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RECLAMAÇÃO Nº 43989 - RS (2022/0279861-9)

RELATOR : MINISTRO MANOEL ERHARDT (DESEMBARGADOR


CONVOCADO DO TRF5)
RECLAMANTE : DINAIR DE ALMEIDA LOPES
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
RECLAMADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL
INTERES. : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROCURADOR : ALESSANDRA FLORES WAGNER - RS046259

DECISÃO

RECLAMAÇÃO. LIMINAR. PEDIDO DE SUSPENSÃO DE AÇÃO QUE


PLEITEIA O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS EM RAZÃO DAS
DETERMINAÇÕES CONTIDAS NA DECISÃO QUE AFETOU O TEMA DO IAC
14/STJ. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. NÃO CABIMENTO DA
RECLAMAÇÃO PARA DESTRANCAR RECURSO ESPECIAL E
EXTRAORDINÁRIO. PRECEDENTES. CONTEXTO DOS AUTOS QUE
REVELA O AMPLO DEBATE, POR VIA PRÓPRIA, DA QUESTÃO ATINENTE
À PRESENÇA DA UNIÃO NO POLO PASSIVO DA CAUSA ORIGINÁRIA.
RECLAMAÇÃO NÃO CONHECIDA. PEDIDO LIMINAR PREJUDICADO.

1. Trata-se de reclamação com pedido liminar ajuizada, com


fundamento no art. 105, I, “f”, da CF/1988, por DINAIR DE ALMEIDA LOPES,
em razão do acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
que manteve decisão da Vice-Presidência daquela Corte que negou seguimento
ao recurso extraordinário com fundamento no Tema 793/STF.

2. Aponta a orientação, firmada pelo Superior Tribunal de Justiça


no Incidente de Assunção de Competência 14, de que os juízes estaduais
devem abster-se de praticar quaisquer atos judiciais de declinação de
competência nas ações que discutem o fornecimento de medicamentos não
incluídos nas políticas públicas, mas devidamente registrados na ANVISA.

3. Nesse contexto, postula, já em sede liminar, pela suspensão do


ato judicial impugnado e manutenção do trâmite do feito.

4. É o relatório.

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: sexta-feira, 30 de setembro de 2022


Documento eletrônico VDA34030404 assinado eletronicamente nos termos do Art.1º §2º inciso III da Lei 11.419/2006
Signatário(a): MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT Assinado em: 29/09/2022 15:51:27
Publicação no DJe/STJ nº 3488 de 30/09/2022. Código de Controle do Documento: 35e1432f-d88d-4be4-b818-13a8f8910b43
5. Inicialmente, é importante ressaltar que o presente recurso atrai
a incidência do Enunciado Administrativo 3 do STJ, segundo o qual aos
recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de
admissibilidade recursal na forma do novo CPC.

6. A reclamação prevista no art. 105, I, "f", da CF/1988, bem como


no art. 988 do CPC/2015, constitui instrumento processual destinado à
preservação de competência (inciso I), a garantir a autoridade das decisões do
Superior Tribunal de Justiça (inciso II) e à observância de acórdão proferido em
julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de incidente
de assunção de competência (inciso IV e § 4º).

7. Na espécie, a parte ora requerente pretende fazer valer decisão


desta Corte que, no julgamento da questão de ordem suscitada nos Conflitos
de Competência 187.276/RS, 187.533/SC e 188.002/SC, determinou que, até
o julgamento definitivo do incidente de assunção de competência (IAC), o juiz
estadual deverá abster-se de praticar qualquer ato judicial de declinação de
competência nas ações que versem sobre tema idêntico ao objeto do IAC, em
atenção ao princípio da segurança jurídica, de modo que o processo deve
prosseguir na jurisdição estadual.

8. Na forma como apresentada, revela-se inadequada a via eleita.

9. Com efeito, na espécie, a parte autora pretende utilizar-se da via


da reclamação com a intenção de destrancar o prosseguimento de seu recurso
extraordinário, destinação esta rechaçada pela jurisprudência desta Corte. A
propósito, colhem-se precedentes:

AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. RECURSO ESPECIAL


REPETITIVO. ACÓRDÃO. OBSERVÂNCIA. NÃO CABIMENTO.

1. O recurso cabível contra a decisão que não admite recurso


especial é o agravo do artigo 1.042 do Código de Processo Civil de 2015,
exceto quando a inadmissão ocorrer em virtude da conformidade entre o
acórdão recorrido e o entendimento firmado em paradigma repetitivo, não
sendo esta a hipótese dos autos.

2. O insucesso do recurso adequadamente interposto não abre a


via da reclamação, a qual não se presta como sucedâneo recursal.

3. Agravo interno não provido. (AgInt na Rcl n. 38.818/MG, relator


Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Segunda Seção, julgado em
17/3/2020, DJe de 24/3/2020.).

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AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. APLICAÇÃO INDEVIDA DE
TESE FIRMADA EM RECURSO REPETITIVO. NÃO CABIMENTO.
PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL DO STJ. RCL 36.476/SP. ALEGAÇÃO
DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA NÃO EVIDENCIADA.

1. A reclamação constitucional constitui demanda de


fundamentação vinculada, ou seja, cabível tão somente nas situações
estritamente previstas no artigo 988 do CPC.

2. Para que a reclamação constitucional seja admitida, é


imprescindível que se caracterize, de modo objetivo, usurpação de
competência deste Tribunal ou ofensa direta à decisão aqui proferida,
circunstâncias não evidenciada nos autos.

3. O STJ, por meio de sua Corte Especial, no julgamento da Rcl


36.476/SP, consagrou entendimento acerca da impossibilidade do manejo
da reclamação para exame de indevida aplicação de precedente oriundo
de recurso especial repetitivo.

4. Nos termos do enunciado 77 da I Jornada de Direito Processual


Civil, para impugnar decisão que obsta trânsito a recurso excepcional e
que contenha simultaneamente fundamento relacionado à sistemática dos
recursos repetitivos ou da repercussão geral (artigo 1.030, I, do CPC) e
fundamento relacionado à análise dos pressupostos de admissibilidade
recursais (artigo 1.030, V, do CPC), a parte sucumbente deve interpor,
simultaneamente, agravo interno (artigo 1.021 do CPC) caso queira
impugnar a parte relativa aos recursos repetitivos ou repercussão geral e
agravo em recurso especial/extraordinário (artigo 1.042 do CPC) caso
queira impugnar a parte relativa aos fundamentos de inadmissão por
ausência dos pressupostos recursais. Hipótese em que a parte se limitou a
interpor agravo interno de competência do Tribunal de origem abrangendo
todas as matérias constantes do recurso especial.

5. Agravo interno não provido. (AgInt nos EDcl na Rcl n.


42.019/SP, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado
em 15/3/2022, DJe de 18/3/2022.).

10. De todo modo, verifica-se que a questão relativa ao


litisconsórcio passivo necessário foi suficientemente debatida na Corte
Estadual, ocasião em que o Tribunal determinou a intimação da parte autora
para incluir a União no polo passivo (fls. 84/90).

11. Nesse contexto, não se observa o desrespeito à autoridade do


julgado proferido por este STJ na apreciação da questão de ordem suscitada
nos Conflitos de Competência 187.276/RS, 187.533/SC e 188.002/SC, visto
que não foi obstaculizado o debate, por via própria, acerca da legitimidade da
União para integrar o polo passivo da ação originária, debate este que ocorreu
muito antes da instauração do IAC em comento.

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: sexta-feira, 30 de setembro de 2022


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Publicação no DJe/STJ nº 3488 de 30/09/2022. Código de Controle do Documento: 35e1432f-d88d-4be4-b818-13a8f8910b43
12. Ante o exposto, não conheço da presente reclamação. Fica
prejudicado o exame do pedido liminar.

13. Publique-se. Intimações necessárias.

Brasília, 29 de setembro de 2022.

MANOEL ERHARDT (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF5)


Relator

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: sexta-feira, 30 de setembro de 2022


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