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UNIDADE CURRICULAR: Antropologia Geral

CÓDIGO: 41098

DOCENTE: Lúcio Manuel Gomes de Sousa

A preencher pelo estudante

NOME: Acácio Manuel Ferreira Alexandre

N.º DE ESTUDANTE: 1903003

CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais

DATA DE ENTREGA: 13/12/2020

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Tradicionalmente são referidas quatro grandes teorias clássicas que marcaram
a progressão da teoria em antropologia: o evolucionismo, o difusionismo, o
funcionalismo, e o estruturalismo (Sousa, 2019, p. 62).
No período da “pré-história” da antropologia, vigoravam duas ideias sobre o ser
humano: a de que a humanidade tinha várias origens e por isso as raças eram espécies
diferentes – o poligenismo; e a ideia que a humanidade tinha uma única origem – o
monogenismo. Darwin estabeleceu a ideia que todos os seres vivos descendem de uma
só origem. Com uma única origem, as diferenças entre as sociedades eram diferentes
patamares e ritmos de evolução (Cunha, 2016, p. 38). Guiados pela ideia que as
sociedades e culturas evoluem tal como as outras espécies, os evolucionistas passaram
a olhar para o Outro para procurar e comparar essas diferenças e ritmos de evolução,
e a metodologia evolucionista baseava-se numa abordagem dedutiva e no método
comparativo (Sousa, 2019, p. 64). Com método científico, “na segunda metade do
seculo XIX, antropologia emergiu como ciência marcada pelo triunfo das ideias
evolucionistas” (Batalha, 2004, p. 34). A contribuição da escola evolucionista foi da
maior importância para o desenvolvimento da ciência antropológica (Santos, 2002, p.
97).
Ao dar carácter científico aos seus estudos, a teoria evolucionista foi decisiva
para que a antropologia, enquanto episteme, se afirmasse social e academicamente. As
restantes abordagens teóricas, como o difusionismo, funcionalismo e estruturalismo,
surgiram progressivamente, de forma não forçosamente sequencial, como reação e
crítica a outras teorias existentes, num processo contínuo de construção de
conhecimento.

A prática científica antropológica, durante muito tempo, limitou-se à simples


análise de gabinete das informações recolhidas por terceiros (Santos, 2002, p. 110).
Nas duas primeiras décadas do seculo XX, dois antropólogos têm um papel decisivo na
implementação do trabalho etnográfico e da observação participante. Franz Boas e
Bronislaw Malinowski, os fundadores da etnografia (ibidem).
Boas (1858-1942), ainda nos finais do seculo XIX, guiado pela ideia de que cada
cultura é única e deve ser analisada no seu contexto cultural (noção posteriormente
intitulada de relativismo cultural), foi pioneiro ao organizar expedições para observar os
costumes e hábitos dos esquimós norte-americanos. Em 1901, como Curador do Museu
Americano de História Natural organizou a pesquisa, a recolha e registo das
características físicas, cultura, arte e idiomas de esquimós, nas quais incluiu artefactos,
fotografias e filmagens (Luiz, 2013). Estabeleceu uma recolha exaustiva de informação
no terreno, efetuada de forma rigorosa, e uma descrição meticulosa e minuciosa do
observado.
Malinowski (1884-1942), em 1915, estabeleceu-se numa aldeia das ilhas
Trobriand, onde durante quase dois anos participou e partilhou a vida quotidiana e as
rotinas daquele povo, aprendeu a sua língua, registando metodicamente o que
observava (Tischler, 2015). Instituiu a observação participante como método de
investigação, com estadia prolongada no tempo e vivência da vida diária do Outro para
recolha de informação, e a aprendizagem da língua como elemento essencial no
trabalho de campo.

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Hodiernamente, a atividade antropológica de recolha de informação através da
observação participante, ainda continua a ser um dos principais métodos de
investigação antropológica.

Além das escolas clássicas suso referidas, surgiram outras escolas e teorias que
procuram explicações para a diversidade cultural que observam, apreciando as
fragilidades de outras teorias para propor novas abordagens ou novas correntes de
pensamento. Propõe-se uma brevíssima súmula geral.
Para o evolucionismo, a cultura e as sociedades evoluíram tal como as outras
espécies, a partir de formas mais simples para outras mais complexas (Batalha, 2004,
p. 35). Assim, as sociedades e as culturas, evoluindo de forma uniforme e progressiva,
passariam por um conjunto de três estádios, começando pela mais simples, a selvajaria,
passando pela barbárie, e terminando na mais complexa, a civilização.
O difusionismo, também conhecido por historicismo, foi uma reação ao
evolucionismo (Sousa, 2019, p. 68). Segundo os difusionistas a semelhança de
características culturais numa determinada área era explicada pela difusão a partir de
um centro (Batalha, 2004, p. 38). Se para a escola inglesa o centro da difusão tinha sido
o Egipto, a escola germano-austríaca defendia que a difusão tinha tido início em vários
locais.
O particularismo histórico é considerado um ramo do difusionismo (Batalha,
2004, p. 71). Associado a Franz Boas (1858-1942), defendia que cada cultura é única,
e assim devia ser observada e compreendida, de forma holística e com trabalho no
terreno, pois os comportamentos das outras culturas só podem ser compreendidas no
contexto cultural onde ocorrem (Sousa, 2019, p. 72).
A escola do configuracionismo, também conhecido como culturalismo
americano, surgiu pela insatisfação de vários discípulos de Boas com o particularismo
histórico, e destaca a relação da cultura com a personalidade dos seus membros, estuda
como os indivíduos adquirem a cultura e como esta se relaciona com a personalidade
individual (Sousa, 2019, p. 75).
O funcionalismo estuda a sociedade em termos de organização e funcionamento
do sistema social, procura descrever as instituições culturais, explicar a sua função e
demonstra a sua contribuição para a estabilidade social (Sousa, 2019, p. 85). Está
associado a duas escolas. No funcionalismo psicológico de Malinowski (1884-1942), as
instituições culturais funcionam para responder às necessidades físicas e psicológicas
das pessoas em sociedade. O funcionalismo estrutural de Radcliffe-Brown (1881-1955),
procura compreender como as instituições culturais mantinham o equilíbrio e a coesão
das sociedades.
No estruturalismo, a cultura, expressa através dos rituais, da arte, e do
quotidiano, é a manifestação de uma estrutura mental inerente à espécie humana,
estrutura profunda na mente humana, única e universal (Batalha, 2004, p. 44). Existem
elementos universais nos mecanismos do pensamento humano, e o estruturalismo
procura descobrir a regras estruturantes das culturas na mente humana. As diferentes
línguas e mitos de cada cultura, são o “produto de padrões universais de pensamento
inconsciente” (Sousa, 2019, p. 91).
Novas abordagens e diferentes perspetivas. Assoma um neoevolucionismo, com
abordagens diferentes de como a cultura se adapta e evolui com resultado da interacção

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com os ecossistemas. Emerge um neofuncionalismo que considera que a organização
social e a cultura resultam da adaptação ao meio ambiente. Desponta o neomarxismo
ou dinamitismo, que analisa a dinâmica das sociedades. O neodarwinismo introduz a
genética no estudo da evolução da sociedade ao seu meio ambiente. O pós-
estruturalismo sucede ao estruturalismo, desconstruindo a estrutura, criticando a
tradução do significado do que se observa e a verdade com uma construção histórica
da sociedade. O desenvolvimento de uma antropologia feminista enfatiza o papel da
mulher nas sociedades. A dicotomia da antropologia interpretativa e da antropologia
científica, visões diferentes que podem ser complementares.
E numa luta fratricida, as diferentes teorias e escolas reagem aos paradigmas
das outras, criticam-se mutuamente, estimulam-se, renascem. As teoria e escolas
devoram-se mutuamente e asseguram, pela sua luta, a continuidade da evolução do
saber na antropologia.

REFERÊNCIAS:

Batalha, L. (2004). Antropologia – Uma Perspectiva Holística. Universidade Técnica de


Lisboa, ISCSP.

Cunha, M.I. (2016). Cultura, diversidade, diferenciação. Um guia elementar.


CICS.NOVA.UMinho.
http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cics_ebooks/issue/view/213

Luiz, F. H. (2013, setembro 11). Estranhos no Exterior - As Correntes da Tradição (Franz


Boas) [Vídeo]. You Tube. https://www.youtube.com/watch?v=zK5lYPeAbDM

Santos, A. (2002). Antropologia Geral – Etnografia, Etnologia, Antropologia Social.


Universidade Aberta.

Sousa, L. (2019). Textos de Antropologia Geral 19/20. Universidade Aberta.

Tischler, Y. T. (2015, abril 23). Estranhos no Exterior: Fora da varanda (Bronislaw


Malinowski) (Strangers Abroad) [Vídeo]. You Tube.
https://www.youtube.com/watch?v=Qn_gLroH3bQ

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