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Apostila História Da Educação
Apostila História Da Educação
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
3
Bons estudos!
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No Império Bizantino, dava-se ênfase à vida religiosa, na qual existia grande
preocupação com as heresias. Há documentos, no entanto, que comprovam a
existência do ensino primário e secundário voltado para a formação humanística e
para a preparação dos funcionários que trabalhariam na administração do Estado.
A educação islâmica criou escolas primárias para ensinar a leitura e a escrita,
onde os alunos aprendiam o Alcorão, eram educados moralmente e incentivados à
pesquisa e experimentação. Foi quando entrou em colapso o modelo de educação
romana, que já apresentava uma crise devido à elitização do ensino e às
consequências do processo de invasões dos bárbaros. Diante disso, a Igreja se
organizou para ocupar o papel de formadora e detentora do saber no período
medieval.
Nunes (1979, p. 102) problematiza o papel de instituição formadora da Igreja:
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Fonte: Costa (2018)
Nos dias de hoje, podem ser observados vários elementos influenciados pela
organização educativa da época e pelas escolas monásticas, catedrais e sobretudo
universitárias:
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As primeiras escolas paroquiais datam do século II, nessa época qualquer
sacerdote paroquial recebia os jovens rapazes em sua própria casa para ensiná-los.
À medida que a nova religião tomava forma, tais estudos começaram a ser conduzidos
nas igrejas. O foco dos ensinos eram as Escrituras Sagradas e seguia uma estrita
educação cristã. Existiam também escolas monásticas que funcionavam regime de
internato e dedicavam-se inicialmente, à formação de futuros monges (ARANHA,
1993).
O ensino enfocava os ensinamentos das escrituras e seguia uma estrita
educação cristã. Havia também internatos, originalmente destinados a treinar futuros
monges. Mais tarde, foram criadas as chamadas escolas externas, cuja missão era
educar servos e filhos de reis, os chamados leigos cultos. O objetivo do currículo era
aprender a ler, escrever, conhecer a Bíblia, cantar e compreender aritmética básica.
Com o tempo, o latim, a gramática, a retórica e a dialética foram adicionados.
Carlos Magno chamou o monge inglês Alcuíno e, sob sua orientação, fundou
uma escola em seu próprio palácio, a Escola Palatina. Em 787, é decretada a
organização da Escola Palatina. Em seu currículo, constavam as sete artes liberais,
repartidas no trivium e no quadrivium:
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Anos mais tarde, foram criadas as instituições chamadas de Studium Generale,
locais onde se reuniam mestres e discípulos para dedicação ao ensino superior de
uma área do conhecimento (como medicina, direito, teologia), orientadas pelo papa
ou pelo poder real. Com a efervescência cultural e urbana da Baixa Idade Média,
essas instituições passaram a fazer referência ao estudo universal do saber, ao
conjunto das ciências. Dessa forma, Studium Generale foi substituído por universitas
(estudos universais) (MONGELLI, 1999).
1.2 A educação pela fé: o papel da Igreja na organização social do
conhecimento
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importante, a razão também deve ser vista como uma ferramenta para pensar. Assim
nasceu a filosofia cristã, cujos períodos foram chamados de patrística e escolástica
(CAMBI, 1999).
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1.4 Escolástica e o saber escolar
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Para ficar mais claro veja um exemplo: O papel da Igreja na educação pode ser
ilustrado pela presença dos jesuítas no estado do Rio Grande do Sul no século XVII.
Os retiros jesuítas não eram aldeias, mas verdadeiras cidades instaladas nas selvas
com uma infraestrutura completa. Além da igreja, centro de tudo, havia hospital, asilo,
escolas, oficinas, pequenas indústrias, alimentação e moradia para todos. Muitos
instrumentos foram tão bem feitos, assim como na Europa. Os livros eram impressos
no meio da selva, inclusive exemplares alemães (GILES, 1987).
2. A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE
A origem da nossa civilização remonta é a Grécia, o que justifica o início desta
aula, levaremos em conta o papel desempenhado pelos gregos no campo da
educação, particularmente no que diz respeito aos ideais de desenvolvimento
humano. O mundo grego havia perdido suas tendências educacionais, mas os
ensinamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles inquestionavelmente prevalecem
sobre outros pensadores da época. Esparta e Atena eram rivais, mas eram exemplos
de organização social, duas concepções de educação. (LUZURIAGA, 1983)
Esparta era uma sociedade de guerreiros que valorizava, particularmente, o
exército espartano. Eles defendiam a educação totalitária, militar opressiva e cívica,
onde todos os benefícios eram sacrificados pelo bem do Estado. Atenas, cidade-
estado democrática, segundo o modelo da época, utilizava o processo educacional
como meio pelo qual as pessoas adquiriam conhecimento sobre o que é certo, belo e
bom.
Sócrates (Figura 1) criou um método de diálogo pedagógico que incorpora
ironia e maiêutica. Dessa forma, ele se distanciou tanto dos sofistas, cuja educação
se concentrava apenas no sucesso individual, quanto de Esparta, onde o sistema
educacional servia aos interesses do Estado e não do indivíduo. Sócrates foi um
pioneiro que, ao concluir sua educação, compreendeu o valor da personalidade
humana, não do indivíduo subjetivo, mas da essência de todas as pessoas.
(LUZURIAGA, 1983).
Figura 1 - Sócrates
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Fonte: https://bityli.com/lzInC
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A Educação na Idade Média
Os rumores da cultura ocidental mudaram com a entrada do cristianismo, e com
ele, a compreensão do processo educacional. Mas relatos históricos nos dizem que o
Cristianismo coexistiu com o Império Romano por cinco séculos. Jesus foi o primeiro
mestre no cristianismo, seguido pelos apóstolos, os evangelistas e por seus
discípulos. O ambiente no qual se fortalece o processo educativo é a comunidade
cristã primitiva, então gradualmente essa comunidade se transforma em organização
eclesial, por um lado, e familiar, por outro. Estes são os dois pilares principais do
processo educativo quando o cristianismo se institucionaliza na igreja; assim se forma
fundamentalmente um catequista, mas lentamente começaram a surgir os primeiros
educadores cristãos (MORIN, 2001).
Inicialmente, os professores eram os Padres da Igreja Católica, que formavam
os chamados PATRÍSTICA, do qual fazia parte Santo Agostinho (Fig. 2) esse que foi
educado na tradição helênica, na escola retórica de Cartago e era um ávido leitor de
Cícero; deve - se notar que ele também foi um escritor prolífico. Santo Agostinho foi
um dos maiores pensadores da igreja e nos propiciou diversas obras que ainda hoje
são lidas e publicadas, destacando-se "Confissões" e "Cidade de Deus".
Fonte: https://bityli.com/Yqbup
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É dividido em duas fases o sistema educacional de Santo Agostinho: primeiro
prioriza o valor do desenvolvimento humano, depois a busca do ascetismo é o
segundo objetivo, mas em ambos os casos o desenvolvimento moral é essencial, “a
profundeza espiritual, que nos ilumina a inteligência e faz reconhecer a lei divina
eterna” (LUZURIAGA, 1983, p. 76). Mas sua filosofia de educação não diminui a
importância da educação física, do exercício, da oratória ou do conhecimento
histórico.
Segundo Gadotti, os sacerdotes alcançaram pleno êxito no cumprimento de
sua tarefa educativa e “Criaram ao mesmo tempo uma educação para o povo, que
consistia numa educação catequética, dogmática, e uma educação para o clérigo,
humanista e filosóficoteológica” (GADOTTI,1996, p.52).
Em suma, os estudos do período Medieval eram o Quadrivium (aritmética,
geometria, astronomia e música) e Trivium (gramática, dialética e retórica). O sistema
educacional, inspirado em Carlos Magno, foi dividido em três níveis a partir do século
XVIII:
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Desde 1599, este guia forneceu planos, programas e métodos educacionais
católicos aos professores sacerdotais. Após a morte do fundador, Manuel da Nóbrega,
no Brasil, os jesuítas começaram a defender fielmente os ensinamentos da
Companhia de Jesus explícito na "Ratio Studiorum" em 1600. Como resultado, eles
desenvolveram um sistema educacional que servia em duas frentes: a formação das
lideranças da elite e a educação catequética das populações indígenas.
(DURKHEIM,1973).
O Pensamento Pedagógico Moderno - A Educação No Século XVIII
O advento da educação realista no século XVII marcou um ponto de inflexão
entre a pedagogia renascentista e iluminista do século XVIII. A pedagogia realista é
profundamente influenciada pelo racionalismo de Descartes e pelo empirismo de
Francis Bacon. Sem contar a profunda revolução provocada pela teoria heliocêntrica
de Nicolau Copérnico desenvolvida no século XVI, ela também foi influenciada pelo
movimento científico da época, liderado por Galileu e Kepler.
Os principais autores da educação realista são Ratke, Comenius e Locke. Essa
educação objetiva substituir o conhecimento verbal prévio pelo conhecimento das
coisas, dessa maneira almeja desenvolver uma nova didática e ainda fortalece mais
a individualidade do aluno e defende o princípio da tolerância em relação às suas
personalidades únicas e ao seu inerente valor moral e social. Muitos dos princípios
pedagógicos articulados por Ratke, Locke e, principalmente Comenius ainda hoje são
aplicáveis e foram fortemente integrados ao movimento Escola Nova ao final do séc.
XIX e início do séc. XX. As preocupações dos governantes, pensadores e políticos do
século XVIII eram voltadas para as questões educacionais, com destaque para
Rousseau e Heinrich (LUZURIAGA, 1983, p. 149).
O mesmo procedimento é realizado com a representação dos revolucionários
de 1789, Condorcet e Lepelletier. Eles apresentaram planos para a organização do
sistema educacional nacional durante a Revolução Francesa. A partir daí a educação
nacional começou a se desenvolver, assim como a educação pública. As reformas
iniciadas no Brasil pelo Marquês de Pombal, em 1759, no Brasil representam uma
tentativa fracassada na mesma direção. Com base na perspectiva pedagógica, os
princípios da educação sensor alista e racionalista, naturalismo e idealismo na
educação, assim como da educação individual e nacional.
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O sistema educacional ideal dos iluministas é reconhecido no mais alto nível
da razão humana. Desta forma, Luzuriaga sintetiza os princípios orientadores do
iluminista ideal do século XVIII:
Não mostreis nunca à criança nada que ela não possa ver.
Enquanto a humanidade quase lhe é estranha, não podendo elevá-la ao
estado adulto, abaixai para ela o homem à condição de criança (ROUSSEAU,
1979, p. 197)
A educação deve ser útil, de acordo com o filósofo britânico Alfred North
Whitehead (1861-1947): “A educação é a aquisição da arte de utilizar os
conhecimentos. É uma arte muito difícil de se transmitir”. De outra forma, a ideia
socialista de educação contrapõe com a concepção britânica. Segundo Gadotti (1996,
p. 119), “ela propõe uma educação igual para todos”.
Um dos objetivos do movimento socialista, como o discurso liberal dos
princípios fundamentais de laicidade e educação do manifesto dos fundadores, já
havia sido defendido por Thomas Morus (1478-1535) em seu livro " Utopia “. O
movimento socialista na educação retrata uma extensa diversidade de ideias
pedagógicas, várias culminaram em uma série projetos de educação gratuita que
integraram princípios educacionais e direcionaram práticas pedagógicas em
numerosas economias de mercado (GADOTTI, 1996).
Contudo, o grande movimento educacional do século XX está,
inquestionavelmente, ligado à filosofia pedagógica da Escola Nova educacional, como
Ferrière, um professor, autor e conferencista da Suécia, e John Dewey, um filósofo
americano liberal que serviu de principal inspiração para o movimento da Escola Nova
no Brasil, tendo como inspiração Anísio Teixeira.
Dewey acreditava que educação era ação (aprender fazendo) e, como
resultado, o lado pedagógico da educação caiu em segundo plano. Ele via a educação
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como um processo contínuo no qual a experiência real, ativa e produtiva de cada um
era continuamente reconstruída. Segundo ele, a escola não necessitaria preparar os
alunos para a vida, mas que a escola deveria ser a própria vida. No seu livro chamado
"Como Pensamos", de 1979, ele descreve cinco estágios do processo de pensamento
que sempre vêm à mente ao enfrentar um desafio. As etapas são as seguintes:
a) Necessidade sentida;
b) Análise da dificuldade;
c) As alternativas de solução do problema;
d) A experimentação de várias soluções, até que o teste mental aprove uma delas;
e) Ação como prova final para a solução proposta que deve ser verificada de modo
científico.
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de alfabetização infantil, influenciou educadores brasileiros com estudos e práticas de
sala de aula voltadas para essa área.
As ideias pedagógicas da Escola Nova também foram influenciadas pelo
educador brasileiro Paulo Freire, cujo pensamento educacional é, hoje, mundialmente
conhecido, embora discordasse do conservadorismo político de alguns integrantes
desse movimento (VASCONCELOS, 2002).
Concluindo esse rápido panorama, consideramos ser necessário comentar a
educação no terceiro milénio. As mudanças que vemos hoje com o desenvolvimento
das tecnologias de comunicação e informação nos fazem repensar as práticas
pedagógicas, que enquanto práticas sociais não estão imunes a esse conjunto de
mudanças.
As consequências da terceira revolução industrial (informática, microeletrônica
e engenharia genética) são ainda mais profundas do que as causadas pelas duas
primeiras. Com as duas primeiras, observamos o surgimento de uma preocupação
com a educação de massas, que levou principalmente à construção de grandes
sistemas de educação de massa a partir do século XIX, principalmente devido aos
novos modos industriais de produção e urbanização.
No início do século, condicionada pelas consequências da globalização, a
construção de uma educação planetária torna-se uma preocupação. Sua fundação
está sobre os quatro pilares no Quadro 1 abaixo:
Por muito tempo, a Lei das Doze Tábuas serviu de base para a educação
romana. Os romanos conseguiram manter sua forma de conduta, seus princípios
morais e, sobretudo, seu ideal de serem governados pela autoridade patriarcal e
familiar, por meio do uso dessas leis. Melo (2006, p. 2) descreve como os romanos
eram tratados ou pensados:
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Esses direitos correspondiam a uma série de deveres, que o cidadão romano,
para cumpri-los, precisava possuir algumas aptidões e virtudes. Melo (2006) explica
que:
Lima (2011) ainda apresenta as virtudes do cidadão romano que deveriam ser
desenvolvidas por meio da educação:
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comportamento virtuoso nas esferas familiar, cultural e política (MELO, 2006,
p. 9).
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esse processo de transformação cultural. Melo (2006) explica como os valores
humanísticos, característicos dos gregos, são compreendidos pelos romanos:
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Fonte: Vieira (1984)
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Com base nesse processo de domínio da educação, no século I a.C., o Estado
passou a estimular a criação de escolas municipais em todo o Império. Aranha (1996)
aponta que o próprio Imperador César concedera o direito de cidadania aos mestres
de artes liberais. Já no século I d.C., o imperador Vespasiano isentou os professores
de impostos e Trajano ordenou a distribuição de alimentos aos alunos pobres.
Posteriormente, outros governantes decidiram que os professores deveriam ser pagos
em dia, além de ordenar o que deveriam receber (ARANHA, 1996).
Outro ponto relevante e que merece destaque na política educacional desse
período diz respeito às cátedras oficiais. O primeiro imperador a aplicá-la foi
Vespasiano; criou cátedras específicas para oficiais de retórica latina e grega,
sustentadas por fundos imperiais, apenas para a cidade de Roma, não para todo o
império (MELO, 2006).
A partir da necessidade aqui descrita para formar funcionários para o Estado,
as disposições imperiais previam, além de instituições voltadas para a preparação dos
altos escalões, escolas especiais destinadas à formação de escrivães (taquígrafos),
cujas funções foram adquirindo maiores responsabilidades ao longo da história do
Império Romano (MELO, 2006; ARANHA, 1996). Por fim, vale a pena mencionar que
a estrutura educacional do resto do estado e municípios romanos levou à criação dos
reinos bárbaros (germânicos). Isso porque os bárbaros valorizavam a cultura clássica,
que se concretizava no processo educacional de seus filhos. Assim, chegou ao fim a
tradição da educação laica.
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as instituições de ensino e difundir e fortalecer dogmas. Assim somados os fatores de
elitismo da educação romana, o declínio do Império Romano e os processos de
invasões bárbaras, os modelos educativos romanos foram gradualmente substituídos
por modelos medievais.
Em suma, é possível afirmar que o papel histórico de Roma não foi o de criar
uma nova civilização, mas o de implantar solidamente a cultura helenística na região
do Mediterrâneo. Do ponto de vista histórico, a educação na sociedade romana
continuou desprezando o trabalho manual e priorizando a educação e formação de
uma elite intelectual. Assim, a educação tem por finalidade realizar o que o homem
deve ser (ARANHA, 1996).
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Silva (2007, p. 2) também apresenta algumas características e áreas do
pensamento iluminista:
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Essa maneira de compreender e questionar influenciou muito o nascimento de
novas formas de educação: pensando no conhecimento, Descartes espontaneamente
pensava a respeito da educação. Guimarães (2005) aponta que com Descartes a
dúvida assumiu um sentido positivo, contrastando com a ideia de que a dúvida é a
“incerteza do não saber” porque faz o sujeito pensar sobre o método de
experimentação.
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Francis Bacon foi outro filósofo que merece destaque na história da educação.
Segundo Batista (2010, p. 163-164), Bacon foi um filósofo renascentista que
apresentou uma visão filosófica voltada ao rigor científico, cujo significado foi profundo
à educação. Nas palavras do autor:
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disso, o pensamento moderno acabou por reproduzir a mesma lógica de dominação
agora caracterizada pelo rigor científico e não mais amparada nos aspectos religiosos.
Já Manacorda (2010) problematiza a importância da Reforma Protestante para a
consolidação das transformações que ocorreriam mais tarde, inclusive na educação.
Para o autor, esse afastamento do pensamento religioso cristão monopolizado pela
igreja católica até a reforma possibilitaria a disseminação do pensamento moderno
também na educação.
John Locke, filosofo inglês, também foi relevante para a história da educação.
Uma interessante curiosidade apresentada por Fagundes (2014) é que Locke não
escreveu especificamente sobre educação. Seus escritos são constituídos de cartas
endereçadas a uma parenta, nas quais oferece algumas orientações de como deve
ser a educação dos meninos. Fagundes (2014) enfatiza a importância do pensamento
de Locke para a formação do Estado de cunho liberal e também do ideal de educação
constituído na modernidade.
Perceba que o autor também evidencia que Locke manifestava uma herança
dos preceitos gregos de educação para o corpo e a mente. Locke acreditava que o
homem deve ser educado em sua completude, em todas as dimensões da vida
humana:
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seria o resultado das interações entre as experiências e os traços de caráter de cada
pessoa ou, alternativamente, as coisas às quais foram expostas ao longo de suas
vidas. Fagundes (2014) destaca outro pensamento de Locke de que o momento ideal
para uma criança aprender as virtudes necessárias para uma vida em sociedade é
durante a infância. O autor explica que:
Silva (2006) destaca ainda a importância que Comênio deu à educação e como
seu trabalho e concepções de vida e humanidade ajudaram a organizar a educação
escolar. Conforme o autor, Comênio acreditava que o desenvolvimento do
conhecimento humano ocorreria de forma gradual, respeitando as etapas do
surgimento da mente por meio do estabelecimento de uma ligação entre filosofia e
educação. Silva (2006) explica que:
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Segundo Cerisara (1990), Rousseau era crítico da educação escolástica. O
entendimento de educação do filósofo pode apreciado em suas obras “O contrato
social” e “O Emílio ou da Educação”.
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1996). Um importante elemento herdado desse processo na história da educação é a
separação entre o poder da igreja e a educação como sistema de instrução. A
importância dessa transformação e concepção de Estado, religião e educação é
descrito por Melo (2011):
Melo (2011) justifica esse atraso no cumprimento das exigências gerais de uma
política educacional laica e gratuita. A burguesia, como classe emergente em um
contexto revolucionário, opta por se alinhar com seus oponentes para proteger a ideia
de propriedade.
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em busca de seus anseios. Assim, a educação como uma política de atendimento
universal e gratuito em muitos países pode ser considerada um grandioso legado
desses revolucionários franceses e principalmente do movimento de luta organizada
das classes trabalhadoras.
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por pesquisadores e historiadores da primeira metade do séc. XX; o sexto e último
momento, que iniciou no ano de 1945, abrange análises atuais.
Conforme Carvalho (1978, p. 29) “os alvarás e regulamentos pombalinos eram
vistos como se não houvesse alternativa entre o jesuitismo e o antijesuitismo oferecido
na época”. Nessa alternativa, os jesuítas equivaliam, para os historiadores, tudo o que
havia de antimodernista, enquanto Pombal e seus homens representavam a autêntica
expectativa das aspirações modernas. Agora há que admitir que as condições desta
alternativa é um dos mais importantes obstáculos pra que se entenda um dos
momentos mais claros da história portuguesa.
O governo de Pombal quis culpar os jesuítas pelo declínio cultural e
educacional dos portugueses, atribuindo a eles todas as deficiências da educação
metropolitana e colonial. Segundo Carvalho (1978), esta corrente, conhecida como
antijesuitismo, representava uma mentalidade que predominava em muitos países
europeus e não era exclusiva de Portugal. Dessa maneira, a Companhia de Jesus
serviu de barreira e fonte de oposição às investidas de aplicação da nova filosofia
iluminista que rapidamente se espalhou pela Europa (FALCON, 1993).
Segundo Serrão (1992) e Almeida (2000), o Marquês de Pombal expressou seu
ódio aos jesuítas em documentos oficiais da época. Carvalho (1978) ressalta que:
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• A completa destruição da organização educacional jesuíta e sua metodologia de
ensino no Brasil e Portugal;
• Criar aulas de gramática latina, grego e retórica;
• Criação do cargo de "Diretor de Estudos".
• Tinha a pretensão de ser um órgão administrativo de direção e supervisão
educacional; iniciação das classes arregimentadas;
• Aulas isoladas que substituíram o curso secundário de humanidades criado pelos
jesuítas;
• Realização de um concurso para selecionar professores para ministrarem as
aulas régias;
• Aprovação e instituição das aulas de comércio.
Pombal, que teve influência das ideias do Iluminismo, instituiu uma significativa
reforma educacional, pelo menos formalmente. O pensamento pedagógico das
escolas públicas e privadas substituiu a metodologia eclesiástica dos jesuítas.
Segundo Azevedo (1976, p. 56–57), é a ascensão do espírito moderno que:
Isso resulta em uma nova ordem social, um novo modelo humano e uma nova
sociedade baseada nos princípios do sistema de produção pré-capitalista. Quando o
Marquês de Pombal propôs reformas educativas através de decretos sobre a criação
de novas escolas e reforma das já existentes, deu - se importância principalmente
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para a utilização do ensino público como instrumento ideológico com o objetivo de
controlar e erradicar a ignorância que se alastrava pela sociedade, condição
incompatível e incongruente com o ideário iluminista (SANTOS, 1982).
Segundo Almeida (2000) e Ribeiro (1998), o maior entrave para o alcance
desses objetivos era a falta de homens qualificados para lecionar no ensino elementar
e primário. Isto é, havia uma carência significativa de docentes, tanto na metrópole
quanto no interior, que tivessem capacidade para desempenhar o papel de educador.
Nesse contexto, é possível dizer que Pombal enxotou os jesuítas e assumiu
oficialmente o ensino público, com a pretensão de, não só aperfeiçoar o sistema e a
metodologia de educação, mas também colocá-los às ordens da política do país.
Conforme Haidar (1973), o objetivo foi fundar uma escola que tivesse utilidade para
os fins do Estado, e dessa maneira os pombalinos, ao invés de recomendarem o
trabalho escolar intensivo e generalizado, almejavam fundar uma escola que servisse
as exigências da coroa antes de convir aos interesses religiosos.
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Ministro Pombal procura oportunizar. Pretendeu-se, assim, que as escolas
portuguesas pudessem observar as mudanças ocorridas na época.
Ao apoiar este alvará, o Marquês de Pombal esperava proporcionar a
substituição dos métodos pedagógicos tradicionais da Companhia de Jesus por outros
mais contemporâneos e mais alinhados com os ideais filosóficos do iluminismo.
(ALMEIDA, 2000).
Reconhecendo as contribuições do Marquês de Pombal para a educação
pública, Almeida (2000) e menciona que outras organizações religiosas tentaram dar
continuidade ao trabalho dos padres jesuítas depois da expulsão e destruição da
Companhia de Jesus do Brasil, porém não lograram êxito. Ademais, acredita que o
sucesso do projeto educacional jesuíta se deve em parte à capacidade dos padres em
cumprir o papel de professor, porque mantiveram muitas escolas dirigidas por
professores realmente profissionais.
Carvalho (1978), Avellar (1983) e Ribeiro (1998) consideram que o conteúdo
da Reforma Pombalina, sob o patrocínio de suas principais inspirações Luis Antonio
Verney, Ribeiro Sanches e Antônio Genovessi, tem elementos da doutrina tradicional
ou eclesiástica. Dessa forma, não houve uma ruptura total na educação jesuíta, pois
as mudanças foram mais no conteúdo do que nas metodologias de ensino.
De acordo com Falcon:
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portuguesa; oitava carta - a filosofia; nona carta - a metafísica; décima carta
- a lógica/física; décima primeira carta - a ética; décima segunda carta - a
medicina; décima terceira carta - a jurisprudência como prolongamento
natural da moral; décima quarta carta - a teologia; décima quinta carta - o
direito econômico; décima sexta carta -apresenta uma sequência de planos
de estudos: os estudos elementares, a gramática, o latim, a retórica, a
filosofia, a medicina, o direito, a teologia e termina com o apêndice sobre 'o
estudo das mulheres' (MACIEL E NETO, 2006, p.473 aspas do autor)
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Figura 1 – Proclamação da República
Fonte: https://bityli.com/HP6ra
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houve mudanças nos transportes do país, trem e barco a vapor, na comunicação,
telégrafo e telefone.
Tendo em vista as mudanças ocorridas no cotidiano das pessoas,
principalmente nas capitais do país, pode-se dizer que a modernidade ao Brasil logo
nas primeiras décadas do século XX. Nesse período, carros, aviação, jornalismo
ilustrado, indústria fonográfica, cinema e rádio são exibidos em cidades como o Rio
de Janeiro, a capital e importante representação nacional. (SEVCENKO, 1998, p.
522).
Essas alterações técnicas também têm impacto na forma como a vida urbana
é organizada. Isso pode abranger costumes sociais, estilos de arte, formas de retórica,
ritmos de dança, regras de conduta, vestimentas e penteados. Sevcenko (1998, pp.
522, 523). Além dessas novas normas culturais e de lazer, podemos citar as
mudanças ocorridas nos lares com a adoção de novos hábitos (consumo diário de
café e tabagismo) e o ingresso de novos utensílios domésticos, como os
eletrodomésticos.
O símbolo maior dessa nova fase que o país queria implementar foram as
reformas realizadas pelo presidente Rodrigues Alves na capital federal do Rio de
Janeiro em 1904 -1905. Várias obras foram realizadas ao longo da chamada Avenida
Central para "civilizar a cidade".
6.1 A república velha e os anos iniciais
O grande número de escolas primárias segregadas que existem em São Paulo
inspirou um plano para combinar várias escolas em um edifício construído
especificamente. Todo o sistema pedagógico foi desenvolvido e grandes prédios
foram construídos em várias cidades para instituir o novo modelo de escola, o
chamado Grupo Escolar, um local onde poderiam ser aplicadas as exigências da
pedagogia moderna: os espaços funcionais da escola, que inclui ambientes como sala
da direção, biblioteca, oficina, laboratórios, anfiteatro, secretaria, terraços e salas de
aula arejadas. (DE BENCO, 2005).
A ideia se alastrou pelo país. No começo do século XX, os estados de Minas
Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Paraíba e Santa Catarina e
seguiram o exemplo de São Paulo e investiram na construção de prédios imponentes,
principalmente em capitais escolares. Assim, a consolidação de escolas segregadas
e a construção de prédios para o "Grupo Escolar" (Figura 2) fez-se uma prática dos
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governos estaduais republicanos para divulgar a entrada do país na modernidade
educacional.
Contudo, a implementação do Grupo Escolar no Brasil pode ser vista como um
componente da estratégia dos Liberais Republicanos para promover a educação
pública no Brasil, além de apoiar o novo governo. Conforme explicação de Souza
(2006):
O Grupo Escolar, para alguns então, pode ser incluído em um amplo projeto de
educação pública que está sendo executado pelos governos republicanos em toda a
República Velha para reformular a educação nacional. Sob outra perspectiva,
Fernando Azevedo, em sua clássica obra sobre a “transmissão da cultura” brasileira,
diz: “Do ponto de vista cultural e pedagógico, a República foi uma revolução que
abortou e que, contentando-se com a mudança de regime, não teve o pensamento ou
a decisão de realizar uma transformação radical no sistema de ensino. ” (Azevedo,
1958, p. 134).
50
Fonte: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/exp_l.php?t=020
51
1927. Essa passagem pela velha república levou a várias iniciativas de reforma
educacional. Pela constituição de 1891, a competência administrativa do ensino
primário era atribuída aos Estados e o ensino secundário era de competência da
União. Vale ressaltar que, até então, não existia um órgão responsável pela
centralização e coordenação das atividades educativas no país, os assuntos
educativos ficavam sob a responsabilidade do Ministério dos Correios e Telégrafos.
Deste modo, reformas na educação pública ocorreram em vários estados, com
o processo de reforma em andamento em São Paulo sob a liderança de Sampaio
Dória ( 1883-1964 ) , diretor geral de instrução do estado .Esta reforma foi baseada
no princípio de democratizar a educação sob as ideologias nacionalistas .Como
resultado , o aspecto mais notável da reforma de Sampaio Dória foi a implantação de
uma educação popular após dois anos de escolarização básica .Por detrás desta
iniciativa estava a decisão sobre o tema: “ensino primário incompleto para todos ou
ensino integral para alguns”. (CARVALHO, 2003, p. 230).
Perceba que os primeiros educadores profissionais brasileiros tiveram um
papel importante na implementação de reformas na educação pública em vários
estados. Sampaio Dória recomendou Lourenço Filho (1897-1970) em 1922 para
realizar a reforma educacional no Ceará, e sua obra seguiu o padrão moderno de
intervenção pública: a princípio promoveu um estudo minucioso da situação
educacional do estado, reuniu os recursos disponíveis e superou lutou contra a
resistência da população às mudanças.
A batalha principal era mudar a forma de pensar das pessoas, incluindo as dos
professores e da elite, bem como da população em geral. Anísio Teixeira (1900-1971),
foi Diretor Geral de educação do governo da Bahia de 1924 a 1928, promoveu a
reforma ensino baiano, em que foi rejeitada a ideia paulista de ensinar as primeiras
palavras em apenas dois anos.
Francisco Campos (1891-1968), Secretário do Interior a partir de 1926,
promoveu uma significativa reforma educacional em Minas Gerais com foco na
formação de professores. A partir de 1929, Carneiro Leão também mudou o sistema
educacional de Pernambuco. Seu foco era a valorização do curso normal, e o fez
introduzindo o campo da sociologia da educação nos currículos das escolas de
formação de professores. As reformas educacionais no Distrito Federal
implementadas entre 1922 e 1926 realizada por Carneiro Leão, e a reforma da
52
educação no Rio Grande do Norte implementada por José Augusto entre 1925 e 1928
também são dignas de destaque. (CARVALHO, 2003, p. 230).
6.2 A república velha e o ensino secundário
Em relação ao ensino secundário, segundo Nagle (2001, p. 191), entre 1890 e
1920, “aos poderes públicos interessava apenas manter instituições padrão que
servissem de modelo para outras escolas secundárias do país”. O foco era a
manutenção da qualidade e não a preocupação em ampliar o atendimento à
população.
Como resultado, a educação elitista dominada pelo setor privado continuou.
Segundo as reformas do ensino médio implementadas pelo Governo da União, foram
ao todo 05 (cinco) durante os 41 (quarenta e um) anos da República Velha:
53
Os três princípios principais do movimento eram democracia, industrialização e
ciência. A tese principal era que, por meio do uso da educação, a sociedade poderia
ser transformada e democratizada. Os princípios que devem nortear a educação
segundo a Escola Nova são os princípios liberais que definem a singularidade da
escola, laica, gratuita, obrigatória e sobretudo pública. (AZEVEDO, 1958).
Pois bem, se você se lembra da mentalidade conservadora que prevalecia no
Brasil durante a República Velha, compreenderá que esses pioneiros da Escola Nova
suportaram forte oposição. Por outro lado, havia aqueles que defendiam o ideal
católico de educação, que se caracterizava pelo sobrenatural, subordinando a
educação à doutrina religiosa (católica), educação separada para meninos e meninas,
educação privada e responsabilidade familiar pela educação.
Esse "utopismo passadista" foi liderado por alguns intelectuais católicos, como
55
política que garantiu as estratégias de reforma educacional para uma nova sociedade,
administrando-a a partir de um projeto nacional. ” Mate (2002). O manifesto alimentava
uma disputa ideológica já travada entre os reformadores educacionais, os
Escolanovistas e os católicos conservadores, representantes do poderoso setor
educacional privado. De acordo com Romanelli (1998, p. 143), os três principais
pontos do manifesto de 1932 – a laicidade, a necessidade de o Estado desempenhar
o papel de educador e a igualdade dos direitos educacionais entre os dois grupos de
interesses – foram os que causaram a maior conflito entre os dois grupos de interesse.
Apesar de começar com a frase " ao povo e ao governo “, o Manifesto dos
Pioneiros de 1932 acabou por ser um apelo ao governo brasileiro, então regido por
uma nova configuração política, para alterar efetivamente a situação educacional do
país sistema. E as reformas prosseguiram sem demora. Por meio de uma série de
decretos, Francisco Campos, ministro da Educação e Saúde Pública, realizou uma
reforma abrangente que afetou o sistema educacional em todo o país. Dentre as
reformas implementadas, destacam - se a criação do Conselho Nacional de
Educação, órgão consultivo máximo da educação no Brasil, a organização do ensino
superior e a adoção do Estatuto das Universidades Brasileiras, bem como a
organização do ensino secundário e do comercial. (ROMANELLI, 1998)
Como você viu antes, até o final da década de 1920, o ensino secundário era
organizado em torno dos chamados "preparatórios" e exames de admissão ao ensino
superior, o que impedia a seriação dos cursos secundários. Os currículos seriados
foram finalmente implementados com a Reforma Francisco Campos, e a necessidade
de frequência e de terminar o ensino médio antes de ingressar no ensino superior
entrou em vigor.
A declaração do Manifesto de 1932 e a Reforma Francisco Campos tiveram
impacto e, entre 1932 e 1936, houve uma ascensão do ensino público no Brasil e um
declínio do ensino privado. Como resultado dessa situação, os interesses dos vários
grupos de interesse que lutavam pelo controle da educação nacional vieram à tona.
Contudo, de maneira geral, o equilíbrio alcançado na educação desde a
proclamação da república até o final da segunda guerra mundial é que, no sistema
educacional de dois níveis, ainda prevaleciam as diferenças regionais nos sistemas
escolares. Os padrões aumentaram, os mecanismos de transmissão cultural,
representados neste caso pelos ideais da Escola Nova, continuaram a dominar, e a
56
mentalidade católica conservadora de interesses privados continuou a influenciar a
educação nacional (ROMANELLI,1998).
57
O andamento deste projeto foi tempestuoso e durou até 1961, ano em que foi
promulgada, o que levou à formação de dois grupos. Um deles são os apoiadores da
escola privada: empresários e principalmente a Igreja Católica. O outro grupo era
formado pelos defensores da escola pública, esses eram os intelectuais como:
Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Florestan Fernandez e outros. Houve uma
vigorosa campanha de proteção às escolas públicas, culminando no "Manifesto dos
Educadores Mais Uma Vez Convocados" (1959), Fernando de Azevedo e outras 164
personalidades da vida cultural brasileira foram quem assinaram. Além disso, é
notável como a legislação sempre mostrou apenas os interesses das classes
representativas do poder (ARANHA, 2006).
59
Conforme Ribeiro (1998, p. 154), " os anos de 1956 a 1961, constituíram o
período áureo do desenvolvimento econômico, aumentando as possibilidades de
emprego, mas concentrando os lucros marcadamente em setores minoritários
internos, e mais que tudo, externo”. Em suma, deve-se ressaltar que nos anos 1955-
1964 houve diversificação de atividades, novos empregos sendo criados, quantitativa
e qualitativamente a preservação da exploração do método de trabalho como meio de
acumulação e expansão do mercado intermediário agora integrado ao processo de
desenvolvimento.
Em 1960, Jânio Quadros venceu a eleição presidencial apoiado pelo maior
partido de oposição de JK, a UDN, justamente por causa da expansão da dívida
externa e, por consequência, da inflação. Pela primeira vez o presidente assumiu o
cargo no Brasil e expressou esperança no futuro.
Meses depois (1961), sete meses especificamente, essas esperanças foram
destruídas com a secessão, que mergulhou o país em uma grave crise política.
Quadros se envolveu em assuntos não condiziam à importância de seu cargo, como
a proibição do lança-perfume, biquínis e briga de galos. Em iniciativas mais sérias,
combinou iniciativas favoráveis à esquerda com iniciativas favoráveis aos
conservadores. Dessa forma, Jânio, que já carecia da maioria no Congresso Nacional,
perdeu o apoio da UDN e foi obrigado a renunciar. (RIBEIRO, 1998).
Com essa renúncia o vice-presidente assumiu a presidência, conforme Fausto
(2004, p. 447), “a posse de João Goulart na presidência significava a volta do esquema
populista, em um contexto de mobilizações e pressões sociais muito maiores do que
no período Vargas. Os ideólogos do governo e os dirigentes sindicais trataram de
fortalecer o esquema”. O ideológico fundamental era o nacionalismo, e as reformas
sociopolíticas conhecidas como reformas de base. Juntamente com a reforma agrária,
preconizava-se a reforma urbana, cujo objetivo principal era criar condições para que
os inquilinos se tornassem proprietários de moradias de aluguel.
Todas essas ações adotadas por Jango em apoio à classe trabalhadora fizeram
com que as forças conservadoras começassem a conspirar contra seu governo, como
resultado o poder dos militares cresce. No final de 1964 estava definido o golpe militar,
bastava apenas um impulso final. Muitos democratas se desesperaram enquanto
esperavam mobilizações e ordens para resistir aos tanques nas ruas e ao fim do
60
regime democrático. A esquerda fragmentada não conseguia levantar palavras de
ordem e não tinha forças para combater a violência militar (FAUSTO, 2004).
O colapso da democracia liberal em 1964 revelou a fragilidade do compromisso
fundamental do governo. A derradeira covardia de Jango foi apenas mais um exemplo
das limitações estruturais da chamada democracia populista. A administração militar
rejeitou o nacionalismo e destruiu o sistema político construído durante a era
democrática fazendo com que o Brasil fosse reprogramado. De 1964 a 1974, o país
se beneficiou economicamente dessa modernização autoritária.
Nas décadas de 1950 e 1960 tiveram obras de Paulo Freire que foram a base
para a criação da Pedagogia Libertadora. “Tal concepção afirmava que o homem tinha
vocação para ‘sujeito da história’, e não para objeto, mas que no caso brasileiro esta
vocação não se explicitava, pois, o povo teria sido vítima do autoritarismo e do
paternalismo correspondente à sociedade herdeira de uma tradição colonial e
escravista”. (GHIRALDELLIJÚNIOR, 1991). A pedagogia deve criar uma nova forma
de pensar, tentar aumentar a consciência do povo brasileiro para os problemas
nacionais e envolvê-los na luta política.
Conforme a Pedagogia Libertadora, a urbanização, a industrialização e o
progresso levantaram preocupação com os migrantes –trabalhadores rurais que
deixaram suas terras e migraram para as cidades onde ficaram à mercê da demagogia
política e da manipulação midiática de massa. Essa pedagogia rotulou a educação
convencional como "educação bancária", uma educação baseada em uma ideologia
de opressão que considerava o aluno carente de conhecimento e, portanto, destinado
a se tornar o guardião dos dogmas do professor. Enfatizou a ideia de que toda ação
educativa é uma ação política, e o professor "humanista revolucionário" deveria usar
sua ação política e educacional para mudar a sociedade e criar um novo tipo de ser
humano. Ao contrário da educação bancária, esta aprendizagem deveria
problematizar as situações vividas pelos alunos e favorecer a transição da consciência
ingénua para a consciência crítica. (GHIRALDELLIJÚNIOR, 1991).
A Constituição de 1946 restabelece a educação como um direito humano. Além
de outras características que merecem ser destacadas no texto de 1946, é importante
ter em mente a inovação da vinculação de recursos à educação. “Estabelecendo que
61
a União deveria aplicar nunca menos de 10% e Estados, Municípios e Distrito Federal,
nunca menos de 20% das receitas resultantes dos impostos na manutenção e
desenvolvimento do ensino –Art. 169” (VIEIRA; FARIAS, 2007, p. 113).
Com relação à organização do ensino escolar, permanece a instrução de que
Estados e do Distrito Federal ordene seus respectivos sistemas educacionais (artigo
171), compete a União organizar o sistema federal de ensino e dos territórios tendo,
o sistema federal, um caráter supletivo, estendendo-se a todo o país nos estritos
limites das deficiências locais (Art. 170). Quanto à distribuição de matrículas, a
situação em 1960 é a seguinte:
62
conseguiu superar os 6,10% de recursos retirados do orçamento da União destinados
à educação. (VIEIRA; FARIAS, 2007)
Segundo Ghiraldelli Júnior (1991, p. 132), “em 1960, JK entregou ao seu
sucessor um sistema de ensino tão elitista e antidemocrático quanto fora com Dutra e
Vargas. Apenas 23% dos alunos que ingressavam no curso primário chegavam ao
quarto ano, e somente 3,5% usufruíam o último ano do curso médio”. Mesmo
governando o país sob o fogo cruzado de setores conservadores e vendo as
instituições democráticas desaparecerem, o presidente Jango conseguiu desenvolver
meios importantes para avançar nas questões sociais. Entre 1961 e 1964, o governo
federal aumentou seus gastos com educação em 5,93%.
Em janeiro de 1964, o governo João Goulart propôs o Plano Nacional de
Alfabetização, que foi modelado a partir do "método que alfabetizava em 40 horas" de
Paulo Freire e tinha como meta alfabetizar 5 milhões de brasileiros até 1965. O Plano,
porém, teve uma existência breve, assim como a discussão das reformas: uma das
primeiras iniciativas do governo, ordenado por um golpe militar em abril de 1964, foi
exterminá-lo. (GHIRALDELLIJÚNIOR, 1991).
63
O Manifesto foi reintroduzido na sociedade em 1959 com o sugestivo título
"Mais Uma Vez Convocados". A variedade da primeira versão foi eliminada, e a
discussão de vários temas que haviam sido deixados de lado foi retomada em grupos
menores porque a própria escola pública estava sob uma nuvem de fumaça. A escola
pública foi alvo de ataques significativos daqueles que defendiam o financiamento
público para instituições educacionais específicas, particularmente Instituições
religiosas. Com a chegada da década de 60 aproximava-se o contexto em que nasceu
a Campanha de Defesa da Escola Pública (BUFFA, 1979).
Ao contrário de 1932, o manifesto de 1959 não tratou de questões pedagógico-
didáticas e não apoiava o monopólio estatal da educação, como a opinião pública e
os defensores da educação privada querem que você acredite. Diferente disso,
defendeu a existência de duas redes, pública e privada; mas sugeriu que os recursos
públicos atendessem apenas à rede pública e que as escolas particulares estivessem
sob controle oficial. Uma campanha para proteger as escolas públicas foi organizada
durante a primeira Assembleia Nacional, realizada em São Paulo em maio de 1960.
De outra forma, a voz da Igreja Católica, a Revista Vozes, expressava e
defendia interesses privatistas. Sob a ideia da educação gratuita, Evaristo Arns
enfatizou em diversos artigos que a educação não é tarefa do Estado, mas sim da
família, que era um grupo natural antes do Estado. Além disso, o padre era uma
proteção para os empresários educacionais que usavam os argumentos da Igreja
Católica porque não tinham base e passagens para minar a campanha da Escola
Pública.
64
O sistema educacional, e as escolas públicas, principalmente, tendem a apoiar
e contribuir para os processos de urbanização e industrialização do país. Com relação
às verbas públicas para a educação pública que tanto incomodavam Florestan
Fernandes, segundo Anísio Teixeira, o que havia de ser comemorado era o fato de a
estrutura empresarial do estado ter sido de fato abandonada.
Anísio Teixeira, que havia passado por um revés pessoal com o advento do
Estado Novo (1937-1945), tinha motivos para comemorar o fim da estrutura vertical e
engessada que caracterizava a educação brasileira até então. Florestan Fernandes
pensava no futuro do ensino público tendo em vista a possibilidade que ela teria de
disputar verbas com a escola particular (BUFFA, 1979).
Finalmente, como já foi apontado várias vezes, as ideologias conflitantes
provinham de correntes conservadoras e progressistas, esta última defendendo a
preservação da educação como um privilégio de classe e a segunda democratizando
a educação. O primeiro defendia a intervenção do Estado em matéria educacional, e
o segundo afirmava que o Estado deve cumprir sua função educativa como base para
garantir a preservação do sistema democrático. O contínuo atraso da escola em
relação à ordem econômica era consequência da estrutura de poder do Brasil.
65
expectativas de JK, nenhum grupo social ou político tentou convencê-lo a permanecer
no poder (VICENTINO, 2002).
Fonte: https://descomplica.com.br/artigo/resumo-historia-janio-quadros-joao-goulart/43b/
66
O sistema parlamentarista reduziu a autoridade do presidente do país e
transferiu a governança para o Conselho de Ministros. Contudo, como o sistema
parlamentarista foi imposto por um golpe, ele nunca conseguiu a paz política para
governar o país. Os três primeiros ministros, com um ano e meio de mandato, foram:
Tancredo Neves, Francisco Brochado da Rocha e Hermes Lima (VICENTINO, 2002).
A inflação, que reduzia os salários dos trabalhadores, causava grande
instabilidade política e social sem que o governo tomasse medidas efetivas para
combatê-la. Os trabalhadores urbanos aderiram ao movimento da reforma agrária
como única forma de superar sua marginalização no processo produtivo em
decorrência dos problemas urbanos, agravados pelo rádio e pelo crescimento
populacional.
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A administração de João Goulart era considerada nacional-
reformista, o que ficava claro em suas propostas distributivas. Entre as
medidas de cunho nacionalista tomadas pelo Presidente, estava o
estabelecimento de restrições a remessa de lucros das empresas
multinacionais brasileiras às suas matrizes no estrangeiro. Resoluções dessa
natureza abalaram as corporações político-ideológicas contra o governo. A
principal estratégia era denegrir a imagem e aos planos de João Goulart, para
que, em um segundo momento, o presidente fosse deposto e essa elite
tomasse efetivamente o Estado (ROSA, 2006).
Vicentino (2002) aponta que, logo após o golpe de 1964, o Congresso elegeu
o Marechal Humberto Castello Branco como Presidente da República sob pressão dos
militares. Em decorrência do significativo apoio dos Estados Unidos e de empresas
multinacionais, o governo de Castelo Branco passou a tomar posições que
privilegiavam os interesses do capital internacional, principalmente dos Estados
Unidos. A partir desse cenário a anulação de direitos sociais coletivos e individuais
levou a inúmeras prisões arbitrárias, desaparecimento de pessoas, torturas e
assassinatos, atitudes que fizeram parte do cotidiano da sociedade brasileira.
Diversas manifestações artísticas, culturais e outras foram proibidas durante a
ditadura, assim como qualquer tipo de protesto contra o governo. Ou seja, a censura
foi um dos suportes mais fortes desse período. No que diz respeito ao setor
68
educacional, o Ato Institucional nº 1 (AI-I) fortaleceu as leis e as tornou mais rígidas
desde o início (GHIRALDELLI, 2000).
Por meio de pressão, a justiça militar julgou civis por supostos delitos políticos
usando veredictos arbitrários para que o presidente agisse da maneira que fosse
melhor para a segurança e o desenvolvimento do país. Naturalmente, muitos desses
métodos de punição não estavam na Constituição. A fim de facilitar a atuação dos
militares, gradualmente foram introduzidos os chamados Atos Institucionais (ROSA,
2006).
Entre junho de 1964 e janeiro de 1968 foram firmados doze acordos MEC-
USAID, o que compreendeu a política educacional do país as determinações
dos técnicos americanos. A ótica dos acordos MEC-USAID era a mesma
vociferada em torno “científico” pelo ministro do Planejamento do governo
Castelo Branco, em 1968, no fórum do IPES. O ministro Roberto Campos,
em palestra sobre “Educação e Desenvolvimento Econômico”, procurou
demonstrar a necessidade de atrelar a escola ao mercado de trabalho.
Sugeriu, então, um vestibular mais rigoroso para aquela área de 3º grau não
atendentes às demandas do mercado. Para ele, toda a agitação estudantil
daqueles anos era devida a um ensino desvinculado do mercado de trabalho,
um ensino baseado em generalidades e, segundo suas próprias palavras, um
ensino que, “não exigindo praticamente trabalhos de laboratório” deixava
“vácuos de lazer”, que estariam sendo preenchidos com “aventuras políticas”
(GHIRALDELLI, 2000, p. 169).
71
Havia uma necessidade urgente de formar professores para que pudessem
formar mais trabalhadores para a crescente industrialização do Brasil. Os “Cursos de
Licenciaturas Curtas” e a atualização de egressos do ensino médio (segundo grau)
com um ano adicional de especialização para cumprir o papel de formadores de mão-
de-obra nas chamadas escolas polivalentes foram criados como uma solução
imediata para satisfazer essas carências (VEIGA,1989). De acordo com Rosa (2006):
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