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LINGUAS DO BRASIL/ARTIGOS SOBRE AS LINGUAS INDIGENAS E SUA PESQUISA NO BRASIL ‘Aryon Dai'igna Rodrigues DIVERSIDADE E MULTIPLICIDADE LINGUISTICA NO PASSADO A cini- 2 estimativa d= que dispomos sobre a diversidade das Ioguas inigenasexistentes no Brasil ha 500 anos, antes do inicio da colo- nizagio desta parte da América do Sul pelos curopeus, €2 que loi apresentada, cm 1992, na Reunigo Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciéncia (Rodrigues, 1998a, 1993b). Segundo ese ectimariva, ceria sido de cerca de 1,2 milo nimero de difecen- res inguas faladas em nosso atusltersitécio pelos powosindigenss, © pomto de partida para essa estimativa fo} uma relagao de 76 vos indigenas que se encontravam numa estreita fuxa paralele & Costa leste, desde 0 rio SGo Francisco, a0 norte, até o Rio de Janeico, 20 sul, feita pelo padre jesuta Fernio Cardim no século XVI (Cardim, 1978 [manuscrito de 1584]). Nessa lists, Cacdion referin-se expliciamente 4 identidade ow & diferengs das Iieguas faladas por esses povos, deixando claro que, 20 todo, se uatava de 65 Magus dstintas entre sie distincas da lingua dos fadios da cos- fa, que cram os rupinambés (que incluem os tupiniquins, czecés, potiguaras, tamoios etc.), com os quais os portugueses manti- rnham con:acco. Como alguns nomes na lista esto clarsmente na lingua dos rupirambis —a mesma que hoje também é charsada de tupi antigo e que no séeulo XVIE foi denominada Lng brace = € 05 demas extao grafidos i maneira como 0s jesitas escreviam esa lingua, pode-se supor que as fontes de informacio tenham sic do 0s indios tupinambés e que squela enumeracio representasse 0 conhecimento destes sobre seus Vizinhos mais imediatos. Ela deve ser bastante representativa para a irea coherea, embora poss nso ‘Apesar da grande diversidade de povosnativosnoinieriormaisime- diaco’ costaatntica, uma caracseristicadacolonizacao européia do Brasil, nfo s6 ds pormaguesa, mas também das tenativas rancesss, foia de privilegiar o conhecimento de idioma dos tapinambés que «era, como jd no fim do séeulo XV foi consignado no titulo da gri- iitia feta por José de Anchiets, "a lingua mais usada na costa do Brasil” (Anchicta, 1595), Para a comunicayéo corn os Ducros povos recortia-sea intérpretes indigenas. Uma consequéncis desea stu ‘20 €que, durante s irésséculosdo period colonial izerany-segra- méticas¢ dicionirios desomente trs igus indigenas: do préprio tupinambé, de que foram feitas duas (Anchiera, 1595, e Figueira, 1621), da lingua kiriet (Mamniani, 1699) eda lingua dos marsmo. nins ou guarulhes. Desestlrima, eleborada pelo Padre Mansel Vie~ ‘gas com o aunflio do Padre Anchieta, esto, entreranto, perdidos todos os manascritos (grametica, vocabulétioe catecismo). As gra- iméticas do tupinambi edo kirr forara publicadas nosséculos XV XVIL 6 assim, sobreviverame puderam ser reproduzidasem novas cedigdes [a de Figueira no século XVII, asde Anchiets ¢ Mariani 35 6 no século XIX), masa de Viegas ndo foi publicada ese perdew, sssim como seus outrestrabalhos sobre Kinga. Também ne fat publicado o diiondrio de lingua tupinambs, mas deste rata felize mente preservadas umas poucas cépias manuseritas, uma dclas éatadade 1621, Tarbémo manuseritodo dicionéri do kita, feito porum padre de nome Jeo de Burros, até hojenao foi encontrido, a esta forms como zinda nao se tem noricis sobte a passivel sobrevivincia de manuscritos de gramiticae diciondtio dos capu- chinbos francese: que aruaram no fim do sécale XVII cnoinieio do XVIII no ri So Francisco, junce a um povo estreitamente apazer- ‘ado aos kris, © pove dsubukus, em cuja lingua Frei Beanatdo de Nantes publicouum catecismo (Nantes, 1709). DIVERSIDADE E MULTIPLICIDADE LINGUISTICA NO PRESENTE Presen ‘emente, slo faladas no Brasil 181 linguas indigenas. Esse nfmero sdmive pequena margem de exo para mais ou para mens, devido principalmenre & imprecisio, em alguns casos, da distingao entre linguas edialetos(estessao variedades de uma lingua rio pouco dife- renciadas, quedo dificultam a comuniea¢o entre seus rapectves falantes), Nesseriimero podem estar inclidasdvas ou es Kngaas ‘que defxaram deserfaladas nos teimor cinco snot Por outro lado, © Deparamentode {ndios bolados da Funai. que monitortas infor smiasGes sobre existencia de povos indigenas ainda sem contacto alberto com segmentos da nossa sociedad, admite que sio perto de 200s grupos de pessoas ness situ. Alguns desies grupos podem falar linguas compactilhadas com outros jd conhecidos. mas virios deles podem ser detentores de idiomas ainds desconhecidos. Achssificagioc’ scem uma mesma clase linguas paraasquaishéevidenciasdeserem Provenientes de urna mesma lingua ancestral, analogamente i situa ‘iodas kinguas roménicas ou latinas, que provém do latim falado na Europa ocidental hi cerca de 2.000 anos. Um conjunco de linguss ‘que compartiham assim a mesma origem é0 que tecnicamente se chama uma fomilia lingistica, Na medida em que progride 0 seu

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