•“Incertae sedis”, aborda uma ampla gama de assuntos informativos, que não se refletem nos padrões
determinados pelas outras seções, não estando estes necessariamente restritos biologia.
Para auxiliar o aluno recém-formado, foi criada a seção “Depois do diploma”, que divulga concursos e
oportunidades de trabalho dentro da área de biologia.
No final desta edição apresentamos uma pequena guia com as regras e padrões estabelecidos para que
um artigo possa ser submetido à revista.
O laboratório desenvolve basicamente duas linhas de O sistema imune tem por função proteger o organismo
pesquisa. As duas com genes humanos. Uma delas de moléculas e microorganismos estranhos, dispondo para
consiste no estabelecimento de uma metodologia de ex- tal basicamente de dois sistemas, um humoral e outro
tração de DNA de múmias, fósseis e ossos antigos, para celular. Dentro do sistema celular se destaca o grupo
tentar desvendar mecanismos de evolução e realizar a das células efetoras (linfócitos citotóxicos) as quais são
determinação sexual das amostras. responsáveis por encontrar e destruir células que de algu-
A outra linha consiste na tentativa de isolar novas sondas ma forma não estejam sadias, como células tumorais ou
de RFLP’s que possam ser usadas em estudos aléicos de infectadas por vírus.
ligação, legais e de parentesco. Em nosso laboratório estudamos as moléculas usadas
Diego Rodriguez pelos linfócitos citotóxicos (CTL) para matar outras célu-
las, verificando seus efeitos sobre diferentes tipos celula-
res e microorganismos e verificando a existência de simi-
NEUROGÊNESE lares destas moléculas ao longo da escala filogenética.
Depto. de Neurobiologia, IBCCF-UFRJ Dentre os projetos que desenvolvemos temos: efeito da
ação dos linfócitos citotóxicos sobre Trypanossoma cruzi;
O laboratório de Neurogênese do IBCCF-UFRJ é uma resistência dos CTLs às suas moléculas citotóxicas;
unidade de pesquisa básica que tem como objetivo ge- caracterização em pepino do mar de moléculas
ral examinar aspectos da regulação da degeneração citotóxicas; etc. Além disso no laboratório são desenvol-
celular no sistema nervoso embrionário. O trabalho visa vidos experimentos de eletrofisiologia, verificando os di-
contribuir para a elucidação de mecanismos celulares e ferentes efeitos do ATP sobre macrófagos.
moleculares de controle da degeneração neuronal, e dos Rodrigo da Cunha Bisaggio
papéis da morte celular e outros fenômenos regressivos
no desenvolvimento do sistema nervoso. ANATOMIA VEGETAL
Stevens Kastrup Rehen
Depto. de Botânica, IB-UFRJ
4 BIOLETIM 9
ICTIOLOGIA GERAL E APLICADA BIOLOGIA MOLECULAR DE LEPRA
Depto. de Biologia Marinha, IB-UFRJ Depto. de Biofísica e Biometria, IB-UERJ
Diante do pouco que se conhece sobre a ictiofauna bra- A hanseníase é uma doença de difícil diagnóstico (devido
sileira, o Laboratório de Ictiologia Geral e Aplicada está a reações cruzadas com outras doenças) e, embora tenha
envolvido no momento com um projeto maior, denomi- cura, seu tratamento é árduo e duradouro. Além disso, a
nado “Inventário Ictiofaunístico dos Ecossistemas Aquáti- pesquisa com Microbacterium leprae é prejudicada por-
cos Continentais Costeiros do Leste do Brasil”. Cada um que não se consegue o desenvolvimento do
dos seus quatro estagiários, assim como o doutor Wilson microorganismo em cultura. Com isso, a utilização da
J.E.M. Costa, chefe do laboratório, pesquisa um grupo tecnologia do DNA recombinante torna o trabalho com
taxonômico específico com ênfase em sistemática. M. leprae mais acessível porque, com a quebra do DNA
O meu projeto individual (também desenvolvido como da microbactéria e sua inserção em vetores de expressão
monografia) consiste em um estudo detalhado sobre em Escherichia coli (que é amplamente estudada), tenta-
habitats, hábitos, ocorrências e sistemática dos peixes se isolar genes que possam codificar um antígeno a ser
da família Gobiidae em um trecho do litoral brasileiro. reconhecido pelo anticorpo de pacientes com hanseníase.
A linha aplicada do laboratório está relacionada com Mílton Ozório Moraes
eventuais levantamentos ictiofaunísticos visando avalia-
ções de impactos ambientais.
Ricardo Zaluar Passos Guimarães
AVALIAÇÃO DE GENOTOXIDADE
Depto. de Biofísica e Biometria, IB-UFRJ
ZOOPLÂNCTON Análise do efeito protetor da tiouréia na inativação celular
Depto. de Biologia Marinha, IB-URFJ provocada por SnCI2 em E. coli.
Os sais de estanho são usados em setores de importân-
O Laboratório de Zooplâncton do Departamento de Bio- cia na nossa vida tais como embalagens metálicas. Além
logia Marinha tem como linha geral de trabalho o levan- disso atua como agente redutor, para obter o
tamento e estudos ecológicos de zooplâncton da costa radiofármaco Tc99. Neste estudo com cepas de E. coli
sudeste-sul do Brasil. Sob a coordenação da professora proficientes ou deficientes em vários mecanismos de reparo
Catarina Silva Ramiz Nogueira, o laboratório tem atual- de DNA, observou-se que o cloreto estanhoso (SnCI2),
mente quatro projetos de iniciação científica em anda- na solução (12,5 !g/ml), induziu uma morte celular sig-
mento, realizados por estagiários do departamento, que nificativa na cepa de E. coli AB 1157. Este mutante não
utilizam tais projetos para a montagem de suas é o mais sensível do seu tipo. Notou-se também que o
monografias. efeito letal induzido por SnCI2, foi significativamente
Minha monografia foi realizada em torno do emissário reduzido (cerca de 70%), pelo uso de um sequestrador
submarino de Iapanema. Através de coletas mensais du- do radical livre OH– a tiouréia (1M). Este resultado indi-
rante um ano, do levantamento dos organismos do zoo- ca que pelo menos em parte, o efeito letal do SnCl2 é
plâncton encontrados e da comparação destes resultados mediado por EAO (espécies ativas de oxigênio).
com os de outras regiões, será possível avaliar o efeito Flávio José Silva Dantas
dos lançamentos sobre o plâncton e a comunidade mari-
nha dele dependente. Desta forma, no final do projeto,
será possível chegar a um quadro da ação do emissário
sobre o ecossistema marinho da região.
Marcelo Semeraro de Medeiros
8 BIOLETIM 9
Ciência e Arte: duas faces
de uma mesma moeda
Reinaldo Endlich Orth
A ciência sempre teve como proposta fundamental a gresso contínuo e incessante, reforçada pela Revolução
objetividade, mas até que ponto a ciência da Industrial e suas consequências sobre a sociedade
modernidade está desvinculada de fatores culturais, que contemporânea, ajuda a destacar o homem de seu meio,
influenciam o pensamento racional. Na Idade Média a reli- tornando-o um protótipo de ser perfeito, situado no ápice
gião era um obstáculo ao desenvolvimento da razão, da escala evolutiva, e relega os outros seres a meros
entretanto, após a transposição desta barreira, degraus de uma escada para a perfeição, per-
a racionalidade moderna foi aos poucos mitindo ao homem o abuso de poder sobre
tornando-se uma religião dissimulada os meios.
que substituiu a precendente. Se é na A ciência, a partir destes conceitos,
ciência da modernidade, e em sua formulados com base na crença da
influência sobre a cultura, que se superioridade do homem sobre o
fundamenta a crença do mundo mundo e com o objetivo de reafir-
ocidental, então a decadência má-la cientificamente, assume
desta abala todo conjunto de uma postura de uma religião na
valores da sociedade contem- qual todos são obrigados a crer,
porânea. É na angústia gerada pois esta se baseia em fatos con-
por este processo que a arte mo- cretos, explicados objetivamente.
derna se inspirou para criar suas No entanto, a razão não é sufici-
obras. entemente abranjente dentro dos es-
Para exemplificar esta interação ci- pectros de fatores que constituem o ser
ência-arte, tomemos a influência de humano, dentre elas a emoção e a espiri-
Darwin, com suas teorias sobre evolução, no tualidade para responder a todos os questio-
teatro de Beckett, no caso específico de sua peça “Fim namentos do homem. Questões como: “De onde viemos?”
de Jogo”. “Para onde vamos?” e outras explicam-se cientificamente
A teoria evolucionista de Darwin demonstra que a evo- segundo a esfera racional, que engloba apenas a matéria
lução ocorre de modo contínuo e ascendente, numa es- da qual somos constituídos. Sendo assim, a angústia do
cala em que a complexidade de um organismo é o de- homem moderno se fundamenta na ausência de respostas
terminante do patamar evolutivo que ele atingiu. Dentre ao lado espiritual e emocional destas questões,
as variáveis de complexidade adotadas para se classificar inexplicáveis racionalmente.
uma espécie como mais evoluída em relação a outra, Esta angústia coloca-se claramente no universo teatral
julga-se a mais importante o nível de complexidade do de Beckett. Seus personagens são seres que buscam
sistema nervoso. Se este fator for prioritário, logicamente respostas às perguntas mais simples e crucias para que
o homem seria a espécie mais evoluída, já que somos o suas existências não sejam em vão.
único ser cujo sistema nervoso proporciona a formação No texto “Fim de Jogo” a racionalidade expressa atra-
de um pensamento racional, enquanto os outros seres, vés da linguagem, é o único bem de que dispõem os
destituídos desta capacidade, são guiados apenas pe- personagens para viver. Suas emoções são negligencia-
los instintos. Com o advento da modernidade, extermi- das e mesmo bloqueadas, por eles mesmos. Os
nando o medo do oculto, pois tudo pode ser explicado sentimentos nunca são responsáveis por suas decisões,
em termos científicos. Além disso, a idéia de um pro- estas são sempre tomadas segundo a razão individual.
10 BIOLETIM 9
A Bicicleta
Transcedental
Bernardo A.G. Monteiro
Com uma bicicleta podemos nos transportar a uma velocidade média de 25 Km/h, por
mais de uma hora gastando menos energia do que a necesária para subirmos uma
escada, com muita calma, durante o mesmo tempo. A primeira vista, 25 Km/h podem
não parecer muito entusiasmantes, principalmente sabendo que precisamos suar para
manter este ritmo por algum tempo. No entanto é o mesmo que os automóveis mais
potentes conseguem desenvolver nas ruas da cidade em horário de trânsito movimentado,
sendo que a bicicleta pode ser levada por qualquer rua, mão, contra-mão ou rua de
pedestres. E até mesmo para quem gosta da sensação de velocidade, uma boa bicicleta
pode atingir 50 Km/h num plano ou 70 Km/h numa descida com certa facilidade, ou
seja, emoção suficiente para desesperar qualquer mãe de ciclista. Mas a bicicleta está
longe de quebrar barreiras de velocidade. E o desespero causado pelos riscos a que o
ciclista pode se submeter não está entre suas maiores virtudes. Seus maiores valores são
a eficiência, a simplicidade e a elegância.
Apesar de algumas limitações que podem ser importantes, como não possuir ar
condicionado, para-choques e para-brisa, a bicicleta pertence a uma categoria superior
à dos carros e motos, os quais julgo inferiores por serem máquinas muito ineficientes na
utilização de energia, barulhentas, poluidoras, pesadas, grandes, de alto custo de aquisição
e de manutenção, e quase sempre substituíveis pelos meios públicos de transporte que
qualquer cidade deveria ter. E se admitirmos que apenas em algumas ocasiões o carro
deveria ser considerado realmente necessário, então usemos alugados. Mas se estou
tratando de carros é apenas para destacar ainda mais as qualidades das bicicletas. As
mais evidentes são a eficiência e a simplicidade, mas cada uma, isoladamente, dispensa
explicações. Porém algumas satisfações conseguidas pelo ciclista precisam ser entendidas
através de uma reflexão sobre estas qualidades.
Um ciclista pode conhecer profundamente cada um dos poucos componentes de uma
bicicleta e ter a sensação de que a domina completamente, sem que para isso tenha que
dedicar muito de sua vida a ela. O ponto ótimo de cada componente pode ser facilmente
previsto e atingido por pequenos ajustes caseiros. Os rolamentos, os freios e as marchas
podem ser manipulados pelo ciclista comum até a perfeição de funcionamento. Qualquer
folga ou ruído na bicicleta podem ser eliminados. Os desgastes das peças são lentos,
visíveis e facilmente verificáveis. Defeitos repentinos que não possam ser resolvidos em
poucos minutos usando-se apenas as ferramentas que cabem debaixo do selim são muito
raros. Por tudo isso, o trabalho cuidadoso de manutenção de uma bicicleta é feito com a
certeza de que o resultado será a perfeição.
Todo conhecimento humano, parcial, parece recusar-se a ser dominado. A bicicleta sobreviveu
como uma das poucas estruturas úteis totalmente compreensível até os níveis mais fundamentais.
Nela a nossa mente pode descançar e ter um pouco do prazer da dominação, mesmo que
seja apenas uma pequena ilusão. E se a ilusão não interessar, fiquemos então com a
elegância da bicicleta, a solução mais simples para quem tem pernas, quer se deslocar
mais rápido, gosta de ficar sentado e já sabe há muito tempo o valor da roda.
14 BIOLETIM 9
uma forma carinhosa de lápis). Você e um monte de coisas vermelhas. Com
desenha tão bem... o preto ela desenhou um pedaço de
– Tá legal, então fica de costas. carvão, que servia para fazer mais
– Pronto, fiquei. Tá bom assim? desenhos... Com o azul, ela desenhou
– Eu não sei não, mas algo me diz o céu, e se lembrou de quando era
que eu não devo fazer isso... Gritando pelo nome de sua amiga e uma estrela.
– Deixa de bobagem, você não gos- morrendo de medo que os apontado- E se lembrou de quando acordou, ao
ta de mim? Então, eu sempre sonhei res, os guardas do rei borracha, lado do amigo lápis e sentiu uma
com um interruptor... Liga! Desliga! aproveitassem que ele estava sozinho saudade imensa. E ficou triste. Então
Liga! Desliga! para pegá-lo. Ele estava começando pegou o lápis branco.
E ficou encantada, se divertindo com a ficar com muito medo. medo de – Alguém aí sabe o que ela desenhou
a idéia de ter de ter um interruptor, tudo escuro, todo mundo diz que é com o lápis branco?
o que ela sempre sonhou. E nem bobagem, este papo de fantasma é – Ah, eu sei! Disse o Fred.
percebeu que seu amigo estava com tudo criação dos Estúdios de Walt – Diga lá, Frederico. O que a estrela
sua ponta muito fina, o que era muito Disney, tudo mentirinha. Mas eu sinto desenhou?
perigoso para uma estrela, eu é tão medo, pô! Era assim que ele pensava. – Ah, ela desenhou umas nuvens, é
brilhante, mas é muito frágil. E estava descobrindo isso agora, lógico. Disse ele com aquela cara,
Enquanto ele se preparava para porque nunca tinha ficado naquele aquela que vocês conhecem.
desenhar, a sua ponta a espetou e ela caderno. – Não, você errou. Mas não fica triste
gritou tão alto, tão alto que acordou A Marcinha me puxou pela mão e me não. Olha só o que ela fez...
até o Carlinhos, que é um tremendo perguntou: Ela rabiscou com o branco e começou
dorminhoco. Ele nunca acorda na hora – E a estrela? Ela morreu, tio? a encher tudo de branco. E o branco
de ir para a escola. – Não, ela apenas ficou um pouco foi preenchendo tudo, como se
– O que foi? Ah, o que eu fiz? diferente... E falando nisso... transbordasse. E de repente...
Gritou o lápis, completamente deses- De repente o lápis que estava no meio
perado ao ver sua amiga sofrer. A estrela abriu os olhos e percebeu daquele escuro danado, viu tudo ficar
– Não sei, você me espetou, mas a que estava um pouco estranha. Agora branco e suspirou aliviado. E então viu
dor é tão grande que parece que eu ela era uma estrela estranha. Em cada aquele lápis branco, que era um lápis
vou me desfazer! ponta da estrela, agora tinha um fêmea extremamente interessante.
– Vem cá, minha amiga, você não pontinho colorido. E ela viu que estes Eles ficaram amigos e acabaram
pode ir, a gente ainda tem tantas pontinhos eram de cinco cores trilhando juntos vários caminhos
brincadeiras para inventar... diferentes. Azul, vermelho, verde, pautados. Um dia desses ela acabou
E ela foi sumindo, sumindo, foi branco e preto. e cada ponto era uma se lembrando de tudo que havia vivido
desaparecendo. Até que desapareceu ponta de lápis de cor. Na verdade, a e foi então que riram muito de tudo.
completamente, levando toda a estrela não era mais uma estrela. A – Acabou, tio?
luminosidade com ela. E ficou tudo estrela era um conjunto de cinco lápis – Acabou... eu fiquei com medo de
escuro, tão escuro quanto a boca do de cor. E agora estava bem mais decepcionar as crianças... Mas
lobo mau, ou tão escuro quanto os contente. Ela esqueceu aquela estória felizmente, ataquei com um chavão
olhos do dragão, que tem uns olhos boba de que incomodava as pessoas salva-vidas: ...e viveram felizes para
pretos, pretos. O lápis, que morria de com seu brilho e assustava quem não sempre.
medo de escuro, começou a chorar. E estava acostumado à luz forte, e
a berrar, enquanto chorava e soluçava. começou a curtir estes lápis nos quais
ela havia transformado.
E desenhou um monte de árvores com
o seu lápis verde. E grama também,
que nem essa aqui que a gente tá
sentada, criançada. E maçãs e bocas,
16 BIOLETIM 9
do desenvolvimento. Dessa forma maior “tamponamento” nos “”homeo a evolução se daria de um único
podemos observar nesses mamíferos box” de alguns mamíferos, servindo modo. Portanto, a questão não é de-
a existência de um maior grau de como um meio de evolução mais terminar quais padrões existem, mas
conservatividade. rápida nestes grupos. sim qual rege a maioria dos proces-
Além disso a neotenia (“sensu latu”) Um argumento forte desde os tempos de sos de especiação.
pode ser invocada como um caminho Darwin é considerar as descontinuidades
provável para uma evolução saltatória no registro fóssil (que se apresentam em Quando concebemos este texto,
relacionada a cronogenes, que gera- grande frequência) como falhas do re- Bisaggio, Sutton e eu nos detivemos
ria estágios larvares ou jovens gistro, já que o processo de fossiliza- ao aspecto básico do pensamento
reprodutivamente maduros e competi- ção necessita de diversas circunstân- pontualista: a estabilidade da estrutu-
tivos com a forma adulta. Diferenças cias ambientais específicas de forma- ra, a dificuldade de sua transformação
morfológicas entre os diversos estágios ção e conservação de sua integrida- e a idéia de mudança como uma
do ciclo de vida, extremariam as de ao longo do tempo. No entanto transição rápida entre estados estáveis.
divergências de qualquer estágio “pré- atribuir a quase constância das des- O equilíbrio pontuado foi proposto
adulto” com a forma adulta. Estes fa- continuidades do registro fóssil a fa- como um modo explicativo das
tos poderiam conduzir ou a uma for- lhas ocorridas ao longo do tempo e tendências do registro fóssil, no entanto
mação de duas subpopulações as dificuldades que implica a fossili- suas implicações se contrapuseram ao
(subadulta e adulta) independentes e zação seria pouco provável. modelo evolutivo tradicional: o modo
com destinos evolutivos possivelmente filético, no qual as tendências são
diferentes a partir deste ponto ou a O ponto central da hipótese do produtos de transformações anagené-
extinção de uma das duas fases equilíbrio pontuado é a existência de ticas dentro das linhagens.
reprodutivamente maduras. longos períodos de pouca ou nenhu- Entretanto, deixamos de considerar
Tais evidências têm sido encontradas, ma flutuação morfológica, definida por outros aspectos do modelo pontualista.
por exemplo, no caso de Sporophila estase, embora a seleção esteja atu- No Darwinismo estrito o indivíduo é a
bouvreulcrypta, na qual o indivíduo ante (Gould, 1982). Isto parece se única unidade de seleção, na qual
adulto mantém a plumagem caracte- contrapor com a idéia gradualista de operam e de onde resultam todos os
rística de um subadulto (lagoa feia, Sick, uma transformação gradual de uma processos evolutivos. Mas se as espé-
1968 in: Sick 1984). Outro caso espécie para outra. Os gradualistas cies são estáveis e apresentam uma
encontrado na literatura é o de explicam os períodos de estase por grande longevidade, então as tendê-
Caenorhabditis elegans (nematoda) meio de uma “seleção estabilizante” ncias no registro fóssil podem ser con-
com mutação no gen LIN-14, que (seleção normalizadora) que manteria sideradas como um resultado do
apresenta uma forma lavar reproduti- o padrão morfológico durante os pe- seu sucesso diferencial como entida-
vamente madura (N.J. Gehhing 1975). ríodos de estase. No entanto é pouco des. Uma origem rápida com um pe-
esperado que num período tão longo ríodo posterior de estabilidade permi-
Além dos fatos supracitados, deve- como os de estase, aproximadamente tiria que propriedades originárias do
mos levar em conta outros fatores que 4.9 a 10.8 milhões de anos para status de espécie estivessem sobre a
influenciam a evolução como a inteli- invertebrados marinhos fósseis (Raup influência da seleção. Se isto é correto,
gência. Segundo A. C. Wilson (1985) l978 e Stanley l979, in: Gould as tendências evolutivas estariam mais
a inteligência de um animal ajudaria l982) por exemplo, as condições correlacionadas à origem diferencial
esse a evoluir, pois o animal com maior ambientais permanecessem as mesmas do que à extinção diferencial. Sendo
capacidade de aprendizado e de modo que as pressões evolutivas assim, creio que a origem diferencial
“raciocínio” teria maior possibilidade mantenham uma conservatividade du- dentro de um clado tem um forte
de invadir outros ambientes, os quais rante todo este período. componente da seleção ao nível de
poderiam exercer sobre o animal Muito provavelmente os dois padrões espécie.
pressões evolutivas diferentes daque- de especialização ocorrem assim como
las que ele sofria no seu habitat origi- outros, sendo ingenuidade acreditar
nal. Tal fato poderia compensar o que um processo tão complexo como
18 BIOLETIM 9
Figura 1 — (I) Cladograma com grupo interno a ser resolvido (A, B, e C). (II) Matriz de caracterese.
(III) Cladograma resolvido com representação das mudanças de estado dos caracteres.
grupos externos (outgroups) ou por mônia). Este princípio é metodoló- descendentes. Deste modo grupos
análise da ontogenia dos caracteres gico, não se afirmando jamais que a como Reptilia (amniotas menos Aves e
(o gradismo, como o cladismo, exclui evolução seja parcimoniosa. Verifica- Mamalia) não são reconhecidos por
as convergências, mas não dá grande se ainda que as relações de plesio/ serem artificiais. Há naturalmente
importância à distinção de caracteres apomorfia são hipotéticas, sendo a diversos outros modos de se elaborar
primitivos versus derivados; o feneti- congruência com as demais relações uma classificação. Deve-se entretanto
cismo usa todos os caracteres em seus a seu teste. Homologia, no sentido mostrar que contribuição uma classifi-
algoritmos de similaridade geral). Por evolutivo, passa a ser sinônimo de cação por exemplo fenética traria à bio-
grupo externo entenda-se taxons pro- sinapormorfia (apomorfia compartilha- logia se substituísse uma filogenética.
ximamente relacionados mas não in- da) e, consequentemente, testável. Uma questão freqüentemente coloca-
cluídos no grupo interno, correspon- Cladogramas representam a hipó- da é a importância de se evitar a
dendo o estado plesiomórfico àquele tese de relacionamento filogenético inclusão de pressupostos quanto aos
presente nos grupos externo e interno, entre os taxons em questão, e um processos que determinam a forma.
e o apomórfico àquele restrito ao grupo sumário da distribuição dos caracteres Com efeito, se fizermos um estudo do
interno (Figura 1.II & III). O método entre os mesmos. O tamanho das linhas padrão calcado nas teorias de pro-
ontogenético analisa a generalidade que interligam os taxons não tem cesso, não há como testarmos estas
dos estados de cada caráter, equiva- significado. teorias, já que cairíamos em uma
lendo o estado mais generalizado ao tautologia. São questões relevantes
plesiomórfico (sobre métodos de A partir do cladograma pode-se para estudiosos das teorias de
polarização veja Weston, 1988). estabelecer uma classificação, sendo processo; contudo, o que o sistemata
Cabe ainda notar que as relações de que as classificações cladistas são deve se perguntar é se as teorias de
plesio/apomorfia são relativas, isto é, isomórficas às hipóteses filogenéticas processo desempenham alguma
em um caráter, um estado a’ pode ser (o gradismo propõe uma classificação importância para o estudo do padrão,
apomórfico em relação a a e plesio- baseada frouxamente na filogenia, ao e se for o caso, qual importância.
mórfico em relação a a’’. usar como critério paralelo a similari- Em suma, o cladismo é um método de
Com os caracteres polarizados, dade genética e o argumento de análise filogenética, que reconhece
selecionam-se os estados apomórficos autoridade; o feneticismo a propõe apenas grupos monofiléticos
e determina-se a hipótese de relaciona- com base em algum índice de diagnosticados por sinapomorfias, e
mento filogenético (cladograma, similaridade geral). Isto implica na uma escola sistemática que provocou
figura 1.III) para o grupo interno que aceitação apenas de taxons monofiléti- uma rediscussão dos fundamentos da
implica no menor número de alterações cos sensu Hennig, i.e., aqueles que sistemática, e do papel da sistemática
destes estados (princípio da parci- incluem um ancestral e todos seus frente à biologia.
20 BIOLETIM 9
Figura 1 — Degeneração celular interdigital durante o desenvolvimento. Diagramas do membro
posterior do pinto, mostrando a escultura dos dedos por zonas de necrose localizadas (setas).
aferentes
dendritos
célula alvo
aferente
núcleo
corpo celular
pericárdio
dendritos
axônio
neurônio
neurônio
(b) aferentes
células alvo
nódulo de
ranvier bainha de mielina
(produzida por célula glial)
terminal
terminal fenda sináptica
pré-sináptico
dendrito pós-sináptico
dendrito
células alvo
(c)
axônio
22 BIOLETIM 9
la pelas iniciais NGF (nerve growth
factor).
A descoberta da NGF deu origem
à Teoria Neurotrófica. Esta sugere
que os neurônios competem por
agentes tróficos (do grego “trophé”,
nutritivo) liberados por seus alvos
ou aferentes com os quais são
feitas conexões através de seus
Tabela 1 — Percentagem de neurônios que d e g e n e r a
axônios e dendritos, respectiva-
naturalmente em diferentes regiões do sistema nervoso durante
mente. São considerados fatores
o desenvolvimento em vertebrados (E=dia embrionário, S=
tróficos moléculas que promovem
estágio, G=semana de gestação, P=dia pós-natal).
e regulam a sobrevivência neuronal
no tecido nervoso em desenvolvi-
mento. São caracterizados por
serem produzidos em quantidades
limitadas pelos quais os terminais
nervosos competem (figura 5).
Se bloquearmos o aporte de NGF
a uma determinada população
neuronal, sensível a esta molécu-
la, haverá um maior número de
neurônios eliminados.
Em várias regiões do Sistema Ner-
voso, novas moléculas neurotrófi-
cas foram isoladas a partir de al-
vos e outros tecidos. Seus efeitos
foram testados em culturas de cé-
lulas, entre elas podemos citar o Figura 4 — As barras do histograma indicam a percentagem
BDNF (brain-derived neurotrophic de neurônios excedentes em animais que tiveram o campo de
factor), a aFGF (acid fibroblast inervação aumentado, ou seja, células nervosas com maior
growth factor), o bFGF (basic possibilidade de formar conexões. Cada barra corresponde a
fibroblast growth factor), etc. Pro- um animal hiperinervado (implante de uma terceira pata).
vavelmente outros fatores tróficos
serão isolados a partir de alvos e
aferentes nos próximos anos.
Evidências obtidas em nosso
laboratório através de experimen-
tos realizados com neurônios de
retina de pinto sugerem que al-
guns fatores tróficos podem ter sua
liberação regulada pelo curso Figura 5 — Esquema mostrando a competição de neurônios por
temporal de desenvolvimento das moléculas tróficas liberadas por células com as quais serão feitas
células secretoras de tais molécu- conexões. As células nervosas que não tem acesso aos fatores
las (Figura 6). tróficos degeneram.
24 BIOLETIM 9
O Sono e o Sonho
Marília Zaluar
26 BIOLETIM 9
prazer sexual. Nós também sonhamos durante as
outras fases do sono, mas raramente nos lembramos.
Caso lembrado, o sonho nestes outros estágios é na
maioria das vezes menos vivo e visual, menos emoci-
onal e mais prazeiroso. Existe, porém, uma exceção,
já que a maioria dos pesadelos ocorrem durante os
estágios 3 e 4. No entanto, em correspondência ao
tipo de atividade mental destas fases, estes episódi-
os não são relatados como uma narrativa do sonho,
mas sim apenas como a lembrança de uma situação
opressiva, como ser enterrado vivo.
Mesmo nos estágios mais profundos de sono, impul-
sos sensoriais externos penetram no córtex cerebral.
como quando estamos acorddos, há uma resposta
motora a estes impulsos. No entanto, esta resposta é
fortemente inibida. Da mesma maneira, não corre-
mos ou levantamos os braços quando sonhamos que
o estamos fazendo. Já são conhecidos alguns dos
mecanismos pelos quais há esta inibição. Experi-
mentalmente, se estes mecanismos são bloqueados
há a manifestação de movimentos e posturas durante
os sonhos. Um gato, através deste procedimento de
bloqueio, pode levantar-se, chiar, arreganhar os
dentes, dar patadas e locomover-se durante um so-
nho. é importante ressaltar que embora haja recepção
de estímulos externos durante o sono, estes dificil-
mente irão se reter na memória. De onde se conclui
que métodos de aprendizado de idiomas com fitas
para serem ouvidas dormindo não são eficazes. Isto
porque ficou comprovado em algumas investigações
que quando estamos dormindo só memorizamos uma
Figura 2 — Ciclos normais de sono em diferentes palavra se esta nos desperta.
idades. As barras escuras equivalem a sono REM.
É imensa a quantidade de conhecimento acumulado
sobre os mecanismos que regem este enigmático
estado em que mergulhamos diariamente, tomando-
nos quase um terço de vida. Veja na figura 3 as
regiões do cérebro cujas funções seriam controlar
este fenômeno. O núcleo supraquiasmático, por
exemplo, seria o relógio biológico do organismo.
Entretanto perguntas básicas permanecem sem
resposta. Por que dormimos e por que sonhamos?
Para que existem diferentes fases de sono? Por que
o cérebro necessita de episódios periódicos de sono
para poder funcionar perfeitamente quando estamos
acordados?
Figura 3 — Regiões do sistema a nervoso supostamente
envolvidas no sono.
28 BIOLETIM 9
dentro de um fragmento de DNA. A Em 1987, Nakamura et alli, isolou
diferença entre os dois se deve aos sequências de DNA que continham
fenômenos biólogicos que os originam. estas repetições em série e que repre-
sentavam um único locus, designando-
Figura 2 — Identificação indivi-
A maioria das variações conhecidos as de “Variable Number of Tandem
na sequência do DNA era devida a Repeats” ou simplesmente VNTR.
dual usando DNA fingerprint de
mudanças de algumas bases que Este sistema de marcadores em
pequenas amostras de sangue.
criavam ou destruíam um sítio de oposição ao anterior, pode ser
Nove pessoas não correlatas
clivagem para uma enzima de altamente informativo na análise de
mais duas uniões. A sonda
restrição específica, causando uma ligação gênica e tipagem do DNA
utilizada foi a multi-locus 33.15
mudança no tamanho do fragmento por apresentar uma heterozigosidade
e o DNA digerido com Hinf I.
de DNA. Os marcadores originados muito maior podendo identificar com
por este fenômeno foram chamados mais facilidade, os polimorfismos
de Restriction Fragment Lenght Polymor- existentes na população sendo seu uso
phisms (RFLP). Um locus marcador extremamente confiável para traçar o
baseado em uma simples troca de perfil genômico de cada indivíduo.
bases produzirá somente dois alelos,
e a chance de serem alelos diferentes, A descoberta destes marcadores foi
em um dado locus, é sempre menor de grande importância para os estudos
que 50 %. A genotipagem com este de “linkage”, acompanhamento de
sistema de marcadores, que refletem algumas enfermidades, como
múltiplos sítios polimórficos, pode ser Fibrose Cística e Huntington, e
trabalhosa, requerendo análises com principalmente na determinação do
várias sondas moleculares e/ou padrão genotípico dos indivíduos.
amostras de DNA digeridas com Para se conseguir um padrão, como
Figura 3 — Padrão de DNA diferentes enzimas de restrição. na figura 2, utiliza-se a técnica do
fingerprint num caso de teste de Em contraste um sistema de marcado- Southern Blot. Esta metodologia
paternidade. Fragmentos de res desenvolvido por Jeffreys et alli em baseia-se na digestão do DNA
DNA hipervariável são compa- 1985, revelou que fragmentos de genômico com enzimas apropriadas,
radas entre (B) sangue e (S) es- restrição cujo tamanho era altamente na separação dos fragmentos por
perma no indivíduo 4 e entre variável dentro da população, podi- corrida eletroforética, na transferência
sangue e DNA isolado de linfo- am ser usados para análise de ligação para um suporte sólido e posterior
blastóides transformados deri- e tipagem do DNA. A sequência de identificação com as sondas marcadas
vados de indivíduos correlatos bases desta região hipervariável radioativamente (figura 1).
5 a 7 (6 filha e 7 tia materna indica que este fragmento de restrição Com a finalidade de exemplificar uma
da mulher 5). DNA fingerprint contém grupo de repetições em das inúmeras utilizações desta
de sangue de gêmeos idênticos cadeia de uma sequência de aproxi- abordagem metodológica, na figura
(9, 10) comparados com sua madamente entre 10 e 60 pares de 3, vemos um típico caso de disputa
mãe (8), pai (11) e dois homens base. O tamanho do fragmento é de paternidade. De acordo com os
não correlatos (12 e 13). Os função do número de cópias desta padrões de bandas da mãe, do filho,
fragmentos de DNA de gêmeos sequência dentro deste segmento, que dos irmãos e do suposto pai,
foram identificados eliminando pode ser originado por crossing-over consegue-se, com mais de 99,97 %
as bandas maternas não presen- desigual ou deslizamento da DNA de precisão, confirmar ou excluir a
tes e bandas paternas presen- polimerase durante a replicação. paternidade em questão.
tes nos gêmeos
30 BIOLETIM 9
Figura 1 – A tecnologia DNA recombinante torna possível a introdução de sequências nucleotídicas delibera-
damente de um DNA de uma cepa ou de espécies diferentes de organismos dentro de outros DNAs. O DNA de
um organismo exógeno primeiramente é fragmentado de várias formas. Nesta figura, enzimas de restrição são
usadas para fragmentar DNAs exógenos e também para cortar o DNA circular do plasmídeo. Depois, o DNA
exógeno é recombinado com o DNA do plasmídeo, a ponto de restaurar a forma circular do plasmídeo, e essa
nova estrutura pode ser inserida dentro de um hospedeiro
DNA exógeno
origem de
replicação
anelamento
ligação (ação
da DNA ligase)
plasmídeo quimérico
Figura 2 — Método para a geração de um plasmídeo quimérico contendo genes derivados de DNAs exógenos.
32 BIOLETIM 9
do próprio indivíduo é metilado, du- Assim, de um DNA total com três sítios
rante a replicação, como apenas uma para Sma I obtém-se fragmentos tais O primeiro deve ser o dos vetores
fita se mantém com o grupamento como os que se vê na figura 3a. chamados assim por serem capazes
metil, as enzimas com capacidade Um exemplo de pontas adesivas é da de carrear fragmentos de DNA não
de modificação acrescentam na fita própria Eco RI. O DNA é cortado relacionados com eles mesmos. São
nova um outro grupamento. As enzimas gerando pontas que, por serem os plasmídeos, bacteriófagos e
mais importantes são as do grupo II, complementares, são chamadas de cosmídeos. Todos os três guardam as
que tem apenas atividade restritiva e adesivas, como visto na figura 3b. características básicas de poderem se
uma especificidade altíssima. Isso replicar utilizando o aparato celular,
porque tais enzimas reconhecem A partir da descoberta e do apri- poder receber DNA exógeno (supor-
sequências palindrômicas, que, assim moramento das pesquisas com tando a carga destes fragmentos),
como as palavras “amor” e “roma”, não enzimas de restrição e isolamento poderem ser introduzidos em seus
representam mais do que sequências de DNA, entre outros, atingiu-se um hospedeiros e poderem ser recupera-
que, se lidas de trás para frente são nível onde se tornou possível o estudo dos facilmente para o trabalho em
iguais a quando lidas normalmente. de organismos superiores com grandes laboratório.
O palíndromo GAATTC/CTTAAG ao moléculas de DNA. Isto porque, com Os plasmídeos são microssomas
longo de um feixe duplo de DNA, a possibilidade de fragmentação bacterianos, com características pró-
por exemplo, é o sítio de restrição da destas enormes moléculas para sua prias que fazem com que sejam esco-
enzima Eco RI (extraída de Escherichia análise, abriu-se um caminho para o lhidos para determinados experimen-
coli). desenvolvimento de experimentos com tos. Possuem genes de resistência a
A descoberta das enzimas de restri- pequenas moléculas isoladas. Assim, vários antibióticos, facilitando a
ção em 1970 foi um grande avanço consegue-se estudar a estrutura e a seleção das bactérias que têm esse
na manipulação do DNA, porque regulação de genes. A utilização de plasmídeo incutido. Além disso, alguns
resultou numa nova possibilidade de enzimas de restrição para fragmentar tipos de plasmídeo têm capacida-
mapeamentos e, em última análise, um DNA qualquer, seguida da de de infectar diferentes tipos de hos-
ajudou imensamente ao desenvolvi- inserção deste fagmento dentro de um pedeiros. São os chamados “shuttle
mento da clonagem. O corte de um vetor, permite a obtenção de um DNA vectors”, que se replicam tão bem em
DNA total gera fragmentos dos mais quimérico (relativo a quimera, que na bactérias quanto em células de mamí-
variados tamanhos, o que depende mitologia grega representa um mon- fero. Os plasmídeos também, pelo
da distância dos sítios. stro fabuloso com cabeça de leão, número de cópias (500 a 600 por
corpo de cabra e cauda de dragão). célula), são bons vetores. Desta forma,
Há uma particularidade decorrente Este, por sua vez, é inserido numa pode-se conseguir uma massa de DNA
da digestão: as pontas dos DNAs po- bactéria onde pode ser replicado e bastante significativa para pesquisa.
dem ser cegas ou adesivas. A enzima mantido para efeito de estudo (figura Porém, existe um empecilho, que é a
Sma I (extraída de Serratia marcensis) 1). Diante desse panorama geral é necessidade de serem colocados
tem o sítio CCCGGG/GGGCCC e conveniente desmembrar e analisar dentro de seus hospedeiros. É impor-
o corte exatamente no meio. cada detalhe. tante frisar que todos os vetores, inclu-
indo-se os plasmídeos que são utiliza-
34 BIOLETIM 9
O Sistema de Whittaker
Ricardo A. R. Prado
oda
Annelid ta
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Chaetognata
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Metaphyta la
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Echinode
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Tracheophyta
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Bryophyta
Phaeophyta
elm
Figura 1. Um esquema evolutivo simplificado de
ata
(Basidiomy
tyh
(Ascomycota)
(Sarcodina) (Myxomycota)
(Zygomycota)
Porifera
Coelenter
um sistema de dois reinos, tal como ele pode ter
(Acrasiae)
(Charophyta)
Pla
Chlorophyta
Protoplasta
a
Opisthokonta
zo
sti gina)
so
aparecido no início do século. O reino Plantae
(Chrysophyta)
Rho
(Oomycota)
Me
a
or
Euglenophyta
(Cnidosporidia)
dop
ph
Pyrrophyta
compreende quatro divisões - Tallophyta (algas, ilio
Fungilli
(Zooma
hy
C
Inophyta
ta
bacterias e fungos), Bryophyta, Pteridophyta e
Spermatophyta. Apenas os grandes filos animais
Protoctista
estão indicados.
Archezoa
Monera
Basidiomycota
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ta
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rda
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ycota
Ascomycot
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Tentaculata
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Chytridiomycota
Oomycota
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din
das numerosas linhas linhas evolutivas nos Protista; mas
phy
Pla ho
r co
Sa
p
ra
ta
Hy
ho
Cil
iop
ao nível multicelular e multinucleado os modos de nutrição
Protista levam a diferentes tipos de organização que caracterizam os
três reinos superiores: Plantae, Fungi e Animalia. As relações
Bacte
evolutivas são mais simplificadas, particularmente em protista.
Cya
36 BIOLETIM 9
Este sistema de divisão em cinco reinos esperado que se encontre alguma menor sucesso evolutivo que o sub-reino
tem como uma de suas grandes continuidade, refletida na existência de principal.
vantagens a simplicidade de seus formas intermediárias, entre quaisquer
critérios ou linhas divisórias: o nível de dois pontos extremos de uma caracte- Com a presente apresentação do
organização (procariotos, eucariotos rística (no caso o nível de organiza- surgimento, das características e das
unicelulares e multicelulares) e o modo ção). dificuldades do sistema de Whittaker,
de assimilação de nutrientes. é O sistema de Whittaker apresenta fica bastante claro que a divisão de
interessante notar que estes critérios como mais séria deficiência o fato de toda a diversidade de seres vivos en-
refletem ou acompanham “opções” seus 3 reinos “superiores” não serem tre plantas e animais foi uma conse-
evolutivas fundamentais, respeitando, monofiléticos (isto é, seus filos não quência de uma visão obscurecida
portanto, um critério filogenético (o possuem uma origem comum). Deste pela familiariedade com os conceitos
posicionamento dos taxa reflete o modo, pelo critério da monofilia, o de plantas e animais superiores. A
“parentesco” evolutivo destes). reino Plantae seria mais como um proposição de um sistema de 5 reinos,
No entanto, é justamente na fronteira agrupamento de filos (multicelulares e tal como o descrito, incorpora um
ou limite destas divisórias que se predominantemente fotossintezantes) critério de classificação mais “natural”
encontram as inconsistências do do que um reino propriamente dito. (filogenético). Porém, que fique claro
sistema de 5 reinos. No limite entre o Da mesma forma, os reinos Fungi e que qualquer sistema de classificação,
uni e o multicelular, por exemplo, o filo Animalia contém grupos provavelmente já criado ou que venha a ser criado,
Chlorophyta (algas verdes) poderia ser associados mais por convergência será inevitavelmente artificial, sendo na
enquadrado tanto como planta quanto evolutiva do que por monofilia. estas melhor das hipóteses, uma aproxima-
como protista, uma vez que inclui inconsistências estão indicadas na figura ção, baseada em informações parci-
formas unicelulares, unicelulares 3 pela separação dos filos em questão ais e incompletas, da bio-história
coloniais e multicelulares, assim como por uma linha pontilhada. evolutiva.
gradações intermediárias destas for-
mas. Por outro lado, os Myxomycetes P.S.: Os protistas pareciam ser um reino
se apresentam no limite, tanto em A monofilia é um critério fundamental monofilético, porém, em 1969 ainda
relação à organização quanto no que em sistemática, mas não deve ser não tinham sido exploradas as
tange à nutrição, podendo ser encarado como absoluto, e, deste consequências da aceitação do pro-
encarados como fungos aberrantes, modo, não será seguido ao custo do cesso de incorporação de cianofícias
protistas ou animais extremamente sacrifício de outros objetivos. O sistema (processo de endosimbiose, resultan-
peculiares. Do mesmo modo, muitas de classificação apresentado tem do nos cloroplastos) como possível
outras linhas filéticas freqüentam o limite como base, num sentido “vertical” origem do grupo. De qualquer modo,
entre o uni e o multicelular e/ou os (linear ao longo do tempo) os três níveis os protistas constituem um grupo
limites quanto aos modos de nutrição. de organização e, num sentido complexo, com várias linhas evolutivas
“horizontal” (paralelo ao longo do interconectadas, com desenvolvimentos
Os critérios de divisão em sistemá- tempo) os três modos de nutrição que lineares e em paralelo. Da época da
tica são artificiais, mesmo quando subdividem os três reinos multicelulares. publicação do artigo de Whittaker
procuram refletir a filogênia ou história Tal classificação vertical e horizontal, para cá, muito se descobriu acerca
evolutiva dos grupos em questão. parece mais adequada, por se propor de tais formas de vida, novos sistemas
Portanto, as dificuldades de “borda” a refletir e acompanhar o histórico de de classificação puderam ser desen-
que surgem ao se adotar como crité- opções evolutivas fundamentais. Pode- volvidas, estabelecendo um melhor
rio de divisão entre organismos “infe- se, então, considerar os reinos entendimento evolutivo acerca do
riores” e “superiores” a condição uni superiores (polifiléticos) como possuindo grupo e de sua origem. Tais sistemas
e multicelular, não invalida tal critério. um sub-reino principal (monofilético), de classificação serão apresentados
A partir do momento em que se consi- identificado como a linha dominante, em artigos subsequentes.
dera a origem da diversidade como e os demais sub-reinos seriam como
sendo um processo de evolução, é “experimentos” independentes, com
38 BIOLETIM 9
A porta “e” do computador aprafuliano
Neste mecanismo uma polia tem seu eixo ligado
diretamente à corda de saída, podendo girar livre-
mente sobre uma vareta curva. Quando as duas cor- 1 0
O flip-flop aprafuliano
Esse mecanismo é capaz de armazenar 1 bit “set”
44 BIOLETIM 9
I N
idéias gradualistas: 16 núcleo da rafe: 27
Demonstrou-se que esta região do cérebro é
ingestão: 35 essencial ao sono. Sua lesão causa insônia.
insônia: 25 Composta de neurônios serotonérgicos (que
Inabilidade de se obter a quantidade e/ou a contém serotonina).
qualidade do sono suficiente para se manter o núcleo do trato solitário: 27
comportamento diário normal. Esta região do cérebro, quando estimulada,
promove o sono profundo (estágios 3 e 4). Recebe
K informação das papilas gustativas da língua e
também do trato digestivo.
Kb: 34
Kilobases: 1.000 bases (1 base= 1 nucleotídeo) núcleo supraquiasmático: 27
Região situada acima do quiasma ótico,
responsável pelos rítmos circadianos. Recebe
L informações da retina.
linkage: 28
Loci gênicos localizados em um mesmo O
cromossmo e que se encontram tão próximos
que se dizem ligados. Nestes a probabilidade ontogênese: 20
de ocorrer “crossing-over” é baixissima. Desenvolvimento.
46 BIOLETIM 9