Você está na página 1de 161
DIREITO EMPRESARIAL PARA OS CURSOS DE ADMINISTRAGAO E CIENCIAS CONTABEIS ATUALIZADO DF ACORDO COM A LEI NO 11638/07 CCONTEM A LEI ANTICORRUPGAO N° 12.846/13, [A maioria dos livros que tratam de Diteito Comercial e Direito de Empresa € destinada a estudan. {es € profissionas do direito que, além do conhecimento douttindrio da matéria, precisam tam bbém de ferramentas para trabalhar no contencioso junto aos Juzos e Tribunais. Por essa raz3o, os temas desenvolvidos neste liveo sfo ape entados com maior aprofundamentojuridicoe detalhes ‘operacionais que no fazem parte da rot de trabalho dos contadores, auditores e admin res de empresas. O texto aborda em linguagem clara, objetiva diditica os temas fundamentais do Direito Empresarial apliciveis aos cursos de Administragio ¢ de Ciéncias Contabeis. Para facilitar 0 estudo e tornar mais acessivel a compreensfo dos temas, 0 livro traz ao final um _lossério com os termos juridicos mais empregados na atividade comercial e de empresa, Apresen «a também, em apéndice, modelos dos atos consttutivos de sociedades mais uilizados, tals como 1 contrato de sociedad simples ede sociedade empresiria, sob a forma de limitada ede estatuto de sociedade por agbes ‘Taz, anda, ao final de cada capitulo, quadros sindticos e exercicios que permitem a associasio da teoria com a peta na Area empresaril A obra esti em conformidade com a atualizagfo da Lei das S.A. (Lel nt 11.638/07), que esté atualizada com critérios contabeis de acordo com os padrées internacionals e com as novas ddemonstrag6es financeiras de Fluxo de Caixa e do Valor Adicionado, bem como com a Lei m 12.973/14, que & a conversio da Medida Proviséria 627/12, que extinguit 0 Reg “Transigdo regula a contabilidade fiscal das pessoas juridicas. gime Tibutério de ‘Também foi atualizada de acordo com a Lei Anticorrupgéo (Lei né12,846/13), que diseplina as responsabilidades da pessoa jutfdicaenvolvida em contratos irregulares com a administragio pi- blica,além de responsablizar seus ttulaes, administradores e profissionaiscontabeis. APLICAGAO. (Obra recomendada para profissionais que aruam como administradores de empresas ou como contadores, auditores, controladores contabeise peritos, Com base em experiéncia diditica nes ss 4rea, 0s autores elaboraram texto em linguagem mais acessivel e com aplicasBes priticas, que auxiliam tanto os professores quanto os alunos. atlas.com.br SIUPYLNOD SVIONGID 4 OYSVULSININGY AC SOSUND SO VuVd TRIVSTUdWA OLITAIG AUDIO,CAMARGO FABRETTI DENISE FABRETTI DILENE RAMOS FABRETTI DIREITO EMPRESARIAL PARA OS CURSOS DE ADMINISTRACAO E CIENCIAS CONTABEIS ATUALIZADO DE ACORDO COM A LEI N° 11.638/07 CONTEM A LEI ANTICORRUPCAO NP 12.846/13 atlac aaudcs LAUDIO CAMARGO FABRETTI DENISE FABRETTI DILENE RAMOS FABRETTI Direito Empresarial para os Cursos de Administracao e Ciéncias Contabeis ATUALIZADO DE ACORDO COM A LEI N° 11.638/07 CONTEM A LEI ANTICORRUPGAO N° 12.846/13 SAO PAULO EDITORA ATLAS S.A. ~ 2015 © 2014 by Editor Als 5.8 ‘capa: Leonardo Hermano Composiie: Linelato Edtracie Gra Dados Internacionais de Catalogacéo na Publicacio ( (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Fabetti Laudlo Camargo Dirsto empresa para os cursos de adinistragioe cic conte LSullo Camargo Fabre, Deis Fabret, ilene Ramos Fabre -Atuazndo de acordo com a ein 1638/07; cont a Lei aticorrupgo n12.646/13. ~ S30 Paulo Alas, 205. Bblografa IsaN 976.95-224-9066.0 1. Dieta empress 2, Dieta empresaril- Bras. Fabre, Dense. 1 Fabre, Dene Ramos Il Tle. wa11973 ou.34:338.93181) Indice para catélogo sistemstico: 1. Brasil: Dito empresaral 34338.93(81) “TODOS 05 DIEITOS RESERVADOS - £ prolbida a reproduce total cw paca, de qualquer forma ou por qualquer melo. volacio dos its de autor (le "9.61098 é crime estaboecido plo atigo 184 to Cbdigo Penal Depésitolagal na Biblotes Nacional conforme ein 10.984, ‘de 14 de dezembro de 2004, Impresso no BrasvPrinted in Braz n Ector Als SA, ua Consalheiro Nébias, 1386 101203 90 50 Palo SP 011 3357 9144 ates combe Sumario Lista de abreviaturas, xii Preficio, xv Parte Geral, 1 1 Introdugdo ao direito comercial e ao direito de empresa, 3 1.1 Introdugio, 3 1.2 Prineipios, 3 1.3 Normas, 4 14 Classificacao do direito, 4 1.4.1 Diteito real, 4 1.4.2 Direito pessoal, 5 1.4.3 Diteito puiblico e privado, § 1.4.4 Ramos do direito, 5 15 Direito Comercial, 6 16 Direito de empresa, 8 17 Fundamentos constitucionais da atividade econémica, 10 1.8 Competéneia legistativa, 12 1.9 Conceito juridico de Cédigo, 13 Bxercicios, 14 2 Empresério, empresa e sociedade empresaria, 15 2.1 Empresirio, 15 2.1.1 Empresirio estabelecido com firma individual, 16 2.1.2 Empresitio rural, 19 2.1.3 Capacidade, 20 | 2.2 Empresa, 23 2.3 Sociedade empreséria, 23 2.4 Média empresa, 25, 2.5 Micro (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP), 26 Beereiios, 27 3 Sociedades, 29 3.1 Coneeito, 29 3.2 Sociedade nao personificada, 32 3.2.1 Sociedade em comum, 33 3.2.2 Sociedade em Conta de Participagio (SCP), 34 3.3 Sociedades personificadas, 35 3.4 Desconsideragéo da personalidade juridica da empresa, 36 Exercicios, 39 4 Administracao da sociedade, 40 4.1 Introdugio, 40 4.2 Normas gerais, 41 4.3. Normas relativas as sociedades limitadas, 44 44 Responsabilidade perante os sécios e terceiros, 45 4.8 Responsabilidade pela distribuigio de Iucros, 46 Brerclcios, 48 5 Contrato socisl, 49 5.1 Cliusulas basicas, 49 5.2 Alteragées contratuais, 50 5.3 Direitos e deveres dos sécios, 51 5.4 Relagoes com terceiros, 52 Bxerciios, 53 6 Estabelecimento, 54 6.1 Conceito jurdico, 54 6.2 Coneeito fiscal, 55 6.3 Responsablidade tibutétia, 57 64 Responsabilidade dos adquirentes na faléncia e na recuperagio judicial, 58 6.5 Responsabilidade trabalhista, 59 Baercicias, 59 7 Prepostos, 61 7.1 Notmas gerais, 61 7.2 Gerente, 62 7.3 Contabilista, 62 Brercicios, 63 8 Escrituragio, 65 8.1 Dever de escriturar, 65 8.2 Livros contabeis obrigat6rios, 68 8.2.1 Didrio, 68 8.2.2 Razio, 69 8.3 Valor probante da contabilidade, 71 8.3.1 Introdugio, 71 8.3.2 A importincia da escrituragéo como meio de prova extrajudicial e judicial, R Exercicios, 78 Parte Especial, 81 9 Sociedade simples, 83 9.1 Conceito, 83 9.2 Responsabilidade dos s6cios, 84 9.3 Cliusulas especificas, 85 9.4 Diteitos e obrigacées dos sécios, 87 9.5 Administragao da sociedade, 89 9.5.1 Administragao conjunta, 89 9.5.2. Administracdo exercida por um ou mais sécios, 90 9.5.3 Disposigées comuns aos administradores, 90 Brereicios, 92 10 Sociedade Limitada (Ltda), 93 10.1 Consideragées gerais, 93 10.2 Contrato social, 95 10.3 Responsabilidade dos sécios, 96 10.4 Quotas de capital social, 97 10.5 Conselho fiscal, 98 10.6 Deliberagées dos sécios, 99 10.7 Direito de retirada, 102 10.8 Dissolugéo parcial, 103 10.9 Dissolugao total, 103 10.10 Novas regras civis ¢ empresariais para as MPE, 105 10.11 Demonstragdes Financeiras para as LTDAS. de Grande Porte, 105 Bxere(cios, 106 11 Sociedade por Acdes (S.A.) ou Companhia, 108 11.1 Caracteristicas especiais, 108 11.2 Espécies de companhia, 109 11.3 Agbes, 113 2 13 iso pte Yr ox Canoe de nrg Cai Conti + Tre 1144 Orgies sociais, 116 114.1 Assembleiageral, 16 11.42 Gonselho de administragio, 117 11.43 Direroria, 17 11.44 Conseho fiscal, 118, 11.5 Demonsragbes contabeis, 118 11.6 Mereadoacioniio, 119 11.61 Conceito,119 11.62 Nereados primétio secundério, 19 11.63 Grgdos reguladores, 120 11.64 Institsigdes alors, 121 Brertios,121 utras formas de sociedacle, 123 12.1 Introdugéo, 123, 12.2 Sociedade em nome coletivo, 123 12.3 Sociedade em comandita simples, 124 12.4 Sociedade em comandita por agées, 125 12.5 Sociedade cooperativa, 126 12.5.1 Conceito, 126 12.5.2 Cooperativas de trabalho, 127 12.5.3 Caracteristicas, 128 12.5.4 Responsabilidade dos sécios, 132 Bxere(ios, 133 Reestruturagéo societéria, 134 13.1 Normas gerais, 194 13.2 Atos preparat6rios para a reestruturagio societaria, 135 13.2.1 Auditoria da documentagfio juridica, 135 13.2.2 >rocedimentos contébeis, 137 13.3 Direitos dos credores, 138, 13.4 Direitos trabalhistas, 139 13.5 Responsabilidade tibutéria, 139 13.6 Transformacio societaria, 139 13.7 Incorporacdo, fusio e cisdo, 140 13.7.1 incorporacio, 141 13.7.2 Fusio, 142 13.7.3 Cisio, 143 13.8 Outras providéncias, 144 13.9 Tratamento tributério, 146 13.10 Aquisigio de empresas, 147 13.10.1 Consideragdes gerais, 147 13.10.2 Tratamento tributério, 149 Brercicios, 149 14 Participagées societirias, 151 14.1 Controladora, controlada e coligada, 151 14.1.1 Controladora, 151 14.1.2 Controlada, 152 14.1.3 Coligadas e simples participacio, 152 14.1.4 Deveres e responsabilidades, 152 14.2 Pessoa juridica vinculada, 153, 14.3 Holding, 153 14.4 Avaliagao de investimentos, 154 14.5 Avaliacdo por equivaléncia patrimonial, 155 146 Tratamento tributério, 156 Bxercicios, 159 15 Ativo intangivel. Capital intelectual, 160 15.1 Introdugio, 160 15.2 Lei dos Direitos Autorais, 161 15.3 Lel da Propriedade Industrial, 162 15.3.1 Marcas e logotipos (sinais gréficos), 162 15.3.2 Espécies de marcas, 164 15.3.3 Desenhos industriais, 166 15.3.4 Patentes, 168 15.355 Licenciamento, 170 15.4 A Propriedade Industrial no Plano Internacional, 172 Brereicios, 174 16 NogGes bisicas de direito do consumidor, 175 16.1 Introdugo, 175, 16.2 Definigbes, 176 16.2.1 Consumidor, 176 16.2.2 Fornecedor, 17 163 Diteitos bésicos do consumidor, 179 16.4 Obrigagées do fornecedor, 180 16.5 Recall, 182 16.6 Responsabilidade pelo fato do produto e do servigo, 182. 16.7 Responsabilidade por vicio do produto e do servico, 184 16.8 Divulgacdo da forma de consumo adequada, 187 16.8.1 Modo correto de utilizar 0 produto ou servigo, 187 2 Dio Empress Cu de Admini cies Condes = Faber "7 18 19 16.8.2 Especificacio correta, 188 169 Publicidade enganosa e abusiva, 189 16.10 Alteragies contratuais, 192 16.11 Prevencio e reparo de danos, 193 16.12. Acesso aos 6rgi0s judiciais e administrativos, 193 16.13 Diteito& adequada e eficaz prestacdo dos servigos piblicos em geral, 194 Brerctcios, 195 ‘Titulos de crédito e cheque, 196 17.1 Duplicata mercantil, 197 17.2 Duplicata de prestacio de servigos, 200 17.3 Nota promisséria, 201 17.4 Cheque, 201 17.4.1 Cheque visado e cheque administrativo, 203 17.5 Letra de cambio, 204 Brercicios, 204 Contratos mereantis, 206 18.1 Factoring ou fomento mercantil, 206 18.2 Leasing ou arrendamento mercantil, 208 18.3 Alienagio fiducidtia em garantia, 210 18.4 Venda com reserva de dominio, 212 18.5 Crédito direto a0 consumidor, 214 Brercicios, 215 Recuperagio judicial, faléncia e extingdo e liquidagio de sociedades, 216 19.1 Intoduslo, 216 19.2 Recuperagio extrajudicial, 218 19.3 Recuperacdo judicial, 219 19.4. Administrador judicial, 219 19.5 Comité de credores, 220 19.6 Assembleia geral de credores, 221 19.7 Recuperagéo judicial para as ME e EPR 222 19.8 Meios de recuperagéo judicial, 224 198.1 Meios indicados pela lei, 224 19.8.2 Pedido de recuperacio judicial, 225 19.9 Plano de recuperacii judicial, 225 19.10 Faléncia, 226 19,10.1 Requisitos legais, 226 19.10.2 Arrecadacio dos bens, 227 19.10.3 Realizagio do ativo, 228 24 22 19.104 Pagamento dos credores, 228 19.10.5 Encerramento da faléncia, 228 19.11 Gréditos tributérios, 231 19.11.1 Introdugo, 231 19.11.2 Classificagao dos exéditos, 232 19.11.3 Parcelamento dos eréditos tributirios, 233 19.1.4 Preferéncia do crédito tributirio, 234 19.11.5 Indisponibilidade de bens do devedor, 238 19.1.6 Certidées, 235 Bxercicios, 236 Extingdo e liquidagio de sociedades, 237 20.1 Conceito, 237 20.2 Espécies de extingio, 237 20.2.1 Por dissolucdo da sociedade, 237 20.2.2 Por incorporacio, fusio ou cisto, 241 20.2.3 Por faléncia, 241 20.3 LiquidacZo por partilha de bens do ativo, 242 20.4 Tratamento tributério, 242 Brercicios, 242 Defesa da ordem econdmica, 244 21.1 Fundamento constitucional, 244 21.2 Conselho Administrativo de Defesa Econémica (CADE), 245 21.3 Abuso de poder econémico, 245 21.4 Préticas consideradas abusivas, 246 21.4.1 Formagao de cartel, 246 21.4.2 Venda casada, 247 21.4.3 Restrigdes territoriais e de bases de clientes, 248 21.4.4 Pregos predatérios, 249 21.4.5 Fixagio de precos para revenda, 250 21.4.6 Acordos de exclusividade, 250 21.4.7 Discriminagio de pregos para revenda, 251 21.5 Atos de concentracdo econdmica, 251 21.6 Atos sujeitos a exame e aprovagiio, 253 Brercicios, 254 Alei anticorrupgio, 255 22.1. Atos lesivos a administrago publica, 255 22.2 Responsabilidades administrativas, 257 22.3 Responsabilidades judiciais, 259 22.4 Cadastro Nacional de Empresas Punidas ¢ Cadastro Nacional de Empresas Ini ddoneas e Suspensas, 260, Bxeretcos, 260 23 Regimes de tributagdo das empresas, 262 23.1 Lucro real, 263 23.1.1 Céleulo do Imposto de Renda e da Contribuicdo Social sobre 0 Lucro, 263 23.1.2 Céleulo de PIS e COFINS, 268 23.1.3 Demais tributos, 269 23.2 Lucro presumido, 271 23.2.1 Céleulo do Imposto de Renda, 271 23.2.2 Céleulo da Contribuigéo Social sobre o Lucro, 273 23.2.3 Céleulo das contribuigbes sociais PIS e COFINS, 273, 23.2.4 Célculo dos demais tributos e encargos sociais, 274 23.3 Simples Nacional, 274 23.4 Microempreendedor individual, 282 Exerciios, 283, Glossério, 285 Bibliografia, 291 Apéndice, 293, 1, Modelo de eontrato de sociedade simples Ltda., 293 2. Modelo de contrato de sociedade empreséria Lida, 296 2.1 Limitada com até 10 sécios, 296 2.2 Limitada com mais de 10 sécios, 300 3. Modelo de estatuto de sociedade por agées, 301 Lista de Abreviaturas AGC Assembleia Geral de Credores, AGE — Assembleia Geral Extraordinéria AGO ~ Assembleia Geral Ordindria ANVISA ~ Agéncia Nacional de Vigilancia Sanitaria BACEN ~ Banco Central do Brasil BNDES ~ Banco Nacional de Desenvolvimento Econémico ® Social CADE —Conselho Administrative de Defesa Econdmica CC ~ Cédigo Civil de 2002 CDC - Cédigo de Defesa do Consumidor CF ~ Constituigio Federal de 5 de outubro de 1988, CFC ~ Conselho Federal de Contabilidade CLT — Consolidagio das Leis do Trabalho ‘CNM - Gonselho Monetdrio Nacional ‘NPS ~ Cadastro Nacional de Pessoas Juridicas ‘COFINS - Contribuigéo para o Financiamento da Seguridade Social SLL ~ Contribuigao Social sobre o Lucro Liquido CIN ~ Cédigo Tributério Nacional CYM - Comissdo de Valores Mobilidrios EPP — Empresa de Pequeno Porte FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Servigo IGMS — Imposto sobre Operagdes de Circulagio de Mercadorias ¢ Servigos de ‘Transporte Interestadual ¢ Intermunicipal e de Comunicagio INPI ~ Instituto Nacional da Propriedade Industrial IPI Imposto sobre Produtos Industrializados IR ~ Imposto sobre Renda e Proventos de Qualquer Natureza IRPF ~ Imposto de Renda da Pessoa Fisica IRPJ — Imposto de Renda da Pessoa Juridica IRRF ~ Imposto de Renda Retido na Fonte INSS — Instituto Nacional do Seguro Social ISS ~ Imposto sobre Servicos de Qualquer Natureza LALUR ~ Livro de Apuragio do Lucro Real 1.C-Lei Complementar LD - Lei das Daplicatas LDA ~ Lei dos Direitos Autorais LPI- Lei da Propriedade Industrial LTDA. - Sociedade Limitada LSA - Lei das Sociedades por Agbes ‘ME ~ Microempresa ‘MEI — Mictoempreendedor Individual OMPI - Organizagdo Mundial da Propriedade intelectual PIS ~ Contribu:gio ao Programa de Integragao Social PL, — Pattiménio Liquido RIR ~ Regulamento do Imposto de Renda ~ Decreto n* 3.00/99 SAT ~ Seguro ror Acidente de Trabalho SRB - Secretaria da Receita do Brasil Prefacio Este livro de Direito Empresarial para os Cursos de Administracio e Ciéncias Contabeis tem 0 propésito de expor de forma clara, simples e concisa os diversos temas dessa disciplina, que ¢ obrigatéria no curriculo desies cursos. Existem muitos e excelentes livros sobre esses ramos do direito privado, mas, nna maioria, so destinados aos estudantes e profissionais do direito que, além do conhecimento doutrindrio dessa matéria, precisam também de ferramentas para trabalhar no contencioso junto aos Juizos e Tribunais, razdo pela qual so apre- sentados com maior aprofundamento juridico e detalhes operacionais que nio fa zem parte do dia a dia dos contadores, auditores e administradores de empresas. © livro baseia-se nos programas de ensino dessa maréria para os cursos de ‘Administracéo (da FEA-PUC/SP e da ESPM) e de Ciéncias Contébeis (da FEA- -PUC/SP), com os quais os autores convivem mais intensamente, mas que na esséncia atendem a todos os programas das outras faculdades que ministram esses cursos. 0 Direito Comercial é€ muito mais abrangente do que o Direito de Empresa contido no Livro Il, do novo Cédigo Civil. Este trata do empresério, da sociedade empresétia, das sociedades simples e das empresérias, da incorporacéo, fusio, cisfo, ou seja, do Direito Societério, que estava esparso na denominada legislacéo ‘extravagante posterior & edigao do Cédigo Comercial de 1850. © Direito Comercial abrange também outros temas com os quais as empresas, se envolvem no desempenho de sua atividade econémica, como, por exemplo, 08 direitos autorais e a propriedade industrial (marcas, patentes, desenhos indus- triais, licenciamento etc.); 05 titulos de crédito (duplicata mercantile de servigos € nota promiss6ria); o cheque; as garantias reais e pesscais (penhor mercantil, oe Cun Ge Adminiaso eC Cones * bret alienagio fiducidria, reserva de dominio, aval etc.); a extingSo e liquidagao de empresas ¢ a recuperacéo extrajudicial ou judicial ea faléncia de empresas, a Lei das S.A. etc. A Lei das $.A. foi alterada pela Lei n® 11.638/07, e atualizada com critérios contabeis de acordo com os padrées internacionais ¢ com as novas demonstra- 6es financeirzs de Fluxo de Caixa e do Valor Adicionado. Essa nova lei também estabeleceu: novas normas para as sociedades limitadas definidas como de grande porte. £ apresentado também glossério com os termos jurfdicos mais empregados na atividade comercial e de empresa a fim de facilitar o estudo e a leitura desta obra Em apéndice, sto apresentados modelos dos atos constitutivos de sociedades mais utilizados, tais como o contrato de sociedade simples e de sociedade empre- séria, sob a forma de limitada e de estatuto de sociedade por acées. So Paulo, fevereiro de 2008 Os Autores Parte Geral 1 Introdugdo ao Direito Comercial e ao Direito de Empresa 1.1 Introdugéo 0 propésito deste livro € expor, de forma clara e objetiva, os conhecimentos fundamentais do Direito Comercial e do Direito de Empresa necessétios para 0 bom desempenho dos profissionais que atuam como administradores de empre- ‘sas ou como contadores, auditores, controladores contabeis, peritos etc. Por esse motivo, a andlise, discussdo e comparagéo dos diversos conceitos existentes, por mais eminentes que sejam seus autores, esto fora dos propésitos desta obra. Por serem fundamentais para a compreensdo do tema, esta obra estuda 05 prinefpios e normas juridicas, considerando a divisio do Direito meramente para fins didéticos, bem como estuda os principios e as normas juridicas especificas ‘que regem a atividade econ6mica, a competéncia exclusiva da Unio para legislar sobre a matéria e conceito de Cédigo. 1.2 Prineipios Sao os grandes fundamentos, as grandes diretrizes politicas, sociais e econ6- ‘micas adotadas no pacto social de cada pais, ou seja, a sua constituiglo. Os prin- cipios prevalecem sobre todas as demais normas juridicas, que sfo classficadas como infraconstitucionais. Exemplo: Principio da Legalidade, ou seja, segundo o qual “ninguém sera obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei” (art 5°, inciso I, da Constituigdo Federal). 1.3 Normas ‘Anorma é uma regra de comportamento. Sua relacao € composta de antece- dente (hipétese) e consequente (mandamento).. Hipétese: & a previsdo em abstrato de determinada situagao; Mandamento: & 0 comando positivo ou negativo de dar, fazer, abster-se ‘ou suportar, ot seja, o comportamento devido diante da concretizagio da hipétese. Exemplo: hipétese: receber renda; mandamento: deve ser pago o imposto de renda. (© descumprimento do mandamento gera uma nova norma relativa a sancao, cujos elementos so os seguintes: Hipétese: descumprido o mandamento ‘Mancamento: aplique-se a san¢o Exemplo: Nio pago 0 IR = sango: pagamento do imposto acrescido de mul- tas e juros, dete-minados em lei. ‘A norma jurfdica se distingue das demais (moral, ética ou religiosa) por ter ‘um elemento a mais, que falta Aquelas: a coergdo. Chama-se coer¢io o poder do Estado de aplicar a sancao, até pela forca, se necessétio. 1.4 Classificasao do direito Entre as diversas classificagdes do direito, preliminarmente vale ressaltar as seguintes: 1.4.1 Direito real © direito real, também denominado de direito das coisas, refere-se ao direito do homem em relagao aos bens econémicos, tais como propriedade, uso, usufru- toete. 1.4.2 Direito pessoal Refere-se & pessoa e se subdivide em: @) direito das pessoas: relativo pessoa considerada em si mesma, ou seja, direito a cidadania, ao estado civil, direito ao nome etc.; b) direito das obrigagdes: refere-se as relagées juridicas que se estabele- cem entre as pessoas. A obrigacio estabelece um vinculo juridico entre © sujeito ativo (credor) que pode exigir do sujzito passivo (devedor) uma prestagéo patrimonial (objeto) em virtuce de uma causa, que pode ser a vontade das partes ou da lei ‘Tome-se, por exemplo, uma venda de mercadoria a prazo. Na atividade pri- vada, essa venda estabelece a relacio juridica envolvendo o vendedor e o Estado, em que 0 sujeito ativo (credor) & o vendedor, o sujeito passivo (devedor) & 0 comprador, a prestacao patrimonial é o pagamento do preco na data combinada (objeto) ¢ a causa ¢ a vontade das partes que negociaram livremente essa venda e compra de mercadoria, ‘odavia, esse mesmo negécio juridico, considerado pelo direito piblico, esta- belece ao mesmo tempo outra relacao juridica, envolvendo o vendedor o Esta- do, em que o Estado € o sujeito ativo (credor) que pode exigir do sujeito passivo (devedor), que € 0 vendedor da mercadoria, uma prestacéo patrimonial, que € 0 pagamento dos tributos devidos por essa operacao (objeto), tendo como causa a existéncia de lei tributéria que autorize a cobranga desses tributos. 1.4.3 Direito ptiblico e privado 0 Direito é também classificado em ptiblico e privado, segundo os seguintes critérios: 4) titular do direito: se o titular do direito é 0 Estado, trata-se de direito iblico; se particular, direito privado; ) interesse protegido: se o interesse protegido é » coletivo, trata-se de direito publico, se particular, direito privado; ©) efeito da norma: se a norma for compulséria (obrigacéo de dar, fazer etc.), trata-se de direito publico; se a norma for permissiva, ou seja, nao obriga, apenas permite para quem quiser usé-la voluntariamente, trata-se de direito privado. 1.4.4 Ramos do direito Direito, portanto, subdivide-se em dois grandes ramos: {6 Disk nprel aro Can de Adina «Cac Condes + ve DIREITO PUBLICO Direito Constitucional Direito Administrative Direito Financeiro Direito Tributério Direito Processual Civil Direito Processual Penal Direito Penal Direito Internacional Puiblico Direito Internacional Privado DIREITO PRIVADO Direito Civil Direito do Consumidor Direito Empresarial Direito do Trabalho 1.5 Direito Comercial Na hist6ria da civilizagio, uma das mais antigas atividades econémicas exer- cidas pelo homem é 0 comércio. Todavia, 0 Direito Comercial, no Brasil, 6 foi Juridicamente organizado pela legislacao nacional com a edicéo do Cédigo Co: ‘mercial, Lei n* 556, de 25 de junho de 1850. Antes disso, no Brasil col6nia, a atividade econdmica era regida pelas leis portuguesas, cu seja, pelas Ordenacdes do Reino, que foram, sucessivamente, as Ordenacbes Manuelinas e as Filipinas A histéria do nosso Direito Comercial inicia-se com a vinda para o Brasil da familia real portuguesa e com a decretacdo da Lei de Abertura dos Portos a0 co- mércio internécional, pois, até entdo, o Brasil s6 podia importar e exportar mer- cadorias para Portugal, a fim de resguardar 0 monopélio do colonizador. © Cédigo Comercial, na sua Parte Primeira ~ Do Comércio em Geral - definia ‘como comerciante a pessoa que praticava habitualmente atos de comércio, os 4quais, pela sue prépria natureza, so praticados com a finalidade de lucro, e que cstava vegulatarente registrada na Junta Comercial. O registro na Junta Comer- cial era condigio sine qua non para que a pessoa fosse qualificada juridicamente como comerciante. Introd 20 Dio Conese ie de Empresa 7 ‘Tratava também da escrituracdo mercantil ou comercial (contabil) e do res- pectivo livro obrigatério, o Didrio; dos agentes auxiliares do comércio, entre eles 0 antigo guarda-livros, hoje contador; dos contratos e obrigacées mercantis; das companhias e sociedades comerciais; da comissdo mercantil; da compra e venda ‘mercantil; da hipoteca e penhor mercantil; do mtituo e dos juros mercantis; da novagio e compensacdo mercantil; da prescrigio etc. Essa Parte Primeira do referido Cédigo foi revogada pelo art. 2.045 do Cédi- g0 Civil (CC), Lei n® 10.406, de 10 de janeiro de 2002. ‘AParte Segunda do Cédigo Comercial, que trata do comércio maritimo, co! tinua em vigor, bem como dezenas de leis que complementavam o referido C6. digo, denominadas também de leis extravagantes, como, por exemplo, a Lei das Sociedades por Aces, a legislacio sobre duplicatas, cheque, notas promissdrias e letras de cambio, falimentar ete. Além das normas contidas no Cédigo Comercial, a0 longo do tempo foram sendo publicadas outras leis sobre as diversas formas de sociedades mercantis. © termo mercantil vem do latim “mercis”, do qual derivam também merca- dorias, mercador, mercado, mercearia, merceologia, mercentil, mercenério etc. € €utilizada também como equivalente a expresso comercial. Dai a referéncia que se encontram nas diversas legislacées, especialmente nas relativas as sociedades € na tributéria, que citam escrituragdo mercantil ou comercial, cuja designacéo mais adequada, atualmente, é escriturago contébil ‘A maioria das formas de sociedades foi incorporada aoDireito de Empresa do CG, arts. 981 a 1.141, com excecdo da sociedade por acées ou companhia, que, por expressa disposicéo do art. 1.089, continua a ser regida por lei especial, ou seja, pela Lei n® 6.404/76, com as alteracdes introduzidas pela Lei n® 11.638/07, conhecida como Lei das Sociedades por Agées. ‘Nao foi recepcionada pelo CC a sociedade de capital e industria, em que um ou alguns sécios entravam com 0 capital e 0 outro ou outros entravam apenas com 0 trabalho. Atualmente, a admisséo de sécio cuja contribuigao seja apenas em trabalho préprio sé é possivel na sociedade simples, devendo o contrato social especificar se esse tipo de trabalho deve ser prestado com exclusividade ou néio para a so- ciedade simples. © conjunto de normas jurfdicas que disciplinam as sociedades simples (anti- gs sociedades civis) ¢ as empresérias (antigas sociedades mercantis ou comer- Ciais) e as sociedades por acdes ou companhias constituen:, para fins didaticos e doutrindtios, o Direito Societdrio, que também foi incorporado pelo CC ao Direito de Empresa, ‘Na definigdo lapidar de Rubens Requigo o Direito Comercial “é 0 Direito que regula as relagdes decorrentes das atividades comerciais".* © Rubens Requito. Curso de Direito Comercial. Rio de Janeito: Forense, 1986. p. 24 {8 Deo Engen pare Canc de Amira « Cnc Condes + ven Na época da edigdo do Cédigo Comercial (1850), Brasil era um pais e nentemente agricola. A maior parte da riqueza produzida era gerada pela agri- cultura. Houve, ao longo da histéria, diversos ciclos econémicos de riqueza, tais como da cana-de-acticar, do cacau, e, o mais expressivo, o do café. A indiistria era basicamente extrativa (ouro, pedras preciosas, borracha etc.) e, em menor escala, de manufature artesanal. © Cédigo Comercial regulava, portanto, apenas 0 comércio e a incuistria, incluido no conceito de comércio a importacio e a exportacao. A atividade de prestagio de servigos, com fins econdmicos, ou seja, com obje- tivo de lucro, era regida pelo antigo Cédigo Civil, em seus arts. 20, 21 ¢ 23, 1.6 Direito de empresa A empresa, no exercicio de sua atividade econémica de produgio e circula- ‘glo de bens ot de prestagdo de servigos, realiza intimeros atos e neg6cios juridi- cos, que estabelecem as mais variadas relacoes juridicas com terceiros. Em relacdo aos bens que compdem o seu ativo exerce sobre eles direito real. De acordo com a melhor doutrina, esse direito real, na verdade, nao é exercido sobre os bens, mas sim é um diteito erga omnes, isto é, um direito oponivel contra qualquer pessca que pretenda contestar ou perturbar esse direito real. $6 0 proprietério tem o direito de extrair do bem toda a utilidade que ele € capaz de produzit. Alids, 0 direito s6 pode ser exercido entre pessoas que vivem fem sociedade. Vale lembrar 0 brocardo romano Ubi societas, ibi lus (onde esta a sociedade, esté 0 direito). Nesse sentido é importante consultar os ensinamentos do eminente mestre Miguel Reale? ‘As empresas, no exercicio de sua atividade operacional, realizam negécios Juridicos que estabelecem relacées juridicas com terceiros, pessoas fisicas ou ju- idicas, relagées essas que sdo regidas pelo Direito das Obrigagbes. Podem ser de direito privado, tais como as que se estabelecem com clientes, fornecedores, prestadores de servicos, instituigbes financeiras etc., ou de direito puiblico, tais como as obrigecdes tributarias, federais, estaduais e municipais. A obrigacéo, como jé se disse, é uma relagio juridica que se forma entre 0 sujeito ativo, c-edor, que pode exigir do sujeito passivo, devedor, uma prestacéo de cardter patrimonial, que ¢ o objeto da obrigacao, em virtude de uma causa, que pode ser avontade das partes ou da lei. As relagoes jurfdicas que se formam pela vontade das partes sio de direito privado; as que se formam pela vontade da lei sao de direito puiblico. Lips Prelimineres de Direto. 21. ed. io Paulo: Saraiva, 1994 Invotyo a0 Dio Cane ex ico de Empress 9 ‘A-empresa estabelece essas relagdes jurdicas com terceiros, ora como credo- ra, como, por exemplo, pela venda de mercadoria a prazo, ora como devedora, como, por exemplo, pela compra de mercadoria a prazo de fornecedores, pelo financiamento obtido de um banco etc Portanto, néo se trata apenas de atender as normas do Direito de Empresa, tal como foi introduzido no Livro II do Cédigo Civil, como pode parecer & pri- ‘meira vista. A empresa deve atender também as disposigées de varias legislagSes, com as quais tem de tratar no seu dia a dia e que estéo intrinsecamente relacio- nadas com a atividade empresarial A legislagéo aplicdvel a atividade empresarial vai muito além dos princfpios € normas do direito de empresa, tal como introduzido no CC. Devem ser estudadas também as legislagbes de recuperacao judicial e falimentar, cambidria (letras de cambio e notas promissérias), das duplicatas (mercantil ou de servigo), do che- que, do direito do consumidor, do direito sobre a propriedade intelectual (mar- cas, patentes ete.), do representante comercial auténomo etc. E evidente que, para atender & amplitude e & complexidade das relagdes Juridicas préprias da atividade comercial, faz-se necesséric 0 concurso de profis- sionais especializados © CC, como ja se disse, introduziu o Direito de Empresa na sua Parte Espe- cial, Livro 11. © Direito de Empresa abrange os conceitos e as normas relativas ao empre- ssirio, suas atividades como empresa individual ou em sociedade empresarial, as. diversas formas de sociedades personificadas ou néo, simples ou empresariais, com excegio da sociedade anénima, que continua sendo regida por lei espe. ial, ou sefa, pela Lei das Sociedades por Agées, normas sobre administracio, responsabilidade, escrituragao e demonstragées contabeis, nome empresarial, os Prepostos, entre eles o gerente e o contabilista, dissolugao e liquidagio de socie- dades, reestruturago societéria etc. ‘As normas de direito de empresa so, atualmente, normas de diteito civil. legislador substituiu a expresso comerciante por empresdrio, que abrange tam- bbém o prestador de servigas, exceto os de profissio intelectual, de natureza cien- tifica, literdria ow artistica © CC substituiu também a expresséo comercialisagdo por circulagéo, em cujo conceito econémico esto contidas a circulagéo de bens (comercializacio) e a restagio de servigos. Comércio e comercializacio so expressoes tradicionais e relevantes que néo podem ser simplesmente substitufdas. Basta analisar os significados préprios, por exemplo, de comércio internacional, halanca comercial, Organizagao Mundial do Comércio (OMC), tratados de livre comércio, propaganda comercial etc. Alls, as expresses comércio e comercial sao utilizadas desde os primérdios da civilizagao. 10-bit Empresa paar Cas deMminitagoeCndas Contes + eet Portanto, 0 empresério ou a sociedade empreséria que se dedica & compra € revenda de mercadorias pratica atividade comercial, ou seja, circulagio de bens com objetivo de lucro. A transferéncia de uma mercadoria de um estabelecimento para outro do mesmo titular, como por exemplo do depésito da empresa para suas lojas de venda a varejo, ¢ uma circulagio apenas fisica de mercadorias, de propriedade do mesmo titular. A circulacéo juridica somente se d4 pela mudanga de titular, ou seja, pela ‘compra e venta, doacio, dacio em pagamento etc. O direito de empresa dispée também sobre normas conhecidas como de di- reito societério, ou seja, sobre a constituigao, administracdo, deliberacées, disso- lugdo, liquidardo de sociedades bem como reestruturagées societarias,tais como fusdo, cisdo, incorporacao e transformacao societaria, Dispée, ainda, sobre a escrituracao contabil e as respectivas demonstragées financeiras, que foram tratadas na sua parte mais antiga no Cédigo Comercial e, na parte mais recente, pela Lei das Sociedades por Agées. ‘Trata também das normas sociedades controladoras, controladas e coligadas. Portanto, o Direito de Empresa substituiu as normas que estavam contidas na Parte Primeira do antigo Cédigo Comercial (Lei n’ 556, de 25-6-1850), revo- ¢gadas pelo art. 2.045 do CC, reunindo também as normas de direito societério ue se encontravam esparsas em diversas leis extravagantes e complementares a0 Cédigo Comercial. A denominagio Direito de Empresa est em consonancia com outros titulos 0 CG, tais como Direito de Familia, Direito das Coisas, Direito das Obrigagées etc. 1.7 Fundamentos constitucionais da atividade econémica ‘A hermentutica juridica é uma ciéncia auxiliar do Direito, como ensina Car- os Maximiliano, e “tem por objeto o estudo e a sistematizagao dos processos aplicdveis para determinar o sentido e o alcance das expresses do Direito”* Nenhuma lei existe por si mesma, isto é, isoladamente. Ela é parte de um todo maior, 03 seja, de um sistema que se denomina ordenamento jurfdico, no qual esté inserida. Portanto, sua relacéo com o ordenamento juridico é a de parte com o todo, razao pela qual deve ser interpretada de forma sistematica. Deve-se, portanto, confrontar a lei com as demais, que compéem o Direito Positivo, respei- tando a hierarquia das leis. Portanto, a interpretacio da lei deve ser iniciada pelo estudo dos principios e normas constitucionais aplicdveis a que ela se subordina, * Hermenduticae Aplicagio do Dirito. 16, ed, Rio de Janeiro: Forense, 1996, Ino s0 Do Comex ie de pes 11 ‘Toda atividade que tem por objeto a produgao e a circulagdo de bens ou de servigos é definida como atividade econémica. Na Constituiglo Federal ~ CE 0s prinefpios norteadores da atividade econé- rica estdo dispostos nos arts. 170 a 181. Analisando-se 0 art, 170 da CF verifica-se que, no pac.o social representado pela Constituicio, foi reconhecido que a atividade econémica se fundamenta na valorizacéo do trabalho humano e na livre iniciativa. Por valorizacio do trabalho humano entende-se, em primeiro lugar, criar empregos e dar condigées para 0 trabalho ser realizado com dignidade e remunerado de forma justa. Qualquer forma de trabalho, seja ele prestado com ou sem vinculo empregaticio. Portanto, o legislador constituinte definiu como razéo de ser da ordem eco- némica assegurar existéncia digna a todos, conforme os ditames da justca social Os prinefpios constitucionais da atividade econémica esto enunciados nos incisos I a IX do art. 170 da CF: “I~ soberania nacional; 11 propriedade privada; IIL ~ fungao social da propriedade; IV- livre concorrénci V~defesa do consumidor; VI- defesa do meio ambiente, inclusive mediante t-atamento diferencia- do conforme o impacto ambiental dos produtos e servigos e de seus processos de elaboracio e prestacio; VII - reducdo das desigualdades regionais e sociais; VIII ~-busca do pleno emprego; IX tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constitui- das sob as leis brasileiras e que tenham sua sece e administragao no Pais.” Esses prineipios, pela sua simples leitura, jd se revelam como bésicos para ‘que a vida em sociedade possa ser realmente digna e justa. O principio que assegura a propriedade privada ao mesmo tempo a condicio- na a ter fungio social. Por essa razdo, esse mesmo principio assegura a proprie- dade privada da empresa, mas também a condiciona a atender sua fungao social 0s fundamentos supracitados demonstram, de maneira evidente, a respon- sabilidade social da empresa, Nao obstante iss0, ainda sac poucas as empresas que procuram cumprit, de fato, esse fundamento e que publicam anualmente seu balango social, no qual devem ser demonstradas suas politcas em relacéo 20 meio ambiente, a0 respeito aos direitos do consumidor, de distribuigao de renda 12. eo rea par Caner de Admini e lacs Cotes + Fae sobre a forma de pagamentos de salarios, fornecedores, tributos pagos & Unido, Estados e Muniefpios, de lucros e dividendos pagos como retorno de capital do investidor ete, © pardgrafo tinico do citado art. 170 da CF assegura: “Pardgrafo tinico. ft assegurado a todos 0 livre exercicio de qualquer atividade econémica, independentemente de autorizagio de érgios pili os, salvo nos casos previstos em lei.” Portanto, em principio, ¢ livre o exercicio de qualquer atividade econémica, desde que 0 seu objeto sea Iicito e que sejam observadas as formalidades da lei, tais como registro dos atos constitutivos, inscrigo nos drgéos das receitas, federal, estadual e municipal, ou, ainda, no caso de exercicio de profissio regula- ‘mentada, a inscrigo também no respectivo drgéo de classe, como, por exemplo, ‘OAB, CRC, CREA ete. 1.8 Competéncia legislativa O art. 22 da CF dé competéncia privativa para a Unido legislar sobre as ma- térias discriminadas nesse artigo, por lei federal especial, de cardter nacional, do qual destacam-se, pelo interesse mais direto para o objetivo desta obra: “{--direito civil, comercial, penal, processual,eleitoral, agrério, mari timo, aerondutico, espacial e do trabalho: 1 IV- éguas, energia, informatica, telecomunicagées e radiodifusio; Led VIlI- comércio exterior ¢ interestadual; Ll XXIK — propaganda comercial.” Portanto, s6 a Unido pode ditar as normas sobre as atividades civis e comer- ciais, por meio de lei federal, obedecido o processo legislativo, disposto nos arts. 59.4 69 da CE Como se verifica do texto constitucional, os termos comércio € comercial referem-se & atividade de compra e venda de bens, tanto nas transagdes no mer- ‘ado interno como no mercado externo. © Cédigo Comercial, na sua Parte Primeira, revogada pelo art. 2.045 do CC, no conceito de comerciante, como ja se disse, referia-se & industria e ao comér- Cio, neste incluidas as operagoes de exportacao de mercadorias nacionais para 0 eros init Contcla 0 Dieta de gress 13 exterior € a importagao de mercadorias estrangeiras do exterior. © comerciante eas sociedades mercantis sé eram reconhecidos pelo direito comercial mediante seu registro na Junta Comercial, A prestaciio de servicos, feita por pessoa fisica, ou for sociedades prestado- ras de servicos, na época era regida pelo Cédigo Civil e sua inscrig&o era feita no Registro Civil das Pessoas Juridicas. 1.9 Conceito juridico de Cédigo Ensina Maria Helena Diniz: “CODIGO. Teoria geral do Direito. Conjunto or- denado de prineipios e disposigdes legais alusivas a certo ramo do direito posit vo, redigido sob a forma de artigos, que, &s vezes, se subdividem em pardgrafos « incisos, agrupando-se em capitulos, titulos e livros."* Dessa lapidar definicéo pode-se concluir que as matérias discriminadas no art, 22 da CR do qual ja transcrevemos os incisos que dizem respeito diretamen- te ao objetivo desta obra, s6 podem ser legisladas por lei especial, de cardter nacional; pela Unido. Logo, a Lei n® 10.406/02, que instituiu o CC, é lei federal especial. Os principios, como dito anteriormente, so as grandes diretrizes polticas, ‘econdmicas e sociais, inscritos no pacto social representado pela Constituicao Federal. Os principios se sobrepGem a todas as normas jurfdicas, que nao podem contrarié-los, sob pena de serem declaradas inconstitucioxais como acontece com © princfpio da legalidade segundo o qual: “"Ninguém sera obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seniio em virtude de lei” (art. 5, inciso Il, da CF). © CC, ao introduzir em seu contetido o direito de erspresa, dew a este card- ter de direito civil, Evitou qualquer referéncia a comércio ou comercializagio, preferindo 0 termo mais amplo, atividade econémica, referente A producio € & ‘irculagdo de bens e & prestagio de servigos. Portanto, 0 CC ¢ lei federal especial (Lei n® 10.406/02), prevista no art. 22, 1, que disciplina todas as relagées juridicas de natureza dvil, e, por essa razio, é lei de caréter nacional. A jurisprudéncia reconheceu que os Cédigos tém valor de lei complementar, ou seja, lei de cardter nacional, que se sobrepée as leis federais, estaduais © mu nicipais. © Disiondrio Juric, S80 Paulo: Saraiva, 1998. v1, p. 628. 14 iro presi ct Co de Adminrag eClnas Condes + bet Exercicios 1 O art. 1027 do Cédigo Civil é uma norma de Direito Empresarial, Desereva @ hipdtese e o mandamento contidos nessa norma: Art. 1.027. 0s herdeiros do cnjuge de sécio, ou o cénjuge do que se separou Judicialmente, no podem exigir desde logo a parte que thes couber na quota 50- ‘ial, mas concorrer @ divisdo periédica dos lucros, até que se liquide a sociedade. Classifique as relagdes juridicas abaixo em relagées de direito puiblico ou pri- vado. Justfique as respostas: )_Obrigacdo de pagar ICMS ao promover a saida de mercadoria de estabe- Jecimento comercial. »)_ Obrigaggo do sécio administrador de prestar contas de sua administra- ‘go aos demais sécios. ©) Obrigacdo de efetuar o pagamento de duplicata referente a compra de matéria-prima por parte da empresa industrial. 4) Obrigacdo de promover os registros da pessoa juridica junto aos érgios de fiscalizagao, Determinada empresa, ao publicar suas demonstragées financeiras, divulga 0 seu relatério anual de politicas em relacio & satide publica e meio ambiente. Explique qual o principio constitucional da ordem econémica envolvido nes- sa situago. Justifique. 2 Empresario, Empresa e Sociedade Empresaria © Cédigo Civil, Lei n° 10.406/02, que entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003, introduziu novos conceitos juridicos de empresério, empresa e sociedade empresétia. 2.1 Empresério © CC define empresédrio, em seu art. 966: “Art, 966. Considera-se empresério quem exerce profissionalmente ati- vidade econémica organizada para a produgéo ou a circulagéo de bens ou de servicos. Pardgrafo tinico. Nao se considera empresdtio quem exerce profs so intelectual, de natureza cientifica,literéria ou artstica, ainda com 0 concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercicio da profissio constituir elemento de empresa.” Embora nio mencionada no conceito legal de empresdrio, é evidente que @ atividade econdmica por ele desenvolvida profissionalmente deve visar lucro, pois as atividades sem fins lucrativos no se compreendem nos conceitos tradi- ‘ionais de empresa, Face & expressa exclusao do conceito de empresério de quem exerce profis- so intelectual, de natureza cientifica, literdria ou artistica, interpreta-se, por 16 to nec paras Caos de Arminia e Cini Cots + Fae exemplo, que 0 advogado estabelecido com escritério para exercer profissional- mente a atividade econdmica de prestacio de servicos juridicos, mesmo com © concurso de auxiliares e colaboradores, nao é empresédrio. Por via de con- sequéncia, seu escritério nao é empresa. No caso de sociedade formada pata prestacao desses servigos, ela é regida pelas normas do Estatuto da Advocacia (Lei n® 8.906/94), e seus atos constitutivos devem ser registrados no Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em cuja base territorial tiver sua sede (§ 1% do art. 15) (© mesmo raciocinio aplica-se para o contador, 0 médico, 0 engenheiro, 0 ‘tradutor, 0 pintor, 0 escultor, o escritor etc. Empresario é a pessoa que assume o risco do negécio, investindo capital em mercadorias, méquinas etc., contrata trabalhadores e administra esses fatotes econémicos, visando obter lucro. If indiferente o grau de formacao escolar de seu titular © conceito de empresério do CC é mais abrangente que 0 antigo conceito de comerciante do Cédigo Comercial. Por comércio entendiam-se, entao, as ativida- des econémicas de produgao (indiistria) e de circulagao de bens (comércio). Aatividade de prestagao de servigos nao era regida pelo Cédigo Comercial, ‘mas pelo Cédigo Civil, e portanto o prestador de servigo no era comerciante, nem seu estabelecimento, comercial Na época, o Produto Interno Bruto (PIB) era composto, em sua maior por- centagem, pela producio da indiistria e pela circulagao de bens pelo comércio. ‘Com o desenvolvimento da tecnologia, a atividade econdmica de prestagéo de servigos ampliou-se e passou a representar parcela bastante significativa do PIB. (© atual conceito de empresério, acompanhando esse desenvolvimento, abrange todas as atividades de indtistria, comércio e prestaco de servigos, ex- ceto os servicas considerados como de profissao intelectual, seja ela de natureza cientifica, literdria ou artistica. 2.1.1 Empresdrio estabelecido com firma individual ‘Nao se pode conceber atividade conereta de empresdirio sem a existéncia de empresa. Portanto, as normas do CC, que tratam da caracterizagio e da inscrigéo do empresério, devem ser interpretadas como relativas ao empresario que se es- tabelece com firma individual, portanto, sem s6cios. ‘Trata-se da empresa individual, Dai decorre sua obrigagio de inscriglo, no Registro Piblico de Empresas Mercantis (Juntas Comerciais), da respectiva sede, Empreie, xprs Sco Empress 17 antes do ingcio da atividade, mediante requerimento que contenha os dados exi- sgidos pela lei Note-se que até a edi da Lei n* 12.441 de 11 de julho de 2011 a responsa- bilidade do empresério estabelecido com empresa individual era apenas ilimita- da, Seu crédito junto aos bancos e fornecedores dependiz muito mais de seu pa- triménio pessoal do que do capital investido e registrado na empresa individual. A partir da Lei n® 12.441/11 que entrou em vigor em janeiro de 2012, foi criada a figura juridica do Empresdrio Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELD. A nova legislagéo que introduziu o art. 980-A ne capitulo do Cédigo Ci- vil que trata do Direito de Empresa, permite a constituigao de empresa individual limitando as responsabilidades do seu titular ao capital investido, exceto no que se refere as obrigagdes trabalhistas, previdencidrias, decomentes de crimes contra a ordem econémica e tributaria e indenizagoes devidas a consumidores. Todavia, para que essa limitagéo de responsabilidade seja possivel, o empre- sério deverd atender as seguintes condigbes: a) o capital da empresa deverd estar integralizado e nao ser inferior a 100 vezes o maior salério-minimo vigente no pais (art. 980-A); b) o titular da empresa, pessoa fisica, nao poderé figurar em coutra empresa individual (§ 2° do art. 980-A). Ressalte-se que 0 nome empresarial desse tipo de empresa deverd conter a expresso EIRELI apés a firma ou denominagao social de acordo com o que esta- belece 0 § 1° do art. 980-A. Assim, por exemplo, uma empresa individual cuja titular seja Maria da Silva € cujo objeto social seja a confecedo de roupas terd como denominagéo social ‘Maria da Silva Confecgées de Roupas em Geral EIRELI. 0 objetivo dessas alteragdes introduzidas pela Lei n® 12.41/11 € no sentido de estimular 0 aumento da criagio e legalizagao de empreendimentos constitui- dos sob a forma de estabelecimento com apenas um titular, uma ver. que se passa a proteger o patriménio pessoal do empreendedor. Para fins da legislacao do Imposto de Renda, a empresa individual é equipa- rada & pessoa juridica (art. 150 do RIR).. ‘Nao obstante a responsabilidade ser exclusiva de ums pessoa fisica, suas ati- vvidades econémicas como empresa individual recebem o mesmo tratamento tri- butério das pessoas juridicas. Portanto, sujeitas as mesmas obrigagées tributérias principais (pagamento dos impostos, taxas e contribuigdes) e acessdrias (dever de escriturar livros e documentos ete.). Ser equiparada nao significa passar a ser pessoa juridica, mas ser tratada ‘como se fosse. Portanto, para efeito fiscal, fica sujeita as mesmas obrigagbes tri- butérias, principais e acessérias. Em resumo, a empresa individual é tributada ‘como se fosse pessoa juridica. 18 iro Engr pars oC de Minis © ia Comes + rane Na érea do Imposto de Renda, o art. 150 do RIR/99 (Decreto n* 3.00/99) dispée: “Ar. 150. As empresas individuais, para os efeitos do imposto de Fen- da, sao equiparadas &s pessoas jurfdicas. § T° Sao empresas individuais: as firmas individuais; as pessoas fl sicas que, em nome individual, explorem, habitual e profissionalmente, qualquer atividade econdmica de natureza civil ou comercial, com o fim especulativo de Iucro, mediante venda a terceiros de bens ou servigos; as pessoas fisicas que promoverem a incorporacao de prédios em condominio ou loteamento de terrenos.” 0 § 2° desse mesmo artigo determina que no so equiparadas & pessoa jur- dica as pessoas fisicas que, individualmente, exercam as profissées ou explorem as atividades de advogado, contador, médico, dentista, veterindrio etc., enfim, todas as atividades caracterizadas como prestagao de servigo intelectual, de na- tureza cientifia (art. 647 do RIR/99) e de profissao regulamentada Da mesma forma que a legislacio tributéria confere 0 beneficio da opcé0 pelo regime de tributagéo, denominado Simples Nacional, para as microempresas ‘e empresas de pequeno porte, existem beneficios para o empreendedor individual ‘que tenha auferido receita bruta, no ano-calendério anterior, de até R$ 60.000,00 essenta mil reais) e tenha apenas um empregado. Esses regimes de tributacso serio objeto de estudo em capitulo préprio do presente livro. Na érea trabalhista, a Consolidacéo das Leis do Trabalho (CLT) dispée, em seu art, 2°: “An, 2° Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econémica, admite, assalaria e diri- ge a prestacio pessoal de servigos.” Portanto, a CLI define o empregador como o responsdvel pelo cumprimento das obrigacées trabalhistas, seja ele empresa individual ou sociedade, com ou sem fins lucracivos. © art, 195 da CR em sua redacdo original, determinava que o empregador deveria financiar parte da seguridade social, pagando contribuicées sociais inci- dentes sobre a folha de saldrios (INSS), o faturamento (Cofins) e o lucro (CSL). Portanto, na época, quem nao tinha empregados com carteira assinada néo softia a incidéncia dessas contribuigées. Posteriormente, a EC n® 20/98 alterou essas disposigdes, passando a incluir ‘como contribuinte, além do empregador, também a empresa ou entidade a ela ‘equiparada, na forma da lei. presi, npr Scale Empresa 19 A base de céleulo da contribuigéo ao INSS também foi ampliada, ou seja, passou da original, que era folha de saldrios, para incidir também sobre todos os demais rendimentos pagos ou creditados a qualquer titulo, & pessoa fisica, mes: mo sem vinculo de emprego. ‘Até 31 de dezembro de 2014, alguns setores recolherio o INSS sobre o fa- turamento endo sobre a folha de saldrios e com aliquotas que variam entre 1% a 2,5%, Essas alteracées integram um grupo de medidas adotadas pelo governo federal denominado “Plano Brasil Maior” com a finalidade de reduzir os impactos da crise econémica mundial sobre as empresas brasileiras. 2.1.2 Empresdrio rural © empreséirio rural, ou seja, a pessoa fisica cuja principal ocupagio profissio- nal é a atividade rural, pode registrar-se como empresa irdividual rural, confor- me dispée 0 art. 971 do CC. ‘Nao obstante isso, para fins do IR, o empresério rural é tributado como pes- soa fisica (art. 57 do RIR), Em breve resumo, o art. 58 do RIR define como atividade rural: a agricultura, apecudria, a extragao e a exploragdo vegetal e animal, as culturas animais, como, por exemplo, apicultura, avicultura, suinocultura, sericultura, piscicultura ete., a pasteurizacao e 0 acondicionamento de leite, assim como mel e suco de laranja, acondicionados em embalagem de apresentacao. Para apuracio do IR devido, o resultado da atividade rural sera determina- do mediante escrituragao do Livro Gaixa, que deverd abranger receitas, despe- sas de custeio, investimentos e demais valores que integram a atividade (art. 60 do RIRD. © empresério rural, além dessas determinagoes do IR, devers observar tam- ‘bém as normas de escrituragéo dos arts. 1.179 a 1.195 do, © empresério rural, ou seja, a pessoa fisica cuja principal ocupacéo profissio- nal é a atividade rural, pode registrar-se como empresa individual rural, confor- ime dispée o art. 971 do CC: “Art, 971. O empresério, cuja atividade rural constitua sua principal rofissio, pode, observadas as formalidades de que tratam 0 art. 968 & seus pardgrafos, requeter inscrigo no Registro Piiblico de Empresas Mer- cantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrto, ficaré equipara- do, para todos os efeitos, ao empresirio sujeito a registro.” 20° Dio Empresa pra or Cano de Admins «Citas Cacti + Fe Para o ruralista resolver tornar-se emprestirio, nos termos do art. 971, deve proceder a um estudo detalhado das vantagens e desvantagens, principalmen- te no que se refere & tributacao, de preferéncia mediante consultoria especia- lizada. 2.1.3 Capacidade Para exercer a atividade profissional de empresério, a pessoa deve estar no pleno gozo da capacidade civil, bem como nao estar legalmente impedida de exercer atividade de empresério. 0 falido, por exemplo, pode estar no pleno gozo de sua capacidade civil, mas esté impedido pela Lei de Faléncias (Lei n® 11.101/05) de exercer a atividade de comerciante, hoje empresério, até a sentenca declaratéria da extingéo de suas obrigagies. Se tiver sido condenado, ou se estiver respondendo a processo por crime falimentar (art. 181), sua reabilitagdo somente pode ser concedida apés o de- curso do prazo de cinco anos do término da execugéo das penas de detencio ou recluséo e desde que 0 condenado prove estarem extintas, por sentenca, suas obrigagées. ‘A pessoa legalmente impedida que, mesmo assim, exercer atividade propria de empreséric responderd pelas obrigagbes contraidas. Portanto, nao poderd escusar-se de cumprir as obrigagdes assumidas ilegal mente, sob 0 argumento de que estava impedida e de que, portanto, 0 negécio juridico praticado nao é valido. © Cédigo Civil regula a capacidade para ser empresério em seus arts. 972 € seguintes. “Art, 972, Podem exercer a atividade de empresdrio os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e néo forem legalmente impedidos.” A primeira condigdo para ser empresério é que o individuo tenha capaci- dade civil, isto &, que ndo tenha os impedimentos que 0 colocam na condigéo de ser absoluta ou relativamente incapaz e que esto descritos nos arts. 3° e 4° do CC: “Ar. 3° So absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos a vida civil: Ios menores de dezesseis anos; Empresa, Engrs Sede press 27 Il-0s que, por enfermidade ou deficiéncia mental, nao tiverem o ne- cessério discernimento para a pratica desses atos; III 0s que, mesmo por causa transitéria, ndo puderem exprimir sua vontade.” Essas pessoas somente poderdo assumir obrigages ou transferir direitos através de seus representantes legais (pais, tutores ou curadores nomeados por juiz)_que celebram os atos jurdicos em seu nome. “Art. 4° Sao incapazes, relativamente a certos atos, ou A maneira de os I~0s maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; I~ 0s ébrios habituais, os viciados em téxicos, e os que, por defici cia mental, tenham o discernimento reduzido; IL-0 excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV- 0s prédigos.? Pardgrafo tinico. A capacidade dos indios sera regulada por legislacio especial.” No caso de ser a pessoa considerada relativamente incapaz, ela deve ser as- sistida. Isso significa dizer que o relativamente incapaz assume obrigagées ou transfere direitos a partir de atos juridicos dos quais participa, porém sob a orien- tacdo de um assistente legal (pais, tutores etc.). CC prevé que cessa a incapacidade para os menores a partir do momento ‘em que completam 18 anos ou entdo sejam emancipados devido: a) a concessao dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento ptiblico, inde- pendentemente de homologacéo judicial, ou por sentenga do juiz, ouvido o tutor, se 0 menor tiver dezesseis anos completos; 6) pelo casamento; c) pelo exercicio de emprego piiblico efetivo; d) pela colagdo de grau em curso de ensino superior; e) pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existéncia de relagdo de emprego, desde que em fungao deles, 0 menor com dezesseis anos completos tenha economia répria(art. 5® do CC). ‘A emancipagio é definitiva, no pode ser retirada. Dessa forma, a sua con- cessdio nao pode ser revogada pelos responsiveis legais. £ possivel também que © "Nos casos em que a incapacidade absoluta ou relativa deve-e is demaiscircunstincias que nfo sejam referents & idade do individuo, essa conducio deverd ser reconhecida através de sentenca Judie 2 rédigo é 0 individuo que gasta desordenadamente edilapida ose1 proprio patrimdnio, Devers ser declarado como tal através de sentenca judicial que determinaré sua interdigso para praticar tos da vida civil 22 ito Emel parece Cars de Admini « ncn Conse * be (0s pais ou responsdveis autorizem 0 menor ao exercicio da atividade empresarial através de documento lavrado em cartério. A diferenca entre a emancipagio e a autorizagao consiste na possibilidade de ser a autorizacao revogada. Seja através da autorizacdo ou da emancipacao que o menor adquira a ca- pacidade para exercer a atividade empresarial, deve se registrado, juntamente com os demais registros da empresa o ato de autorizacéo ou emancipagio. Ocortendo a revogacdo da autorizacao este ato também deverd ser registrado (art. 976 do CC), A legislacio civil regula, também, a ocorréncia da incapacidade supervenien- te do empresério. Isso significa dizer que, apés a constituigdo e legalizacéo da atividade empresarial, podera ocorrer um fato que tome o empresério incapaz ‘como, por exeraplo, o desenvolvimento de doenca mental que afete a sua capa dade de discernimento, Nesse e em outros casos serd necessério proceder a com- provacio, em juizo, dessa circunsténcia para que se efetue a interdigio da pessoa. Esse incapaz poderd continuar no exercicio da atividade empresarial desde que representado ou legalmente assistido, porém a autorizagdo judicial somente sera concedida apds exame das circunstancias e dos riscos da empresa, bem como da conveniéncia em continud-la, podendo a autorisagéio ser revogada pelo juis, ouvidos 0s pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejutzo dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, § 1", do CC). Ressalte-se que 0 empresdrio declarado absoluta ou relativamente incapaz no poder exercer cargo de administragdo na sociedade e seu representante legal também ro poderd ter nenhum impedimento para o exercicio da atividade empresarial e, caso isso ocorra, deverd nomear um ou mais gestores da empresa. representante ou assistente legal se nao tiver impedimentos sera nomea- do, pelo juiz, como gerente de um ou mais atos necessarios para a conducéo dos negécios da empresa. O juiz deverd apreciar a conveniéncia dessa nomeagao em relagao a preservacio da atividade empresarial. Esse representante assume as responsabilidades pelos atos praticados, bem como por aqueles que foram prati- cados por gestores indicados por ele. Assim, a sentenga que determinar a interdigdo poderé decretar a incapacida- de absoluta ou relativa do individuo e deverd ser registrada juntamente com os atos constitutivos da empresa, porém, devem ser atendidas as seguintes exigén- cias previstas no § 3° do art. 974 do CC: “1-0 sécio incapaz ndo pode exercer a administragdo da sociedade; I~ o capital social deve ser totalmente integralizado; 1-0 s6cio relativamente incapaz deve ser assistido ¢ o absolutamen- te incapaz deve ser representado por seus representantes legais.” mpeg Soee Empresa 23, Além dos impedimentos de ordem civil e falimentar existem os impedimen- tos de ordem criminal que podem restringir a atividade do empresdrio. Tais im- pedimentos estao relacionados aos crimes contra a ordem econémica, tributéria, relagdes de consumo, sistema financeiro nacional. Incluem-se nesses impedimen- tos, ainda, os crimes que envolvem cargos piblicos, bem: como aqueles previstos na lei anticorrupedo. Tais impedimentos vigoram enquanto os efeitos da conde- nagao criminal estiverem presentes. Assim, por exemplo, 0 individuo condenado por desvio de verbas ptiblicas enquanto estiver cumprindo a pena aplicada nessa condenagio nao poder’ exercer atividade empresarial. Ressalte-se que pessoas que ocupam cargos piblicos também estio sujeitas aos impedimentos do exercicio da atividade empresarial 2.2 Empresa ‘A-empresa é a unidade econdmica organizada que, combinando capital e tra- balho, produz, ou comercializa bens, ou presta servicos, com finalidade de lucro. ‘Adquire personalidade juridica pela inscrigao de seus atas constitutivos no érgio de registro préprio, adquirindo dessa forma capacidade juridica para assumir di reitos e obrigacbes. A empresa deve ter sua sede, ou seje, deve ter um domiclio, local onde exercerd seus direitos e responder por suas obrigagdes. © capital da empresa pode ser integralizado com bens tangiveis, tais como dinheiro, mAquinas, equipamentos, mercadorias etc., e por bens intangiveis, tais, como marcas, patentes etc. ‘A empresa contrata forga de trabalho, com ou sem vinculo empregaticio. Combinando capital e trabalho e adotando tecnologia e métodos de administra- co eficientes, organiza sua atividade econémica, objetivando a producao ou cir culagdo de bens ou a prestagio de servicos, visando obter Iuero que Ihe permita desenvolver-se e remunerar adequadamente o capital nela investido. 2.3 Sociedade empreséria ‘Quando as pessoas formam uma sociedade, adotando uma das formas de so- ciedades disciplinadas no CC, para a produgao ¢/ou circulagao de bens ou servi- 05, com finalidade de Iucro, esse tipo de sociedade é classificado como sociedade empreséria, conforme disposto no art. 982 do CC: “Art, 982. Salvo as excegGes expressas, considera-se empresiria a so- ciedade que tem por objeto 0 exercicio de atividace prépria de empresério sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. 24 Dio npn pro Cao de Administ Cones * Fb Parigrafo nico. Independentemente de seu objeto, considera-se em: preséria a sociedade por agdes; e, simples, a cooperativa.” Portanto, as sociedades personificadas, ou seja, as que adquiriram persona: lidade juridica pelo registro de seus atos constitutivos no registro préprio, por exercerem atividade econémica tipica de empresério, ou seja, produgao e circu- lagéo de bens e servigos, com finalidade de lucro, séo consideradas sociedades empresérias. As sociedades por agées (S. A.), também denominadas pela lei como compa- nhias, qualquer que seja seu objeto, sao sempre consideradas sociedades empre- sdrias e regemse por lei especial, no caso, a Lei n® 6.404/76 — Lei das Sociedades or Ages com as devidas atualizagdes incluidas pela Lei n° 11.638/07. 4J4 as cooperativas serdio sempre consideradas sociedades simples. Nas sociedades simples, podem ser admitidos sécios cuja participagéo consi ta apenas em prestacao de servicos. O contrato social deve especificar os servicos ‘a que se obriga perante a sociedade, com exclusividade ou nao, e sua participagéo nos resultados (art. 997, V, do CC). A partir da edigéo do CC de 2002, a legislago passou a vedar a sociedade ‘empresarial entre cOnjuges que sejam casados sob o regime da comunhio univer- sal? ou da separacio obrigatdria de bens.* essa form, 0 CC visa impedir que a sociedad empresarial possa ser utlizada de forma a prejudicar terceiros que venham a contratar com ela. Isso porque no caso de ser a sociedade formada por cénjuges casados sob o regime da comunhio universal de beas as participagGes societrias, na prética, nfo seriam divididas, uma ‘ver que pertencem a ambos os cénjuges, portanto, ndo haveria sociedade entre eles. Da mesma forma se os cnjuges sto casados sob regime da separagio obrigatéria de bens, tal fato ocorre porque podem existir controvérsias a respeito da unio do casal ‘ou em razao da dade avancada de um deles e isso poderia, futuramente, prejudicar 5” Art. 1.667. 0 regime de comunhdo universal importa a comunicagio de todos os bens presentes « futures dos cBnjugese suas dividas passivas, com as excegdes do artigo seguinte ‘Art. 1.668. So excludes da comunho: 1-0 bens doatos ou herdados com a cléusula de incomunicablidadee os sub-rogados em seu luger, Tos bens gravados de fdeicomisso e direito do herdeiro fdeicomissério, antes de reaizada « condigio suspensiva; Las dividas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ot reverterem em proveito comum, “Art 1.641. £obrigatio o regime da separagio de bens no casamento: 5 pessoas que o contrairem com inobservancia das causas suspensivas da celebragio do da pessonrnior de 70 (setenta) anos; IMt~de todos o: que dependerem, para casr, de suprimento judicial, presi, Boyes eSucende Empress 25 1 sociedade ou quem venha a contratar com ela. Assim, somente serd autorizada a constituigao de sociedade entre cdnjuges casados sob o regme de comunhao parcial de bens' e separacio total ndo obrigatéria.® Ocorrendo a separacao do casal é obrigatério o registro dessa situacdo junta- ‘mente com os atos constitutivos da empresa quer o ato tenha sido realizado em Cartério ou através de sentenca judicial. © mesmo ocorre com qualquer outro ato jjurfdico que venha a interferir no patriménio do empresario, tais como: doagées, hherangas, pactos e declaracdes antenupciais etc. (art. 979 do CC). 2.4 Média empresa So consideradas médias empresas, pela legislagdo tributéria, aquelas com receita total de até RS 78,000.000,00 (setenta e oito milhdes de reais) no ano- calendério anterior, ou R$ 6.500.000,00 (seis milhées e quinhentos mil reais) mensais, por més de atividade (art. 14 da Lei n® 9.718/98). ‘As médias empresas esto sujeitas, normalmente, 2 todos os tributos fede- rais, estaduais e municipais, incidentes em suas operagGes ou resultados, Para a legislagao do IR, a regra geral é a apuracao do imposto e da CSL de- vvidos, pelo regime do lucro real, que é determinado com base nos resultados da escrituragao contabil da empresa. 1688. No egine de cman parcial comunica os ben ie sbreviere 20a, constociadocazameno, com as exepbes dos argos segues Ae 1.659. Excluem-e da comunt Tes bens que eae cnjuge poss ao cata, or qu Ihe sobre, na consti do aa meni, por dons ou suc ¢o ubognde em gay Il os ben adqindos com valores etclisiamente pertencentes a um dos chugs em sb- -rogago dos bens pares l= ar obrigagbes anteriores ao casament; Vas obrigasesprovnlents de ator ics, salvo reverso en proveto do cs ‘V=oe bens de uso petal, os Infos eintumenio de prose Vi os proventos do trabalho petal de cada cng: Vilas penstes, meinesolds, montepls cous rendassemelantes ‘re 1.660. Era na comune Tos bens adguido na constnla do easamento por tuo oot, sida que bem nome de um dos onugs 11 bens adgsds porto eventual, com ou sem o concn de balou despesa anterior; Ion bens adder por doar, herang ou ego, em aor de ambos ox aj [Vas benfetorias em Bons paclres de cxda cjg, {Von ted bene comano,n ds pares deen Snes, perce a conn deo cvament, on pendent 20 ep de est comnh «ar 1.657, Espada a separaso de beng ets pemanecero 1b a aminirasioexsiva de cada um dos cnjges, que os poders ements shen ou ravi de Os real 26-bit Empresa! pros anode Adina enc Comes + bet ‘Nao obstante isso, a média empresa pode apurar o IR e a CSL devidos, pelo regime do lucto presumido. A pessoa juridica que optar pela tributagao pelo lucro presumido pode set dispensada da apresentacao da escrituraco contabil mais complexa (balanco : trimonial), para efeitos fiscais.” Ressalte-se, entretanto, que essa escrituracao & obrigat6ria para o empresirio e as sociedades em geral, conforme determinam 08 arts. 1.179 3s do CC, ou para requerer recuperagio judicial (art. 51 da Lei n® 11.101/94). Para fins fiscais, a contabilidade pode ser substituida pelo Livro Caixa, no ‘qual deve esta: registrada toda a movimentagdo financeira, inclusive a bancéria. Todavia, est sujeita, como todas as empresas, ao regime do Sistema Piiblico de Escrituracéo Digital através do qual deve disponibilizar junto a base de dados da Receita Federal informagées contabeis,fiscais e trabalhistas (Ora, essa escrituragio do Livro Caixa representa, praticamente, 80% da con- tabilidade. Poranto, mesmo optando pelo lucro presumido, para fins de planeja- mento tributirio, se esta for a melhor alternativa, a economia tributéria s6 pode ser confirmada pela contabilidade. E obrigatério também o Livro Registro de Inventério, no qual devem ser transcritos os estoques das mercadorias, matérias-primas, produtos acabados, produtos semielaborados ete. 2.5 Micro (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP) ALC n° 123/06 instituiu 0 novo Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, dispondo sobre o tratamento juridico diferenciado, simplificado e favorecido, garantido nos arts. 170 e 179 da GR Pelo art. 43, a citada lei revoga, a partir de 1° de julho de 2007, o estatuto- -anterior das ME e EPP (Lei n’ 9.841/99). art. 170 da CF versa sobre a ordem econémica e estabelece seus principios, entre os quais estd 0 disposto em seu inciso IX: “IX~tratamento favorecido para asempresasde pequeno porteconstitui- das sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administragao no Pais.” Portanto, o legislador constituinte deu a esse tratamento favorecido para as EPPs o status de principio, que, como ja visto, sobrepde-se a todas as normas que Ihe forem contrérias. O art. 179 da CF diz: 7 Essa obrigada a preencher escrcuragio para efeito do SPED Fiscal pres, tmprest Secedde Empresa 27 “Art. 179. A Unido, os Estados, o Distrito Federal e os Municipios dis- pensaro as microempresas e as empresas de pequeno porte, assim defini das em lei, tratamento juridico diferenciado, visando a incentivé-las pela simplificagéo de suas obrigacdes administrativas, tributérias, previdenci tas e crediticias, ou pela eliminagdo ou redugao destas por meio de lei.” © novo Estatuto define as ME e EPP nos incisos I ¢ Il e a receita bruta no § 1° do art. 3% “Art. 3° Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se croempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empreséria, a s0- ciedade simples e 0 empresério a que se refere o art. 966 da Lei n® 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro de Empre- sas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Juridicas, conforme 0 caso, desde que: I~ no caso das microempresas, o empresatio, a pessoa juridica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendétio, receita bruta igual ou i ferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); I~ no caso das empresas de pequeno porte, o empresétio, a pessoa Juridica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendirio, receita bruta superior a R§ 360,000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou infe- rior a R$ 3.600.000,00 (trés milhGes e seiscentos mil reais). § 1° Considera-se receita bruta, para fins do disposto no caput deste artigo, o produto da venda de bens e servicos nas operagées de conta pré- pria, 0 prego dos servicos prestados e 0 resultado nas operagdes em conta alheia, nao incluidas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos.” Na pratica, emprega-se o termo faturamento como sinénimo de receita bruta O tratamento favorecido corresponde a unificacio do recolhimento e paga- ‘mento de varios tributos (IR, CSL, PIS, COFINS, Contribuigdes Previdencidrias, IPI, ICS e ISS) a partir da aplicagao de uma aliquota (que varia em fungéo da receita e da atividade da empresa) sobre a sua receita mensal. Exercicios 1. José da Silva pretende constituir um empreendimento individual de respon- sabilidade limitada cujo objeto é a confeccdo e revenda de roupas esportivas. Indique e explique as determinagées legais que deve atender para constituir € registrar o seu empreendimento como EIRELI. Quais as condicées descritas em lei que caracterizam José como empresério? ry 28 bio Empresa pr or Cun de Adon eC Cones = bre Suponha que no decorrer das atividadles desse empreendimento José tenha Geixado de cumprir obtigacdes trabalhistas em relagao aos seus funcionérios, tais como: pagamento de décimo terceiro saldrio e recolhimento de previdén- cia social. Quais as possiveis consequéncias para o empreendimento e para José? Justifique a resposta, 2. Maria de Souza pretende constituir uma sociedade empresarial cujo objeto € a industrializagao de calgados. A fim de constituir uma empresa familiar pretende incluir o cénjuge e seus dois filhos na sociedade. Pergunta-se: (a) ‘Quais as condigdes que a lei estabelece para a sociedade entre cénjuges? (b) Caso os filhos do casal ndo tenham adquirido a capacidade civil plena devido a0 fato de serem maiores de 16 anos e menores de 18 anos quais as alterna- tivas para proceder a incluso desses na sociedade? Suponha que, apés a constituigao da sociedade, venha a ocorrer a incapaci- dade superveniente de Maria que era a s6cia administradora. Explique o que isso significa e quais as consequéncias para 0s sécios e a sociedade. 3. Um grupo de cinco pessoas resolveu constituir uma sociedade empresarial cujo objetivo é a comercializacao de doces feitos de forma artesanal. No pri- meiro més de atividade a sociedade obteve uma receita na ordem de RS 4.000,00, porém a sociedade nao estava devidamente registrada na Junta ‘Comercial. Pergunta-se: a) Quais as providéncias necessérias para legalizar a sociedade? b) Qual é o porte da referida empresa e qual o tratamento legal concedido a ela?; ¢) Que tipo de regime de tributago poderd escolher? 3 Sociedades {As normas sobre sociedades mercantis, ou seja, comerciais, estavam expres- sas, na sua parte mais antiga, no Cédigo Comercial, ena sua parte mais moderna dindmica, na legislacio societéria extravagante, ou seja, em leis posteriores & edicdo do Cédigo Comercial, e, em especial, na Lei das Sociedades por Acdes, cujas normas so aplicdveis, subsidiariamente, as demais formas de sociedade, para suprir eventual omissao contratual. Com a entrada em vigor do novo CC, as normas sobre sociedades em geral passam a estar contidas no Direito de Empresa (arts. 981 a 1.141), com excegéo das sociedades por ages, que continuam regidas por lel especial, ou seja, pela Lei das Sociedades por Agées (art. 1.089). 3.1 Conceito (OCC define sociedade em seu art. 981: “Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciproca- mente se obrigam a contribuir, com bens ou servizos, para o exercicio de atividade econémica e a parttha, entre si, dos resultados.” Em outras palavras, quando duas ou mais pessoas vinculam-se por um con- ‘rato social, reunindo seus capitais e trabalho, para aleangar determinado objeti- ‘vo comum, esté formada ui sociedade. © fator fundamental para o sucesso da sociedade é a ampla colaboracio e © bom entendimento entre os s6cios (afectio societatis). Por essa razio, 0 CC é bastante rigido nas disposigées relativas A admissio de novo sécio, justamente para resguardar 0 possivel bom entendimento entre os sécios fundadores, 0 que nem sempre ¢ facil. A sociedade pode ser constituida por pessoas fisicas, ou por pessoas fisicas jiurfdicas, ou, ainda, s6 por pessoas juridicas. Pessoa fisica ¢ o ser natural. E capaz de direitos e deveres na ordem civil. Os «casos de incapacidade civil, como jé se comentou no Capitulo 2, so regidos pelos arts. 3" 5* do CC. Todavia, a incapacidade em raziio da menoridade cessa quando ‘©: menor com 16 anos completos passa a ter atividade econdmica propria, estabe- lecendo-se ciil ou comercialmente, ou passe a ter relagio de emprego, e, conse- uentemente, tenha economia prépria, além dos outros casos previstos no art. 5°: “Act. 5* A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada & pratica de todos os atos da vida civil Pardgrafo tinico. Cesar, para os menores, a incapacidade: pela concessdo dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrunento piblico, independentemente de homologagéo judicial, ou por sentenya do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; Il pelo casamento; IIl- pelo exercicio de emprego ptblico efetivo; IV- pela colacio de grau em curso de ensino superior; \V- pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existéncia de rela- io de emprego, desde que, em fungdo deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia propria.” © CC, em seu art. 977, faculta aos cOnjuges, desde que néo tenham casado no regime da comunhao universal dos bens, ou no da separacio obrigat6ria, con- tratar sociedade entre si ou com terceiros (vide Capitulo 2). Essa norma deve ser interpretada com cuidado, pois pode dar impressio, & primeira vista, que as pessoas casadas em comunhao total de bens, ou no regime de separagao obrigatéria, nao poderiam associar-se com terceitos, o que é um evidente abstrdo. E claro que essas pessoas podem associar-se com terceiros, desde que em sociedade da qual nao faca parte o outro cénjuge. A restrigao do art. 977 explica-se pelo art. 978, que dé poder ao empresdrio casado de alienar os iméveis que integrem o patriménio da empresa, ou em garantia de empréstimos, sem necessidade de autorizacio do outro cénjuge. Por essa razio, 0 CC determina que, além do Registro Civil, devem ser ar- quivados e averbados na Junta Comercial os pactos e declaragdes antenupciais do empresério, o titulo de doagio, heranca ou legado, os bens gravados com as cléusulas de incomunicabilidade ou inalienabilidade. Soda: 31 Pela mesma razo, a sentenca que decretar ou homologar a separacao judi- cial do empresirio, bem como, se vier a ocorrer, o ato de reconciliagao, devem, ser arquivados e averbados na Junta Comercial. Sem essas providéncias na Jun- ta Comercial, essas alteracdes no regime de bens do casamento nao podem ser opostas a terceiros. ‘As sociedades constituidas por marido e mulher casados em comunhao uni- versal de bens, anteriores 4 vigéncia do CC, continuam validas pelo principio da inretroatividade da lei, um dos direitos e garantias fundamentais, expressos no art. 5%, XXXVI, da CF: “XXXVI ~ a lei nao prejudicaré o direito adquirido, o ato juridico per- feito e a coisa julgada.” Assim, por exemplo, a sociedade limitada, j4 constituida anteriormente vigéncia do CC, deve adaptar seu contrato social as novas disposigées sobre esse tipo de sociedade, no que se refere & responsabilidade, aiministracao, aprovacio de contas etc., conforme determina o art. 2.031. Entretanto, podem ser manti- dos como sécio marido e mulher casados em comunhao universal, com contrato anterior ao CC, pois esse contrato devidamente inscrito em registro puiblico com- petente, em data anterior a vigéncia do CC (11 de janeiro de 2003), & um ato jiurfdico perfeito e nao pode ser prejudicado pela nova lei. ‘A pessoa juridica é uma criagdo do Direito, Portanto, uma entidade abstra- ta. A associacao de duas ou mais pessoas, visando um cbjetivo comum ¢ que se vinculam por um contrato, constitui a pessoa juridica. A pessoa juridica, por ser uum ente abstrato, é representada pelos administradores, sécios ou ndo, aos quais, © contrato social atribuir esse poder. Comeca a existéncia legal das pessoas juri- dicas de diteito privado com a inscrigdo dos seus atos constitutives no registro ptéprio, ou seja, para a sociedade simples, no Registro Civil de Pessoas Juridicas, para a sociedade empresdria, na Junta Comercial. A pessoa juridica fica obrigada pelos atos praticados por seus administrado- res, desde que exercidos nos limites de seus poderes expressos em contrato social ou estatuto. Outro aspecto relevante que deve ser observado com cuidado, face ao poder dado & administracio tributdria de desconsiderar atos e negécios juridicos que vier a considerar dissimulados (LC n° 104/01), so 0 abuso de personalidade juridica mediante desvio de finalidade ou confusto patrimonial. Entre os principios fundamentais de contabilidade, um dos mais importan- tes & 0 da entidade, pelo qual a pessoa juridica e seu patriménio sao distintos das pessoas fisicas ou juridicas de seus sécios e seus respectivos patriménios particulares. 32 Dic Empl pr ce Cane de Adminstrato«Cdos Cooibeis = Fe Exemplificando: duas pessoas fisicas (A e B) resolvem dedicar-se ao comércio de tecidos, constituindo uma sociedade limitada. Investem cada qual uma parte do seu patrimSnio particular na integralizacéo do capital da nova entidade, que se denomina A&B Comércio de Tecidos Ltda. A integralizagéo do capital inicial pode ser feita em dinheiro (caixa) ou pela entrega de outros bens e direitos, como, por exemplo, méquinas, equipamentos, ticulos e valores mobilirios ete. Dai por diante, os bens e direitos investidos na sociedade passam a ser pa- triménio exclusive dessa entidade, pessoa juridica (A&B Comércio de Tecidos Ltda), No patrin-Snio particular de cada sécio constardo as respectivas quotas de capital na sociedade ¢ os demais bens e direitos nfo investidos no negocio. prine(pia da separacio do patriménio da entidade do patrim6nio particular dos sécios prevalece tanto na contabilidade como no direito, especialmente nas legislacdes societéria e tributéria, Nao obstante isso, a doutrina e a jurisprudéncia vém admitindo a desconsi- deragio da pe:sonalidade juridica da sociedade, em certos casos, para permitir a execugao de bens dos sécios, por dividas, principalmente as trabalhistas, tributd- rias e previdencidrias. Em relacao as dividas de direito privado, ou seja, débitos com fornecedores, prestadores de servicos e instituigées financeiras, nio cabe essa desconsideragio. O risco é parte do negécio. Quanto maior for o risco, maiores deverdo ser também o preco cobrado, as garantias exigidas e os juros estipulados em contrato de fornecimento, financia- mento ete. AAs pessoas juridicas podem ser de direito privado (sociedades, associagdes, fandagdes etc) ou de direito piblico (Unio, Estados, Municfpios, autarquias {INSS], empresas puiblicas [Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ~ EBCT] etc.) ou de direito publico externo, ou seja, os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional puiblico. 3.2 Sociedade nao personificada Enquanto néo inscritos seus atos constitutivos no registro préprio, a socieda- de niio adquire personalidade juridica e serd regida pelas disposigdes referentes & sociedade de tato denominada pelo CC de sociedade em comum (art. 986). Portanto, como a sociedade de fato nfo esta personificada juridicamente, ela no tem capacidade juridica para adquirir direitos e assumir obrigagées. Nao é sacdaser 93 uma pessoa juridica e, portanto, nao é possivel separar o patriménio da sociedade do patriménio particular dos sécios. 3.2.1 Sociedade em comum Como jase disse, é uma sociedade de fato, mas nao dz direito. Seus sécios, nas relagdes entre si ou com terceiros, somente podem pro- var a existéncia da sociedade por escrito. Nao obstante, os terceiros podem pro- var sua existéncia de fato, por qualquer modo, isto é, por todos os meios em direito admitidos. Os bens ¢ as dividas sociais constituem patrim@nio especial dessa socieda- de de fato do qual os sécios sao titulares em comum e sua responsabilidade é ilimitada. Os bens sociais respondem pelos atos de gestdo praticados por qualquer dos sécios. Se houver pacto que limite os poderes dos sécios, sua eficdcia 6 pode ser alegada contra o terceiro que 0 conheca ou deva conhecer Todos os sécios respondem solidéria e ilimitadamente pelas obrigagdes as- sumidas pela sociedade em comum, que, como jé se diss2, nio € personificada. (0 sécio que contrata em nome da sociedade, por determinagao do art. 990 fica cexclutdo do beneficio de ordem, previsto no art. 1.024. © beneficio de ordem, a que se refere o citado art. 1.624, consiste em execu tar primeiro os bens da sociedade e, se estes nio forem suficientes para saldar as, dividas da sociedade, s6 entao executar os bens particulares dos sécios. Portanto, ao sécio que contratou em nome da sociedade de fato néo cabe o beneficio de ordem, e os credores podem executar diretamente seus bens parti- culares. Para fins fiscais, a capacidade tributdria passiva independe de estar a pessoa juridica regularmente constituida, bastando que configure uma unidade econé- ‘mica ou profissional (art. 126, inciso III, do CTN): “Art. 126. Capacidade tributdria passiva independe: I da capacidade civil das pessoas naturais; Il— de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem pr vvacio ou limitagao do exercicio de atividades civis, comerciais ou profissio- nais, ou da administragao direta de seus bens ou negécios; Ill de estar a pessoa juridica regularmente constitufda, bastando que configure uta unidaue econémica ou profissional.” Portanto, 0 CC classifica essa sociedad de fato como sociedade em comum, de responsabilidade ilimitada. ‘94 ito Empresa prox Cua de Admini ii oni + Fares 3.2.2 Sociedade em Conta de Participagio (SCP) © outro tipo de sociedade nao personificada é a sociedade em conta de par- ticipagao (SCP). Nesse tipo societério hé um sécio ostensivo, ou seja, que se apresenta a0 mercado, regularmente estabelecido, inscrito no registro publico e reparticées competentes, federais, estaduais e municipais, na forma da lei, e com documen- tos e livros contabeise fiscais. A atividade que constitui o objeto da sociedade em conta de participagao € exercida unicamente pelo sécio ostensivo, em seu nome individual e sob sua propria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondents. Somente o s6cio ostensivo se obriga perante terceiros. O sécio participante se obriga excusivamente perante o sécio ostensivo, na forma prevista no seu contrato de participacio. A constituigao desse tipo de sociedade independe de qualquer formalidade pode ser provada por todos os meios em direito admitidos. Por exemplo: determinado empresdrio pretende realizar certo negécio de maior vulto e que pelas suas caracteristicas exige que seja realizado por pessoa cespecializada nesse tipo de operagao e que tenha bom transito no segmento de mercado que se pretende atingir. Nesse caso, 0 empresaio, que ser 0 s6cio os- tensivo, pode contratar com outra pessoa para participar exclusivamente desse determinado negécio, combinando repartir seus resultados, na proporcao que vier a ser combinada entre eles. ‘Ambos se associam exclusivamente para esse negécio especifico, que seré escriturado nos livros contébeis do sécio ostensivo, distribuindo-se o resultado na forma combinada no contrato de participacao. (0 contrato desse tipo de sociedade nao personificada produz efeitos somente entre os sécios. A eventual inserigéo do instrumento desse contrato em qualquer registro nao confere personalidade jurfdica a esse tipo de sociedade. Os documentos fiscais e comerciais so emitidos pelo sécio ostensivo, que abrird na sua contabilidade conta especial que registre todas as operacées da sociedade em conta de participacdo, escriturando-se todos os atos e negécios juridicos realzados no decorrer dessa atividade econémica, objeto da socieda- de, até a sua liquidacdo, mediante distribuigao dos resultados, na forma con- tratada. A contribaigéo do sécio participante em dinheiro ou bens, junto com a par- ipagio do sécio ostensivo, empregada para esse tipo de negécio, constitui pa- triménio especial, que deve ser registrado em conta especial de participacao, nos livros do s6cio ostensivo. Essa especializaco patrimonial somente produz efeitos ‘em relagao acs sécios. sicdaser 35; A faléncia do sécio ostensivo acarreta a dissolugdo da sociedade e a liquida- ‘go da respectiva conta de participagdo. O saldo dessa conta € considerado como crédito quirografétio do sécio participante na massa falida do sécio ostensivo Se, ao contrério, ocorrer a faléncia do sécio participante, 0 contrato social fica sujeito as normas que regulam os efeitos da faléncia nos contratos bilaterais, do falido. 0 sécio ostensivo nao pode admitir novo sécio sem o zonsentimento expresso dos demais, salvo estipulagéo em contrério, expressa no contrato social. A legislagdo do IR, no art. 254 do RIR/99, dispée que os registros contabeis, do sécio ostensivo deverdo ser feitos de forma a evidenciar os lancamentos refe- rentes & sociedade em conta de participacio, nos seus livros ou em outros livros que resolverem adotar para esse negécio. Determina, ainda, esse artigo do RIR/99, que os resuitados e 0 lucro real cor- respondentes a SCP deverdo ser apurados ¢ demonstracos destacadamente dos resultados e do lucro real do sécio ostensivo, ainda que a escrituragao seja feita nos mesmos livros. Nos documentos relacionados com a atividade da SCB o sécio ostensivo de- verd fazer constar indicagao de modo a permitir identificar sua vinculagao com a referida sociedade. © CC dispde que sdo aplicdveis & sociedade em conta de participacao, sub- sidiariamente, desde que compativeis, as normas da sociedade simples. Sua li- uidagdo rege-se pelas normas relativas & prestacao de contas, na forma da lei processual. Se houver mais de um sécio ostensivo, as tespectivas contas serao prestadas e julgadas no mesmo processo. 3.3 Sociedades personificadas AAs outras sociedades previstas nos arts. 997 a 1.141 do GC sio sociedades personificadas. A personificagdo ocorre com a inscrico dos atos constitutivos no registro proprio, tornando-se, de direito, pessoa juridica, dotada de patriménio préprio, distinto do patriménio de seus sécios, e com capacidade de assumir di- reitos e obrigagées, e ser representada ativa e passivamente pelos seus adminis- tradores. Seus resultados, por exemplo, serio tributados pelo Imposto de Renda da ;pessoa juridica. Sobre os lucros ou dividendos pagos ou creditados pelas pessoas Juridicas tributadas pelo lucro real, presumido ou arbitrado, néo incidiré o Im- posto de Renda na fonte, nem integrardo a base de célculo do IR do beneficiatio, seja ele pessoa fisica ou juridica, domiciliado no pais ou no exterior (art. 10 da Lein® 9.249/95) 36 Die Emprearl pr or Cura e Admin «Cs Condes Fabre Na declaracio do beneficiétio, pessoa fisica, por expressa disposigao do art. 39, XIX, do RIR/99, esse lucro ou dividendo nao é computado no rendimento bruto. E classificado entre os rendimentos isentos ¢ néo tributados. Se 0 beneficiério for pessoa juridica, os lucros e dividendos recebidos de ‘outra pessoa juridica seréo computados como receita financeira na contabilidade da sociedade, mas devem ser excluidos da apuracio do lucro real (art. 250, Tl, do RIR 99). ‘Todavia, a sociedade personificada, por ser pessoa juridica, é responsdvel pela retencao do IRRF referente aos pagamentos efetuados aos sécios, pessoas fi- sicas, a titulo de pré-labore ou honorérios da diretoria, ou de aluguéis ou de juros sobre 0 capital préprio, bem como sobre a remuneracio paga &s pessoas fisicas, com ou sem vinculo empregaticio. 3.4 Desconsideragéio da personalidade juridica da empresa A pessoa juridica, como jé foi dito anteriormente, é uma entidade com per- sonalidade prépria, distinta da de seus integrantes. A partir da aquisigéo da personalidade juridica sua responsabilidade passa a ser auténoma uma vez que ela é detentora de direitos e obrigacdes. AAs obrigagbes por ela contraidas devem ser pagas com renda e patriménios proprios. Assim, no caso de cobranga de dividas, deverao, em principio, seem penhorados os bens da empresa até o pagamento integral de suas obrigacdes. Porém, a autonomia patrimonial da empresa nao pode ser utilizada de forma ‘a causar dano a terceiros. Assim, néo pode o empresério, titular de pessoa juridi- ‘ca empresarial, desviar a finalidade da empresa, fazendo mau uso da personali- dade juridica, para praticar atos de fraude e abusos contra direitos de terceiros. © Cédigo Civil, em seu art. 50, dispde: “Ar. 50. Em caso de abuso da personalidade juridica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusdo patrimonial, pode o juiz deci- dir, a requerimento da parte, ou do Ministério Puiblico quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relagdes de obrigagées sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ow sécios da pessoa juridica.” Dessa forma, a lei determina a decretacao, por parte do Poder Judiciério, do que a dourrina denomina de “desconsideracao ou despersonalizagao da pes- soa juridica”, onde o juiz pode nao considerar a separacao do patriménio da ‘empresa e de seus integrantes, fazendo com que estes passem a ser pessoalmen- te responsaveis, respondendo com seu patriménio particular pelas obrigacdes da entidade, sceiader 87 Essa medida pode ser aplicada nas situagdes onde podem ocorrer abusos em relacio aos direitos de terceiros, tais como falta de recursos por parte da empresa para pagar indenizagées a consumidores, dividas trabalhistas e previdencidrias, ‘bem como préticas de crimes fiscais ou contra a ordem econémica, crimes que venham a provocar danos a0 meio ambiente etc. O art. 28 do Cédigo de Defesa do Consumidor estabelece: “Art, 28, O juiz poder desconsiderar a personalidade juridica da so- ciedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infracao da le, fato ou ato ilicito ou violagao dos estatu- tos ou contrato social. A desconsideracio também sera efetivada quando houver faléncia, estado de insolvéncia, encerramento ou inatividade da pessoa juridica provocados por mé ad: ‘Assim, em procedimentos judiciaisreferentes a cobrangas de débitos da pes- soa juridica se forem comprovadas as hipéteses de abuso de direito, excesso de poder, infracdo & legislacao, prética de atos ilicitos ou ocorréncia de fatos ilicitos, bem como desrespeito as normas constantes dos constitutivos da empresa, o juiz dda causa poderd decretar a desconsideracao da personalidade juridica da entida de passando a responsabilizar pessoalmente os seus integrates pelo pagamento das dividas oriundas dessas obrigagées determinando, assim, que o patriménio pessoal do empresiiio seja afetado por esses débitos. Esses bens pessoais pode- 140, inclusive, ser objeto de sequestro ou penhora e leiloados para os pagamentos das respectivas obrigagées. Ressalte-se que esté impedida de distribuir lucros ou cividendos para os seus {ntegrantes ou investidores a empresa com débitos trabalhistas, previdencidrios e tributérios que néo tenham garantia (parcelamento de débitos, penhora de bens ou depésito judicial da quantia devida). Essa proibigdo abrange bonificacées a acionistas e participacdo de lucros também a diretores e demais membros gesto- res, fiscais ou consultivos da empresa. Oart. 32 da Lei n® 4357/64 estabelece que: “Art, 32. As pessoas juridicas, enquanto estiverem em débito, néo ga- rantido, para com a Unido e suas autarquias de Previdéncia e Assisténcia Social, por falta de recolhimento de imposto, taxa ou contribuigio, no pra- 20 legal, nao poderao: a) distribuir quaisquer bonificagoes a seus acionistas; ) dar ou atribuir participagio de lucros a seus sécios ou quotistas, bem como a seus diretores e demais membros de drgdos dirigentes, fiscais ou consultivos; § 1" A inobservancia do disposto neste artigo :mporta em multa que serd imposta: (Redagdo dada pela Lei n? 11.051, de 2004) ‘38-bit Empeil pr ot Cut de Adminis Cais Condes + Fares I~ as pessoas jurfdicas que distribuirem ou pagarem bonificagdes ou remuaeragdes, em montante igual a 50% (cinquenta por cento) das quan: tias cistribuidas ou pagas indevidamente; e (Redagéo dada pela Lei n® 11.081, de 2004) Il aos diretores e demais membros da administragéo superior que receberem as importéncias indevidas, em montante igual a 50% (cinquen- ta por cento) dessas importincias. (Redacdo dada pela Lei n* 11.051, de 2004) §2* A multa referida nos incisos I Il do § 1° deste artigo fica limitada, respectivamente, a 50% (cinquenta por cento) do valor total do débito nao garantido da pessoa juridica, (Incluido pela Lei n? 11.051, de 2004)" A existéncia de débitos trabalhistas, previdencidrios ¢ tributdrios impede também a participacio da empresa em processos de licitago e concorréncia pui- blica (art. 27, IV, da Lei 8.66/93). CAPITULO 3 ‘SOCIEDADES (ART. 981 CC): PESSOAS QUE RECIPROCAMENTE SE OBRI- GAM A CONTRIBUIR, COM BENS OU SERVIGOS, PARA O EXERCICIO DE ATIVIDADE ECONOMICA E A PARTILHA, ENTRE SI, DOS RESULTADOS ‘SOCIOS: PODEM SER PESSOAS FiSICAS OU JURIDICAS PATRIMONIO DA SOCIEDADE £ PROPRIO E DISTINTO DOS PATRIMO- NIOS DOS SOCIOS (PRINCIPIO DA ENTIDADE) ‘SOCIEDADE NAO PERSONIFICADA: NAO TEM REGISTRO DE SEUS ATOS CONsTITUTIVOS EXS, 1 - SOCIEDADE EM COMUM: SCCIEDADE DE FATO, E NAO DE DIREITO, SEUS BENS E D{VIDAS SAO PATRIMONIO ESPECIAL DE RESPONSABILIDADE ILIMITADA. Dos sdcios. 2~ SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAGAO ‘SGCIO_OSTENSIVO: REGULARMENTE ESTABELECIDO E INSCRITO, RESPONSAVEL, PELA EMISSAO DE DOCUMENTOS FISCAIS, ESCRI- TURAGAO E PAGAMENTO DOS TRIBUTOS EM SUA CONTABILIDADE, REGISTRA EM CONTA ESPECIAL OS RE- SULTADOS DA SOCIEDADE EM CONIA DE PARIICIPAGAO eo PARTICIPANTE: PARTICIPA APENAS DE DETERMINADO NE- GOCIO. seca 39 SOCIEDADES PERSONIFICADAS: ADQUIREM PERSONALIDADE JU- RIDICA PELO REGISTRO DE SEU CONTRATO NA JUNTA COMERCIAL (SOCIEDADE EMPRESARIA) OU NO REGISTRO DE PESSOAS JURIDI- CAS (SOCIEDADE SIMPLES) Exercicios 1. Armando e Roberto constituiram uma sociedade destinada a negociar, via Internet, artigos de informatica importados, porém nao registraram essa sociedade. Os produtos foram trazidos do exterior por Armando. Consumi- dores que compraram esses produtos alegam que estes sio falsificados e néo funcionam corretamente. Pergunta-se: a) Uma vez. que a sociedade nio & personificada, quem pode ser responsabilizado por essas irregularidades? b) Por que uma sociedade ndo personificada nao tem patrim6nio préprio? c) Em relagdo as responsabilidades, qual a diferenca se a sociedade fosse personifi- cada? 2, José, Maria e Antonio constituiram uma sociedade personificada de respon- sabilidade limitada em marco de 1998. José e Maria sio casados desde 1996 sob o regime de comunhao universal de bens. Antonio alega que, a partir da publicagao do novo Cédigo Civil em 2002, um dos cOnjuges sdcios deve reti- rar-se da sociedade ou serd necessério alterar o regime de bens do casamento uma vez que 0 novo Cédigo nao admite a sociedade entre cénjuges casados sob o regime da comunhao universal. Esta correto esse entendimento de An- t6nio? Justifique. 3. Determinada empresa foi condenada pela prética de crime ambiental devido a0 fato de ter despejado produtos poluentes que conteminaram um dos prin- cipais rios da cidade onde est localizada. Condenade a pagar multa e inde- nizagdo por dano ambiental, apurou-se que a empresa nao tem recursos para ccumprir essa obrigagao e que alguns bens da pessoa juridica foram transfer dos para o s6cio administrador. Fundamentando-se na Lei n’ 9.605/98, que dispoe sobre as sangées penais ¢ administrativas derivadas de condutas € atividades lesivas ao meio ambiente, o juiz aplicou o art. 4° dessa lei deter- ‘minando a desconsideracio da personalidade juridica da empresa: Art. 4° Poderd ser desconsiderada a pessoa juridica serapre que sua personali- dade for obstdculo ao ressarcimento de prejutzos causacos & qualidade do meio ambiente. Pergunta-se: a) O que significa a desconsideragao da personalidade juridica da empresa? b) Quais as razbes previstas no art. 50 do Cédigo Civil que podem ser aplicadas ao caso em questo?

Você também pode gostar