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EPRI - (ST2) Fontes Corrêa, Leandro
EPRI - (ST2) Fontes Corrêa, Leandro
MAIO DE 2018
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Graduando em Relações Internacionais pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
Estadual Paulista.
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RESUMO
INTRODUÇÃO
A história do sistema de produção e reprodução capitalista nos aponta ciclos que não
só o sustentaram no nível local, como também oportunizaram sua capilarização ao em torno
do globo. Mesmo durante os momentos de crise de seus paradigmas, teceram-se instituições e
imaginários que serviram de instrumental para sua perpetuação. Neste processo que perdura
desde seu surgimento até os nossos dias, o capitalismo tomou dimensão e complexidade,
adequou-se aos tempos e espaços e agora, na sua mais atualizada versão, pôde travestir um
modo de produção com mantos políticos, sociais e culturais. Alienou, assim, a sociabilidade à
consolidação de um modelo econômico.
Nesta perspectiva, o liberalismo político-econômico que ganhou força no final do
século XX, chamado por David Harvey (2011) de neoliberalismo, desponta no cenário
internacional como a projeção mais atual do pensamento capitalista; isto é, esta última faceta
do capital toma, reiteradamente, da política e da cultura elementos fulcrais para a garantia do
desenvolvimento e da legitimidade da livre iniciativa privada. A representação do Estado,
cada vez mais, confunde-se com a dinâmica do mercado econômico.
Observou-se, durante a década de 1980, nos governos de Margareth Thatcher, no
Reino Unido, e no de Ronald Reagan, nos Estados Unidos da América, a ascensão massiva do
neoliberalismo enquanto política de Estado. Apoiados em teses de economistas como
Friedrich Hayek e Milton Friedman, renomados autores liberais, os governantes destas duas
potencias dedicaram muito de seus campos de ação política na economia liberal. Austeridade,
privatizações e internacionalização da produção e do capital nacional foram algumas das
medidas estatais desempenhadas por estes governos. O Estado, sob a visão mercadológica,
voltou-se à economia para assegurar a sua livre atividade. Contudo, os esforços em garantir a
mobilidade do capital e o crescimento do produto econômico causaram importantes
desdobramentos para a seguridade social e para as políticas públicas.
De todo modo, para que seja possível ter uma análise geopolítica do avanço do
liberalismo, ou do neoliberalismo, como alguns preferem denominar, é importante pensar
como a ideologia de Estado Liberal surgida nas grandes potências hegemônicas reverberou
para a periferia do Sistema Internacional. Como esta agenda chegou à América Latina, região
historicamente explorada? A quais grupos interessou a supervalorização da livre iniciativa
privada?
Assim como proposto por David Harvey (2011), a globalização, dada na
internacionalização do capital, produtivo ou financeiro, faz com que as transformações locais
estejam relacionadas a tendências gerais de âmbito global, orquestradas por poucos epicentros
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descaso com suas pautas. Dentro do ambiente jurídico, as empresas, segundo os relatos das
trabalhadoras, sempre saem ganhando nas tentativas de conciliação.
Já no que diz respeito aos cuidados com o descarte dos resíduos da produção, as
empresas Maquiladoras apresentam-se como grandes poluidoras. Ao em torno das empresas
Maquiladoras em Tijuana podem ser observados vários tipos de resíduos sendo despejados
nos rios e ao ar livre, sem qualquer tipo de tratamento. E, mais uma vez, quando os moradores
dos arredores, que são os trabalhadores das fábricas e seus familiares, recorrem ao Estado
para que este tome as devidas providências de controle ambiental, pois isto tem os afetado
diretamente, inclusive os causando doenças, o Estado se omite em protegê-los
(MAQUILAPOLIS, 2006).
Milton Santos, ao fazer sua análise da globalização fragmentadora dos nossos
territórios, coloca que o Estado, submetido ao poder financeiro das empresas globais, tem
forjado um conteúdo normativo com condições favoráveis a instalação de negócios como
esses. Além disso, atenta para a finalidade dessas empresas:
“Cada empresa, porém, utiliza o território em função dos seus fins próprios e
exclusivamente em função desses fins. As empresas apenas têm olhos para os
seus próprios objetivos e são cegas para tudo o mais. Desse modo, quanto
mais racionais forem as regras de sua ação individual tanto menos tais regras
serão respeitosas do entorno econômico, social, político, cultural, moral ou
geográfico, funcionando, as mais das vezes, como um elemento de
pertubação e mesmo de desordem. Nesse movimento, tudo que existia
anteriormente à instalação dessas empresas hegemônicas é convidado a
adaptar-se às suas formas de ser e de agir, mesmo que provoque, no entorno
preexistente, grandes distorções, inclusive a quebra da solidariedade social”
(MILTON SANTOS.2008).
A flexibilização das leis trabalhistas e ambientas são, portanto, atrativos para o
deslocamento industrial às regiões mais lucrativas. É interessante notar, contudo, como este
modelo econômico não se apresenta nos países centrais. As potencias econômicas, por sua
vez, impõe aos países subdesenvolvidos um projeto que elas mesmas não efetivam em seus
territórios; a saber, são protecionistas nas suas políticas domésticas e forçam o liberalismo na
política econômica internacional. Agem, para tanto, por meio de instituições supranacionais
como a OMC e o FMI e com acordos com os países subdesenvolvidos para garantirem maior
liberdade de mercado entre eles.
A quem serve este projeto econômico e político então? As corporações internacionais,
as elites aliadas ao capital estrangeiro e ao desenvolvimento de países centrais. Neste trabalho,
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as empresas Maquiladoras servem para expor este ambiente político e econômico engendrado
no neoliberalismo. Este tipo de indústria é apenas um exemplo prático da falência social do
modelo econômico neoliberal.
Regiões historicamente exploradas e dependentes, como é o caso da América
Latina, ainda são saqueadas pelo expansionismo econômico de países hegemônicos. A partir
da análise do contexto social em que se instalam as empresas estrangeiras que buscam mão de
obra barata, leis ambientais flexíveis e benefícios tributários, chegaremos à defesa sólida de
que o neoliberalismo enquanto política de Estado é incompatível com o ideal de um povo
livre e soberano. Entendida aqui como produto direto da agenda do liberalismo econômico
enquanto política de Estado, a Indústria Maquiladora é um fenômeno que não beneficia a
maioria da população, ou seja, a classe trabalhadora. As Maquillas servem aos interesses das
empresas globais e causam detração dos direitos sociais e da seguridade social.
São muitos os processos de precarização que os trabalhadores e as trabalhadoras das
empresas Maquiladoras são submetidos. A negligência com a seguridade social destas pessoas
vem por meio da precarização nas condições de trabalho dentro das indústrias, com o
descuido no despejo de materiais usados na produção (que muitas das vezes são descartados
ao ar livre, em meio às habitações dos trabalhadores – o que tem causado fortes intoxicações
nos mesmo), com as baixas remunerações e, não raro, com a transferência súbita da empresa
para lugares que oferecem melhores custos de produção – situação na qual milhares de
trabalhadores são demitidos sem os devidos acertos de contas ou garantia de outros postos de
trabalho.
Mesmo se transpuséssemos nossa análise para categorias mais generalizantes, que não
analisam as condições de trabalho, mas se interessam pelo desenvolvimento industrial do país,
ainda assim, neste nível, estaríamos em prejuízo. Como já exposto, estes empreendimentos
não colocam nossos países em importantes momentos da produção tecnológica. As cadeias
globais de valor, que fragmentam a produção e a alocam conforme os custos e competências
de determinados locais, situam nossos países em estágios primários e manufatureiros. Não
evoluímos em justiça social, nem em tecnocracia.
premissas. Ambos os autores supracitados arguem a livre iniciativa privada como o espaço
onde as potencialidades humanas também serão livremente desenvolvidas.
Em O Caminho para a Servidão, por exemplo, Hayek descreve como a ação
centralizadora do Estado sobre questões de ordem econômica podem causar distorções e
anomalias na troca de informações entre os indivíduos, sendo a livre atividade do mercado a
melhor alternativa para não causar ruídos nas informações econômicas e sociais. Além disso,
o autor diz que o controle governamental das liberdades, começando pelo âmbito econômico,
pode levar a ditaduras totalitárias – por isso coloca o socialismo como um caminho para a
servidão. Friedman, por sua vez, muito influenciado pela obra de Hayek e também pela a de
Adam Smith, reafirma o capitalismo, na figura do mercado, como a melhor alternativa para os
indivíduos exercerem seu ímpeto de ação transformadora e participativa.
Hayek lança mão dos ideais liberais centrando sua teoria no conceito de Liberdade.
Frente a isso, buscando explorar as relações do Estado com o indivíduo e suas liberdades, este
autor confia no Estado liberal o não cerceamento da iniciativa individual, que é um direito
inalienável e grande propulsor de transformações sociais. Princípios como Igualdade e Justiça,
para Hayek, se tornam claros e coesos quando já bem situado o papel da liberdade da esfera
privada. O Estado liberal, não intervencionista no mercado, seria o que melhor garantiria
Justiça e Igualdade – que se daria por um sistema meritocrático. A iniciativa individual, ou
privada, portanto, não poderia estar sob a égide de um estado intervisse nas trocas, pois assim
estaríamos a caminho da servidão e não teríamos nossa Igualdade política e Justiça social.
A Justiça se daria por meio da organização social dos cidadãos, para que sejam
distribuídos os produtos da sociedade. Infere-se aqui o conceito de justiça distributiva, na qual
o prudente é dar a alguém apenas o que lhe é devido, indo ao encontro do mérito. Entretanto,
a justiça é colocada em segundo plano no que tange a necessidade de assegurar as liberdades
individuais. Hayek acredita que o empreendedorismo individual e as capacidades individuais
naturais não devem sofrer qualquer tipo de cerceamento ou intervenção, pois o Estado pode,
muitas vezes, criar desigualdades artificiais, ou estar à mercê de clientelismo. O Estado
interventor pode, por fim, se tornar um “caminho pra servidão”, como coloca em sua obra
homônima. O Mercado, por outro lado, é a máquina mais eficiente para regular a justiça
social. O mercado funciona melhor pela competição, onde nenhuma das partes é favorecida
em descompasso as suas capacidades. Nele, mérito e justiça são justapostos. A teoria do autor
é alinhada aos preceitos neoliberais, associando a política e a economia dentro da perspectiva
liberal. (HAYEK, Friederich.1984)
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por Teotônio dos Santos, considera o desenvolvimento das potencias mundiais como
fenômeno que sustentou-se na exploração de países colonizados, o que os situam, até hoje, em
circunstancias de dependência econômica. Immanuel Wallerstein discorre sobre as realidades
não dissociáveis dos países centrais e dos países periféricos, relação esta em que os países
figuram como partícipes de um Sistema Mundo único articulado em zonas desiguais da
produção capitalista. Isto é, a expansão da economia capitalista mundial e interdependente
produz, dialeticamente, o desenvolvimento e do subdesenvolvimento.
Assim, ao mesmo passo que as transações e mercados globais, desde a perspectiva da
totalidade, se fazem vantajosos para o gozo de poder de barganha e autonomia dos países
periféricos no sistema internacional, estes podem servir, em grande medida, projeto
imperialista.
A Cúpula das Américas de Miami, na tentativa de impor a Área de Livre Comércio
das Américas (ALCA), em 1994, demonstra a face imperialista desta moeda. A ALCA, como
sabido, representou a tônica do poder da economia de mercado arranjado pela hegemonia
ideológica e institucional das elites aliadas ao capital internacional. Os ideais desta categoria,
na vazão das instituições e organizações supranacionais, operam na homogeneização
(hierárquica) do mercado por meio da liberalização das economias nacionais. A saber,
economistas de instituições como o Banco Mundial e o FMI, em 1989, no espaço que
denominaram "Consenso de Washington", propuseram o receituário neoliberal que serviria
como guia para a economia dos países em desenvolvimento da América Latina. A ideologia
neoliberal, pois, alavancada por este cenário político internacional, nesta lógica, fez nascer a
malha institucional que daria respaldo e abriria os caminhos que garantiriam a mobilidade do
capital produtivo e financeiro. Prontamente, o exercício da cartilha neoliberal tornou-se pré-
requisito para a concessão de novos empréstimos e cooperação econômica internacional, e,
assim, promoveu a inserção dos países nas cadeias globais de produção, no marco do
capitalismo dependente.
Tomando como exemplo o empenho da ALCA, como sintoma desta cartilha, podem-
se elencar diversos motivos pelos quais o debate sobre a internacionalização das empresas e
da produção não pode ser feito com vista em tão somente os indicadores econômicos. Se não
sopesado outros aspectos da integração, como o sociopolítico, pode ser que esta ferramenta
seja contraproducente para o desenvolvimento da nossa região geográfica. Só no âmbito do
regionalismo da ALCA, neste sentido, teríamos a nossa propriedade intelectual degenerada,
pois o patenteamento de multinacionais estrangeiras, principalmente as norte
americanas, impediriam a posse e manejo de países periféricos de conhecimentos da sua
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As hipóteses aqui levantadas conduzem a discussão a respeito do neoliberalismo
situando-o como um projeto de hegemonia global que se contrapõe às tentativas de
emancipação dos povos em situação de dependência. Isto é, se faz necessário romper com os
ideais neoliberais, penetrados no aparato burocrático-racional do Estado, para garantir a
efetivação e expansão dos direitos sociais, pois isto e o avanço do neoliberalismo são
grandezas que crescem de maneira inversamente proporcional. O Estado Liberal, neste
sentido, não serve a todos de forma equivalente; este beneficia a quem tem privilégios sobre a
disputa do mercado econômico.
O contexto social gerado pela indústria Maquiladora evidencia todas essas questões,
pois com o estudo de seus desdobramentos é possível que se aponte com base na
materialidade as práticas que sustentam estas hipóteses, uma vez que entendemos que para a
consolidação material deste empreendimento, o proletariado que trabalha na sua realização, e
o meio no qual este se instala, são negligenciados ao ponto de perderem sua essência: tornam-
se apenas engrenagem no funcionamento de um sistema produtivo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HAYEK, Friedrich A.. O caminho para a servidão. Lisboa, Edições 70, 2009.
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir e GENTILI, Pablo (orgs.).
Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. 5ª ed. São Paulo: Paz e
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WALLERSTEIN, I. The inter-state structure of the modern world system. In: SMITH, S.;
BOOTH, K.; ZALEWSKI, M. International Theory: positivism & beyond. Cambridge:
Cambridge University Press, 1996. p. 87-107.
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Vera Muñoz, María Antonieta Monserrat, Rafaela Martínez Méndez y José Gerardo Serafín
Vera Muñoz. Caracterización de los trabajadores de las empresas maquiladoras
localizadas en Tehuacán, Puebla, México. Revista Internacional Administración y
Finanzas 6 (5): 95-117. 2013.