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sey SISTEMAS VEDANTA WP IBV.) STMT ecr Te SUC Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicagie poderd ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro me‘o, eletrOnico ou mecanieo, incluindo fotocdola, gravagao ou qualquer outro tine de sistema de armazenamento e transmissio de informacio, sem arévia autorizagao, por escrito, do Grupo Ser Educacioral Diretor de EAD: Enzo Moreira Gerente de desgn instruconal: Faule Kazuo Kato Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Games Coordenadera educacional: Pamela Marques Equige de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, La's Pessoa Designers grificos: Kamilla Moreira, Mitio Gomes, Sérgio Ramos Tiago da Racha llustradores: Anderson Eloy, Lulz Meneghel, Vinicius Manzi da Siva, Itala Daniela, Teoria ¢ sisternas / Itala Daniela da Siva Julio Cesar Carregarl. ~ Sdio Paulo: Cengage ~ 2020, Bibliografia ISBN 9786555583007 1, Teoria € sistemas em Psicologia 2. Psicologia 3. Carregari, Julio Cesar. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Malo, 254 -Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com 9 PALAVRADO GRUPOSEREDUCACIONAL e@ “€ através da educacdo que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, hd um maior desenvolvimento econdmicoe social para anacao. Ha alguns anos, o Brasil vive um periode de mudancas, e, assim, a educago também passa por tais transformagées. A demanda por mao de obra qualificada, 0 aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino Superior ganhasse forca e fosse tratado como prioridade para o Brasil. © Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego — Pronatec, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o Pais a qualificar seus cidadaos em suas formagées, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalizacao, além de garantir o exercicio da democracia com a ampliacao da escolaridade. Dessa forma, as instituigdes do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competéncias bdsicas da educacao de seus estudantes, além de oferecer- Ihes uma sdlida formacao técnica, sempre pensando nas ages dos alunos no contexto da sociedade,” Janguié Diniz ~ Autoria Itala Daniela da Silva fsiodlogn e superisora clinica Bacharela em Psicologta pelo Centro Universitario UniFavip e em Teologta vela Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras de Caruaru (Fafica), Doutoranda e mestra em Psicologia Clinica pela Universidade Catoica de Pernambuco {Unicap). Especialista em Educago moderva: metodologia, tendéncia e foco no aluno pela Pontificia Universidade Catalica do Rio Grande do Su’ {PUCRS). Julio César Carregari Psicélogo emestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesa) em Assis, onde iniciou a carreira dovente no ensine superior como professor substitute. No Amazonas, em diversas institu'gées publicas © privadas, trabalhou para o desenvolvimento aprefundamento cientifico das areas de Ps'cologia © Educagao até © ano de 2012. Licenciow se em Pedagogia e atualmente é professor da Rede Munietpal de Piracieaba Pratacio, 8 LURIDADE 1 - Os atravescamentos floséfices 90 pSiCOlOGiO cece nvrneennenne Introdusto. 10 1 Ralzes Flosoticas da Psicologia 0 2Dicotoria Mente e Corpo: InflBneas flosbticase ressonancias na asienlogia. 18 4 Discussties sobre inatoe adquiride no ser humano 2 0 4 Natureza e limites da psicologla 2 PARA RESUMAIR. REFERENCIAS BIELIOGRAFICAS.. LUNIDADE 2 - Matrizes e teorlas do pensamento psicolégico.. Introdusaa. 30 1 Reducionismo 2Abordagem etnocéatrica abordagem Transcultural 4 Determinismo/lvre Araitr. PARA RESUMIR. [REFERENCIAS BIELIOGRAFICAS.. LUNIDADE 3 - Construcdo do espace psicolégico: teorios e escolas. Invroducsa. 50 LAbo-dagens nomatiticas e Miograficas - st 2 Escolas da psicolog'a. 3 Mat-izes dopensamenta psicologica. 2 PARA RESUMIR. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS w. UNIDADE 4 - Psicologia(s) ea diversidade camo conhecimento, Introdugl.. 1 Fenomenologiae Exstencialsmo, 2A constituigo éa Pricolngia como ciéncia - a 3 Aunicidade ou pluralidade co objeto ¢a Fsicclogia.. 4 Principals tearias e sistemas atuais da Psicologia PARA RESUMIR. - as REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.. A Contabilidade tem varias divisées que se dedicam a drees especificas, como a Contabilidade Tributaria, também conhecida por Contabilidade Fiscal, que trata da administracéo dos tributos. A primeira unidade trataré do sistema de apuracao e alfquotas dos impostos, (05 procedimentos da escriturac&e contdbil e os de alguns métodos para calcular 0 tributos e saber como apurar os principals tributos, como Imposto de Renda, Contribuicdo Social sobre o Lucro Liquido, ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins. Aunidade 2 mostraré como é 0 pagamento dos tributos pelas empresase as técnicas para realizar 0 planejamento tributério. Falaremos sobre 0 fato gerador do imposta e © que fazer para que esse fato no ocorra, além de discorrer sobre procedimentos para uma eficiente elisio fiscal, A diferenca entre elisio e evasio fiscal também sera explicada nesta unidade. Detelharemos ainda sobre como realizar um diferimento do crédito tributdrio e uma eficiente gestéo de planejamento tributario, explicando os tipos de planejamentos existentes. Na sequéncia, serd apresentado o sistema de apuragao do crédito tributério, um importante assunto ligado @ Contabilidade Tributaria, As diferencas temporarias existentes entre o lucro liquido da empresa e 0 processo de registro e controle delas como essas diferencas afetam o lucro da empresa serdo discutidas nesta tercelra unidade, Por fim, abordaremos os procedimentos técnicos contabeis da constituic’o do crédito tributério, seu sistema de célculo, @ 0 funcionamento do registro das diferengas nos livros fiscais de apuracao de lucra liquida e da contribuigéo sacial do lucro liquide, além do sistema de informatizagio utlizedo hoe. nalizando este livro, a unidade 4 apresenta a contabilizagéo dos efeitos nos sistemas de regimes de tributacdo e por que 0 processo de registro e apuracéo dos ajustes fiscais depende do regime fiscal da empresa, Voc8 aprenderd que o regime de lucro real, lucro presumido e simples nacional se diferenciam no processo de contabilizaco. As caracteristicas dos regimes de tributacdo e as reservas de reavaliagio fecham a unidade. Bons estudas! UNIDADE 1 Os atravessamentos filosdficos na psicologia Introdugao ola, \Vocé est na unidade Os atravessamentos Filoséficos na Psicologia, Conheca aquia historia os principais filésofos que influenciaram a psicologia, Aprenda sobre os conceitos de inato e adquirido, identificando a influéncia da filasofia nas concep¢ées dicatémicas entre mente e corpo. Por fim, entenda a natureza e os limites da ciéncia psicolégica. Bons estudos! a 1 RAIZES FILOSOFICAS DA PSICOLOGIA Vocé sabia que, para compreendermos do que é composto 0 solo da psicologia, precisaremos dar alguns passos para tras em busca da historia da construcio cientifica? Esse percurso iniciara muito antes do que chamamos de ciéncia propriamente dita, como concebida pela academia (campos de formagao de ensino superior e pés-graduagSes) na atualidade. Essa historiaé extensa, e par ser longa, precisaremos realizar alguns recortes. Infelizmente, ndo 6 possivel apresentar todos os aspectos, autores, fildsofos, pensamentos e idaias que ajudaram a compor a narrativa histérica da psicologia, As escolhas dos pensamentos que apresentaremos sempre est circunscrita a partir do olhar daquele que conta a histéria, Basta vocé pensar que, a0 contar uma histéria, vocé sempre escolherd o que enfatizars, Dito isso, fica assinalado que toda e qualquer construcdo escrita sobre alguma area da ciéncia sera sempre limitada, porque havera racortes, Portanto, todos/as aqueles que se dedicam ao estudo de alguma area do conhecimento, como voce, estudante de psicologia, necessitario ler, ouvir e estudar diversas autores cantando a “mesma historia”, Apesar de ser a “mesma historia’, serao dadas énfases distintas, a depender do horizonte cientifico daquele que escreve, Comentadas as consideragdes iniciais sobre o limite da eserita, agora chegou a hora de voce aprender sobre as bases filoséficas da psicologia. Vocé conhecard alguns dos pré-socriticos, Socrates, Platéo e Aristételes, Apresentarei também um pouco da histéria da idade média e depois entraremos na historia da idade moderna, o nascimento da cigncia @ 0 modo como a filosoffa influencia as nossas concepgdes sobre corpo e manta, bem camo inato @ adquiride. Apés 55a histéria inicial, pensaremos juntos sobre 2 natureza e os limites da psicologis. E importante ressaltar que os fildsofos no estavam pensando na constituigao da psicologia, eles estavam filosofando, Mas hoje percebemos 0 quanto as ideias filosdficas, de algum modo, atravessam a psicologia que nasceré, enquanta ciéncia, no século XIX. 1.1 Pré-Socraticos e Sécrates Os primeiros filésofos da nossa cultura ocidental, que iniciaram 0 processo de sistematizacio do conhecimento, surgiram por volta dos séculos VIII a.C. Esses filésofos, chamados de pr socraticos (porque vieram antes de Sécrates), buscavam compreender a origem do cosmo: constituigio, principios e leis. Esse periodo ficou conhecido como cosmolégico. Cada pré- socratico, a partir dos seus estudos @ observagées, indicava a esséncia, 0 principio, a origem cosmolégica da naturaza, Ou sala, eles buscavam explicar a arché (esséncia, origem) da physis (matureza) (CASERTANO, 2011). Acompanhe algumas ideias dos pré-socraticos. 12 + Tales de Mileto De acordo com Casertano (2011), para Tales de Mileto (641-546 a.C.), “a observacio e oestudo da regularidade dos fanémenos naturais permitem que se extraia uma lei gerat” (CASERTANO, 2011, p. 40) que permite a explicagao das coisas. Para ele, observador dos fenémenos naturais, a Agua seria o fundamento e a origam do cosmo, Ou seja, ela seria a arché. \sso porque a dgua “& a alimanto das coisas e as sementes de todas as coisas s4o timidas” (CASERTANO, 2011, p. 43). * Parménides Parménides (520-440 aC.), a0 cantrario dos fildsofos daquela época, no acreditava que a arché fosse algum elemento da natureza. Para ele, os elementos naturals silo mutave's, @ a ess8ncla ndo podetia ser mutavel. Logo, ele assegura que o Ser seria o principlo, a esséncia. O Ser aqui néo é visivel na apar8ncla. Porque tudo que aparece é passivel de mudancas. O Ser faz parte de um universo que néo pressupde mutabilidade (CASERTANO, 2011). * Herdclito Em contraposi¢do a esse pensamento de imutabilidade, Herdclito (530/20 -470/60 aC.) acreditava e defendia a mutabilidade da realidade, Para ele, tanto 0 ser quanto as coisas so dindmicas e passiveis de transformacSo, Sua frase mais famosa é que “tudo flui, como as aguas de um rio que nunca so as mesmas” (CASERTANO, 2011, p. 100). Por esse motivo, ele indicava que © fogo seria a arché (principio) da physis (natureza/cosmo}, pois a chama viva e eterna regeria as mudangas do ser (CASERTANO, 201.1) Houve muitos outros pré-socraticos, vinte s4o mencionados por Osborne (2012). Contudo, optamos por apresentar trés do mais mencionados, Apresentamoos para que fosse possivel voce compreender como as perguntas filoséficas sobre a natureza € o ser j4 estavam postas 600 anos antes da era crista. Por falar em questées do Ser, Sécrates foi aquele que abandou as quest&es sobre a natureza @ se concentrou eminentemente nos problemas do ser humano. Suas questées centrais eram: 0 que é 0 bem, a virtude e a justica, Sécrates, filho de mée parteira, desenvalveu um método que ficou conhecido como maiéutico (arte de trazer a luz, partejar), Esse método foi utilizado por Sécrates nos encontros que ele realizava nas pracas puiblicas. Os didlogos criticos realizados por ele poderiam ser divididos em dois momentos: refutacio e ironia (etapa em que o fildsofo enfatizava as contradigdes na resposta dada pelos interlocutores as suas perguntas); a maidutica eraa etapa em que Sécrates construfa questées para que os interlocutores pudessem reconstruir as ideias anterior mente refutadas [COTRIM; FERNANDES, 2016} a 1.2 Platdo e Aristételes Enquanto 0s pré-socraticos confltavam entre si sobre a mutabilidade ou imutabilidade da esséncia da natureza, Plato indicou ume solugdo que comporta as duas dimensées, Para Platio, hd algo que nao muda, que permanece. Esse algo estaria no mundo inteligivel, ou seja, plano das ideias. As ideias seriam fixas, Imutaveis e, partanta, a esséncia de tudo 0 que existe. Portanto, a verdade, por ser imutivel ¢ fixa, s6 poderia estar no mundo inteligivel, na transcendén Partindo desse pressuposto, a verdade ndo se manifesta na dimensdo viivel, aparente (COTRIM; FERNANDES, 2016), © mundo sensivel, por sua vez, seria mutavel. E uma cépia imperfeita do que existe no mundo. inteligivel e foi criado pelo demiurgo (espécie de deus “arteséo”), O mundo sensivel cheio de impressdes e essa reproducio no comporta a esséncia da verdade, apenas espelha uma parte do ser e nfo o que ele é de verdade (COTRIM; FERNANDES, 2016). — Transcendéncia Nie Verdades bisa — Imutavel - Fixo - Permanente Patek Eee a — Impressdes Copias imperfeitas = Mut 1 - Sofre transformacdes Figura 1 - Mundo inteligivel e mundo sensivel Fonte: Elaborado pela autora, 2020 #ParaCegoVer e do mundo sensivel imagem mostra um esquema contendo caracteristicas do mundo inteligivel Mas, entio, como nés humanos, vivendo no mundo sensivel, conheceriamos as verdades eternas e imutdveis? Para Platdo, para se chegar a0 conhecimento da verdade, & necessario realizar 0 exercicio da razdo. Nesse sentido, s6 se atinge um conhecimento verdadeiro quando se submete as impressdes a0 raciocinio. Apenas os seres humanos tém a capacidade de realizar o exercicio da razio, pois, para esse fildsofo, apesar de homens e animais possutrem impressées sobre 0 mundo sensivel, s6 0 homem poder formar conhecimento racional, transcendendo as impresses (COTRIM; FERNANDES, 2016). 14 Além desse pensamento dual sobre © mundo, Platéo também compreende o ser humano numa dualidade, pols é composto por alma e corpo, A alma/mente ¢ 0 bem mais precioso do ser humano, enquanto 0 corpo é inferior, Essa dualidade atravessard muito fortemente as compreensées da medicina que delinearé 0s modos de lidar com 0 corpo e coma mente, como veremos mais adiante (COTRIM; FERNANDES, 2016). Enquanto Plato acreditava que as impresses do mundo sensivel geravam distorgSes @ no eram verdadeiras, Aristételes defendia que o conhecimento advém da observacdo da realidade. Esse conhecimento que nasce da observa¢ao do real, do sensivel, daquilo que € mutével, ficou conhecido como método indutivo, Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p, 228}, para Aristételes: A finalidace da ciéncia deve ser a compreensio do universal, visando estabelecer detinigSes essencia’s que possam ser utliradas de modo gereralizado. Desse modo, a indugio (aperaglo imental ee vai de particular ao geral) representa, para Aristoteles, 0 processo intelectual hasica de agulsicie de conhecimento. € por melo do métado Indutivo que o ser humane podeatinglr conclusses Cntifices, canceitusis, de smbite universal Partindo desse pressuposto, Aristételes, contrapando-se a Platio, defende também que 0 mundo inteligivel e sensivel andariam juntos constituiriam a realidade, pois as coisas soo que so, Sendo o que si, para conhecé-las, seria necessario partir do dado empirico, perceptivel aos sentidos (COTRIM; FERNANDES, 2016). Esse fildsofo, além de superar a cisdo entre mundo sensivel e inteligivel, ultrapassou também 0 dualismo entre corpo e mente, Aristételes defende que corpo e mente s8o indivisivels. 0 fildsofo também foi o primero 2 discutir questées muito peculiares para a psicologla, como: “mente, sentidos, sensacao, meméria, sono e ins6nia, geriatria, brevidade da vida, juventude e velhice, vida, morte e respiracéo” (FREIRE, 2008, p. 38). 1.3 Idade Média Talvez voce esteja se pergunitando 0 motivo de dedicarmos um espaco para falar sobre a idade média, Muitas vezes escutamos alguns estudiosos descartando a histéria desse tempo, pois ele estd muito atrelado a Igreja Catdlica como institui¢do social. O petiodo é tide como séculos escuros, das trevas, visto que 0 pensamento cristo exercia uma grande influéncia que norteava as concepgées dessa época. A idade média teve inicio com a ascensio do cristianismo no ocidente, O Deus cristo (teocentrismo) passou a ocupar o centro em todas as esferas: arte, literatura, filosofia, educac#o, arquitetura e outros (COTRIM; FERNANDES, 2016). Nesse periodo, defendi se que: Toda investigagio filosética au clentfica ra poderta, de algum maco, enntvariar as verdades estabelecidas pela f€ cat6lica, Em outras palavras, 05 fildsofos nao precsavam mais se decicar busca da verdace, pois ela ja teria sido revelada por Deus aos seres humanos. Restavarlhes, apenas, «a demostrar racionalmente as verdades da f8 (COTRIM; FERNANDES, 2016, 9.241}, A filosofia medieval pode ser dividida em: padres apostélicos, apologistas, patristica escolistica, A patristica tem como principal representante Santo Agostinho, que fol influenciado por algumas ideias da filosofia platdnica, A escolastica é representada por Séo Tomas de Aquino, que foi influenciado por Aristételes (COTRIM; FERNANDES, 2016). As construgées filos6ficas desse periode tinham como finalidade defender eestruturar as verdades da fé catdlica, Nao houve contributos para o pensamento psicolégico. Contudo, s4 conhecendo esse perfodo conseguimos compreender o renascimente, o iluminismo e o fervor que construiu a idede modem e constitulu a neva ciéncia e o racionalismo (COTRIN; FERNANDES, 2016). 1.4 Idade Moderna: renascimento e advento da nova ciéncia ‘Apés dez séculos de influancia do pensamento cristo em todas 2s esferas humanas, algumas alteragées comecaram a acontecer nesses 2mbitos: nos setores sociais, econdmico, politico, artistico. © movimento que contribuiu para as alteragées foi chamado de renascimenta. Essa etapa propiciou o desenvolvimento da mentalidade racionalista eo retorno do antropocentrismo, onde o homem volta a ser 0 centro e nao Deus (teocentrismo), como era na Idade média, Contudo, a Igraja no iria abrir mao téo facilmente de sua influéncie e algumas obras de arte e cultura ainda reproduziam resquicios religiosos. Alm disso, nesse pericdo a inquisicéo da Instituico Catdlica perseguiu aqueles que se contrapunham ao pensamento defendido por ela. Uma das mudangas essencials fol o heliocentrismo que, diferente do catolicismo, defendia que o sole ndo a terre era o centro do universo. Cotrim e Fernandes (2016, p. 256) indicam que: ‘Ao propiciar a expansio de uma mentalidade racionalista, 0 renascimento crlou as bases conctituas © de valores que favoreceriam © desenvolvimento da céncia 70 século XVII, revelando. ‘maior disposigSe para investigar os problemasdo mundo, a individue maderne agugou seu espirite de obse-vacSo sobre a natureza, dedicou mais tempo a pesquisa e as experimentagSes, abriuia mente ao. livre exame do munda, Foram as bases conceituais, fundadas nessa virada histérica, que comecaram a oferecer fundamentos para a criagdo e fundamentacae das ciéncias que aconteceriam posteriormente. Nessa época, a psicologia era essencialmente filoséfica, mas essas fundamentagées também iriam oferecer as bases necessaries para que a psicologia fosse alcada ao status de cléncia nos séculos posteriores (FREIRE, 2008) 1.5 Constitui¢gao da ci€ncia moderna As rupturas vividas entre a idade média e moderna geraram ume certa desorientacdo. Fazia~ se necessério criar bases solides para o conhecimento e novos conceitos de verdace, visto que as bases fundadas no pansamento cristdo tinham sido postas em xeque. Segundo Cotrim & 16 Femandes (2016, p. 259), ‘A ruptura com toda 2 autoridade proastabelecica de conhecinrento fez com que os pensadores moderna buseassam uma bate ¢egura, algo que gavantisce 4 verdade ele um racoeinia, Assim, um dos principais problemas da flosofia nesse perfodo relacionou-se com 0 processo de entendimento humano e, mais especificamente, com a seguinte questi: Que garantia rosso ter de que um pensamenta é verdsdeiro? Procurava-se, partanto, um métoda, Iniciou-se uma busca frenética pelo métoda para se chegar A verdade. Na busca pelo método do conhecimento, novas concepgies de hamem e de mundo foram sendo constiuldas pelos pensadores da época. A filosofia, debrugada no compromisso do conhecimento, adota novas linguagens em que o humano passa a ser valorizado como um ser racional. racionalismo teve © seu triunfo, ¢ a base cientifica passou a ser: observacdo, experimentacdo e formulacio de hipstese. E importante destacar que cada fildsofo construiu distintamente os seus métedos e concepcbes e deu énfases distintas também. Francis Bacon foi um empirista que, contrario ao racionalismo da época, enfatizou 0 papel das experiéncias sensiveis no processo de conhecimento. Para ele, a razéo sé teria sentido se aplicada 4 experigncia, endo o contrario, Na sua obra Novum Organum, mostrou a importancia de um método de experimentacao que reduzisse os equivocos tanto do intelecto quanto da pura experiéncia, aliando o melhor de ambos para a aquisic’o dos conhecimentos cientificos, Bacon acreditava que 0 avango dos conhecimentos e das técnicas, as mudancas sociais e politicas € 0 desenvolvimento das ciancias e de filosofia propiciariam uma grande reforma do conhecimento humano (COTRIM; FERNANDES, 2016; FREIRE, 2008). No que concerne & céncia, ele indicou que esta deveria valorizar a pesquisa experimental, @ defendeu 0 método indutive, No seu método, Bacon indica que sio necessérias as seguintes etapa: 1 Organizar e controlar os dados recebides da experiencia sensivel gracas a experimentos adequados de observacao e experimentacéi. 2 Organizar e controlar os resultados observacionais e experimental para chegar a conhecimentos novos ou & formulacio de teorias verdadeiras. 3 Desenvalver procedimentos adequados para a aplicacéo prética de resultados tedricos (COTRIM; FERNANDES, 2016). Em contraposicao a0 método experimental de Bacon, René Descartes construiu um método ‘em que desconfia das percepcées e sensagdes, sendo radicalmente racionalista. A rigorosidade do seu método indica que & necessério duvidar de tudo, até reconhecer como indubitvel a propria existéncia, Para o filésofo, a (inica verdade livre de qualquer diivida seria o fato da existéncia, Sua a famosa frase “Penso, logo existo” assegura que, pensando, ele constatou que sua existéncia & verdadeira (COTRIM; FERNANDES, 2016) © modo de pensar de Descartes também estabeleceu e reforcou a perspectiva dualista iniciada em Plato. Apés aplicar 0 seu método, da divida metédica, René Descartes concluiu que existem duas substancias distintas: a substancia pensante (res cogitans) e a substancia extensa (res extensa). A substéncia pansante corresponde & esfera da consciéncia, ea substancia extensa, a0 mundo corpéreo e material (COTRIM; FERNANDES, 2016}. Sobre o método de Descartes, ele consiste em estabelecer uma davida metédica. Nesse método, 0 questionamento rigoroso é 0 fundamento do pensamento filoséfico, Ele se constitui por quatro passos. Clique abaixo para conhecé-los. 1 Regra da evidéncia: $6 aceitar algo verdadeiro se for claro e evidente, 2 Regra da andlise: Decompor o problema em elementos mais simples ou ditimos. 3 Regra da sintese: Orienta ir dos objetos mais simples 40s mais complexos, 4 Regra da enumeracdo: Verificar pata obter absoluta seguranga de que nenhum aspecto do problema foi omitido (COTRIM; FERNANDES, 2016). No século XVIII, a fundaco do positivismo fortaleceu ¢ cléncla que se basela nos fatos e nas experiancias. Um dos principais representantes dessa perspectiva é 0 fildsofo Augusto Comte. © entusiesmo posttivista foi um reflexo do espirito da época e do entusiasmo da burguesia, capitalismo @ do desenvolvimento técnico-industrial. Sobre o objetivo @ as caracteristicas do positivismo, Cotrim e Fernandes (2016) resumem: De acorda com Comte, 0 métedo positive de investigacSo tem por objetivo a pasquisa das leis {eras que regem os fendmenos naturais. Assim, 0 positivismo diferencia-se do empirismo puro vorque Io -eduz © conhecimente cientifico apenas 20s fatos observados. £ na elaboraco de leis gorais que reside 0 gra fenémenos naturais, podendo agir sobre a realidade (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 281), le ideal das cl@ncias. com bare nessa lels, 0 ser sumano seria capar de prever os Controle, previsibilidade € generalizagdo sdo as marcas do pensamento positiviste, que posteriormente influenciard, direta ou indiretamente, na constitulc4o das ciénclas. 0 espirito cientfico buscard consolidar métodos cientificos que assegurem esse tripé, ‘Apés apresentar 0 pensamento de alguns fildsofos, importa destacar que muitos outros pensadoras atravessaram a histéria da fllosofia e da construco da ciéncia, Todavia, fica invidvel apresentar todos aqui e/ou se delongar nas ideias dos que foram apresentados. Optamos por apresenter élguns que julgamos importantes, na certeza de que existem outros ¢ que voce, estudante da drea psicologica, mergulhar em outros textos que enfatizarao outras pensadores, 18 Nos tépicos seguintes, retomaremos alguns desses filésofos e acrescentaremos outros, com vias a discutir sobre a influéncia de filosofia na constituicéo da ciéncia psicolégica, 2 DICOTOMIA MENTE E CORPO: INFLUENCIAS FILOSOFICAS E RESSONANCIAS NA PSICOLOGIA (© mundo ficou dual desde que Plato 0 separou. Essa perspectiva dualista foi retomada em alguns momentos na historia da filosofia, sobretudo com René Descartes no século XVI, Para Descartes, a substincia pensante corresponde A mente, A consciéneia, enquanto a substancia extensa corresponde a matéria corporal (COTRIM; FERNANDES, 2016). Essa cisdo entre mente @ corpo estabeleceu um longo debate nos tratados filosdficos, O dualismo, defendido por alguns, era negado por outros. Caso partisse de premis haveria essas duas realidades, distintas, uma questo se calocava: como mente e corpo poderiam a de que FIQUE DE OLHO Vimos que os pré-soeriticos tinham como problema a ser investigado o principio fundamental, 2 arché do cosmos, 8 na idade moderna, o maior objetivo dos filésofos era definir 0 método de chegar ao conhecimento, A centralidede da idade modema é a busca pelo métedo cientifico. E importante saber as distincées e objetivos de cada periodo. interagir? (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009), Antes de Descarte, acreditava-se que a interag3o entre esas duas substancias se dava de forma unilateral. Ou seja, a mente que comandava o corpo. Todavia, Descartes, apesar de Considerar substancias distintas, defendia a miitua interagao entre elas, endo a unilateralidede (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009), Conforme retamam Schultz e Schulz (2009, p. 36): "Descartes afirma que a mente e 0 corpo, embora distintos, so capazes de interagir dentro do organismo humano. A mente € capaz de exercer influéncia sobre 0 corpo do mesmo mado que esse pode influenciar a mente”, Sobre a natureza do corpo, Na Visdo de Descartes, 0 corpa é composto de matéria fisica, portanto tem earacter'stcas comuns qualquer matéria, ou sela, possultamanho capacidade motora, Sendo uma matéria, a leis dafisica e dda macanicaque regema movimento ea agin do universafisien aplicam-se também aele. Logo, aearpa 6 semelhante a uma maquina cujaoperacio pode ser explieaca pelas le's da mecdnica que governa a. movimento das ojetos no espaga. Seguinde esse raclorinio, Deseartes prassegull) com a explieagsio a do funcionamenta fsiol6gica da corpo cam base na fisies, Descartes foi claramente influenciade elo. espirito mecanicista da época, refletido nos relégios mecénicos e nos robés (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p36) Fazendo referéncias a0 mecanismo dos robés, Descartes defende que hd reagées do corpo que sdo reflexos dos movimentos externos ¢ ndo necessariamente uma vontade da mente, Por essa constatacdo, por vezes 0 pensador é “definide como o autor da teoria do ato de reflexo. Essa teorla é a precursora da moderna psicologia behaviorista de estimulo-resposta” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 36), Ainda nesse sentido, “o comportamento reflexo nao envolve pensamento nem processo cognitive: parece ser completamente mecénico ou automético” (SCHULTZ; SCHULTZ, p.36). Enquanto © corpo € visto como uma maquina, 2 mente “nao apresenta nenhuma das propriedades da matéria, no entanto possui a capacidade de pensamento, caracteristica que a separa do mundo material ou fisico” (SCHULTZ; SCHULTZ, p. 38). Na interagéo entre corpo-mente, segundo 0 fildsofo, o panto central das fungées da mente é 0 cérebro, mais especificamente a glandula pineal ou conarium. Os movimentos ffsicos @ mentais influenciam um e 0 outro mutualmente a partir dese ponto central. Essas discusses sobre mente e corpo iro, posteriormente, no século XIX, influenciar a medicina, inclusive a psicologia, A viséo duslista reverberou no modo de se compreender satide e doenca, bem como suas possiveis associacdes com a mente e 0 corpo. Travou-se uma discussao na medicina sabre a carater de adoacimento do corpo, se este tinha como causa fatores endégenos ou exdgenos. Desde o século XV, os médicos Galeno ¢ Paracelsus ‘cinham visées distintas. Para o primeiro, a doenca tinha causas endégenas, “estarla dentro do préprio homem, em sua constituicso fisica ou em habitos de vida que levassem ao desequilibrio” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40). J para o médico Paracelsus: [AS doengas eram provocadas por agentes externos so organismo. Ele propds a cura pelos semelhantes , baseada no principio de que, se 0s processos que ocorrem no carpe so quimcos, os melhores re mécios aara expulsara doenga se iamitambém quimicos, « passou ent a adrrinistrar aos doentes pequenas coses de minerals e metals (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40). Nos séculos seguintes, essas discussées chegaram a outras 4reas da medicina, inclusive da psicandlise 2 psicologia Na psicandlise freudiana, 0 determinisma psiquico reforgou “a importancia dos aspectos Interns do homem” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40), Essa dela fol reforcada pelo psicanalista Groddeck com a sua obra "Determinacdo psiquica e tratamento psicanalitico das afecctes organicas” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). A supremacia da mente sobre o corpo foi reforgada pela psicandlise, enquanto no campo médico havia uma supremacia de cuidado cam 0 corpo, 20 Apesar desse duslismo reverberar nas praticas psicolégicas e médicas contemporaneas, estudos atuals indicam a perspectiva holistica como uma safda para a cisdo entre corpoe mente, Na postura holistica, corpo e mente sao inseparaveis e interdependentes em aspectos psiquicos @ biolégicos (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). Segundo Castro, Andrade e Muller (2006, p. 41): Com 0 desenvolvimento das neurocéncias 0 conceito dualstico tornou-se ais dificil de ser aceito, Por exempla, 0 sistema nervoso autonomo no € 10 autonome assim e se encontra regulado. elas estruturaslimoicas junto com o cont-ole emocional. O sistema imune influencia e€ influenciado. pelo cérabro (URSIN, 2000). 0 campo ce estudo da psiconeuroimunologia tem suas origens no pensamenta psicossomatico e term evoluldo no sentido da realizago de investigacBes de complexas interagbes entre a psique eos sisternas ne-voso, imune eendécrino, Mais ampla do que as discussées das neurociéncias e da postura holistica, a concepcio de doenca saciossomatica amplia a inter-relacao entre corpo, mente, ambiente e melo social Nesse sentido, @ medicina a atuacgo psicoligica, influenciada pela postura psicossomética, sociossomatica e holistica, atuam de forma a considerar a multicausalidade dos aspectos da satide e da doenca. Utilize 0 OR Code para assistir ao video: FIQUE DE OLHO ‘A Organizacao Mundial da Satide, desde 0 ano de 1947 define que a satide é um estado que atticula o berr-estar fisico, mental € social. Hoje, muitos pesquisadores actescentam as dimensées espirituals e culturais, sendo satide, entéo, um bem estar biopsicossocial- espiritual e cultural, e nao apenas auséncia de enfermidades biolégicas. «a 3 DISCUSSGES SOBRE INATO E ADQUIRIDO NO SER HUMANO Assim como as discussées de corpo e mente perduraram e perduram até hoje na filosofia ena CiBncia, as questiies concernentes ao que é inato @ o que é adquirido pelo ser humana ao longo da existncia também se estendem pelos séculos, Descartes, expoente do racionalismo moderno, tratou as ideias como inatas. Ou seja, as ideias nasceram com o sujeito pensante, Em contraponto ao pensamento de Descartes, Jonh Lock, segundo Cotrime Fernandes (2016), defendeu que nao existem ideias inatas; ao contrério, quando o ser humano nasce, nossa mente é como uma tébul rasa. No nascimento, nossa mente & como um papel em branco e, a partir das experiéncias vividas no mundo, inscrevem-se nossos conhetimentos. Pera adquitir conhecimento, Lock indica as ideias de sensacio e de reflexio (COTRIM; FERNANDES, 2016). Veja suas definicdes clicando abaixo. * As Idelas de sensacdo sdo as que chegam & mente através das experiéncias adquiridas pelos sentidos. + Jd as ideias de reflexdo so aquelas que se articulam da sensagio e reflexio, A reflexio seria “nosso sentido interno que se cesenvalve quando a mente se debruca sobre si mes- ma, analisando as préprias operacdes” (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 275). © pensamento de Jonh Lock se associa 20 pensamento de mente varia indicada séculos atrés or Aristoteles (FREIRE, 2008). Freire (2008, p. 61), sobre o pensamento de Lock, resume: [AS sensagbes, Imagens € Idelas formam 0 comteddo da mente, S80 adquiridas através das Impress6es sensoriais, tanta da mundo externo come no interno e sdo obtidas através da percepcso, que j4 € um pracessa asicoldgica. A vercepgiio sensorial consclente constitu, portanto, a base do. conhecimento e recete, quase que passivaniente, a Influéncia de esttmulos externos. Na escala da aqulsigae do conhecimenta, distinguer se cols elementos basicos: asensacdo e a percepedo. As idelas que resultam desce processo podem ser simples quando se origina de um au mals sentidas ou da combinagao deles com 4 refleo (a ideia de comprimento).a ideta de subst@ncia composta vorque flo se origina de nenhum sentido, mas dacombinago de varias Idelas simples, As ideias do fildsofo Lack, empirista, so claramente distintas das ideias inatas de Plato @ Descartes, Por esse motivo, pademos consideré-lo como “o precursor do estruturalismo psicoldgico do século XX" (FREIRE, 2008, p. 62) Além das discussées filosdficas sobre o modo que o conhecimento 6 dado a mente humana (se inatos ou adquiridos), existe uma outra linha a ser estudada e investigada, que diz respeito a condigées comportamentais, se essas so genéticas ou apreendidas na rela¢do com o ambiente, Clique abaixo e acompanhe duas tendéncias alinhadas com esse pensamento. 22 + Ambientalismo-empirismo Para o ambientalismo-empirismo, 0 ambiente € o responsdvel pelas caracteristicas dos comportamentos do ser humano, Essas concepgdes, defendidas por Jonh Lock, tém um. adepto fundamental no cendrio da psicologia, o psicéloga Jonh Watson. Watson, fundador do behaviorismo, explicou o comportamento humano a partir da interaco com a cultura eo melo ambiente (PINHEIRO, 1995). © Nativismo © nativismo, perspeetiva filoséfica baseada nas concepcies inatas de Platio e Descartes, considera opostodoambientalismo. Nessa linha, a inteligéncia, personalidadee comportamentos so tragos genéticos herdados pelos genes dos respectivos genitores. Aquela famosa frase dita no senso comum, “filho de peixe, peixinho é” é atravessada por essa légica nativista (PINHEIRO, 1985), Mas seré que essa perspectiva é valida para 0 comportamento humano? Sobretudo partindo do campo psicoldgico que, ao acolher os comportamentos humanos, busca construir com os outros novas formas de existir? Discutir sobre essas perspectivas € de extrema importancia para a psicologia, a fim de compreender as perspectivas psicologicas que tém mais inclinacdo paraa linha ambientalista e/ou nativista, Essas noges bésicas fundamentardo praticas e intervengdes frente 20 comportamento humano. Discutir sobre essas perspectivas é de extrema importéncia para a psicologia, a fim de compreender as perspectivas psicolégicas que tém mais inelinacdo paras linha ambientalista ¢/ou nativista, Essas nogées basicas fundamentardo praticas e Intervences frente 20 comportamento humano. 4 NATUREZA E LIMITES DA PSICOLOGIA \Vocé jé ouviu alguma dessas frases? “Eu sou a psicéloga na familia”; “Sou o psicélogo dos amigos"; “Sou professora e psicéloga dos meus alunos”. Provavelmentesim, paisé frequente as pessoas fazerem mencao a Psicologia quando realizam alguma atividade de escuta, conselho ou persuaséo, Essas frases so resquicios da popularizacéo dos termos psicolégicos no senso comum, assim como as palavras empatia, recalque, projecdo eoutras, Primeiramente, vamos definir 0 que é senso comum. Ele é © conhecimento cotidiano construido pelas pessoas num cenério de realidade, Ndo passa pelo crivo da ciéncia e nao é submetido 2 um método fileséfico ou de pesquisa. O conhecimento advindo do senso comum é a ido por cada homem e mulher na lida com a vida passado de tradic¢ao para tradicao, e é assit cotidiana, Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008, p, 18): Fsse wonheciments do senso conum, além de sua produgio caracteristica, acaba por se propria; de uma maneira muito singular, de conhecirientas produzidos pes autros setores do. saber humane, © senso comun mistura © recicla esses outros saberes, muita mais especiaizados, © 05 reduz 8 um tipo ce teoria simplficada, procuzindo uma determinada vis#o-de-mundo. O que estamos querendo mostrar a voce € que o senso comum integra, ce um rode precario (mas esse € seu mado), o conhecimento humans. € claro que isso no otwrre multe rapidamente Leva certo, tempo para o conhecimento mais sofisticado e especiaizado seja absorvido velo serso comum, & nunca © ¢ totalmente, Quando utilizamos termas corre "rapar complexado", “menina histériea’, “car neurdtica", estarios usando termes Ceftnidos pela Psicologia Centifica, Nao nos preocuparos ein efinir as palavras usadas € nem! por iss0 delzamos de ser entendidos pelo outro, Podemes até estar ‘muito proxiro éo conceite cientifico, mas, na maiaria das vezes, nem sabemos. Esses S80 exemplas da apropriaae que o senso comum faz da ciéncia. Contudo, apesar dessas palavras e frases serem assimiladas no senso comum e no covidlano das pessoas, isso ndo faz delas psicdlogos/as, Isso porque a Psicologia é uma ciéncia, Mas entio, 0 que é ciéncia? Essa ndo é uma pergunta facil de responder, pois como vimos na historia da filosofia e da ciéncia as compreensdes sempre so plurais e ndo tinicas. Existem varios caminhos distintos para definir os problemas da ci&ncia, como fazer cléncia ¢ consequentemente o que & cidncia Mas, numa perspective mais tradicional, ciéncia so 0s conhecimentos submetidos a metodologias reconhecidas por fildsofos @ cientistas, Os métodos cientificos, que também sao varios, indicam os caminhos de se obter conhecimentos validados pela academia (centros de pesquisas). Nao se faz ciéncia com achismos, faz-se ciéncia com métodos especificas, com pesquisas, com crivo cientffico, Poderiamos dizer, como comumente é assinalado, que cientificos so 0s conhecimentos construidos de maneira programada, controlada e sistematizada (8OCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). No entanto, hé métodos clentificos que ndo pressupéem controle @ previsibilidade, como séo 25 pesquisas de cunho social, fenomenolégicas cartograficas (DANIELA, 2016) Outro aspecto comumente indicado & que todos os campos cientificos tam um objeto de estudo, A Sociologia tem como objeto de estudo os fendmenos ligados a sociedade; a Economia, 05 componentes econdmicos; 2 Astrologia, 05 astros. Mas, e a psicologia? Qual o seu objeto de estudo? (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), desde os primérdios da Psicologia enquanto ciéncia foi dificil definir um tinico objeto de seu estudo, dado que cada perspectiva que surge enfatiza aspectos distintos do humano. No inicio da Psicologia Cientifica, o foco esteve no comportamento com os behavioristas, Os/as psicdlogos/as de base analitica (psicandlise) dirao que é 0 inconsciente; aqueles de perspectiva fenomenolégica, os fenémenos; os socioconstrutivistas, as 24 interagdes sociais. Enfim, passariamos anos e anos indicando os diferentes objetos da Psicologia, Visto que ela é uma ciéncia multifacetada. Um resumo coerente poderia ser 0 indicado por Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 22); Nossa matéria-prima, partanto, & 0 ser humano em todas as suas expresses, as visivels [o comportamente} € as invisivels (as sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) @ as genéricas (porque somos todos assim) - 6 0 ser humano-corpo, ser humano- pensamento, ser humano-afeto, ser humano-acao e tudo isso esté sintetizado no termo subjetividade. A Psicologia é uma ciéncia multifacetada, em que cada linha tedrica, cada abordagem e cada perspectiva definiré suas concepgdes de homem, de mundo e os seus métodos de aco. Ediferente da medicina, em que as evidéncias cientificas indicarao a melhor acéo para aquele paciente; na psicologie, os profissionais lidar com a multiplicidade de teorias que lidar com 0 mesmo fendmeno, Mas como indica Figueiredo (2003), essas perspectivas, embora distintas, no sdo arquipélagos avulsos e desconectados. -am modos distintos de (© campo da Psicologia erquanto ciéncia e profissdo por vezes deixa os profissionais estudantes de psicologia atorcoados na busca de uma unicidade. Ou seja, na busca de uma prescrigao tinica. O professor Luis Claudio Figueiredo, ao falar do campo psicolégico cama campo de disperséo, nos lembra que: Os slunos, ao ingressarem no curse ¢ entranda em cantata eam 9 curricula, podem ficar, de inicio, com a expectativa de que viriae disciplinas iio se organizar harmoricamente, converginde para uma meta comum, segundo ura conceagio compartilhada por todos os professores do que sela pensar e ‘fazer psicologia (FIGUEIREDO, 2008, p.17) Nesse sentido, ressaltamos que mesmo uma ciéncia, a psicologia, nda se organiza com um objeto Unico, mas com abjetos, campos, nuances de estudo e investigacaa. Cada professor/a, a partir de suas perspectivas teéricas, indicaré possiveis modos de lidar com os fenémenos advindos dos diversos campos de atuacao psicolégica Indicar essa abertura e essa multiplicidade inerente a0 campo psicolégico nao autoriza os profissionais a resvalarem nos achismos do senso comum, no dogmatismo ou no ecletismo, £ necessario que as praticas profissionais estejam subsidiadas pela abordagem (perspectiva de pratica) escolhida, ‘Alguns profissionais e estudantes, perdidos na dispersdo tedrica e metodolégica, se encaminham para a prisio do senso comum “porque ela ¢ a mais préxima e envolvente” (FIGUEIREDO, 2008, p. 19). Outros, as dagmaticas, se agarram em uma perspectiva tedrica @ fecham-se a ela como se essa fosse a linica ¢ grande verdade. “Ensurdecem para tudo que possa contesté-la” (FIGUEIREDO, 2008, p. 18) endo ampliam os seus horizontes. 14 os ecléticas: 25 Ll adotam ineiser minadamente todas as erengas, métados, tésnicas e instrumentos disponivels de acorco com a sua campreensio do que |he parece necessario para enfrentar uniteadamente os desafios da pratica (FIGUEIREDO, 2008, p. 18). Nenhuma dessas alternatives € indicada, isso porque todas cerceiam a possibilidade da construgdo psicoldgica ética € coerente, A altemnativa é @ busca continua pela elaboragio de conhecimentos novos e a articulagéo das teorias com a pratica orofissional. Trata-se de fundamenté-los em perspectivas de pratica (abordagens), articulé-loscom aexperiéncia cotidiena e sempre viva do profissional e daqueles que buscam a psicologia. Nao da para juntar todas as teorias psicoldgicas como se elas falassem a mesma coisa, mas também no é possivel fechar-se em uma teoria como se ela comportasse a Unica e mais eximia verdade sobre o comportamento humano, Importa sim definir qual sera a sua abordagem e onde esti circunscrita a sua viséo de mundo. Mas a partir desse eixo, é necessério estabelecer didlogos, abrir questdes, interrogar as indicacées tedricas e metodolégicas. Far-se importante, inclusive, abrir novas questBes nas abardagens e visées de mundo majoritérias na psicologia, As perspectivas cognitivo-comportamental, psicanaliticas, humanistas (Abordagem Centrada na Pessoa, Gestalt Terapia) e fenomenoligicas (Daseinsanalyse) nasceram em realidades distintas da realidade brasileira, com tedricos Europaus e Estadunidenses e em séculos diferentes do que estamos vivendo, Nao se trata de abandonar esses teéricos, trata-se de assurmir essas concengdes de ser humano e de mundo, colocando novas e coerentes questées para 05 nossos séculos e para o nosso povo brasileiro (SILVA; DANIELA, 2019}. Utilize 0 OR Code para assistir ao video: Essa concepcdo de que a ciéncia psicoldgica necessita dialogar com os cenérios socials, politicos e econdmicos do seu povo, no nosso caso, 0 povo brasileiro, também é sustentada pelo Cédigo de Etica do Psicélogo/a, que em seus “Principios fundamentais" indica: “Ill. O psicdlogo. atuaré com responsabilidade social, analisando critica e historicamente a realidade politica, A. >. econdmica, social e cultural” (CFP, 2005). Utilize o OR Code para assistir a0 video: 27 Nesta unidade, vocé teve a oportunidade de: * conhecer 05 pré-socréticos e o problema da “origem”; + estudaro dualisma que nasce com Plata; + aprender sobre o desenvolvimento dos primeiros métados de conhecimento; ‘+ entender as ressondncias da filosofia nas discusses sobre corpo-mente e saide- doenca; ‘+ compreender que a Ciéncia Psicolégica é um Campo de Disperséo. A. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BOCK, A. M. B. A evoluc3o da Psicologia. In: BOCK, A. M. B, Psicologias: uma introducao a0 estudo de psicologia, So Paulo: Saraiva, 2008, CASERTANO, G. Os pré-socréticos. Sao Paulo: Loyola, 2011. CASTRO, M. G.; ANDRADE, T. M. R.; MULLER, M. C, Conceito mente e corgo através da histéria. Psicologia em Estudo [online], 2006, v. 11, n. 1, p.39-43. COTRIM, G.; FERNANDES, M. Fundamentos da filosofia e manual do professor. S40 Paulo: Saraiva, 2016, DANIELA, |. 0 velar como des-vela-dor da vida: a possibilidade da natalidade (re)velada no planto psicaldgico, 2016. Dissertacdo [Mestrado em Psicologia Clinica], Universidade Catolica de Pernambuco (UNICAP). Recife: UNICAP, 2016. FIGUEIREDO, LC, Revisitando as psicologias: da epistemologia a ética das praticas e discursos psicolbgicos. Petrépolis: Vozes, 2009. FREIRE, |. R. Raizes da Psicologia, Petrdpolis: Vozes, 2008, PINHEIRO, M. Comportamento Humano — interaco entre genes e ambiente, Educar, n 10, p. 53-57, Curitiba, UFPR, 1995, SCHULTZ, S, E,; SCHULTZ, D. P. Histérla da Psicologia Moderna, S4o Paulo: Cengage Lear- ning, 2009. SILVA, F. E.; DANIELA, |, Graduacdes com viés mercadolégico: implicagées para a pratica psicolégica no Brasil. 2019. In: Anais do Il Seminario Internacional da unido Latino Ameri- cano de Entidades de Psicologia. 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