Você está na página 1de 10
CapiruLo 2 BRrEVE RELATO SOBRE A EpucacAo DE SURDOS Conhecer a historia, bem como as filosofias educacionais para surdos, & 0 primeira passo para iniciar um estudo mais apro- fundado que tem como objetivo relacionar a exposicao ao meio social, a linguagem e a qualidade de interagoes interpessoais a0 desenvolvimento cognitive da crianga surda. A histéria pode tam- bém servir de suporte para analisar criticamente as conseqiiéncias de cada filosofia no desenvolvimento destas criangas, Apesar de este t6pica nao ter como objetivo desenvolver um. estudo aprofundado das questdes histéricas, faz-se necesséria ‘uma descrigao da historia da surdez para contextu ticas educacionais e clinicas vigentes no momento. A idéia que a(sociedade fazia sobre os surdos, no decorrer da historia, geralmente apresentava apenas aspectos negativos. Na antigiidade, os surdos foram percebidos de formas variadas: com piedade e compaixao, como pessoas castigadas pelos deu- 85 04 como pessoas enfeiticadas, e por isso eram abandonados ou sacrificados. Até mesmo na biblia pode-se perceber uma po ‘do negativa em relacao a surdez. A condisio sub-humana dos mudos era parte do cédigo mosaico e foi reforcada pela exaltacdo biblica da voz e do ouvido como a tiniea e verdadeira maneira pela qual 0 homem e Deus podiam se falar (‘no principio era 0 ver= bo’). (Gacks; 1989, p. 31) 24 » afirmando: 'é um crime nao instruir o surdo-mudo’ MARCIA GOLDFELD ‘a de que 0 surdo era uma pessoa primitiva fez con de que ele ndo poderia ser educado persistisse até « século quinze. Até aquele momento eles viviam totalmente i margem da sociedade ¢ nao tinham nenhum direito assegurado A partir do século dezesseis tem-se noticias dos primeiro: educadores de surdos. Segundo Reis (1992), Fornari relata que “Cardano foi o pri meiro a afirmar {ue o surdo deveria ser educado e instruido Os educadores, assim como atualmente, criaram diferente: metodologias para ensinar os surdos. Alguns se baseavam ape has na lingua oral, ou seja, a lingua auditiva-oral utilizada en seu pals, como 0 francés, 0 inglés etc. Outros pesquisaram e de fenderam a lingua de sinais, que é uma lingua espaco-visual cri ada através de geragdes pelas comunidades de surdos. Outro: ainda criaram cOdigos visuais, que nao se configuram como ume lingua, para facilitar a comunicacao com seus alunos surdos. At« hoje existem diversas correntes com diferentes pressupostos err relagdo a educacao de surdos. Ainda no século dezesseis, na Espanha, o monge beneditinc Pedro Ponce de Leon (1520-1584) ensinou quatro surdos, filhos de nobres, a falar grego, Iatim e italiano, além de ensinar-lhe: conceitos de fisica e asttonomia. Ponce de Leon desenvolvew ume metodologia de educacao de surdos que incluia datilologia (re Presentacao manual das letfas do alfabeto), escrita e oralizagao, © criow uma escola de professores de surdos. Em 1620, Juan Martin Pablo Ponet publicou, na Espana, « a duccion de las letras y artes para ensenar a hablar a fos mados invengao do alfabeto manual de Ponce de Leon. Em ido 0 primeiro livro em inglés sobre a lingua de J-Bulwer, que acreditava ser a lingua de si lementos constitutivos iconicos. © mesmo livro Philacopus, onde afirma ser a lin: harles Michel de L’Epée ia da educacao dos surdos, A CRIANCA SURDA LLEpée se aproximou dos surdos que perambulavam pelas ruas de Paris, aprenden com eles a lingua de sinais ¢ criou os "Sinais Metddicos”, uma combinagao da lingua de sinais com a grama\ ‘ca sinalizada francesa. O Abade teve imenso sucesso na educa- {ao de surdos e transformou sua casa em escola publica. Em pou- fos anos (de 1771 a 1785), sua escola passou a atender 75 alunos, iniimero bastante elevado para a época. L/Epée e seu seguicor Sicard acreditavam que todos os surdos, independentemente de nivel social, deveriam ter acesso a educagao, e esta deveria ser piiblica e gratuita ; Nessa mesma época, no ano de 1750, com as idéias de Samuel Heinick, na Alemanha, surgem as primeiras nogdes do que hoje _ constitui a filosofia educacional Oralista, filosofia que acredita ser o ensino da lingua oral, e a rejeigdo a lingua de sinais, a situ ‘acho ideal para integrar o surdo na comunidade geral. Heinick foi o fundador da primeira escola publica baseada no método oral, ou seja, que utilizava apenas a lingua oral na educacao das criangas surdas. Sua escola tinha nove alunos. ‘As metodologias de L’Epée e Heinick se confrontacam e fo- ram submetidas a andlise da comunidade cientifica, Os argumen- tos de L'Epée foram considerados mais fortes e, com isso, foram, negados a Heinick recursos para ampliagao de seu instituto, 0 séeulo dezoito considerado o periodo mais fértil da educa- ao dos surdos, Naquele século, ela teve grande impulso, no sen- tido quantitativo com o aumento de escolas para surdos, e quali- tativo, jf que, através da lingua de sinais os surdos podiam apren- dere dominar diversos assuntos e exercer varias profissbes. Sacks relata que: Ease perodo que agora parece uma espéeie de paca urea ha histor des surdostestemunhow a rapida eviagbo de escola para surdos, de um modo geal diigids por pro Fessoressurdos, em todo 0 mundo civlizado, a sada dos surdos da eglinclo da obscuridade, sun emancipasio teidadania, a rapida conquista de posigous de emingncia€ Tesponsabilidade — ecrtres surdos,engoniiiessurdes flgeofos surdos, intelectuais surdos, antes inconcebives, tomaram-sesubitamente possivei, (98, p. 57) 26 MARCIA GOLDFELD Em 1813, Thomas Hopkins Gallaudet, professor americana interessado em obter mais informagées sobre a educacao de sur dos seguiu para a Europa. Na Inglaterra, encontrou-se com a fa- mnilia Braidwood, que utilizava apenas a lingua oral na educagao de surdos, e na Franga com 0 Abade LEpée, que utilizava 0 mé- todo manual. Os Braidwood se recusarama ensinar a Gallaudet sua metodo- logia em poucos meses, assim, restou-the a opcao pelo método manual. Em 1817, acompanhado de Laurent Clerc, um dos me- Ihores alunos do Abade LEpée, Gallaudet fundou a primeira es- cola permanente para surdos nos EUA, que utilizava como for- ma cle comunicagao em salas de aula e conversas extra-classe um de francés sinalizado, ou seja, a uniao do Iéxico da lingua de sinais francesa com a estrutura da lingua francesa, adaptado para © inglés. Surge entio uma metodiologia que mais tarde sera utili- zada na filosofia da Comunicacao Total (Ramos e Goldfeld, 1992) A partir de 1821, todas as escolas puiblicas americanas passa- ram a mover-se em directo a ASL (American Sign Language), que sofreu muita influéncia do francés sinalizado. Em 1850, a ASL e nao o inglés sinalizado passa a ser utilizada nas escolas, assim como ocorria na maior parte dos paises europeus. Nesse Periodo, houve uma elevacio no grau de escolarizacao dos sur dos, que podiam aprender com facilidade as disciplinas minis- tradas em lingua de sinais. Em_1864 foi fundada a primeira uni- versidade nacional para surtios, Universidade Gallaudet.) Devido a avancos tecnolégicos que facilitavam a aprendiza~ Pei eiracts ae inchs meee ret Diversos profissionais comearam a investir no oda lingua oral pelos surdos, e neste entusiasmo sur- So alguns proisionas ate hoe de oe ludicial para a aprendiagem da Tegan piloret lingu designe ee quran Cle, em 1868 9 a Tsukuba College of A CRIANGA SURDA O mais importante defensor do Oralismo foi Alexander Graham Bell, 0 célebre inventor do telefone, que exerceu grande influéncia no resultado da votacao do Congresso Internacional de Educadores de Surdos, realizado em Milao, no ano de 1880. Na- quele congresso, foi colocacio em votagao qual método deveria ser utilizado na educagao dos surdos. O Oralismo venceu e 0 uso da lingua de sinais foi oficialmente proibido, £ importante ressaltar que aos professores surdos foi negado 0 direito de votar. Naquele momento, a educacao dos surdos deu uma grande reviravolta em sentido oposto.a do século dezoito, quando os surdos e a sociedade perceberam as potencialidades dos surdos através da utilizacao da lingua de sinais. Naquele momento acre- ditava-se que o surdo poderia se desenvolver como os ouvintes aprendendo a lingua oral. © aprendizado desse lingua passa a ser-o grande objetivo dos educadores de surdos. No inicio do século vinte a maior parte das escolas em todo ‘0 mundo deixa de utilizar a lingua de sinais. A oralizacdo pas- sou a ser o objetivo principal da educagao das criangas surdas, , para que estas pudessem dominar a lingua oral, passavam a maior parte de seu tempo recebendo treinamento oral e se de- dicando a este aprendizado. O ensino das disciplinas escolares ‘como histéria, geografia e matematica foram relegados a segun- do plano. Com isso, houve uma queda no.nivel de escolarizaao dos surdos. ‘© Oralismo dominou em todo o mundo até a década de ses- senta, ano em que William Stokoe publicou o artigo “Sign Lan- guage Structure: An Outline of the Visual Communication System of the American Deat”, demonstrando que 4 ASL 6 uma lingua com todas as caracteristicas das linguas orais. A partir desta publicacao surgiram diversas pesquisas sobre a lingua de sinais e sua aplicagio na educagao e na vida do sur- do, que, aliadas a uma grande insatisfagav por parte dos educa- dores e dos surdos com 0 método oral, deram origem a utiliza- sao da lingua de sinais e de outros cédigos manuais na educacao da crianga surda. Naquela década, Dorothy Schifflet, professora emae de surdo, comecou a utilizar um métado que combinava a lingua ce sinais em adigao a lingua oral, leitura labial, treino au- 28 MARCIA GOLDFELD ditivo e alfabeto manual. Ela denominou seu trabalho de “Total Aproach”, que pode ser traduzido por Abordagem Total Em 1968, Roy Holcom adotou o Total Approach, rebatizando- © de Total Communication, dando origem a filosofia Co 0 Total, que utiliza todas as formas de comunicagao possiveis, rna educagao dos surdos, por acreditar que a comunicacao e nao, a lingua deve ser privilegiada, A Universidade Gallaudet, que ja utilizava 0 inglés sinalizado, adotou a Comunicacao Total © se tornow 0 maior centro de pesquisa dessa filosofia A partir da década de setenta, em alguns paises como Suécia € Inglaterra percebeu-se que a lingua de sinais deveria ser uti zada independentemente da lingua oral. Ou seja, em algumas situagdes, o surdo deve utilizar a lingua de sinais e em outras, a lingua oral e nao as duas concomitantemente, como estava sen- do feito. Surge entao @ filosofia Bilingie, que a partir da década de oitenta, e mais efetivamente na década de noventa, ganha cada vez mais adeptos em todos os paises do mundo. NO BRASIL Em relagdo ao Brasil, temos informagies de que em 1855 che- gow aqui o professor surdo francés Hernest Huet, trazida pelo imperador D. Pedro 11, para iniciar um trabalho de educacao dé duas criangas surdas, com bolsas de estudo pagas pelo governo. Em 26 de setembro de 1857 ¢ fundado o Instituto Nacional de Surdos-Muclos, atual Instituto Nacional de Educagao dos Surdos (INES), que utilizava a lingua de sinais Em 1911, no Brasil, o INES, seguindo a tendéncia mundial, esta- belecett 6 Oralismo puro em todas as disciplinas, Mesmo assim, a lingua de sinais sobreviveu em sala de aula até 1957, quando a dire- tora Ana Rimola de Faria Doria, com assessoria da professora Alpia Couto proibiu a lingua de sinais oficialmente em sala de aula. Mes- ‘mo com todas as proibigoes, a lingua de sinais sempre foi utilizada ‘pelos alunos nos patios e correcores da escola (Reis, 1992). ‘No fim da década de setenta chega ao Brasil a Comunicacio To- pds visita de Ivete Vasconcelos, educadora de surdos ne Une tal, 29 A CRIANCA SURDA versidade Gallaudet. Na década seguinte comega no Brasil o Bilingaismo, a partic das pesquisas da Professora Lingiista Lu- ‘cinda Ferreira Brito, sobre a Lingua Brasileira de Sinais. No i cio de suas pesquisas, seguindo 0 padrao internacional de abre~ viagdo das linguas de sinais, a professora abreviou esta lingua de LSCB (Lingua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros) para diferencia-la da LSKB (Lingua de Sinais Kaapor Brasilei- fa), utilizada pelos indios Urubu-Kaapor no Estado do Ma- ranhao. A partir de 1994, Brito passa a utilizar a abreviagao LI-_ BRAS (Lingua Brasileira de Sinais), que foi criada pela prépria —gomunidade surda para designar a LSCB. ‘Atualmente, essas trés abordagens convivem no Brasil, e pode- se dizer que todas tém relevancia e representatividade no traba- Iho com surdos. As diferentes abordagens causam muitas discr- dias e muitos conflitos entre os profissionais que as seguem, Po- demos perceber que no decorrer da histéria essas divergencias sempre ocorreram, e que em dois momentos, nos anos de 1750 € 1880, as diferentes metodologias foram colocadas em discussao, definindo uma abordagem considerada a melhor € que, conse- qiientemente, deveria ser utilizada em todas as Instituigdes. ‘Atualmente, em alguns paises do mundo como a Venezuela, existe uma filosofia adotada oficial e obrigatoriamente em todas 1s escolas piiblicas para surdos (no caso, a filosofia Bilingite) mas, ‘como no Brasil, a maioria dos paises convive com estas diferen- tes visdes sobre os surdos e sua ed ucagio, acreditando que a ver- dade tinica nfo existe e, portanto, todas as abordagens seriamen- te estudadas cevem ter espaco. FILOSOFIAS EDUCACIONAIS PARA SURDOS ORALISMO <0 Oralismo ou filosofia oralista visa a integragao da crianga _ surda na comunidade de ouvintes, dando-Ihe condigoes de de- senvolver a lingua oral (no caso do Brasil, o portugues). A nogao “de linguagem, para varios profissionais desta filosofia, restein- ‘ge-se a lingua oral, ¢ esta deve ser a inica forma de comunicacao MARCIA GOLDFELD dos surdos. Para que a crianga surda se comunique bem é neces sério que ela possa oralizar. lismo percebe a surdez como uma deficiéncia que deve ) ser minimizada através da estimulagao auditiva. Esta estimula- ~ ao possibilitaria a aprendizagem da lingua portuguesa e levaria a crianga surda a integrar-se na comunidade ouvinte e desenvol- ver uma personalidade como a de um ouvinte. Ou seja, 0 objeti- vo do Oralismo € fazer uma reabilitagao da crianga surda em direcdo & normalidade, & “nao-surdez” Para alcancar seus objetivos, a filosofia Oralista utiliza diver- sas metodologias de oralizacao: verbo-tonal’, audiofonatoria, aural, acupédico etc. Essas metodologias se baseiam em pressu- postos tedricos diferentes e possuem, em alguns aspectos, prati- cas diferentes. © que as une é 0 fato de acreditarem que a lingua oral 6a tinica forma desejével de comunicacao do surdo e se de- dicarem ao ensino desta lingua as criancas surdas/ rejeitando ~ qualquer forma de gestualizagao, bem como as linguas de sinais. A metodologia audiofonatéria, também conhecida como Per- doncini, é bastante utilizada no Brasil, possui maior material bi- ‘0 em portugues e é uma grande defensora do Oralismo. Por apresentar estas caracteristicas, essa metodologia é bastante utilizada como representante do Oralismo. ‘A maior parte das metodologias baseadas no Oralismo utiliza como embasamento tedrico linguistico 0 Gerativismo de Noam Chomsky. Seguindo as idéias ‘desta teoria, Couto afirma que “nao é ensinar a linguagem, mas apenas dar condigdes para que ‘desenvolva espontaneamente na mente, a seu proprio modo” [6). A autora afirma também que através da audicio as imitam seus interlocutores e assim descobrem as ingua, que vao permitir-lhes chegar as trans- Us pensamentos para expressé-los. do.os pressupostes do oraismo, ne tle reabilitacso ligados © is, A CRIANGA SURDA iste uma grande preocupagéo, por parte dos profissionais oralistas, em relacdo a inferéncia das regras gramaticais. Essa inferéncia & considerada um salto qualitativo na aprendizagem da lingua portuguesa. As criangas ouvintes nao tem dificuldades para inferir as re- gras gramaticais, mas as criangas surdas, por nao receberem com {a mesma facilidade os estimulos auditivos, precisam de ajuda especial. Estas criancas, como todos os seres humanos, seguindo as idéias de Chomsky, tém uma propensao biol6gica para domi- nar uma lingua e, se receberem 0 atenclimento necessario, pode- rao obter 0 mesmo sucesso que as criangas ouvintes na aquisigao da linguagem. A ctianga surda deve, entao, se submeter a um processo de reabilitagao que inicia com a estimulacao auditiva precoce, ow seja, que consiste em aproveitar os residuos auditivos que quase a totalidade dos surdos possuem e possibilita-las a discriminar 63 sons que ouvem. Através da audigao e, em algumas meto- dologias, também a partir das vibragdes corporais e da leitura oro-facial, a crianga deve chegar a compreensao da fala dos ou- tos e por iiltimo comecar a oralizar. Este processo, que deve ser iniciado ainda no primeiro ano de vida, dura em torno de 8a 12 ‘anos, dependendo das caracteristicas individuais da crianca tais como: tipo de perda auditiva, época em que ocorreu a perda au ditiva, participacao da familia no processo de reabilitagao ete. O trabalho de compreensao ¢ de oralizacao & direcionado no sentido de possibilitar & crianga dominar gradativamente as re- gras gramaticais e chegar a um bom dominio da lingua portu- guesa. Por exemplo, na metodologia oralista audiofonatéria, 0 professor deve apresentar diversas ages para a crianga e mo trar que elas sao diferentes, que andar € diferente de pular, cor rer etc. Mais tarde utilizando 0 organograma da linguageny’ deve aj simblico (composto de figuras pevanétrcas) que representa a estat £3 fraolo crculo que representa omicleo do seis ou sintaga nominal NY): {© quadrado que simbolizaw niclea do predicado ov verbo (V), eo tinge gue [dle represenarocomplemento verbal ou complement nomninal, espectvanneh {eo sintagma nominal (SN2) ou sintagma adjetive Ad) (Couto, 199; p. $3) 32 MARCIA GOLDFELD mostrar frases como, Paulo anda, Paulo pula ete. Para que as criangas possam inferit melhor as regras gramaticais, 0 profes- sor deve utilizar também frases no passado, como Paulo andou, Paulo pulow etc. No inicio, as frases devem ser simples e aos poucos devem aumentar o grau de complexidade, até chegar a frases bastante complexas, (Ponce; $/¢). Ponce relata de-forma clara como a metodologia oralista au- diofonatoria percebe © processo de aprendizado da lingua por- tuguesa pela crianga surda. © processo @ demorado; mas satisfat6rio © quanto mais cedo for iniciado 0 trabalho com a crianga, melhores se- 10 08 resultados, Deverse partir de situagses concretas, vivenciadas através ‘de um dinamismo natural, sem perda de tempo e procuran- do sempre ‘bombardear’ lingiiisticamente tudo © que acon- tecer na aula, ou em casa com a ajuda dos familiares, Chae mando a atencio da crianga para todo e qualquer som. Ajui= dandow, assim, a cheyar a descoberta dos sons, 3 descober- ta dos nomes das coisas que compoem 9 mundo sonora, 9 compreensio daquilo que esta sendo vivenciado e falado, enfim, a inferir regeas da lingua materna, visualizadas atra- vvés do ‘organograma da linguagem’, que é€ um recurso que the permite a organizacio do pensamento para fazer uso de tuma quantidade infinita de frases da mesma forma que 0 falante ouvinte, cop base nas relagoes sintagmaticas e para igmaticas da lingua portuguesa. (6/d, p. 20-1) _ Ao explanar sobre o respaldo tedrico da abordagem oralista multissensorial, Nogueira confirma a importancia da inferénci _ de Fegras gramaticais no aprendizado da lingua grama da Linguagem para eriongas surdas inieia com frases IponB egradatvamente so aprsenadasestiras Salinas possam aprencter, 2 resentada por Pode predusirinfintos tease A CRIANGA SURDA Baseada na Gramstica Gerativa Transformacional, a in- dugio de regras significa que através da exposigao a cri- langa ¢ capaz de induzir as regras de sua lingua, exponta- heamente, compreender e construir sentencas novas com sentidos logicos. (19%, p. 27) Em relagdo a crianca que nao recebe estimulacao precoce, Couto diz que ela comecara a se comunicar por gestos, 0 que prejudicaré © aprendizado da oralizacdo. A crianca deve receber um atendi- mento precoce “antes que uma linguagem gestual venha suprir as dificuldades de comunicagio oral”. (Couto, s/d, p. 18). Esta ideéia 6 compartilhada por todos os profissionais oralistas, re ceosos com a possibilidade de a crianga surda utilizar a lingua de si- hais ou qualquer comunicagao gestual. A maioria destes autores no reconhece quea lingua de sinais & realmente uma lingua e a considera prejudicial para 0 aprendizado da lingua oral, seu maior objetivo. ‘O surdo que consegue dominar as regras da lingua portugue- sa e consegue falar (oralizar) & considerado bem-sucedido. O Oralismo espera que, dominando a lingua oral, o surdo esteja apto para se integrar 4 comunidade ouvinte. Porém, Leal, Pal- imeiro e Fernandez (1985) afirmam que esta integragao ainda nao foi alcangada pela maioria dos surdos em nossa comunidade, As autoras acreditam que essa dificuldade ocorre devido 8 utiliza ‘ao da linguagem gestual por parte dos surdos. Nao é possivel saber a que linguagem gestual as autoras se referem, mas 0 arti- go comprova que a realidade no Brasil € que somente uma pe~ quena parte dos surdos consegue dominar razvavelmente 0 por- tugués, e é quase impossivel encontrar um surdo congenito que domine a lingua portuguesa como um ouvinte. AAs criancas surdas geralmente nao tém acesso a uma ecluca- ao especializada e 6 comum encontrarmos em escolas puiblicas e até particulares, criangas surdas que esta hé anos freqientan- do estas escolas € nao conseguem adquirir nem a modalidade oral nem a modalidade escrita da lingua portuguesa, pois 0 aten- dimento ainda é muito precirio. A historia da educacao de surdos nos mostra que a lingua “oral nao da conta de todas as necessidades da comunidade sur 34 MARCIA GOLDFELD da. No momento em que a lingua de sinais passou a ser mais difundida, os surdos tiveram maiores condicdes de desenvolv mento intelectual, profissional e social Ao colocar 0 aprendizado da lingua oral como o objetivo prin- cipal na educacao dos surcios, muitos outros aspectos importan- tes para 0 desenvolvimento infantil sao deixados de lado. Ape- nas profissionais que igualam o conceito de lingua oral com o conceito de linguagem podem acreditar que os anos em que a crianca surda sofre atraso de linguagem e bloqueio de comuri 10 (0 que € inevitével quando Ihe oferecem apenas a lingua oral como recurso comunicativo) nao prejudicam 0 seu desen- volvimento. Se, ao contririo, utilizarmos um conceito mais am- plo de linguagem e se analisarmos sua importancia na constitui- sa0 do individuo, como ferramenta do pensamento e como a for- ma mais eficaz de transmitir informagoes e cultura, percebere- mos que somente aprender a falar (oralizar) através de um pro- cesso que leva tantos anos & muito pouco em relagao as necessi- dades que a crianga surda, como qualquer outra crianca, tem. COMUNICACAO TOTAL A filosofia da comunicacao total tem como principal preocu- Pagio 0s processos comunicativos entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes. Esta filosofia também se preocupa com a aprendizagem da lingua oral pela crianca surda, mas acredita que 03 aspectos cognitives, emocionais e sociais nao devem ser deixados de lado em pro! do aprendizado exclusive da lingua oral. Por este motivo, essa filosofia defende a utilizagao de re- cespago-visuais como facilitadores da comunicacao. ionais que seguem a Comunicacao Total percebem diferente dos oralistas: ele nao é visto apenas rdle uma patologia de ordem médica, que de- ‘mas sim como uma pessoa, e a surdez como a pessoa. (Ciccone, 1990). tal do Centro Internacional de la explicitados os seguintes 10 Total: os A CRIANGA SURDA = Todas as pessoas surdas so tnicas e tem diferengas ine dividuais iguais 208 ouvintes. = Os programas educacionais efetivos deveriam ser indi- ‘vidualizados para satisiazer a8 necossidades, os interes- 'se5 ¢ as habilidades do surdo. © As habilidades para comunicar vlo ser diferentes para, cada pessoa. “Mens de 50% dos sons da fala podem ser observados & entendidos quando se Ie os lsbios. = Nao ha estuclos que comprovem que uma crianga surda nao pode desenvolver suas habilidades orais. + As criangas sufdas inventam sinais em suas primeiras tentativas de comunicar-se em casa e na escola, = A comunicagao oral exclusiva nao € adequada para satis- fazer as muitas necessidades das criangas surdas. = Em am ambiente de Comunicagio Total sempre existe a Seguranga do que se esta dizendo. Um sistema de dupla informagéa ox interagao sempre existe = As criangas que podem desenvolver as habilidades de aprendizagem © comunicagso oral estardo motivadas. ‘Aquelas que nio tem esta habilidade desenvolvem outras formas de comunicagto, = Os estudos desde 1960) claramente indicam que a crianga que cresce em um ambiente de Comunicagio Total de- monstra mais habilidade para comunicar-se e tem mais éxito na escola. A Comunicagao Total, em oposigio ao Oralismo, acredita que somente 0 aprendizado da lingua oral nao assegura pleno desen- volvimento da crianga surda Ciccone (1996) afirma que muitas criangas que foram expos- tas sistematicamente a modalidade oral de uma lingua, antes dos trés anos de idade, conseguiram aprender esta lingua de forma satisfatoria, porém, no desenvolvimento cognitive, social e emo- cional nao foram tao bem-sucedidas. ‘Uma das grandes diferencas entre a Comunicagao Total e as tras filosofias educacionais é 0 fato de a Comunicacao Total ‘defender a utilizacao de qualquer recurso linguistico, seja a lin- {gua de sinais, a linguagem oral ou codigos manuais, para facilitar @ comunicagao com as pessoas surdas. A Comunicagao Total, como 36 MARCIA GOLDFELD © proprio nome diz, privilegia a comunicacao e a interagao © naw apenas a lingua (ou linguas). O aprendizado de uma lingua nao & 0 objetivo maior da Comunicacdo Total. Qutra caracteristica im- portante & 0 fato de esta filosofia valorizar bastante a familia da crianga surda, no sentido de acreditar que & familia cabe 0 papel de compartilhar seus valores e significados, formando, em con- junto com a crianga, através da comunicagao, sua subjetividade Nos Estados Unidos surgiram diversos cédigos manuais, di- ferentes da lingua de sinais, com o objetivo de facilitar a comuni cacao entre surdos e ouvintes e também para facilitar o process de aquisicao da linguagem de criancas surdas. Sao eles: Man: ually Coded English (MCE), Simultaneos Communication (Sim ow SC). Signed English, Sign English, Manual English, English Signing, Pidgin Sign English (PSE), Ameslish, Siglish.* 'No Brasil, além da LIBRAS (Lingua Brasileira de Sinais), a Comunicacao Total utiliza ainda a datilologia, também chamada de alfabeto manual (representagao manual das letras do alfabe- to), 0 “cued-speech” (sinais manuais que representam os sons dla lingua portuguesa), portugues sinalizado (lingua artificial que utiliza 0 léxico da lingua de sinais com a estrutura sintatica do portugués e alguns sinais inventados, para representar estrutu- ras gramaticais do portugués que nao existem na lingua de nais) e o pidgin (simplificagao da gramatica de duas linguas em contato, no caso, 0 portugués e a lingua de sinais). A Comunicagao Total recomenda 0 uso simultaneo destes co: digos manuais (que tem como objetivo representar de forma es- aco-visual uma lingua oral) com a lingua oral. Esta comunica~ G80 simultanea € possivel pelo fato de estes cédigos manuais obedecerem a estrutura gramatical da lingua oral, ao contrario guas de sinais, que possuem estruturas proprias. A Co- otal denomina esta forma de comunicagao de bimo- dos recursos utilizados no processo ce aquisicie Griansa ena facilitagao da comunicagao entre Imanelras © ldxieo da ASL. (American Sign gua ingles. A CRIANCA SURDA surdos ¢ ouvintes. A lingua de sinais nao pode ser utilizada si multaneamente com 0 portugués, pois nao temos capacidade eurolégica de processar simultaneamente duas linguas com es- truturas diferentes. Ciccone afirma ser importante a preservagao da lingua de sinais, porim, como educadores, quando nos depatsines com ae agos bisicos de simboliagao interditados em raza da Aiferenca, temosjulgado de pririiria importineia a ure féncia de altemativas capazes de imped que fariares Sorram um sério isco de apenas serem meres observado Tes no decurs histrico do ‘desenvolvimento de seus fos. nda nos importand jlgar modon, ou formas, te mmos endossado a pritica de joyin aimbolicos,quu pres: tem como muatrizes de signfiegoes, quer para palavras Sinalizadas, quer para paavrasoralicadas.(p. 72 A Comunicacao ‘otal acredita que 0 bimodalismo pode mi mizar o bloqueio de comunicagao que geralmente a crianga sur da vivencia, evitando assim suas conseqiiéncias para o seu de- senvolvimento e possibilitando aos pais ocuparem seus papéis de principais interlocutores de seus filhos. A Comunicacao Total acredita que cabe a familia decidir qual a forma de educacao que seu filho tera. Esta decisio nao cabe ao profissional que lida com a crianga. Ciccone, criticando a filosofia Bilingiie, que sera vista a seguir, firma que os profissionais nao devem impor aos pais que falem com seus filhos utilizando apenas o portugues ea lingua de sinais, separadamente. A autora compara esta postura com a postura adotada pelo Oralismo, no sentido de nao aceitar a diferenca. No caso do Oralismo, o objetivo é igualar a crianga surda 20 padrao ouvinte, e no caso do Bilingiiismo procura-se igualar a familia ‘ouvinte av padrao surdo. As duas filosofias tentam igualar a fa- millia ouvinte e a crianga surda. A Comunicagao Total, a0 contré- rig, aceita e convive com a diferenga, procurando aproximar e fa- ilitar a comunicacao entre a crianga surda e sua familia ouvinte. No Brasil, atualmente a Comunicagao Total 6adotada em algu ‘mas clinicase escolas. A escola Conedrdia, em Porto Alegre, ¢ alggu- 38 MARCIA GOLDFELD ‘mas turmas do Instituto Nacional de Educacio de Surdos (INES) sdo exemplos da aplicagao pratica da filosofia da Comunicacae A Comunicagao Total demonstra uma eficacia maior em relacao ao Oralismo, ja que leva em consideragao aspectos impor- tantes do desenvolvimento infantile ressalta o papel fundamental dos pais ouvintes na educagio de seus filhos surdos. A lingua de sinais, no entanto, nao ¢ utilizada de forma plena, como poderia set: A Comunicagao Total nao privilegia o fato de esta lingua ser natural (surgiu de forma espontinea na comuni- dade surda) e carregar uma cultura propria, e cria recursos arti- ficiais para facilitar a comunicagéo e a educagéo dos surdos, que podem provocar uma dificuldade de comunicagéo entre surdos que dominam cédigos diferentes da lingua de sinais. wa 3 / BILINGUISMO Le 7 OBilingdiismo tem como pressuposto basico que surdo deve ser Bilingtie, ou seja, deve adquirir como lingua materna a lin- gua de sinais, que € considerada a lingua natural dos surdos e, como segunda lingua a lingua oficial de seu pais. Os autores ligados a0 Bilingiismo percebem 0 surdo de for- ma bastante diferentes dos autores oralistas e da Comunicagio Total. Para os bilinguistas, o surdo nao precisa almejar uma vida semelhante ao ouvinte, poclendio aceitar e assumir sua surdez. Oconceito mais importante que a filosofia Bilingiie traz & de que os surdos formam umatcomunidade, com cultura e lingua Préprias. Anocdo de que o surdo deve, a todo custo, tentar apren- dera modalidadte oral da lingua para poder se aproximar o mé- ximo possivel do padrao de normalidade ¢ rejeitada por esta losofia: Isto nao significa que a aprendizagem da lingua oral nao «j ante para 0 surdo, av contrério, este aprendizado & Bétante desejado mas nao € percebido como 0 tinico objetivo itandlo a nomenclatura da comunidade sure 0 termo Surdez (com S maitisculo) para de- ® cultural © 0 termo surdez (com s 1a Condi¢Ao fisica, a falta de audigao. 0G arr Big des A CRIANGA SURDA |A questao principal para o Bilinguismo & a Surdez e nao a surdez, ou seja, 08 estudos se preocupam em entender 0 Surdo, suas particularidades, sua lingua (a lingua de sinais), sua cultu- rae forma singular de pensar, agir etc. endo apenas os aspec- tos biolégicos ligados a surdez, Atualmente, o Bilingiuismo est# ocupando um grande espago no cendrio cientifico mundial. Nos EVA, Canada, Suécia, Vene- zuela, Israel, entre outros paises, existem diversas universica- des pesquisando a Surdez e a lingua de sinais sob a optica da filosofia Bilingie. Nao existe uma tunanimidade entre profissionais bilingilistas, em relagao as teorias psicologicas e lingitisticas adotadas. Exis~ tem diversas pesquisas baseadas no Gerativismo (Chomsky) € também diversas pesquisas baseadas np sécio-interacionismo (principalmente Vygotsky). Nas questies educacionais também os profi nao sio unanimes, existem diversas maneiras de aplicar 0 Bilingtismo ‘em escolas @ clinicas especializadas. Hs, no entanto, duas maneiras distintas de definicao da filo- sofia Bilingie. A primeira acredita que a crianga surda deve ad- quirir a lingua de sinais e a modalidade oral da lingua de seu pais, sendo que posteriormente a crianca devera ser alfabetizada na lingua oficial de seu pais. Por outro lado, no entanto, autores como Sanches (1993) acredi- tam ser necessirio para o surdo adquiri a lingua de sinais e a lin- ‘gua oficial de seu pais apenas na modalidade escrita e nao na oral. Em relagdo a aquisigao da linguagem, o Bilinguismo afi que a crianga surda deve adquirir, como lingua materna, a gua de sinais. Esta aquisigao deve ocoreer, preferencialmente, através do convivio da crianga surda com outros surcos mais velhos, que dominem a lingua de sin E sabido que mais de 90% dos surdos tém familia ouvinte. Para que a crianga tenha sucesso na aquisigao da lingua de si- nnais, @necessdrio que a familia também aprenda esta lingua para que assim a crianga possa utilizé-la para se comunicar em casa. ~ Allingua oral, que geralmente ¢ idealizada pela familia da cri- ‘anga surda, seria a segunda lingua desta crianca, j4 que ela ne- 40. MARCIA GOLDFELD cessita de um atendimento especifico para poder aprender esta lingua. Este aprendizado, ao contrério da lingua de sinais, € muito lento, haja vista as dificuldades de um surdo em aprender uma lingua oral, jé que envolve recursos orais & auditivos, blo- queados por sua perda auditiva Diversos autores acreditam que a lingua oral, apesar de ex- tremamente necesséria para a vida dio surdo, nunca sera perfei- tamente dominada por ele e esta sera sempre uma lingua estra- nha, nav servindo todas as necessidades do individuo & nao podendo, portanto, ser a lingua materna da crianga surda, + Rocha-Coutinho (1986) considera, a este respeito, que: Um deficionte auditivo ndo pode adquirie uma lingua fa- lado como lingua nativa porque ele nao tem acesso a um isrema de monitoria que forneca umn feudback constante para si fala. lingua falda sempre sem fenomeno fstranho para 0 eficiete auditivo, nunca algo natural (Os deficientes auditivos, provavelmente experimentam tum grau considerdvel de ansiedade ao usar a lingua oral Porque eles nfo tem nenhuima forma de conttalar a pro- Priedade tecnica e social da sua fala, exceto atraver ce riovimentos labiais e da reagio das pessoas a sua fala. O deticiente auditiva apenar de contar com expresssies siais e movimentos corporas, nto possi rma das fontes de informacio miais rica da lingua oral: monitorar sua propria fala e elaborar sulileras atraves da entonacto volume de voz, hésitago, assim como extrait da proc $80 de seu interlocutor sutilezas através da entonacio, Yolime de vaz, ote (pp: 79-80) 4 Gnica lingua que o surdo poderia rviria para toclas as suas necessicla- cognitivas, 2 $e a crianca surda nao for exposta a primeiros anos de vida sofrera varias 1a oportunidade de usar a lingua- €, pelo menos um dos prin- A CRIANGA SURDA cipais instrumentos para a solugio de tarefas que se the apresentam no desenvolviments da acao inteligente; b) 0 surco nao ha de recorrer ao planejamento para a so luge de problemas: ¢) nao supera a acao impulsiva; d) nio adquire independéncia da situagio visual concreta fe) nfo controla seu proprio comportamento v 0 ambiente; £) ndo se socializa adequadamente. (p. 41) No Brasil existe um hiato entre a quantidade de pesquisas sobre o Bilingiiismo e a lingua de sinais que vem sendo realiza- das e a utilizagio do Bilingitismo que, na pratica, ainda nao foi implantado. Sao raros os programas televisives em lingua de si nais, nao temos intérpretes em locais necessarios como hospi- tais, repartigoes paiblicas etc. Em relagio a educacio piiblica, @ muito raro encontrarmos escolas que utilizem a lingua de sinais em sala de aula. O que locorre em muitos casos ¢ que 0s alunos conversam entre si atra- vés da lingua de sinais, mas as aulas s40 ministradas em portu- gués, por professores ouvintes que nao dominam a LIBRAS, 0 ‘que praticamente impossibilita a compreensao por parte dos alu- nos. Mas a pior realidade & que grande parte dos surdos brasile ros @ seus familiares nem sequer conhecem a lingua de sinais. Muitas criangas, adolescentes e até adultos surdos nao parti pam da comunidade surda, nav utilizam a lingua de sinais e tam- bém nao dominam a lingua oral. Em relagio educacionais, podemos perceber que elas defendem aspectos diferentes em relagio a aquisigao da linguagem pela crianga surda. A visio que estas filosofias tem em lagao & linguagem e sua importincia para 0 desenvolvimento infantil sao divergentes, no entanto estas divergéncias nao slo cla- ramente explicitadas. A maior parte da bibliografia relacionada aquisicao da linguagem pelos surdos nao se aprofunda nas ques tes teGricas, mas somente nas quesises praticas do atendimento A crianga surda, 0 que prejudica bastante os estudos nesta area. Para fazer uma andlise critica clessas filosofias, deve-se fazé- Jaa partir de pressupostos tedricos bem definidos. Nav & possi- 42 MARCIA GOLDFELD vel analisar as conseqiiéncias que cada filosofia provoca no de- senyolvimento das criangas surdas sem conhecer, a principio, uma teoria que trate da linguagem e de sua importincia no de- senvolvimento global da crianga No sentido de elaborar um embasamento tebrico adequado, sera desenvolvido a seguir um estudo sobre a teoria sécio-in- teracionista, suas correlagdes com a surdez ¢ as conseqiiéncias do atraso de linguagem, para que posteriormente seja possivel analisar criticamente as filosofias educacionais para surdos a luz desta teoria sicio-interacionista. 43

Você também pode gostar