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Guia Alimentar Brasileiro
Guia Alimentar Brasileiro
DIETÉTICA I
Introdução
A elaboração de guias alimentares, por parte dos países para a orientação
de sua população, é uma recomendação expressa da Organização Mundial
da Saúde (OMS). Assim, estes guias servem para aconselhar a população
e direcionar políticas de saúde públicas.
Neste capítulo, você vai estudar a história básica dos guias alimentares
e sua importância. Também, irá descobrir como foi a trajetória percorrida
para a elaboração do guia alimentar brasileiro, com atenção especial às
mudanças que levaram a preparação de sua segunda edição, além de
sugestões de uso da obra em exercícios e práticas alimentares.
O guia alimentar
Conceito e história
A OMS recomenda que os governos disponibilizem às suas populações in-
formações sobre adesão a comportamentos alimentares mais saudáveis. Por
isso, reforça o uso de uma linguagem acessível e o cuidado com as questões
culturais, sociais, econômicas e ambientais para a elaboração desses mate-
riais. É neste contexto, que está inserida a construção, em todo o mundo,
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Recomendações gerais e a
premissa do guia alimentar
A segunda edição do guia alimentar brasileiro, antes de trazer orientações
expressas à população, explica quais são os princípios norteadores no primeiro
capítulo. A própria obra lembra que toda ação humana, mesmo que de forma
oculta, é movida por princípios e valores. Eles são os grandes limitadores dos
projetos e ações. Logo, em qualquer diretriz que pretenda trazer orientações,
que irão repercutir na prática profissional, procure identificar os valores em
pauta, pois eles são informações preciosas na interpretação de dados científicos.
A partir dessas considerações, você poderá acompanhar a lista dos seus
princípios norteadores do guia alimentar para a população brasileira.
(Continua)
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(Continuação)
O guia relembra que tanto por motivos nutricionais como pela sua cadeia
de produção, este tipo de alimento afeta negativamente a saúde, a cultura e
o meio ambiente.
Leia o artigo abaixo, nele é analisado a usabilidade da versão digital do guia alimentar
conforme a percepção dos usuários.
https://goo.gl/wmvNjZ
Dimensão nutricional
Aqui, a prioridade é explicar o que são os alimentos ultraprocessados, pro-
cessados, minimamente processados e in natura. Use uma linguagem de fácil
compreensão e exemplos plausíveis. Durante atividades em grupos, se pode
trazer imagens de diversos alimentos e pedir para os participantes classificarem,
por intermédio de jogos e dinâmicas. Recursos visuais, informações concretas
e mensuráveis são capazes, também, de auxiliar na compreensão dos conceitos.
Dentro dessa dimensão, ainda, devem ser trabalhados os conceitos e téc-
nicas culinárias, de acordo com cada região do país: oficinas práticas com
elaboração e degustação de receitas, produção de temperos, conhecimento
e degustação de preparações com temperos e ingredientes locais podem ser
alternativas para envolver o grupo.
Há a possibilidade do desenvolvido de trabalhos com a comparação de
rótulos, solicitando que tragam os rótulos dos alimentos que mais consomem,
a fim de fazer a leitura, em grupo, dos ingredientes e comparando-os aos
alimentos menos processados ou in natura. Essa oficina de leitura de rótulos
pode ser uma excelente iniciativa. Todavia, considere que idosos costumam ter
dificuldades para leitura ou que a maioria das pessoas acaba pulando a etapa
de leitura de ingredientes dos alimentos, muitas vezes, atentando, apenas, para
as calorias. Por isso, mostre o nome dos aditivos, sua função e os confronte
com a composição de alimentos menos processados.
De forma geral, no aconselhamento nutricional, convém priorizar a boa
compreensão da premissa básica. Você pode utilizar técnicas para se certificar
de que a pessoa compreendeu:
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a) Solicite que ela explique, com as próprias palavras, o que foi dito ou
exemplifique.
b) A partir de diversos recursos lúdicos, você pode sortear uma série de
alimentos a serem selecionados, conforme o interesse da ação, e pedir
para o grupo colocar na ordem de escolha alimentar, da mais adequada
para a menos adequada. Use a criatividade, considerando a faixa etária
e a escolaridade da população com a qual você estará trabalhando.
Dimensão social
O mercado de alimentos afeta o mundo todo, seja pela geração de empregos ou
pelo uso de recursos naturais — para o plantio, criação de animais ou gasto de
energia e matéria-prima envolvidos na produção de alimentos ultraprocessados.
O poder do consumo e da realização das escolhas alimentares, aliados
às suas consequências nutricionais, sociais e ambientais estão nas mãos da
sociedade inteira. Lembrando que a formação desta dimensão não se restringe
a escolha de cardápios nutricionais adequados. Todos os componentes antro-
pológicos da alimentação, trazidos pelo o guia, diz que seu conteúdo pode e
deve ser inserido em pautas de assistência social e junto a trabalhos em escolas.
O combate ao desperdício e a valorização da agricultura familiar são tópicos
que devem ser abordados neste âmbito. A criação de hortas comunitárias e
de recolhimento de embalagens para a reciclagem são ações que podem ser
realizadas e fazem parte da educação nutricional. Como também, a busca por
pequenos produtores e fabricantes de alimentos para preparos com caracte-
rísticas manufaturadas.
É possível demonstrar o impacto não só no gasto de energia e água na
fabricação dos alimentos ultraprocessados, você também pode abordar as
questões relativas à embalagem descartável deles. Nesse sentido, é necessário
calcular com os participantes, a quantidade de lixo gerado em um mês ou em
um ano com pacotes de salgadinhos, biscoitos e refrigerantes. Conversar sobre
o uso de descartáveis e de embalagens individuais, é essencial para combater
o impacto no meio ambiente causado pela alimentação moderna.
Ainda, na dimensão social da alimentação, é vital discutir o papel e a
importância das peças publicitárias na formação do hábito alimentar e na
construção do conceito de saúde e alimento saudável. Conhecer os canais de
informação e as redes sociais, pelas quais os indivíduos costumam se informar,
também ajuda a combater interpretações equivocadas e distorcidas a respeito
da alimentação saudável.
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Dimensão comportamental
O guia alimentar vai muito além do que comer, ele reforça o quando, com quem
e como — que são circunstâncias determinantes para escolhas nutricionais
adequadas. Não esqueça, esta dimensão insere perguntas sobre o ambiente e
a forma como os indivíduos se alimentam. Tente buscar soluções em conjunto,
incentivando as pequenas mudanças. Não tenha uma postura prescritiva ou
combativa ao fornecer soluções. Lembre-se de que novos hábitos não são fáceis,
a confiança no profissional e em seu não julgamento pode ser fundamental
para a criação de um vínculo.
Se você tiver contato, no contexto de trabalho, com uma equipe multi-
disciplinar, converse com os profissionais da psicologia e busque apoio nas
estratégias para mudanças de comportamento. Trabalhos em conjunto, tam-
bém, podem ser realizados exercícios para a concentração e atenção plena,
fortalecimentos de vínculos afetivos e sociais por meio da alimentação. Leia o
guia e use a criatividade e o conhecimento da população com a qual trabalha
para elaborar a melhor técnica de intervenção.
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