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REVISTA INTERFACE

V.14 Nº 1 - Janeiro a Junho de 2017|ISSN 2237-7506

O AFASTAMENTO DO ESTADO COM AS POLÍTICAS DE


PROTEÇÃO SOCIAL E A INVOCAÇÃO DO CUIDADO FAMILIAR
NESSE CONTEXTO
THE REMOVAL OF THE STATE WITH SOCIAL PROTECTION
POLICIES AND THE INVOCATION OF FAMILY CARE IN THAT
CONTEXT
Gleyca Thyês da Silva Romeiro Rocha1
Samya Katiane Martins Pinheiro2

1
Aluna do mestrado em Serviço Social pelo programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
2
Assistente Social do Centro Dia de Referência para Pessoa com Deficiência, mestranda do Programa de Pós-graduação em
Serviço Social (PPGSS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa -
Trabalho, Ética e Direitos (GEPTED/UFRN), vinculado ao PPGSS/UFRN.

ISSN 2237-7506 INTERFACE – Natal/RN – v.14 nº 1 | Janeiro a Junho 2017


REVISTA INTERFACE
V.14 Nº 1 - Janeiro a Junho de 2017|ISSN 2237-7506

O AFASTAMENTO DO ESTADO COM AS POLÍTICAS DE


PROTEÇÃO SOCIAL E A INVOCAÇÃO DO CUIDADO FAMILIAR
NESSE CONTEXTO
THE REMOVAL OF THE STATE WITH SOCIAL PROTECTION
POLICIES AND THE INVOCATION OF FAMILY CARE IN THAT
CONTEXT

ABSTRACT
RESUMO
O presente trabalho tem como proposta trazer um The present paper aims to bring a debate about the
debate acerca da crescente desresponsabilização por increasing lack of responsibility on the part of the
parte do Estado com as políticas de proteção social, State with social protection policies, with emphasis
dando ênfase para as políticas que envolvem a on the policies that involve the family institution.
instituição familiar. Inicialmente o texto aponta Initially, the text points to reflections on the changes
reflexões sobre as modificações ocorridas no mundo that have occurred in the world of work in the
do trabalho na contemporaneidade tendo em vista a contemporary world in view of the crisis of capital
crise do capital e a entrada do capital financeiro and the entry of financial capital orchestrated by the
orquestrado pelos ideários neoliberais que neo-liberal ideals that have repercussions up to the
repercutem até os dias atuais na dinâmica da vivência present day in the dynamics of the experience of
da sociedade de modo geral e particular. Logo após, é society in a general and particular way. Soon after,
trazido alguns apontamentos no que concerne a some notes are made regarding the reality of the
realidade da classe trabalhadora e sua vivência working class and their family experience inserted in
familiar inserida nessas modificações do mundo do these modifications of the world of work and how it
trabalho e como isso a atinge. Ressaltando também, a reaches it. It also underscores the visibility given to
visibilidade que é dada a essas famílias – que são these families - who are placed as the main
colocadas como principais responsáveis pelo bem responsibility for the well-being of individuals - by
estar dos indivíduos - por parte das políticas sociais social policies with the increasing entrance of private
com a entrada cada vez maior da iniciativa privada e and third sector to respond to the demands of these
terceiro setor para responder às demandas advindas families. Finally, we will present some conclusive
dessas famílias. Por fim, serão apresentadas algumas approximations, systematizations reflected and
aproximações conclusivas, sistematizações refletidas deepened in this work.
e aprofundadas neste trabalho.

Palavras-chave: Proteção social; Família; Keywords: Social protection; Family; Disclaimer of


Desresponsabilização do Estado. the State.

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Gleyca Thyês da Silva Romeiro Rocha e Samya Katiane Martins Pinheiro

1 INTRODUÇÃO

E
ste estudo tem como finalidade trazer para o centro da análise a discussão da
crescente desresponsabilização por parte do Estado com as políticas de proteção
social, dando ênfase para as políticas que envolvem as famílias.
Logo, na primeira parte, o texto aponta reflexões sobre as modificações ocorridas
no mundo do trabalho na contemporaneidade, tendo em vista a crise estrutural do capital e 75
a entrada do capital financeiro orquestrado pelos ideários neoliberais que repercutem até a
presente conjuntura na dinâmica da vivência da sociedade. Também são trazidas reflexões
acerca da classe trabalhadora, a partir da premissa que é esta quem sofre as consequências
mais drásticas da crise capitalista e, consequentemente, o âmbito familiar, lugar onde as
mesmas estão inseridas e que retrata as modificações do mundo do trabalho.
Em seguida, a discussão que norteia esse debate dá visibilidade às famílias,
trazendo a crítica sobre a precariedade do sistema de proteção social e a
desresponsabilização do Estado, nos quais, colocam as famílias, sobretudo as mulheres,
como principais responsáveis pelo bem estar dos indivíduos, por parte das políticas sociais,
com a entrada cada vez maior da iniciativa privada e o terceiro setor para responder às
demandas advindas destas.
Por fim, serão apresentadas algumas aproximações conclusivas, com
sistematizações refletidas e aprofundadas neste trabalho, que teve como metodologia a
revisão bibliográfica e o resultado das discussões realizadas no decorrer do curso de
Mestrado em Serviço Social do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da
Universidade Federal do Rio Grande do Rio Grande do Norte (UFRN), a qual se deu por um
ensaio teórico através das discussões realizadas e vivenciadas em sala de aula (onde os
discentes, a partir de leituras indicadas pelos docentes, apresentavam suas reflexões para os
demais, assim como as intervenções proferidas pelos docentes acerca dos temas proposto
para debate). Sendo desenvolvida a partir dessa vivência sistematizações dos conteúdos
explanados, numa perspectiva de crítica ao sistema capitalista e em defesa da classe
trabalhadora, sobretudo, das que necessitam das políticas de proteção social para
sobrevivência.

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O AFASTAMENTO DO ESTADO COM AS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL E A INVOCAÇÃO DO
CUIDADO FAMILIAR NESSE CONTEXTO

2. O AFASTAMENTO DO ESTADO COM AS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL E A INVOCAÇÃO


DO CUIDADO FAMILIAR NESSE CONTEXTO

No mundo contemporâneo, na particularidade do solo histórico brasileiro, as


transformações societárias atingem os mais diversos âmbitos da vida dos indivíduos no
contexto da sociedade. São transformações que vêm estabelecendo uma nova organização
no mundo do trabalho expressa numa reestruturação de novas relações no processo
76
produtivo, construída dentro de uma nova ordem mundial, sob a hegemonia do capital
financeiro, pautada no ideário neoliberal, mecanismos utilizados como enfrentamentos a
crise do capital estrutural iniciada na década de setenta do século XX, nos países cêntricos,
atingindo os países periféricos, no caso o Brasil, entre a segunda metade da década de
oitenta e a década de noventa do século XX até a atualidade. Tenha-se presente que a
modernização tecnológica na nova sociabilidade capitalista - principalmente no tocante ao
desenvolvimento das forças produtivas -, ocorre em razão da introdução da automação, da
telemática, da robótica e da microeletrônica, quando o modelo fordista/taylorista cede lugar
a acumulação flexível ou toyotismo (ALVES, ANTUNES, 2004).
Inerente a essa revolução técnico-científica, a modernização tecnológica mudou
substantivamente a lógica da globalização capitalista em face da globalização do mundo do
trabalho. Decorrente dessa modernização tecnológica, que implica uma nova forma de
organização do processo produtivo, constatam-se mudanças na organização dos processos
de trabalho, bem como o agravamento da questão social3 e suas novas expressões no
contexto sócio histórico brasileiro a partir da década de noventa do século XX e vem se
acirrando no início do século XXI.
Expressões identificadas na desregulamentação e flexibilização das relações de
trabalho, na precarização do trabalho, na terceirização, na ampliação do desemprego
estrutural, na informalidade, no subemprego, no trabalho temporário e nas diversas formas
que caracterizam o aumento da exploração e autoexploração do trabalho; além do
agravamento da pobreza revelado pelo aumento progressivo da desigualdade social, da

3
“A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na
sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado.” (IAMAMOTO, 2002, p. 26).

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violência ampliada incontrolada pelo Estado, onde se faz presente o tráfico de drogas, o
tráfico humano, os homicídios e os latrocínios.
Tem-se um cenário brasileiro articulado a uma hegemonia do capital financeiro, em
que a regulação do Estado para com a sociedade é substituído pelo mercado, em que a
burguesia busca a superação do antagonismo entre os distintos projetos de classe (burguesa
e trabalhadora). O Estado passa de protagonista de obtenção da reprodução do capital para
simples regulador da economia, entrando em uma lógica de garantir o mínimo das políticas 77
públicas, deixando a sociedade – principalmente a população que se encontra em maior
estado de vulnerabilidade social – em condições precárias por não ter acesso ou acesso
precário ao que deveria ser garantido enquanto direito: saúde, educação, moradia,
segurança, lazer (SANTOS, 2007).
Tais transformações repercutem incisivamente nas decisões e atitudes dos
indivíduos, uma vez que é passada a falsa ideia da superação dos projetos classistas, sendo
enaltecida a perspectiva de um pensamento universal em relação à realidade social. O que
nada mais é do que a busca pelo conformismo da desigualdade, da precarização do trabalho,
da minimização das lutas de classe, da interrupção pela busca de direitos.
Em consonância com Simionato (2009, p.12), “esse discurso genérico tem efeito
imediato no campo prático-operativo”, tendo em vista que as ações desenvolvidas para a
saída da crise perpassam todas as classes o que beneficia toda sociedade. Porém, em termos
políticos, tal estratégia favorece o que Simionato (2012) vai chamar de “subalternidade das
demais camadas de classe”, o que dificulta a possibilidade de as mesmas se articularem na
luta anticapitalista em defesa de seus interesses. Produzindo assim uma cultura de
“passividade” e de “conformismo”, que afeta o cotidiano das classes que vivem do trabalho
(SIMIONATO, 2009).
Na particularidade da sociedade brasileira na contemporaneidade, os indivíduos
vivenciam mudanças com o advento da chamada “pós-modernidade” decorrente das crises
contemporâneas, em seus mecanismos de enfrentamentos que viabilizaram inovações
tecnológicas, revolucionaram as tecnologias informacionais, requalificaram a força de
trabalho e provocaram a multifuncionalidade, implicando intensificação do ritmo de
trabalho, flexibilização e aumento da produtividade, conforme demanda do mercado.

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CUIDADO FAMILIAR NESSE CONTEXTO

Segundo Alves; Antunes (2004), as crises e inconstâncias do capital acarretaram e


acarretam mutações no mundo do trabalho, as quais repercutiram e repercutem
diretamente e de maneira mais incisiva no modo de vida da classe trabalhadora. Esta que
absorve todos os indivíduos que vendem sua força de trabalho e que não possuem os meios
de produção.
Surgem, portanto, de acordo com Alves; Antunes (2004), algumas tendências atuais

78 no mundo do trabalho expressas no crescimento do trabalho informal, na terceirização e nos


subcontratos temporário daqueles trabalhadores que não se enquadram na perspectiva de
polivalência exigida pelo mercado de trabalho; na exclusão dos idosos no mercado de
trabalho que não mais possuem habilidades e capacidades úteis ao capital e; ainda, àqueles
que trazem como herança a perspectiva fordista de especialização, substituídos agora pelos
trabalhadores da era toyotista ancorados na lógica da polivalência e multifuncionalidade; na
“precarização da mão de obra feminina”; na “expansão dos assalariados médios” no “setor
de serviços”; na “expansão do trabalho em domicílio”; na “transnacionalização do capital e
de seu sistema produtivo”; na exclusão ou inclusão perversa dos jovens no mercado de
trabalho informal, com subcontratos, terceirizados - têm-se os chamados “bicos”.
Enquanto classe trabalhadora e suas modificações no mundo do trabalho os
indivíduos sofrem suas consequências e também o âmbito familiar no qual estão inseridos.
De acordo com Santos (2007), pensar na família da classe trabalhadora cabe ter em vista as
modificações ocorridas no processo de reestruturação produtiva que levaram a quebra
social entre capital e trabalho sendo infiltrada a lógica neoliberal nas políticas públicas onde
as necessidades dessa classe são respondidas de maneira precarizada e fragmentada,
trazendo consequências danosas principalmente às famílias da classe trabalhadora.
As transformações que vêm ocorrendo no mundo do trabalho, principalmente na
década de 1990, com o advento do neoliberalismo aqui no Brasil, caracteriza-se também
pela submissão da classe trabalhadora a um ritmo mais intenso de trabalho, em que a
exploração desse trabalhador acontece tanto em termos físicos como em termos
intelectuais. Podendo-se observar que a força humana vem sendo substituída
intensivamente pela tecnologia das máquinas. Isso acaba por desencadear uma crescente
precarização das condições de trabalho do indivíduo e também da sua família, uma vez que

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o Estado se afasta das responsabilidades anteriormente respondidas por ele deixando e/ou
responsabilizando a instituição familiar de assumir tal função. Essa resposta por parte da
família é visivelmente complicada quando se pensa, por exemplo, nas condições objetivas
nas quais estão inseridas, principalmente quando se trata da família da classe trabalhadora
(SANTOS, 2008).
É imperioso desmistificar o papel do Estado, tendo em vista sua forma ampliada,
comportando duas esferas principais: a sociedade política e a sociedade civil. A primeira, de 79
maneira geral, é composta pelos detentores do monopólio, trata-se do lugar da repressão e
da violência é o que Gramsci vai chamar de “aparelhos repressivos”, enquanto a segunda, se
refere ao conjunto de organizações responsáveis pela elaboração e/ou difusão das
ideologias, que são os chamados “aparelhos privados de hegemonia” (COUTINHO, 1992).
Assim, compreender as mediações do Estado em face das múltiplas expressões da questão
social em tempos de crise capitalista em sua fase neoliberal, torna-se fundamental para
apreensão do desmembramento das políticas públicas no âmbito da sociabilidade
capitalista.
No capitalismo em sua fase monopolista, nas democracias avançadas, o Estado
passou a desempenhar papel de regulador da economia e da sociedade, sendo este a
principal fonte de financiamento do bem-estar-social4. Tal período (1940-1950) foi marcado
pelas concepções de John Maynard Keynes e William Beveridge que tinha como
recomendações e intentos, medidas como: compromisso com o pleno emprego; introdução
e ampliação de uma série de serviços sociais de caráter universal; e estabelecimento de uma
rede de segurança que garantisse padrões de vida dignos. (PEREIRA e STEIN, 2008).
Ora, a política social, nesse contexto, ultrapassou a tradicional preocupação com o controle
da indigência e manutenção da ordem pública e se associou ao conjunto de direitos e
deveres (PEREIRA e STEIN, 2008). Então se, nesse período, o Estado Social foi um mediador
ativo na regulação das relações capitalistas, a década de 1970 marca o avanço das ideias
neoliberais5, que ganham terreno com a crise capitalista de 1969-1973.

4
Tendo em vista os limites deste ensaio, para aprofundamento da discussão acerca do Estado de bem-estar-
social sugerimos BEHRING, E; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006.
5
Em consonância com Anderson (2003) o neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da
Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo, tratava-se de uma reação teórica e política
veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar, porém, foi a partir da crise de 1969-1973 que as
ideias neoliberais ganharam terreno.

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Sabe-se que as crises são inerentes ao sistema capitalista, mas, conforme salienta
Anderson (2008), a chegada da grande crise do modelo econômico do pós-guerra acarretou
numa longa e profunda resseção do capitalismo avançado, “combinando, pela primeira vez,
baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação” (ANDERSON, 2003, p.10).
Perry Anderson ressalta também que para os idealistas do neoliberalismo, como
Friedrich Hayek, as raízes da crise estavam localizadas no poder excessivo do movimento

80 operário, que através dos sindicatos corroíam as bases de acumulação capitalista com suas
fortes reivindicações para intervenção do Estado no que se refere aos gastos sociais.

O remédio, então, era claro: manter um Estado forte, sim, em sua


capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro,
mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A
estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo.
Para isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção
dos gastos com bem-estar, e a restauração da taxa "natural" de
desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para
quebrar os sindicatos. Ademais, reformas fiscais eram imprescindíveis, para
incentivar os agentes econômicos. Em outras palavras, isso significava
reduções de impostos sobre os rendimentos mais altos e sobre as rendas.
Desta forma, uma nova e saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as
economias avançadas [...]. (ANDERSON, 2003, p. 11).
Sem sombra de dúvidas a hegemonia neoliberal não se realizou do dia para a noite,
apenas em 1979 que o pioneirismo e fidelidade desse regime foram contemplados na
Inglaterra no governo de Margaret Thatcher (entre 1979 à 1990). Desde então, “a onda de
direitização desses anos tinha um fundo político para além da crise econômica do período”
(ANDERSON, 2003, p.11).
No Brasil, ao contrário da Europa, o neoliberalismo se institui “à brasileira”, nos
termos de Oliveira (2003), e é a partir da ditadura militar que se inicia o processo de
dilapidação do Estado brasileiro, propiciando clima para o ideário neoliberal, já avassalador
nos países de capitalismo avançado. Contudo, é pertinente ressaltar que nesses países os
neoliberais explicitaram em suas campanhas a proposta neoliberal, enquanto no Brasil,
houve um nítido elemento de mistificação (NETTO, 2003). Essa estratégia posteriormente
também foi adotada pelos governos de centro-esquerda no Brasil e nos demais países do
subcontinente latino-americano.

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Conforme salienta Fontes (2005), o Estado pode assumir interesses, de forma a


contemplar seus próprios interesses autogerados, segundo a autora “em alguns casos, os
interesses não têm sujeitos; em outros, os sujeitos do interesse são isolados e
fragmentados” (FONTES, 2005, p. 216). Isso implica em dizer que, o Estado não está voltado
apenas para o interesse da burguesia, sua alta conexão com as instituições sociais permitem
compreender a política contemporânea, no tecido social capitalista, como um Estado
ampliado (MASCARO, 2013). Logo, quando se fala em política pública, não estamos nos 81
referindo apenas ao Estado, mas também a sociedade que para a existência da política
pública exerce papel ativo e decisivo (PEREIRA, 2009).
É nessa perspectiva e por meio da relação com a sociedade, que o Estado abrange
as múltiplas dimensões da vida social e "assume diferentes responsabilidades, inclusive as de
atender demandas e reivindicações da sociedade em seu conjunto (não só de uma classe)".
Assim, apesar do Estado ser dotado de poder coercitivo, também pode realizar ações
protetoras, "desde que pressionado e controlado pela sociedade" (PEREIRA, 2009, p. 345).
Tanto o Estado como a sociedade são partes constitutivas e integrais de um todo
contraditório que se publiciza à medida que se torna permeável aos conflitos e às diferenças
existentes no seio da sociedade capitalista, assim como, à definição negociada de políticas
públicas, isto é, de "todos" (PEREIRA, 2009).
Nos termos de Iamamotto (2012), gradativamente as repercussões da ideologia
neoliberal no campo das políticas públicas são nítidas, e todo o processo que envolve a
canalização do fundo público para o privado se adequa perfeitamente na sociedade
brasileira. Neste sentido, uma formação sócio-histórica marcada pela prática coronelista,
populista, assim como, pela apropriação indevida da esfera pública em função dos interesses
particulares da burguesia. Não obstante, as políticas neoliberais são presididas por uma
dupla articulação, de um lado se tem a “satanização do Estado”: que torna o Estado
responsável por todas as “desgraças” da sociedade capitalista; de outro: a “santificação” do
mercado e da iniciativa privada, vista como a esfera da eficiência, da probidade e da
austeridade, justificando, assim, a política da privatização (IAMAMOTTO, 2012).
Concomitante ao processo que se vivencia atualmente em relação ao afastamento
gradativo do setor público para prestação de serviços, bem como o individualismo
característica intrínseca da sociedade moderna, observa-se a invocação feita às famílias para

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a perpetuação da solidariedade e consolidação do vínculo com seus participantes (BELLO;


SILVA, 2008).
Além disso, têm-se o enaltecimento do mercado com o crescente fortalecimento do
capital e sua geração de lucratividade através da mais-valia e o empobrecimento e
precarização da classe trabalhadora que se encontra a mercê dos ditames dessa lógica. Isso
acaba por gerar o enfraquecimento das lutas de classe, onde há uma propensão atual de

82 fragmentação dos grupos, sendo distanciado o entendimento que a luta é da classe por
inteira e não apenas de segmentos.
Pode-se afirmar, portanto, que todos os seres humanos vivem atualmente uma
crise devastadora que atinge todas as extensões da vida. Nisso TONET (2009, p. 03) faz a
seguinte reflexão:

Todas as outras dimensões da vida humana – política, direito, ciência,


filosofia, educação, arte, valores, religião, ecologia, psicologia, relações
sociais, vida pessoal e familiar – são profundamente afetadas por essa crise
nos fundamentos materiais da sociedade. E estas dimensões, por sua vez,
retornam sobre a crise material estabelecendo-se um processo reflexivo em
que todas elas interferem tanto na matriz como entre si (TONET,2009,
p.03).
No que confere a todas as dimensões da vida humana afetada pela crise do
capitalismo, cabe ressaltar (não excluindo a importância das demais) o âmbito da vida
pessoal e familiar. Segundo Nascimento (2006), no âmbito familiar, seus membros buscam
sua sobrevivência, condições dignas de vida e proteção, por meio de “aportes afetivos e
materiais”. Logo, de acordo com esse pensamento, a família é “o eixo de referência pelo
qual os seus participantes elaboram e determinam suas relações sociais”, bem como, é o
lugar do apoio para que seus membros “se organizem em torno da realização de projetos
comuns” (NASCIMENTO, 2006, p. 02).
No atual estágio de acumulação capitalista, sob a hegemonia do capital financeiro,
conforme Santos (2007) as diversas expressões da questão social expressam uma
perversidade que atingem a forma de ser e de se constituir da família brasileira
caracterizada pelo aumento da violência generalizada incontrolável pelo Estado; pelas
migrações internas associadas à degradação das habitações, ao aumento pela posse de
terras e de tetos (associados aos loteamentos clandestinos e a favelização); pela prostituição

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e tráfico humano; pela exploração sexual e o trabalho infantil; pelo trabalho feminino
precarizado; pela responsabilidade privada no cuidado de idosos, doentes, pessoas com
deficiência, crianças e adolescentes; pela competitividade e individualismo nas relações
pessoais; pelo desemprego estrutural e subemprego, entre outras.
Diante desta realidade, mulheres e homens chefes de famílias, em face à satisfação
das necessidades e reprodução da família vivenciam um processo de negação e/ou de difícil
acesso aos bens materiais e culturais indispensáveis à conservação da integridade física, 83
moral, social e cultural dos membros de sua família, na condição de família trabalhadora. Em
função da subsunção do trabalho ao capital, os direitos trabalhistas estão ameaçados.
Amplia-se a desigualdade entre as classes, ao mesmo tempo em que fomenta a competição,
o individualismo em uma dinâmica de compra e venda incessante de mercadorias, e, sendo a
própria força de trabalho uma mercadoria em que precisa ser vendida no mundo do
trabalho formal.
Em face da crise estrutural do emprego, na particularidade da sociedade brasileira,
a família trabalhadora, para sua reprodução, conforme Santos (2007); submetem-se a
subcontratações e a trabalhos precarizados, chegando a condições desumanas no que se
refere, por exemplo, a insalubridade. Há juntamente a essa crescente perspectiva a sucção
da força de trabalho feminino e a ampliação das contratações dos trabalhadores pelos
setores de serviço em detrimento da redução do trabalhador fabril.
Sobre esta realidade, no Brasil, após o Golpe de Estado que culminou no atual
Governo Temer, a restrição e retirada dos direitos da classe trabalhadora, atende os anseios
da classe dominante. Nesse contexto, um dos aspectos que vem atingindo diretamente os
trabalhadores brasileiros é a reforma da Lei Trabalhista, proferida no ano de 2017, que
altera alguns direitos alcançados a partir da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Nesse
sentido, cabe destacar algumas alterações: em relação a equiparação salarial que antes tinha
como requisito a mesma localidade e após a reforma essa passou a ser feita a partir do
mesmo estabelecimento empresarial. A demissão em massa não precisa mais da
concordância do sindicato, a mesma poderá ser feita diretamente pela empresa. Em relação
à demissão voluntária, aqueles que aderirem a tal plano não poderão reivindicar direitos que
entendam violados durante o período em que esteve trabalhando. Há também a
possiblidade na demissão de um empregado, o recebimento de metade do aviso prévio

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indenizado e ainda a possibilidade do trabalhador poder movimentar 80% do valor


depositado na conta referente ao FGTS, mas em contrapartida não fará uso do benefício do
seguro desemprego. Essas são dentre outras, algumas mudanças da lei trabalhista que
acarreta dificuldades notórias no que concerne aos direitos da classe trabalhadora,
beneficiando prioritariamente a classe empresarial.
A condição de família trabalhadora contribui de forma concreta para o

84 sustento/reprodução de seus membros, porém, contraditoriamente, provoca, muitas vezes,


o distanciamento e enfraquecimento dos laços afetivos. As pessoas se veem menos e
interagem menos, há a sensação que mesmo estando perto fisicamente os indivíduos se
distanciam cada vez mais um dos outros. Essa lógica é explicada pela ideia de que o
indivíduo é o principal responsável pelas suas conquistas, distanciando-se e
despreocupando-se com os demais membros da família.
Segundo Gueiros (2002), essa cobrança em torno da família se torna cada vez mais
presente na sociedade. Atualmente essa dinâmica é ainda mais acentuada com a crescente
desresponsabilização do Estado para as questões de determinados segmentos, ficando,
portanto, para a família a responsabilidade de preencher essa deficiência. No entanto, não
recebem sequer a assistência para desenvolver e cumprir essa responsabilidade que lhes são
confiadas, impossibilitando-a de promover o desenvolvimento social de seus membros.
As políticas públicas se configuram atualmente com grande fragmentação e precarização
respondendo de maneira insatisfatória às necessidades genéricas configuradas no contexto
da sociedade repassando para o mercado privatista e terceiro setor a função de sanar essas
necessidades da sociedade, ficando a classe trabalhadora mais prejudicada por não ter
acesso a esses serviços e quando os têm se faz de maneira incompleta.
A sociedade Brasileira, sob a lógica neoliberal, a partir da década de 1990 vem
acentuando a desresponsabilização do Estado para com as políticas públicas, afetando,
portanto, a coletividade e, principalmente a camada mais vulnerabilizada da sociedade, que
fica à mercê do mínimo oferecido pelo setor público (Estado) ou aos serviços prestados pelo
setor privado (mercado) e terceiro setor (ONGs e instituições filantrópicas).
Essa atual conjuntura de crise do capital com a entrada majoritária do setor privado
nas políticas sociais, e, com o consequente afastamento do Estado na responsabilidade

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dessas politicas, atinge dentre outros segmentos da sociedade, a família. Esta passa a ser
afetada por não ter nenhum ou precário aparato dado pelo Estado e se configura
atualmente como instituição responsável pela integridade do indivíduo que dela fazem
parte.

3. A PRECARIEDADE DO SISTEMA DE PROTEÇÃO SOCIAL: DESRESPONSABILIZAÇÃO DO


ESTADO E RESPONSABILIZAÇÃO DA FAMÍLIA
85

O funcionamento e logística desse sistema de transferências sociais ocorrem dentro


do sistema previdenciário e por isso, se faz importante mencionar a posição em que a família
se encontra nesse contexto. Nessa linha de raciocínio Costa (2015, p. 25) aponta que tais
transferências:

(...) oferece um lugar importante às famílias, quando examinadas em seu


interior: enquanto os adultos trabalham, mantêm os mais novos e
contribuem com parte de seus salários para gerar um fundo de recursos de
caráter público, que provê aposentadorias e pensões para a geração
anterior.
A partir do percurso tomado pelo sistema de proteção social, inserido no sistema
previdenciário, é importante mencionar, que o mesmo exibe desigualdades. Mesmo
apresentando modelo redistributivista, o sistema de proteção social, é por vezes, mantedor
das desigualdades e não um agente de diminuição das mesmas, como é tendência pensar
(CAMPOS, 2015).
Nesse sentido, é importante refletir e destacar a posição de subalternidade em que
ficava os indivíduos e familiares daqueles que não trabalhavam formalmente. Ou seja, o
sistema de proteção social precarizava ainda mais a sociedade e a classe trabalhadora, que
era direcionada através do Estado por um discurso de responsabilidade do indivíduo para
com a família, com a sociedade e com as gerações anteriores.
A contraditória relação entre Estado e família foi desenvolvida a partir da perspectiva de que
independente das condições objetivas e subjetivas do meio familiar, esta (a família) deve
apresentar capacidade para proteger e cuidar dos seus membros. De acordo com essa
ideologia, a família é o lugar onde há a obrigação de cuidados e proteção em relação aos
demais nela inserida. Segundo Mioto (2010), é a partir dessa perspectiva que se desenvolve

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CUIDADO FAMILIAR NESSE CONTEXTO

a distinção entre famílias capazes e famílias incapazes6. Que são até os dias atuais bastante
utilizados pelo senso comum e pela formulação de políticas sociais.
Entendida como uma organização apartada da esfera pública, a família, só ganha
visibilidade por parte do Estado e através das políticas sociais, quando a mesma sai do
padrão adotado como correto, se tornando no entendimento dessa perspectiva, uma família
incapaz. Nota-se, portanto, que a família em que possui algum de seus membros com

86 alguma fragilidade e/ou incapacidade ganha maior visibilidade por seu “fracasso” em relação
as suas funções. Sendo assim, configura- se os serviços voltados para os problemas pontuais
apresentados pelas famílias, deixando em segundo plano a apreensão acerca do problema
como todo. A rigidez de se analisar uma demanda na sua profundidade vai perdendo o lugar
para a resolução de problemas individuais. Sobre tal perspectiva, Mioto (2010, p. 55) aponta:

(...) pode-se dizer que os processos de análise e intervenção no grupo


familiar têm se limitado basicamente a dois níveis. Um, em que a família é
tomada como auxiliar de processos diagnósticos e de tratamento de
problemas individuais. Outro, em que a família é tomada também como
problema e transformada em objeto terapêutico. Em ambos os níveis tende
a haver o enclausuramento do social e, mais especificamente, dos
problemas sociais nos muros domésticos.
Além disso, é importante mencionar o “esquecimento” por parte dos serviços no
que se configura como dificuldades cotidianas vivenciadas pelas famílias. Em detrimento
disso, o que mais chama atenção das políticas sociais são as situações tidas como situações
limites onde o indivíduo já se encontra em um contexto extremo de vulnerabilidade.
Os serviços sociais que em sua estrutura organizacional, invoca a presença da
família no “campo do cuidado”, acabam por desenhar e definir níveis de adequações e
requisições para as famílias a depender da sua capacidade de acessar e usufruir desses
serviços. Ao mesmo tempo em que esses serviços trazem a concepção de amenizar o
trabalho da família, adensa-o. Uma vez que são eles (os membros da família, principalmente

6
Na categoria das capazes incluem-se aquelas que, via mercado, trabalho e organização interna, conseguem
desempenhar com êxito as funções que lhes são atribuídas pela sociedade. Na categoria de incapazes
estariam aquelas que, não conseguindo atender às expectativas sociais relacionadas ao desempenho das
funções atribuídas, requerem a interferência externa, a princípio do Estado, para a proteção de seus
membros. Ou seja, são merecedoras da ajuda pública as famílias que falharam na responsabilidade do
cuidado e proteção de seus membros (MIOTO, 2010, p. 51).

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a mulher), os indivíduos solicitados a sanar as carências do “campo do cuidado”, sejam


através de recursos financeiros e/ou no contexto emocional.
Além disso, é importante também mencionar a questão da desigualdade social que
segundo Mioto (2015, p.150) “as famílias não se encontram nas mesmas condições materiais
e culturais, e com isso as possibilidades de usufruírem dos serviços também se tornam
desiguais”. Essa diferenciação das condições que as famílias possuem, rebatem no tocante à
avaliação desses serviços sobre a qualidade dos mesmos, como também a capacidade de 87
recursos para utilizar esses serviços.
À medida que os serviços sociais solicitam as famílias como parceiras, demanda
trabalhos para a mesma. Esses trabalhos são demandados principalmente às mulheres,
reforçando através da política social o modelo da divisão sexual do trabalho, acarretando
consequentemente a desigualdade de gênero.

(...) o uso dos serviços requer das famílias a organização de seu tempo e de
seus recursos. Assim, o funcionamento dos serviços e as propostas sobre as
possíveis mudanças na qualidade da atenção, repousam em grande parte
nas relações com a família, trazendo, de quebra, juízos sobre o seu
funcionamento. Assim, os serviços se colocam frente às famílias. Aquelas
que acolhem e oferecem sustentação aos seus doentes e entram nos
serviços para humaniza-los, são as conhecidas como boas famílias. Aquelas
que delegam seus membros necessitados aos serviços e se furtam de sua
presença e de seus cuidados são tidas como más famílias (MIOTO, 2015,
p.152).
A conjuntura atual de abandono e sofrimento de milhares de crianças e
adolescentes em contingência mundial tem colocado em pauta o debate sobre a
importância da família no âmbito da vida social. Sua importância é enaltecida através dos
programas designados de orientação e apoio sociofamiliar e no Brasil tais programas se
expandiram no final da década de 1990 (MIOTO, 2010). Configuram-se enquanto programas
de apoio sociofamiliar, no entanto não têm tido uma preocupação em aprofundar o debate
e entendimento sobre o que de fato está sendo executado, sendo eles implementados de
acordo com a verba que lhes são chegadas.
Nesse sentido, cabe também refletir sobre a relação estabelecida entre Estado e
família na contemporaneidade. De acordo com Mioto (2010), tal relação não pode ser
interpretada apenas como uma separação de esferas, mas como uma relação que apresenta
até os dias atuais, conflitos e contradições.

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Essa contradição pode ser observada através das legislações de muitos


países, inclusive do Brasil, que tem na sua Constituição a família como base
da sociedade e com especial proteção do Estado. Mas o que se verifica de
fato é uma pauperização e uma queda crescente da qualidade de vida das
famílias brasileiras, constatadas através de diferentes órgãos de pesquisa
(MIOTO, 2010, p. 46).
Ou seja, existe uma crescente transferência de responsabilidades do bem-estar do
indivíduo para a família, mas sem aparatos por parte do Estado. Isso se configura e se

88 solidifica numa lógica de que é a família a unidade responsável pelos seus membros e a
interferência do Estado sob a forma de ajuda pública deve ocorrer caso a família não
apresente poder de compra no mercado.
Seriam, portanto, as políticas sociais um recurso primordial para a sociedade (para a
família) no sentido de responder e suprir a característica do funcionamento do mercado que
segrega os indivíduos na sociedade. Dessa maneira, não seria o Estado um aparato apenas
da garantia de direitos individuais, mas também do coletivo.
Importante também salientar a contradição e as diversas formas de intervenção do
Estado na família. Não se trata de uma intervenção homogênea, do contrário, o que se
observa é uma grande heterogeneidade de intervenções. Ora, “ (...) ao mesmo tempo que
defende as crianças da violência doméstica, impõe à família normas socialmente definidas”
(MIOTO, 2010, p. 50). Agindo dessa maneira, o Estado se coloca como controlador das ações
da família, podendo descuidar dos direitos individuais.
Essa conjuntura leva a permeabilidade dos limites das famílias indicada por Mioto
(2010), em que as mesmas permitem a interferência do Estado e de seus representantes.
Feito isso, se constrói uma contradição entre o direito à privacidade e o direito à proteção;
em que esta permeabilidade é crescente de acordo com a vulnerabilidade social em que se
encontra a família. Ou seja, quanto mais empobrecida for esta instituição e com maiores
carências em relação aos seus direitos, maior a probabilidade da interferência estatal.

Assim, mesmo sem se ter claro “quem” na sociedade deveria assumir


responsabilidades antes pertencentes ao Estado, “quem” e “com que
meios” financiaria a provisão social, e “que formas” de articulação seriam
estabelecidas entre Estado e sociedade no processo de satisfação de
necessidades sociais, foram concebidas fórmulas que exigiam da sociedade
e da família considerável comprometimento (PEREIRA, 2010, p.31).

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Nessa perspectiva, no contexto brasileiro, mais precisamente, a partir da década de


1990, abrange-se a rede que constitui a proteção social, designando responsabilidades para
outros atores. Nessa lógica, o Estado não mais seria o principal responsável pela viabilização
da proteção social, mas também e por vezes em proporção maior: o mercado e a sociedade
na qual a família está inserida.
Dessa maneira, abre-se cada vez mais a possibilidade do mercado e da sociedade
tomarem pra si responsabilidades antes do Estado. Sendo importante também apreender 89
alguns eixos estratégicos que devem ser considerados quando se trata do chamado
“pluralismo de bem estar”. De acordo com Pereira (2010), constituem os eixos estratégicos:
a descentralização que consiste na flexibilização da administração dos bens e serviços sociais
no intuito de abranger as responsabilidades entre o governo central e local e entre as
esferas de caráter público e privado; a participação que nada mais é que o engajamento dos
atores sociais na política, principalmente na concessão de benefícios e serviços. O outro eixo
é a corresponsabilidade ou parceria e solidariedade, este aponta como premissa a mistura
entre forças e recursos de cunho público e privado dando ênfase ao trabalho voluntário e
doméstico envolvendo principalmente a família nesse espaço.

Identificada como um dos mais antigos e autônomos provedores informais


de bem-estar – ao lado da vizinhança e dos grupos de amigos próximos -, a
família vem sendo pensada pelos mentores das políticas públicas
contemporâneas como um dos recursos privilegiados, apesar da sua pouca
visibilidade como tal (PEREIRA, 2010, p. 36).
[...]
Tradicionalmente considerada a célula mater da sociedade ou a base sobre
a qual outras atividades de bem-estar se apoiam, a família ganhou
relevância atual justamente pelo seu caráter informal, livre de
constrangimentos burocráticos e de controles externos (PEREIRA, 2010, p.
36).
O que se observa na contemporaneidade em termos de elaboração e execução de
políticas, é o chamamento cada vez mais forte da instituição familiar por esta ser
considerada de caráter informal. Em detrimento dessa lógica, ocorre o afastamento
crescente do poder público com a precarização das políticas públicas, não dando sequer
respaldos para que a sociedade civil (e dentro dela a família) desenvolva o chamado
“pluralismo de bem estar”.

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A exemplo dessa dinâmica pode-se citar a política de Estratégia de Saúde da


Família, inserida no nível de Atenção Básica de Saúde e que traz uma forte designação da
instituição familiar para o cuidado do indivíduo. Composta por uma equipe multiprofissional,
a equipe de ESF passa a ter corresponsabilidade no cuidado com a saúde da família e a
família por sua vez, também recebe responsabilidades no sentido de ser mais fortemente
chamada a participar de atividades e ações desenvolvidas pela equipe profissional dentro ou

90 fora da Unidade Saúde da Família no intuito de prevenir doenças e agravos e promover a


saúde daqueles que compõem a instituição familiar.
Outra demonstração dessa realidade se efetiva na matricialidade sociofamiliar no
âmbito da política de assistência social no Brasil, que responsabiliza as famílias, sob a lógica
da ideologia dominante e reproduz a ideia de família enquanto responsável por garantir a
proteção social dos indivíduos, o que em nossa análise enfatiza a desresponsabilização do
Estado com ações, muitas vezes, punitivas às famílias das classes trabalhadoras.
A partir disso, cabe refletir a frequência em que os membros de uma família são
responsabilizados de maneira integral, por cuidados que em sua essência deveriam ser
prestados pelo poder público através de políticas.
Os argumentos são inúmeros para que se deposite na família cada vez mais
responsabilidades para o desenvolvimento do bem estar dos indivíduos. Porém, cabe
ressaltar que “(...) uma outra dificuldade, ao se eleger a família como fonte privilegiada de
proteção social, é quanto às mudanças verificadas na sua organização, gestão e estrutura”
(PEREIRA, 2010, p.38).
De acordo com Mioto (2010) apreende-se por família um núcleo de pessoas em que
são estabelecidas determinada convivência em um determinado local e que a duração de
tempo para permanecerem juntos varia; onde tais indivíduos encontram-se unidos, ou não,
por laços consanguíneos. Explica ainda que a principal tarefa da instituição família é a busca
pelo cuidado e proteção de todos os membros que a compõem. Em função dos impactos das
transformações societárias contemporâneos e seus rebatimentos no âmbito e dinâmicas das
famílias que trabalham, não se pode mais deter-se o olhar apenas para a estrutura da família
nuclear (onde envolve duas gerações com filhos biológicos) que se configura como estrutura
mais conhecida e tida por muito tempo como modelo de organização familiar.

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As composições familiares são diversas e ganham maior proporção e visibilidade


nos dias atuais. Sobre as “novas” composições familiares pode-se citar: famílias
reconstituídas com filhos e filhas; famílias monoparentais em que o pai ou a mãe assumem
as responsabilidades com os filhos; mães e pais divorciados; famílias unipessoais em que a
pessoa vive sozinha; uniões consensuais, onde o casal não formaliza sua união; união
homoafetiva com ou sem filhos; casais sem filhos; entre outros.
O que se observa cada vez mais na família é a crescente mudança em sua estrutura, 91
há uma grande variedade de composições de família e todas essas transformações e
modificações precisam ser consideradas por parte das políticas e de quem as idealizam.
Sendo assim, é importante ressaltar que sendo uma realidade posta às transformações
ocorridas na família, uma única forma de política pública como uma receita que serve a
qualquer âmbito familiar, não faz sentido. Ora, se há uma pluralidade nas organizações
familiares, é pertinente que haja também uma diversidade de políticas e serviços que
respondam as necessidades dos indivíduos e famílias.
Além desses aspectos, têm-se a perspectiva da focalização e elegibilidade que são
centrais nas atuais políticas sociais quando se referem às famílias. De acordo com Mioto
(2015, p.164), “a política social ao eleger a família como foco na destinação de recursos e
serviços, sempre está elegendo também um determinado tipo de família e,
consequentemente, ferindo o princípio da universalidade de direitos”. Ou seja, as políticas
sociais não estão voltadas para a família como um todo, mas para um determinado tipo, o
que acaba segregando cada vez mais esses serviços e os próprios indivíduos que deles
necessitam.
A focalização do acesso às políticas, salientada pelo Estado, traz como uma das
consequências um alto nível de famílias não contempladas por esses serviços, abrindo as
portas para os serviços de caráter privado. Ou seja, as famílias que não se enquadram nos
critérios mencionados pelos programas e projetos, são induzidas a acessá-los pelo via do
mercado, onde a qualidade da prestação desse serviço irá depender também das condições
financeiras de determinada família e o que ela dispõe para a compra dos mesmos (MIOTO,
2015).

(...) a dependência de soluções do mercado criará, inevitavelmente,


desigualdades e as famílias com menor renda certamente sempre serão
excluídas dessa alternativa. Além disso, é importante assinalar que quando

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as alternativas do mercado e do Estado falham as famílias são obrigadas a


produzir o próprio bem-estar e consequentemente quando estas não têm
possibilidades para tal ocorre a carência de bem-estar (MIOTO, 2015,
p.170)
Como se não bastasse a conjuntura vivenciada principalmente pela família da classe
trabalhadora que se vê obrigada a submeter-se aos ditames orquestrados pela lógica do
capital e adensados pela ofensiva neoliberal, encontra-se também a perpetuação da
perspectiva familista nos programas e projetos sociais que de acordo com Carloto (2015,
92
p.215) apresentam “claro viés familista e pouco contribuem para a superação da
desigualdade social das mulheres.” Dessa maneira, se faz inferências do aspecto
conservador perpetuado pelas atuais políticas sociais através de programas e projetos
sociais.

4. APROXIMAÇÕES CONCLUSIVAS

O percurso deste trabalho transitou pela importância em trazer para reflexão a


postura do Estado no contexto atual sobre a efetivação de políticas que envolvem a
proteção social, dando ênfase para a instituição familiar inserida nessa realidade.
Sabendo da crise do capital na década de 1970 em escala mundial, que trouxe
modificações no mundo do trabalho também em escala global o qual é adensado, no Brasil,
a partir da década de 1990 com a entrada mais incisiva das perspectivas de cunho neoliberal;
puderam-se observar modificações no ritmo de vida da sociedade. Foram, portanto,
alterações que atingiram diversos aspectos da vida dos indivíduos, refletindo também na
dinâmica familiar.
Dentre essas modificações, destaca-se a entrada da iniciativa privada e do terceiro
setor na execução de políticas sociais; realidade que vem sendo adensada a partir de um
discurso de responsabilidade destes setores com a sociedade civil. Em detrimento desse
cenário, encontra-se o Estado e o poder público em contínuo afastamento com a elaboração
e execução de políticas públicas e sociais. Tudo isso, repercute de maneira negativa
principalmente para àqueles que fazem parte da camada mais empobrecida da sociedade,
uma vez que, não tendo condições de arcar financeiramente pelo que deveria ser um direito

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universal e gratuito (saúde e educação, por exemplo), ficam à mercê de serviços precários
oferecidos pelo poder público.
Diante das reflexões trazidas nesse estudo, pode-se afirmar o alto grau de cobrança
feito às famílias no que concernem os serviços das políticas sociais. Uma realidade que se
torna mais latente se for colocada em pauta o aspecto saúde/doença de um membro da
família. Neste contexto, a família, de acordo com a situação em que possa se encontrar
outro membro, é taxada e cobrada pelo Estado e pela sociedade como principal responsável 93
pela doença acometida ou caso contrário pela ausência dela, neste último caso, a família é
considerada como cuidadora e como exemplo a ser seguido pelas demais.
Dentro dessas interpretações feitas no âmbito geral da sociedade no senso comum
e como estratégias das políticas sociais no sentido de transferir para os familiares, maior
parte da responsabilidade, coloca-se em segundo plano a necessidade de respaldar tais
famílias para que as mesmas consigam responder tais demandas que lhes são impostas. Não
podendo deixar de mencionar as particularidades das famílias que fazem parte das camadas
mais empobrecidas da sociedade e que estão em condição mais vulnerabilizada em diversos
aspectos, inclusive ao acesso a direitos e proteção social.
Inserida nessa lógica de transferência de responsabilidades, encontra-se a família,
que é invocada pelo Estado e pela própria sociedade como principal instituição responsável
pelo bem estar dos indivíduos que dela fazem parte. Não sendo, por assim dizer, respaldadas
para que exerçam tal papel. Do contrário, o que se observa é um gradativo esquecimento de
políticas que envolvam e apreendam a família em suas particularidades e diferenças.
Sofrendo os principais rebatimentos dessa lógica perversa, aquelas famílias que se
encontram em maior estado de vulnerabilidade social por não apresentarem, como dito
anteriormente, poder de compra.

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