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O ESPORTE A PARTIR DA MODERNIDADE: UMA BREVE RETOMADA

O esporte é considerado uma instituição na Modernidade, pois requer regras oficiais que são
uniformizadas em todo o mundo por federações e confederações esportivas, como a FIFA e a
CBF. Isso possibilita o reconhecimento das competições oficiais. Embora tenha semelhanças
com práticas da Antiguidade Grega, o esporte como instituição social é um fenômeno da
Modernidade devido à sua influência global, ao contrário das Olimpíadas gregas, que eram
limitadas à Grécia. No Ocidente, as práticas esportivas foram proibidas pela Igreja Católica
durante a Idade Média, exceto aquelas relacionadas à formação de soldados.

Na Modernidade, o contexto crucial incluiu a consolidação das relações de mercado, o


aumento do poder econômico e político da burguesia, a ruptura com os valores medievais,
como a proibição das práticas esportivas, a valorização do corpo forte e magro, as guerras de
unificação dos Estados-Nação, e as lutas da classe trabalhadora por direitos à saúde pública e
lazer. Esses fatores moldaram o surgimento do esporte como uma instituição social na
Modernidade.

A MODERNIDADE E O ESPORTE ENQUANTO INSTITUIÇÃO

O esporte como fenômeno moderno surgiu no século XVIII, inicialmente em competições


militares que visavam preparar e motivar os soldados. Diversas modalidades esportivas foram
ressuscitadas, incluindo arremesso de peso, lançamento de disco, saltos, corridas e corridas a
cavalo, que se tornaram uma forma de entretenimento para a nobreza e a burguesia, além de
proporcionar ascensão social aos competidores.

O boxe foi o primeiro esporte a se profissionalizar formalmente, atraindo grande atenção da


sociedade. Nos círculos sociais elevados do século XVIII, o entusiasmo pelo boxe e pela
competição física refletiu uma recuperação de valores da Antiguidade, como “mens sana in
corpore sano” (mente sã em um corpo são).

Nos países anglófonos, os esportes profissionais prosperaram devido a uma extensa rede de
apostas e se desenvolveram independentemente do espírito do esporte amador, incluindo o
boxe, turfe e atletismo.

Na Inglaterra, a Revolução Industrial acelerou esse processo, pois concentrou muitos


trabalhadores em áreas urbanas, onde as práticas esportivas foram usadas tanto para controlar
a revolta dos trabalhadores quanto como um direito à saúde e lazer.

O esporte surgiu como uma forma de promover saúde e produtividade, principalmente entre a
classe trabalhadora, em um contexto de longas jornadas de trabalho e condições de vida
precárias.

O desenvolvimento do esporte ao longo do tempo incluiu tanto sua expansão profissional


quanto sua importância como atividade recreativa. Isso levou à criação de associações
nacionais e posteriormente internacionais para regulamentar diferentes modalidades
esportivas
Além disso, é fundamental destacar que o esporte não é apenas um fenômeno determinado
pela sociedade, mas também se tornou um direito social importante. Mesmo durante os
estágios iniciais da Revolução Industrial, quando a exploração dos trabalhadores atingia níveis
extremos, a luta e as manifestações desses trabalhadores resultaram na conquista do direito à
prática esportiva e ao lazer. Portanto, o esporte desempenha um papel contraditório na ordem
social pois, ao mesmo tempo em que pode reforçar desigualdades, também pode promover
valores fundamentais e contribuir para a melhoria da sociedade.

O esporte também permitia a expressão de emoções reprimidas, incluindo agressividade e


violência, e oferecia a possibilidade de ascensão social para aqueles que não tinham acesso a
oportunidades e serviços básicos.

A RETOMADA DOS JOGOS OLÍMPICOS

1. Fase de Estabelecimento (1896-1912):Durante esse período, os Jogos Olímpicos foram


reestabelecidos, promovendo valores como amadorismo e participação sobre a vitória.
O Barão de Coubertin, um aristocrata francês, desempenhou um papel crucial nessa
fase, buscando reviver os jogos pan-helênicos e promovendo uma perspectiva
aristocrática do esporte. O objetivo era estabelecer mecanismos de trégua nos
conflitos entre países, neutralizando conflitos sociais por meio de uma ideologia de
“neutralidade política”.

2. Fase de Afirmação (1920-1936):Durante esse período, os Jogos Olímpicos continuaram


a crescer e se consolidar, apesar de uma interrupção devido à Primeira Guerra
Mundial. Ainda não havia uma grande profissionalização no esporte, que permanecia
elitista, excluindo as camadas mais pobres da sociedade.

3. Fase de Conflito (1948-1984):Nessa fase, o esporte enfrentou desafios significativos


devido à profissionalização e nacionalismo. A busca por vitória e reconhecimento
internacional estava em conflito com os ideais originais de amadorismo.

4. Fase Profissional (1988 até os dias atuais):A partir de Seul 1988, o esporte entrou em
uma fase mais profissional, com a participação de atletas remunerados. Os Jogos
Olímpicos continuam a evoluir até os dias de hoje.

O ESPORTE NO PERÍODO ENTRE GUERRAS.

Nesse contexto, os esportes tornaram-se altamente politizados. O higienismo e as políticas


eugênicas nazifascistas enfatizavam padrões estéticos e disciplinares específicos para a nação,
e os esportes eram usados para promover esses ideais.

O autor destaca a histórica proibição da participação de negros nos campeonatos de futebol na


década de 1920 no Rio de Janeiro e a luta pela inclusão liderada por clubes como a Ponte Preta
em São Paulo e o Vasco. O racismo no esporte muitas vezes era disfarçado como uma defesa
dos valores amadores, excluindo aqueles que não podiam praticar esportes devido às longas
jornadas de trabalho.

Nesse período, o esporte se massificou entre a população, tornando-se uma ocupação


importante no tempo livre, juntamente com o desenvolvimento das tecnologias de
comunicação. Empresas privadas começaram a investir na prática esportiva como forma de
propaganda, e o futebol se destacou como o esporte mais popular, apesar da resistência ao
profissionalismo.

Os Jogos Olímpicos organizados na Alemanha nazista exaltaram a ideologia do amadorismo e


distorceram valores helênicos. A vinculação entre grandes eventos esportivos e os meios de
comunicação se tornou inegável, e as Olimpíadas de Berlim também foram marcadas pela
ascensão dos atletas afro-americanos, com Jesse Owens ganhando dois ouros e desafiando a
ideologia de supremacia ariana de Hitler.

É importante notar que, mesmo nos Estados Unidos, um país extremamente racista, a presença
de atletas negros em equipes esportivas não significava inclusão social, mas sim estratégias de
propaganda de potência desportiva.

O ESPORTE DURANTE A GUERRA FRIA.

O número de atletas e modalidades nos Jogos Olímpicos cresceu significativamente, refletindo


a intensificação da competição global entre o capitalismo e o socialismo. O esporte se
profissionalizou ainda mais e se tornou um elemento ideológico fundamental, pautado pelo
conflito entre esses dois sistemas. Grandes corporações relacionadas ao esporte, como Adidas,
Nike e Puma, surgiram nesse período, e o patrocínio privado aos atletas, equipes e seleções
nacionais se expandiu.

O desenvolvimento científico-tecnológico relacionado ao esporte também teve um


crescimento sem precedentes. O esporte se transformou em uma mercadoria a ser consumida
pelos indivíduos e desempenhou um papel crucial nas disputas políticas e econômicas em todo
o mundo.

No entanto, essa transformação do esporte em mercadoria e a crescente influência dos meios


de comunicação, como televisão e rádio, mudaram a experiência das pessoas em relação ao
esporte. Os espectadores passaram a experienciar o esporte de maneira mais passiva, como
espectadores, em vez de praticá-lo ativamente como forma de lazer lúdico. Isso levou a uma
ênfase maior no esporte de rendimento e na competitividade entre nações, apesar da retórica
pacifista de convivência das diferenças.

O ESPORTE-ESPETÁCULO: A RELAÇÃO ESPORTE-TELEVISÃO

1. Mercadorização do Esporte: Os esportes passaram por um processo de


mercadorização, onde a profissionalização não se limitava apenas aos atletas, mas se
estendia a equipes técnicas e profissionais de direção. Isso incluiu a introdução de
mecanismos empresariais de marketing.

2. Relação com Meios de Comunicação: A relação entre esportes e meios de comunicação


desempenhou um papel crucial nesse processo. O televisionamento das partidas levou
a uma mudança na estética do jogo para torná-lo mais vendável. As emissoras de
televisão passaram a influenciar a forma como o esporte era transmitido

3. Experiência do Espectador: Com a comercialização do esporte, os torcedores passaram


a ser tratados como clientes, e a paixão pelo esporte foi comercializada. O surgimento
dos programas de “sócio-torcedor” é um exemplo disso, onde os torcedores se tornam
consumidores preferenciais.
4. Competição e Ideologia: A mídia promoveu a ideia de que o esporte é uma competição
onde apenas a vitória importa. Os atletas foram retratados como super-heróis que
superam desafios e são exemplos a serem seguidos. Essa narrativa ajudou a justificar a
ordem social existente.

2. MEGA EVENTOS ESPORTIVOS

1. Profissionalismo nos Megaeventos: A partir de 1984, com os Jogos Olímpicos de Los


Angeles, houve uma mudança significativa no enfoque dos megaeventos esportivos. O
Comitê Olímpico Internacional (COI) assumiu uma posição pró-mercado,
transformando o esporte em uma mercadoria a ser consumida durante o lazer.

2. Abandono do Amadorismo: Nesse período, o amadorismo saiu de cena, e os atletas de


destaque se profissionalizaram, muitos deles ainda jovens. Isso marcou uma ruptura
significativa com o passado, quando o amadorismo era valorizado nas competições
olímpicas.

3. Jogos de 1992 como Marco: Os Jogos Olímpicos de 1992 são destacados como um
marco fundamental no processo de espetacularização dos eventos esportivos. Eles
introduziram estruturas de privatização e comercialização que ainda persistem,
enfocando principalmente o consumo como uma mercadoria.

4. Discurso do Legado: Um discurso de inovação e legado social foi usado para justificar
os jogos. No entanto, muitas vezes, os impactos sociais prometidos não foram sentidos
pela população, pois as arenas construídas com dinheiro público frequentemente
foram privatizadas e inacessíveis para a maioria.

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