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Universidade Federal Da Bahia: Faculdade de Direito
Universidade Federal Da Bahia: Faculdade de Direito
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
Salvador
2021
.
QUÉREN SAMAI MORAES SANTANA
Salvador
2021
SUMÁRIO
1 TÍTULO PROVISÓRIO
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3 JUSTIFICATIVA
O ensino jurídico no Brasil tem seu marco histórico inicial a partir da criação das
Faculdades de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e da Faculdade de Direito de
Olinda, em Pernambuco, no ano de 1827. À época, os professores dos cursos eram denominados
“lentes” e, em sua maioria, realizaram sua formação na Faculdade de Direito de Coimbra, na
qual também se inspiravam os currículos dos primeiros cursos jurídicos brasileiros. (ROCHA,
2015)
A construção dos cursos jurídicos sobre tais bases origina críticas sobre o perfil dos
professores de Direito desde o período monárquico, conforme explica Adorno (2019, p. 106):
As permanentes críticas dirigidas contra a má qualidade do ensino e contra a
própria habilitação do corpo docente, formuladas até mesmo por acadêmicos
que vivenciaram esse processo educativo àquela época, sugerem que a
profissionalização do bacharel se operou fora do contexto das relações
didáticas estabelecidas entre o corpo docente e o corpo discente, a despeito
das doutrinas jurídicas difundidas em sala de aula.
Diante deste contexto, o qual foi denominado como “crise do ensino do direito”
(FARIA, 1987), a Ordem de Advogados do Brasil (OAB) passou a atuar pleiteando uma
reforma na regulamentação destes cursos, fato que gerou a edição da Portaria nº 1.886/1994, a
qual substituiu o currículo mínimo antes previsto para os cursos de Direito. Dentre as principais
inovações da Portaria, tem-se a obrigatoriedade do trabalho de conclusão de curso, como um
estímulo à produção científica, sobre a qual o campo jurídico possui um déficit histórico
(NOBRE, 2009). Ademais, o marco normativo previu as atividades complementares, como
componentes curriculares obrigatórios, que objetivam a inserção dos estudantes em atividades
extracurriculares, tais como a monitoria, elencada expressamente pela Portaria (BRASIL, 1994).
A partir de então, novas mudanças ocorreram na regulamentação dos cursos, as
quais tentaram acompanhar o cenário de expansão no número de cursos e número de vagas nos
cursos de Direito no país, assim como as demandas do mercado de profissões jurídicas. Segundo
dados divulgados pela OAB, juntamente com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), no período
entre 1995 e 2017, houve um aumento de 539% na oferta de cursos jurídicos, os quais passaram
de 235 para 1.203 (ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL; FUNDAÇÃO GETÚLIO
VARGAS, 2020).
Diante deste quadro, a docência passou a ocupar lugar de destaque no mercado de
trabalho das profissões jurídicas, cuja demanda gerou, também, a expansão dos cursos de pós-
graduação. Segundo Rodrigues (2009, p. 39), “a partir da entrada em vigor da nova LDB,
ninguém poderia ter passado a exercer o magistério superior sem que possuísse, no mínimo,
curso de especialização (pós-graduação lato sensu), na modalidade acadêmico”.
O perfil dos professores de Direito no país foi traçado, em 2013, pelo Observatório
do Ensino do Direito, o qual apontou para a existência de 40.828 funções docentes, compostas,
majoritariamente, por homens (62%), brancos (78%), que possuem o título de mestre (45%).
Quanto ao regime de trabalho, 6% das funções docentes dedicavam-se exclusivamente e em
tempo integral à docência, 28% encontravam-se vinculados à IES em tempo integral, porém
sem dedicação exclusiva, 34% em regime parcial e 32% eram horistas. (GHIRARDI et al., 2013)
Contudo, a despeito das mudanças na regulamentação do ensino jurídico no país, o
problema do perfil do corpo docente continua em destaque. Este fato pode estar relacionado à
ausência de formação pedagógica dos professores de Direito do país, visto que “os professores
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dos cursos de Direito, em sua maioria, não têm formação pedagógica antes de iniciarem a
docência. Adentram a sala de aula sem saber o que a docência exige, baseando-se apenas na
vivência como alunos.” (OLIVEIRA, 2010, p. 65)
Tem-se, no senso comum, a ideia de que para o exercício para o exercício da
docência, basta o domínio do conteúdo a ser abordado. No entanto, a docência é uma profissão
complexa e, “mais do que conhecer o conteúdo específico de uma determinada área, deve-se
saber como utilizá-lo, com quem, para quem, pois o professor ‘além dos saberes a ensinar,
necessita dominar saberes para ensinar’ (RIOS, 2006, p. 90)”. (OLIVEIRA, 2010)
Nesse sentido, ao analisar as formas de lidar com o conhecimento pelos professores,
Batista e Batista (2002, p. 191) apontam que:
O destaque dado por esses autores ao processo de constituir-se professor numa
relação íntima com os conteúdos específicos de uma dada área favorece a
visualização de que a discussão e o estudo sobre o aprender e o ensinar têm
sido secundarizados pelos professores universitários. Essa secundarização
pode acabar comprometendo a relação com os processos de aprendizagem e
desenvolvimento dos alunos, assim como afastando o docente da reflexão
sistemática sobre o que sustenta, do ponto de vista pedagógico, suas ações
educativas.
objetivar a reunião de informações acadêmicas, apontou que 64% dos docentes com currículos
disponíveis na plataforma indicam o exercício de outra profissão, além da docência
universitária. Além disso, 34% destes professores priorizam o exercício desta outra profissão
na descrição do mesmo.1
Nesse contexto, os programas de iniciação à docência em Direito revelam-se
potenciais espaços de enfrentamento aos atuais desafios do ensino jurídico, pois traduzem-se
em espaços de prática jurídica, rompendo com a ausência de espaços de formação profissional
docente nos cursos de Direito. Ademais, a construção coletiva de experiências pedagógicas
permite aos sujeitos em formação o desenvolvimento de relações “com o mundo do trabalho,
com o jargão utilizado, com as práticas profissionais e com a linguagem específica de um campo
de atuação”. (SILVEIRA, 2015, p. 361)
Com relação ao estágio docente, Oliveira (2010) afirma que este espaço consiste
em um importante momento da trajetória formativa dos professores, pois a partir desta
experiência, o estudante aprende a lidar com situações inesperadas e a refletir sobre a sua
própria ação. Já Alves et al. (2019, p. 04) assevera que, durante a participação no programa,
o pós-graduando pode assumir um papel importante de mediador entre os
alunos de graduação e o docente supervisor, na medida em que contribui com
um olhar crítico frente às situações que sucedem ao longo da disciplina, tanto
na perspectiva de desenvolvimento das atividades discentes quanto da
proposta de trabalho/enfoque do docente.
1
A análise foi elaborada através de levantamento realizado em 05 de agosto de 2020, com busca nominal na
plataforma Lattes (CNPQ, 2020) dos docentes listados pela Coordenação de Gestão de Pessoas da UFBA (UFBA,
2020). Dentre os 112 docentes apresentados pela IES, foram localizados currículos de 109 professores.
10
construir reflexões sobre essas práticas e os saberes que as fundamentam” (SILVEIRA, 2015,
p. 363).
Trata-se da formação de profissionais que participarão ativamente da formação da
futura geração de juristas, os quais ocupam importantes espaços de decisão em todo o país.
Portanto, a formação destes profissionais deve abranger elementos didáticos, profissionais,
político-administrativos e humanísticos, e não apenas do domínio sobre um determinado ramo
jurídico, como aponta a atual formação no âmbito dos cursos de pós-graduação.
Ademais, nota-se a necessidade de formação de profissionais que valorizem o
protagonismo estudantil e que estejam engajados com o rompimento das práticas tradicionais
de ensino, estando aptos a participar do processo de ensino-aprendizagem junto ao novo perfil
dos estudantes das Faculdades de Direito no país.
4 OBJETIVOS
Por fim, a fim de aprofundar aspectos investigados por meio da aplicação dos
questionários, serão realizadas entrevistas com até 05 (cinco) docentes que estejam participando,
simultaneamente, dos programas de tirocínio docente e monitoria. A escolha dos docentes
entrevistados irá considerar o tempo de vínculo do docente com a Universidade, bem como a
disponibilidade do mesmo.
6 ÍNDICE PROVISÓRIO
1 INTRODUÇÃO
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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7 CRONOGRAMA
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Revisão bibliográfica
Levantamento dos
dados sobre o semestre
2022.1
Levantamento dos
planos de ensino-
aprendizagem
Elaboração do
questionário
Aplicação dos
questionários
Realização das
entrevistas
Discussão e análise
dos dados
Redação do Capítulo 2
Redação do Capítulo 3
Redação do Capítulo 4
Redação da Introdução
e Conclusão
Revisão e formatação
Apresentação e
depósito
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17
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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18
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