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NUTRIÇÃO E

DIETÉTICA I

Paula Gabriela Loss Neto


Guia alimentar brasileiro
para a população adulta
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer o conceito, a história e os objetivos do guia alimentar.


„„ Identificar as recomendações gerais e a premissa básica do guia
alimentar.
„„ Demonstrar o conteúdo do guia alimentar no uso e orientação de
práticas alimentares saudáveis.

Introdução
A elaboração de guias alimentares, por parte dos países para a orientação
de sua população, é uma recomendação expressa da Organização Mundial
da Saúde (OMS). Assim, estes guias servem para aconselhar a população
e direcionar políticas de saúde públicas.
Neste capítulo, você vai estudar a história básica dos guias alimentares
e sua importância. Também, irá descobrir como foi a trajetória percorrida
para a elaboração do guia alimentar brasileiro, com atenção especial às
mudanças que levaram a preparação de sua segunda edição, além de
sugestões de uso da obra em exercícios e práticas alimentares.

O guia alimentar

Conceito e história
A OMS recomenda que os governos disponibilizem às suas populações in-
formações sobre adesão a comportamentos alimentares mais saudáveis. Por
isso, reforça o uso de uma linguagem acessível e o cuidado com as questões
culturais, sociais, econômicas e ambientais para a elaboração desses mate-
riais. É neste contexto, que está inserida a construção, em todo o mundo,
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dos guias alimentares (WORLD HEALTH ORGANIZATION; FOOD AND


AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 1998).
É importante saber que, em termos epidemiológicos, indicações individuais
não se aplicam a populações e vice-versa (BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLS-
TRÖM, 2006). Logo, quando você estuda a respeito dos guias alimentares,
deve considerar que são indicações baseadas em associações epidemiológicas,
direcionadas para a orientação populacional e limitação das ações em saúde
pública.
Desta forma, pode-se definir guia alimentar como uma ferramenta ofi-
cial, publicada por órgãos governamentais, que estabelece um conjunto de
orientações, como forma de respaldar as escolhas alimentares e as políticas
públicas de alimentação e nutrição (CASTRO, I.; CASTRO, L.; GUGEL-
MIM, 2012). Seu principal objetivo é a promoção de hábitos e estilo de vida
mais saudáveis, de forma a reduzir problemas epidemiológicos relevantes na
atualidade, associados à alimentação e ao estilo de vida, como a obesidade e
outras doenças crônicas não transmissíveis (WORLD HEALTH ORGANIZA-
TION; FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED
NATIONS, 1998; ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA
LA ALIMENTACIÓN Y LA AGRICULTURA, 2014).
Quando se considera a quantidade imensa de informações que circulam e
a variedade de produtos difundidos pelos meios de comunicação, é possível
concluir que esses fatores podem confundir os consumidores e atrapalhar a
adoção de escolhas alimentares saudáveis. Para ilustrar esta situação, vale citar
um estudo realizado pelo Ministério da Saúde que verificou 72,6% das peças
publicitárias de alimentos, transmitidas na televisão aberta e por assinatura,
são de artigos com altos teores de gorduras, açúcares e sal. Esses mesmos
alimentos puderam ser distribuídos em apenas cinco categorias de produtos:
salgadinhos de pacote, bebidas gaseificadas, cereais matinais, fastfood e doces
(MONTEIRO; RECINE; COUTINHO, 2008).
A conferência internacional sobre nutrição realizada em Roma, em 1992,
resultou na adoção, pelos países participantes, de um plano de ação mundial
para a nutrição. Este plano incluiu a elaboração, por cada país, de um guia
alimentar capaz de traduzir as metas nutricionais estabelecidas, por meio de
estudos epidemiológicos, em mensagens práticas e de fácil compreensão para
a população (PEÑA; MOLINA, 1999).
Vale considerar que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO) faz distinção entre guias alimentares que simplesmente
compilam mensagens sobre alimentação saudável e aqueles que são elaborados
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com base em um processo que inicia com estudos de diagnósticos epidemio-


lógicos e seguem até a comprovação de suas recomendações, por intermédio
de estudos de campo, levando em conta os alimentos nacionais (ORGANI-
ZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA ALIMENTACIÓN Y
LA AGRICULTURA, 2014).
Os guias alimentares já foram elaborados por 90 países (FOOD AND
AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2017).
Boa parte deles, acaba por reduzir o conceito de dieta à mera ingestão de
nutrientes (MONTEIRO et al., 2015). Isso pode ser constatado observando-
-se que a maioria das recomendações tratam sobre o que e o quanto comer,
(ARANCETA-BARTRINA et al., 2016; DINICOLANTONIO; HARCOMBE;
O'KEEFE, 2016; MONTAGNESE et al., 2017; MUNASINGHE et al., 2017; DU
PLOOY; SCHÖNFELDT; HALL, 2018) esquecendo a dimensão antropológica
e o papel social da alimentação (MONTEIRO et al., 2015).
Essa situação pode estar relacionada ao fato de que parte significativa
das grandes pesquisas sobre comportamento alimentar trata de aspectos
quantitativos do consumo alimentar — como análise de gastos com produtos
alimentícios e avaliação quantitativa da ingestão de nutrientes. Desta forma,
dados sobre fatores e circunstâncias socioculturais condicionantes de práticas
alimentares aparecem de forma mais escassa na literatura, dificultando a
abordagem do tema nos guias alimentares (GARCIA, 1994; ARNAIZ, 2005;
DODDS; CHAMBERLAIN, 2017). Outro ponto importante é que, também,
não aparece com frequência, nos guias alimentares, a associação entre dieta e
sustentabilidade ambiental e econômica. É importante ressaltar que a alimenta-
ção de uma população é muito mais do que uma dieta: constitui um verdadeiro
sistema alimentar (MONTEIRO et al., 2015; FISCHER; GARNETT, 2016).

O guia alimentar brasileiro


A primeira edição do guia alimentar para a população brasileira foi publicada
em 2006, contendo as primeiras recomendações oficiais do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2008). Em virtude das mudanças sociais ocorridas, alterando o
cenário das condições de saúde e de nutrição no Brasil e para dar seguimento
à orientação da OMS de atualizar, periodicamente, as diretrizes do guia, o
Ministério da Saúde iniciou o processo de elaboração de uma nova edição
em 2011 (BRASIL, 2014).
A preparação de uma nova edição do guia contou com a realização de
oficinas nacionais e regionais, em todos os estados. Elas contaram com a
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presença de pesquisadores, educadores, profissionais de saúde e representantes


de organizações da sociedade civil. Além disso, a conclusão do guia incluiu
uma consulta pública com a participação de instituições de ensino, órgãos
públicos, conselhos, setor privado, associações profissionais e pessoas físicas
(BRASIL, 2014).

A classificação dos alimentos e a sua


relação com os guias alimentares
A classificação dos alimentos é uma ferramenta útil para tornar didáticas as
orientações nutricionais. Este tipo de recurso vem sendo amplamente utili-
zado em vários países, a fim de aconselhar e orientar consumidores, além da
população em geral (IRELAND et al., 2002).
Uma das primeiras classificações, utilizadas em todo o mundo, foi a clássica
divisão dos alimentos conforme a função no organismo: energéticos (fontes
de carboidratos e gorduras), construtores (fontes de proteínas) e reguladores
(fontes de vitaminas e minerais) (PHILIPPI, 2008).
A pirâmide alimentar americana foi publicada em 1992, pelo Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em conjunto com o Departamento
de Saúde e Serviços Humanos (HHS) (WELSH; DAVIS; SHAW, 1992). O
instrumento inspirou uma adaptação à realidade brasileira, em 1999 (PHILIPPI
et al., 1999).
A representação gráfica da pirâmide distribui os alimentos em oito grupos,
alinhados em quatro níveis. Para cada grupo, foi estipulado um número de
porções que assegurasse a ingestão adequada de nutrientes. Estudos verifi-
caram que esta primeira versão não foi bem compreendida pela população
brasileira. Por isso, ela sofreu readequações e, em 2005, ela foi publicada
em consonância com a primeira edição do guia alimentar para a população
brasileira (PHILIPPI, 2008).
Sobre essa classificação, é reconhecida a sua importância histórica. Porém,
autores ressaltam que o desenvolvimento de novas tecnologias na produção e
processamento industrial de alimentos torna, gradativamente, este tipo de clas-
sificação, por composição nutricional, inadequada ao momento (MONTEIRO,
2009; MONTEIRO; GOMES; CANNON, 2010; MONTEIRO et al., 2010).
Para ilustrar a consideração, perceba que, conforme a classificação na
pirâmide, não há diferenças entre um cereal integral e um cereal matinal
industrializado. Contudo, na cadeia de produção, se sabe que este último é
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fabricado a partir da extrusão da farinha de milho, adicionada a açúcares


refinados, conservantes, corantes, entre outros compostos (MONTEIRO,
2009; MONTEIRO et al., 2010). Assim, como você acabou de ver, negligen-
ciar a forma de produção pode trazer sérias consequências sociais, culturais,
econômicas e ambientais (MONTEIRO et al., 2017).
O aumento contínuo do consumo de alimentos industrializados, pelos
brasileiros, fornece mais evidências sobre a necessidade de incluir o proces-
samento de alimentos nas orientações básicas sobre alimentação e nutrição.
Isso motivou os pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em
Nutrição e Saúde (NUPENS – USP) a trabalharem em uma nova classificação
cuja alocação dos alimentos considerassem a natureza, extensão e propósito
de seu processamento.
Depois de algumas adaptações, uma classificação inicial definiu quatro
grupos: alimentos não processados ou minimamente processados, in-
gredientes culinários processados, alimentos processados e alimentos
ultraprocessados. Esta classificação desencadeou a realização de vários
estudos que demonstram o aumento significativo do consumo de alimentos
prontos para consumo, por parte dos brasileiros. Além disso, foi constatado
que entre 1987 e 2002, o consumo nos lares de alimentos não processados ou
minimamente processados foi, progressivamente, substituído pelo consumo de
alimentos ultraprocessados (MONTEIRO et al., 2011; MARTINS et al., 2013).

Sem dúvida, o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados apresenta correla-


ção estatística e causal com a epidemia de obesidade no Brasil (LOUZADA et al., 2015).

Considerando os trabalhos citados e muitos outros estudos que demonstram


o impacto do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde do brasileiro,
uma consulta pública foi realizada. Como resultado, esta nova classificação
passou a nortear algumas das diretrizes da segunda edição do guia alimentar
para a população brasileira, que foi publicado em 2014, pelo Ministério da
Saúde (BRASIL, 2014).
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Recomendações gerais e a
premissa do guia alimentar
A segunda edição do guia alimentar brasileiro, antes de trazer orientações
expressas à população, explica quais são os princípios norteadores no primeiro
capítulo. A própria obra lembra que toda ação humana, mesmo que de forma
oculta, é movida por princípios e valores. Eles são os grandes limitadores dos
projetos e ações. Logo, em qualquer diretriz que pretenda trazer orientações,
que irão repercutir na prática profissional, procure identificar os valores em
pauta, pois eles são informações preciosas na interpretação de dados científicos.
A partir dessas considerações, você poderá acompanhar a lista dos seus
princípios norteadores do guia alimentar para a população brasileira.

Alimentação é mais que ingestão de nutrientes


Ainda que os conhecimentos, a respeito da ingestão específica de nutrientes,
sejam de vital importância para a compreensão da fisiologia humana e dos
processos de saúde-doença, eles não explicam por si só a relação entre ali-
mentação e saúde. Por exemplo, vários estudos demonstram o efeito protetor
do consumo de frutas e verduras contra certos tipos de câncer. Porém, isso
não é observado, quando são realizadas intervenções com a suplementação
do nutriente isolado. Várias evidências apontam que o efeito benéfico resulta
do alimento em si e das combinações de compostos e não dos nutrientes
isolados (BRASIL, 2014).
Compreender que o guia tem esta percepção de nutrição humana, é fun-
damental para elucidar questionamentos de pacientes e outros profissionais,
principalmente, referentes a nutrientes ideais e à suplementação alimentar.

Recomendações sobre alimentação devem


estar em sintonia com seu tempo
As orientações devem considerar o cenário epidemiológico de seu tempo.
Está sendo vivido um momento de declínio das taxas de desnutrição, além de
impactante aumento dos casos de obesidades e de síndrome metabólica, entre
outras doenças crônicas não transmissíveis (BRASIL, 2014).
A oferta abundante de alimentos e o processo de industrialização em massa
da alimentação, nas últimas décadas, exigem uma análise cuidadosa. Há
algum tempo, o maior desafio, na área da nutrição, era combater as carências
nutricionais. Com a mudança do cenário epidemiológico e o surgimento de
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novas tecnologias, se tem, atualmente, como desafio, conter a avalanche de


informações não confiáveis sobre nutrição e o combate às consequências do
refinamento e processamento na indústria alimentícia.

Alimentação adequada e saudável origina-se


de sistema alimentar socialmente e
ambientalmente sustentável
Em sintonia com o primeiro princípio norteador, a alimentação é muito mais
do que a ingestão de nutrientes, ela compõe todo um sistema com impactos
ambientais significativos. O sistema de produção e distribuição dos alimentos
pode proteger o ambiente ou comprometer os recursos naturais e a biodiversi-
dade, além de garantir direitos ou gerar desigualdades sociais (BRASIL, 2014).

Diferentes saberes geram o conhecimento


para a formulação de guias alimentares
A tradição da alimentação traduzida em padrões, passados de geração em
geração, são fontes muito importantes de conhecimentos para fundamentar
recomendações que promovam, efetivamente, alimentação adequada e saudá-
vel. Isto ocorre porque esses padrões derivam do acúmulo de conhecimentos
sobre plantio e criação de animais, adaptação à variedade de climas e biomas
que compõem o Brasil, além disso, fornecem dados sobre as combinações de
ingredientes e preparações que, de fato, atenderão às necessidades nutricionais
e ao paladar humano (BRASIL, 2014). Divergindo da tendência de valorizar
apenas os saberes gerados em universidades e laboratórios, o guia alimentar
traz a importância de reconhecimento dos padrões culturais como fonte de
conhecimento.

Guias alimentares ampliam a autonomia


nas escolhas alimentares
O ambiente do indivíduo é fundamental para a constituição da sua autonomia
na realização de escolhas alimentares mais saudáveis. Neste sentido, a forma
de organização da sociedade, leis, valores, acesso à educação e a serviços de
saúde são fundamentais para a construção dessa autonomia. Por isso, o guia
alimentar busca ser um aliado, fornecendo informações claras e de qualidade
(BRASIL, 2014).
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A discussão do papel da publicidade, dos governos e do indivíduo na


construção de uma emancipação é uma verdadeiro assunto à parte. Como
visto, a obra considera a autonomia um processo de elaboração, reconhecendo
o seu papel no fornecimento de informações confiáveis. Porém, não se pode
ignorar que da mesma maneira que a alimentação compõe um sistema complexo
como causa, também, é como consequência. Neste sentido, o acesso a uma
infraestrutura adequada e a serviços de saúde são fundamentais na construção
dessa autonomia que terá suas implicações no âmbito nutricional.
Agora, que já conhece os princípios norteadores, você irá estudar, com
mais detalhes, as orientações sobre a escolha dos alimentos. O guia alimentar
traz uma nova classificação e explica os fatores metabólicos, econômicos,
socioculturais e ambientais para que se evite o consumo de alimentos ultra-
processados (MONTEIRO et al., 2012; MONTEIRO et al., 2017). Você pode
conferir no Quadro 1 as particularidades dessa catalogação dos alimentos:

Quadro 1. Particularidades dos alimentos

Grupo Conceito Exemplos

In natura ou Consumidos sem Folhas, frutas, ovos e leite.


minimamente modificações desde Pasteurização do leite, corte
processados que deixaram e armazenagem das carnes.
a natureza ou
passaram por algum
processo mínimo
para o consumo.

Extraídos São adquiridos in Óleos, gordura, sal e açúcar.


in natura e natura ou passam por
utilizados para um processamento
preparações mínimo. Não são
culinárias utilizados puros e,
sim, em preparações
culinárias.

Processados Adição, na maior parte Conservas de legumes,


das vezes, de sal e de frutas em calda ou
açúcar em alimentos cristalizadas e pães.
das primeiras categorias
para torná-los mais
duráveis e palatáveis.

(Continua)
Guia alimentar brasileiro para a população adulta 9

(Continuação)

Quadro 1. Particularidades dos alimentos

Grupo Conceito Exemplos

Ultraprocessados São formulações Inúmeros tipos de biscoitos,


industriais baseadas em sorvetes, balas e doces em
substâncias extraídas geral. Cereais açucarados,
de alimentos e suas bolos prontos e misturas
derivações industriais para bolo, barras de cereal,
(gordura hidrogenada, sopas, macarrão e temperos
amido modificado) instantâneos. Também,
somados a compostos molhos, salgadinhos de
artificiais para criação pacote, refrescos, refrigerantes,
de textura e sabor. iogurtes e bebidas lácteas
adoçados ou aromatizados,
além de bebidas energéticas,
produtos congelados, salsichas
e outros embutidos. Pães de
forma, para hambúrguer ou
hot dog, pães doces e produtos
panificados cujos ingredientes
incluem substâncias, como
gordura vegetal hidrogenada,
açúcar, amido, soro de leite,
emulsificantes e outros aditivos.

Assim, serão analisadas as quatro recomendações e a premissa básica do


guia alimentar:

1. Faça de alimentos in natura ou minimamente processados a base de


sua alimentação;

O guia alerta para a importância da variedade e da predominância de


alimentos de origem vegetal, para que esta escolha implique uma alimentação
balanceada, tanto do ponto de vista nutricional quanto de sabores.

2. Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao tem-


perar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias;

O guia orienta o uso destes componentes com moderação, quando utilizados,


é claro, para temperar e preparar alimentos com menor nível de processamento.
10 Guia alimentar brasileiro para a população adulta

3. Limite o uso de alimentos processados, consumindo-os em pequenas


quantidades, como ingredientes de preparações culinárias ou parte de re-
feições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados;

O guia alerta, novamente, para os malefícios que o processamento de


alimentos pode trazer na composição nutricional.

4. Evite alimentos ultraprocessados.

O guia relembra que tanto por motivos nutricionais como pela sua cadeia
de produção, este tipo de alimento afeta negativamente a saúde, a cultura e
o meio ambiente.

Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culi-


nárias a alimentos ultraprocessados.

O guia, ainda, exemplifica escolhas adequadas do ponto de vista do pro-


cessamento, como a preferência por água, leite e sucos naturais em vez de
bebidas industrializadas (BRASIL, 2014). No âmbito epidemiológico, esta
premissa básica não foi escolhida por acaso, o impacto dessas escolhas é
enorme na qualidade do consumo alimentar.
É complementado que as sugestões de refeições, contidas no próprio guia,
são exemplos que levam em consideração todas as regiões do país, devendo
ser interpretadas como exemplos e, não, prescrições dietéticas. Ao ler a obra,
você também vai observar que não há indicações de quantidades de alimentos
e calorias a serem ingeridas, reforçando que orientação populacional deve ser
geral e ter enfoque na qualidade da alimentação.
Verduras e legumes estão presentes em todos os exemplos fornecidos. Con-
tudo, isso não é um reflexo do consumo da população brasileira. O guia tenta
demonstrar diversas preparações com verduras e legumes crus e refogados,
além de cortes de carne magras e preparadas de diversas formas, demonstrando
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de maneira abrangente as variações possíveis. Por fim, ele prevê adversidades


que podem dificultar a adesão das recomendações e fornece propostas de
enfrentamento (BRASIL, 2014).
As recomendações do guia alimentar estão compiladas em dez passos para
uma alimentação adequada e saudável:

1. Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da


alimentação;
2. Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar, em pequenas quantidades, ao
temperar, cozinhar alimentos e criar preparações culinárias;
3. Limitar o consumo de alimentos processados;
4. Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados;
5. Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre
que possível, com companhia;
6. Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura
ou minimamente processados;
7. Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias;
8. Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece;
9. Dar preferência, quando fora de casa, a locais que sirvam refeições
feitas na hora;
10. Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre ali-
mentação, veiculadas em propagandas comerciais (BRASIL, 2014).

O guia e a orientação de práticas


alimentares saudáveis
O conteúdo do guia alimentar pode e deve ser utilizado em qualquer ativi-
dade de orientação em grupo e populações, como por exemplo, atividades
em unidades de saúde e intervenções em saúde pública, aplicando-se para a
orientação de toda a população adulta.
Logo, divulgação do conteúdo do guia é essencial. Para atingir essa fina-
lidade, você pode deixar a versão impressa do guia em locais de fácil acesso,
como secretarias de escolas e salas de espera de unidades de saúde. Não
esqueça que há uma versão digital, podendo ser compartilhada e divulgada
por e-mail e pelas redes sociais.
12 Guia alimentar brasileiro para a população adulta

Leia o artigo abaixo, nele é analisado a usabilidade da versão digital do guia alimentar
conforme a percepção dos usuários.

https://goo.gl/wmvNjZ

Quanto à aplicação de técnicas e sugestão de atividades para trabalhar seu


conteúdo, é necessário considerar suas três grandes dimensões:

Dimensão nutricional
Aqui, a prioridade é explicar o que são os alimentos ultraprocessados, pro-
cessados, minimamente processados e in natura. Use uma linguagem de fácil
compreensão e exemplos plausíveis. Durante atividades em grupos, se pode
trazer imagens de diversos alimentos e pedir para os participantes classificarem,
por intermédio de jogos e dinâmicas. Recursos visuais, informações concretas
e mensuráveis são capazes, também, de auxiliar na compreensão dos conceitos.
Dentro dessa dimensão, ainda, devem ser trabalhados os conceitos e téc-
nicas culinárias, de acordo com cada região do país: oficinas práticas com
elaboração e degustação de receitas, produção de temperos, conhecimento
e degustação de preparações com temperos e ingredientes locais podem ser
alternativas para envolver o grupo.
Há a possibilidade do desenvolvido de trabalhos com a comparação de
rótulos, solicitando que tragam os rótulos dos alimentos que mais consomem,
a fim de fazer a leitura, em grupo, dos ingredientes e comparando-os aos
alimentos menos processados ou in natura. Essa oficina de leitura de rótulos
pode ser uma excelente iniciativa. Todavia, considere que idosos costumam ter
dificuldades para leitura ou que a maioria das pessoas acaba pulando a etapa
de leitura de ingredientes dos alimentos, muitas vezes, atentando, apenas, para
as calorias. Por isso, mostre o nome dos aditivos, sua função e os confronte
com a composição de alimentos menos processados.
De forma geral, no aconselhamento nutricional, convém priorizar a boa
compreensão da premissa básica. Você pode utilizar técnicas para se certificar
de que a pessoa compreendeu:
Guia alimentar brasileiro para a população adulta 13

a) Solicite que ela explique, com as próprias palavras, o que foi dito ou
exemplifique.
b) A partir de diversos recursos lúdicos, você pode sortear uma série de
alimentos a serem selecionados, conforme o interesse da ação, e pedir
para o grupo colocar na ordem de escolha alimentar, da mais adequada
para a menos adequada. Use a criatividade, considerando a faixa etária
e a escolaridade da população com a qual você estará trabalhando.

Dimensão social
O mercado de alimentos afeta o mundo todo, seja pela geração de empregos ou
pelo uso de recursos naturais — para o plantio, criação de animais ou gasto de
energia e matéria-prima envolvidos na produção de alimentos ultraprocessados.
O poder do consumo e da realização das escolhas alimentares, aliados
às suas consequências nutricionais, sociais e ambientais estão nas mãos da
sociedade inteira. Lembrando que a formação desta dimensão não se restringe
a escolha de cardápios nutricionais adequados. Todos os componentes antro-
pológicos da alimentação, trazidos pelo o guia, diz que seu conteúdo pode e
deve ser inserido em pautas de assistência social e junto a trabalhos em escolas.
O combate ao desperdício e a valorização da agricultura familiar são tópicos
que devem ser abordados neste âmbito. A criação de hortas comunitárias e
de recolhimento de embalagens para a reciclagem são ações que podem ser
realizadas e fazem parte da educação nutricional. Como também, a busca por
pequenos produtores e fabricantes de alimentos para preparos com caracte-
rísticas manufaturadas.
É possível demonstrar o impacto não só no gasto de energia e água na
fabricação dos alimentos ultraprocessados, você também pode abordar as
questões relativas à embalagem descartável deles. Nesse sentido, é necessário
calcular com os participantes, a quantidade de lixo gerado em um mês ou em
um ano com pacotes de salgadinhos, biscoitos e refrigerantes. Conversar sobre
o uso de descartáveis e de embalagens individuais, é essencial para combater
o impacto no meio ambiente causado pela alimentação moderna.
Ainda, na dimensão social da alimentação, é vital discutir o papel e a
importância das peças publicitárias na formação do hábito alimentar e na
construção do conceito de saúde e alimento saudável. Conhecer os canais de
informação e as redes sociais, pelas quais os indivíduos costumam se informar,
também ajuda a combater interpretações equivocadas e distorcidas a respeito
da alimentação saudável.
14 Guia alimentar brasileiro para a população adulta

Dimensão comportamental
O guia alimentar vai muito além do que comer, ele reforça o quando, com quem
e como — que são circunstâncias determinantes para escolhas nutricionais
adequadas. Não esqueça, esta dimensão insere perguntas sobre o ambiente e
a forma como os indivíduos se alimentam. Tente buscar soluções em conjunto,
incentivando as pequenas mudanças. Não tenha uma postura prescritiva ou
combativa ao fornecer soluções. Lembre-se de que novos hábitos não são fáceis,
a confiança no profissional e em seu não julgamento pode ser fundamental
para a criação de um vínculo.
Se você tiver contato, no contexto de trabalho, com uma equipe multi-
disciplinar, converse com os profissionais da psicologia e busque apoio nas
estratégias para mudanças de comportamento. Trabalhos em conjunto, tam-
bém, podem ser realizados exercícios para a concentração e atenção plena,
fortalecimentos de vínculos afetivos e sociais por meio da alimentação. Leia o
guia e use a criatividade e o conhecimento da população com a qual trabalha
para elaborar a melhor técnica de intervenção.

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