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Aluna do mestrado em Serviço Social pelo programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
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Assistente Social do Centro Dia de Referência para Pessoa com Deficiência, mestranda do Programa de Pós-graduação em
Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa -
Trabalho, Ética e Direitos (GEPTED/UFRN), vinculado ao PPGSS/UFRN.
ABSTRACT
RESUMO
O presente trabalho tem como proposta trazer um The present paper aims to bring a debate about the
debate acerca da crescente desresponsabilização por increasing lack of responsibility on the part of the
parte do Estado com as políticas de proteção social, State with social protection policies, with emphasis
dando ênfase para as políticas que envolvem a on the policies that involve the family institution.
instituição familiar. Inicialmente o texto aponta Initially, the text points to reflections on the changes
reflexões sobre as modificações ocorridas no mundo that have occurred in the world of work in the
do trabalho na contemporaneidade tendo em vista a contemporary world in view of the crisis of capital
crise do capital e a entrada do capital financeiro and the entry of financial capital orchestrated by the
orquestrado pelos ideários neoliberais que neo-liberal ideals that have repercussions up to the
repercutem até os dias atuais na dinâmica da vivência present day in the dynamics of the experience of
da sociedade de modo geral e particular. Logo após, é society in a general and particular way. Soon after,
trazido alguns apontamentos no que concerne a some notes are made regarding the reality of the
realidade da classe trabalhadora e sua vivência working class and their family experience inserted in
familiar inserida nessas modificações do mundo do these modifications of the world of work and how it
trabalho e como isso a atinge. Ressaltando também, a reaches it. It also underscores the visibility given to
visibilidade que é dada a essas famílias – que são these families - who are placed as the main
colocadas como principais responsáveis pelo bem responsibility for the well-being of individuals - by
estar dos indivíduos - por parte das políticas sociais social policies with the increasing entrance of private
com a entrada cada vez maior da iniciativa privada e and third sector to respond to the demands of these
terceiro setor para responder às demandas advindas families. Finally, we will present some conclusive
dessas famílias. Por fim, serão apresentadas algumas approximations, systematizations reflected and
aproximações conclusivas, sistematizações refletidas deepened in this work.
e aprofundadas neste trabalho.
1 INTRODUÇÃO
E
ste estudo tem como finalidade trazer para o centro da análise a discussão da
crescente desresponsabilização por parte do Estado com as políticas de proteção
social, dando ênfase para as políticas que envolvem as famílias.
Logo, na primeira parte, o texto aponta reflexões sobre as modificações ocorridas
no mundo do trabalho na contemporaneidade, tendo em vista a crise estrutural do capital e 75
a entrada do capital financeiro orquestrado pelos ideários neoliberais que repercutem até a
presente conjuntura na dinâmica da vivência da sociedade. Também são trazidas reflexões
acerca da classe trabalhadora, a partir da premissa que é esta quem sofre as consequências
mais drásticas da crise capitalista e, consequentemente, o âmbito familiar, lugar onde as
mesmas estão inseridas e que retrata as modificações do mundo do trabalho.
Em seguida, a discussão que norteia esse debate dá visibilidade às famílias,
trazendo a crítica sobre a precariedade do sistema de proteção social e a
desresponsabilização do Estado, nos quais, colocam as famílias, sobretudo as mulheres,
como principais responsáveis pelo bem estar dos indivíduos, por parte das políticas sociais,
com a entrada cada vez maior da iniciativa privada e o terceiro setor para responder às
demandas advindas destas.
Por fim, serão apresentadas algumas aproximações conclusivas, com
sistematizações refletidas e aprofundadas neste trabalho, que teve como metodologia a
revisão bibliográfica e o resultado das discussões realizadas no decorrer do curso de
Mestrado em Serviço Social do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Rio Grande do Norte (UFRN), a qual se deu por um
ensaio teórico através das discussões realizadas e vivenciadas em sala de aula (onde os
discentes, a partir de leituras indicadas pelos docentes, apresentavam suas reflexões para os
demais, assim como as intervenções proferidas pelos docentes acerca dos temas proposto
para debate). Sendo desenvolvida a partir dessa vivência sistematizações dos conteúdos
explanados, numa perspectiva de crítica ao sistema capitalista e em defesa da classe
trabalhadora, sobretudo, das que necessitam das políticas de proteção social para
sobrevivência.
3
“A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na
sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado.” (IAMAMOTO, 2002, p. 26).
violência ampliada incontrolada pelo Estado, onde se faz presente o tráfico de drogas, o
tráfico humano, os homicídios e os latrocínios.
Tem-se um cenário brasileiro articulado a uma hegemonia do capital financeiro, em
que a regulação do Estado para com a sociedade é substituído pelo mercado, em que a
burguesia busca a superação do antagonismo entre os distintos projetos de classe (burguesa
e trabalhadora). O Estado passa de protagonista de obtenção da reprodução do capital para
simples regulador da economia, entrando em uma lógica de garantir o mínimo das políticas 77
públicas, deixando a sociedade – principalmente a população que se encontra em maior
estado de vulnerabilidade social – em condições precárias por não ter acesso ou acesso
precário ao que deveria ser garantido enquanto direito: saúde, educação, moradia,
segurança, lazer (SANTOS, 2007).
Tais transformações repercutem incisivamente nas decisões e atitudes dos
indivíduos, uma vez que é passada a falsa ideia da superação dos projetos classistas, sendo
enaltecida a perspectiva de um pensamento universal em relação à realidade social. O que
nada mais é do que a busca pelo conformismo da desigualdade, da precarização do trabalho,
da minimização das lutas de classe, da interrupção pela busca de direitos.
Em consonância com Simionato (2009, p.12), “esse discurso genérico tem efeito
imediato no campo prático-operativo”, tendo em vista que as ações desenvolvidas para a
saída da crise perpassam todas as classes o que beneficia toda sociedade. Porém, em termos
políticos, tal estratégia favorece o que Simionato (2012) vai chamar de “subalternidade das
demais camadas de classe”, o que dificulta a possibilidade de as mesmas se articularem na
luta anticapitalista em defesa de seus interesses. Produzindo assim uma cultura de
“passividade” e de “conformismo”, que afeta o cotidiano das classes que vivem do trabalho
(SIMIONATO, 2009).
Na particularidade da sociedade brasileira na contemporaneidade, os indivíduos
vivenciam mudanças com o advento da chamada “pós-modernidade” decorrente das crises
contemporâneas, em seus mecanismos de enfrentamentos que viabilizaram inovações
tecnológicas, revolucionaram as tecnologias informacionais, requalificaram a força de
trabalho e provocaram a multifuncionalidade, implicando intensificação do ritmo de
trabalho, flexibilização e aumento da produtividade, conforme demanda do mercado.
o Estado se afasta das responsabilidades anteriormente respondidas por ele deixando e/ou
responsabilizando a instituição familiar de assumir tal função. Essa resposta por parte da
família é visivelmente complicada quando se pensa, por exemplo, nas condições objetivas
nas quais estão inseridas, principalmente quando se trata da família da classe trabalhadora
(SANTOS, 2008).
É imperioso desmistificar o papel do Estado, tendo em vista sua forma ampliada,
comportando duas esferas principais: a sociedade política e a sociedade civil. A primeira, de 79
maneira geral, é composta pelos detentores do monopólio, trata-se do lugar da repressão e
da violência é o que Gramsci vai chamar de “aparelhos repressivos”, enquanto a segunda, se
refere ao conjunto de organizações responsáveis pela elaboração e/ou difusão das
ideologias, que são os chamados “aparelhos privados de hegemonia” (COUTINHO, 1992).
Assim, compreender as mediações do Estado em face das múltiplas expressões da questão
social em tempos de crise capitalista em sua fase neoliberal, torna-se fundamental para
apreensão do desmembramento das políticas públicas no âmbito da sociabilidade
capitalista.
No capitalismo em sua fase monopolista, nas democracias avançadas, o Estado
passou a desempenhar papel de regulador da economia e da sociedade, sendo este a
principal fonte de financiamento do bem-estar-social4. Tal período (1940-1950) foi marcado
pelas concepções de John Maynard Keynes e William Beveridge que tinha como
recomendações e intentos, medidas como: compromisso com o pleno emprego; introdução
e ampliação de uma série de serviços sociais de caráter universal; e estabelecimento de uma
rede de segurança que garantisse padrões de vida dignos. (PEREIRA e STEIN, 2008).
Ora, a política social, nesse contexto, ultrapassou a tradicional preocupação com o controle
da indigência e manutenção da ordem pública e se associou ao conjunto de direitos e
deveres (PEREIRA e STEIN, 2008). Então se, nesse período, o Estado Social foi um mediador
ativo na regulação das relações capitalistas, a década de 1970 marca o avanço das ideias
neoliberais5, que ganham terreno com a crise capitalista de 1969-1973.
4
Tendo em vista os limites deste ensaio, para aprofundamento da discussão acerca do Estado de bem-estar-
social sugerimos BEHRING, E; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006.
5
Em consonância com Anderson (2003) o neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da
Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo, tratava-se de uma reação teórica e política
veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar, porém, foi a partir da crise de 1969-1973 que as
ideias neoliberais ganharam terreno.
Sabe-se que as crises são inerentes ao sistema capitalista, mas, conforme salienta
Anderson (2008), a chegada da grande crise do modelo econômico do pós-guerra acarretou
numa longa e profunda resseção do capitalismo avançado, “combinando, pela primeira vez,
baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação” (ANDERSON, 2003, p.10).
Perry Anderson ressalta também que para os idealistas do neoliberalismo, como
Friedrich Hayek, as raízes da crise estavam localizadas no poder excessivo do movimento
80 operário, que através dos sindicatos corroíam as bases de acumulação capitalista com suas
fortes reivindicações para intervenção do Estado no que se refere aos gastos sociais.
82 fragmentação dos grupos, sendo distanciado o entendimento que a luta é da classe por
inteira e não apenas de segmentos.
Pode-se afirmar, portanto, que todos os seres humanos vivem atualmente uma
crise devastadora que atinge todas as extensões da vida. Nisso TONET (2009, p. 03) faz a
seguinte reflexão:
e tráfico humano; pela exploração sexual e o trabalho infantil; pelo trabalho feminino
precarizado; pela responsabilidade privada no cuidado de idosos, doentes, pessoas com
deficiência, crianças e adolescentes; pela competitividade e individualismo nas relações
pessoais; pelo desemprego estrutural e subemprego, entre outras.
Diante desta realidade, mulheres e homens chefes de famílias, em face à satisfação
das necessidades e reprodução da família vivenciam um processo de negação e/ou de difícil
acesso aos bens materiais e culturais indispensáveis à conservação da integridade física, 83
moral, social e cultural dos membros de sua família, na condição de família trabalhadora. Em
função da subsunção do trabalho ao capital, os direitos trabalhistas estão ameaçados.
Amplia-se a desigualdade entre as classes, ao mesmo tempo em que fomenta a competição,
o individualismo em uma dinâmica de compra e venda incessante de mercadorias, e, sendo a
própria força de trabalho uma mercadoria em que precisa ser vendida no mundo do
trabalho formal.
Em face da crise estrutural do emprego, na particularidade da sociedade brasileira,
a família trabalhadora, para sua reprodução, conforme Santos (2007); submetem-se a
subcontratações e a trabalhos precarizados, chegando a condições desumanas no que se
refere, por exemplo, a insalubridade. Há juntamente a essa crescente perspectiva a sucção
da força de trabalho feminino e a ampliação das contratações dos trabalhadores pelos
setores de serviço em detrimento da redução do trabalhador fabril.
Sobre esta realidade, no Brasil, após o Golpe de Estado que culminou no atual
Governo Temer, a restrição e retirada dos direitos da classe trabalhadora, atende os anseios
da classe dominante. Nesse contexto, um dos aspectos que vem atingindo diretamente os
trabalhadores brasileiros é a reforma da Lei Trabalhista, proferida no ano de 2017, que
altera alguns direitos alcançados a partir da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Nesse
sentido, cabe destacar algumas alterações: em relação a equiparação salarial que antes tinha
como requisito a mesma localidade e após a reforma essa passou a ser feita a partir do
mesmo estabelecimento empresarial. A demissão em massa não precisa mais da
concordância do sindicato, a mesma poderá ser feita diretamente pela empresa. Em relação
à demissão voluntária, aqueles que aderirem a tal plano não poderão reivindicar direitos que
entendam violados durante o período em que esteve trabalhando. Há também a
possiblidade na demissão de um empregado, o recebimento de metade do aviso prévio
dessas politicas, atinge dentre outros segmentos da sociedade, a família. Esta passa a ser
afetada por não ter nenhum ou precário aparato dado pelo Estado e se configura
atualmente como instituição responsável pela integridade do indivíduo que dela fazem
parte.
a distinção entre famílias capazes e famílias incapazes6. Que são até os dias atuais bastante
utilizados pelo senso comum e pela formulação de políticas sociais.
Entendida como uma organização apartada da esfera pública, a família, só ganha
visibilidade por parte do Estado e através das políticas sociais, quando a mesma sai do
padrão adotado como correto, se tornando no entendimento dessa perspectiva, uma família
incapaz. Nota-se, portanto, que a família em que possui algum de seus membros com
86 alguma fragilidade e/ou incapacidade ganha maior visibilidade por seu “fracasso” em relação
as suas funções. Sendo assim, configura- se os serviços voltados para os problemas pontuais
apresentados pelas famílias, deixando em segundo plano a apreensão acerca do problema
como todo. A rigidez de se analisar uma demanda na sua profundidade vai perdendo o lugar
para a resolução de problemas individuais. Sobre tal perspectiva, Mioto (2010, p. 55) aponta:
6
Na categoria das capazes incluem-se aquelas que, via mercado, trabalho e organização interna, conseguem
desempenhar com êxito as funções que lhes são atribuídas pela sociedade. Na categoria de incapazes
estariam aquelas que, não conseguindo atender às expectativas sociais relacionadas ao desempenho das
funções atribuídas, requerem a interferência externa, a princípio do Estado, para a proteção de seus
membros. Ou seja, são merecedoras da ajuda pública as famílias que falharam na responsabilidade do
cuidado e proteção de seus membros (MIOTO, 2010, p. 51).
(...) o uso dos serviços requer das famílias a organização de seu tempo e de
seus recursos. Assim, o funcionamento dos serviços e as propostas sobre as
possíveis mudanças na qualidade da atenção, repousam em grande parte
nas relações com a família, trazendo, de quebra, juízos sobre o seu
funcionamento. Assim, os serviços se colocam frente às famílias. Aquelas
que acolhem e oferecem sustentação aos seus doentes e entram nos
serviços para humaniza-los, são as conhecidas como boas famílias. Aquelas
que delegam seus membros necessitados aos serviços e se furtam de sua
presença e de seus cuidados são tidas como más famílias (MIOTO, 2015,
p.152).
A conjuntura atual de abandono e sofrimento de milhares de crianças e
adolescentes em contingência mundial tem colocado em pauta o debate sobre a
importância da família no âmbito da vida social. Sua importância é enaltecida através dos
programas designados de orientação e apoio sociofamiliar e no Brasil tais programas se
expandiram no final da década de 1990 (MIOTO, 2010). Configuram-se enquanto programas
de apoio sociofamiliar, no entanto não têm tido uma preocupação em aprofundar o debate
e entendimento sobre o que de fato está sendo executado, sendo eles implementados de
acordo com a verba que lhes são chegadas.
Nesse sentido, cabe também refletir sobre a relação estabelecida entre Estado e
família na contemporaneidade. De acordo com Mioto (2010), tal relação não pode ser
interpretada apenas como uma separação de esferas, mas como uma relação que apresenta
até os dias atuais, conflitos e contradições.
88 solidifica numa lógica de que é a família a unidade responsável pelos seus membros e a
interferência do Estado sob a forma de ajuda pública deve ocorrer caso a família não
apresente poder de compra no mercado.
Seriam, portanto, as políticas sociais um recurso primordial para a sociedade (para a
família) no sentido de responder e suprir a característica do funcionamento do mercado que
segrega os indivíduos na sociedade. Dessa maneira, não seria o Estado um aparato apenas
da garantia de direitos individuais, mas também do coletivo.
Importante também salientar a contradição e as diversas formas de intervenção do
Estado na família. Não se trata de uma intervenção homogênea, do contrário, o que se
observa é uma grande heterogeneidade de intervenções. Ora, “ (...) ao mesmo tempo que
defende as crianças da violência doméstica, impõe à família normas socialmente definidas”
(MIOTO, 2010, p. 50). Agindo dessa maneira, o Estado se coloca como controlador das ações
da família, podendo descuidar dos direitos individuais.
Essa conjuntura leva a permeabilidade dos limites das famílias indicada por Mioto
(2010), em que as mesmas permitem a interferência do Estado e de seus representantes.
Feito isso, se constrói uma contradição entre o direito à privacidade e o direito à proteção;
em que esta permeabilidade é crescente de acordo com a vulnerabilidade social em que se
encontra a família. Ou seja, quanto mais empobrecida for esta instituição e com maiores
carências em relação aos seus direitos, maior a probabilidade da interferência estatal.
4. APROXIMAÇÕES CONCLUSIVAS
universal e gratuito (saúde e educação, por exemplo), ficam à mercê de serviços precários
oferecidos pelo poder público.
Diante das reflexões trazidas nesse estudo, pode-se afirmar o alto grau de cobrança
feito às famílias no que concernem os serviços das políticas sociais. Uma realidade que se
torna mais latente se for colocada em pauta o aspecto saúde/doença de um membro da
família. Neste contexto, a família, de acordo com a situação em que possa se encontrar
outro membro, é taxada e cobrada pelo Estado e pela sociedade como principal responsável 93
pela doença acometida ou caso contrário pela ausência dela, neste último caso, a família é
considerada como cuidadora e como exemplo a ser seguido pelas demais.
Dentro dessas interpretações feitas no âmbito geral da sociedade no senso comum
e como estratégias das políticas sociais no sentido de transferir para os familiares, maior
parte da responsabilidade, coloca-se em segundo plano a necessidade de respaldar tais
famílias para que as mesmas consigam responder tais demandas que lhes são impostas. Não
podendo deixar de mencionar as particularidades das famílias que fazem parte das camadas
mais empobrecidas da sociedade e que estão em condição mais vulnerabilizada em diversos
aspectos, inclusive ao acesso a direitos e proteção social.
Inserida nessa lógica de transferência de responsabilidades, encontra-se a família,
que é invocada pelo Estado e pela própria sociedade como principal instituição responsável
pelo bem estar dos indivíduos que dela fazem parte. Não sendo, por assim dizer, respaldadas
para que exerçam tal papel. Do contrário, o que se observa é um gradativo esquecimento de
políticas que envolvam e apreendam a família em suas particularidades e diferenças.
Sofrendo os principais rebatimentos dessa lógica perversa, aquelas famílias que se
encontram em maior estado de vulnerabilidade social por não apresentarem, como dito
anteriormente, poder de compra.
REFERÊNCIAS
BEHRING, E; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006.
CAMPOS, M. S. O casamento da política social com a família: feliz ou infeliz? In: FAMIISMO,
DIREITOS E CIDADANIA: contradições da política social / Regina Célia Tamaso Mioto, Marta
94 Silva Campos, Cássia Maria Carloto, (orgs). – São Paulo: Cortez, 2015.
FONTES, Virginia. Que hegemonia? Peripécias de um conceito no Brasil. In: Reflexões Im-
pertinentes: história e capitalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2005. (p. 201-
232).
MASCARO, Alysson Leandro. Estado e Forma Política. São Paulo: Boitempo, 2013.
PEREIRA, P. Estado, Sociedade e Esfera Pública. In: CFESS/ABEPSS. Serviço Social: direitos e
competências profissionais. Brasília,2009.
PEREIRA, Potyara Amazoneida; STEIN, Rosa Helena. Política social: universalidade versus
focalização. Um olhar sobre a América Latina. In: BOSCHETTI, Ivanete; BEHRING, Elaine
Rossetti; SANTOS, Silvana Mara de Morais; MIOTO, Regina Célia Tamaso (Orgs). Capitalismo
em crise: política social e direitos. São Paulo: Cortez, 2008.
TONET, Ivo. Expressões socioculturais da crise capitalista na atualidade. In: Revista Serviço
Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais - Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.