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reow Ncetel teat} Desenvolvendo o Index para Inclusdo no contexto brasileiro: experiéncias de reflexdo/ac3o sobre processos de inclusdo e excluso em Educag30 Developing the Index for Inclusion in the Brazilian context: experiences of reflection/action about inclusion and exclusion processes in Education Monica Pereira dos Santos Manoella Rodrigues Pereira Senna Vasconcelos da Silva? Regina Maria de Souza Correia Pinto Carolina Barreiros de Lima* Resumo 0 presente artigo tem por objetivo relatar experincias de pesquisa acerca do uso do Index para Inclusio no contexto brasileiro ¢ sua contribuigdo para os estudos sobre processos de incluso e exclustio em Educagio. Inicialmente apresentamos 0 instrumento ¢ seus objetivos. Em seguida, compartlhamos as experiencias de pesquisa que envolvem seu uso n0 pais. Desde sua construct e publicacio na Inglaterra por Booth: Ainscow (2000), foi traduzido e tem sido desenvolvido no Brasil, que integra a Rede Internacional do Index para @ Inclusio. Trata-se de um instrumenta pritico capaz de promaver reflexdes/acées sobre a construcdo de culturas, © desenvolvimento de politicas © a orquestracio de priticas de inelusio em Educagie. Nesse sentido. 0 instrumento tem potencial para ser desenvolvido em diversos contextos educacionais. Os resultados das pesquisas que 0 utiizaram, seja como suporte prético ou teérico,ressaltam 0 potencial reflexivo e formativo do ‘material que contribui para um processo de auto revisto de culturas, poiticas e priticas de inelusto em educacto, Palavras Chave: Inclusio em Educagao. Exclusio em Educagdo. Index para hnclusdo. Abstract The present article aims at reporting research experiences about the use of the Index for Inclusion in the Brazilian context and its contribution for the studies about the processes of inclusion and exclusion in education, Firsily, we present the instrument and its objectives. We then share the research experiences that involve its use in Brazil. Since its construction and publication in England by Booth: Ainscow (2000) the Index was translated and it has been developed in Brazil, which integrates the Index for Inclusion Network (IfIN). It is a practical tool capable of promoting reflections/actions about the building of cultures, the development of policies and the ‘orchestration of practices of inclusion in education. In this sense, he instrument has potential to be developed in several educational contexts. The results of researches that have used it either as a practical support or a theoretical one highlight its reflective and formative potential which contributes for a self revision process of cultures, policies and practices of inclusion in education, Keywords: Inclusion in Education, Exclusion in Education. Index for Inclusion, Aigo reehido om L4 de Outubro de 2017 « aprovada em 25 de Abril d= 2018 § Departamento de Fundementos da Educado, Univeridade Federal do Rio do Fansite. E-mail: monicapas@lebo com, * Metra em Eucapao pelo Programa de Pos Graduacao em Educapio da Universidade Federal 6 Rio de Jansro (PGE/UFRS),aasuada ern Padaagia pala Unreridads Fada do Ric de ane (UFJ). E-mail manoellatanna Theta oom, ®"Doutoranda em Educapdo pelo Programa de PS=-Graduasdo em Educapio da Universidade Federal do Rio de Jansvo (PPGE UFR). -Mesire em interdicpinar Linoustionpliada pela Universidade Feral do Rio de Janeiro (UFRO).Graduada em Porigu’s-Franés pla Unrveridade Federal do Rio de Janewo (UFR) Graduada em PovtuguésIopés pala Universidade Federal do Rio de Janero (UFR). E-mail: pintoregimame gal com. “Mestanada sm Eduessto pelo Droprania de Pés-Graduagéo em Educagio de Universidade Fadel do Rio de Janeiro (PPGE UFR) (Gezduade ez Licencstua Upersdade Federal do Rio de Janeuo (UFRD). E-mail. carol benewos maaan, eee ere ter ey en ny ene eT cen sy lus. eee Introdugao. © presente artigo tem por objetivo principal relatar experiéneias de pesquisas sobre processos de inclusio/exelustio em Educagio, edificando um panorama acerea do uso do Index para Inclusio ~ construido e publicado na Inglaterra por Booth; Ainscow (2000, 2002, 2011) — no contexto brasileiro, apés sua tradugdo por Santos em 2002 e 2011. Cabe ressaltar que o presente panorama nfo tem por pretenso expor com toda a riqueza de detalhes 0 trabalho que vem sendo desenvolvido com o Index, tendo em vista que essa apresentagdo/discussio nao se findaria em um tinico artigo. O Index para Inclusio tem sido utilizado no Brasil hé 17 anos, desde sua primeira tradugao realizada pela referida autora brasileira, tanto no campo da pesquisa educacional quanto em outros contextos das prixis universitéria e escolar, © que nos evidencia uma demanda de trabalhos ¢ pesquisas significante ¢ inexequivel de resumirmos com a tamanha fidedignidade que merecem, em um tinico espago. Além disso, trata-se de um documento riquissimo que possibilita reflexdes acerea da construgio de culturas, do desenvolvimento de politicas e da orquestragiio de priticas de inclusio em educagio em instituigdes de ensino (ou em grupos/equipes, por exemplo, que estio em busca do movimento de (re) visio de seus valores, intengdes ¢ ages), O Index, portanto, € um conjunto de materiais, como define Booth; Ainscow (2011) com a potencialidade de apoiar um processo de auto revisio das escolas em diregao 4 ampliagao da aprendizagem e da participagao dos sujeitos nela inseridos. Vale ressaltar, como aponta Santos et al. (2014 | que nas trés versdes publicadas do Index, embora tenham sido acrescentadas segdes e indicadores para reflexio/agdo acerca dos processos de incluso e exclusio em Educagio, a ideia de incluso como processo aparece fortemente associada a um desenvolvimento do Index de tomada de decisdes & agdes compattilhadas, Sendo assim, os autores propdem, com o documento, um recurso a0 desenvolvimento das escolas em um processo investigativo-ative, ndo meramente uma aplicagao e uma avaliacao das escolas quanto ao seu cariter inclusivo/excludente Cumpre assinalar, ainda, que inclusio no referido instrumento € concebida como “proceso incessante voltado para o envolvimento de individuos, a criagéo de sistemas e ambientagdes participativos e a promogiio de valores inelusives” (BOOTH; AINSCOW, 2011). Inclusio em Educagdo, portanto, envolve colocar valores em agio de modo a minimizar exclusdes e/ou barreiras & aprendizagem e 4 participagdo de todo e qualquer individuo, valorizando-o diante da diversidade. Segundo Ainscow (2009, p.11), “inclusdo 201 333 DeLeon cnt 1es Pereira Senna Vasconcelos da Silva, Regina Maria de ‘Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima comega a partir da erenga de que a educagao é um direito humano basico e o fundamento para uma sociedade mais justa Sendo 0 processo de inelusio visto como a participagio ¢ aprendizagem plena de toda € qualquer pessoa, no mundo, Senna (2017) reforga que o principio da inclusio s6 existe (e se consiste) em relagdo ao principio da exclusio, A partir dessa visio, compreendemos, dessa forma, inclusio e exclusio como processos dialéticos ¢ complexos, que se complementam ¢ s6 existem em fungdo do outro, sendo, portanto, processos indissociaveis. 10 Index para Inclusao A estrutura do Index € composta por uma parte tedrica/conceitual que, além de explicitar 0 conceito de Inclusio, propde valores a serem desenvolvidos nas escolas, © por uma parte pritica dividida em tés importantes dimensdes: a construgio de culturas, 0 desenvolvimento de politicas e a orquestragao de priticas de inclusio em Educagio. A dimensao de culturas diz respeito aos valores e crengas compartilhados que orientam as politicas e as priticas. A dimensio das politicas refere-se aos acordos, as intengdes planejamentos (ditos ou nio, escritos ou nao) que encorajam e permeiam as agdes. A dimensio das priticas, por sua vez, dialoga com as prprias agdes em prol da minimizagio de barreiras a aprendizagem e 4 participacio, As dimensdes estio sempre em didlogo e perpassam umas as outras. Por mais que © material esteja dividido nessas trés segdes, em cada uma, tanto culturas, politicas ¢ priticas podem ser percebidas, visto que a relagio que elas estabelecem entre si é dialética (LUCKACS, 2003) & complexa (MORIN, 2011). Santos (2013), acrescentando aos estudos sobre inclusdo/exchisio enxerga esse processo dinémico, complementar ¢ exponencialmente transformador das dimensdes por meio da perspectiva omnilética, que nas palavras da autora significa: [J um modo de explicariconceber e ser ao mesmo tempo. Um conceito, portanto, de cardter tanto reflexivo ¢ contemplativo quanto aplicativo as nossas praticas, a0 ‘nosso modo de ser. O termo omnilérica toi criado por mim e & composto de wes elementos morfolégicos: © prefixo latino ovmi (tudo, todo), 0 radical grego Teks (ariedade, diferenca Linguistica, mas aqui enfatizando especialmente a variedade e a diferenga) ¢ © sufixo grego ico (concernente a), Resumidamentc, omnilética significa uma maneira totalizante de compreender as diferengas como partes de um quadro maior, caracterizado por suas dimensdes cultura, politicas ¢ praticas em ‘uma relago a0 mesmo tempo complexa e dialética (SANTOS, 2013, p.23) Cada dimensio, por sua vez, € composta por indicadores e questées. Os indicadores siio espécies de objetivos que podem ser utilizados como prioridades a serem desenvolvidas na escola que busca refletir sobre os processos de inclusfio/exclusio. Hi as questdes, elas 201 334 Belo Horizonte, v. 7,n. 14, jul Peer nytt ey en ny See ene lus. eee detalham os indicadores definindo-os e estimulando discussdes mais complexas. Ao final de cada pagina com os indicadores perguntas, existe, ainda, um espago para que sejam acrescentadas novas perguntas e/ou para que questdes sejam retiradas e modificadas. Dessa forma, diante da gama de possibilidades oferecidas pelo Index para Inclusio, © mesmo tem sido desenvolvido em diferentes instncias da Educacao, e de diferentes maneiras. No campo da pesquisa em Educagio, por exemplo, no contexto brasileiro, o Index tem sido desenvolvido em escolas envolvendo sujeitos dos grupos de professores, alunos e gestores, assim como em instancias de gestio, ¢ na administragio piblica, por exemplo. O que o toma capaz de abarcar esses diferentes contextos e oferecer subsidios para um trabalho consistente justamente sua multiplicidade de possibilidades de utilizacio e, ainda, sua esséncia transformadora e geradora de reflexdo-agdo. O Index nao tem por objetivo ser um material amarrado que deve ser seguido, mas pretende promover discussdes que, inclusive, possam modificar seus proprios indicadores e questdes. Tem, portanto, um carter de construgao coletiva, tendo em vista que ele se propde a ser adaptado de acordo com o contexto em que é utilizado. Vale sinalizar, ainda, conforme Senna (2017, p. 73): Tendo em vista que o Index € composto por aspectos tedricos (concepedo de incluso em educagdo, conceitos e valores que perpassarn esse proceso) € aspectos priticos (do proprio agir a partir das reflexées), consideramos 0 mesmo como um instrumento de cunho préxico. [..] A associagio do Index para Inclusio como um instrumento préxico, desse modo, dé-se pelo fato de que 0 mesmo, se desenvolvido tendo em vista sua complexidade e totalidade, permite @ modifieagao constante da teoria por meio da experigncia pratica, por sua ver modificada pela teoria, mma relagio dialética ¢ complexa, Essa praxis constituida ¢ constituinte do. Index proporciona aos sujeitos — individual e coletivamente — um olhar atento aos processos de construgto de culturas, de desenvolvimento de politicas € de onquestragdo de priticas em prol ou no da incluso em educagio, considerando as relacoes existenres entre esses dimensdes (culturas, politias e priticas) No Brasil, 0 trabalho com o Index seja com seu desenvolvimento, seja com seu referencial tedrico-pritico, tem sido liderado pelo Laboratorio de Pesquisas, Estudos ¢ Apoio & Participagio e a Diversidade em Educacio (LaPEADE), pertencente a Faculdade de Educagio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FE/UFRI), cuja coordenagao tem sido a Prof’ Ménica Pereira dos Santos, que traduziu o Index para 0 portugués. Nesse sentido, © LaPEADE é pioneiro e tem se tornado referéncia no proprio pais no que tange ao uso desse instrumento. Considerando a complexidade dos trabalhos realizados com © documento, resumiremos a seguir as principais pesquisas que tiverem como base o Index e, portanto, 201 335 DeLeon cnt 1es Pereira Senna Vasconcelos da Silva, Re} ‘Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima objetivaram momentos de reflexdo/agio acerea dos processos de inclusio e exclusio em Educagao. 2.0 uso do instrumento: refletindo sobre inclusao e exclusdo em educacao Apresentaremos nesta segaio um breve panorama das pesquisas que envolveram 0 uso Go Index para Inclusio, a fim de relatar experiéncias de desenvolvimento de reflexdes e agdes acerca dos processos de incluso e exclusdo em Educagio. No que tange aos estudos relacionados a tais processos, esse panorama se faz essencial para que o campo nao apenas conhega as possibilidades de trabalho com o Index para Inclusio, como também perceba o potencial do mesmo diante do desenvolvimento de culturas, politicas ¢ priticas de incluso em Educagao. Entre 2004 e 2007, 0 LaPEADE desenvolveu a pesquisa intitulada “Ressignificando a Formagao de Professores para uma educagdo Inclusiva” com o objetivo geral de contribuir para a ressignificagio da formagao de professores da FE/UFRI para o desenvolvimento de culturas, politicas e priticas de inclusio. Tal pesquisa, de metodologia qualitativa, buseou, por meio de questionérios ¢ andlise documental, conhecer os sentidos e significados atribuidos pelos alunos da Faculdade de Educagao a incluso e a formagao para inclusio (LaPEADE, 2007). Toda a pesquisa foi baseada nos conceitos de culturas, politicas e priticas de incluso em Educagao, proposto pelo Index, que foi utilizado principalmente em torno do seu marco enquanto referencial tedrico-analitico, que esteve presente na coleta ¢ na andlise dos dados. Os resultados dessa pesquisa mostraram que a Faculdade de Educagao, que pelo menos em teoria, deveria ser modelo de formagio e desenvolvimento de culturas, politicas ¢ priticas de inclusio, encontrava-se aquém das expectativas dos estudantes. Entre outros aspectos, verificamos que ela necessitava de rever suas priticas para minimizar a distancia entre sua administraglo e seus estudantes, de modo a potencializar a participago ea aprendizagem de todos. A titulo de exemplo, eram comuns queixas que se referiam ao mau atendimento e 4 falta de informages e de comunicacao. Importante mencionar que esta pesquisa foi apresentada a toda a Faculdade, no intuito de sensibilizar os gestores, professores e técnicos em direcdo a uma perspectiva de aprimoramento destes aspectos. Esta mesma pesquisa serviu de base para a primeira pesquisa internacional, que relataremos a seguir, ¢ na qual tentamos replicar parte dos questionamentos da pesquisa feita na Faculdade de Educagio, tendo em vista ver se os mesmos problemas se repetiam nas universidades internacionais participantes do projeto. Peer nytt ey en ny See ene lus. eee Assim, a primeira pesquisa internacional, intitulada de “Culturas, Politicas e Priticas de Incluso em Universidades: um foco na formagio inicial de professores: Brasil, Cabo Verde, Cordoba e Sevilla” (2007-2010) tiveram por objetivo prineipal deserever e discutir 0 panorama dos processos de inclusio/exclusio em universidades enquanto_instituigdes formadoras de futuros educadores no tocante s suas culturas, politicas ¢ priticas em ambito nacional ¢ internacional, a partir da promulgagio da Declaragéo Mundial sobre Educagao Superior (1998), nos paises supracitados. A pesquisa, de metodologia qualitativa do tipo comparativa, utilizou o Index também por meio do seu marco conceitual de culturas, politicas e priticas tendo em vista que a anélise dos dados considerou essas dimensdes como macro categorias, De modo geral, a pesquisa, que teve como respondentes os alunos das universidades dos paises citados acima, concluiu que: L..] em termos dos valores que as politicas inferem, 0 quadro de incluséo nas universidades pesquisadas foi considerado promissor. Entretanto, quando tomamos como base de auilise os variados depoimentos dos futuros professores em formagio inicial as exclusdes por que passam na condigao de alunos, bem como seus relatos referentes as maneiras como tais politicas so e/ou nao sao colocadas em pratica, percebemos uma contradigéo visivel e contundente nas realidades investigadas (LaPEADE, 2010, p.1) Tal conclusio motivou a continuagao ¢ a expansio da pesquisa para outro olhar, no caso dos professores formadores dos futuros professores. Sendo assim, 0 LaPEADE realizou entre 2010 © 2014 o estudo intitulado de “Culturas, Politicas e Priticas de Inclusio em Educagio Superior: As Vozes dos Formadores de Professores” cujo objetivo geral foi levantar, descrever e discutir 0 panorama dos processos de inclusio/exclusfio nas universidades de Cérdoba, Sevilha, Cabo Verde ¢ Brasil no tocante a construgao de culturas, ao desenvolvimento de politicas ¢ a orquestracdo de priticas, de incluso e/ou exclusio tendo como foco e objeto central de anilise os professores das mesmas. A segunda pesquisa internacional, portanto, seguindo os passos da primeira, utilizou metodologia qualitativa do tipo comparativa (SCHNEIDER; SCHMITT, 1998) tendo como referencial te6rico as dimensdes do Index para Inclusio Como diferencial da primeira pesquisa internacional, essa teve 0s conceitos do Index utilizados na parte metodolégica no apenas na anélise dos dados, mas prineipalmente na composigio do instrumento de coleta de dados. O questionério, direcionado aos professores formadores de professores das referidas universidades foi pensado em termos das dimensdes culturas, politicas e praticas de incluséo em Educagao, ou seja, foi dividido em trés segies correspondentes ais dimensdes, tendo algumas perguntas inspiradas no Index para Inclusio. 201 337 DeLeon cnt 1es Pereira Senna Vasconcelos da Silva, Regina Maria de ‘Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima De acordo com o panorama aqui exposto, as trés pesquisas citadas utilizaram 0 Index como um instrumento referencial de coleta e anélise de dados — em que pese esse modo de utilizar do Index ainda no corresponder ao objetivo geral do mesmo como propéem seus autores € reafirma Santos ef al, (2014) ja que se trata de desenvolvé-lo nas escolas e outras instituigdes tendo em vista suas potencialidades de auto revisto. Entretanto, tal fato no descaracteriza sua importincia, mas reforga sua relevncia no campo da pesquisa educacional, visto que tem um cunho tedrico € metodolégico promissor em termos de pesquisa. Acerea do uso do Index, Santos ef al. (2014, p. 492) nos alertam veementemente em seu artigo: Se, no entanto, o Index for utilizade como um instrunento que simplesmente “se aplica” a dado contexto, seu potencial de promover a patticipasao fica perdido. A idein do Index & a de que ele seja desenvolvido em um processo na escola, ¢ niio aplicado como um instrumento de avaliagao. Isto € 0 que the dé um caréter emancipatirio e politico pertinente, portanto, 20 ideatio da incluso, posto que desencadeia nas instimicdes um processo dialégico de auto revisto com a colaboragio (mas nunca com os ditames) dos pesquisadores como coautores neste pprocesso, e munca como direcionadares do process. Como ja apouta Santos ef al. (2014) acerea do Index, © mesmo nio tem por intengio ser uma checagem de incluso que busca identificar se uma escola é inclusiva ou menos inclusiva, como se referiram outros autores sobre seu uso (CROCHICK er af., 2011). Tal concepgao, inclusive, ndo condiz com a ideia de inclusio tal qual como defendemos e, ainda, contradiz os autores do Index (BOOTH; AINSCOW, 2000, 2002, 2011) que em suas trés versdes, conforme estudado por Santos ef af. (2014, p. 488), trazem: [J idela de proceso na medida em que os textos aludem ao conceito de desenvolvimento da escola ¢ argumenta que inclusie nio constitui un estado final a0 qual se chegar, mas sempre um ideal a se buscar, Esta mesma nogio de desenvolvimento da escola, por sua vez, deixa implicito nestes trechos (mas bastante explicito em outros trechos das trés versdes do Index, aqui no citados) a importincia de se ver o Index como um processo investigativo por meio e a0 longo do qual reflexdes-agdes sobre a realidade escolar so levadas a cabo. Ja a ideia de pparticipagio fica clara na medida em que as trés versées conclamam o leitor consistentemente, a compreender a inclusio em sua relagio com o conceito de exclusdo e como ago perene, infindivel, de combste 4 mesma por meio do desenvolvimento de processos investigativo-atives que levam a tomadas compartilhadas de decisdes © ages. Este mesmo compartilhamento € 0 que fundamenta a participacio: ninguém faz inclusto sozinha, nem por decreto. Diante do exposto por Santos (2014) e pelos autores do Index, acerea do seu uso, podemos inferir que esse instrumento tem o potencial de ser desenvolvido, constrnide coletivamente entre os sujeitos das escolas. Nesse sentido, 0 uso do Index para Inclusio, pensando em seu desenvolvimento como um todo, iniciou-se com a pesquisa “Transtornos Globais do Desenvolvimento como desencadeadores de possiveis solugdes para os 201 338 Belo Horizonte, v. 7,n. 14, jul Peer nytt ey en See ene lus. eee Transtornos Globais da Educagao”, em 2010, numa escola publica estadual. De acordo com Lago (2014, p. 13-14), essa pesquisa teve como “ ‘bjetivo central elaborar os indicadores de Inclusio de uma escola por meio do desenvolvimento do ‘Index para Inclusio’”. Sua metodologia foi qualitativa do tipo pesquisa-acao (BARBIER, 1985). Nesse sentido, a originalidade dessa pesquisa, se apresenta no argumento de Lago (2014, p. 20) — um dos finttos dessa pesquisa foi a sua tese de doutorado ~ na qual a autora defende que trabalhou o Index como: [.-] instrumento te6rico-metodolégico por meio de seu desenvolvimento em. uma escola, Ou seja, nao se trata somente de analisar © material enquanto ‘uma proposta te6rica, mas de refletire teorizar sobre a experiéncia vivida no processo de seu desenvolvimento na pritica escolar cotidiana. Desse modo, a pesquisa iniciou-se com a fase da formagio de um grupo coordenador Segundo Lago (2014), durante trés reunides com representantes de professores, alunos, coordenadores, funciondtios ¢ pais a equipe explicou a proposta do Index com objetivo de convidi-los a participar desse processo, tendo em vista que a adesdo deveria ser espontinea. Apesar das dificuldades com relagio aos encontros desses sujeitos, e a comunicagao da escola para a efetiva presenga deles, 0 primeiro grupo foi formado por uma coordenadora pedagégica, uma coordenadora de turno, cinco alunos e quatro professores. Ao longo da pesquisa mais duas professoras aderiram ao grupo ¢ a participagao dos alunos foi variada. Os encontros foram estipulados em um calendatio e aconteceram sistematicamente durante 0 primeiro ano da pesquisa, Nesses encontros foram trabalhados alguns indicadores do Index como disparadores de reflexto-agiio. Além dos encontros, a equipe pesquisadora estabeleceu novas estratégias ao longo da pesquisa, tendo em vista alguns percalgos da mesma, dentre eles: mudanga de geste, pouca adesio da gestio no processo da pesquisa, pouca comunicagao da escola com relagao aos encontros com os pesquisadores ¢, ainda, greve dos professores estaduais. Tais fatos desestabilizaram © trabalho do grupo coordenador e, assim, foi preciso pensar em outra configuragio da pesquisa, como por exemplo, o ciclo de palestras para os alunos com temas de discussio demandados por eles, ¢ © acompanhamento de um projeto coordenador por uma das professoras pertencentes ao grupo coordenador Assim sendo, a coleta de dados contou com a técnica de observago participante (que geraram relatorios de campo), 0 uso de questiondtios, ea andlise documental. O questionério ° Para o Index, o seu e desenvolvimento inclui como passo inicial a organizagao coletiva de um Grupo ‘Coordenador, cuja tarefa sera a de liderar 0 processo e representar a comunidade institucional (em seus variados segmentos) durante o mesmo. nte, v.7,n. 14, ju /de2. 201 338 DeLeon cnt 1es Pereira Senna Vasconcelos da Silva, Regina Maria de ‘Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima utilizado foi um dos propostos pelo Index. Isso porque ao final das segdes, o instrumento traz como sugestdes alguns anexos, como, por exemplo, este questionario de questdes mistas (abertas e fechadas) a respeito de como o aluno se vé dentro da escola, em termos de participagao e aprendizagem, com indicadores relacionados as culturas, politicas e priticas de inclusio na escola, Durante os encontros com grupo coordenador, os indicadores do Index foram trabalhados como disparadores de temas a serem discutidos na percepgdo de alunos, professores e coordenadores. Dessa forma, o Index foi sendo desenvolvido tendo em vista seu cariter de auto revisio de culturas, politicas e priticas de incluso em educagao, Um dos prineipais temas discutidos foi a dificuldade de comunicagio na escola, apontada em unanimidade por todos os sujeitos participantes da pesquisa, como vemos abaixo: Carlos (aluno) diz que o problema maior é a comnicagao, ¢ nao a avaliag3o que foi dingnosticada na iltima reunifo, pois, em selagao a avaliagfo, eles se entendem com os professores. Ele diz que a comunicagao to rim que nem os murais os alunos Jeem e que os alunos do grémio jd tentaram fazer um jornal, mas nao havia verba para impressao. Ele também reclama que a escola tem todo um equipamento para fazer unta rio, mas que ele no entende por que essa rio no acontece (Relatorio 7.1, p. 4,21 de Jaa. 2010). Adriana (coordenadora pedagigica) fala sobre a necessidade de baver um quadro de avisos organizado com informagdes precisas, jd que “cada um dé uma informacdo diferente”. Silvia (diretora) fala sobre a necessidade de os murais serem fechados porque as pessoss tira os avisos dos quadros (Relator 8, p. 2, 28 de Jun. 2010) Silvia (diretora) disse que nés estévamos ajudando muito ¢ que ja sabia dos problemas de comunicagio da escola ¢ que por isso tinbe feito um cademo com uma circular para cada um dos professores fazendo cada um deles assinar ao receber a circular (Relatério 10, p. 1, 12 de Jul. 2010). Considerando que esse processo se desenvolveu ao longo de quatro anos, imimeras mudangas ocorreram na escola e, principalmente com a pesquisa. Além dos percalgos pontuados acima, foi notivel que a falta de engajamento da gestio da escola com 0 projeto (principalmente dos diretores) foi um fator que contribuiu para a dispersio do grupo coordenador e, assim, consequentemente, para o pouco desenvolvimento do instrumento de reflexio-agdo com toda a potencialidade que 0 mesmo proporciona. A nao patticipagio do grupo dos pais e dos funciondtios néo nos permitiu também contemplar a participagao demoeritica pretendida no inicio da pesquisa. Segundo relatérios de campo. essa nio patticipacao desses segmentos demonstra, em parte, um desejo de perpetuacao da cultura de hierarquizagao de saberes ¢ poderes: ‘Uma professora questiona a participagao dos funcionarios dizendo que eles tinham ‘ontzo nivel cultural e ela nao entendia no que eles paderiam coatebuir com a pritica dela, jd que ela tinka dominio total sobre a turma ¢ © desenvolvimento de sua aula (Relatério 3, p. 2-31 de Mai. 2010), 7.1. 14, jul Peer nytt ey en See ene lus. eee Disseram que achavam que este primeiro momento (a reuniéo do dia 6) deveria ser apenas com professores e no com toda a conuinidade escolar. Que eles precisavam. ser seduzidos pela nossa proposta, que se eles comprassem a nossa ideia o projeto andatia e eles influeneiariam pais ¢ alunos, chamando-os a participar (Relatério 1, p. 5-30 de Abr. 2010). Paradoxalmente, apesar dos obsticulos encontrados e das mudangas que tiveram que ser realizadas, a pesquisa teve como conclusdo que o Index é um instrumento fecundo para auxiliar as escolas nesse proceso de revistio, em termos de participagio e da construgio de estratégias mais inclusivas. Outra pesquisa que buscou desenvolver o Index em totalidade foi a “Construindo Culturas, Desenvolvendo Politicas e Orquestrando Priticas de Inclusio no Cotidiano Escolar”, iniciada em 2012, em uma escola piibliea municipal, teve como objetivo principal: L..] proporcionar um exame detalhado das possibilidades de incrementar a aprendizagem € a participagao para todos os alunos no ambit escolar, através do aii 20s professores, no engajamento no planejamento, na escolha de prioridades necessirias és mudancas, na proposi¢ao de inovagdes ¢ na revisio de progresso de todas as atividades (LaPEADE, 2012, p. 4). Por solicitago da escola, a equipe do LaPEADE realizou uma pesquisa-agio (THIOLLENT, 1996) com o grupo de professores € coordenadores. Inicialmente, os pesquisadores inseriram-se no contexto das aulas para observarem culturas, politicas priticas de inclusio/exclusio, Essa abservagio foi feita por pesquisadores inseridos in Jécus com auxilio das gravagdes de videos que, posteriormente, foram minutadas, Cada pesquisador produzia, em cada aula observada, um relatério de campo. Vale ressaltar que ao final de cada aula o pesquisador perguntava ao professor quais os pontos positivos e os pontos negativos da aula realizada, Apés esse periodo de observacao, foi constituido, como sugere Booth; Ainscow (2002), © grupo coordenador ~ composto por professores € coordenadores. Sendo assim, as gravagdes foram utilizadas como disparadores de discussio a partir do momento em que eram levadas ao grupo coordenador para andlise. Associado aos “casos” apresentados para reflexao, a equipe se deparava com os indicadores do Index de modo a nao apenas refletir sobre eles, mas prineipalmente propor novas agdes para minimizagio de barreiras 4 aprendizagem e & patticipagao, Como fiuto desse processo de reflexdo-aedo, a escola solicitou ajuda aos pesquisadores para a construgio de um Projeto Politico Pedagogico (PPP) da escola, tendo em vista que, apesar de constar em lei (LDBEN ~ Lei N°. 9.394/96), a mesma nao possuia um. Sendo assim, por meio do desenvolvimento do Index, a principal produgio do grupo 201 341 DeLeon cnt 1es Pereira Senna Vasconcelos da Silva, Re} ‘Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima coordenador foi o seu PPP. Além dos itens necessérios de um PPP como valores, misao e visio, a escola construin suas estratégias, tendo em vista os indicadores do Index, consideradas por ela, naquele momento e contexto, como prioridade de agdo. Essas estratégias foram pensadas em termos de culturas (valores, crengas), politicas (objetivos, intengdes) e priticas (agdes, decisdes) 9.2.2 Relacionamento imerpessoal Cutturas: Cuidado em apresentar 03 funcionérios da escola: Acolhimeato dos alunos novos: ‘Acolhimento dos novos funcionérios; Compartilhar missdes, acdes, dizer o que eu espero do outro: Conhecer quais sio as atribuigées de cada um; Compromisso em conhecer qual ¢ a minha fanedio ¢ 0 que eu posse fazer: Incentivar 0 comprometimento Politicas: Acolhimeato aos noves funcionsrios ¢ alunos; Envolvimento dos responsiveis por meio das reunides onde serio esclarecidas as agdes da escola, Praticas - Estratégins: Apresentacio das novos alunos: Apresentagio dos noves funcionirios: Apresentagdo da escola para os responsiveis, Usar videos da escola - video institucional: Parceria com o micleo de artes para montagem do video /filme com os alts; Solicitagdo ao miicleo para a oficina de informatica, Criar uma propaganda na sala de aula para os interessados, Construir uma proposta para 08 professores sobre o uso das novas tecnologias na educagao. Acionar o Niicleo de Formagao para parceria nos projetos de atualizagao has novas teenologias (PPP da escola, 2015, p. 10), Todo 0 processo de construgto (participativa ¢ ativa) desse PPP foi baseado nos indicadores do Index, sendo eles sempre escolhidos, discutidos e escritos pelo grupo coordenador, tendo em vista as prioridades da escola. A pesquisa ainda nio apresenta relatério final. Entretanto, por ora, é possivel apontar que o Index além de propositor de revisdes nessa pesquisa, tem sido base de um documento importante da escola que organiza intengdes perpassadas por valores que se finalizam em priticas que podem ser ou nao na orientagio da incluso em Educagio. Fruto de uma parceria entre a UFRJ e a Escola de Contas e Gestio (ECG) no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), no ano de 2013 foi iniciada uma pesquisa cujo objetivo foi aiudar a instituigo a promover, em base continua, um proceso de autorreflexdio dos valores da Instituigdo e, a partir disso, propor agdes que pudessem melhorar as culturas, politicas e praticas institucionais de incluso. Tendo como base 0 Index para Inclusio, © mesmo foi adaptado para 0 contexto dessa Escola de Govemo e para o Belo Horizonte, v. 7,n. 14, jul Peer nytt ey en ny See ene lus. eee desenvolvimento do trabalho, foi criado um grupo representativo dos diferentes setores da Escola, denominado Grupo Coordenador, que participou dos quinze encontros realizados. A adaptagdo do Index para esse contexto fez-se necessiria, ja que esse instrumento estava sendo utilizado, pela primeira vez, para um piiblico constituido por adultos, o que determinou o cariter inovador dessa pesquisa. Assim, termos como ‘adolescentes/criangas ou ‘pais/responsaveis’, foram substituidos por ‘servidores, servidoras ou participantes da communidade’, por exemplo. Adotou-se a pesquisa-agao critico-colaborativa como metodologia de pesquisa ¢ a observagio participante, o registro em cademos de campo, fotografias e gravagies em Audio foram os instrumentos utilizados para a coleta dos dados. Durante 0 proceso de auto revisio, desencadeado pelo Index, que acontecia quinzenalmente, a principal ‘queixa’ da comunidade pesquisada, trazida pelo grupo coordenador, era a de uma forte hierarquizagio da instituigao, que levava a uma valorizagio desigual entre os servidores da mesma. Com intuito de refinar © entendimento dessa demanda, na tentativa de atendé-la, foi realizada uma consulta comunidade, para responder a seguinte questo: “O que podemos fazer para que tod@s ¢ cada unva se sintam igualmente valorizad@s?” Os resultados dessa enquete, ¢ a subsequente reflexdo sobre a mesma, suscitou por sua vez, a elaboragdo de um Plano de Agdo, a ser implementado na ECG em 2017. A consulta apresentou como propostas: a construgdo dos valores institueionais, os quais passaram a fazer parte do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDD); além disso, foi sugerida a criagao da semana/seminério de Inclusio com a presenga de grupos de movimentos sociais, de pessoas com deficiéncias, negros, indigenas, LGBT ete. A pesquisa, conclui que o Index constitui rico material que possibilita o transito da instituigdo de um lugar que reflete pouco ou nada sobre si mesma no que tange a promogao de inclusao, @ uma posigdo de autorreflexdo de suas culturas, politicas e priticas, Para coneluir as experigneias em pesquisa com o referido instrumento apresentamos a pesquisa Coordenadoria Regional de Educagio (CRE) da Rede Municipal do Municipio do Rio de Janeiro”. Trata-se de uma pesquisa pioneira com relagio ao uso do Index para Inclusio. Isso Desenvolvendo o Index para Tnclusio na Geréncia de Educagio da Segunda porque, diferente das outras pesquisas, esta se propds a desenvolver o Index na e com uma geréneia de educagio (GED), ou seja, uma equipe de gerentes que faz a mediagao entre as iticas advindas da Secretaria Municipal de Educagao do Rio de Janeiro e as escolas sob sua DeLeon cnt 1es Pereira Senna Vasconcelos da Silva, Regina Maria de ‘Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima coordenagto (localizadas em sua maioria na Zona Sul, mas com insergdo de escolas da Zona Norte e Centro do Rio de Janeiro) Cabe ressaltar aqui, que inicialmente a GED nos procurou para que pudéssemos desenvolver o Index com as escolas da 2° CRE. Entretanto, a mostrarmos a complexidade do material, bem como o nivel de discussio por ele proposto, a equipe de gestores considerou necessirio desenvolver o Index com a propria Geréncia e depois ampliar o projeto com as escolas, visto que a Geréncia precisava entender esses processos de inclusdolexclusio ¢ refletir-agir para que, nas escolas, 0 trabalho fosse respaldado. O objetivo da pesquisa na GED foi instituir uma cultura de auto revisio junto a Equipe da Gergneia de Educagio da 2* Coordenadoria Regional de Edueagio do municipio do Rio de Janeiro, tendo em vista uma orientag3o inclusiva de gestio, por meio do desenvolvimento do Index para Inclusio. Nesse sentido, a pesquisa desde o seu inicio em 2014 desenvolveu o Index da propria GED, considerando suas especificidades. Por nfo se tratar de uma escola propriamente, todo 0 Index foi adaptado para 0 contexto de uma gestio, ou seja, todos os seus indicadores foram modificados para uma melhor leitura, compreensio ¢ identificagio da equipe, como por exempl Quadro 1: Adaptagao do Index para 0 Contexto da GED ‘Dimensao A: Criando culturas inelusivas ‘Al: Edifcando a comunidade ‘ALA Todos sio bem vindos. 4) O primiro coatato que as pessoas témn coma escola é acalhedor? b) Os profissionais, os alunos eas familias criam wm senso de comunidade aa escola? ¢) A escola éseveptiva a todos os pais responsiveis e outros membros das comunidades locals? 4d) A escola & receptiva aqueles que tenam chegado recentemente de outro local no pais ou ‘de outa pais? €) Os profissionnis, alunos ¢ paisresponsivels se camprimentam de form educada e amistosa? 4) 0s profissionais, crianeas, pais e gestores esforgamse pot aprender os nomes uns dos outros? gO espitito das pessoas se eleva 20 vsitarom a escola? ‘Dimensao A: Criando culturas inelusivas ‘Al: Eaiicando a comunigade “A1.1 Todos so bem vindos. 4) © primeiso conta que as pessoas t@m coma GED é acolliedox? ) Os profssionaiseriam um senso de comunidade na Geréncia? ©) AGED € receptivaa todos das comunidades locais? 4d) AGED éseceptiva aqueles que teaham chegado receatemeate de outro local no pals ou de outro pais? 2) Os profissionais da GED se cumprimentam de forma educada e amistosa? 1) 0 profssiouais da GED esforgamese por aprender o: nomtes uns dos outros? ) © exprito das pessoas se eleva ao vsitarem a GED? Fonte: Elaborado pelas autoras Essa adaptagdo foi feita principalmente para que a GED se identificasse com essas questdes e melhor pudesse discuti-las. Assim, foram modificadas palavras e frases, retiradas ¢ acrescentadas perguntas pertinentes a especificidade do trabalho dessa Geréneia. eee ere ter ey en ny ene eT cen sy lus. eee © desenvolvimento do Index aconteceu na GED por meio de encontros quinzenais entre equipe pesquisadora e gerentes. No primeiro momento, foi trabalhado 0 coneeito de Inclusio bem como os valores propostos no Index, de modo a discutir quais seriam os valores coletivos da Geréncia. Depois de explicado como funciona o instrumento ¢ qual o seu objetivo, iniciamos a fase com os indicadores. Assim, a cada encontro a equipe pesquisadora selecionava um grupo de indicadores (sempre em sequéneia para que todos pudessem ser estudados). O grupo de aproximadamente 40 gestores dividia-se em pequenos grupos para leitura minuciosa e escolha dos indicadores e perguntas que dialogavam com as prioridades do grupo naquele momento. A partir dessa escolha, que gerava uma discussio e reflexdo entre eles, cada grupo preenchia um plano de ago pensando: como ocorre no momento e 0 que se pretende a partir de agora. Apés preenchimento dos planos, os grupos apresentavam suas propostas uns para os ‘outros ¢ elas eram corroboradas por todos ou nio. Dessa discussie maior, levantavam-se, ent, as prioridades. Sempre, antes de iniciar o encontro retomévamos a leitura das propostas do encontro anterior, tendo em vista novas consideragdes ¢ reflexdes, ja que uma semana havia passado e outras formas de enxergar aquele indicador poderiam aparecer. Esses planos de agao foram compilados em um tinico documento que chamamos de “Indicadores do Index para Inclusao da GED/2* CRE”. Vale ressaltar que esses planos foram uma construgao da propria equipe e refletiam os temas emergenciais de serem aprimorados no trabalho, conforme exemplo abaixo de uma questio discutida: AL Edificando a Conmmidade AL. 1. Todos sao bem vindos? F) O espirito das pessoas se eleva ao visitarem a GED? Como ocorre? Nao havendo espaco fisico para desdabrar a diversidade de ages, causa mal-estar no s6 a equipe como s pessoas que buscam esclarecimentos, Propostas Que haja uma reformulagao do espago fisico no nivel da Coordenadoria, considerando a importancia da incluso no ambito social, Destacamos que entre as discusses dos indicadores outras demandas especificas da GED viraram pauta dos encontros, como, por exemplo, uma conversa mais especifica sobre género e diversidade sexual na escola, Para atender essa demanda, convidamos um pesquisador da area para esclarecer davidas e propor um debate. Esses momentos foram enriquecedores e colaboraram com o desenvolvimento da pesquisa. ‘Nas discussdes preliminares com o Index, a Geréncia percebeu a importincia de se ter um documento que pudesse revelar os valores ¢ a miso da GED/2* CRE, tendo em vista que ela se diferenciava das demais Geréncias (ao todo so 11 CREs) e pretendia demonstrar essa 201 345 DeLeon cnt 1es Pereira Senna Vasconcelos da Silva, Regina Maria de ‘Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima diferenga e autonomia, A GED/2* CRE entendeu como necessério pensar em um PPP da propria Geréneia, © objetivo dessa proposta foi construir um PPP diante da discussio de valores do Index e pensar as estratégias tendo como base as discussdes dos indicadores, jé realizada pela equipe, diante das dimensdes de culturas, politicas e priticas de inclusio em Edueagao, Houve momentos na pesquisa em que foi preciso parar e discutir a prépria dindmica e sua importancia para a GED. Isso porque alguns membros apontaram que nao era mais de comum acordo que o desenvolvimento do Index estava tendo resultados positives. Sendo assim, em um encontro relembramos 0 motivo da presenga dos pesquisadores 1d, bem como 0s desdobramentos que aconteceram desde entio (ex.: 0 curso de gestio participativa, que foi planejando como um desdobramento das discussdes; 0 encontro sobre género e sexualidades (demanda do grupo), as avaliagdes do trabalho da GED no meio do ano e ao final do ano, pela propria equipe, a fim de identificar itens a serem aprimorados, presenga da GED nos encontros com os pesquisadores e mudanga no espago fisico e na estrutura das reunides da Geréncia, tendo em vista uma orientagao de inclusio). Mostramos para a GED, por meio das proprias transcrigdes (visto que todos os encontros sio gravados em video ¢ audio), falas em que os participantes da pesquisa demonstram as crengas e as descrengas da pesquisa a fim de refletirmos sobre a sua continuacao: [Refeindo-s a prguuta da pesquisadora se quando a equipe de pesquisadores sai da GED, existe ou io coutinlagio das discussdes do lex] EM Néo discute em si ditetamente. Mas na prtica, a gente realmente t lise avaiando ¢ colocando asim pra Morgaua as coisas. Eu acho. E una cola distaica, A geate ado fica ua teats, Nt, Na eoria ut, BM: (cortando) Ent voct acha que a discustio,o que rabalha aqui nko se perde, ermanece no dina ia da GED? EM: Toda hora (LaPEADE, Bloco de Anexos p16). D: Iso foi o que eu ache! mals bacana da oura reunite, Porque o que aconteceu: as pesos Droduzem questdes, elas pensam a respeito de um deerninado assuno e elas estievem Entto, isco &bacana pra gente esta cnliecendo (LAPEADE, Bloco de Anex0s,p242)- F Ta exist momento ue a geat eve formagao. -MG; Mas o que ela ti colocando€o segue: como que a gete lo v8 este momento com o LaPEADE, como um momento de fome¢80, E:E pore a gente fea focado no pedagigico, MG: acho que & 0 conceito que ela th trazendo, FA gente sempre acha que é uma coisa mais tebtiea (LAPEADE, Bloco de Anexo, p. 188) doa alfnbetizagbo, Apés esse momento de tomada de consciéncia sobre o proprio encaminhamento da pesquisa, comum em pesquisa-agdo, tendo em vista seu cariter flexivel, transformador e reflexivo-ativo, a equipe gestora percebeu que muitas coisas jé haviam sido modificadas no trabalho da equipe, consideradas positivas. Além disso, ainda tinham o desejo de permanecer eee ere ter ey en ny ene eT cen sy lus. eee com o desenvolvimento do Index, julgando ser necessirio para a minimizagio de barreiras 4 Patticipagao e a aprendizagem no proprio relacionamento da Geréncia. © desenvolvimento do Index n0 contexto da Geréncia de Educagdo durou cerea de dois anos em um processo de reflexio e aco continuo, ¢ fortemente atrelado ao carter formativo de seus participantes. As principais categorias de reflexdo/agao que surgiram diante do contato com o Index foram: acolhimento; organizagao; conhecimentos; relagio GED ¢ comunidade extema; colaboracdo; diversidade de opinides; e participagio. Essas categorias, durante do trabalho com os planos de agi, tornaram-se essenciais para a GED (revisitar suas culturas, politicas e priticas de gestao e de inclusio em Edueagio. Segundo Senna (2017), como resultados, a pesquisa mostrou que o desenvolvimento do Index na GED proporeionou a equipe: um proceso de auto reviséo de culturas, politicas e priticas de gestio e de inclusio em educagio; um olhar mais atencioso e de acolhimento as diferengas; construgio de um PPP proprio da GED; mudangas nas equipes de trabalho ¢ nos planejamentos tendo em vista acompanhamento das escolas; além de momento de formagao contimmada em equipe. E possivel notar que a quantidade de pesquisas envolvendo esse material de auto revisio nao é pequena. Considerando que o Index teve sua primeira publicagio em 2002 no Brasil, pode-se questionar que poderiamos ter avangado mais em termos de pesquisa Entretanto, como ji definido anteriormente, o Index no se trata de um instrumento aplicavel. Ele precisa ser desenvolvido ¢ esse desenvolvimento nao pode ser em tempo curto, ja que a reflexio, seu prineipal objetivo, nio é estanque. Um proceso de auto revisio demanda tempo para reflexdo-acdo-reflexdo e, ainda, precisa ser coletivo, participativo e democritice, Ou seja, ndo deve ser imposto pelos pesquisadores, mas demandado pelos contextos de cada instituigo educacional Concluséo Pretendemos com o presente artigo realizar um breve panorama acerca do uso do Index para Inclusio e sua importincia para a reflexdo sobre os processos de inclusio e exclusio em Educagdo, por meio de relatos de experigncias de pesquisa em que o instrumento foi utilizado seja como referencial tedrico seja como referencial metodologico. Ressaltamos que, com a finalidade de organizar e fortalecer os trabalhos com esse material de auto revisio, os paises que utilizam o Index para Inclusio constituiram uma Rede Internacional do Index DeLeon cnt 1es Pereira Senna Vasconcelos da Silva, Re} ‘Souza Correia Pinto, Carolina Barreiros de Lima para Inclusio6. Essa rede tem por objetivo conectar ideias sobre o uso desse instrumento, compartilhando experiéncias que envolvem escolas e outras instituigdes de educagao. E uma forma de nfo apenas divulgar o Index para Inclustio como também criar uma comunidade que se ajude, compartilhando valores inclusivos. Além do seu uso com lideranga do LaPEADE, ha 14 anos, outros estados brasileiros (Sao Paulo, Alagoas) demostraram interesse em participar da Rede Internacional do Index para Inclusio, Consideramos de extrema importineia que o Index seja desenvolvido em outros Estados do Brasil. Se queremos uma Educagdo sem barreiras & aprendizagem e a participagio, mais democritica e desejada por seus professores e alunos, temos muito o que discutir e, prineipalmente, agir e esse documento tem a capacidade de oferecer profundas reflexdes mudangas, se trabalhado com a seriedade que merece, pois temos em maos um arcabougo de materiais que convidam ao didlogo e propdem iniciativas compartilhadas em prol da incluso, No momento, temos entendido a importincia de investirmos em pesquisas com as gesties. Isso porque no Brasil, nossa rede pilbliea de escolas nao apresenta autonomia no que tange a culturas, politicas e priticas. Principalmente por questdes politicas, as escolas nao t&m tido espago para se colocarem e agirem em determinadas situagdes, pois devem explicagdes as suas seeretarias que acabam, por sua vez, inibindo determinadas ages. Estamos inseridos em uma cultura nfo democritica na qual os professores nao planejam suas avaliagdes, sendo as mesmias definidas por uma seeretaria que nao respeita a diversidade de escolas e sujeitos nelas inseridos. Nesse sentido, avangar as diseussdes com o Index em nivel de gestio tem nos dado esperanga de repensar sobre essa cultura nfio democritica e ndo participativa da Edueagio. Diante do objetivo proposto por este artigo, consideramos fundamental compartilhar as experiéncias de pesquisa relacionadas ao uso do instrumento Index para Inclusio, Por se tratar de um instrumento com alto potencial para reflexdo e ago sobre culturas, politicas priticas de inclusio, o conhecimento sobre seu uso € possibilidades amplia 0 campo dos estudos acerca dos processos de incluso e exclustio em Edueacdo, Desse modo, esperamos com este trabalho, para além da divulgacio do uso do instrumento, demonstrar como o mesmo tem sido adaptado e desenvolvido no contexto educacional brasileiro, enriquecendo a consolidada Rede Internacional do Index para Inclusio. £ Disponivel em bp: www. index orinclusion org/index php Horizonte, v. 7, n. 14, jul ee REFERENCIAS BARBIER, R. A pesquisa-acio na instituicdo educativa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985 BOOTH, T; AINSCOW, M. 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