7 - Obstáculos À Análise Da Televisão

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Peaxcors Jost 1. OsstTAcuLos A ANALISE DA ‘TELEVISAO 25 Os professores de ciéncias jimaginam frequentemente, con- forme alerta 0 filésofo Gaston Bachelard, que, para que se possa fazer um aluno compreender uma demonstragio de fisica, ésuficiente tepeti-la ponto por ponto, até o ‘momento em que, por milagre, esse 2 compreenda. Assim fazendo,’ cles esquecem que 0 adolescente, quando chega a uma aula em que the ensinam uma matéria nova, nio esti destituldo de opinifo, nto é ‘uma fabula rasa, mas um individuo que jé possui certas representagies concernentes aos fenémenos que vai estudar ¢ prejulgamentos bem ancorados, fundados em obser- ‘vagées cotidianas que nem sempre io simples de tefutar: assim, a imptessio de resisténcia que um corpo flutuando na superficie da (gua apresenta, quando se procura afundé-lo, torna mais dificil a compteensio do principio de Arqui- medes, que demonstra a ideia inversa, ou seja, de que é a agua quem resiste. © que se pode atsibuir & fisica torna-se ainda mais dc horas frente a tela e acumulou, 420 final desse tempo, opinides ou % Conensnxpnn A THIEKIBIO ceencas sobre o funcionamento dessa midia. F aqueles que pretendem nunca mais olhar a telinha no podem ficar de fora, pois é precisamente em nome de uma cesta concepgio da televisio que les justificam sua decisfo, A primazia da experiéncia televisual, enraizada na observacio, esti de tal forma ancorada nas pessoas “gue, as vezes, fica dificil imaginas que a televisio possa sex um campo promissor de estudos. ‘© que se porte dizer sobre & televisiio que jé nfo se saibal ~ 0 que se tem vontade de salientat aos pesquisadores que pretendlem dela fazer um objeto cientifico. A isso, os defensores da educagio para as midias xefstam que é necessfrio aprender com as eriangas a decodificas a televisio ou a ad Jinguagem da imagem, como se faz com a propria lingua. Esse posigio tem o mérito de postular que a imprcgnacio Yio é suficiente para compreender a mfdia e que én modelos de inteligibilidade. Porém, proceder para atingir esse fim. Como seus programas so feitos de imagens, de sons de palaveas, actedita-se, 3s vezes, que é suficente estadar sucessivamente ‘cada um desses materiais ou desses canais (Viallon, 1996) para analisé-los, Se esse método demonstrou eficiéncia durante um tempo ‘em contrapartida, & sencial aio é tanto ‘a produgio de obras, mas a articulaca da efemeridade de _um fluxo na regulatidade do tempo social. Assim, convém intertogat ‘se sobre em que medida a importagio pura e simples do instrumental desenvolvido pelas teorias do cinema nio se constitui atvalmente em um obsticulo para o estudo da televisio. ‘Aefemeridade da midia televisio. um obsticulo 4 constituigio de uma memé1 ‘nas emissoras de televisio, jodiam ser registradas e cor ¢ um suporte cinematografic para o cinema, nfo parece nada adi ‘compreensio de uma midia cuja caract ante muito tempo, [Até a aparicio do 10 dos anos 60, as Paaycors Jost a jum tratamento dessa ordem; jé as emissdes de paleo (os debates, as, apresentagdes de telejornais etc.) desapareciam nas lixeiras da hist’ Essas dificuldades explicam em parte por que as anilises _de televisio sio ainda hoje centradas muito mais no conjunto de "progenmnas que na progemacio, Fellaments, esse ditimo obsticula, inerente & propria midia, esti sendo levado em conta pelas novas condigées de pesquisa, que motivam este liv. 1.1 JULGAMENTO DE VALOR: TELEVISAO COMO OBJETO MAUS © Uma midia suja No século XVIII, os romances eram desaconselhados as mogas e, no século XIX, aquelas que se deleitavam com sua leitura exam consideradas como perdidas (Madame Bovary ilustea perfeitamente a sorte pouco desejével reservada as leituras que confundiam os romances de aventura com a vida). No inicio do século XX, foi a vex de o cinema se tornar um objeto mau. Por muito tempo considerado um divertimento de parias (Duhame), ele 6 foi alcado a categoria de 80, Em se tratando da tel discursos nostalgic esquece quase sempre 6 se retém dessa idade do ouro a revista de informacio Ging colonnes 4 la tne, Les perss, de Jean Prat, ou Dom Juan, de Marcel Bluwal, € apressa-se a esquecer que a mesma década via nascer Interiles ¢ seus combates de mendigos. Ainda hoje, os que sio Conina 4 tesé(étalo de um livro do cronista do jornal Libération) centram direor de programas de televislo, escxeveu no niimero de 13 de abel a Conrremwnen a Tasvisho 0 de a te ser uma nvidia vendida (Marcelle, 1998, idem que cla possa ser um objeto de estado specialistas da imagem, paree que bi 08 teércos da curiasidads, freqnentemente decepa p equivocadamente que um teérico passa, ou, antes, perde tempo estudando essa midia, é porque cle esti contaminado pela imundicie que considetam ser mais dignificante estudar filmes do que emissbes de televisio, ou pela fala da mie de familia, que diz ao filho, hipnotizado frente & pequena tela: vot faria melhor lendo! ¢ Indistria cultural: fonte de embrutecimento de nobreza na defesa dessa posicio a partir de fandador, A dialtica da nto, Qual é a sua argumentagio? A indistria cultural busca cembratecer 0 piiblico, que se torna, em suas miios, um bringuedo passivo. O divertimento € 0 instrumento dessa dependéncia vinda de cima ({1947] 1974, p. 131). Se Adorno ¢ Horkheimer acusam a industria cultural (os midia) de alienat as massas com seus produtos .dos, é porque o proprio meio é desptezivel, assim como as produgdes audiovisuais que fiz. nascer. A imagem sonora, como teria dito André Bazin, é suspeita de nfo servir para nada além do centretenimento, atividade desvalorizada a prion oposta a cultora e arte, como se tratassem de elementos inconciliiveis. As saizes dessa ‘acompanha a massificagio de todas as midi a leitura, depois o cinema e, pot siltimo, a televi desvalotizagio da televisio encontra entio sua fonte iio entre midia (midia) e medinm (meio). Condens-se es = comme 8 Pranoors Jost | a televiaio (midia), porque sivamente as imagens (meio) -lugas, a leitura). B, mais proveitoso ler um ror moda qué assistir a um documentério sobre a vida dos animais ou sobre algum. fenémeno das sociedades contemporiineas? A questo é frequen- ‘temente aludida em proveito de um amélgama entre os contetidos € a midia, como testemunhe o relat6rio Kriegel sobre a violéncia na televisio (2002), que toma como ponto de partida a condenacio dos programas demasiado violentos ou pornogrificos e, para concluir, sobre « noctidade de tantas longas horas pascadas em frente @ ‘elevisid, cnja. consequéncia seria 2 sonoléncia na escola. ‘ Influéneia televisual: uma midia manipuladora No fim de 1989, 08 telespectadores do mundo inteiro vivenciaram, quase a0 vivo, 2 queda do regime comunista de Ceaucescu, Em 22 de dezembro, eles descobriram as imagens de tuma dezena de mortos perfilados lado a lado no chlo, Os jornalistas falaram do massacre de Timisoara ¢ de seus 12.000 mortos (enter- ados em vala comum), exibindo essa sequéncia como uma prova da crueldade do ditador. Alguns dias mais tatde, observando as opiniées ‘de médicos egistas sobre as cicatrizes que tinham todos os cadveres, foi descoberto que se tratava unicamente de mortos autopsiados, sem nenhuma relagio com os acontecimentos vividos na Esse acontecimento do falso massacre de Timisoara lesencadeou um movimento de desconfianga em relagio A televisio, ‘que se estendeu para além da esfera intelectual. Uma pesquisa regular sobre a confianga dos franceses nas midias (Le point/La eraix, em ma amostra de 1,000 pessoas) revela uma brusca queda de lade da mfdia: enquanto, em 1989, 65% das pessoas centrevistadas pensavam que as enizas se haviany pascado rerdadeiramente il tion, Pass, aco de. senhora Blandine Kriegel ao senor Jean- lagon, ministro da Cultura e da Comunicagio, 2002, p. 22. Nota-se que, ‘ner era aeusada por este mesmo génera de efit 30 Conpmemxne 4 TaLsBNO on mais on menos como a tleviso as bavia mostrado; ern 1990, elas no 1c 52% (¢ 45%, em 2005). A questo colocada é crticdvel, pois parte do pressuposto de que a televisio poderia ser uma simples jancla para o mundo, mas no sestam senio temunhando uma tomada de consciéncia sobre a impossivel objetividade da midia, Alguns pensadores, entre os quais, se encontra Pierre Bourdieu, vio transmitir e amplificar essa tomada sobre os campos de producio cultural, que ele chama simplesmente de a influéncia da televisio, & responsivel, para 0 socidlogo, por inmeras ameagas democracn circulate da informacio, fr ete. es prolongam as condenagSes da indvstria sstemunham implicitamente uma hierarquizagio tando de fato ele critica apenas o funcionamento da 6 sintoma de uma redu¢io muito comum da mfdia “televisfo a uma parte desses programas (os telejornais representam “cerca de 10% do conjunto). Da mesma maneira, a emissio Arrét sur images (na France 5) que, durante mais de dez anos, pretendia analisar 2 televisfo, toma majoritariamente como base de suas pesquisas as ybre o valor que $e trait) e as emissdes que _generos pict6ricos studos sobre atlevsio apatecem como mais -gundo sea contesido tematico: se todo mundo le de analisar como é tratada a informagi0, de interesse, acusada que por sua to nos jogos ou as vatiedades, eles Francors Jost = sfo frequentemente desprezados, a ponto de se constituirem na atualidade nos parentes pobres dos estudos televisuais. Essa valorizacio da televisio por seus objetos nifo é a mesma em todas as culturas: em um pais como o Brasil, em que a informagio foi por ‘muito tempo dominada por um regime autoritétio, é, 20 contsésio, «a ficgo (com as telenovelas) que est no centro de todas as atenges. 1.2 OBSTACULO EPISTEMOLOGICO: CINEMA COMO MODELO © Uma mesma linguagem? As pesquisa sobre o cinema alcangaram um passo decisivo ‘com Christian Metz, que as fez passar da critica na qual se havia cessa semiologia de primeira geracio conferiu aos analistas instru- ‘mentos cientificos. Tornou-se possivel, com seus primeitos trabalhos, analisar um filme com o mesmo rigor que um texto litetio, No entanto, 0 sucesso dessa disciplina teve como deplorivel contrapartida a aglomeracio do conjunto dos objetos audiovisuais, jematogeificos ou televisuais, na medida em que, para 0 que se denomina audlovizua, com efit, & um grupo wpreendem 0 cinema, a teleisio, 0 ridio em a0 menos nas Sens tragos ip. 177). Ainda que teconhega quatro tipos de diferencas entre cinema e televisio — ro no que concern ao niomera ea importinia conserve das codiicages Jinguagens tom em comum (ibid, p. 177) © que podem ser : imagem obtda mecanicamente, milipla, mel, combinada 22 Conpasxnen A TEIEVIS\ Quer teivindiquem ou no & semiologia, esses abordagens da televisio que tratam sen objeto por uma decomposisio dos ‘parimetros da imagem (escala de planos, movimentos, igagdes ete) ¢ do som (voz, barulhos, lingua) admitem implicitamente que @ imagens cinematogrificacainagen televisual diferem tio somente pela dimensio (Mev, 1971, p. fo € inteiramente falso, esteja hoje em pleas mudanca, ¢ nfo hé nenhuma chivida de que, para descrever um ‘itil conhecer as espessutas de: equivalente no cinema porque, em certos as tum papel tio fundamental como a imagem. Isso aio quer dizer que nio seri necessirio, em momento futuro, recorzer a certos instrumentos forjados pela semiologia do cinema, mas, hierarqui- camente, essa contribuigo deve ser secundétia na presente abordagem da televisio. © Emissio: um equivalente do filme? ‘O peso domodelo de anise cinematogrifica sobre a anélise televisual provocou, em um primero momento, o exame das cemissées como se fossem filmes, sem levat em conta o contexto de difasio. A maior parte dos estudos sobre filmes omite as cizcuns- tiincias materiais de sua projegio: com excecio dos historiadores, pata quem. sesso como tal pode serum objeto de pesquiss, poueas se voltam, na anilise de filme, para a sala de cinema onde ele 0, pata 0s hotitios ou para as publicidades que os precedem. contexto ou, to 6, pelas séties ;, que foram objeto de bastante atencio Faancors Jost 33 io preferem como unidade exemplar a colecio '4 medida em que ela é estudada como um hotitias em Fangio dos paises, procede-se tio abstratamente como nos sptovado para o cinema, sua eficicia ‘na medida em que os programas sé concebidos em fungio de faixas horttias especificas, as vezes para uum certo tipo de pablico e, quase sempre, para ligar-se as publicidades que contribuem para financiélos, E importante lembrar_ aque as soap-operas exibidas & tarde nos Estados Unidos (day-tims) dram origem as ficgdes financiadas pelos grandes anunciantes para prender a atengio das mulheres frente A telinha, para que elas m, em espacos regulares, as publicidades de seus 80 explica o fato de serem desprovidos de climax ou de resolugio: cada episédio nada fax além de reafiemar a repetigio ‘monétona de sua cotidianidade (Modelski, 1982). 1.3 OnstACULO MATERIAL: EFEMERIDADE DA MiDIA © Programas de estoque, programas de fluxo necessitio dizer que a esses obst epistemolégicos acrescenta-se uma dificuldade objetiva: a vol da midia, Nao se pode esquecer que, até os anos 60, a televisio era comparada tanto Js artes do espeticulo vivo, quanto A efemeridade de suas produsdes. Desprovida de meios de registro eletrénico ~ 0 videoteipe fissional s6 aparece nos anos 60 —, ela s6 podia gravar imagens yas produzidos ao vivo com uma cimera de cinema projetada uma tela de televisio (0 kineseypé). Como consequéncia, os issionais do meio rapidamente fizeram oposi¢ao entre ramas de estoque ¢ programas de fluxo. Enquanto os primeiros -ciam ser conservados, porque etamn suscetiveis, mais ou menos, 34 Conta a TELEVISLO de retransmissio, os outros requetiam um uso imediato que nfo jimpunha nenhum arquivamento. Por essa razio, é mais facil encontrar 0 registro de um drama exibido ao vivo nos anos 50 do ‘que ode um telejornal completo, flo somente com suas reportagens, _mas com seu apresentador no cenéitio, As reportagens eram gravadas porque rodavam sobre um suporte filmico (16 mm) e porque os acontecimentos presenites podiam necessitar de sua reexibicio (a morte de um homem politico ou a lembranca de um fato hist6rico, por exemplo), as intervengées 20 vivo mio eran objeto de segistro, pois nelas niio se via utiidade’ ‘Antes do uso do videoteipe, a citagio de uma sequéncia s6 podia set parcial: ov se reescutava 0 diflogo de uma emissio precedente, passando o disco de sua gravacio, como acontece no liltimo episédio da colegio Exat d'urgence, em que o apresentador, Roger Louis, faz ouvir um diflogo desenrolado no paleo de uma de suas emissdes precedentes (1954); ou simplesmente se brincava com ‘a cena, como no muito famoso Cing dernires minutes em que dois telespectadores, no estiidio, isolados em cabines, deviam encontrar indicios, em uma dramatizagio interpretada ao vivo que confundia 6 culpado de um crime. Para fazer isso, cles podiam reexaminar ccenas reinterpretadas pelos atores. © Obras e nfio obras ‘A categorizagio das emissdes em fungio de sua maior ou menor efemeridade esté implicita na mancita como o CSA (Conselho Superior do Audiovisual, instituigo que regula, na Franca, televisdes 1e duas categorias de emissdes: as obras ¢ as 10 ce obras audiovisnais as emissies no derivadas de nm dos ses de segues informagio; variedades; jogos; oniras emissies nao ficionais realizadas primiro tlejoralfnneés completo conservado data de 1956, Os apresentaozes rasa Josr a _proferencialoente om paleo; retransmises eportinas; mensogens publicitirias; ‘selevendas; antopromogaa; servias de teletext, Essa definicio pelo negativo exclui do campo das obras ‘emissdes prioritariamente tealizadas em palco (telejornais, variedades, jogos), assim como retransmiss6es esportivas, publicidades, tclevendas ou autopromogiio. Se for colocada de lado a emissio de caréter comercial, podem-se exteair dessa classificagao duas concluses: de um lado, a ficgio goza de um privilégio quase tinico, dado que toda ficglo, mesmo no paleo, € considerada como urna obra; de outro, as emiss6 emissdes que se podem rever, porque seu interesse se situa além da atualidade: ficgdes televisuais, desenhos animados, documentitios, assim como magazines € programas de cntietenimento minoritariamente realizados em palco. O telejornal ow aretransmissio de urna pattida de futebol estariam, assim, ligados ao presente. © Lugares da meméria “Talvez tod que, diante de diversos acontecimentos de sua vida, de cenas ficcionais de televisio que dos personagens de Friends, que, yente como referéncia as emissbes de {ager amor com um raparque na tna nasido na ectria de Dinasby,exclama petsonagens). Os cendgrafos nfo precisa procurar muito sas situagdes, que, bem-entendido, estio na meméia do les querem seduzit: pata os filhos da televistio, com da infincia tornaram-se lugares de nostalgia que a meméria comum de uma geragio, meméria essa que le celebragio, como a noite Gloubi boul, colocada dade de Casimi, a mationete de tamanho humano de “ Conrnmenen 4 TaLESIO Lite auce enfants, © fato de um petsonagem de uma emissio de ppalco, emblemitica do flaxo, tornar-se um signo de agregagiio atesta que 2 utilizagio da televisio pelo seu piblico nio coincide forgo- samente com a categorizagio institucional das emissies: 0 que pareceria ser da competéncia do efémero é armazenado pela ‘memiéria dos individuos e acaba por tomar higit 10 lado das emissdes arquivadas. A emissio Les enfants de la #lé contribuuia para constituir fo tepert6rio das imagens cultas que retinem o8 telespectadores de ‘uma época ~ Zitrone, perdendo suas lunetas em Inéeruiles, Giscard, dizendo adeus 0 povo francés, apés sua derrota na eleigfo presidencial de 1981 etc. No langamento dessa volta 20 passado, muitos editores ‘trouxeram as fitas cassetes on os DVDs das emissées, que, hé 20 anos, pareciam fadadas 20 esquecimento: justamente Cocorico bey, Nulle part ailleurs 01 Lille aus enfants. Esse nto atesta que 0 olhar sobre o objeto televisio esti mudando, pois piblico mani- festa 0 desejo de seter os tragos das emissdes da televisio, que sfio também os tragos préptios do passado, ¢ esses vestigios nfo estio unicamente localizados nos lugates oficiais em que se queria confini-los (Begdes, documentitios ou magazines de reportage). meméria individual, ¢ 0 fato de niio tet nascido em tal época nto justifica, de forma alguma, 2 ignotancia sobre essa épocal Assim, se ‘io pela escala da meméria humana, seu poder de investigagio seria bem limitado. Enquanto 86 existia 0 videoteipe para salvar os programas da curta duracio, todos estavam. condenados a perpetuar esse modelo geracional de arquivamento, construindo midiatecas pessoais em casa. Desse ponto de vista, 0 verdadeito corte epistemolégico, que separou a teoria da televisio da teotia do cinema, data de 1995, quando se abriu 0 Depésito Legal do Audiovisual. A Inathéque de France (¢ 0 nome dessa instituigio situada no BNF, cf. capitulo 8) arquiva as emissdes produzidas e difundidas na Franca © em seguida as coloca & rancor Jost ” disposigio dos pesquisadores. Além da missio inicial, de conservat (8 programas a partir de 1995, ela dé acesso a dezenas de milhares de horas de progranmas anteriores a esse ano (desde os anos 50), de modo que as condigées da pesquisa mudaram radicalmente: ‘enquanto, antes, a anilise das emissdes sofia as limitagSes da propria midiateca (em que a anilise de emissées unitérias era feita sobre 0 modelo do filme), hoje é possivel ter acesso niio somente is colegies, como construir um corpus com vistas a resolver esse ou aquele probles Ao modelo nostilgico pode ser contraposta uma meméria a para a qual o investigados, com a sua pesquisa, contribui para a construgio. Desde aabertura do depésito legal, numerosos estudos foram feitos sobre a televisio francesa, dando lugar seja i publicagio ic cja A redagio de teses, de acordo com métodos dive essas, podem-se citar notadamente: de um Ponto de vista metedoligico, Jéréme Bourdon e Frangois Jost (eds.), ‘Penser la télévision, De Boeck-INA, 1998; de wim ponto de rista sentoligic, Prancois Jost, La télévision du quotidien, Entre réalté ¢t fiction, De Boeck-INA, 2001, Virgine Spies, La sléivon dans débats télvisés, De Boeck-INA, 2002; de um histiriza, Isabelle Veytat-Masson, Qnand la tilciion re le temps, Fayard, 2000.

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