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CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA AÇUCAREIRA

Primeiro é necessário apresentar o contexto histórico de colonização a fim de


entender melhor as características da economia açucareira. O clima do Brasil inicialmente
foi um afastamento para os europeus que viviam em climas tão diferentes na época, mas
logo eles passaram a ver isso como um recurso para cultivar plantações que não eram
favoráveis em seus territórios. Inicialmente, quem foi o pioneiro nessa exploração foi o reino
de Portugal, essencialmente marítimo, que estava buscando uma ampliação por conta da
expansão comercial da Europa. Essa expansão foi feita totalmente pelo mar, já que estava
cercado pela Espanha, que ameaçava os territórios de Portugal, e o mediterrâneo tava
rolando muitos conflitos que a armada portuguesa não conseguiria vencer. Pelo território
africano não dava também, logo, sobrou para o oeste africano e o Atlântico.
Inicialmente, o Brasil possui um papel secundário para o reino português, já que o
império asiático predominava e não se tinha conhecimento dos recursos minerais e riquezas
do território. Segundo Celso Furtado, o início da ocupação econômica do território brasileiro
é em boa medida uma consequência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha
pelas demais nações europeias. Nestas últimas prevalecia o princípio de que espanhóis e
portugueses não tinham direito senão àquelas terras que houvessem efetivamente
ocupado. Sem embargo, os recursos de que dispunha Portugal para colocar
improdutivamente no Brasil eram limitados e dificilmente teriam sido suficientes para
defender as novas terras por muito tempo. A Espanha não iria gastar recursos com isso
pois o continente não tinha um grande interesse econômico, o comércio com os índios
requeria apenas simples feitorias, então decide concentrar seu sistema de defesa em torno
ao eixo produtor de metais preciosos, México-Peru.
Fez-se indispensável criar colônias de povoamento de reduzida importância
econômica com fins de abastecimento e de defesa. Coube a Portugal a tarefa de encontrar
uma forma de utilização econômica das terras americanas que não fosse a fácil extração de
metais preciosos. Das medidas políticas que então foram tomadas resultou o início da
exploração agrícola das terras brasileiras.A América passa a constituir parte integrante da
economia reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma
permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu.
As principais características da economia açucareira, um sistema de lógica própria
mas inserido no mercado internacional, se concentram em uma economia de exportação,
baseada no plantation, utilização de mão de obra escrava, lucro concentrado na mão do
empresário e uma administração territorial e política.
Primeiramente, seu objetivo principal era a produção voltada para o mercado
europeu, visando geração de excedente para a metrópole. O empresário açucareiro teve,
no Brasil, desde o começo, que operar em escala grande pois as condições do meio não
permitiam pensar em pequenos engenhos, como fora o caso das Antilhas. A colonização
dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga
feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos
naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É até por isso que a
economia açucareira dependia e era afetada por conjunturas internacionais, já que era onde
se concentrava seu mercado.
Tudo isso se encontra em um modelo de produção chamado plantation, tendo como
características fundamentais a grande propriedade, a ‘monocultura’ exportadora e a mão de
obra de africanos escravizados. A grande propriedade possibilitaria a grande produção
voltada para o mercado externo com baixos custos, e era muito vantajosa no Brasil por
conta da grande oferta de terras a serem exploradas – “fronteira agrícola aberta”. A
‘monocultura’ exportadora constituia um produto principal da economia colonial, mas não o
único e possuía um rígido controle por meio do “exclusivismo metropolitano”. A mão de obra
de africanos escravizados se deu devido a escassez de mão de obra europeia e pelo
discurso da dificuldade de “adaptação” do indígena ao trabalho necessário na colônia. Além
de que o tráfico transatlântico de escravizados africanos traria mais uma opção de comércio
altamente rentável.
A mão de obra escrava era muito presente na economia açucareira. Segundo Caio
Prado Jr, favores especiais foram concedidos àqueles que instalassem engenhos: isenções
de tributos, garantia contra a penhora dos instrumentos de produção, honrarias e títulos,
etc. O problema no começo era a falta de mão de obra. Sem escravos os colonos "não se
podem sustentar na terra". Com efeito, para subsistir sem trabalho escravo seria necessário
que os colonos se organizassem em comunidades dedicadas a produzir para autoconsumo,
o que só teria sido possível se a imigração tivesse sido organizada em bases totalmente
distintas.
Enquanto em colônias como a América do Norte a mão de obra era européia, no
Brasil isso nem chegou a ocorrer, visto que Portugal e Espanha passavam por uma falta de
mão de obra. Inicialmente, o trabalho indigena foi utilizado para algumas tarefas específicas
das obras de instalação, mas essa mão de obra não deu certo por 3 motivos. Primeiro, a
Companhia de Jesus não aceitava a escravização deles, apenas quando se recusaram a
catequização, pois eram almas ingênuas. Segundo, o trabalho indígena não era suficiente,
tinha muita demanda por mão de obra e a dos indígenas era cara pois envolvia guerras e
etc. O que acabou levando a uma catástrofe demográfica. Terceiro, o indígena era
mercadoria interna, não se cobrava impostos, enquanto os africanos sim.
Logo, houve uma transição para a mão de obra escrava, a qual Portugal já tinha um
vasto conhecimento, e chegou para a expansão da empresa, que já estava instalada. Parte
da força de trabalho escravo se dedicava a produzir alimentos para o conjunto da
população, e os demais se ocupavam nas obras de instalação e, subseqüentemente, nas
tarefas agrícolas e industriais do engenho. A economia interna da escravidão: alguns
escravos possuiam a capacidade de produção autônoma dos cativos, diminuindo as
rebeliões e custos para o senhor. A economia escravista dependia, em forma praticamente
exclusiva, da procura externa.
Além do mais, não bastava produzir os produtos com procura crescente nos
mercados europeus, era indispensável produzi-los de modo a que a sua comercialização
promovesse estímulos à acumulação burguesa nas economias europeias. De acordo com
Celso Furtado, a renda que se gerava na colônia estava fortemente concentrada em mãos
da classe de proprietários de engenho. A parte dessa renda que se despendia com bens de
consumo importados - principalmente artigos de luxo - e para construções como Igrejas,
tanto para aumentar poder na cidade como para caridade, era considerável. Os gastos de
consumo apresentavam características similares. Parte substancial desses gastos era
realizada no exterior, com a importação de artigos de consumo, conforme vimos. Outra
parte consistia na utilização da força de trabalho escravo para a prestação de serviços
pessoais.
Isso era possível porque os gastos que os proprietários de engenho tinham eram
praticamente nulos, já que o trabalho escravo não tinha custo monetário, produzindo o que
necessitavam para subsistência e também os insumos necessários da unidade produtiva. E
já que para qualquer quantidade produzida o custo monetário é o mesmo, convém manter a
produção sempre alta para obter o maior lucro. Portanto, a renda gerada pelas exportações
concentra-se nas mãos dos senhores, sendo o dispêndio realizado no mercado interno
menor que o valor das exportações, não havendo portanto desequilíbrio externo.

Ademais, convém ressaltar a estrutura administrativa tanto territorial, em forma de


capitanias hereditárias, quanto a política, com estruturas exportadas do reino português.
Implementado a partir de 1530, as capitanias hereditárias já haviam sido implementadas
nos territórios insulares do Atlântico. Concedia poderes senhoriais nos limites de seu
território ao beneficiário que, por sua vez, ficava obrigado a promover o povoamento, a
defesa e o desenvolvimento de atividades econômicas. No entanto, este modelo não teve
sucesso no território brasileiro, seja por poucos recursos investidos e ausência dos
donatários, seja nas dificuldades no relacionamento com os indígenas, sendo que as
capitanias que obtiveram algum êxito foram as que estabeleceram alianças com alguns
povos para impedir o ataque de outros.
A administração política foi em grande parte exportada de Portugal e só teve um
refinamento maior depois da crise do açúcar (pós 1640). Existiam estruturas próprias para a
tributação de produtos brasileiros, como as casas de alfândega que o rei justificava com a
semelhança ao dízimo da Igreja e era a fonte de renda de Portugal. Os representantes da
Monarquia eram os governadores gerais, cuja função era a de informar ao rei a respeito dos
acontecimentos para que ele pudesse arbitrar os conflitos, e os funcionários régios, que
atuavam como intermediários políticos dos governadores, pois estavam enraizados no
território colonial e possuíam conhecimento profundo de suas elites. Além disso, as
câmaras municipais regulavam a vida econômica na esfera local e funcionavam como
porta-voz das demandas das elites.
Convém também mencionar o desenvolvimento da pecuária, principalmente no
Nordeste, como uma característica, ou melhor consequência, da economia açucareira.
Segundo Celso Furtado, ao expandir-se a economia açucareira, a necessidade de animais
de tiro tendeu a crescer mais que proporcionalmente, pois a devastação das florestas
litorâneas obrigava a buscar a lenha a distâncias cada vez maiores. E foi a separação das
duas atividades econômicas - a açucareira e a criatória -que deu lugar ao surgimento de
uma economia dependente na própria região nordestina.

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