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O Espaço Dividido: Os Dois Circuitos da Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos

Milton Santos

Formação e Características
As modernizações processos que ajudam a apreender os impactos históricos da organização e
reorganização do espaço, da sociedade e da economia em países subdesenvolvidos. Estabelecer
esses marcos ajuda a compreender com maior rigor os processos que ocorrem em países
subdesenvolvidos, assim evitando erros de análise. Portanto se faz necessário uma periodização
da história, e marcar as seguidas modernizações, ocorridas de forma bem demarcada em
conceito e tempo. Cada período da história é caracterizado pela existência de um conjunto
coerente de elementos de ordem econômica, social, política e moral, que constituem um
verdadeiro sistema. E cada um desses períodos é marcado por uma caracterização do nível de
modernização referente ao momento anterior mais próximo.
O processo de modernização de cada época tem seu centro de desenvolvimento e comando, que
em seguida age na expansão e difusão de novas técnicas e organizações estabelecidas em
direção aos subordinados. Como aconteceu no Brasil no século XX que modificou em partes
sua relação econômica com os países de centro, passando por um processo de industrialização e
por consequência de urbanização, que refletia a forma como a industrialização era oferecida
pelos países centrais aos países periféricos, e a forma como esse investimento, modernização de
refletia em crescimento econômico e em desenvolvimento no país. O choque entre os interesses
externos e internos, e a balança de interesses ditaram o ritmo e as diversas formas do
desenvolvimento em países fora do eixo central. Segundo W Moore (1965, p. 6), a
modernização de um espaço consiste em unir-se econômica, política ao mundo moderno, pode-
se considerar que o mundo se modernizou várias vezes.
Milton Santos defini sua periodização de acordo com o estado de modernização da seguinte
forma: o primeiro, que vai do fim do século XV até o fim do século XVI (período colonial); o
segundo, cujo fim situa-se no início do século XVIII (revolução industrial), em torno de 1.720;
o terceiro, que terminou na segunda metade do século XIX, em torno de 1870 Revolução
industrial, revolução francesa); o quarto, situando-se entre 1870 e os anos de 1945-
1950(expansão capitalista, e segunda guerra mundial), e quinto que seria o período atual
(período da revolução tecnológica). Cada período se constitui em uma parte homogenia em que
variados fatores se equilibram dentro da constituição histórica. Quando ocorrem mudanças no
sistema central, que constituam novas variáveis em quesitos econômicos, políticos, sociais,
culturais e morais, se refletem em mudanças que chegam aos países periféricos tomando formas
diferentes. Dessa forma Milton Santos observa a forma com que a modernização chega aos
países periféricos, separando em 3 momentos, a modernização comercial, a modernização
industrial, e a modernização tecnológica.
No primeiro período, na modernização comercial, período da expansão colonial, que impunha
pelos países centrais uma dominação política, jurídica e comercial que limitava o papel das
colônias produtivamente e comercialmente. Uma vez que essas produziam materiais primários
para alimentar os interesses e as necessidades da metrópole. Nesse caso a cidade se colocava em
um papel administrativo e de controle comercial. Ainda não era possível ter uma produção em
larga escala, devido as técnicas serem limitadas a manufatura e também por não existir um
mercado consumidor que absorva uma produção maior. No segundo período, a modernização
industrial, a cidade que já ocupava um papel importante, passa a ser ainda mais privilegiada
com a construção de infraestruturas necessárias para a expansão da industrialização e do capital.
Dessa forma se inicia um processo de crescimento rápido da urbanização, a construção de
estradas, linhas férreas e portos para o escoamento da produção e a interligação dos lugares.
Nesse momento a relação entre o centro e a periferia era controlada ainda pelo pacto colonial,
onde a produção no país periférico servia pra alimentar os interesses da indústria do centro,
variando a produção desses países de acordo com as necessidades, que basicamente se
desenvolviam na produção de cana de açúcar, café, algodão, cacau, tabaco, pecuária bovina,
como também na mineração de metais como ferro e outros. O terceiro período, o da
modernização tecnológica, é marcado pela ampliação do mercado consumidor, pela
descentralização das corporações que se estendem para além dos seus territórios, em busca de
atrativos em países subdesenvolvidos. A ampliação da produção exige a ampliação do mercado
consumidor, a produção passou a ser desenvolvida de forma sistemática e escalar, variando de
acordo com os interesses e atrativos de cada região. Nesse período assim como nos períodos
anteriores foram marcados pela imposição e dominação dos países centrais aos países
periféricos a partir de conflitos, guerras, golpes e diversos modos de dominação política, militar
e econômica.
Milton finaliza essa parte falando que nem todos os países subdesenvolvidos sofreram ou
receberam os impactos de todos os períodos de modernização, no entanto mesmo que
indiretamente de alguma forma foram afetados, afinal esse é um processo que se deu de forma
desigual, e acontece assim tanto a nível global, nacional, regional e local. O que dita esse
processo são os interesses daquele momento.
Atualmente a modernização, está diretamente associada e dependente do desenvolvimento do
sistema tecnológico, que está em mãos das grandes multinacionais. As características mais
marcantes desse período estão na difusão da informação e do consumo. A primeira agindo em
função do segundo. O controle e difusão de informações são capazes de moldar e ampliar o
consumo, mesmo em países periféricos que ainda não tem acesso a produção desses bens de
consumo. Isso reflete em uma dependência externa cada vez maior, mesmo nos casos onde essas
multinacionais se instalam em territórios locais, a criação de empregos é limitada, os salários
pagos permanecem pequenos, e a lucratividade da produção não se reflete em investimentos e
desenvolvimento local, retornando em maior volume ao países de centro. Desse modo a
indústria local/nacional é enfraquecida com a entrada de capital e investimentos estrangeiros,
muitas vezes impedindo a criação ou fortalecimento do produto nacional. Causando uma
deformação nas formas de produção e consumo, uma vez que ficam limitadas e sujeitas aos
processos tecnológicos dominados pelo centro. Isso se reflete na produção da cidade, onde se
criam classes muito distantes umas das outras, uma grande massa de assalariados ou
desempregados, vivendo no limite e muitas vezes na escassez de itens básicos para o suprimento
de suas necessidades, já do outro lado uma minoria que controla e detém os meios de produção
e podem ter acesso a bens de consumo variados, vivendo em uma realidade completamente
diferente da maioria da população.
No seu estudo, Milton Santos destaca que existem um processo dentro da cidade com a
modernização tecnológica que se divide em dois circuitos da economia que se apropriam e se
relacionam com as tecnologias dispostas de formas distintas, são eles o circuito superior e o
circuito inferior. Simplificando, ele apresenta o circuito superior como constituído pelos bancos,
comércio e indústria de exportação, indústria urbana moderna, serviços modernos, atacadistas e
transportadores. O circuito inferior é constituído essencialmente por formas de fabricação não
intensiva, pelos serviços não modernos fornecidos "a varejo" e pelo comércio não moderno e de
pequena dimensão.
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