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PROTOCOLO DE ACONSELHAMENTO

ALOPECIA
ENQUADRAMENTO
Os pelos desenvolvem-se no folículo piloso a partir de células da matriz germinativa. Estas vão acumulando
filamentos de queratina até morrerem, passando a constituir a haste do filamento que se desloca para o exterior
da pele. Este crescimento ocorre de forma cíclica, o que proporciona a alternância de períodos de crescimento com
outros de repouso:
— ANAGÉNESE OU FASE DE CRESCIMENTO | Caracteriza-se por intensa atividade mitótica, com
proliferação ativa das células da matriz germinativa e crescimento contínuo do pelo; tem uma duração
média de 2 a 5 anos;
— CATAGÉNESE | Corresponde a uma paragem na atividade folicular, durante aproximadamente 3
semanas;
— TELOGÉNESE OU FASE DE REPOUSO | Etapa de total inatividade do folículo piloso, com duração de 3
a 4 meses, após a qual o pelo cai, recomeçando o ciclo.
A renovação pilosa não ocorre uniformemente em todo o corpo, já que o ritmo de atividade de cada folículo é
diferente. Por exemplo, entre os folículos do couro cabeludo existem cerca de 85% em plena fase de atividade,
enquanto 1% se encontra em fase de regressão e cerca de 14% em repouso. São estes os responsáveis pela
queda regular e diária de aproximadamente 100 cabelos, a qual atinge o seu máximo no final da primavera e do
verão.
A alopecia ocorre sempre que um grande número de folículos passa da fase crescimento à de repouso, sem que
se reinicie o ciclo; verifica-se então a perda de cabelos a um ritmo superior ao normal.
Existem diferentes tipos de queda, subdivididos em 2 grupos principais:
1. Cicatricial ou irreversível
Ocorre destruição do folículo e não há recuperação do crescimento. Inclui um grupo de condições que se
caracteriza por inflamação e subsequente destruição do folículo capilar resultando numa queda de cabelo
irreversível.
i. Congénitas;
ii. Adquiridas primárias – Este grupo inclui: Lupus eritematoso discóide (LED); Líquen Plano Papilar
(LPP); Pseudopelada de Brocq (PB); Foliculite Decalvante (FD); Foliculite Dissecante (FA);
iii. Adquiridas secundárias – Significa que a destruição folicular não é primária. Incluem-se nestas as
alopecias cicatriciais decorrentes de fatores exógenos, como queimaduras; ou endógenos, como
doenças infiltrativas ou inflamatórias (sarcoidose, pênfigo vulgar, tinha do cabelo, esclerodermia,
neoplasias entre outros).
O diagnóstico de alopecia cicatricial requer avaliação patológica. O diagnóstico precoce da alopecia
cicatricial é essencial, pois o objetivo do tratamento é retardar a progressão da doença.

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2. Alopecia não cicatricial
É reversível, uma vez que a queda de cabelo não leva à destruição do folículo piloso. Este tipo de alopecia
é mais complexa, podendo ocorrer por três mecanismos principais:
— Redução do número de folículos pilosos e consequentemente do número de cabelos;
— Eflúvio telogénico, que envolve a entrada precoce de folículos na fase telogénica do ciclo capilar;
— Eflúvio anagénico, onde ocorre o encurtamento ou paragem da fase anagénica.

i. Eflúvio telógenico agudo


É a causa mais comum da alopecia difusa não cicatricial. Ocorre um distúrbio do ciclo do cabelo, havendo
mais cabelos na fase telogénica (fase final do ciclo). Há uma perda diária excessiva de cabelos (cerca de
100-200 cabelos por dia) e pode durar até 6 meses. As causas possíveis incluem: mudança de estação,
stress, fadiga, perda de peso, pós-parto, choques emocionais, doença sistémica, cirurgia, certos
medicamentos, deficiência em Ferro e/ou Vitamina D, interrupção de contracetivos orais etc..
O fator desencadeante ocorre 3 ou 4 meses antes de se verificar a queda de cabelo.
Otratamento deve ser focado na causa e tem um bom prognóstico com recuperação do volume total do
cabelo em 1 ano.
ii. Eflúvio telógenico crónico (CTE)
É uma forma de perda de cabelo difusa que afeta todo o couro cabeludo para os quais nenhuma causa
óbvia foi encontrada. A patogénese exata não é conhecida, mas julga-se que é devido a uma redução na
duração da fase de crescimento anagénica sem miniaturização dos folículos pilosos. Geralmente afeta as
mulheres de 30 a 60 anos de idade. O CTE contrasta com o clássico eflúvio telogénico agudo pela sua
persistência e sua tendência a flutuar por um período de anos.
A perda de cabelo só é percetível para as pessoas afetadas e pessoas próximas.
Caracteriza-se pela perda de densidade capilar e é visível, por exemplo, olhando para o volume do rabo-
de-cavalo, que pode ser apenas 30-50 % do normal. O ponto positivo sobre o CTE é que não há nenhum
problema com a produção de cabelo o que significa que não ocorrerá calvície, embora o volume do cabelo
diminua bastante.
iii. Efluvio anagénico
Ocorre após qualquer choque ao folículo piloso que prejudica o ciclo mitótico ou atividade metabólica. A
perda de cabelo é geralmente o resultado de uma exposição a agentes quimioterapêuticos usados para
tratar o cancro. Este distúrbio capilar é completamente reversível e o cabelo volta a crescer naturalmente
depois de 3-6 meses após cessação da terapêutica. Os folículos capilares voltam à sua atividade normal
após poucas semanas.

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iv. Alopecia androgénica
É a forma mais comum de perda de cabelos no sexo masculino e em idade avançada, embora também
possa afetar homens jovens e mulheres. É habitualmente provocada por fatores genéticos que
determinam uma sensibilidade aumentada dos folículos pilosos à ação da dihidrotestosterona (DHT). O
estímulo proporcionado por estas hormonas acelera o ritmo de regeneração normal dos cabelos, fazendo
com que, à medida que os folículos pilosos sofram atrofia, os cabelos sejam cada vez mais finos e caiam
com maior facilidade. O principal objetivo terapêutica na AAG é evitar a progressão da perda de cabelo.
v. Alopecia areata
É uma afeção multifatorial crónica dos folículos pilosos, de etiologia desconhecida, com componentes
autoimune e genética. Nesta afeção, a queda de cabelo dá-se devido à interrupção da sua síntese, sendo
por isso reversível, pois não ocorre a destruição ou atrofia dos folículos. A doença afeta 2% da população
e apresenta uma grande heterogeneidade clínica. Podem ser observadas peladas mais ou menos bem
circunscritas, lisas de crescimento centrífugo. As formas severas englobam a perda de todo o cabelo
(alopecia areata total) ou todos os pelos do corpo (alopecia areata universal). A alopecia areata pode estar
associada a outras doenças autoimunes, tais como, doença tiróidea, doença celíaca, vitiligo e atopia.
Existem tratamentos disponíveis que podem induzir o crescimento do cabelo, mas nunca foi provado que
mudem o curso da doença. Estes incluem doses elevadas de corticosteroides por via oral, intravenosa ou
aplicação tópica sob oclusão; fotoquimioterapia, e imunoterapia tópica.
vi. Alopecia de tração
Esta condição é causada por um trauma local no folículo piloso gerado pelo uso de penteados frequentes
que fazem tração sobre o cabelo. É uma doença famosa das mulheres africanas devido ao uso frequente
de tranças “presas” ao couro cabeludo. Se for detetado cedo o cabelo irá crescer normalmente.
O tratamento envolve a modificação das técnicas de penteado ou a evicção do seu uso. A alopécia de
tração tardia é caracterizada por um decréscimo acentuado do número total de cabelos. Nestes casos,
colunas de fibrose podem substituir os folículos pilosos tornando-se numa alopecia cicatricial (não
reversível).
vii. Tricotilomania
É um transtorno crónico de controlo de impulsos caracterizado pelo puxar do próprio cabelo, resultando
numa perda de cabelo percetível. Pode gerar irritações cutâneas, infeções e lesões no local, sendo os
adolescentes e jovens adultos os principais afetados.

Para além desta segmentação, a alopecia pode ainda ser classificada em generalizada ou localizada. Como o
nome indica, a primeira caracteriza-se por uma perda difusa, embora por vezes irregular, do cabelo em toda a
cabeça. A alopecia localizada afeta apenas uma zona do couro cabeludo, normalmente de forma redonda, e tanto
a sua origem como evolução podem ser muito variadas.

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Questões a colocar ao utente para avaliação da situação

— Quando começou a queda de cabelo?


— Nota muita queda de cabelo quando penteia/lava o cabelo? Ou nota uma diminuição de volume de cabelo
quando faz um rabo-de-cavalo?
— Há algum familiar com problemas de queda de cabelo?
— Passou recentemente por alguma situação de stress ou choque emocional?
— A queda de cabelo é generalizada ou localizada?
— Costuma submeter o cabelo a tração permanente? (tranças, touca, ganchos)
— É a primeira vez que sofre de queda de cabelo?
— Está a fazer alguma medicação ou parou alguma medicação recentemente?
— Já tomou alguma medida terapêutica? Qual? Resultou? Há quanto tempo?
— Está grávida ou a amamentar?

Situações que requerem encaminhamento para nível 2 de intervenção ou


referenciação para consulta médica

— Queda de cabelo súbita e/ou generalizada cuja causa seja desconhecida ou não seja evidente;
— Queda de cabelo recorrente;
— Doente não responde à terapêutica instituída;
— Sempre que subsista a perceção que o utente se encontra perante uma situação de alopecia cicatricial, alopecia
areata ou alopecia androgénica avançada;
— Subsista a perceção do profissional de que pela intervenção prevista: o problema não se atenuará; outras
patologias associadas se possam agravar; se pode alterar negativamente a efetividade e/ou segurança da
medicação atual.

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TRATAMENTO

Cuidados Capilares

— Utilizar produtos capilares adequados ao tipo de cabelo e couro cabeludo;


— Utilizar um champô fortificante como complemento dos tratamentos anti-queda;
— Lavar o cabelo com água morna;
— Retirar o excesso de água antes de secar e usar o secador a uma distância de 15 cm e a uma
temperatura média;
— Utilizar uma escova de cerdas naturais e suaves;
— Evitar os adornos e os penteados que causem atrito ao cabelo;
— Moderar o recurso a tintas e permanentes;
— Proteger os cabelos das agressões externas (vento, sol, águas duras);
— Recomenda-se a administração de suplementos alimentares fortificantes como complemento aos
tratamentos tópicos, no mínimo durante 3 meses.

Tratamento farmacológico
.
— O tratamento da alopecia deve ser adaptado à sua origem;
— Tratamentos tópicos e orais não são recomendados no período gestacional nem durante a
amamentação;
— Os tratamentos não sujeitos a prescrição médica atuam essencialmente a 2 níveis: estimulação da
microcirculação do bolbo capilar e ativação do metabolismo celular;
— Regra geral, os tratamentos devem ser efetuados no mínimo entre 2 a 3 meses;
— O minoxidil a 5% está recomendado na alopecia androgénia masculina e feminina de, efluvios e poderá
também ter alguma resposta na alopécia areata; e minoxidil 2% está indicado como manutenção ou
perdas ligeiras de cabelo, devendo ser usado com precaução nas mulheres devido à elevada frequência
de hipertricose;
— O minoxidil não deve ser utilizado em caso de lesões no couro cabeludo, uma vez que a sua passagem
para a circulação sanguínea poderá aumentar, aumentando também a probabilidade de ocorrência de
efeitos secundários;
— Durante o tratamento com minoxidil não se deve expor o couro cabeludo ao sol, pelo que se recomenda
uso de chapéu.

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FLUXOGRAMA DE ACONSELHAMENTO

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TABELAS DE EQUIVALÊNCIAS DE PRODUTOS

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ALOPECIA LOCALIZADA ALOPECIA ALOPECIA CUIDADOS SUPLEMENTAÇÃO
NÃO CICATRICIAL REACIONAL CRÓNICA CAPILARES ORAL

Ducray Neoptide
DURAY Ducray Gel Rubefaciente Ducray Creastim Ducray Anaphase Champô Ducray Anacaps
(mulher e homem)

Klorane Sérum Fortificante


KLORANE Klorane Força tri-Activa Klorane Champô Quinina Klorane Quinoral
(spray)
Dercos Neogenic Champô
Dercos Aminexil Clinical 5 Dercos Neogenic Anti-
VICHY Dercos Champô
Mulher e Homem queda
Estimulante
La Roche Posay Kerium La Roche Posay Kerium La Roche Posay Kerium
LA ROCHE POSAY
Loção Anti-queda Loção Anti-queda Champô Anti-queda

Folstim Capilar Folstim Champô


IFC SKINCARE Folstim Capilar Cistitone Forte
Folcare (Minoxidil 50mg/mL) Fortificante
Cystiphane Cápsulas
Ecophane Champô
Chystiphane Loção Anti- Chystiphane Loção Anti- Ecophane Cápsulas
BAILLEUL-BIORGA Chystiphane Champô Anti-
Queda Queda Ecophane Pó Fortificante
Queda
Ecophane Pó Saquetas
Innéov Densilogy
GALDERMA
(mulher e homem)

EDOL Minox 5 (Minoxidil 50mg/mL) Hairlox

Holoncare Champô Anti-


HOLON CARE
queda

GENERIS Minoxidil 50mg/mL

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BIBLIOGRAFIA

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