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A Liberdade guiando o povo – Eugène Delacroix - 1830

SEC. XVIII

OBJETIVIDADE SEC. XIX

ILUMINISMO LIRISMO

RAZÃO SUBJETIVIDADE

EMOÇÃO

INDIVIDUALISMO
O Romantismo
transpirava rebeldia e
gosto pela liberdade e
voltava-se para o cotidiano
do homem burguês do
século XIX.

Essa estética valorizava o


homem emotivo, intuitivo
e psicológico e, por isso,
"A balsa da Medusa", de Théodore Gericault,
desprezava o racionalismo
representa a ênfase que a arte romântica dava ao
dos iluministas. imaginário.
FATORES HISTÓRICOS
• As ideias românticas ganharam maior impulso
a partir da Revolução Francesa (1789);
• Queda dos sistemas de governo tirânicos.
• Ideais de liberdade e igualdade e fraternidade.
• Formação de uma mentalidade nacionalista.
• Consolidação do pensamento liberal.
• Revolução Industrial Inglesa.
• Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (1789) A Declaração afirma que todos os
cidadãos devem ter os direitos de
“liberdade, propriedade, segurança e
resistência à opressão” garantidos.
CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
◦Cultivo à emoção, à insatisfação, ao sonho, à fantasia, à
evasão para mundos exóticos, melancólicos, noturnos.
◦Valorização de elementos populares
Surgiu da relação entre a burguesia e o Romantismo para retirar
privilégios da elite. Intensificaram-se temas ligados à vida urbana.
◦Imaginação Criadora
A libertação da arte, agora afastada das rígidas regras clássicas. A
liberdade de expressão (de forma e conteúdo) e a criação de mundos
imaginários.
◦Subjetivismo
Atitude individual e única. A poesia não assume mais os
moldes clássicos e sim, a vontade do seu criador.
◦Egocentrismo
Houve o triunfo absoluto do EU; o reinado da poesia
confessional na qual o sujeito lírico declarava seus
sentimentos.
◦Sentimentalismo
Analisa e expressa a realidade por meio de sentimentos; a
emoção foi valorizada em detrimento do racionalismo.
◦Supervalorização do amor
O amor foi considerado um valor supremo na vida.
Entretanto, a conquista amorosa era difícil: havia o mito
do amor impossível, o estigma da paixão desesperadora. A
perda ou a não realização amorosa levava o romântico ao
desespero, à loucura ou à morte.

◦Idealização da Mulher
Mulher era convertida em anjo, musa, deusa, perfeita,
inatingível, capaz de maravilhar a vida do homem se lhe
correspondesse.
◦Nacionalismo
Louvor e exaltação de pátria, com valorizações dos
elementos da terra, dos bens e das riquezas nacionais.
Exaltavam-se personalidades e heróis da história da pátria.
◦Byronismo
Na ânsia de plenitude impossível, o romântico passou a se
ver como um ser fragmentado, sem individualidade ou
liberdade. Os desajustes e as insatisfações conduziram ao
mal do século: a aflição e a dor dos descontentes com o
mundo. Influência: poeta inglês Lord Byron: protótipo do
herói romântico, sombrio, elegante e desajustado.
ASPECTOS ESTILÍSTICOS
◦Os românticos abandonam a forma fixa e o uso obrigatório
da rima, valorizando o verso branco ou rimas em pares.

◦Negam os gêneros literários tradicionais, eliminado das obras


literárias a tragédia e a comédia. Surge assim, outros gêneros,
como o drama e o romance de costumes.

◦Principais figuras de linguagem utilizada pelos escritores


românticos: metáfora, metalinguagem, hipérbole, antítese,
sarcasmo e Ironia
Romantismo no Brasil (1836-1881)
• Marco inicial: Publicação de "Suspiros Poéticos e
Saudades", de Gonçalves de Magalhães , em 1836.

• Marco final: Publicação de "Memórias Póstumas de


Brás Cubas", de Machado de Assis , em 1881, que
inaugura o Realismo.

O Romantismo coincidiu com a


Independência política, em 1822, com o 2º
Reinado e a campanha abolicionista.
Romantismo no Brasil
As três gerações românticas na poesia
1ª Geração: Nacionalista e Indianista
Qual a relação entre a independência
política e o Romantismo brasileiro?

• Com a Proclamação da Independência em 1822, os


intelectuais brasileiros puderam criar a imagem de
uma nova nação, separada de Portugal.

•Segundo Gonçalves de Magalhães:

“Cada povo tem sua literatura própria, como cada homem seu caráter
particular, cada árvore seu fruto específico.”

•Os poetas queriam divulgar uma identidade nacional da literatura, que ao


mesmo tempo mostrasse o amor à pátria e pudesse se livrar das influências
portuguesas.
“Bom Selvagem”
• Rousseau, famoso filosófo do século XVIII
acreditava que todas as pessoas eram iguais e boas
quando nascem, e o tempo iria diferenciá-las uma
das outras, tornando-as melhores ou piores.
• A partir de sua tese, os indianistas viram na imagem
do índio a capacidade de demonstrar o espírito do
homem livre e incorruptível, uma imagem
idealizada dos índios.
• Na Europa, essa imagem foi passada através do
cavaleiro medieval.
Projeto Literário do Romantismo

• Afirmação da identidade brasileira


• Resgate do índio e da natureza
exuberante como símbolos da nação
Gonçalves Dias
• Grande nome da primeira geração
romântica brasileira.
• Origemmestiça: filho de comerciante
português e uma cafuza.
• Foi para Portugal: fez Direito em Coimbra.
• Influência dos românticos de AlmeidaGarrett
e Alexandre Herculano.
Canção do Exílio (1843)
Gonçalves Dias
Características do
Romantismo

• Nacionalismo, ufanismo
• Exaltação à natureza
• Índio como grande heroi
• Sentimentalismo
INTERTEXTUALIDADE
Canção de Exílio
Murilo Mendes
“Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!”
Canto de Regresso à Pátria
(Oswald de Andrade)
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo.
Canção do exílio facilitada
José Paulo Paes

…sabiá
…papá
…maná
…sofá
…sinhá
…cá?
bah!

Extraído do livro Como ler poesia/José de Nicola e Ulisses Infante


parte da paródia composta pelo humorista
e apresentador Jô Soares:

“Minha Dinda tem cascatas


Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem coqueiros
Da Ilha de Marajó
As aves, aqui, gorjeiam
Não fazem cocoricó.[...]”
Nova Canção do Exílio
Carlos Drummond de Andrade

Um sabiá na Europa, França e Bahia


palmeira, longe. Carlos Drummond de Andrade
Estas aves cantam
um outro canto. [...] Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Só, na noite, Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
seria feliz: Eu tão esquecido de minha terra...
um sabiá, Ai terra que tem palmeiras
na palmeira, longe. [...] Onde canta o sabiá!

Ainda um grito de vida e voltar


para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
Nova Canção do Exílio Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
Minha amada tem palmeiras e as aves que ali gorjeiam
Onde cantam passarinhos são como flautas de prata
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
Ao brincarmos sós à noite sem gozar das alegrias
nem me dou conta de mim: que se escondem em seus carinhos
seu corpo branco na noite sem me perder nas palmeiras
luze mais do que o jasmim onde cantam os passarinhos

Ferreira Gullar
Canção da rua Casimiro de Abreu
Sérgio Caparelli

Outros bairros tem palmeiras,


Bem-te-vis e sabiás,
Mas o Bom Fim estende tapetes
De flores de jacarandás.

Não quero ir para longe


E ficar triste, a cismar,
Pertinho dos gaturanos,
Distante dos jacarandás.

E se existem tantas pessoas


Cismando com sabiá,
Não permita, Deus, que morram,
Sem que venham para cá.

Entre as flores de setembro


Caindo dos jacarandás.
I-Juca Pirama
Gonçalves Dias
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão. • Estrofes compostas de 6 versos de
São rudos, severos, sedentos de gló ria, 11 sílabas métricas:
Jápré lios incitam, jácantam vitó ria,
Jámeigos atendem à voz do cantor: (hendecassílabos)
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lávoa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de gló ria e terror! • As pausas no interior dos versos,
(...) indicam sua divisão rítmica
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro •Por meio dessa estrutura, o autor
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d’outrora, consegue construir a imagem da
E os moç os inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum índio infeliz. cerimônia realizada pelos índios.
2ª Geração: Ultrarromântica, Mal do
Século: amor, morte
e exageros comportamentais
• Ao contrário da poesia da
primeira geração,agora os
poetas estavam voltados para si
e não para a busca da
identidade nacional.

• Mal do século: pessimismo,


atração pela noite, pelo vício e
pela morte, temas macabros e
satânicos.
Características literárias
• Fuga da realidade para o mundo
dos sonhos, da fantasia e da
imaginação (escapismo, evasão);

• Saudosismo (saudade da infância


e do passado);

• Interesse pelo amor e pela morte:


fuga total e definitiva da vida,
solução para os sofrimentos;

• Subjetivismo, pessimismo,
egocentrismo
• Sentimento de solidão,

• Idealização da mulher: ser


virginal, perfeito e etéreo

• Gosto pela noite e pela natureza


sombria
• sarcasmo, ironia.

• Atração pelo vício, temas


macabros e satânicos
Locus horrendus:
Natureza tempestuosa
O cenário preferido pelos poetas ultrarromânticos é
tempestuoso. As forças incontroláveis da natureza –
raios, chuvas, ventos – simbolizam o sofrimento
interno dos poetas.
Atraç ão p ela noite

• Somente no contexto dos sonhos a natureza será


apresentada em tons mais positivos, assumindo uma
feição paradisíaca.

• Cenários de escuridão, lugares ermos, cemitérios e


praias abandonadas são os refúgios para os sofredores.
O mal do século e a sedução da morte

• A ideia de morrer tem sentido


positivo porque garante o término
da agonia de viver.

• É no contexto das desilusões e


da maneira pessimista de
encarar a própria existência que
a morte surge como solução.
Amor e morte: as
virgens pálidas
• Os românticos temiam a
realização amorosa: mulheres
pálidas, etéreas, angelicais.

• Há erotismo sensualidade, mas o


amor é sempre platônico.

• Visão dualista: atração e medo;


desejo e culpa.
Álvares d e Azeved o
(1831-1852)
• Principal autor ultrarromântico.

• Morreu antes de completar 21 anos.

• Sua poesia ora explora as angústias


amorosas, ora as ridiculariza.

• Suas principais obras são: Lira dos vinte


anos e Noite na Taverna.
Lira dos Vinte Anos
A obra em questão é uma antologia poética que
reúne os principais poemas do escritor e foi
organizada pelo autor. Contudo, Álvares de
Azevedo morreu em 1852 e o livro foi publicado
postumamente, em 1853.

A obra está dividida em 3 partes. A primeira,


intitulada Ariel, possui uma dedicatória feita para a
mãe do poeta, um prefácio geral e 33 poemas. A
segunda, intitulada Caliban, possui um prefácio sobre
a segunda parte específica e 19 poemas.
Lira dos Vinte Anos
Ao longo do livro, vemos 3 estilos diferentes da poesia
de Álvares de Azevedo:

• um tipicamente romântico, na primeira parte;


• outro voltado para uma produção poética mais
irônica, sarcástica e até mesmo macabra, na
segunda parte;
• e um terceiro que mescla traços dos estilos
anteriores, na última parte.
Lira dos Vinte Anos
1ª Parte: Ariel

A primeira parte intitula-se Ariel, referência à entidade


que representa o bem na peça A Tempestade, de William
Shakespeare (1564 – 1616).

Nessa seção da obra, vemos poemas sobre amor


platônico e afeto, sempre trabalhados de forma
extremamente sentimental, enfatizando o romantismo e a
melancolia.
2ª Parte: Caliban

A segunda parte do livro intitula-se Caliban, também em


referência a um personagem de A Tempestade, que, por sua
vez, representa uma entidade ligada ao mal.

Nessa seção, estão os poemas demasiadamente mórbidos


que versam sobre cadáveres e vultos, repletos de ironia,
sarcasmo, tristeza e extremo pessimismo.

3ª Parte: Mistura da primeira e da segunda parte


A terceira parte contém poemas que mesclam as duas
influências, apesar de ser mais semelhante à primeira.

Por isso, mistura versos sobre amor idealizado, sonho e


fantasia com poemas mórbidos e sombrios. Contudo,
também há humor, ironia e poemas metalinguísticos.
Casimiro de Abreu (1839-1860)
• Produziu uma poesia "bem-comportada“.

• Sobressaem os temas: saudade, natureza e


desejo, porém sem o pessimismo dos
demais poetas da época.

• As figuras femininas não se associam à


ideia de morte.

• Saudosismo: saudade da infância


inocente e ingênua.
Meus oito anos
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida, Que auroras, que sol, que vida, Livre filho das montanhas,
Da minha infância querida Que noites de melodia Eu ia bem satisfeito,
Que os anos não trazem mais! Naquela doce alegria, De camisa aberto ao peito,
Que amor, que sonhos, que flores, Naquele ingênuo folgar! - Pés descalços, braços nus -
Oh! Que saudades que tenho
Naquelas tardes fagueiras O céu bordado d’estrelas, Correndo pelas campinas Da aurora da minha vida,
À sombra das bananeiras, A terra de aromas cheia, À roda das cachoeiras, Da minha infância querida
Debaixo dos laranjais! As ondas beijando a areia Atrás das asas ligeiras Que os anos não trazem mais!
E a lua beijando o mar! Das borboletas azuis! Que amor, que sonhos, que flore
Como são belos os dias Naquelas tardes fagueiras
Oh! dias da minha infância! Naqueles tempos ditosos À sombra das bananeiras,
Do despontar da existência!
Oh! meu céu de primavera! Ia colher as pitangas, Debaixo dos laranjais!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor; Que doce a vida não era Trepava a tirar as mangas,
O mar é - lago sereno, Nessa risonha manhã. Brincava à beira do mar;
O céu - um manto azulado, Em vez das mágoas de agora, Rezava às Ave-Marias,
O mundo - um sonho dourado, Eu tinha nessas delícias Achava o céu sempre lindo,
A vida - um hino d'amor! De minha mãe as carícias Adormecia sorrindo
E beijos de minha irmã! E despertava a cantar!
Fagundes Varela (1841-1875)
• Nasceu em Rio Claro, RJ, e faleceu em Niterói, RJ.
• Em 1862, matricula-se na Faculdade de Direito, em SP,
que nunca terminou, preferindo a literatura e a boêmia.
• Em 1861, publicara o primeiro livro de poesias,
Noturnas.
• Casou-se com a artista de circo Alice Guilhermina
Luande, de Sorocaba, o que provocou escândalo na
família e agravou-lhe a penúria financeira.
• O primeiro filho, Emiliano, morto aos três meses de
idade, inspirou-lhe um dos seus mais belos poemas,
“Cântico do Calvário”.
• A partir daí, acentuam-se nele a mania deambulatória e
o alcoolismo, mas também a inspiração criadora.
[...]Como eras lindo! Nas rosadas faces
CÂNTICO DO CALVÁRIO Tinhas ainda o tépido vestígio
Dos beijos divinais, — nos olhos langues
À memória de meu filho, morto a 11 de
Brilhava o brando raio que acendera
dezembro de 1863.
A bênção do Senhor quando o deixaste!
Eras na vida a pomba predileta Sobre o teu corpo a chusma dos anjinhos,
Que sobre um mar de angústias conduzia Filhos do éter e da luz, voavam,
O ramo da esperança. — Eras a estrela Riam-se alegres, das caçoilas níveas
Que entre as névoas do inverno cintilava Celeste aroma te vertendo ao corpo!
Apontando o caminho ao pegureiro. E eu dizia comigo: — teu destino
Eras a messe de um dourado estio. Será mais belo que o cantar das fadas
Eras o idílio de um amor sublime. Que dançam no arrebol, — mais triunfante
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria, Que o sol nascente derribando ao nada
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Muralhas de negrume! ... Irás tão alto
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Como o pássaro-rei do Novo Mundo!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!
Ai! doudo sonho! ... Uma estação passou-se, Para envolver teu corpo! Vejo esparsas
E tantas glórias, tão risonhos planos Saudades e perpétuas, — sinto o aroma
Desfizeram-se em pó! O gênio escuro Do incenso das igrejas, — ouço os cantos
Abrasou com seu facho ensanguentado Dos ministros de Deus que me repetem
Que não és mais da terra!... E choro embalde.
Meus soberbos castelos. A desgraça
Mas não! Tu dormes no infinito seio
Sentou-se em meu solar, e a soberana Do Criador dos seres! Tu me falas
Dos sinistros impérios de além-mundo Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Com seu dedo real selou-te a fronte! Talvez das ondas no respiro flébil!
Inda te vejo pelas noites minhas, Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
Em meus dias sem luz vejo-te ainda, No vulto solitário de uma estrela,
Creio-te vivo, e morto te pranteio! ... E são teus raios que meu estro aquecem!
Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!
Ouço o tanger monótono dos sinos, Brilha e fulgura no azulado manto,
E cada vibração contar parece Mas não te arrojes, lágrima da noite,
Nas ondas nebulosas do ocidente!
As ilusões que murcham-se contigo!
Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Escuto em meio de confusas vozes, Sobre mim sacudir o pó das asas,
Cheias de frases pueris, estultas, Escada de Jacó serão teus raios
O linho mortuário que retalham Por onde asinha subirá minh’alma.
3ª Geração Romântica
ou Condoreira:
A poesia social
Contexto
Histórico
• Entre 1860 e 1870: a poesia
volta-se para o Social.

• 1850- Lei Eusébio de Queirós:


fim do tráfico negreiro

• 1850- Prosperidade da cultura


cafeeira.
Obra considerada um documento que
retrata a triste história do Navio
Negreiro Zong, em 1783, quando fazia
o trajeto da África para a Jamaica.

Uma doença espalhou-se pelos porões


do navio e alguns escravos corriam
risco de morte. O seguro cobria mortes
no mar, mas não escravos vitimados
por doenças. Temendo perder
dinheiro, o capitão desce aos porões e
seleciona os escravos com sintomas da
doença, atirando-os ao mar,
acorrentados nos pulsos e nos pés.

Quando a sociedade inglesa descobriu


o que estava ocorrendo, ficou
escandalizada. Essa triste realidade
culminou com a libertação dos
escravos, depois de muitas discussões
sobre os direitos humanos.

Atualmente é considerada por muitos


como a pintura inglesa mais
importante do século XIX.
O Navio Negreiro. William Turner. 1840.
O Cond oreirismo
• Os poetas dessa geração adotam
princípios libertários: escrevem
sobre o horror da escravidão e
outros temas sociais.

• O condor, ave da Cordilheira dos


Andes capaz de voar em altitudes
bem altas, é escolhido como símbolo
da liberdade.

• Vitor Hugo: “A arte de hoje não deve


buscar apenas o belo, mas sobretudo
o bem".
Projeto Literário: 3a fase
• Poesia engajada: denunciar, por meio da
poesia, as injustiças sociais.
• Intenção de atingir um público maior.

• Os poemas são declamados em praças, saraus e


teatros.
• Há muito uso de vocativos e exclamações.

• Mostra-se o gosto pelas imagens exageradas,


hiperbólicas, que provocam impacto no leitor
e despertam emoções.
Castro Alves (1847-1871)
• Diferente dos autores da primeira e
segunda geração, o sentimento da
natureza é substituído pelo da
humanidade; a ordem do coração
é trocada pela do pensamento.

• É conhecido como “O poeta dos


escravos".

• Dois poemas se destacam em sua


produção: Vozes d ’A f r i c a e O
Navio Negreiro.
Em 11 de novembro de 1868, a espingarda que Castro Alves usava durante uma caçada
nos campos do bairro do Brás disparou, atingindo-lhe o calcanhar direito. O poeta
viajaria ao Rio de Janeiro para se tratar, acolhido pelo amigo Luiz Cornélio dos Santos, a
quem pede socorro nesta carta.
[São Paulo, 1º de dezembro de 1868]
Meu caro Luiz,
Estou, há vinte dias, de cama, de um tiro que dei em mim, por acaso. Este desastre caiu-
me na pior ocasião. Bem vês que eu não podia escrever, e nem mandar por outro es-
crever para minha família isto, e só alguns dias depois é que tive portador seguro que foi
à Bahia para explicar tudo, sem que em casa fiquem muito aniquilados.
Como quer que seja, só daqui a um mês terei dinheiro, o que muito me incomoda. Visto
que estou com grandes despesas, e em constantes consultas, conferências, e etc.,
manda-me algum dinheiro se puderes.
Estou exausto.
Recomendações à excelentíssima senhora. Lembranças aos pequenos e um abraço
apertado do teu velho amigo e baleado.
Castro Alves Castro Alves. Obras completas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1921, p. 453.
O Navio Negreiro
https://www.youtube.com/watch?v=wij-Tk73JFE

E da ronda fantástica a serpente


Faz doudas espirais
Se o velho arqueja se no chão resvala
Ouvem-se gritos o chicote estala
'Stamos em pleno mar E voam mais e mais...
Era um sonho dantesco o tombadilho Presa dos elos de uma só cadeia
Que das luzernas avermelha o brilho A multidão faminta cambaleia
Em sangue a se banhar E chora e dança ali!
Tinir de ferros estalar do açoite Um de raiva delira, outro enlouquece
Legiões de homens negros como a noite Outro, que de martírios embrutece
Horrendos a dançar Cantando, geme e ri!
Negras mulheres, suspendendo às tetas No entanto o capitão manda a manobra (...que
Magras crianças, cujas bocas pretas chegou...)
Rega o sangue das mães E após, fitando o céu que se desdobra (...agora?)
Outras, moças, mas nuas, espantadas Tão puro sobre o mar (Meu navio negreiro...)
No turbilhão de espectros arrastadas Diz do fumo entre os densos nevoeiros
Em ânsia e mágoa vãs "Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
E ri-se a orquestra, irônica, estridente Fazei-os mais dançar!"
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Vozes D’África
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Castro Alves (1847 — 1871)
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...

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