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Prefacio de 1868 Esta obra laboriasa, que preencheu oito anos de minha vida, nio teve a boa fortuna das improvisagtes vindas emi tempo pacifico, Ela foi escrita em pleno acontecimento. Dois volumes foram publicados em feverciro.* Apresentavam 0 relate das mais belas jornadas da Revolugao, ainda crédula, fraterna clemente, como foi sua jovem irmd de 1848. Eles foram acolhidos nos célebres banquetes dessa época. Fatos crutis se sucederam. Eu no soltei a presa. Trés volumes apa- receram em 1850. Toda voz literaria se calara; toda vida parecia inter- rompida. Nada vendo além de minha tarefa, no fundo de nossos arquivos, trabalhando sé ¢ ainda sobre as ruinas de um mundo, pude aereditar por um momento que eu era o tltime homem. Deixando Paris a 2 de setembro, nfo levando outros bens que os materiais de meus ultimos volumes, os documentos do Terror, escrevi-s perto de Nantes, em grande solidia, as portas da Vendéia. Assim, contra todos os obstaculos, através de todos os aconteci- mentos, esta historia caminhou, foi até o fim, sangrenta, por isso mes- mo mais viva, una de alma e de espirito, sem que os duros empecilhos da sorte a desviassem de sua linha primeira, Os obstaculos, bem lange de deter, para isso contribuiram. Em uma velha casa clara crivada pe- las grandes chuvas, em janciro de 1853, eu escrevia sobre o mesmo més correspondente do Terror: “Mergulho com meu tema na noite ¢ no inverno. Os ventos furisos de tempestades que golpciam minhas vi- Fevereiro de 1848, £ o mesmo més em que, apds uma série de banquetes promavidas pela oposicao (inica forma autorizada de reunide, dade que comicios estavam proibi- dos), pavo de Paris se revolea contra o “rei bungués”, e & proclamada a Il Repsblica (RJR). 24 dragas ha dois meses, nestas colinas de Nantes acompanham com suas vores, ora graves, ora dilacerantes, mew Dies ir de 1793, Lepitimas barmonias! Devo agradecé-las, © que me disseram muitas vezes em seus furares aparentes, cm seus acres assobios, no estrépito sinistra- mente alegre com que o granizo fustigava minhas janelas, era a coisa forte ¢ boa, era que todas essas aparéricias de morte ndo eram demo do nenhum a morte, mas, bem ao contrario, a vida, a furura reno- vagio. .." Ao fim de quinze anos, apds o grande trabalho que ew devia 3 anti- ga Franga, volto 4 esta, a Franga da Revolugio. Volte a ela como a um lar de familia, abandonado por algum tempo. Mas mudado? De maneira nenhuma. Mais frio? Absoluramente nao. Prova singular rever-se assim ao fim de tantos anos, comparar os tempos, © que era eu? E o que éramos nés (nos Franga), ¢ 0 que nos tornamos? Contenhamos nosso coragio. Sejam quais furem as nussas triste- zas, com olhar claro ¢ firme observemos a situacio A dureza do tempo rompcu muitas coisas, mas também Joi pro- veitosa. Com o tempo compreendemas o que se discernia pouca em 1848. Todas as grandes questées se apresentavam entdo conjuntamen- te, impacientes, sem levar em conta sua ordem logica e natural. Exage- révamos as nuances que nos dividiam. Um grande progresso ocorreu, sob esse aspecto. Sem nos desdizer em nada nem mudar de linguagem, todos nas, filhos diversos da Revolugio, concordamos nela, aproxi- mamo-nos da unidade. 1. As coisas retomaram sua verdadeira perspectiva, ¢ todos volta- ram 4 tradigao nacional, Nao ha nenhum de ads, hoje, que ao veja na Liberdade a questio saberana. A questio econémica que lhe fcz som- bra é uma conseqiiéncia, um aprofundamento essencial da Liberdade Mas esta precede tudo, deve cobrir ¢ proteger tudo. 2. A questo religiosa parecia secundaria. Nossas adverténcias toca- vam pouco. Em vao os Bossuct, 0s De Maistre diziam alto e bam som, acs nossos, a profunda unido das duas autoridades, Souberam-no um pouco tarde. Precisaram despertar vendo o comvento perto da caserna, esses monumentos gémens que haje coream as clevagdes das grandes cidades, ¢ proclamam a coalizio. 3. Nada de guerra. Sobre isso ainda, somos undnimes. No trabalho imenso em que a Franga s¢ compromereu, ela tem outra coisa a fazer. 25 Esta encantada de ver uma Itdlia*, uma Alemanha, ¢ as sadda de cora- cdo. Um ponto consideravel é que, dos dois lados, 0 valentes despre- zam a guerra, sabendo que j4 nig é uma questio de valentia, mas de pura mecdnica entre Delvigne e Chassepot."* 4..O que poder parecer um pouco estranho no futuro ¢ que nos- sas dissidéncias em 1848, as mais Asperas talvez, cram relativas ao pas: sado, bisrdricas, arqueoldgicas. Esses debates se mesclavam 4 atualidade. Tdentificévamo-nos com esas higubres sombras, Um era Mirabeau, Vergniaud, Danton, um outro Rebespierre. Reservamos hoje nessas simpatias, sem diivida, para este ou aquele heréi da Revolug%o. Mas os julgamos melhor. Vemo-los no conjunto, de maneira nenhuma opos- tos, e dando-se as mios. Se alguns de nds se aferram a esses debares, em compensagdo uma grande Franga, nascida depois de 1848, um meio milhdo de homens que lem, pensam e sio o futuro, olha tude isso come algo curios, mas sem ter nenhuma aplicagZo, com circunstin- cias tio diferentes. A historia contestada dos velhos tempos esclareceu-se por si mes- ma, de ano em ano, por um grande mimero de documentos dados a publico. Mas nds, historiadores, fizemos algums coisa por isso. Ado- tando cada um seu ponto de vista, nds a pusemos (por aossos proprios exageros) em plena luz. B interessante ver quanto essa diversidade foi util. Desejaria que uma mao habil esbocasse a historia da historia, que- ro dizer, o progresso feito em nossos estudos sobre a Revolugio. Arrancécla de 1789 é fazer dela um efeito sem causa. Ferd partie de Luis XV é explicéla bem pouco ainda. E preciso cavar hem mais fundo. E toda a vida da Pranga que prepara, que faz compreender seu drama final. Cada vez menos obscura, ela se torna toda luminosa no século XVIIL, que, longe de ser um caos, ordena, escreve esplendida- mentc nosso credo moderno, que a Revolugo trata de aplicar Tarefa muito longa. Tive minha paga quando (em meu Lut: XV, por volta de 1750) tive a alegria de apresentar muito simplesmente esse credo de luz. Diante dele coloquei as trevas, a Conspiragao de familia, * Quando Michelet escreve, em 1868, pouen faltava (Roma, apenas, ainda em poder dos papas, até 1870) para se completar a unidade italiana. O mesma vale para a unificagio da Alemanha (RJR). ** Qu scja, um puro problema de mecSnica militar: Chassepot foi o invencar do fui de guerra com pente, em 1866, ¢ sua arma fui utilizada pelo exércita francés aré 1874. Henri Delrigne, por sua ver, inventou em 1826 a rifle que tomau seu nome, € que foi também utilizado pelo exército da Franya, especialmente na Argélia (RJR). 26 Desde 0 ministério de Fleury, a incriga hispano-austrlaca ¢ catdlico- mondrquica se arma pelos parentescas, casamentos, etc, (0 primeiro efeito foi o reinado de Maria Teresa em Versalhes ¢ a Guerra dos Sete Anos que entertou a Franca e dew o mundo & Inglaterra. O segundo cfcito foi o reinado de Maria Antonieta, a explosto tardia (tio tardia!) de 1789, Agueles que querem persuadir-se de que esse acontecimento imen- so foi obra de um partido, um complé de Orléans, um movimento facticio que Paris impés 4 Franga, sd precisam abrir os cem volumes in-folio dos Cadernas, os votos das provincias, suas instrugdes aos de- putades dh Constivuimres:Ac menos, que vonaviycanhieel menyo dev ire: chos escolhidos dos Cadernos, to bem resumidos por Chassin, Em meu primeiro volume (1847), indiquei a que ponto as idéias de interesse, de boneetar, que no. podem falear am nenluma Revo- lugio, na nossa, no entanto, permaneceram secundérias, e quanto é preciso distorcé-la, jalseé-la, para nla encontrar jd os sistemas de ho- je. Sobre esse ponto, o belo livro de Quinet confirma o meu. Sim, a Revoluyao foi desinteressada. Esse é 0 seu lado sublime e o seu sinal divino. Brilhante clarie no céu. O mundo estremeceu com ele. A Europa delirou 4 Tomada da Bastilha; todos se abragevam (¢ até em Petersbur- go) nas pragas piblicas. Dias inesqueciveis! Quem sou eu para télas contado? Ainda néo sei, jamais saberci como pude reproduzi-los. A ina- ereditivel fclicidade de redescobrir isso tao vivo, tio ardente, apds ses- seats anos, engrandeceu-me o coragdo de uma alegria herdica, ¢ meu papel parecia inebriado de minhas légrimas. Com essa alma engrandecida me foi dado abarcat o infinite da Re volugio, refazé-la na variedade de suas eras, de seus pontos de vista. Teria sido cometer uma injustiga com ela adatar apenas um deles, de- negrir o resto. Af os opastos no {unde concordam, A grande alma co- mum, em cada partido que a revela, & sentida e compreendida por povos diversos, ¢ 0 seri por outras geragdes no futuro. So as mulitas leaguas que a Revolugio, esse grande profeta, falou para toda a terra, Cada um tinha seu direito # devia ser repraduzido, Confinar a Revolugio em um grupo politico" é coisa imposstvel. O trabalho infinito, a paixto sincera de Louis Blanc no conseguiram isso. Va empresa, colocar esse oceano no pequéne recinto do claustro jacobino! Fla transborda por todos os lados. Teve nos jacobinos sua * No original, “auh'. A pulitica fez-se, na Revolugdo, em torno de clubs, como o dos jacubinos (RJR), policia contra a traigdo, scu olho, seu guardiao vigilante. Mas sua ver- dadeira forga ativa, a propria Montanha com seus maiores atores que discursavam muito pouca, nfo freqlentava jacobinos. © tempo que pouco a pouco diz tudo e a publicagle dos docu- mentos jd ndo permitem ser exclusives. A apologia da Gironda, tio veemente em Lanfrey, hoje parece apenas just. Uma vox saida da pré- pria morte, a voz testamentaria de Pétion, de Buzot, afinal se fez ouvir (1866). Quem ousard contradizer agora? Era tal o espirito de sistema que nossos partidarios de Robespierre punham a propria Montanha em julgamento, Processavam Danton, Vil lisumé, Fsquiros (em seu elogiiente livre) defenderam-no, ¢ as atas me- Ihor ainda. Publicadas recentemente por Bougeart, Robinet, hoje justificam, absolvendo sua grande meméria, Comega-se aver claro, aconhecer melhor a Montanha, que até aqui esse debate dos individues escondia. Os duzentos deputados em mis- sic, bastante esquecidos, reapareciam em sua grandeza, em sua indizi- vel energia, que causou a nossa salvagdo. Dois médicos de vinte e cinca anos, Bandot ¢ Lacoste, retomam seus louros de conquistadores do Re- no. © organizador da guerra (cle mesmo herdi em Wattignies), 0 dig- noe bom Carnot, nos € enfim devolvide pela mio de seu filho. Os puros entre os pures, Romme, os cinco amigos que por tltimo, em prairial, assinaram ¢ selaram a Revolugdo com scu sangue, reaparecem em um livro que me fez estremecer, o de Claretie, tio ardente e crucl- mente verdadeira. (Os tempos fracos ndo compreendero mais como, em meio a essas tragédias sangrentas, com um pé na propria morte, esses homens ex- traordinirios sonhavam téo-sd com a imortalidade. Jamais tantas idéias organicas, tantas criagdes, tanta preocupaciv com o futuro! Uma ter- nura inquieta pela posteridade! E tudo isso, nao como se acredita, apds o8 grandes perigos, mas no forte da crise. © livro de Despois (Varda- lisme révolutionmaire) inaugura admiravelmente para essa era uma his- téria nova, a de suas criagdes. Compreendi melhor a palavra do venerdvel Lasteyrie, Falando-lhe desses tempos ¢ da impressio que teve deles (ele estava muito exposto, em perigo), tireithe estas tinicas palavras: “Senhor, era muito belo!” “Mas corria risco de vida? O senhor se escondia?” “Eu, nao. Eu ia, vagava pela Franga, Admirava... Sim, era muito belo.” A Revolugia, ja se disse, cometeu uma falta. Contra o fanatisma da Vendéia ¢ a reagan catdlica, devia ter-se armado de um credo de. sei- ta cristd, invecar Lutero ou Calvino. 28 Respond: ela teria abdicado, Nao adotou nenhuma Igreja. Por qué? Porque cla propria era uma Igreja. Come agape © comsnhao, nada neste mundo foi comparavel a 1790, ao impeto das Federag@es. O absoluto, © infinito do szerificio em sua grandeza, o dom de si que mio guarda nada, mostrou-se mais sublime ny impeto de 1792: guerra sama pela paz, pela libertagio do munde. “Faltaram os simbolos?” Mas toda religido precisa de séculos para criar os seus. A fé é tudo; a forma é pouco. Que importa o paramento do altar? Pois subsiste, sempre, o altar do Direito, do Verdadeiro, da eterna Razio. Nao perdcu uma pedra, ¢ espera tranqiilamente. Tal camo nos- sos Lildsofos, tal coma nossos grandes juristas o construiram, ele per- manece o mesma, solide, tanto quanto os caleulos de Laplace € de Lagrange que nele colocaram a lei do tempo Quem nio o reconheceu? Quem nao sentiu Deus?.., Que circu- lo se vin a0 redor! O mundo americano ali esteve em Thomas Payne, a Polania, em Kosciuszko. © mestre do Dever (esse rochedo do Balt co), Kant, comoveu-se. Nele se vin chorar o velho Klopstock, ¢ casa aluva crianga, Beethoven. © grande estéico Fichte, na mais cruel tempestade, dele no se afas- tou. Permaneceu fiel a nds. Em plene 1793, publican seu livre sobre © imutével direito da Revolugo. Isso lhe foi creditado. Ele conservau esse coragio de aco que, de- pois de Tena, reergueu 2 Alemanha, preparou o despertar do mundo, opondo a forca uma forga maior, a Idéia — ¢, diante do inimigo, ensi- nando a vitéria do Dircito, contra o qual jamais hd prescricao. Uma palavra sobre camo se fez este livro. Ble nasceu no seio dos Arquivos, Eserevi-u por seis anos (1845-1850) nesse depésito central onde eu era chefe da scgdo histrica. Depois do 2 de Dezembro*, precisci ainda de dois anos, ¢ terminei-o nos arqui- vos de Nantes, bem perta da Vendéia, de onde explore’ também as pre- ciosas colegdes, > 'Trata-se de dezembro de 1851, data do golpe de Luis Bonaparte, entia presidente da Repiblica, do qual revultou — dali a um ano — ele toenar adar com o nome de Napoleio TIL A repressio aos republicanos fer-se por demissdes, prisdes, bi (BIR) as 29 Armado das proprias atas, das pecas originais e manuscritas, pude julgar os impresses, ¢ sebretudo as memdrias que sao defesas, por ve- zes engenhosos pastiches (exemplo, os que Roche fez para Levasseur). Avaliei dia a dia Le Moniteur*, muito seguido pelos senhores Thiers, Lamartine e Louis Blane. Desde a origem, ele é arranjado ¢ corrigido a cada noite pelos pox derosos do dia. Antes do 2 de Sctembro, a Girenda o altera, e no 4, a Comuna, Assim come em toda grande crise. As atas manuscritas das Assembléias ifustram tudo issn, desmentem ie Monitenr e seus copis- tas, a Histaive parlementaive e ourras, que muitas vezes estropiam ainda mais esse Moniteny ji estropiado. ‘Uma rarissima vantagem que talvez nenhum arquive do mundo apresentasse no mesmo grau é que eu encontrava nos nossos, para cada acontesimento capital, relatos muito diversas ¢ inimeros detalhes que se completam e se verificam. Para as Federagécs, tive relatos as centenas, vindos de outras tantas cidades ¢ aldeias (Argsivos Centrais), Para as grandes tragedias da Paris revoluciondria, 0 arquivo da prefeitwra abria-me sua fonte para os re- gistros da Comuna; ea chefatura de policuz dava-me sua variedade di- vergente nas atas de nossas quarenta ¢ vito segdes. Para o governo, para os Comités de Salvagio Publica ¢ de Seguran- ga Geral, tinha ante 0s olhos tudo o que se possui de seus registros c neles encontrei, dia por dia, a cronologia de suas atas. Censuraram-me por vezes o fato de citar muito pouco, Eu teria citado com fregiiéncia se minhas fontes ordinarias tivessem sido pecas soltas. Mas meu apoio habitual so essas grandes colegdes em que tudo se segue em uma ordem cronoldgica. Desde que dato um fato, pod reencontri-lo imediatamente em sua data precisa no registro, na pasta de onde o tomei. Portanta, precisei citar poucas vezes. Para as coisas impressas ¢ as fontes vulgares, as notas pouco titeis tém 0 inconvenien- te de cortar o relato ea fio das idéias, E uma va ostentagdo crivar cons- tantemente a pagina com essas referencias a livros conhecidos, a brochuras de pequena importincla, atraindo a atengo para isso. © que di autoridade ao relato é sua seqiiéncia, sua coesda, mais do que a mul- udio das pequenas curiosidades bibliograficas, Para certo fato capital, meu relato, idéntica as préprias atas, é vio imutavel quanto clas, Fiz mais do que extrair; copiei de préprio. pu- nho (¢ sem nisso empregar ninguém) os textos dispersos e os reuni. Dai resultou uma luz, uma certeza, 4s quais nada se mudaré, Que me se 30 ataquem sobre o sentido dos fatos, esta bem. Mas em primeira lugar terdo de reconhecer que tamam de mim os fatos que querem usar con- tra mim. Agueles que tém olhos ¢ sabem ver observardo muito bem que ex te relato, eventualmente comovido demais, talvez, ¢ tempestuoso, no eftaftta jamais ¢ turvo, de modo nenhum vago, de modo nenhum in- deciso, em vas generalidades, Minha propria paixdo, o ardor que nele punha, nga se teriam contentado com isso. Buscavam, queriam o eard- tet préprio, a pessoa, o individuo, a vida muito especial de cada ator. As personagens aqui no sio de maneira nenhuma idéias, sistemas, som- bras politicas; cada uma delas foi trabalhada, penetrada, até encontrar o homem intima. Mesmo aquelas que sio tratadas severamente, sob certos aspectos, ganham em ser conhecidas a esse ponto, alcangadas em sua bumanidade. Nao favoreci de mado algum Robespierre. Pois bem! © que disse de sua vida interior, do marcenciro, da mansarda, do dmi- do patiozinho que, em sua sombria vida, colocou no entanto um raio de luz, tudo isso tacou, e um dos meus amigos, de partido contrario, confessousme que ao ler verteu légrimas. Nenhum desses grandes atores da revolugdo me deixou frie. Nao vivi com eles, ndo acompanhei cada um deles, no fundo de seu pensa- mento, cm suas transformagées, como companheiro fiel? Com o tem- po, eu era um dos seus, um familiar desse estranho mundo, Eu me dera olhos para ver entre vssas sombras, ¢ ereio que elas me conheciam, viam- me 54, com elas nessas galerias, nesses vastos arquivos raramente visi- tados, Algumas vezes cu encontrava o marcador no lugar cm que Chau- mette ou um outro o pds no ultimo dia. ‘Tal frase, no rude registro dos cordeliers,* nao foi terminada, cortada bruscamente pela morte. A poeira do tempo permanece. E bom respiréla, ir ¢ vir através desses paptis, desses dossits, desses registros. Eles ndo estio mudos, e tudo isso nfo estd tio morto quanto parcee. Eu jamais os tocava sem que certa coisa deles saisse, despertasse... fi a alma, Na verdade, eu merecia isso. Nao era autor. Estava a cem léguas de pensar no ptiblico, no sucesso: amava, eis tudo. Ia aqui e ali, obsti- nado ¢ dvido; aspirava, escrevia cssa alma tragica do passado. Isso foi muito sentido, ¢ por homens de nuances diversas: Béran- get, Ledru-Rollin, Proudhon. * Literalmente, “franciscanos™, porque sc reuniam no convento dessa ordem. Melhor conservar 0 nome francés, que faz mais sentide come quase um nome proprio, do que como referdacia 4 ordem religiosa (RJR). 3! Béranger tivera prevengdes contra mim, ¢ voltou atras inteiramen- te. Disse desta histori: Proudhon sabia quanto eu apreciava pouco a maior parte de seus paradoxos; foi dele, entretanto, que recebi a carta mais forte, a aceita- gio mais completa de meu livro, a do principio colocada em minha Jntroducao (1847): a inconciliavel oposicao do cristianismo com 0 Die reito € a Revolugdo. Ele o adotou plenamente em seu livre De la justice (1858). “Para mim, é livro santo”. No belo dia das Federagdes, Camille Desmoulins fez a proposta tocante ¢ quimérica de um pacto federative entre os escritores amigos da Revolugio. E certo que entre nds, unidos (a despeito de nossas dissi- déneias) por um fundo de prinefpios comuns, ha uma espécie de pa- rentescu, Respeitei-o mais do que ninguém, Jamais respondi as eriticas dos nossos, embora fossem muitas vezes um pouco | desse exercer represilias faceis. Terminei minha Histéria da Revolugdo em 1953, ¢ desde essa épo- ca até 1862, Louis Blanc, na sua, em seus dez ou doze volumes, ata- cou-a com uma paixdo extraordinaria. Advertiam-me disso; mas eu cstava ocupado cm acabar a Histéria da Franca até 1789. Adiava a leitura ¢ o exame de Louis Blanc. Mcu siléncio perseverante deve 18 Jo surpreendido e encorajado bastante. De volume em volume, suas violentas criticas continuavam. Ele triunfava 4 vontade, estendiase A larga, ¢ afinal wiu-se tendo feito de fato um grosso livro sobre o meu livro. Sé conclui Luis XVI no final de 1867. Foi ao terminar esse volume que voltei 4 minha Revolugdo e me ocupei da de Louis Blane. Abri-a muito placidamente, pronto a aproveitar suas critics, se fossem séeias!, Conhecia seu talento ¢ seu carater honrado, seus paradoxos tam- bém, seu papismo socialista sua tirania do trabalho em nome da fra- ternidade. Mas pouco o vira no terreno da histéria. Confesso que fui tomado de espanto ao ver seu favor, sua predilegio fantasista. ... por quem? .. pelo intrigante Calonne!... Calonne, excelente cidadio que se arruina a Franga é 56 para fazer a Revolugio, que se adula a corte sd “para conduzi-los todos rindo 4 beira de um abismo tio profunda que clamariam pelas novidades libertadoras”. Tudo isso sem a menor prova. fanas e eu pus TAproweitei-as, com efeito, para retificar dois detalhes, um relative a Danton, o ovtro, a Durand-Maillane. 32 Aprendo coisas nfo menos fortes. Os montanheses nao eram de mancira nenhuma os violentos. (VII, 372), Sem divida eram eles os mo- derados. Os girondinos, que tanto exaltaram Rousseau, so os inimigos de Rousseau em Louis Blanc. A Gironda ¢ que foi conivente com 0 2 de Sctembro; desta data conservou sua mancha de sangue Robespierre, ao contririo, que falou, denunciou, antes (no dia 1 e durante (no dia 2 mesmo), é inocente, estranho a ele. Hébert, em seu Le pire Duchesne, apesar de seus constantes apelos ao massacre, nem por isso deixa de ser um continuador dos modera- dos, dos girondinos. Como assim? E que ele ¢ voltairiano, egoista sensualista, inimigo de Rousseau ¢ do sensivel Robespierre. Louis Blane, bastante indulgente com o rei, com a rainha, com o duque de Orléans c clemente para com o clero, ¢ terrivel, esmagador com Danton e os girondinos, Nestes dltimos, vé a burguesia que lhe foi tio hastil em 15 de maio de 1848*. Estranha confusio. A Guarda Nacional de 15 de maio detestava a guerra; ao contrério, a Gironda a pregou, ca fez, para a salvagio das nagdcs. Ela forjou milhées de pi- ques, ¢ pds as armas nas mdos dos pobres. T preciso considerar amplamente o grande curso tevolucionario, em suas duas manifestagdes titels ¢ legitimas, tanto de cruzada como de policia — os girondinos, os jacobinos, Procurei fazé-lo. Acentuei [ortemente os erros dos girondinos, 0 erro de terem sempre rejvitado a Montanha em Danton ¢ em Cam+ bon, o erro de ter, a despeito de sua purcza, sofrido a impura fusio das turbas realistas que, introduzindo-se entre eles nos departamentos, entravavam a Revolugio. Nao contestei de modo algum os servigos imensos prestados pela instituigie jacobina, Melhor do que ninguém, até mesmo assinalei ¢ nuancei suas trés eras to diferentes. Nao subestimei o cerrivel labor, a grande vontade de Robespicrre, sua vida tho sé dero interessante. |. Nisso cu o consi+ * Nesta data Louis Blane, revolucionirio socialista, participou de uma manifestaydo po- pular de solidariedade 4 Polénia, cuja revnlugio estava sendo reprimida pelo crar. Ao rérmino da manifestagio, em condiges que nunca foram exclarecidas, foi invadide o se- into da Assembléia Constituinte, o que serviu de excelente — nem ve sabe o qué: pretex- 42, se o5 manifescantes foram manipulades, musivn se foram mesma tid ingénues — pars 4 repressio aos movimentos de esquerda, que culmina na revoha de Paris em junho e fein seu massacre por Cavaignac. Marx, no Dazoiio de Bramdni, Tocqueville, em seus Souvenirs, ¢ Michelet aqui siv severos, cada um a seu modo, com Blane (RJR). 33 Esse mesmo ¢ teu crime. Creio que Louis Blane antes me teria perdoado toda a minha politica contréria, meus ataques a seu deus, do que meu olhar minucioso, a observacio exata do santo dos santos, a falta de ter visto tio de perto, descrito a capelinha, o feminino cenacu- Jo de Marta, Maria, Madalena, o traje, © porte, a voz, os dculos, as tiques desse novo Jesus. Uma coisa nos separa bem mais do que parece, uma coisa profun- da. Somos de duas religides Ele é semicristio & maneira de Rousseau ¢ de Robespierre. O Ser Supremo, o Evangelho, o retorno a Igreja primitiva (LIL, 28); ¢ esse cre. do vago ¢ bastardo pelo qual us politicos acreditam atingir, abarcar os partidos opostos, fildsofos e devotos. ‘A raga e 0 temperamento também no sio pouco em nossa opesi- go. Ble nasceu em Madri. E corso por parte de mae, francés por parte de pai (de Rodez). Tema flama seca ¢ 0 brilho dos meridionais, com um trabalho, uma perseveranga que essas ragas nem sempre tém, Estu- dou em Rodez, na regido dos Bonald, dos Frayssinous, que nos 4 tan- tos padres. Fm sua democracia, cle é autoritario. Se nio tivesse sido cegado por sua paixio, antes de retomar seu li- yro intcrrompido, deveria ter-se dito: “Pode-se em Londres escrever a histéria da Paris revoluciondria?”’ Tsso 86 & possivel em Paris. E verdade que cm Londres hé uma bela colegdo de pegas francesas, impressos, brochuras e jornais, que um. ams- dor, st. Croker, vendeu por doze mil francos aa Museu Britanico, e que foi um pouco ampliada depois. Mas uma colegio de amador, cu- riosidades soltas, nao substitui de modo algum os grandes arquivos ofi- is onde se segue tuda, onde se encontram tanto os fatos como sua ligagio, onde muitas vezes um acontecimento representado vinte, trinta, quarenta vezes, em suas verses diferentes, pode ser estudado, avaliado e conferido. E o que nos permitem os trés grandes corpos de arquives revolucionarios de Paris. Parece que ele se convenceu de que a freqtiéncia das criticas Ihes supria a profundidade. Nao ha nenhum exemplo na histéria literdria de um ataque tdo perseverante, pgina a pdgina, ao longo de tantos vo- lumes. Sou.o homem, depois de Robespierre, que decerto mais © ocu- pou. Tive esse dom de nao cansaelo. Admiro as grandes paixdes. A sua € de fato inesgotavel, infatigavel. Retorna incessantemente, a propdsi- to, sem propésito, sobre os fates, sobre o sentido des fatos, as menores misérias, tudo enfim Ele diz por vezes coisas um pouco fortes, por exemplo, que esque- 34 ci “todos as deveres do historiador". Por vezes, clogia-me (é 0 pior); em alguma parte considera-me “‘um penetrante pénio”, mas com esse génio penctrei tio pouco que em cada um dos grandes dias da Revolu- si confundi tudo, enganei-me completamente. No entanto, tendo exumado tantas coisas, dade tanta ajuda a ele a todos, cu poderia dizer: “Fssas famosas jornadas, quem as saberia sem mim?” Quanto ao massacre do Champ-de-Mars (17 de julho de 1791), ti rei dos Arquivos do Sena o texto da petipdo que foi assinada sobre o altar ¢ que se pode chamar de o primeiro ao da Republica. Assinalei aagdo muito direta dos realistas para ocasionar o massacre. Louis Blanc os isenta disso, mas eles ado querem ser isentados, vangloriam-se do que fizeram. A partir das notas manuscritas de uma testemunha ocur lar, sr. Moreau de Jonnés, eu disse o fato certo: que a Guarda a soldo perseguiu barbaramente 0 povo, quc se refugiow nas fileiras da Guarda Nacional. Coisa grave; primeira aparigio do funesto militarismo, De maneira nenhuma neguei o fato, no entanto iticerta, afirmado por Louis Blane, que muitos repetiram, mas que ninguém viu, a saber, de que alguns guardas nacionais (das Filles-Saint-Thomas?) puderam, com a Guarda a saldo, atirar sobre aquele altar onde estava todo 0 povo. A 10 de agosto, mesmo testemunhe. Aceitei esse relato de um homem honesto, muito bom, muito pouco apaixonado. Gragas ao sr. Labat, arquivista da policia, encontrei ¢ apresentej a pega inestimavel ¢ capital do 2 de Setembro, a investigasdo segundo a qual ele constata que o primeiro massacre foi provocado pelos pré= prios prisioneiros, pelos gritos, pelas zombarias que, 4 noticia da Inva- sio, langavam pelas janelas os imprudentes da abadia. Para o 31 de Maio, o grande dia fatal da Revelugdo em que a As sembléia foi dizimada, tive o cuidado religioso de ler ¢ copiar os regis- tros das quarenta ¢ oito segdes, Essas cépias me forneceram a relato imenso, detalhado, que se lera, relato doravante auténtico desses fine bres dias que pouco se conheciam. Ficard para o futuro que, das qua- renta ¢ oto segdes, apenas cinco (segundo 0s registros) autorizaram 0 Comité de Insurreigao. Quando a tiragem de Le-pére Duchesne chegau a seiscentos mil, Ro- bespierre, amedrontado com as seiscentas mil bocas acusadoras, sufo- cou suas veleidades de poupar o sangue (de que dera testemunho em Lyon), que 0 teriam feito colocar no céu, proclamar o salvador dos homens. Escondeusse no Terror. Sc também eu quisesse criticar, poderia dizer que Louis Blane fez 33 © que péde para obseurecer essa gangorra, em que Robespierre (terrifi- cado, temendo Hébert, depois o proprio Saint-Just) matou tudo, mo- derados, fandticos. Fle nfo est & vontade nesse cruel relato. Sufoca muito sobretudo 0 trigico momento em que Robespierre, como um gato com medo, que avanga ¢ recua, querendo, néo querendo, cobigov a cabega de Danton. ‘Na verdade, é preciso uma grande coragem para seguir Robespier- re no expurgo jacobino. Ninguém é puro A direita ou 4 esquerda, nin- guém é revoluciondrio, nem Chaumente, nem Desmoulins. E ele poupa os padres, clemento infalivel da contra-revolugio! ‘A monarquia comega na morte de Danton, Hi muito tempo, € ver- dade, Robespierre, por toda a Franca, tinka seus jacobinos que preen- chiam os lugares. Mas foi apés Danton que subitamente, em seis semanas, cle tomou 0 grande poder central. Tinha sua polfcia (Her- mann), a policia do Comité (Heron). Tinha a justi¢a (Dumas), 0 Gran- de Tribunal Geeal, que julgava até mesmo para os departamentos. Tinha a Comuna (Payaa), os quarenta c vito Comités das segdes, Pela Comu- na, tinha nas mios @ exército revoluciondrio (Henriot). E tudo isso sem titulo, eseritura ou assinatura. No Comité de Salvagio Publica cle aio aparecia, fazia scus colegas assinarem seus ates, ndo assinava nada por ele: Assim, era-the facil lavar as mos de tudo, Seus amigos, hoje, po- dem mostréJo a nés como um especulativo, um filantropo sonhador nos hosques de Montmorency ou nos ChampsElysées, passeador pa- eifico entre Brount ¢ Cornélia Ele jogava um jogo pesado. Ev seu isolamento, em sua inércia apa- rente, nao deixava de langar um ataque, tanto contra os grandes ho- mens de negocios do Comité (Carnot, Cambon, Linder), como contra 0s duzentos montanheses que haviam tido misses, haviam suportado tudo, ealrentado todos os perigos, comprometendo-se violentamente, Bles queriam que se constatasse sua fortuna antes e depois, que se con- ferisse sua probidade. Robespierre recusou isso, conservando a possi- bilidade de poder persegui-los um dia. No 9 de Termidor, teve sua oposicio. E o que Louis Blane evita dizer. A Montanha, assim como a direita ¢ 0 centro, rejeitou-o entdo. Os mais honestos homens, futu- ros martires de prairial, Romme, Soubrany, etc., tinham-lhe simpatia, porém o viam, pela forga das coisas, como ditador ¢ tirano, Aos seus gritos, calaram-se ¢ nada responderam. © julgamento desses grandes cidadaos selou o do future, ‘As trinta e uma atas das segdes que se conservaram € que segui pas- 36 so a passo mostram perfeitamente que Paris estava contra cl it id 1 Fol L 1 veve a sou favor senfo sens Eomutiés revaluctondrtos (nio eleltos, mas nomeados, pagos), ¢ que as Sepdes, 0 povo, tado mundo, nao se move- ram, deixando-o perecer. Louis Blane nfo diz nada desse verdadeiro julgamenta do povo. Quanto ao apelo as armas contra a Lei, que ele comegau a escrever € nao terminou, podia-se explicé-lo por um nobre escripulo, se foi fei« to A meia-noite, quando ele tinha forgas, ou pelo desespero, se foi feito por volta de uma hora, quando estaya abandonado. Nenhuma teste- munha. Scgui a interpretagda mais digna desse tempa ¢ a que honra sua memoria, a que Louis Blane seguiu depois de mim. Seu fim me tocou muito, ¢ a fatalidade que o impeliu, Nenbuma divida de que amasse a patria, de que, adiando a liberdade, no entanto, sonhasse com cla. Lia constantemente 0 famoso Didlogo de Sila e de Eucratides. Valve7, como Sila, teria abandonade a ditadura por iniciati« va propria, Os reis, que nele viam apenas um homem de ordem e de governo, jdo procuravam, estimavam-no e lamentaram-no, Chorou-o, a Russia, e seu grande historiador, Karamsin Rabespierre acabava justamente de se colocar sob um aspecto no- vo, “ao guilhotinar a anarquia”. Era assim que ele chamava os prime! ros socialistas, Jacques Roux, etc, No proprio corago de Paris, nas escuras ¢ profundas ruas operarias (des Arcis, Saint-Martin), fermenta- yao socialismo, uma revolugde sob a Revoluedo. Robespierre alarmou- se, atacou, ¢ se perdeu. F certo que no 9 de Termidor, bem antes das tropas da Convengio, essas segées marcharam até a Place de Gréve* efizeram desertar os canhoneiros de Robespierre. A partir dessa hora, ele estava perdido Extraordindrio equivoce. Em scus doze volumes, Louis Blanc con- sidera Rabespierre come apdstola e simbolo de sacialismo, que ele aca- cava € que © matou. Eu o dissera com todas as letras, ¢ segundo o irrecusavel testemu- nho das Atas das sedes, que copiei fielmente. Nada era mais {écil do que ver minhas cdpias. Entre homens de letras, entendemo-nos. Quando fiz meu Vieo, um de meus concorren- tes ajudou-me, forneccndo-me um livro raro. Bem recentemente, um erudito sulgo enviou-me suas prdprias notas sobre um assunto de que ambos tratavamos, Se tivesse sido prevenida, teria dado com a melhor que no N. da T.) Praga a beira do Sena onde se dagiam as execugdes. 37 vontade as minhas a Louis Blanc, sem perguntar se iria usé-las a meu favor ou contra mim. Fui brusco em minha curta resposta. E que se trata bem menos de mim do que da propria Revolugio, tio reduzida, mutilada, decapi tada, cm todos os seus partidos diferentes, menos no unico partido ja cobino. Reduzr-la a esse ponto é fazer dela um toro sangrento, terrivel espantalho, para a alegria de nossos inimigos. Eraa isso que eu precisava responder, opor-me da melhor mancira possivel. Era preciso no menos do que esse dever para tirar-me de meus hébitos pacificos. N3o amo romper a unidade da grande Igreja. Paris, 1° de outubra de 1868 38

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