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CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR POR UMA FORMAGAO ONTOLOGICA ORGANIZAGAO JOSELIA FONTENELE BATISTA MARANE! ROHERS PENHA 2 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR o APRESENTAGAO E AGRADECIMENTOS © presente lvro corresponde a uma coletanea de textos elaborados para subsiciar a formacao de Culdadores de Alu nos com Deficincia no Espaco Escolar a ser tutoriado pela ‘mestranda Josiane Paula Leite Olekszechen, © curso fol in stitucionalizado no IFRO, Campus Parto Velho Calama por meio da PORTARIA No 230/PVCAL - CGABIIFRO, DE 10 DE JUNHO DE 2021 0 Projeto Pecagégico do Cursa foi seuproduto educacion: al para © mestrado profissional PROFEPT-IFRO, mas a orien tadora, Profa. Ora. josélia Fontenele Batista e a mestranda fentenderam que 0 curso deveria acorrer Sob a étca da for magio ontolégica com um material bésico de discuss3o que também pudesse ser repicado pelo publico geral Foram convidades especialstas para contribuir com os temas relevantes para a formacSo que, no momento de pan emia de COvIO-19, hé mals de um ano no Brasil, NOs in pulsiona a buscar novas fermas de pensar e fazer educagio. Com este material os autores podem ser considerados 5, formadoresiprofessores do curso e © material em tela é 0 registro desses contetdos Importantes para replicaga0 pos: Por uma formagao ontolégica ‘tualmente a func de culdador de aluno nao se encon tra plenamente reconheclda em termos de profssao e sua _atuaga pasta por diversas dividas. Queremos aqui dar uma Acesso em 05/05/2021 MARX, Karl. © Cay SantAnna. Rio de Janeiro: al: critica da economia politica. Livro I, Vol. |. 24° ed. Trad. Reginaldo ivilizacao Brasileira, 2006. SANTOS, Marina Moras dos. Politica e estado em Marx: Uma leitura ontol6gica. Disponivel em . Acesso em 08/05/2021. SANTOS, ROSANA CRISTINA. Formagdo Para Cuidadores Educacionais. Disponivel em: htt- psi//pt.slideshare.net/RosanaSantos 19/formao-para-cuidadores-educacional. m em 28/02/2021 10 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma forragso ontolégica 1- O que vocé entendeu sobre ontologi ja? O que é? 2-Vocé acredita que a funcao que exerce atualmente (cuidador de alunos no ambiente escolar), Ihe possibilita uma formagao ontol6; 3-Asseu ver, 0 trabalho como cuidador de aluno no ambiente escolar possibilitou alterages e aprimoramento como ser humano, que altera € é alterado pelo meio em que esté inserido? Vamos discutir com os colegas. (CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formagao ontolégica 11 AS FUNGOES E ATRIBUICOES DO CUIDADOR NO AMBIENTE ESCOLAR BEM COMO NA RELACGAO COM A FAMILIA E COM O PROFESSOR TITULAR. Josiane Paula Leite Olekszechen? Josélia Fontenele Batistat Atualmente, o numero de estudantes com deficiéncias ou transtornos globais do desenvolvimento tem aumentado nas escolas e isso se deve as varias implementagdes de politicas publicas para que de fato ocorraa inclusao destes estudantes e, consequentemente, podemos observar que o profissional (cuidador) vem ganhando nitidez no contexto escolar devido a Lei Brasileira de Inclusdo, por meio da qual € garantido a esses estudantes nao somente a matricula e permanéncia no ambiente escolar, mas 0 Suporte deste profissional, podendo assim propiciar o atendimento as necessidades basicas diarias, higiene pessoal e suporte pedagégico. Neste capitulo, iremos abordar as questées relativas as funces e atribuicdes do cuidador escolar das instituigdes municipais de Cacoal, bem como a relacdo destes para com os professores e as familias, sendo possivel discriminar 0 que compete ao cuidador e as atitudes que este nao deve realizar ou deve evitar, primando pelo bem-estar e desenvolvimento educacional dos estudantes com deficiéncias ou transtornos globais do desenvolvimento, este ainda visa a minimizar a falta de instrugao tedrico-metodolégica dos cuidadores a respeito da especificidade das deficiéncias ou transtornos globais do desenvolvimento. 1. ATRIBUICOES E ATIVIDADES DO CUIDADOR PERANTE A LEI O cuidador escolar é0 profissional designado para suprir as varias necessidades do aluno deficiente, como: higiene, alimentagSo e locomogao, conforme elucida a Politica Nacional na Perspectiva de Educacdo Inclusiva (BRASIL, 2008), bem como pode estar presente em todos os niveis de escolarizagao desde a educa¢ao infantil, educagéo profissional a educacao superior. Para ocorrer de fato a inclusdo dos alunos deficientes no ambiente escolar, é necessario © suporte do cuidador a esses alunos, e estes poderao trabalhar conjuntamente com os educadores para que esse aluno consiga, no decorrer de sua vida escolar, maximizar seu aprendizado, conforme previsto nos artigos 27 € 28 da Lei n° 13.146, a Lei Brasileira de Inclusdo da Pessoa com Deficiéncia - Estatuto da Pessoa com Deficiéncia, a qual garante ao 3 Graduada em Pedagogia (UNESC-2008).Especalista em Coordenacdo pedagogica(UNIR- 2015). Especialsta em psicopedagogia clinica einsttuciona (UNESC-2013), Mestranda no PROFEPT {IFRO-2021), Supervsora Escolar na municipio de CacoaURO. Email sophlamannucrstalogmalcom 4 Graduadla e Licenciada em Geografa(UNIR 2000). Especilsta em Gestio Escolar (UNIR-2003) « Tecnolgias em Educagdo(PUC-RIO- 2005). Mestra em Deser vimento Regionale Meio Ambiente (UNIR-2007} Doutora em Geografia(UFPR-2014), Dacente do Instituto Federal de Educacio, Ciencia e Tecnologia-IFRO. e-mail joseliafontenele@ifroedubr 12 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR aluno com deficiéncia um sistema educacional incluso em todos os aspectos durante sua trajetéria escolar, sendo esta um dever do Estado, da comunidade escolar, da sociedade e da familia garantir a esas criangas com deficiéncia uma educagao de qualidade. A fungao do cuidador no ambiente escolar surgiu e teve abrangéncia nos ultimos anos, n&o somente em Cacoal, mas em todo o territério nacional, e a mesma ainda nao tem uma nomenclatura especifica dentro da Classificago Brasileira de Ocupacées (CBO) que é 0 documento que normatiza a realidade das profissdes do mercado de trabalho brasileiro, enquadrando-se dentro da CBO 5162 que trata de Cuidadores de criangas, jovens, adultos e idosos. Esté em tramite no congresso Nacional um projeto de lei para possivel inclusdo de um pardgrafo no artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que assegura ao aluno com deficiéncia a presenca do cuidador no ambiente escolar para Ihe auxiliar em suas necessidades fisicas, biol6gicas_ educacionais, mas j& vemos em muitas localidades a incluséo deste profissional no Por uma formagao ontolégica Ambito escolar e a lei federal 12.764, que trata sobre o autismo, também propiciou grandes avangos em relacao a estes profissionais, bem como a lei 13.146/2015, também conhecida como estatuto da pessoa com deficiéncia, que propicia a estes individuos uma série de direitos relacionados a acessibilidade, educacao e satide, além de constituir sanges para atitudes discriminatérias, © cuidador tem como propésito auxiliar © estudante com deficiéncia em suas necessidades fisicas, biolégicas e educacionais; este sempre deve andar em comum acordo com 0 professor titular da sala de aula de aula, bem como garantir 0 que esta previsto no Projeto Politico Pedagégico da instituicao na qual atua. No municipio de Cacoal, esta fungao e suas devidas atribuicbes ainda nao sao mencionadas na Lei n. 2736/PMC/2010 = Estatuto do Magistério, mas para fins de utilizagao temos 0 que foi preconizado no Edital de abertura n.° 01/2019, referente ao concurso publico que teve como objetivo a contratagdo de cuidadores para atender ou minimizar a demanda existencial, que estabelece as seguintes atribuigdes a estes profissionais em seu anexo |: 1. Acompanhar o aluno com deficiéncia ou transtorno global do desenvolvimento de maneira individualizada no ambiente escola’ 2. Acompanhar o aluno de maneira individualizada no ambiente escolar para apoiar sua mobilidade, locomocio, alimentacao, vestimenta e auxiliar nas necessidades pessoai ena realizacao de tarefas; jade e locomoco no ambiente escolar do aluno com deficiéncia ou Transtorno Global do Desenvolvimento; CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formagao ontolégica 1S bucal e cuidados nos casos de sialorre , bem como, assis outras tarefas pedagégicas propostas pelo professor regente. 5. Viabilizar a permanéncia do aluno com deficiéncia ou Transtorno Global do Desenvolvimento em espagos e ati regente; idades coletivas propostas pelo professor 6. Conhecer sobre adequacao postural para a pessoa com pouca ou nenhuma mobili jade e movimento corporal nos cuidados necessa 7. Saber abordar o aluno para os cuidados necessérios e compreender indicagées basicas contidas no histérico escolar do aluno com referénci necessidades educacionais especia Com base nas atribuigées do cuidador, este profissional deve dar suporte e acompanhar o estudante que esté sob sua tutela desde o entrar até 0 sair da instituigo escolar, mas o aluno também deve ter 0 suporte da equipe gestora e pedagégica da instituicdo quando necessario. © cuidador deve auxiliar 0 estudante desde suas necessidades mais basicas como higiene Video: https://www.youtube.com/watch?v=irHZMxtbe7M Tempo: 12:06 Titulo: Cuidador escolar: Legislacao e Perfil Profissional © cuidador de estudante com deficiéncia ou com transtornos globais do desenvolvimento deve encarar as limitacdes destes como um fato que pode ocorrer a qualquer individuo e nao construir a partir disso um juizo de valor que € alimentagéo como também pedagégicas, mas vale salientar que também deve seguir as instrugdes e combinados realizados pelo professor titular da turma, bem como primar pelo bom relacionamento e comunicacao para com este, tendo em vista sempre o bem-estar € desenvolvimento social e escolar do estudante. gere qualquer tipo de preconceito e influencie fas possibilidades de desenvolvimento do aluno. E preciso ter como foco e compreenséo que é necessario um cuidado mais especifico, por este motivo faz-se necessario que o cuidador, 14 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR assim como o professor, tenha conhecimento do histérico de vida, as limitagdes, possiveis dificuldades (0 que consegue fazer e 0 que nao consegue), e das possibilidades reais daquele estudante para que ele sinta prazer em realizar as atividades propostas para o seu nivel, naquele momento, ou seja, a adaptag3o curricular e de atividades. O professor titular deverd criar estratégias juntamente com o cuidador, orientando-o, para que a estada deste estudante seja prazerosa endo desgastante ou ineficaz para todos os envolvidos (aluno, professor, cuidador, familia etc). Vale salientar que cabe ao cuidador auxiliar 0 estudante com deficiéncia ou transtornos globais do desenvolvimento em todas as situacdes j& mencionadas, mas nao deveré assumir os processos educacionais do educando, sendo esta uma funcdo do professor. Compete ao cuidador 0 auxilio nas atividades e nao a realizagao destas para os estudantes; deve, ainda, auxiliar 0 professor na elaboracdo de materiais pedagégicos/didaticos apés comum, acordo entre professor e cuidador. © cuidador em hipétese alguma substitui o professor titular da sala regular, ou o professor do AEE, mas sim complementa estes dois profissionais no decorrer do processo no contexto escolar do estudante. Este profissional deve compreender, como ja mencionado acima, as limitagées e caracteristicas do estudante CONCLUSAO Por uma formagao ontolégica que estd sob seus cuidados, podendo assim compreender 0 momento que a crianca esta nervosa, chorosa, inquieta, alegre, disposta a participar com 0 grupo/ colegas de classe, para assim tomar as melhores decisdes para com este estudante. Podemos observar que a educacdo especial/ inclusao j4 obteve no cenério brasileiro varios avangos, mas ainda encontramos muitos entraves, como a legalizacio da func3o do cuidador no ambiente escolar, como estava sendo pretendido pelo Projeto Lei n° 1385/2007 que mais tarde teve seu nuimero alterado para 11/2016, infelizmente teve seu veto sancionado no ano de 2019 (CAMARA DOS DEPUTADOS, 2021), Com a legalizacao da profisséo do cuidador, este teria as competéncias e atribuicdes delimitadas para o atendimento ao estudante incluido no ambiente escolar, mas até a profissdo ser legalmente reconhecida, compete a0 cuidador buscar desenvolver e fornecer 0 seu melhor como individuo a estes estudantes que dependem integralmente de seu suporte, para assim ter seu direito a uma inclusao de fato garantida no ambiente escolar. © cuidador é um profissional de extrema importdncia para que de fato ocorra a incluso dos estudantes com deficiéncia ou transtornos globais do desenvolvimento no ambiente escolar, mas como visto no texto acima, este profissional ainda tem uma grande estrada a ser trilhada para que de fato sua funcio seja reconhecida como uma categoria de trabalho. No municipio de Cacoal, este profissional tem suas fungdes e atribuicdes delimitadas pelo ja men- cionado edital 01/2019, pois ainda nao sao citadas em documentos, normativas e leis municipais, vale salientar que este profissional também deve buscar cumprir o que esta explicitado dentro dos projetos politicos pedagégicos das instituicSes ao qual fazem parte, sempre com a orientagao do professor titular e equipe pedagégica da instituicao. (CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formacio ontolégica 15 REFERENCIAS CONCEIGAO. Fabio Coelho da. Estratégias para uma verdadeira incluso escolar. Disponivel em . Acesso em 10/05/2021. BRASIL. Projeto Lei n°8014/2010. Acrescenta parégrafo ao art. 58 da Lei n® 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educacao nacional, para assegurar a presenca de cuidador na escola, quando necessério, ao educando portador de necessidades especiais. Disponivel em . Acesso em 10/05/2021. BRASIL. Decreto n° 10.502/2020. Institui a Politica Nacional de Educacao Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Disponivel em Acesso em 02/06/2021. BRASIL. Camara dos Deputados. Congreso mantém veto total a projeto que regulamentava profissao de cuidador. Disponivel em: . Acesso em 19/05/2021. CACOAL. Lei n. 2.736 de 2010. Estatuto do Magistério. CACOAL. Edital de abertura n.° 01/2019. Disponivel em . Acesso em 02/06/201. 4- Apés a leitura do texto acima, como vocé descreve a sua fungao no ambiente escolar? 5 - Das funcées/atribuicdes descritas acima, qual vocé acredita ser a mais complicada de exercer no dia a dia e quais estratégias vocé tem utilizado para superar esta dificuldade? 16 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formagao ontolégica FUNDAMENTOS SOBRE DEFICIENCIAS E SINDROMES: uma visdo da terapia ocupacional e aplicacdes para os cuidadores de alunos INTRODUCGAO Neste capitulo, iremos & busca do entendimento dos laudos que chegam junto com aqueles alunos que precisaram ter um. olhar mais atento e singular, para que estes, possam se desenvolver e envolver-se no contexto escolar. Isto é algo desafiador para escola e familia. A cada novo ano, as escolas so levadas a aprender a linguagem da medicina, o que nos deixa confusos a respeito de diagnésticos e nomenclatura especifica de cada aluno: Nomes como sindromes, deficiéncias e transtornos sempre nos levam a buscar fundamentacdes em bases seguras e quando nos deparamos com as diversidades de terminologias de inimeros diagnésticos (CIDs), grandes interrogacdes surgem em nossa mente. Identifiquei que meu aluno apresenta algumas dessas caracter{sticas e limitacées. E agora? Entdo, vamos Id, recorrer as bases e desmitificar e entender suas peculiaridades para que possamos atender nossos alunos de forma assertiva, abandonando termos e conceitos errdneos, depreciativos estigmatizadores. Diante disso, precisaremos pensar também na palavra “incluir” para acolher 0 educando e seus familiares, que muitas vezes precisarao do nosso olhar mais atento e acolhedor. & na escola que as adversidades surgirao e como vocé esta preparada para abranger, compreender e somar? € nisso que deve se pensar quando se Maria Lucideane da Silva ® fala em inclusdo de pessoas com deficiéncia, € trazer para perto, dar a ela o direito de ter as mesmas experiéncias e aceitar o diferente e, ainda, aprender com ele. Para contribuir com este tema, a Terapia Ocupacional, que também é atuante nesse contexto, por meio da Resolugéo COFFITO, n° 500, de 26 de dezembro de 2018, define as areas de atuagdo e as competéncias do terapeuta ocupacional especialista em Contexto Escolar e da outras providéncias. (COFFITO, 2018). Diante disso, compartilharei como 0 profissional terapeuta ocupacional que pode contribuir para facilitar e reforcar © aprendizado, mencionando e aplicando estratégias de adaptacdes necessdrias para que esses alunos aprendam de forma concreta Para cada atividade. Na medida em que ele apresente desordens para sua execucio, pode-se utilizar métodos e modelos, baseados nas praticas da Terapia Ocupacional e com isso trabalhar uniformemente com toda equipe para que o estudante se sinta acolhido e capaz de realizar cada fase do seu desenvolvimento. O importante ¢ ir & procura, pois cada aluno € Unico, No existem receitas prontas e sim Pardmetros e sugestdes para as quais todos 0 atores da escola devem se preparar. 5 Graduada em Terapia Ocupacional Faculdade integradas Aparicio Carvalho, FIMCA 2018), Especalista em Neurocléncia {aplicad na eaucacao (Faculdade Sapiens, FGW/2020) atuando como Terapeuta Ocupacional (crescer clinka de terapias integra ‘das2121 e voluntaria na AssociagS0 Movidos por Amor 20 Autismo/2021), terapeutaacupacional hamecare@gmallcom ‘CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formagao ontolésica 17 1. CONCEITOS E DEFINIGOES 1.1 DEFICIENCIA Quando falamos ou ouvimos alguém abordar o tema deficiéncias, logo nosso cérebro transforma as informacdes em conexdes sindpticas® , projetando imagens possiveis de uma pessoa com de- ficiéncia. Deficiéncia & primeira vista nos leva a um pensamento de invalidez; esse é 0 primeiro impacto, ndo é mesmo? O termo nos remete para uma condicdo fisica que pode ser congénita ou adquirida e uma infinidade de definicées ou diagnésticos que por si sé no séo capazes de definir as habilidades de uma pessoa. Em se tratando de um leque de prognésticos, precisaremos observar nosso aluno, saber quais suas habilidades, quais as 4reas de sua competéncia, quais 0s componentes com que mais se ider tifica. € necessario um olhar mais atento, para além dos protocolos e instrumentos de avaliacao que chegam junto com os laudos, os chamados relatérios terapéuticos que sao bastante comuns em areas da satide, considerando que geralmente esse aluno é assistido por uma equipe multi e/ou interdisciplinar, que é de extrema significdncia para a escola, pois nesse documento constam infor- mages importantissimas a partir das quais o professor teré uma visao ampliada e previsivel do seu aluno, que podera apresentar algumas situacdes comportamentais ou sintomatolégicas proprias da patologia em dadas ocasiées da rotina escolar. 5 relatérios no sao algo comum na escola, mas essa é uma pratica que deve ser aprimorada na educacao, pois precisamos avaliar nao sé as notas e os conhecimentos dos alunos, mas sua evolucao como um todo e manter a familia informada sobre a rotina de seu ente, se correu tudo bem, con- forme o esperado ou se deve estar atenta a algo. Nao precisamos nos ater a documentos formais, mas registro diario que pode ser feito por meio de cadernetas de anotacdo digria daquele aluno cuidado: alimentou-se? Interagiu? Se ele faz a evacuagao no hordrio escolar, ocorreu tudo bem? Conseguiu fazer as atividades? Houve alguma intercorréncia, Ainda pode-se ver que habilidades ele tinha no inicio do ano e que evolucao apresentou? O que gosta de fazer e como gosta? Isso ira ajudar a familia e os préximos professores a auxiliar no desenvolvimento do aluno. 66 Quando falamos ou ouvimos alguém abordar o tema deficiéncias, logonossocérebrotransformaasinformacées em conexées sinapticas, projetando imagens possiveis de uma pessoa com deficiéncia. 99 retere-se §transmissso de nteragio entre um neurénioe outra clu, mecanismo de transmiss3o de impulsos nervosos. 18 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR € indispensavel que no primeiro momento do ingresso desse aluno na escola, ja na primeira entrevista com os pais, 0 professor procure se informar sobre a possibilidade da atengao extracurricular necessaria e faca o devido registro desses relatorios terapéuticos ou pedagégicos que cada profissional emite para os pais. Esse documento deve estar na pasta do aluno para nortear qual 0 modelo de abordagem o professor regente e todo © corpo docente envolvido com ele devera seguir, facilitando também o planejamento das atividades para que esse estudante possa adquirir 0 aprendizado dentro da sua singularidade com equidade. & importante também sempre estar atualizando tais relatérios junto a equipe, para novos tracados no desenvolvimento deste educando com essas observacdes. & importante todo esforco para se ter um olhar mais holistico, buscar conhecimento acerca do aluno que necessite um pouco mais de sua atengao nos pequenos detalhes, em ver seu aluno que nao conseguia segurar o lapis e agora consegue. Lé esta ele escrevendo uma carta em palavras, desenhos ou uns simples rabiscos de agradecimento por nao desistir dele. Isto € memordvel! Saiba que ali vocé se eternizou na histéria de vida daquela pessoa Ser uma pessoa com deficiéncia nem sempre é sindnimo de incapacidade. Segundo 0 Relatério mundial sobre deficiéncia (SAO PAULO, 2012), a deficiéncia inclui uma perda, insuficiéncia ou limitacao temporaria ou permanente que reflete nas atividades e comportamentos essenciais & vida didria. Inclusive das fungdes dos sistemas psicolégicos, —_fisiolégicos, _anatémicos, sensoriais e outros, desencadeando prejuizos para 0 individuo significando em incapacidade ou limitacao para o desempenho de papéis. Por uma formagao ontolégica Assim sendo, os prejuizos séo de acordo com cada tipo de deficiéncia, algumas delas acarretando desvantagens na realizacao de algo que para uma pessoa sem deficiéncia e de facil processamento e concretizacao. Na ado dos movimentos, comunicacao, orientacao, observacdo, —_percepgo, —_aprendizagem, aptidées, Memorizacao, _relacionamento, comportamento, consciéncia, ver, ouvir, higiene pessoal, vestir, alimentar, entre outros. No entanto, uma pessoa com deficiéncia entra em desvantagem nessas funcdes e sentidos que para a maioriadas pessoas ésimplesmente mais uma de nossas aces do dia a dia. Para o deficiente é um grande desafio, principalmente na sua independéncia, e muitas vezes sua autonomia é de forma passiva, ou seja, 2 espera de que o outro auxilie, estimule ou realize tal acao. Portanto, a visdo e orientacao quanto ao tema deficiéncia deve ser levada em todos os Ambitos para que a conscientizacao seja global, que possamos olhar além do visivel, acreditando nas potencialidades e capacidades do outro independente do seu Jeito de ser. De acordo com Bevervanco (2021, p. 1), no Brasil, quanto aos tipos de deficiéncia, temos atualmente classificacdo legal, via Decreto n°. 3.298/99, em deficiéncia fisica, auditiva, visual e mental. No referido decreto, é considerada uma pessoa com deficiéncia aquela que se enquadra nas seguintes situacdes (Art. 4°); (CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formacio ontolégica 19 I - deficiéncia fisica - alteragéio completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humane, acarretando o comprometimento da funcao fisica, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputacao ou auséncia de membro, par- alisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congénita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que nao produzam dificuldades para o desempenho de fun- ses; Il - deficiéncia auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (4B) ou mais, aferida por audiograma nas freqiiéncias de SOOHZ, 1.000HZ, 2.000H2 e 3.000H2; Il - deficiéncia visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correco éptica; a baixa visdo, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor corresao éptica; 0s casos nos quais a so- matéria da medida do campo visual em ambos 0s olhos for igual ou menor que 600; ou a ocorréncia simultanea de quaisquer das condigdes anteriores; IV - deficiéncia mental - funcionamento intelectual significativamente inferior & média, com manifestacao antes dos dezoito anos e limitagBes associadas a duas ou mais areas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicacao; b) cuidado pessoal; ©) habilidades sociais; d) utilizagao dos recursos da comunidade; €) satide e seguranca; f habilidades académica: a) lazer; € h) trabalho; \V- deficiéncia miltipla - associagao de duas ou mais deficiéncias Para um melhor estudo da tematica da deficiéncia fisica, vamos sugerir a leitura do material escrito Por Silva, Castro e Branco (2006), intitulado “A inclusdo escolar de alunos com necessidades educa- cionais especiais: deficiéncia fisica”, feito para o Ministério da Educac3o-MEC e disponivel em http:// portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/deffisica.pdf. Neste material, vocé encontrara as principais deficiéncias fisicas que se apresentam nas escolas € sugestdes de atividades e recursos. De imediato, convidamos vocé a fazer a leitura do referido mate- rial, dando atencao especial ao item 3.1 que vai da pagina 13 a 18. 20 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formagao ontolégica Quanto a deficiéncia mental e ou transtornos diversos, a questo ganha outros contornos, pois a questo é um pouco mais complexa. Segundo Bevervanco (2021, p.1), 0 conceito legal de deficién- cia mental é: “Artigo 4°, IV - deficiéncia mental - funcionamento intelec- tual significativamente inferior & média, com manifestaco an- tes dos dezoito anos e limitagdes associadas a duas ou mais reas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicacao; b) cuidado pessoal; ©) habilidades sociais; d) utilizagao dos recursos da comunidade; e) satide e seguranca; ) habilidades académicas; g) lazer; h) trabalho.” Ainda segundo Bevervango (2021, p.1) “Muita gente confunde deficiéncia mental e doenca mental. Essa confusao ¢ facil de entender: 05 nomes sao parecidos; as situagdes, envolvidas, para leigos, so também parecidas. Mas sao duas coi sas bem distintas. Segundo 0 DSM IV (Manual de Diagnéstico e Es- tatistica de Distirbios Mentais, edic3o de 1994), a deficiéncia mental € caracterizada por: um funcionamento intelectual significativa- mente inferior 4 média, acompanhado de limitag&es significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes reas de habilidades: comunicaco, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitarios, auto-suficiéncia, habilidades académicas, trabalho, lazer, satide seguranga. O inicio deve ocorrer antes dos 18 anos. Ou seja, a de- ficiéncia mental, ou deficiéncia intelectual, ndo representa apenas um QI baixo, come muitos acreditam. Ela envolve dificuldades para realizar atividades do dia-a-dia e interagir com 0 meio em que a pessoa vive. Jé a doenga mental engloba uma série de condi¢des que também afetam o desempenho da pessoa na sociedade, além de causar al- teragdes de humor, bom senso e concentracao, por exemplo. Isso tudo causa uma alteragao na percepsao da realidade. As doencas (CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formacio ontolégica 21 mentais podem ser divididas em dois grupos, neuroses e psicoses. ‘As neuroses so caracteristicas encontradas em qualquer pessoa, como ansiedade e medo, porém exageradas. As psicoses so fend- menos psiquicos anormais, como delirios, perseguicao e confusao mental. Alguns exemplos de doencas mentais so depressao, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), transtorno bipolar e esquizofre- nia, © tratamento das duas condigdes também é diferente. Uma pessoa com deficiéncia mental precisa ser estimulada nas éreas em que tem dificuldade. Os principais profissionais envolvidos so educadores especiais, psicélogos, foncaudidlogos e terapeutas ocu- pacionais. Medicamentos so utilizados quando a deficiéncia men- tal é associada a doencas como a epilepsia. Alguns dos profission- ais citados também participam do tratamento da doenca mental, como os psicélogos e terapeutas ocupacionais. Mas, além deles, € imprescindivel 0 acompanhamento de um psiquiatra. Esse médico coordena 0 tratamento, além de definir a medicaco utilizada para controlar os sintomas apresentados pelo paciente. Em resumo, a principal diferenca entre deficiéncia mental e doenca mental é que, na deficiéncia mental, ha uma limitacao no desenvolvimento das fungSes necessarias para compreender e interagia com o meio, en- quanto na doenga mental, essas fungdes existem, mas ficam com- prometidas pelos fenémenos psiquicos aumentados ou anormais. (Grifo Nosso) Deficiéncia fisica ou mental, ou ainda doenca mental, a escola ptiblica é o lugar de inclusdo para todos e deve ser oportunizada por todos os atores e para todos os espacos escolares: sala de aula, banheiros, secretaria, biblioteca, quadra recreativa etc. Todos os espacos e profissionais deve es- tar preparados para as peculiaridades da comunidade escolar. Cabe ao poder ptiblico dotar as esco- las de condigdes humanas e materiais necessarias para esta inclusao. 1.2 SINDROMES De acordo com Brasil (2013), sindrome & um conjunto sintomatolégico com manifestages por meio de uma condicao clinica concomitante com um ou mais problemas de satide. © termo “sindrome” tem origem na palavra grega “syndromé”, que significa "reuniéo”. Quando citada no universo da medicina, é definida como uma reunido de sintomas e sinais que esto asso- ciados a mais de uma causa. Seus sintomas séo inespecificos com aspectos que podem ter diversas raizes/origens. Alguns pacientes diagnosticados com sindromes podem nunca chegar a um vere- dicto definitivo sobre a causa de seus sinais e sintomas, ou mesmo ter alguma sindrome e por causa da variedade de sintomas e outras comorbidades associadas, ndo ter um diagnéstico bem definido. Os sintomas que compéem uma sindrome podem variar de acordo com o tempo e, portanto, podem vir a desaparecer ou evoluir. A sindrome nao precisa ter uma causa fisica para se desenvolver. 22 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR As sindromes so numerosas entre tipos, niveis. e nomes; umas bem conhecidas outras nem tanto, algumas delas bem raras, tem aquelas com prazo de vida e perda das habilidades e fungdes ou até se assemelham em sintomatologia e deformidades das estruturas corporais e viscerais, ah! Essas quase nao se veem ou ouvimos. falar, principalmente dentro da escola elas muitas vezes ficam escondidinhas dentro de casa ou em alguma instituicéo, por nao ter quem acredite na potencialidade do aluno, ou até manter estimulos para 0 aprazamento de sequelas, nem que sejam minimas. Hé ainda quem diga: “- Para que aprender?! -Por que estimular se nao tem jeito? - O ser humano é medido por sua capacidade?”. Diante destas visdes equivocadas, a familia fica sem saber como agir frente as barreiras, Au Por uma formagao ontolégica que se colocam. Muitas familias nao foram preparadas e orientadas para essa possibilidade, entéo uma nova abordagem de cuidados € necesséria. Devemos repensar em diredo a uma educacao ampliada na qual nossas criangas possam viver com dignidade, incluidas em todos os contextos. Assim, as criancas sem necessidades especificas poderao aprender a ter empatia e reciprocidade com as pessoas com deficiéncia e suas especificidades, que também sao pessoas com potenclalidades € necessidades socioemocionais, assim como elas. Visando a questdo escolar, destacamos aqui as indicagdes da psicéloga Solange Ferrari Cianfa (2021, p.1) sobre as principais sindromes neurolégicas: mo: O autismo é um transtorno que se manifesta ainda quando crianga. O Autismoéumasindrome neurolégica que afeta algumas funcdescomoalinguagem, © comportamento, a interacao social, a hipersensibilidade, entre outras. + TDAH: O Transtorno de Déficit de Atengdo e Hiperatividade, chamado de TDAH, é um pouco comum e que afeta as criancas e seu desenvolvimento. O TDAH é um disturbio que dificulta 0 aprendizado, pois a crianca fica agitada e nao consegue realizar tarefas que exijam tempo e paciéncia. A crianca também pode apresentar desatencao como momento de fuga. * Doencas neurolégicas funcionai: Trata-se de manifestagdes neurolégicas diversas como dores, tonturas, paralisias, desmaios, sensacdes de anormalidade, etc. 0 problema consiste por um mau funcionamento entre neurénios, mas sem lesdo. ‘A Associacao Beneficente Siria (2021) relata os problemas neurolégicos mais comumente desta- cados no ambiente escolar entre criangas e adolescentes que sao dislexia, transtorno de déficit de atencao e hiperatividade (TDAH), déficit de processamento auditivo (DPA) e as chamadas discalculias - que interferem na capacidade de calcular e no raciocinio légico da crianga. Para um melhor detal- hamento delas, acesse o link da Associacao Beneficente Siria indicado na bibliografia para conhecer um pouco mais cada uma (CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formacio ontolégica 23 importante destacar que nem todo aluno deficiente ou com alguma sindrome precisa de um. cuidador especificamente. As necessidades vao variar de acordo com as funcionalidades que ele domina e executa e as limitacdes que apresenta. A cada dia, novos atores vo surgindo nas escolas como 0 cuidador e o mediador’ . O importante é que este aluno sai de casa, vence o obstaculo do capacitismo e da relegagao a um papel de uma pessoa que nao tem sonhos, necessidades de autor- realizacao e que pode, sim, fazer coisas extraordinérias por si e pelo mundo. No preambulo do relatério mundial sobre deficiéncia o Professor Stephen W Hawking afirma A deficiéncia ndo precisa ser um obstéculo para 0 sucesso. Durante praticamente toda a minha vida adulta sofri da doen¢a do neurénio motor. Mesmo assim, isso ndo me impediu de ter uma destacada carreira como astrofisico e uma vida familiar feliz (SAO PAULO, 2012, p.10). 7M 7 para conhecer um pouco mais sobre o mediador escolar, acesse os seguintes sites e percebs as diferengas entre cuidador e mediador. hetps//blog.rhemaeducacao.com.br/papel-do-mediador-escolar/ tps. revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/223/mediacoo-escolar--Inclusao--revisao-~-dicas-e-reflexoes 24 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formagao ontolégica 2. CLASSIFICACAO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE (CIF): FERAMENTA DE USO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR Sabemos que hd intimeras ferramentas para a classificagdo e mensuracao dessas condigdes humanas, uma delas é a classificagio internacional de funcionalidade® (CIF) que tem seu direcionamento, agora de forma positiva, para a pessoa com deficiéncia, valorizando todas as possibilidades de participacao nas atividades, como nos demais do contexto em que esta inserida. Esta classificagdo propde uma inclusdo mais justa, e sem contar que o olhar desse professor terd respostas significativas para concretizagio dos objetivos tracados para aquele aluno em especifico, Através de uma linguagem clara para guiar e assim poder identificar e caracterizar uma hipétese de que existe um vetor, em especial para aquele aluno, e assim direcionar uma sugestao mais assertiva a0s familiares. Com esas reflexes acima, quero levé-los a um pensamento critico e construtivo de quea mudanca para inclusdo comeca com o nosso interesse em buscar conhecimento nos nossos desafios didrios, pois é de extrema importancia que esses conhecimentos estejam também dentro da escola, para que a convivéncia com adversidade seja naturalizada sem restricdes, preconceitos e medos. Para agucar essa busca, indico a leitura deste referencial da Classificacao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Satide (CIF) que se encontra nas referéncias e salientar também que ha curso para o seu uso em varios contextos pela plataforma CIF Brasil’. 2.10 USO DA CIF NO CONTEXTO ESCOLAR INCLUSIVO. A Classificagao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Satide (CIF) é uma classificagao desenvolvida pela Organizacaio Mundial de Satide (OMS). As propriedades da CIF sao organizadas em duas partes: 1, Funcionalidade e Incapacidade - inclui o componente Corpo com duas clas: para as funcées dos sistemas organicos e outra para as estruturas do corpo. cages, uma 2. Fatores Contextus esta inserido. la e 0 fatores ambientais em que o individuo 8 uma ferramenta da Organizacdo Mundial de Satide (OMS) crlada no ano de 2001. Sua utilzacao deve ser complementard Cassicagao Intemacional de Doengas (CID) 5 Portal Multifuncional da CIF (cforasiL.com.br) (CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR Por uma formacio ontolégica 25 Esta classificagao apresenta diferentes objetivos, sendo que, primordialmente pode oferecer um olhar sobre a funcionalidade e incapacidade global do individuo, assim como padronizar informagoes a serem utilizadas por diferentes profissionais, tais como: fisioterapeutas, fonoaudidlogos, professores, entre outros. Nesta padronizacao de informacées, pode-se incluir o ambiente escolar. A CIF é referéncia para a legislacao internacional e nacional sobre os direitos humanos, sendo utilizada por setores como: economia, educacdo, previdéncia social, seguros, trabalho, politica social e legislacao. Atividade e participacao € o componente da CIF mais utilizado no contexto escolar. Este componente ajuda a descrever como 0 individuo é no seu dia a dia, como realiza suas atividades diarias e como participa da sua vida social, considerando todas as fungées e estruturas do seu corpo. Sabe-se que a avaliagao no contexto escolar tem um carater de identificagao das condigées de ensino e aprendizagem para orientacao pedagégica e nao diagnéstica. Assim, no transcorrer do proceso educativo dos alunos com deficiéncia, a avaliagao € realizada com o objetivo de identificar barreiras em diversas dimensdes, considerando-se 0 aluno e o contexto educacional (VELTRONE; MENDES, 2011). Se vocé percebe que seu aluno se comporta de maneira diferente do esperado, no devemos tracar prognésticos e criar esteredtipos para ele. A familia deve ser contactada e solicitar que se facam as avaliagdes por especialistas que em geral sao psicdlogos, neurologistas e psiquiatras, estes so 0s profissionais qualificados para uma investigacao mais apurada. 3. A REALIDADE NA VISAO DA AUTORA Grandes evolugdes jd aconteceram desde os anos 70, época em que eu comecava a vida escolar, onde toda a busca para o aprendizado se dava através de muitas aces que provocavam reages positivas entre professor, aluno, escola e familia. Favorecia as competéncias socioemocionais. A interagdo era a motivacgao para grandes experiéncias académicas e para o aprendizado de mun- do. Todas as disciplinas favoreciam a empatia, movimentos, expressao e comunicacao global entre corpo e mente. A grade curricular e as ementas ndo causavam medo e pavor em realizar uma prova, por exemplo, por ter os contetidos e sua aplicagao de forma previsivel e dinamica entre os pares. Nesse tempo, ndo era muito comum ver e ouvir falar em criangas com deficiéncias na escola, no que me lembre! Mas, hoje, sabemnos que essa invisibilidade era e ainda é a exclusao de pessoas que tém direitos e deveres como todo e qualquer cidadao. Para isso, as escolas e profissionais estao se remodelando, procurando entender também a ciéncia clinica que bate a porta todos os dias, com in- imeros diagnésticos, ainda assim tais profissionais estao deficitarios de suportes para atender esta demanda que sé cresce. Sao questionados por nao atender o desenvolvimento deste aluno. Hoje, © professor € obrigado a lidar e conhecer um pouco de cada singularidade do seu aluno com defi- ciéncia, fator que desencadeia pensamentos incapacitantes neste profissional que se sente perdido frente a tais situagdes, nas quais precisara ter um olhar mais atento, e este é o mesmo profissional que poderd propor & familia a busca por ajuda médica para esse suporte aquele aluno que nao cor- responde 4s demandas da mesma forma que outros. 26 | CUIDADOR DE ALUNO NO AMBIENTE ESCOLAR As vezes, por desconhecer ou falta de capacitagdo, 0 professor acaba se expressando de forma abrupta, levando em muitas ocasiées ao desentendimento com a familia, que por sua vez, sofre com a possibilidade de descobrir o real vetor da dificuldade de seu préprio filho. Nesse momento, a escola teria de estar com uma equipe formada para atender essa familia com orientagées precisas, tendo em vista que este publico sé aumenta. E, mesmo sem adequacdo, as escolas do obrigadas cumprir as leis. A formaéo é precéria, desvinculada da realidade da sala de aula. Entdo, aquele educador que faz sem esperar acontecer, acaba muitas vezes tirando do préprio bolso. Na educacao realista de hoje, o professor busca atender este aluno de forma global. £ bom salientar que um suporte cientifico de uma equipe multiprofissional € —_necessariamente importante para juntos incluir esta pessoa com deficiéncia de fato e direito favorecendo sua autonomia nas evolugdes académicas e para a vida, pois temos de adaptar o mundo para ela dando-Ihe possibilidades para seu crescimento intelectual dentro de seu jeito de aprender e como seu cérebro aprende. Aescola esté se reinventando para amparar € acolher as pessoas, com uma nova visao, para o momento que a humanidade est vivenciando, Por uma formagao ontolégica A lei de Diretrizes e bases da educacao nacional aponta outro ponto que sao as lutas, em busca da igualdade na escola formal, no entanto, as vezes esta peleja se dé pelo desejo da familia e no pelas Pessoas com Deficiéncia (PcD). Quando a definicao desta ética paralisante dos “achismos", que por apresentar uma deficiéncia, esta pessoa nao pode ter autonomia na escolha e deciséo do que é melhor; qual o tipo de escola e onde iré ser educada, a familia acaba fazendo este papel, no dando voz e poder de escolha ao seu filho com deficiéncia quando ele apresenta tal condigéo para isso © que muitos pais precisam entender é que a autonomia é também pela deciso de querer da pessoa com deficiéncia. A determinagao dos limites e desafios, cabe a ela a competéncia de resolver sobre o que considera melhor em seu desenvolvimento educacional e formacao _ profissional quando este tiver condigées plenas de emitir sua decisdo. € muito importante que a autonomia esteja presente também para este estudante. Temos muitos exemplos de pessoas que adquirem outras habilidades e esto exercendo sua cidadania como também outras que podem estar confinadas em uma bolha invisivel, 85 vezes por descrédito ou falta de esclarecimento dos pais para que acreditem no potencial de seus filhos. Temos hoje um novo panorama, exigindo uma escola, uma educacéo e um educador mais ousado e criativo.

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