A interpretação brasileira sobre o princípio da “Responsabilidade de proteger” e a
proposta da norma “Responsabilidade ao proteger”
A busca de uma tradução para o principio da não indiferença fala sobre o papel do trabalho de interpretação do Princípio da Não-Indifença no contexto brasileiro e africano, e surge como alternativa ao Pricípio da Não Intervenção, modelo seguido pelas Relações Internacionais. Para isso, baseia-se sua análise na Teoria de Boaventura de Souza Santos. a) o entendimento de que, fora dos grandes centros de poder como Estados Unidos e Europa, estão sendo conduzidas experiências alternativas àquelas hegemônicas nos âmbitos político, jurídico, social, econômico e cultural (sociologia das emergências); b) que, apesar disso, estas experiencias tem sido vistas por estes centros como marginais, irrelevantes e\ou equivocadas e, dentro dessa lógica, são cinicamente produzidas como não existentes (sociologia das ausências) c) que apesar disso estas experiências se apresentam com um incrivel potencial de sucesso e que estando localizadas em grande parte no Hemisferio Sul, poderaão servir de modelo entre esses países, com a necessária adaptação à realidade de cada um (Trabalho de Tradução). A partir desse pressupostos, é possível comparar os mecanismos adotados pelo Brasil para tratar de assuntos relativos aos países do hemisfério sul com uma dinâmica externa em crise, com a política externa africana adotada no contexto pós segunda guerra mundial. Utilização africana do Princípio da Não Indiferença As feições do Principio da não-indiferença em territorio Africano são originadas na revolta do povo africano frente ao descaso da comunidade internacional com os conflitos étnico- religiosos advindos das fronteiras artificiais delimitadas historicamente por países europeus. Assim, é inspirado na cultura pan-Africana e na percepção do continente como grande comunidade. Nesse sentido, a criação da Organização da Unidade Africana em 1963 foi um passo importante na auto-determinação dos povos africanos. Contudo, seus ideias, extremamente embasados no Principio da Não- Intervenção, não foram suficientes para resolver os conflitos do continente, como foi visto no genocídio de Ruanda em 1994, o que revoltou a comunidade africana e impulsionou a criação da UA, substituta da OUA, embasada nos princípios da Não- Indiferença, que atua no sentido de legitimizar a intervenção militar em situações de mudanças institucionais de governo ou grave violação aos Direitos Humanos. Tal Princípio foi institucionalizado na Carta da União Africana e está ligado as diretrizes da Resposabilidade de Proteger. A Tradução da Política Internacional Brasileira do Pricípio da Não- Indiferença A tradução brasileira para os principios institucionalizados pela União Africana estão ligados ao conceito de Resposabilidade de Proteger e Resposabilidade ao Proteger, ao defender que a dinâmica atual na qual os países latino-americanos estão inseridos é semelhante a situação africana pois necessita reconhecer que há interligações entre o sucesso do progresso político, econômico e social internos àqueles obtidos fora das fronteiras nacionais e, por isso, o problema de um é problema de todos. Dessa forma, a partir do governo Lula a política externa brasileira assume elementos de solidariedade internacional e resposabilidades compartilhadas. Um exemplo disso é o perdão de dívidas estrangeiras, como foi o caso da Bolívia(52 milhões), de Cabo Verde( 2,7 milhões), Gibão (36 milhões) entre outros. Esses países possuem o menor ídice de desenvolvimento mundiais. Um segundo exemplo desses elementos incomporados pela política externa do Brasil é a participação do Brasil na estabilização, reconstrução e viabilização do Haiti. Nesse sentido, a atuação brasileira evolui do discurso da redução das desigualdade sociais e passa a ser pragmática: “Não aceitamos como fato consumado uma ordem internacional injusta(...) Nossa atuação diplomática é fundada na defesa de Princípios, mas tamém a busca de resultados. Tem uma dimensão utópica sem deixar de ser pragmática.” (Lula em discurso, 2005). Apesar da política da não-Indiferença não estar institucionalizado, aparece nos discursos do Lula e do Ministro das Relaões Exteriores. Com isso, essa política é utilizada como orientação interna do país e tem forte apelo a diplomacia solidária e a justiça social por ser inspirado na lógica de Direito Internacional do Desenvolvimento e em uma Nova Ordem Econômica Internacional. O Brasil, Responsabilidade de Proteger e Responsabilidade ao Proteger A contribuição do Brasil para o conceito de Resposabilidade Ao Proteger é dado pela auto-identificação brasileira como país emergente, o que gera peculariaridades na gerência do país e nos países em seus arredores em comparação com países hegemônicos como os Estados Unidos. A defesa da Resposabilidade ao Proteger é embasado na noção de que a intervenção militar não deve ser feita ao descaso, mas sim visada com ideias de cooperação e ajuda internacional. Além disso, a adesão da Responsabilidade de Proteger por países hegemônicos faz com que o Brasil não queira associar os pilares da sua política externa com a agenda internacional, e sim criar sua própria agenda interncional e seus próprios pilares de forma autônoma, abrindo espaço para se tornar um ator internacional efetivo ao invés de copiar as políticas advindas de países europeus. O Pricípio da não-Intervenção africana serve como um exemplo da Responsabilidade de Proteger desanexada as dinâmicas subordinativas Norte/Sul e, por isso, é modelo para a política externa brasileira, principalmente no governo Lula.