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É muito importante a classificação de feridas já que elas

não são tratadas da mesma forma, o objetivo do A classificação das feridas varia de acordo com a
tratamento de feridas é corrigir um defeito funcional existência de efracção da pele, mecanismo de lesão,
e/ou estético associado e evitar que ocorra sepse pois grau de lesão tecidual, grau de contaminação e cor.
a contaminação é muito comum já que ocorre perda Sendo assim, para classificar as feridas, é necessário
da barreira de proteção. Muitas vezes o manejo da primeiro saber a etiologia da lesão e controla-la.
ferida é a última coisa a se fazer, deve-se primeiro
manter os parâmetros vitais do animal, seguindo o
ABCDE do trauma e proteger a ferida para evitar uma  Abrasão
contaminação maior Nesse caso, a pele é friccionada contra uma superfície
A: Airway: Vias aéreas: Avaliação em busca de sinais de áspera por uma força de atrito, sendo assim, parte do
obstrução, inspeção de corpos estranhos, aqui deve-se tecido que sofreu abrasão vai estar exposto causando
iniciar medidas para estabelecer uma via área, podendo uma sensibilidade à pressão e ao toque, dependo do
ser por intubação orotraqueal. grau de força de atrito e de qual camada da pele atingiu,
geralmente essas feridas sangram menos.
B: Breathing: Respiração e ventilação: A ventilação
requer o funcionamento adequado dos pulmões,  Avulsão
pleuras, das paredes torácicas e do diafragma, portanto Separação da pele (completa ou parcial) devido a
deve-se avaliar cada um desses. Deve-se expor o trações violentas, ocorre com mais frequência em
pescoço e o tórax do paciente e realizar inspeção, membros, pálpebras e mandíbula. Deve-se ter uma
palpação e ausculta para se certificar do fluxo aéreo atenção maior a essa ferida pois ocorre grande perda
pulmonar. do tecido, sendo assim, as consequências são mais
C: Circulation: Circulação e controle hemorrágico: severas.
Verificar sinais de hemorragias e se ela é interna ou  Incisão
externa, caso seja externa deve-se estancar
imediatamente com pressão manual, as principais áreas Lesão feita com objeto cortante ou com extremidade
de hemorragia interna são tórax, abdome, aguda, como a incisão cirúrgica, as bordas da ferida são
retroperitônio, pelve e ossos longos e a fonte de uniformes e o trauma tecidual é mínimo e são fáceis de
sangramento é identificada por exame físico de imagem, serem tratadas.
o manejo pode incluir drenagem torácica e aplicação de  Laceração
dispositivo estabilizador, sendo o manejo definitivo
cirúrgico. Lesão na pele e/ou tecidos que forma bordas
irregulares, podendo ser superficial ou profunda
D: Disability: Disfunção neurológica: Avaliação neurológica
rápida para estabelecer o nível de consciência do  Perfuração
paciente, a reação pupilar determina o nível de lesão da Ferida criada por objeto pontiagudo, por exemplo,
medula, se houver, a diminuição da consciência pode projéteis, arma branca e mordedura, tem-se uma lesão
indicar diminuição da oxigenação e/ou perfusão mínima na pele, porém com uma maior profundidade,
cerebral. por isso, avaliar o dano, a extensão e a profundidade
E: Exposure: Exposição e controle da temperatura: para um melhor tratamento pois tem riscos maiores de
Colocar o paciente no tapete térmico para evitar contaminação, não se deve fechar nunca.
hipotermia, aquecer os fluidos intravenosos antes de  Contusão
infundi-los e manter o paciente aquecido.
Nesse caso o traumatismo é fechado, isto é, a pele fica quando atinge mais de 50% do corpo, por isso, a
sem efracção isso diminui o risco de contaminação, extensão da queimadura é um parâmetro muito
sempre realizar a tricotomia para avaliar a intensidade e importante.
extensão da lesão, bem como a força do choque. As o 4º grau: A queimadura se estende para abaixo da
contusões são classificadas em 3 graus: hipoderme, atingindo tecidos profundos, músculos
e ossos.
o 1º grau: Leve com pequenas lesões nos capilares
e subcutâneo, pode passar despercebido devido As principais causas de queimaduras são fogo, água
ao pelo, pode haver dor local e a coloração roxa quente, corrente elétrica, escapamento de automóveis,
o 2º grau: Hematoma, tem uma maior intensidade, radiação solar, produtos químicos e aquelas feitas por
ocorre extravasamento sanguíneo devido a veterinário: falhas na eletrocautério (não exagerar, pois,
ruptura de vasos calibrosos. O tratamento pode ser está queimando o animal), colchão térmico e
a partir da reabsorção do coágulo, fazendo aquecedores.
drenagem cirúrgica ou hialuronidase.
 Mistas
o 3º grau: Trituração das partes moles, ocorre
ruptura de vasos maiores, de vasos menores e Esmagamento (contusão e laceração), por exemplo,
morte celular (necrose) de grande quantidade de atropelamento, desabamentos, entre outros, inciso-
tecido por pressão, isso vai originar tecidos mortos contusa e perfuro-incisiva.
que vão gangrenar e circunscrever a lesão.
 Queimaduras
Qualquer força que supere a elasticidade da pele vai
Classifica-se por grau de comprometimento dos tecidos,
gerar uma lesão temporária causando uma perda
importante destacar que na maioria das vezes só vamos
tecidual.
saber a profundidade da lesão quando debridar e
remover a crosta de tecido necrótico, se houver, mas  Cisalhamento
lembrando que primeiro deve-se avaliar o estado geral
Ferida a partir de objetos cortantes como facas, vidros
do paciente e depois se preocupar com a ferida. As
e superfícies cortantes.
queimaduras podem trazer algumas alterações
fisiológicas como choque hipovolêmico e déficit  Compressão/esmagamento
nutricional devido à perda de fluidos, eletrólitos e
Objeto atinge a pele em ângulo reto, a lesão fica com
proteína, injúria por inalação devido edema, obstrução
formato irregular.
das vias aéreas superiores e hipóxia, diminuição do
débito cardíaco, anemia, acidose metabólica  Tensão
comprometendo a respiração, diminuição do fluxo
Ocorre por impacto tangencial ou angular (objeto não
sanguíneo podendo originar IRA, edema hepático,
cortante).
toxicidade, entre outros:
o 1º grau: Superficial, atinge a epiderme com
presença de eritema, hiperestesia ao toque (dor),
tem uma rápida cicatrização por epitelização  Ferida limpa
espontânea. Ambiente controlado, como uma ferida cirúrgica, não
o 2º grau: Parcial, uma variável estrutura da derme contaminada pois foi feita em sob condições assépticas,
envolvida, causa edema, inflamação intensa, dor, seguindo todas as normas de assepsia do cirurgião, são
fáceis de serem tratadas e podem ser suturadas.
perda de fluídos, ocorre perda dos anexos da pele
 Ferida limpa-contaminada
como o folículo piloso (não há renovação dos
Há baixo potencial de contaminação pelo tempo
pelos), demora meses para cicatrizar. decorrido (6 horas), por isso, geralmente é administrado
o 3º grau: Profunda, ocorre a destruição total da antibióticos antes da cirurgia, são feridas de
epiderme, derme e hipoderme, tem-se sinais procedimentos cirúrgicos que envolvam sistema
sistêmicos, lesões severas na pele, perda de fluidos, respiratório, urogenital, gastrointestinal, podem ser
infecções e alterações metabólicas, leva a morte suturadas.
 Ferida contaminada
A ferida já tem uma infecção/contaminação instituída,  Locais
como por exemplo, por objeto sujo ou mordedura, é o Infecção
traumática e aberta entre 6 a 12 horas ou o Presença de corpo estranho
procedimentos cirúrgicos utilizando técnicas não o Necrose
estéreis. Essa ferida não pode ser suturada antes de um o Isquemia
tratamento prévio como lavagem, drenagem, uso de o Sutura da ferida sob tensão
antibióticos e/ou debridação, pois o organismo não vai o Hematoma
responder contra a bactéria já que o tecido está o Seroma
lesionado e a sutura é vista como material estranho no o Espaço morto
animal. Caso seja necessário, pode-se fazer pontos de Os três últimos favorecem a infecção, por isso é
aproximação, mas sem fechar a ferida. importante drenar o conteúdo.
 Ferida infectada-suja  Sistêmicos/do animal
Ferida traumática com mais de 12 horas de exposição, o Diabetes mellitus
contendo infecção, presença de corpo estranho, o Síndrome de Cushing
exsudato, tecido desvitalizado, víscera perfurada ou pus. o Hipoproteinemia
Qualquer cirurgia/ferida envolvendo o sistema o Anemia (hipóxia tecidual)
gastrointestinal e coxins é vista como infectada-suja, o Uremia
sendo assim, não pode suturar sem um tratamento o Choque hipovolêmico
prévio, da mesma forma que a ferida contaminada. o Idade
o Estado nutricional
o Leucemia felina
 Grau I o PIF
Apenas a epiderme é atingida  Tratamento
 Grau II o Corticoides
Perda tecidual e comprometimento da epiderme, o Quimioterápicos
derme, sendo considerada abrasão ou úlcera. o Terapia inadequada (fios de sutura
 Grau III errados, subdose de antibióticos,
Presença de úlcera profunda, envolvimento total da pele intervalos erroneos de doses de
e necrose de tecido subcutâneo, não se estende até o antibióticos, falta de limpeza, medicação
músculo tópica inadequada)
 Grau IV Nesse caso deve-se suspender o uso ou evitar
Extensa destruição de tecido, chegando a ocorrer lesão administrar esse fármaco.
óssea ou muscular.

De acordo com a cor  Estimulantes elétricos neuromusculares que


 Vermelha aumentam o fluxo sanguíneo causando
Indica processos mais agudos, tecido de granulação que vasodilatação e relaxando o músculo
está reparando a pele.  Massagem com movimento pulsátil, aumenta a
 Amarela pressão tecidual, fazendo uma drenagem
Indica a presença de exsudato, secreção ou formação linfática e diminuindo produtos inflamatórios.
de crostas, nesse caso é necessária limpeza para que  Ondas de choque, aumentam o fluxo de sangue,
não ocorra sempre as crostas que dificultam a a atividade enzimática, a permeabilidade celular
cicatrização. e a síntese proteica promovendo uma melhor
 Preta reparação tecidual e alívio da dor.
Indica tecido necrótico (morto) que retarda a  Acupuntura
cicatrização e favorece a proliferação de  Laser terapia aumenta a reparação tecidual e o
microrganismos, esse tipo de ferida precisa de fluxo sanguíneo, é bom para cicatrizar mais
debridamento cirúrgico para remover todo o rápido em casos complicados.
tecido morto até ver o tecido sangrando (sinal de que
está vivo).
Sempre que ocorre uma lesão, tem-se em seguida uma
sequência de eventos que visam restaurar a superfície
da pele, reparando o tecido lesionado. A profundidade infecção para poder fechar. Esse tipo de cicatrização
da lesão que determina a sequência desses eventos aplica-se para feridas contaminadas.
 Cicatrização por primeira intenção
Nesse tipo, as bordas da cicatrização das feridas são
aproximadas através de suturas/grampos. As feridas que 1. Fase inflamatória e de hemostasia
passam por esse tipo de cicatrização são feridas limpas Tem a duração média de 3 dias, ocorre inicialmente a
ou limpas-contaminadas (com bordas limpas e regulares ruptura de vasos sanguíneos e o extravasamento de
e perda mínima de tecido), a cicatrização ocorre por sangue, ativando a cascata de coagulação com
epitelização (células epiteliais migram e se replicam via participação também de neutrófilos e macrófagos, os
mitose e atravessam a ferida) com a formação mínima vasos sanguíneos se contraem e as plaquetas se
de cicatriz já que houve o mínimo de destruição tecidual. reúnem para estancar o sangramento e formar o
 Cicatrização por segunda intenção coágulo, importante para a hemostasia, o tecido
Nesse caso, os bordos da ferida estão distantes, há uma lesionado juntamente com os mastócitos secretam
perda tecidual maior, bordas irregulares, presença de histamina que produz vasodilatação do tecido adjacente
necrose, contaminação microbiana elevada, demora favorecendo a reparação da lesão. Nessa fase ocorre os
mais para cicatrizar e a cicatrização nesse caso é feita sinais da inflamação como eritema localizado, edema,
por tecido de granulação abundante, contração da ferida calor e latejamento, todos esses sinais são benéficos e
e epitelização, tendo a formação de cicatrizes não precisam de intervenção, são importantes para o
irregulares e pronunciadas. Deixa-se a ferida aberta até reparo tecidual. Os objetivos dessa fase são: Controlar a
sua cicatrização, mas pode fechar para evitar mais perda sanguínea, estabelecer o controle bacteriano e
contaminação. vedar a lesão
 Cicatrização por terceira intenção 2. Fase proliferativa
Tem duração média de 3 a 24 dias. Nessa fase ocorre
Nesse caso a ferida é deixada aberta por vários dias para a epitelização do tecido que oferece uma proteção, o
realização da limpeza com drenagem do exsudato, aparecimento de novos vasos sanguíneos, formação do
debridamento do tecido, removendo os tecidos mortos, tecido de granulação e contração da ferida que
e ação de antibióticos e depois desse tratamento inicial, preenchem a falha no tecido.
as bordas são aproximadas através de suturas, enxertos 3. Fase de maturação (remodelação)
ou retalhos, avaliando bem se o corpo já debelar a Pode ter uma longa duração, chegando a durar mais de
um ano, nessa fase tem-se a etapa final do processo de
cicatrização com a continuidade da reorganização e do
fortalecimento da cicatriz de colágeno, as fibras de
colágeno orientam-se paralelamente às linhas de tensão
que se cruzam formando uma ligação mais estável.

A anamnese é importante para sabermos as


morbidades, quais problemas poderiam ter para uma
boa cicatrização e a causa da lesão para fazer exames
complementares. Instituir o ABCDE do trauma caso
necessário (houve lesão neurológica? O sangramento
está ativo? Qual o tempo decorrido da lesão? Verificar
o estado geral para uma possível sedação). Fazer
sedação ou anestesia devido ao processo doloroso, para
conter o animal e para avaliar a ferida de modo mais
preciso. Proteger a ferida com compressas ou
bandagens temporariamente para evitar mais
contaminação.
 Realizar uma limpeza com remoção de grandes
sujidades - Principalmente em traumas, retirar o
macroscópico
 Tricotomia - Não adianta limpar e deixar o pelo
pois ele vai ficar com secreção, pode ficar úmido
com a lavagem, pode predispor piodermites e
proliferação bacteriana, na região mais afastada
tira com a máquina de tricotomia pois é mais
rápido e causa menos lesão para a pele e na
área úmida e mais próxima à lesão usa a gilete,
cobrir a ferida com gaze ou gel estéril para
evitar que o pelo caia nela
 Lavagem - Tem função de remover os debris
e redução no número de bactérias, nesta
lavagem, pode usar antisséptico como
clorexidine, porém diluir pois muito concentrada
causa retardo da cicatrização.
 Remoção de tecidos desvitalizados - Pode ser
feito de forma física com a tesoura ou de forma
química com o uso de pomadas como a
colagenase que digere o tecido morto e é
absorvida por um curativo aderente.
 Fechamento ou bandagens - Pode fechar de
forma cirúrgica ou deixar ferida aberta e fazer
curativo para cicatrização, o objetivo do curativo
vai ser acolchoar uma região anatômica,
promover proteção contra agentes externos,
absorver secreções pois a umidade ajuda a
proliferação de bactérias, e aderência a tecidos
necróticos.

 Aderentes: Compressas e gases são hidrófilas,


utilizadas em tecidos desvitalizados, conforme a
troca do curativo, o tecido morto sai junto com
ele.
 Não aderentes: Atadura tipo Rayon, gel estéril,
não remove células, utilizado em feridas com
tecido de granulação
 Absorvente: Na segunda camada, em cima da
gaze por exemplo, o algodão hidrófilo absorve
líquidos e é utilizado quando há secreções.
 Não absorvente: Algodão hidrófobo/ortopédico,
que não absorve líquido, utilizado caso a fria não
tenha mais secreções.

1. Camada de contato ou primária


2. Camada intermediária ou secundária (pode ser
absorvente ou não)
3. Camada externa ou terciária (de sustentação) -
atadura, esparadrapo, entre outras.

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