo e restringiram suas
importações (a última pesquisa do Eurobarômetro apresentada em Bruxelas em dezembro de 2001 constata que
70,9% dos cidadãos e urope us são totalme nte contra o uso de transgê nicos e m produtos alime ntícios).

Os paíse s e urope us já possue m normas de rotulage m para dife re nciar os produtos transgê nicos dos não
transgê nicos. Lá, todos os alimentos que apresentam mais de 1% de contaminação têm que apresentar essa
informação no rótulo (limite máximo que os testes permitiam detectar à época da criação da norma – neste momento
discute-se a diminuição do percentual, uma vez que já se pode detectar níveis muito inferiores de contaminação).

Atualme nte , poré m, e scapam da rotulage m as raçõe s animais (e portanto os animais alimentados com ração de
origem transgênica) e os alime ntos altame nte proce ssados, como óleos refinados e margarinas, cuja detecção de
modificação genética é muito difícil com os métodos existentes atualmente.

No segundo semestre de 2001, a União Européia definiu novas normas de rotulagem mais restritivas para alimentos
transgênicos, baseadas na rastre abilidade dos produtos desde a lavoura até o mercado e no certificado de origem. A
nova regra, que deve entrar em vigor em 2003, permitirá a rotulagem de rações animais e de alimentos altamente
processados.

Vem sendo amplamente divulgado na grande imprensa de todo o mundo, inclusive do Brasil, que muitas redes de
supermercados, restaurantes e lanchonetes, como Carre four, a Te sco e a Asda, já se comprome te ram a não
come rcializar alime ntos transgê nicos ou carne de animais alime ntados com transgê nicos.

Na Europa, há também grupos de fiscalização que monitoram os portos marítimos em vários países e bloqueiam a
entrada de cargas transgênicas. É um fato comum, os navios voltarem a seu país de origem, causando grande prejuízo
para os exportadores.

O Japão, que é o maior importador mundial de grãos, também está rejeitando os transgênicos. Há uma série de
restrições à sua importação e também já existem normas de rotulagem.

A China, outro mega-comprador, veio, desde o segundo semestre de 2001, tornando mais rigorosas as normas de
importação de transgênicos, o que resultou em restrições às compras externas, sobretudo dos Estados Unidos, e à
abertura de um enorme mercado à produção não transgênica brasileira.

O governo chinês divulgou, no início de 2002, o detalhamento das novas regras para a importação de grãos[9].
Conforme a lei, os exportadores terão de apresentar docume ntos de agências de inspeção credenciadas pelo governo
do país de origem, certificando a segurança dos produtos comercializados. No caso da soja transgê nica, o produto
te rá de se r rotulado como tal e o exportador terá de certificar que o item é liberado no país de origem e que não
causa danos ao homem, animais, plantas e meio ambiente. Também pela nova lei, se um carregamento de soja vendido
como convencional tiver um percentual, mínimo que seja, de grãos modificados, será devolvido ao país de origem.

Já é consenso no meio econômico que o Brasil será favorecido pelas novas regras chinesas, uma vez que o cultivo de
transgênicos é proibido no País. Em matéria publicada no Jornal Valor Econômico em 29/01/02, o analista econômico
Renato Sayeg, da Tetras Corretora, avalia que o produto brasileiro deve ser beneficiado, mas que ainda não é possível
saber a dimensão do favorecimento. O certo, na visão de Sayeg, é que o fato de ter soja não-transgênica já vem
fazendo o Brasil ganhar espaço na China. Entre janeiro e outubro de 2001, as importações chinesas de soja cresceram
31%, para 13,220 milhões de toneladas sobre igual período no ano anterior. Na mesma época, as vendas brasileiras para
o país cresceram 78%, para 3,174 milhões de toneladas.

A posição da Europa, do Japão e da China fre nte aos transgê nicos re pre se nta um grande proble ma para os
produtore s ame ricanos, arge ntinos e canade nse s que ade riram às se me nte s transgê nicas. Estes países vêm
tendo dificuldades cada vez maiores para exportar seus produtos[10]. E o Brasil vem encontrando vantagens também
cada vez maiores (e mais evidentes) ao ser o único grande produtor e exportador de produtos não transgênicos para
estes enormes mercados.

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Há ainda uma que stão ge opolítica importantíssima: os EUA, o Brasil e a Argentina concentram 80% da produção
mundial de soja. Os EUA e a Argentina produzem transgênicos em larga escala, na sua maioria exportada para a
Europa e para o Japão. Como acabamos de dizer, estes mercados consumidores têm visto no Brasil a única opção para
a compra de grãos não transgênicos.

Ne ste conte xto, o Brasil te m hoje um pape l e straté gico mundial importantíssimo: se aderir à produção de
transgênicos, aqueles mercados importadores de grãos não terão outra alternativa senão consumir transgênicos. Não
haverá fornecedores de grãos convencionais de grande escala. Ou seja, se o Brasil produzir transgênicos, o mundo
inteiro será obrigado a capitular e a engolir transgênicos.

Enquanto isso não acontece (e esperamos que não aconteça) o Brasil já vem desfrutando de grandes vantagens de sua
condição. A soja brasile ira ce rtificada como não transgê nica e stá re ce be ndo dos compradore s e urope us
prê mio de até 8 dólare s por tone lada, alé m do pre ço.

O milho ce rtificado como não transgê nico te m re ce bido prê mio de 5% a 10% sobre o pre ço, tendendo a 10%
em partidas menores para o mercado europeu e tendendo a 5% em partidas maiores para os mercados europeus e
asiáticos (dados da Bolsa de Cereais de SP).

A imprensa tem noticiado as exportações recorde de soja e milho em 2001 pelo fato do Brasil oferecer grãos livres de
transgênicos – passamos de importadores de milho, nos últimos 5 anos, para terceiro maior exportador mundial de
milho.

Só podemos concluir, portanto, que o Brasil terá vantagens comerciais cada vez maiores no mercado internacional se
permanecer livre de transgênicos.

Transgê nicos “não matarão a fome ” nos paíse s e m de se nvolvime nto

Esta questão envolve dois aspectos distintos, um de caráter técnico e outro de caráter político.

Primeiro, os cultivos transgê nicos não são mais produtivos do que os cultivos conve ncionais, portanto não
poderão atender a uma supostamente crescente demanda por alimentos.

O segundo está relacionado com o acesso que as populações carentes terão aos alimentos produzidos.

Como já foi dito, planta-se comercialmente no mundo quatro cultivos transgênicos: soja, milho, algodão e canola. São
cultivos de exportação dos quais mais de 80% destinados, basicamente, à alime ntação animal nos paíse s do Norte .

A produção de sementes transgênicas está concentrada nas mãos de algumas poucas empresas multinacionais, o que
caracteriza uma situação de oligopólio mundial. Sob o poder de um oligopólio no setor da alimentação, a tendência é
que o ace sso aos alime ntos se ja cada ve z mais re strito. As sementes e, conseqüentemente, os alimentos, ficam
sujeitos aos preços ditados pelas empresas, que objetivam apenas o lucro.

Além disso, como já foi discutido, as sementes transgênicas são patenteadas, o que coloca o agricultor, sobretudo o
pequeno, numa situação de dependência ainda mais forte do que o já cruel sistema convencional trazido pela Revolução
Verde [11].

Nota-se, portanto, que o inte re sse das e mpre sas de biote cnologia e stá be m distante daque le de alime ntar
populaçõe s care nte s. Seus objetivos são meramente comerciais. Difundindo sementes caras, patenteadas,
dependentes de sistemas de produção intensivos e muito demandantes em insumos externos, as e mpre sas de
biote cnologia e starão, se m dúvida, dificultando a sobe rania alime ntar dos paíse s e m vias de
de se nvolvime nto.

Um outro fator que se soma a estes é o mode lo de agricultura no qual os transgê nicos se inse re m (uma
“evolução” do modelo da Revolução Verde). Caracterizado por e xte nsos monocultivos altame nte te cnificados, ele
tem levado, em todo o mundo, à conce ntração de te rras e à e xpulsão dos pe que nos agricultore s do campo. A
e xclusão social que ve m e m sua conse qüê ncia só faz aume ntar a fome nos paíse s pobre s.

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Inúmeras experiências no Brasil e no mundo têm mostrado que o mode lo da agricultura familiar base ado e m
princípios agroe cológicos de baixo uso de insumos e xte rnos à proprie dade são os mais e ficie nte s e m fixar
os agricultore s no campo e garantir sua sobe rania alime ntar. Mas, obviamente, eles não interessam às grandes
empresas de biotecnologia e agrotóxicos.

Miguel Altieri e Peter Rosset também resumem de forma bastante esclarecedora este cenário. Segundo eles, os
agricultore s pobre s e care nte s de re cursos se que r tive ram ace sso às té cnicas da Re volução Ve rde e a
biote cnologia aume ntará ainda mais sua marginalização, pois está sob o controle das corporações e protegida por
patentes. Suas tecnologias são caras e inapropriadas às necessidades e à realidade dos pequenos agricultores. Além
disso, ela tem orientação capitalista e especulativa é essa a re alidade que de te rmina as prioridade s sobre o que é
pe squisado, como é aplicado o re sultado e que m é be ne ficiado. Ou seja, ainda que exista fome no mundo e se
sofra devido à poluição por pesticidas, o obje tivo das corporaçõe s multinacionais é obte r lucros e não praticar
filantropia. É por isto que os biote cnologistas criam as culturas transgê nicas para uma nova qualidade de
me rcado, e não para produzir alimentos (Altieri, s.d.).

Estes pesquisadores também demonstram que não há relação entre a ocorrência freqüente de fome em dado país e sua
população: “Para cada nação densamente povoada e faminta, como Bangladesh ou Haiti, há uma outra escassamente
povoada e também faminta, como o Brasil ou a Indonésia. O mundo produz hoje mais alime nto por habitante que
nunca ante s. Existe suficiente para prover 2 kg diários para cada pessoa: 1,1 kg de grãos, aproximadamente 450 g de
carne, leite e ovos e mais 450 g de frutas e vegetais. As ve rdade iras causas da fome são pobre za, de sigualdade e
falta de ace sso à te rra ou, e m ge ral, os re cursos produtivos. Demasiadas pessoas são muito pobres para comprar
o alimento disponível (porém freqüentemente mal distribuído) ou carecem de terra e recursos para que eles próprios os
cultivem (Lappé, Collins and Rosset,1998)” (Altieri e Rosset, 1999, p. 1-2).

Ou seja, sob nenhum aspecto os cultivos transgênicos ajudarão a reduzir a fome nos países em desenvolvimento. Pelo
contrário, contribuirão para o seu agravamento.

Transgê nicos e agricultura familiar

A cre nça de que os transgênicos proporcionarão ganhos de produtividade e redução dos custos de produção, além de
diminuírem a dependência dos agricultores por produtos químicos, le va à idé ia de que e le s se riam “uma
ne ce ssidade , e não luxo, para os paíse s pobre s”.

Mas, além das questões técnicas já tratadas acima – produtividade, redução dos custos de produção e dependência por
produtos químicos – é preciso consideramos uma outra que stão fundame ntal: como se daria a apropriação da
tecnologia dos transgênicos pelos agricultores familiares?

A te cnologia usada para de se nvolve r se me nte s transgê nicas é caríssima. As empresas gastam, em média, US$
300 milhõe s para de se nvolve r uma varie dade transgê nica. Esse custo é repassado aos agricultores de duas
formas. A primeira no pre ço da se me nte , e m mé dia 20 a 30% mais cara do que a convencional (estão embutidos
aí os royalties referentes aos direito de propriedade intelectual, ou “direito de patente”, da empresa que desenvolveu a
semente). A segunda é a de pe ndê ncia que ocorre atravé s da pate nte , que impede ao agricultor de produzir
sementes em sua propriedade a partir de sementes transgênicas e a única opção que tem é comprá-las novamente na
safra seguinte (o que já foi discutido neste artigo).

Estes dois motivos – o preço mais elevado da semente e a proibição de guardá-la para plantios futuros – representam
grande s limitaçõe s para os agricultore s familiare s, cuja economia está fortemente baseada na produção e no
aproveitamento de insumos da própria unidade agrícola.

Assim, podemos concluir que, ainda que os transgênicos pudessem oferecer benefícios agronômicos, e le s se riam
inúte is para os agricultore s pobre s dos paíse s e m de se nvolvime nto, que de qualquer forma não terão acesso às
novas tecnologias excludentes.

A impossibilidade de conciliarmos todos os tipos de agricultura – transgê nica, conve ncional e agroe cológica

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27/09/2018 Candeia

O governo brasileiro afirma que devemos praticar todos os tipos de agricultura – transgênica, convencional e orgânica –
cada uma para o seu nicho no mercado. Este cenário, na prática, não é possível.

Em primeiro lugar, os cultivos transgênicos – especialmente aqueles de polinização cruzada, como o milho –
contaminam os cultivos vizinhos. O póle n do milho pode pe rcorre r quilôme tros de distância e fecundar plantas
(de milho) localizadas em outros sítios, e não há nenhuma forma de controle sobre isto. Dois exemplos ilustram bem
este fato.

Em 1998, a EPA (Agência de Proteção Ambiental, na sigla em inglês) aprovou nos EUA a come rcialização do
milho transgê nico StarLink, da empresa franco-alemã Aventis, somente para consumo animal, em função do risco
dele causar reações alérgicas em seres humanos. Em se te mbro de 2001, traços de sse milho foram e ncontrados
e m ce nte nas de produtos alime ntícios industrializados, como tacos e flocos de milho, vendidos livremente nos
Estados Unidos. Dezenas de americanos que se queixaram ao FDA (Agência do governo americano que regulamenta
Alimentos e Medicamentos) sobre re açõe s alé rgicas re lacionadas ao consumo do milho transgê nico – mais
especificamente à proteína Cry9C que ele contém. Posteriormente a Agência divulgou resultados de exames alegando
que as alergias relatadas não teriam sido provocadas pelo StarLink . Muitas organizações americanas acusaram o
relatório de falho e inconclusivo. A descoberta da contaminação resultou em enormes recalls nos EUA e em quedas
gigantescas nas exportações americanas de milho. No outono (americano) de 2001 muitos produtores de salgadinhos de
milho e tortilhas passaram a usar milho branco em seus produtos, que representa menos de 3% do milho no mercado
americano, para tranqüilizar os consumidores preocupados com a possível presença do StarLink nos alimentos (o milho
StarLink é amarelo). Na época, esses produtores disseram que o uso do milho branco eliminava o risco de
contaminação acidental com StarLink . Em julho de 2001, o jornal americano The Washington Post relatou que o FDA
e ncontrou traços do StarLink nos salgadinhos de milho branco depois de ter sido notificado por Keith Finger (da
Florida), um dos consumidores avaliados anteriormente por ter sofrido reações alérgicas após consumir alimentos
contaminados com StarLink . Finger disse que sua esposa comprou para ele salgadinhos de milho branco depois de
saber que eles não conteriam StarLink . Ele comeu alguns, sofreu outra reação mais branda e imediatamente informou
o FDA. O jornal americano citou um oficial do FDA dizendo apenas que a agência “continua a acompanhar a
situação”. (Reuters, 04/07/01). O milho branco é cultivado e distribuído separadamente do milho amarelo e a indústria
observa que não há variedades de milho branco transgênico no mercado. As maiores suspeitas são de que a
contaminação tenha ocorrido através da polinização cruzada nos campos.

O segundo exemplo é de uma descoberta recente de contaminação na França. A Agência Francesa de Segurança
Sanitária dos Alimentos (AFSSA) anunciou, em julho de 2001, a de scobe rta de traços de organismos
ge ne ticame nte modificados e m dive rsas culturas conve ncionais no país. Atualmente organismos transgênicos
só podem ser produzidos na França em nível experimental e sua comercialização é proibida.

A AFSSA informou ter encontrado a pre se nça do marcador 35S – um tre cho de mate rial ge né tico usado na
maioria dos OGMs – e m 19 das 112 amostras de canola, soja e milho analisadas. No caso do milho, o nível de
contaminação foi de 41%. A agência francesa lembra que os métodos de detecção apenas acusam valores superiores a
0,1% e, portanto, não exclui a presença de outros transgênicos em níveis mais baixos. Esses e outros estudos feitos na
região colaboram com a idéia de que a contaminação ge né tica não é mais controláve l. A possível fonte de
contaminação é o espaço dos campos experimentais: “o delineamento dos campos experimentais não é concebido para
prover um isolamento reprodutivo rigoroso” salienta um representante da AFSSA. A comissão de engenharia
biomolecular alerta que “a presença de transgênicos nas sementes ou nas safras convencionais é uma realidade
tecnicamente incontornável” (Reuters, 26/07/01 e Le Monde, 25/07/01).

De fato, controlar a contaminação dos cultivos convencionais pelos transgênicos, na prática, não é possível. Assim,
pode-se notar que se rá muito difícil garantirmos uma produção limpa, livre de transgê nicos, uma ve z e stando
o se u cultivo libe rado no país.

Somam-se ao problema da contaminação via polinização, as dificuldades e os custos da se gre gação dos cultivos
transgê nicos. Além dela não ser eficiente, os custos adicionais envolvem a separação desde o plantio, incluindo
limpeza de máquinas e implementos agrícolas, até o transporte e o armazenamento podem neutralizar qualquer
vantagem de mercado ao se oferecer grãos convencionais.

O segundo aspecto que torna inviável a teoria da “harmonia” entre estas “diferentes agriculturas” no País está
relacionado com o monopólio das indústrias de se me nte s.
http://www.unicamp.br/fea/ortega/agenda21/candeia.htm 8/11
27/09/2018 Candeia

No Brasil, em poucos anos, as trê s maiore s e mpre sas e strange iras compraram quase todas as grandes produtoras
de sementes de milho. Hoje, 95% do mercado de sementes de milho estão nas mãos de multinacionais. As empresas
Monsanto, DuPont e Novartis compraram quase todas as outras empresas, e ntre e las a Agroce re s, a Cargill e
a Braskalb/De kalb. A Unimilho foi a única brasileira que restou.

A Embrapa controla a maior parte do me rcado de se me nte s de soja (65%), mas tem um contrato com a
Monsanto para desenvolver sua soja resistente ao herbicida Roundup (a soja RR). Como a Monsanto já domina 18%
do mercado, juntas elas vendem 83% das sementes de soja no Brasil.

Hoje essas empresas só comercializam sementes convencionais no Brasil, pois as transgênicas estão proibidas. No
entanto, se as sementes transgênicas forem liberadas no País, é quase certo que as se me nte s conve ncionais
de sapare ce rão do me rcado, da me sma forma que aconte ce u nos EUA e na Arge ntina. Fica claro, portanto,
que se o cultivo comercial de transgênicos for liberado no Brasil, as produções convencionais e orgânicas ficarão
comprometidas.

“Conclusõe s”

Há duas conclusões importantes obtidas a partir da análise dos dados discutidos acima.

A primeira é a de que os transgênicos são desnecessários à agricultura. Existem disponíveis técnicas de produção muito
mais baratas, ecológicas e apropriadas capazes de atender às reais demandas da agricultura, que não trazem nenhum
impacto negativo, a não ser para os monopólios multinacionais que sobrevivem às custas da dependência dos
agricultores.

A segunda é a de que, além de não trazerem reais benefícios aos brasileiros, os transgênicos trarão ve rdade iros
pre juízos para a e conomia nacional, para o me io ambie nte e para os próprios agricultore s, cuja situação de
crise será agravada e acelerada.

Isso tudo sem falar nos riscos que os alimentos transgênicos colocam para a saúde da população. Não há até hoje, no
mundo inteiro, estudos independentes que comprovem a segurança destes novos alimentos para a saúde humana e
animal. Devemos, portanto, em defesa do nosso País e de nossa população, lutar por um Brasil livre de transgênicos.

Re fe rê ncias Bibliográficas

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[1] Engenheira agrônoma da ONG AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa e membro da Campanha
“Por um Brasil livre de transgênicos”.
[2] As empresas de biotecnologia são grandes transnacionais que produzem agrotóxicos desde o final da II Guerra Mundial e que,
na última década, adquiriram a maior parte das empresas produtoras de fármacos e de sementes e se transformaram nas chamadas
“Indústrias das Ciências da Vida”. As três maiores são a DuPont (Pioneer), dos EUA, a Pharmacia (Monsanto), também dos EUA, e
a Syngenta (Novartis + parte da AstraZeneca), da Suíça.
[3] O Bt é uma bactéria que ocorre naturalmente nos solos. Foi isolada em 1913 e comprovada sua capacidade de matar certos
insetos em seus estádios larvais. O extrato de Bt é usado pelos agricultores orgânicos como inseticida natural. Porém, se usado
como planta transgênica, o desenvolvimento de resistência nas pragas será muito rápido, uma vez que toda a população de insetos
da área entra em contato com a toxina (que está em todas as células das plantas). Isto inviabilizará também o uso do extrato natural
de Bt nos cultivos orgânicos.

[4] Disponíveis no site http://www.btinternet.com/~nlpwessex/Documents/btcottonnoprofit.htm


[5] http://www.farmsource.com/News_Trends/newsarticles.asp?ID=16099
[6] Trata-se do agricultor canadense Percy Shmeiser. Para maiores informações sobre o seu caso, visite o site
http://www.percyschmeiser.com. Para informações sobre este caso e outros semelhantes, visite o site http://www.cropchoice.com.
[7] Os Estados Unidos detêm 68% da área com transgênicos no mundo; a Argentina detém 22%; o Canadá, 6%; a China, 3% e
outros 9 países, 1%. Fonte: Global Status of Commercialized Transgenic Crops: 2001 - International Service for the Acquisition of
Agri-Biotech Application (ISAAA). Para maiores informações, consulte o site http://www.isaaa.org

[8] A China não planta nenhum alimento transgênico. Planta, em pequena quantidade, algodão Bt.
[9] Devido a enormes pressões do governo americano, o governo chinês adiou a entrada em vigor das novas regras para dezembro
de 2002.
[10] “Em 1996, os EUA venderam US$ 3 bilhões de soja à Europa. Em 1999 estas exportações caíram para US$ 1 bilhão – uma perda
de US$ 2 bilhões. As empresas de sementes, como a Monsanto e a DuPont, receberam seu dinheiro dos agricultores, portanto quem
levou o prejuízo foram os agricultores e não as empresas” (The New York Times, 17/03/00, p. C1).
“A Associação Americana de Produtores de Milho reconhece que as vendas de milho dos EUA para a Europa despencaram de
quase 70 milhões de bushels em 1997 para menos de 3 milhões em 1998 porque a safra americana continha uma pequena quantidade
de milho transgênico” (Wisconsin State Journal, 22/04/99).
“Não houve praticamente nenhuma exportação de milho dos EUA para os países da União Européia porque o milho transgênico não
pode ser separado do milho convencional, causando aos agricultores americanos um prejuízo de cerca de US$ 200 milhões por ano”
(Reuters News Service, 14/07/99).

http://www.unicamp.br/fea/ortega/agenda21/candeia.htm 10/11
27/09/2018 Candeia
“No verão de 1999 relatou-se que as exportações de milho para a UE haviam caído 96% em um ano. Para o horror da Monsanto,
agricultores estão começando a escolher sementes tradicionais ao invés de arriscar as novas” (The Guardian, London, 09/10/99).
[11] O termo Revolução Verde surgiu na década de 70. Pesquisadores do Primeiro Mundo prometiam, através de um conjunto de
técnicas, aumentar estrondosamente as produtividades agrícolas e resolver o problema da fome nos países em desenvolvimento. O
modelo se baseia na intensiva utilização de sementes melhoradas, insumos industriais (fertilizantes e agrotóxicos), mecanização e
mão-de-obra barata. Os efeitos perversos da Revolução Verde foram o aumento das despesas com o cultivo e o endividamento dos
agricultores, o crescimento da dependência dos países, do mercado e da lucratividade das grandes empresas de insumos agrícolas,
o agravamento da uniformidade e da erosão genética das espécies agrícolas e a expulsão dos agricultores do campo.

http://www.unicamp.br/fea/ortega/agenda21/candeia.htm 11/11

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