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Dados do Comprador: Ernesto Oyola Villafuerte Email: Ernesto.villafuerte@gmail.

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[Reservada para autógrafos]

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Carol Corrêa

Amazônia
3° Edição

Rio Grande/RS- Brasil

2021

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Registro de Direitos Autorais 693591 – Fundação Biblioteca Nacional

Copyright © 2021 Carol Corrêa

Amazônia – 3° Edição

ISBN 978-85-920437-0-4

1 – Ficção científica – Extraterrestre 2 – Operação Prato – Amazônia

CDD 870

CDU 811.134.3 (82-3)

Todos os direitos reservados por:

Carol Corrêa

Email: contato@carol-correa.com

www.carol-correa.com

Capa: Carol Corrêa / Photobucket

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Ao Coronel da Aeronáutica

Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda Lima

“As pessoas têm o direito de saber a verdade.”

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ÍNDICE

Prefácio.............................................................................................8

Capítulo 1 .........................................................................................10
Capítulo 2..........................................................................................17
Capítulo 3..........................................................................................33
Capítulo 4..........................................................................................45
Capítulo 5..........................................................................................54
Capítulo 6..........................................................................................56
Capítulo 7..........................................................................................60
Capítulo 8..........................................................................................65
Capítulo 9..........................................................................................77
Capítulo 10........................................................................................79
Capítulo 11........................................................................................86
Capitulo 12........................................................................................90
Capitulo 13........................................................................................94
Capitulo 14........................................................................................97
Capitulo 15........................................................................................101
Capitulo 16........................................................................................102
Capitulo 17........................................................................................106
Capitulo 18........................................................................................116
Capítulo 19........................................................................................119
Capítulo 20........................................................................................121
Capítulo 21........................................................................................131
Capítulo 22........................................................................................134
Capítulo 23........................................................................................148

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Capítulo 24........................................................................................156
Capítulo 25........................................................................................167
Capítulo 26........................................................................................173
Capítulo 27........................................................................................178
Capítulo 28........................................................................................187
Capítulo 29........................................................................................195
Capítulo 30........................................................................................204
Capítulo 31........................................................................................208
Capítulo 32........................................................................................209
Capítulo 33 .......................................................................................215
Epílogo..............................................................................................218
Bastidores ........................................................................................219

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Prefácio

Caro leitor,

A escrita deste livro foi motivada por acontecimentos tão incomuns,


que eu, definitivamente, precisava dividir com o mundo. Em 8 de outubro
de 2013, recebi uma mensagem que mudaria a minha vida e os meus
valores pessoais para sempre.
Nunca fui adepta de nenhuma religião, mas naquela época eu havia
procurado um centro espírita, pois estavam acontecendo alguns
fenômenos estranhos na minha casa. Neste centro, fui convidada a
participar de sessões de desenvolvimento mediúnico.
Na manhã do dia 8 de outubro, estava bastante atarefada e, ao
passar pela sala, vi um homem sentado em meu sofá. Ele disse que tinha
uma mensagem urgente para um amigo e eu decidi seguir os protocolos
do centro espírita, e pedi que ele aguardasse para dar a mensagem no
centro, onde eu iria naquela tarde.
Ele aguardou pacientemente. Às quatorze horas daquele dia, me
dirigi ao centro e, lá, a mensagem dele chegou na forma de psicografia,
citando outra pessoa além do destinatário e alguns fatos que
posteriormente, o próprio destinatário viria a confirmar.
Acontece que o tal homem havia comandado a Operação Prato, a
maior investigação do fenômeno OVNI já performada por uma força
militar. E, ao contrário do que todos pensavam, a ação dos seres que
ocasionaram a operação ainda estava muito longe de acabar. Estava, sim,
iniciando uma nova fase.
Passados trinta e cinco anos do fim oficial da Operação Prato, os
visitantes, como prefiro chamá-los, foram em busca do resultado dos seus
experimentos. Mas este será o assunto do volume II da trilogia Amazônia.

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Neste primeiro livro, busquei mostrar o que realmente aconteceu


durante a Operação Prato, fortemente influenciada pelo contexto
geopolítico da época. Além disso, também procurei abordar o ponto de
vista dos visitantes e elucidar o que eles realmente queriam com os
pretensos ataques às populações do Maranhão e de Colares, no Pará.
Por fim, é muito importante definir o motivo pelo qual eu transformei a
história numa espécie de ficção científica, em vez de “mais um” livro de
pesquisa sobre a Operação Prato. Bom, a maior parte das pessoas jamais
passará por alguma experiência deste tipo e muitos fenômenos que
ocorreram ainda não têm uma explicação científica, logo, achei mais
honesto com você, leitor, tratar o assunto como uma obra de ficção. E isso
em nada invalida as experiências que tive e que sigo tendo com os
visitantes.
Boa leitura

Carol Corrêa

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Capítulo 1

Julho de 1972

O guerrilheiro se escondeu entre os arbustos da vegetação fechada e,


no intervalo de sua respiração, apurou os ouvidos em busca dos sons da
aproximação do grupamento de militares. Não escutou nada de estranho.
Ouviu apenas o canto dos pássaros, o chiado dos insetos e o zunido de
um mosquito, bem próximo ao seu ouvido. Ao redor, só enxergou o verde
escuro da selva e ouviu o barulho do rio correndo mais ao longe. Ele
levantou a cabeça para tentar ver alguma coisa. Nada. Abaixou outra vez
e conferiu a arma, um trinta e oito com tambor para seis projéteis, que ele
havia comprado de outro guerrilheiro. Puxou a trava lateral do tambor e
conferiu os projéteis. Fechou o tambor e puxou a trava superior,
engatilhando a arma. Levantou os olhos e um galho baixo se moveu a uns
trinta metros de distância. Não havia vento.

A tropa se aproximava com movimentos lentos, camuflada na selva.


Ele se virou e correu agachado, roçando seu corpo no mato espesso e
quebrando os galhos mais frágeis das plantas baixas. O barulho aguçou
os militares, que deixaram a posição de emboscada e agora corriam atrás
dele. O rio estava a poucos metros e era a chance para a sua fuga e a dos
outros guerrilheiros, levando os inimigos para o lado oposto ao do
acampamento. A floresta densa se abriu de repente e desnudou o Rio
Araguaia refletindo o dourado do sol, que já se escondia entre as árvores

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da margem oposta. Ele viu o leito do rio. Se corresse por mais seis metros
na areia, ele estaria dentro da água, rumo à outra margem. Com sorte, os
tiros dos militares vão alertar os outros guerrilheiros para saírem do
acampamento. Tomara. Que Deus me ajude.

Ele tentou correr na areia solta e foi alvejado nas costas. Outra
vez. E mais outra. Caiu. Não tenho arrependimentos. Cumpri com meu
dever e com meus propósitos. Sempre soube que não sairia vivo daqui.
Sua vida não passou diante de seus olhos, mas sua mente viajou pelos
motivos que o levaram àquele destino. O médico e ex-militar foi um
sobrevivente da primeira guerrilha contra a Ditadura no Brasil. Seu foco
era a Serra do Caparaó, na divisa entre os Estados do Espírito Santo e de
Minas Gerais, de onde conseguiu escapar em 1967, quando a Polícia
Militar de Minas Gerais armou uma emboscada, capturando praticamente
todo o grupo. Um ano depois, se juntou à Guerrilha do Araguaia, que
começava a se organizar. Sua formação em medicina, com a oferta de
consultas gratuitas, ajudou na tentativa de arrebanhar pessoas da zona
rural para o movimento, porém, sem muito sucesso. Contudo, a sua
experiência foi importante para o treinamento dos jovens que se juntavam
à guerrilha.

Ele olhou o pôr do sol no Araguaia pela última vez, era lindo demais.
Esta foi a última imagem que o médico veria. Ele sentiu faltar o ar. A dor
diminuiu e tudo se apagou.

Devagar, os militares surgiram do meio da mata espessa, silenciosos


e ameaçadores como fantasmas. Aproximaram-se devagar do guerrilheiro

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morto. Um soldado examinou o corpo bem de perto. O empurrou algumas


vezes com o coturno, sem observar qualquer reação.

- Está morto, soldado? - perguntou o tenente do pelotão.

- Mortinho, tenente. Ensaco? – respondeu o soldado, com um riso


sarcástico no rosto, já sabendo a resposta.

- Não! Deixa apodrecer aí pra servir de exemplo pros outros – disse o


tenente.

O sargento se aproximou com um rádio adaptado na mochila.

- Nem vai dar tempo de apodrecer, tenente. Em vinte minutos vai


descer Napalm.

- Pelotão! Reagrupar! – gritou o tenente.

Um a um, os militares entraram no meio das árvores e desapareceram


na selva, já escura. Um deles carregava um saco com as cabeças e as
mãos de dois guerrilheiros abatidos mais cedo, naquele dia. Os membros
seriam enviados ao Exército para que fosse feita a identificação. O sol
começou a cair sobre o Rio Araguaia e a noite foi chegando. As aves
voavam para se agrupar nos arvoredos às margens do rio. O céu ganhava
tons lilases e azuis, misturados ao dourado.

Os tiros alertaram os guerrilheiros do acampamento próximo.


Rapidamente eles reuniram suas armas e uns poucos objetos pessoais
para deixar o local. A maior parte deles não possuía treinamento em
guerra de guerrilha, apenas umas poucas noções de combate, passadas
por militantes mais velhos. Sem ter a noção de qual lado vinham os sons

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dos tiros, eles partiram pela mata em direção ao Rio Araguaia. Nenhum
deles suspeitava que, em poucos minutos, todos seriam queimados vivos
pela mistura de resinas com gasolina em forma de gel, o Napalm.

Apesar de nem todos os ataques com Napalm conseguirem um


grande número de baixas entre os militantes comunistas, o seu uso
pretendia gerar mais um efeito psicológico do que mortes.

No final da década de 60, o Partido Comunista do Brasil organizou a


Guerrilha do Araguaia, a fim de fomentar uma grande revolução socialista
no Brasil, começando pelo campo. A preparação dos guerrilheiros do PC
do B, o Partido Comunista do Brasil, remontava ainda ao ano de 1964,
quando os primeiros militantes iniciaram sua formação político-militar na
China, pois o Partido adotou a linha de guerra popular prolongada, de
inspiração maoísta. Sua defesa por meio da luta armada era anterior a
1964, e contrariava a ideia de "foco" cubano e da revolução continental
marxista-leninista. Entre 1964 e 1968, dezoito militantes haviam passado
por treinamento militar na China, entre eles vários daqueles que se
estabeleceram no Araguaia. Dezenas de guerrilheiros, muitos deles
intelectuais e estudantes universitários, se organizaram em
acampamentos com pouca infraestrutura, utilizando armamentos
comprados por eles mesmos e bem menos potentes do que as armas dos
militares.

Os acampamentos se estabeleceram ao longo do Rio Araguaia, que


no Sudeste do Estado do Pará, se une ao Rio Tocantins. Os guerrilheiros
foram duramente combatidos pelas Forças Armadas e a maioria deles
morreu em combate ou foi executada na prisão, pelos militares. Mais de

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trinta anos depois, muitos destes combatentes ainda seriam considerados


desaparecidos políticos da época da Ditadura.

***

A primeira estrela surgiu no céu, baixa, ao Leste. Sua luz era branca e
aumentava aos poucos. O que parecia ser uma estrela, rapidamente
tomou a aparência de um sol. Frio, branco, redondo. As aves voaram em
debandada para o lado oposto, formando uma nuvem mais clara no céu
azul marinho. O enorme sol branco se aproximou e parou sobre o corpo
do guerrilheiro morto e, do seu centro, surgiu um feixe de luz azul e denso,
que desceu sobre o corpo. A luz parecia ter vida própria e, tal como uma
serpente, examinou um lado do cadáver, depois o outro, até parar sobre
as costas. O feixe luminoso se retraiu fantasmagoricamente, sendo
tragado pela luz maior, que se apagou, restando apenas a silhueta negra
de uma enorme nave, com formato fusiforme, tal como uma grande bola
de futebol americano.

A nave planou a cerca de vinte metros de altura durante alguns


segundos. Uma escotilha se abriu na parte inferior e desceu uma
pessoa de braços abertos. Parecia flutuar no ar. Suas botas brancas
tocaram a areia macia, deixando pegadas lisas. O estranho vestia um
traje completamente branco e um capacete com visor fumê. Ele se
abaixou sobre o cadáver do guerrilheiro e da sua mão saiu uma luz

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vermelha, que ele passou pelo tórax do homem. O estranho parou por
um momento e desligou a luz.

A escotilha da nave tornou a abrir e, dela, saiu outro ser,


igualmente trajado, com uma caixa na mão. Os dois seres se abaixaram
e desdobraram a caixa, dando origem a uma espécie de maca estreita,
que foi colocada ao longo do corpo sem vida. Os estranhos viraram o
cadáver e o colocaram sobre a maca. Puxaram três faixas semelhantes
ao velcro e, com elas, prenderam o corpo firmemente à maca. Uma luz
verde acendeu na lateral da maca e esta começou a flutuar a cerca de
um metro e meio do solo. A escotilha da nave se abriu e um dos
estranhos subiu até ela flutuando. Em seguida a maca levitou no ar e
entrou na nave. Por fim, o segundo ser também flutuou no ar e subiu. A
nave emitiu novamente uma luz branca fortíssima e disparou em alta
velocidade. Ao longe, voltou a lembrar uma pequena estrela. Por fim,
desapareceu.

***

- Sary, ele tem vida. Sinais fracos, mas tem vida. São três perfurações
– a chefe da equipe médica comunicou ao comandante da missão.

A médica, mesmo usando o traje completamente fechado, à prova de


contaminações, sentiu seus dedos formigarem de leve. Ela sentia o
campo magnético do corpo do guerrilheiro, que estava diminuindo aos

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poucos. Então, ela digitou comandos num painel a se afastou. Uma caixa
de material vítreo subiu do assoalho da nave. Ela empurrou a maca
paralelamente a esta mesa translúcida e, com a ajuda de outro ser,
colocou o guerrilheiro sobre a caixa transparente.

Embaixo dele, passando dos pés à cabeça, havia um acelerador


magnético, tentando reativar o metabolismo atômico, molecular e celular
do corpo ensanguentado do homem.

No painel, surgiram caracteres estranhos.

- Não é possível refazer as conexões cerebrais, já houve dano. Ele


perdeu muito fluido. Vou marcar o funcionamento fisiológico – a médica
avisou ao comandante.

A mulher digitou outros comandos no painel e a mesa onde estava o


homem se iluminou. Dentro da caixa abaixo dele, surgiram imagens
luminosas do sistema nervoso, depois, dos vasos sanguíneos, dos
órgãos, dos músculos, dos ossos e da pele. No meio das imagens, era
possível ver a omoplata perfurada e um projétil disforme dentro de um dos
pulmões. Mais abaixo, surgiu a coluna vertebral quebrada e deslocada,
com outro projétil preso entre os ossos. No fígado, estava o terceiro
projétil. As imagens desapareceram e a médica ficou em silêncio, olhando
o monitor translúcido da mesa.

Ela pensou nas dezenas de vezes que já presenciou esta cena desde
que chegou à Terra. Foram homens, mulheres e crianças. Não era à toa
que em seu planeta natal, a Terra era apelidada de “a grande desolação”.

Em poucos minutos, o monitor exibiu vários caracteres iguais.

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- Sary, a mente dele se libertou.

Os visitantes acreditavam que, ao morrer, a mente dos seres se


libertava do corpo e passava a viver num universo próprio, criado de
acordo com suas crenças pessoais, sua cultura e suas vivências.

- Planeta brutal, como tantos outros. Recolha amostras – ordenou o


comandante da operação, relembrando as inúmeras vezes que já ouviu a
mesma frase da médica, quando recolhiam cadáveres na guerra do
Vietnam, alguns anos antes.

A médica pegou uma caixa com diversos tubos e a posicionou na


cabeceira da mesa. A seguir, trouxe um tubo metálico e o abriu. Dentro do
tudo havia inúmeras pontas de agulhas com um calibre bem grosso. Ela
posicionou o tubo ao lado da caixa e digitou uma série de comandos num
painel suspenso.

Do teto da sala, desceram duas mangueiras metálicas com três


minúsculos ganchos nas extremidades. Cada uma delas se movimentava
como uma cobra no ar, indo até o tubo metálico e encaixando uma agulha
na sua ponta. Uma delas perfurou o crânio sem vida do homem, retirou
uma pequena amostra de tecido e o colocou num dos tubos na cabeceira
da mesa. Como se tivesse vida própria, o braço metálico soltava a agulha
usada num recipiente raso e conectava outra, indo perfurar o abdome e
retirar mais amostras de tecidos. Uma, duas, oito vezes ao todo.

Do outro lado do corpo, a outra mangueira fazia o mesmo. Depois, o


braço metálico conectou uma agulha nova e penetrou na boca do cadáver,
indo até o estômago para retirar amostras do conteúdo gástrico, que foi

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colocado num tubo. Em seguida, conectou uma nova agulha e tornou a


penetrar na boca, desta vez para retirar amostras da parede do estômago
e dos intestinos.

O equipamento sinistro seguiu retirando amostras, enquanto a médica


lacrava os tubos cheios e recolhia a caixa metálica, substituindo-a por
outra com tubos vazios. Ela trocou também o tubo metálico por outro, com
agulhas novas.

A seguir, os braços mecânicos começaram a retirar amostras de


tecidos mais externos. Um retirou amostras de pele e de pelos. Outro
retirou amostras das mucosas da boca e dos olhos. Trocaram as agulhas
e voltaram para retirar amostras de esperma dos testículos e de unhas.

Ao fim do processo, a médica guardou os últimos tubos num armário


embutido, e digitou um novo comando no painel suspenso. Os braços
mecânicos se recolheram para o compartimento no teto da sala. Ela,
então, desdobrou uma pequena caixa ao lado da cama e montou uma
maca. Ao apertar um botão na lateral, a maca acendeu uma luz verde e
ficou suspensa no ar. Ela puxou o corpo sem vida do homem e o
posicionou na maca. Com outro comando na lateral da maca, esta flutuou
no ar e se posicionou sobre a escotilha no piso da sala. A escotilha, que
emanava um túnel luminoso para dentro da sala, se abriu. A maca com o
corpo desceu devagar. Um dos homens deu um passo para dentro do
túnel de luz e começou a flutuar, descendo a seguir. No leito do Rio
Araguaia, ele retirou o corpo da maca e o colocou no mesmo local onde o
encontrou. Dobrou a maca e subiu de volta à nave.

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A médica e os dois homens se posicionaram no centro da sala, que


se encheu com um gás branco como fumaça. Toda a sala e todos os
equipamentos ficaram cobertos por minúsculas gotículas de um líquido.
Assim que o gás se dispersou, as gotas do líquido também evaporaram,
descontaminando toda a sala. Os estranhos começaram, então, a retirar
seus trajes fechados.

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Capítulo 2

Dezembro de 1977

O capitão da Força Aérea Brasileira, Ulysses Henry, e uma equipe de


cinco homens observavam o objeto luminoso subir e descer a velocidade
constante três vezes seguidas e, então, parar no ar, emitindo uma forte luz
branca com um ponto luminoso azul central na parte de baixo. Antes que
o objeto desaparecesse, o capitão, que se acotovelava com seus
subordinados no estreito barco de madeira no leito do Rio Guajárá, no
Estado do Pará, alcançou um holofote pequeno, gritando aos demais para
que agilizassem a conexão com o gerador do barco. O holofote foi ligado
e o Capitão Henry esticou um braço, pegando um prato de alumínio no
canto da embarcação, tapando a luz do holofote com ele e sinalizando em
código Morse.

O objeto desconhecido pairou no ar há cerca de duzentos metros de


distância. Após a primeira sequência de sinais Morse, feitas pelo Capitão,
o objeto emitiu uma sequência de cores. Branco. Laranja. Branco.

O Capitão sinalizou novamente e o objeto iniciou uma movimentação


para cima e para baixo. De repente, irrompeu em altíssima velocidade
para Oeste.

Os homens estavam boquiabertos com a atitude do comandante da


Operação Prato e sem saber o que dizer da inusitada resposta do objeto
luminoso, que surgiu nos céus ao entardecer. Tamanho choque só pôde

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ser aliviado ao retornarem para o município de Colares, em plena Região


Amazônica.

Colares era o foco dos avistamentos e dos ataques naquela região.


Era uma cidade pequena, sem calçamento, às margens da Baía de
Marajó. Seus cerca de oito mil habitantes possuíam baixo nível de
instrução e confundiam, muitas vezes, os avistamentos com as lendas da
Região Amazônica.

Na base militar montada nos arredores da cidade, próxima às águas


da Baía de Marajó, os homens comentavam entre si sobre as respostas
do estranho objeto no céu à comunicação empreendida pelo Capitão. Mas
ninguém tinha coragem de comentar sobre o súbito impulso do
comandante da missão em estabelecer contato, pois nenhum deles havia
sido informado de que iriam tentar qualquer tipo de contato e nenhum dos
fatos ocorridos havia sido previamente discutido com outros oficiais
participantes da missão.

Absolutamente nenhum dos onze homens designados para a


Operação Prato tinha a coragem de mencionar o que todos já sabiam:
nunca houvera uma ordem oficial para manter contato. Entre olhares, os
homens comunicavam entre si a insegurança que a atitude impulsiva do
Capitão trouxe ao grupo e o medo do que poderia acontecer nos próximos
contatos.

O Capitão Ulysses inspecionou os equipamentos e as armas, fez a


contagem dos membros da unidade e entrou numa barraca pequena.
Sentou na cama dobrável e retirou os coturnos e a parte superior da farda,

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ficando apenas com uma camiseta branca, encharcada de suor. Tomou


bastante água, colocou a garrafa metálica ao lado da cama e deitou.

De olhos fixos no teto baixo da barraca, sua vida inteira passou diante
de seus olhos. Como eu vivi de maneira rasa. Senti de maneira rasa.
Existe muito mais do que nós, homens tão ínfimos e primitivos, podemos
imaginar. Agora, a vida lhe parecia mais do que um eterno cumprimento
de ordens. Era mais do que dinheiro, era mais do que a preocupação com
inimigos tão distantes, mal armados, encolhidos nas matas. Alguém havia
criado seres fantásticos, que, por sua vez, criavam tecnologias incríveis.
Qual será a visão destes seres sobre a vida?

No dia seguinte, o comandante da missão deixou o acampamento


sozinho e foi até a delegacia. Subiu o pequeno barranco de areia branca
que contornava a praia e rumou para o centro da cidade, passando pelas
casas ornamentadas com eira e com beira rebuscadas, e por outras,
construídas em madeira e pintadas com cores alegres, como verde ou
azul. Passou pelas pessoas simples do lugar, sentadas na porta das
casas, e pelas crianças, que aproveitavam para brincar na rua após a
diminuição dos ataques do chupa-chupa, como eles chamavam a ação
dos extraterrestres. Vez ou outra, os habitantes de Colares viam passar
naves com formatos diversos, cruzando o céu a uma boa distância.

O Capitão se aproximou da casa antiga, que abrigava a delegacia. A


porta e a janela estavam abertas, mas o lugar parecia abandonado,
silencioso. O contraste com o sol da manhã transformava o clima no
interior do prédio numa aparente escuridão úmida.

- Delegado! – chamou o Capitão.

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- Delegado! – chamou novamente, com um tom mais alto e mais


grave.

Após alguns instantes, ele ouviu um barulho vindo dos fundos da


delegacia e o delegado surgiu de trás de uma cortina. Já fazia muitos dias
que ele havia mandado a esposa e os filhos para a casa de parentes em
Belém e se mudou para a delegacia. Com ele havia somente um escrivão,
que também estava dormindo na delegacia.

- Podemos falar em particular? - solicitou o comandante.

- Pois não! – o delegado apontou a sala de interrogatório.

- Delegado, vou lhe pedir um favor que merece o devido sigilo. Preciso
de uma boa câmera fotográfica e de alguns rolos de filme. Uma parte do
nosso equipamento caiu na água ontem à tarde e perdemos oito dos doze
filmes que a Aeronáutica nos deu – o Capitão foi direto e seguro na
invenção da mentira.

O delegado, de imediato, deixou a sala e voltou rapidamente com uma


maleta de couro marrom.

- Aqui está, Capitão. É toda sua. Eu trouxe para fotografar as vítimas


dos ataques para os inquéritos... Mas, já que a Aeronáutica assumiu as
investigações, pode usar à vontade – e abrindo o bolso lateral, o delegado
retirou cinco caixinhas com filmes fotográficos novos – Aqui tem cinco
rolos de filmes. Só não temos onde revelar na cidade. Tem que mandar
para a capital.

- Os filmes serão enviados direto ao Comando, em Brasília. Muito


obrigado.

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O delegado ficou cuidando o Capitão Ulysses ir embora e pensando


que só não deixou a cidade por vergonha de admitir que estava com
medo. Então, lembrou de ter visto as luzes da igreja acesas durante a
madrugada e pensou que o padre também deveria ter medo, embora
algumas pessoas se refugiassem na igreja sempre que anoitecia e só
saiam com o surgimento dos primeiros rios de sol. Mas na delegacia,
ninguém queria dormir.

Naquele mesmo dia, os militares levaram o acampamento para uma


região mais afastada da praia. O Capitão armou a filmadora cedida pela
Aeronáutica com filme e a entregou ao Sargento, e também armou a
câmera emprestada pelo delgado e a dependurou no pescoço.

Ao pôr do sol, os homens estavam preparando a escassa comida que


tinham e o Capitão Ulysses estava sentado num banco de madeira, com
uma caneca de café na mão. Não havia muitas provisões, pois as notícias
sobre os ataques em Colares já tinham se espalhado e os barqueiros da
região se recusavam a ir até a ilha levar mantimentos ou passageiros.

Três mulheres vinham em direção ao acampamento caminhando a


passos rápidos, carregando marmitas embrulhadas em panos de prato e
uma sacola. O pequeno lanche composto por carne assada, por pão e por
café passado, caiu como uma benção para os homens, que, além da
fome, estavam estressados e vivenciando acontecimentos que jamais
imaginaram viver quando se alistaram na Aeronáutica.

Pouco depois das mulheres deixarem o acampamento dos militares,


eles perceberam um luz sobre as árvores mais a Nordeste. A luz era

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intensa e mais parecia uma enorme lanterna se movendo entre as


folhagens e se aproximando das barracas.

Os homens tomaram suas posições e destravaram as armas. Um


soldado preparou o holofote e o sargento posicionou a câmera fotográfica.
O Capitão calmamente ligou a filmadora.

- Abaixem as armas bem devagar... – ordenou o Capitão aos militares


assim que percebeu uma maior aproximação do objeto – E sentem no
chão.

Os homens entraram em pânico quando um enorme objeto cilíndrico


parou sobre eles e dirigiu um feixe de luz branca intensa para o
acampamento, iluminando até o interior das barracas.

Enquanto todos protegiam os olhos da luz, o Capitão e o Sargento se


mantiveram firmes atrás dos equipamentos bem apontados para o objeto,
filmando e fotografando.

Subitamente, a luz intensa do objeto se apagou e o holofote dos


militares revelou uma parte envidraçada da nave, como um grande para-
brisas, que protegia dois homens de cabelos claros e volumosos,
fuzilando o grupo com seus olhares altivos e frios. Através do vidro, era
possível visualizar os extraterrestres da cabeça até os joelhos. Eles
usavam um traje único azul metalizado bem justo no corpo e um deles
mexia em algum equipamento que estava mais ao lado do vidro.

Sem que os militares percebessem, a pequena nave expulsou duas


esferas metálicas foscas, que desceram lentamente e sumiram atrás das
barracas.

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No solo, o Capitão largou a filmadora e pegou a câmera fotográfica


que trazia dependurada no pescoço. Ele e o Sargento dispararam as
câmeras sob o olhar permissivo dos visitantes, que se olharam e
manobraram lentamente a nave para Oeste, até que o seu brilho metálico
estivesse longe do alcance da visão dos militares.

***

No interior da pequena nave, que já estava do outro lado da baia de


Marajó, os visitantes informaram Sary sobre o contato.

- Sary, contato realizado com sucesso. Os nativos tiveram um


comportamento incomum, passivo e fizeram registros de imagem. Já
enviamos as nossas imagens para a sua nave e deixamos duas sondas
com eles.

- Entendido. Confirmando a suspensão da coleta de amostras de


fluído dos nativos. Podem retornar à sua equipe, há dois membros já
prontos para encontrarem Taihin – respondeu o comandante da missão na
Terra.

Os dois alienígenas encontram a nave da equipe de interação e


reconhecimento, acoplam seu pequeno módulo e recebem em seu interior
dois homens.

Eles estranham ao ver os colegas vestidos com roupas nativas, com


sapatos mocassins imitando couro, com bermudas e com camisetas de

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mangas cavadas, deixando à mostra os ombros e os peitos de


musculatura discretamente definida, e a pele clara com manchas
douradas.

- É muito bom encontrá-los – disse um dos visitantes aos dois outros,


que usavam roupas terráqueas, colocando temerosamente a mão direita
sobre a mão do outro visitante.

- Já estamos prontos para descer ao solo – disse o visitante de


bermuda, se divertindo com o medo do colega.

- Nós ainda estamos em fase de avaliação do efeito do soro, não


temos certeza se já podemos nos expor – explicou o visitante,
constrangido pelo fato de o outro perceber seu medo de se aproximar.

- Todos os protocolos devem ser seguidos. Este planeta possui


exemplares biológicos que nem mesmo os nativos ainda conhecem –
explicaram os seres em trajes humanos.

Os dois homens carregavam pequenas armas nos bolsos, capazes de


paralisar as funções motoras da vítima por horas. Também levavam
documentos falsos, perfeitamente impressos e com nomes humanos, e
dinheiro, o que deixou os colegas bastante curiosos.

- Tayhin está fazendo uma pesquisa muito bem sucedida com o


comercio local. Ela não teme andar tão próxima dos nativos e tem
coletado dados úteis à missão – explicou um deles, trajado com uma
bermuda marrom, estranhamente fabricada de forma a parecer
envelhecida.

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A marca discreta do implante atrás da orelha direita lhes conferia a


segurança de estarem sendo monitorados durante suas experiências em
solo terrestre. A equipe de interação, no interior da nave, se manteria
acima da Ilha do Meio, a grande altitude, durante toda a sua permanência
em solo nativo.

O módulo desacoplou da nave e seguiu rumo à Ilha do Meio.

***

No dia seguinte, enquanto o comando da operação organizava o


próximo passo da investigação, um soldado da Força Aérea fingiu fortes
dores abdominais, foi examinado por um oficial médico e encaminhado
para o posto médico local, onde a médica de plantão nada constatou de
anormal. Como as supostas dores não passavam com nenhum
medicamento, o soldado foi poupado de sair com o grupo para
averiguações. Ele permaneceu com os demais em Colares, coletando
informações e investigando ocorrências com os moradores locais.

Quatro meses antes, o prefeito da cidade de Colares decretou estado


de emergência e solicitou intervenção do Governo do Estado do Pará.
Entretanto, sendo os casos por demais incomuns e envolverem aeronaves
supostamente não identificadas, a Aeronáutica mobilizou uma equipe do
SIOANI, Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados,
sediado em São Paulo, para investigar as ocorrências na cidade.

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As ocorrências ou ataques tinham, quase sempre, características


iguais: as vítimas eram atingidas por um raio de luz que as paralisava. Do
centro da luz saiam três mangueiras metálicas, sendo duas com agulhas e
uma com laser e uma pequena câmera acoplada. As agulhas penetravam
no peito da vítima, retirando uma quantidade razoável de sangue,
normalmente cerca de um litro. O laser cauterizava os ferimentos e
adiantava o processo de cicatrização. As vítimas padeciam de inúmeros
problemas de saúde, como anemia e baixa imunidade, além de traumas
psicológicos graves. Os braços mecânicos conseguiam penetrar nas
casas das vítimas por qualquer abertura, por mínima que fosse.

Com a chegada dos militares, os ataques cessaram, mas os visitantes


permaneceram nas redondezas, sobrevoando diariamente a cidade de
Colares e as regiões próximas. Também havia relatos de fenômenos
estranhos no interior das residências. Eram portas e janelas que abriam
sozinhas, objetos que se movimentavam e outros que desapareciam.
Ainda assim, os militares deveriam pesquisar a origem e as
consequências deste fenômeno.

Numa tarde, o comandante da operação selecionou um pequeno


contingente de sete homens para entrevistar um grupo de moradores que
residiam num local mais afastado de Colares, na mesma ilha. Ao se
deslocarem por uma região de floresta menos densa, os militares
avistaram um objeto cilíndrico muito grande, que se movia entre a
vegetação rala, em pé e devagar. O grupo parou e observou o estranho
objeto e, este, também parou há vários metros de distância do grupo,
descendo lentamente até encostar-se ao solo.

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***

Dentro da nave, o comandante deu a ordem:

- Ativar campo de baixa frequência!

Rapidamente, um dos pilotos executou um simples comando num


painel luminoso, projetado à sua frente. O sistema propulsor da nave,
composto por diversos anéis circulares capazes de girar tão rapidamente
que tomam a aparência de várias esferas concêntricas, modificou o giro
dos anéis em relação às três dimensões e, também, à sua velocidade,
criando um campo magnético denso e de baixíssima frequência, cujas
ondas afetaram diretamente o sistema nervoso dos militares, do lado de
fora da nave.

Imediatamente e sem perceber, os militares entraram numa espécie


de transe hipnótico, como se estivessem sonhando.

***

Cerca de um minuto depois, os homens observaram, em suspense,


uma porta se abrir na nave e, do seu interior, descer um humanoide. O
visitante tinha aspecto humano, vestia um macacão inteiro e branco, com
um capacete também branco.

O ser parecia flutuar durante sua descida. Deteve-se no ar, a poucos


centímetros do solo, durante alguns segundos, encarando o grupo de

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terrícolas. Depois, se precipitou em direção à eles. Os militares, equipados


com câmeras fotográficas, com uma filmadora e com armas, perderam
qualquer reação, e observavam a cena como se estivessem num estranho
transe. O Capitão Henry deu dois passos à frente e aguardou a
aproximação do visitante.

Tomado por uma vontade inexplicável, o Capitão ergueu a câmera


fotográfica de forma quase mecânica e fez inúmeros registros do ser à sua
frente. Depois, levantou o braço esquerdo e o ser, após pegar um tubo
num dispositivo que trazia preso ao braço, extraiu o sangue do militar.
Todos assistiram tranquilos o ser retornar flutuando até à sua nave e
partir.

***

Logo após o contato, no interior da nave, a médica pingou uma gota


do sangue colhido do Capitão Ulysses em uma lâmina. Numa pequena
tela vítrea à sua frente, surgiram imagens do genoma completo do
Capitão. A seguir, ela identificou outros genomas.

- Hanu, o que são estas outras duas matrizes? – perguntou um


assistente.

- São matrizes de agentes patológicos. Eu já os havia identificado no


fluido coletado de outros indivíduos, mas, o que me surpreende, é que
nesta amostra existam apenas duas matrizes nocivas. Nas outras

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amostras foram identificadas diversas matrizes diferentes de agentes


patológicos – ponderou a médica.

- Então, as amostras coletadas dos agentes de segurança não nos


serão úteis? - preocupou-se o assistente.

- Podemos usá-las para preparar o soro base e acrescentar os


ativadores de imunidade. – calculou Hanu.

Hanu, a médica chefe da missão alienígena na Terra, e seu


assistente, colocaram todas as amostras de sangue coletadas dos
militares, cerca de um litro de cada homem, numa espécie de centrífuga.
Em alguns minutos, a máquina começou liberar dezenas de tubos
contendo um líquido amarelado, o soro sanguíneo. Após algum tempo, a
mesma máquina iniciou outro processo e os tubos saíram preenchidos
com um liquido transparente, contendo partes de patógenos inativos,
como alguns tipos de vírus da gripe e de fungos.

Subitamente, o assistente começou a transpirar, sentiu-se tonto e


sentou-se numa poltrona confortável. O jovem de porte atlético removeu a
máscara transparente que cobria todo o seu rosto e começou a respirar
com certa dificuldade. Em seguida, ficou trêmulo.

Hanu interrompeu o funcionamento da máquina, pegou um pequeno


aparelho quadrado e o colocou sobre o pulso do jovem. Depois, o colocou
sobre o peito dele. A seguir, abriu uma gaveta metálica na parede da sala
e retirou uma pequena embalagem plástica e fosca, que ela abriu e puxou
uma tira gelatinosa translúcida com cerca de cinco centímetros de
comprimento, e a colocou no pescoço do assistente.

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A tira gelatinosa grudou na pele clara do rapaz e começou a se


desmanchar. Em alguns minutos, o medicamento foi completamente
absorvido através da pele e o jovem começou a se sentir melhor.

- Não se preocupe, é uma crise de ansiedade. Muitos de nós temos


estes sintomas depois de algum tempo. Há quanto tempo você está aqui?
– perguntou Hanu.

- Um ano e um mês.

- Tente relaxar, pois ainda faltam dois anos de missão pra você, e
nem é certo que você será substituído. Vou transferir você para a nave da
equipe dois, que é o laboratório de botânica e de geografia. Lá é bem
mais tranquilo. Mas, antes, você vai ficar por dois dias no casulo, está
bem? - disse a médica.

O assistente sorriu e se retirou para outro compartimento da nave, e


entrou numa sala contendo cinco casulos metálicos hermeticamente
fechados. Ele tirou a blusa e a calça, ambos brancos com detalhes em
azul cobalto, e os sapatos muito macios, que pareciam feitos de silicone,
evidenciando pés bem cuidados e delicados, ficando apenas com uma
bermuda branca, quase transparente e bem justa.

Depois, ele tocou na lateral do casulo e este se abriu. Seu interior


possuía um revestimento cinza azulado e era inteiramente iluminado. O
jovem se deitou no interior do casulo, que se fechou e começou a calibrar
a temperatura, a gravidade e a pressão. No seu interior, sobre o rosto do
assistente, surgiu uma tela com vários pontos luminosos que oscilavam, o
induzindo a um estado hipnótico. O casulo, então, projetou em sua mente

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imagens do seu planeta natal. O jovem sentiu como se estivesse em sua


casa, interagindo com seu povo e sentiu-se seguro, relaxando
completamente.

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Capítulo 3

Na nave da equipe um, Sary, o comandante da missão na Terra, se


retirou para sua sala privada. A sala continha apenas uma poltrona
confortável, na qual ele sentou-se e deu um comando de voz.

- Conectar reunião.

Ao redor dele, foram projetadas quatro telas holográficas, com as


imagens dos comandantes das outras naves.

- Comandantes, é necessário debatermos a atuação dos agentes da


segurança dos nativos. De pesquisadores, viramos objeto de pesquisa de
seres capazes de hostilidade impulsiva. Penso ser o momento adequado
para uma primeira interação com o governo deles, enviando uma
mensagem por estes agentes da segurança – disse Sary.

- É ainda cedo para isso, pois não há perspectiva de contato físico


com todos os membros da nossa missão. Ainda não sintetizamos soro
suficiente para todos. – ponderou Hamil, comandante da nave da equipe
cinco, que abrigava o laboratório de pesquisas médicas.

- A primeira equipe de interação já está em treinamento para as


primeiras interações, mas é preciso ajustar o relógio biológico e os hábitos
alimentares de acordo com os dos nativos. Ainda necessitamos estudar
os dados que Taihin tem nos passado – informou Eilin, comandante da
nave da equipe três, de monitoramento e interação.

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- Devemos, então, debater pessoalmente. Preparem-se para a


integração. – avisou Sary.

Todas as naves ajustaram suas rotas para as coordenadas da nave


de Sary, que começou a ganhar altitude e saiu da atmosfera terrestre. No
espaço, não demorou muito até as cinco naves se conectarem
lateralmente, formando um círculo, como cinco esferas luminosas.

Após a conexão ser completada, as naves abriram suas escotilhas


laterais e os tripulantes de todas elas se misturaram e se cumprimentaram
com imensa alegria.

Enquanto os demais confraternizavam, os comandantes se reuniram


no gabinete de Sary. Após uma breve confraternização, os cinco
comandantes sentaram para resolver qual seria o melhor caminho para a
primeira interação.

- Sary, eu realmente não creio ser o momento adequado para uma


interação aberta. Nem todos os setores completaram seus estudos,
especialmente o laboratório médico – disse Nahim, a comandante da
equipe dois, responsável pelos estudos geográficos – Além disso, nossas
avaliações indicam um momento turbulento na sociedade dos nativos. O
atual governo deles pode não se mostrar um bom aliado. É conveniente
que aguardemos as mudanças políticas inevitáveis que ocorrerão e, até
lá, já teremos estudado os dados trazidos por Taihin e estaremos
plenamente preparados.

Todos os comandantes concordaram com a análise da Nahim.

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- Por outro lado, Sary – se manifestou Kaarin, o comandante da


equipe quatro, que cuidava do laboratório de zoologia – Tendo em vista a
natureza belicosa do atual governo dos nativos, é importante que não
percamos a oportunidade de evitar algum confronto desnecessário ou
alguma ação hostil mais ousada, que possa nos obrigar a revidar.

Enquanto falava, Kaarin imaginava uma espécie de recado para os


militares, sem qualquer conotação amigável ou hostil. Suas imagens
mentais foram captadas por todos os presentes na sala.

- Façamos, então, como prevê Kaarin. A equipe três, de Eilin,


aproveitará a próxima oportunidade para uma breve interação, apenas
para enviar uma mensagem – decidiu Sary.

***

Taihin foi a primeira chefe do programa de análise e de interação


interespécies designada para a Terra, sendo, posteriormente, substituída
por Sary. Loira, alta e com bonitos olhos verdes, ela foi primeira pessoa do
seu planeta a interagir com os terráqueos.

Os visitantes já estudavam a Terra há quase quinhentos anos com


telescópios de múltiplos espectros e com o envio de sondas. Conseguiram
captar as primeiras ondas de rádio emitidas pelos humanos, bem como as
primeiras imagens de televisão. Desta forma, assimilaram várias
características da cultura terrestre, como suas vestimentas, suas

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maneiras, sua literatura, suas relações sociais, enfim, todos os aspectos


da vida humana na Terra.

De posse de uma certidão de nascimento devidamente fabricada de


forma perfeita, como cidadã inglesa, bem como suas roupas, seus
sapatos e uma quantidade considerável de libras esterlinas, perfeitamente
impressas, ela foi deixada nas ruínas da abadia de Glastonbury, no
condado de Somerset, a sudeste de Londres, numa noite de verão de
1977.

A abadia era famosa por ter sido um mosteiro rico e poderoso,


além de estar localizada na cidade de Glastonbury, tida como a
verdadeira Ávalon, terra do lendário rei Arthur. E uma de suas equipes
já havia feito o mapeamento completo da cidade, utilizando pequenas
sondas.

As ruínas do antigo mosteiro eram o ponto perfeito e muito visto nas


ondas de televisão captadas pelas naves. A Inglaterra era igualmente uma
escolha obvia, pois aparecia na mídia como um país de pessoas
educadíssimas, de modos tranquilos, além de ser um grande caldeirão
cultural, com cidadãos de várias nacionalidades cruzando as ruas. E
Taihin poderia passar quase despercebida.

Protegida pela escuridão de uma noite de lua nova, a nave deixou


Taihin entre as ruínas da abadia, iluminadas pelas luzes da cidade.

Ao descer pelo fluxo de luz densa, pôde sentir a gravidade da Terra,


sem a proteção do traje fechado. A gravidade terrestre era um pouco
menor que a de seu planeta e ela sentia as pernas mais leves ao dar os

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primeiros passos, mas se acostumou rapidamente, pois já havia praticado


a movimentação em gravidade mais baixa no simulador do complexo de
pesquisa em seu planeta. Por fim, os passos saíram firmes sobre o
gramado que circundava as ruínas da abadia.

Ela seguiu a pé para o estacionamento a alguns metros das ruínas e


rumou até o centro da cidade pela Market Place, admirando as pessoas,
os carros, as pequenas e simpáticas lojinhas e os cafés, com as mesas na
calçada. Ao entrar pela High Street, ficou algum tempo admirando as
roupas nas vitrines e o colorido dos pequenos prédios.

De fato, aquela mulher alta e loira, usando um vestido azul de mangas


longas e carregando uma bolsa bege estilo Chanel, se parecia muito com
tantas outras mulheres que cruzavam aquelas ruas todos os dias.

Mais adiante, encontrou um pequeno hotel e entrou para se registrar.


O inglês saiu perfeito.

- Boa noite. Eu gostaria de um quarto... - disse ela, um pouco


vacilante ao falar pela primeira vez com um terráqueo.

- Pois não, senhora. Temos apenas quartos standard disponíveis.

- Está bom - respondeu ela, surpresa com o odor desagradável do


humano. Era um misto de cheiros que ela nunca havia sentido antes e a
fez lembrar-se dos vários meses de tratamento com vacinas para
praticamente todas as doenças humanas transmissíveis e para
potencializar o seu sistema imunológico.

- Certo, preencha esta ficha, por favor. A diária custa doze libras – o
atendente colocou na frente dela uma folha de papel e uma caneta

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tinteiro. Taihin ficou admirando os dois objetos na sua frente, tão primitivos
e tão familiares.

A letra saiu muito boa ao preencher a ficha de cadastro.

Nome: Elizabeth Primrose Spencer

Em seguida, ela abriu a bolsa e retirou dinheiro para pagar a diária.


Notas novinhas. O atendente lhe deu a chave do quarto e indicou uma
escada atrás dela.

- Quarto dezessete, senhora.

Taihin subiu a escada de madeira, que rangia a cada passo, entrou


num corredor estreito e procurou pelos números um e sete na porta dos
quartos. O ambiente abafado do corredor lhe parecia bastante
desagradável.

No quarto simples, decorado ao estilo inglês, ela examinou com


cuidado todos os móveis. O papel de parede com estampa azul e cinza,
as mesinhas de mogno e a cama de ferro com colcha estampada em
estilo floral eram estranhos demais e muito diferentes da decoração em
seu planeta. O único móvel mais familiar era o pequeno armário embutido.
No seu lar, os armários e gavetas eram quase sempre embutidos nas
paredes e guardavam de tudo, dando mais espaço e uma aparência limpa
aos ambientes.

O maior choque foi no banheiro. Ela nunca havia visto um “cano


coletor” tão grande. E a banheira com chuveiro em cima não parecia nada
higiênica. Estava acostumada com box feito em peça única, fundido num

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polímero translúcido, com ralo pequeno e porta. A vacina e o tratamento


imunológico, se lembrou ela.

A visitante sentou na cama e abriu a pequena bolsa que trazia.


Retirou dois tubos com loções higiênicas, uma grande quantia de dinheiro,
a certidão de nascimento enrolada em forma de tubo e um objeto plástico
e branco, semelhante a uma caneta quadrada. Desse objeto plástico, ela
puxou uma pequena aba e abriu uma folha transparente e grossa. Ao
tocar na ponta da haste lateral, a folha transparente se iluminou e exibiu
caracteres estranhos. Em seguida, surgiu a imagem de Sary.

- Sary, determine o retorno às atividades das outras equipes. Quanto


a você, mantenha a posição e verifique o campo de absorção de ondas,
por precaução.

- Tudo verificado e funcionando, Taihin. Como você está? – Sary


parecia preocupado com a ex-comandante. Se algo acontecesse a Taihin,
uma onda de insegurança tomaria conta da equipe.

- É um ambiente desconfortável, sujo e potencialmente perigoso. Mas


estou bem e tão logo me registre como um deles, tornarei a fazer contato
– concluiu Taihin, confiante.

Ela despiu o vestido e os sapatos, ficando apenas com um tipo de


roupa intima que consistia num short branco, justo e curto, e um top
também branco e bem justo, evidenciando seus seios pequenos.

Colocou a roupa e os sapatos no armário embutido, e não pode deixar


de notar uma pequena teia de aranha no canto superior de uma das
portas. Não se assustou com a minúscula aranha, um artrópode já

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longamente estudado pela equipe de zoologia e que também existia em


seu planeta natal, embora com um número limitado de espécies de
tamanho bem diminuto. Porém, em seu planeta, os aracnídeos não eram
comuns dentro das residências.

Da mesma forma, não era comum haver pó nas residências, tal como
havia no quarto. Mas Taihin se lembrou do longo tratamento para
aumentar a resposta de seu sistema imunológico e dos tratamentos
médicos avançadíssimos de que dispunha em sua nave. Ignorou a sujeira
e deitou na cama, sobre um desconfortável colchão de molas macio
demais para ela, e cujo cheiro a sabão das cobertas era bastante
desagradável.

Fechou os olhos e tentou relaxar. Pensou em seu planeta, de clima


predominantemente frio, e nas montanhas equatoriais, onde a
temperatura era mais branda, semelhante ao clima temperado terrestre,
porém sem temperaturas maiores do que vinte e cinco graus Celsius.
Naquela noite, a temperatura em Somerset era de vinte e um graus.

As lembranças de seu planeta lhe traziam certo orgulho. Lembrou-se


da decisão de estudar na academia de ciências, onde ingressou aos treze
anos, deixando sua cidade, localizada no hemisfério norte, numa zona de
relevo mais baixo e plano. Após pouco mais de vinte anos de estudo,
Taihin estava pronta para confirmar seu interesse em participar de
experimentos no Laboratório de Exobiologia. Todos os membros
integrantes das equipes de estudo de outros planetas e de outras
civilizações eram escolhidos pelos mentores do laboratório. Já os chefes
dos grupos e o líder da missão eram escolhidos pelos demais membros

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da missão, de técnicos a assistentes. E ela havia sido escolhida por


unanimidade de votos.

Naquela noite, Taihin dormiu pouco mais de duas horas. Ao acordar,


ela pegou os dois tubos transparentes contendo líquidos incolores, que
estavam na sua bolsa, e foi para o banheiro. O tubo maior continha um
tipo de xampu com limpador enzimático e com bactericida, que não fazia
espuma, mas que limpava o corpo e o cabelo. O tubo menor continha
outro limpador enzimático para enxágue bucal. O banheiro lhe pareceu
sujo e desconfortável. E a água, bem, preferiu não pensar na água e se
aventurar logo no banho.

A graduação da temperatura da água do chuveiro foi uma verdadeira


aventura. Por toda a sua vida, ela esteve acostumada a chuveiros que
graduavam a temperatura da água na mesma temperatura do corpo de
forma automática, e liberavam uma água cheia de íons e de minerais, em
box de polímeros plásticos absolutamente limpos. Mas, no pequeno hotel
em Somerset, em pé na banheira, dentro do box com azulejos floridos e
velhos colocados apenas até a metade da parede, ela abriu o registro da
água quente e por pouco não se queimou. Depois, abriu o registro da
água fria e a temperatura da água do chuveiro ficou mais suportável. Por
fim, decidiu abrir mais o de água fria e tomar um banho morno, mas o
boiler do hotel oscilava o aquecimento da água e o banho saiu um pouco
quente, um pouco morno e um pouco frio, no final.

Após o banho, Taihin desceu para comer alguma coisa. No andar


térreo, havia uma grande sala com uma mesa central cheia das melhores
guloseimas para o café. Eram tortas, doces, pães, sanduíches de feijão e

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queijo, linguiças, geleias, biscoitos, sucos, café e leite. Em meio a tantas


opções, ela avistou duas coisas familiares, geleia e suco de laranja.
Passou um pouco de geleia de uva numa fatia de pão integral, mas o
gosto, definitivamente, não era o mesmo a que estava acostumada. O
suco também não era tão saboroso. As frutas terrestres lhe pareciam sem
gosto quando comparadas à explosão de sabor e perfume das frutas do
seu planeta, embora, lá, não houvesse tantas variedades.

Taihin deixou o hotel com a certidão de nascimento na mão e se


dirigiu ao escritório do Seguro de Saúde. Com a tela de seu minúsculo
comunicador aberto dentro da certidão enrolada, ela foi se guiando com o
auxílio de um tipo de programa de GPS, abrindo o papel discretamente
vez ou outra.

Ao chegar ao escritório, alegou ter perdido todos os documentos e


solicitou um novo número de Seguro de Saúde Nacional. Por fim, pode
tirar seu passaporte como uma autêntica cidadã galesa.

No final da tarde, após o trabalho, as pessoas enchiam as lojas e as


padarias. Taihim passeava entre elas, admirando o comportamento dos
terráqueos e o comparando com as inúmeras gravações que havia
assistido durante sua preparação para a missão.

Não pode deixar de notar que algumas pessoas passeavam com


cães. Animais de estimação não eram comuns em seu planeta. Quando
necessário, os bichos, ou seres menores, como seu povo se referia aos
animais, recebiam cuidados à distância.

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Ao voltar para o hotel, uma pequena loja na Bove Town chamou sua
atenção. Era uma livraria e ela entrou para conhecer, atordoada pela
quantidade de livros nas estantes. O papel a que estava acostumada era
um polímero plástico finíssimo e que raramente era utilizado, uma vez que
todas as anotações eram feitas e armazenadas digitalmente. Nas
prateleiras, ela reconheceu alguns títulos e autores, como Lord Byron,
Conan Doyle e, claro, Shakespeare. Ela saiu da loja com um antigo
exemplar de Troilo e Créssida.

Vinte dias depois, ela retornou às ruínas da abadia. Desta vez, trazia
uma grande bolsa com objetos de higiene pessoal, roupas e livros. Mais
uma vez, oculta pela noite, flutuou silenciosamente até a bordo da nave,
onde foi recebida por uma equipe médica que a colocou em um tipo de
cápsula. Um vapor foi liberado ali dentro e a descontaminou, assim como
a todos os objetos que trazia.

Thaihin sentiu-se aliviada em retornar ao seu ambiente e às pessoas


de seu próprio povo. Na sua cabine pessoal, tomou um banho com a água
retirada de fontes terrestres e magnetizada por um equipamento especial
da nave. Lavou os cabelos e a pele com um limpador enzimático em
forma de gel, removendo células mortas, vírus e bactérias, e dissolvendo
ácidos carboxílicos que traziam os cheiros terrícolas, deixando a pele com
um odor absolutamente puro. Trocou as roupas terrestres por um
confortável traje de camiseta e calça, e sapatos feitos de polímero
transparente muito macio. Depois, abriu um pequeno armário e retirou
uma garrafa contendo um líquido rosa, um sachê com uma espécie de

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geleia oleosa e um recipiente contendo discos de proteína parecidos com


biscoitos.

Enquanto ela recuperava as energias, uma equipe fazia os


preparativos para a nova etapa da missão. Na parte interna da capa do
livro de Shakespeare, colocaram um comunicador, imprimiram dinheiro do
país de destino e um novo documento, um passaporte suíço. Taihin seria
duplamente estrangeira no seu novo destino.

No dia seguinte, ela se reuniu em teleconferência com os outros cinco


comandantes durante quase o dia todo, a fim de passar detalhes de sua
vivência entre os terrestres e, também, suas impressões técnicas acerca
da psique dos nativos. E, ainda, para traçar os rumos da próxima etapa da
missão.

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Capítulo 4

Dois dias depois, ao amanhecer, Taihin desceu da nave em meio à


vegetação densa, ao norte da Ilha do Meio, no estado do Pará, no Brasil.
A ilha era cortada ao meio por um córrego largo, em cujas margens havia
muitas casas.

O sol já estava alto quando ela chegou à porta de uma das casas que
ficavam na beira do córrego da ilha. Ela se aproximou e dois cães latiram
forte, vindo na sua direção. Ao se aproximarem, se acalmaram e
começaram a cheirar a estranha. Uma mulher escutou os latidos e veio
até a porta. Outra mulher, mais nova, ficou na porta, com um bebê no
colo.

Taihin estranhou ao ver uma criança com cerca de um ano de idade,


tomando o que parecia ser leite, numa mamadeira. Em seu planeta natal,
os recém-nascidos são amamentados apenas durante as primeiras vinte e
quatro horas de vida. Depois disso, recebem geleias e sucos altamente
nutritivos e, em poucos dias, já mordiscam sachês de vegetais com os
quatro dentinhos incisivos, com os quais já nascem.

- Bom dia – disse Taihin, com um sorriso amigável no rosto e um


sotaque estrangeiro inevitável e de difícil identificação – Eu acabei de
chegar na ilha e estou procurando uma pousada ou um hotel.

A mulher abriu a porta e, ao sair, estranhou não ver nenhum barco


que pudesse ter levado a forasteira até lá.

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- Quem recebe os estrangeiros é o Seu Arlindo – respondeu a


mulher, sem esconder o ar de desconfiança – Eu levo a senhora até lá.

Ambas caminharam pela margem do córrego por cerca de


quinhentos metros. Durante todo o trajeto, a mulher não parava de olhar
a estranha visitante. Taihin usava um vestido longo, com mangas
longas, feito de um tecido muito fino e leve, e sapatilhas que ela havia
comprado em Glastonbury, o que contrastava muito com os trajes dos
moradores locais, acostumados com roupas bem mais curtas e com
chinelos. A mulher, de unhas longas pintadas de cor de rosa, também
ficou intrigada com a aparência da estrangeira, sem perfume, nem
maquiagem, nem esmalte nas unhas, nem brincos nas orelhas. Aliás,
suas orelhas pareciam não ter furos. Ela reparou também na bolsa que
a visitante carregava. Era grande e parecia pesada, mas ainda assim,
era de causar estranheza, pois os turistas costumavam carregar várias
malas grandes, mochilas e frasqueiras, principalmente as mulheres.

As duas chegaram a uma casa maior, azul, com outra casa menor nos
fundos.

- Ô Seu Arlindo! – gritou a mulher.

Em seguida, surgiu à porta um senhor muito simpático.

- Bom dia! Bom dia! - cumprimentou ele, olhando para a estrangeira.

- Essa moça precisa de lugar pra ficar – disse a mulher, olhando para
Taihin.

Seu Arlindo esticou a mão para cumprimentar a estranha.

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- Bom dia, sou Elizabeth Spencer.

- Prazer! Vamos entrando...

A mulher se despediu de Seu Arlindo e foi embora. Ele pegou a bolsa


da mão de Thaihin e fez um gesto, para que ela entrasse na casa.

Seu Arlindo tinha um pequeno cachorro preto e um gato amarelo, que


estavam deitados juntos no tapete de entrada da casa. Era difícil para os
visitantes entenderem como os terráqueos conseguiam conviver com
animais em suas casas. Em seu planeta, os animais eram cuidados pelas
comunidades e se mantinham essencialmente selvagens, vindo apenas
buscar alimentos perto das casas, cujos donos sempre tinham petiscos
para suas espécies favoritas. Já os animais menos sociáveis, que viviam
longe das pessoas, recebiam visitas periódicas de grupos de cientistas,
que os estudavam, avaliavam seu crescimento populacional, sua
migração territorial e realizavam avaliações físicas, ministrando tratamento
médico quando necessário.

Os dois cruzaram a casa mobiliada com simplicidade, mas muito limpa


e fresca, e saíram pela porta dos fundos, passando por uma pequena
horta perfeitamente organizada e bonita, e entraram numa quitinete bem
nos fundos do pátio.

- É simples, mas tranquilo. São duzentos e setenta e cinco mil


cruzeiros por dia, com café da manhã, almoço e janta. Quantos dias a
senhora pretende ficar? - perguntou Seu Arlindo, abrindo as janelas.

- Ainda não sei, mas vou pagar uma semana adiantada. Vou me
instalar e já levo o dinheiro para o senhor.

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- Fique à vontade – disse ele.

Assim que o homem saiu, Taihin colocou a bolsa sobre a cama e


organizou seus poucos pertences, que eram mais um par de sapatilhas,
quatro vestidos, quatro conjuntos de roupas intimas, pente, gel de banho
colocado na embalagem de um xampu comum e limpador enzimático para
os dentes, também camuflado numa embalagem de xampu. Havia, ainda,
o livro Troilo e Créssida, de Shakespeare, encadernado em capa dura
com costuras, que guardava a tela translúcida de um comunicador e uma
placa de comunicação composta por processador, bateria, antena e
microchip de dimensões incrivelmente diminutas.

Na bolsa, também havia uma imensa quantidade de dinheiro.

Ao fim de uma semana, Taihin alugou uma casa isolada no lado Leste
da ilha, do outro lado do córrego. Para não chamar a atenção em relação
à origem de seu dinheiro, passou a comprar pescado dos moradores
locais e a revender para estrangeiros, experimentando todos os
desprazeres das atividades comerciais dos terrestres.

No entanto, sua aparência, seu modo de vestir e sua extrema


educação e inteligência ainda estavam muito distantes dos hábitos dos
demais estrangeiros que sempre visitavam a região. Os moradores locais
estavam cada vez mais intrigados sobre sua origem e passaram a criar
mitos sobre sua vida, a atribuir-lhe comportamentos bizarros e a observá-
la de longe, escondidos no meio da mata.

Na verdade, Taihin se deleitava com o clima da região, muito quente e


úmido. A mata, com uma grande diversidade de árvores frutíferas,

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também a encantava. Mas era a abundância de água da região que a


deixava impressionada. Os visitantes chamavam a água da terra de água
leve, pois era menos radioativa que a do seu planeta e com menor
concentração de íons e de minerais.

Para ela, havia uma espécie de compensação. No seu planeta, a água


era escassa e altamente nutritiva ao corpo. Os mares e os lagos eram
pequenos e muito mais rasos que os terrestres. E com chuvas menos
abundantes, todas as residências e os prédios tinham um equipamento
próprio de tratamento e de reaproveitamento da água. Aqui, a água era
abundante, mas pobre em minerais e em elementos radioativos. Além
disso, era poluída.

Taihin se comunicava com as naves diariamente, passava relatórios


sobre a cultura do planeta e revisava as pesquisas das outras equipes.
Também recebia os dados das sondas, que tinham o formato de esferas
com cerca de um metro de diâmetro, equipadas com câmeras e com um
espectrógrafo sensível, para análise de substancias à distância.
Semanalmente, ela ia a bordo da nave da equipe de monitoramento. A
nave se aproximava do local combinado para o encontro com o modo de
camuflagem ativado, mas Taihin precisava entrar na floresta densa para
que pudesse subir até a nave sem ser vista por nenhum nativo. Porém,
em algumas ocasiões, os pilotos detectavam outras pessoas próximas
local. Eram os moradores nativos, que ficavam escondidos observando.
Então, com cuidado e rapidez, Taihim passava por trás de algum arbusto
fechado e era rapidamente atraída para dentro da nave por um campo
magnético cilíndrico.

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Cerca de três meses após a chegada dela à Ilha do Meio, a equipe do


laboratório médico conseguiu sintetizar uma maior quantidade de soro
com anticorpos e com agentes nocivos terrestres enfraquecidos para
imunizar alguns membros da tripulação. Diante deste avanço, Taihin
determinou que alguns membros do grupo de contato fossem preparados
para as primeiras descidas ao planeta sem o traje de proteção. E,
futuramente, eles deveriam travar uma convivência com os terrestres a fim
de obter maiores detalhes sobre seu comportamento e seu meio
ambiente.

O soro foi concentrado e incorporado a um gel denso e bioidêntico às


proteínas da pele e solúvel aos lipídios das paredes celulares. Este gel
formava um adesivo que era rapidamente absorvido pela pele, indo para a
corrente sanguínea. Assim, trinta dias depois, os primeiros visitantes
estavam prontos para descer e conhecer a Terra, embora devidamente
armados e com um implante de monitoramento.

Desta forma, Taihin passou a receber visitantes que também pareciam


estrangeiros e que chegavam e iam embora sem que houvesse qualquer
notícia sobre o transporte de barco deles entre a ilha e o continente. Esse
outro fato que passou a chamar muito a atenção dos moradores locais,
que passaram a ver luzes estranhas no céu com maior frequência.

Os nativos da ilha tiveram notícias das ocorrências em Colares,


fenômeno que eles chamavam de chupa-chupa. Isso fez aumentar ainda
mais a curiosidade em torno de Taihin, que achou melhor comprar a casa
que estava alugando e as terras ao redor, oferecendo quantias
irrecusáveis aos donos. Nos limites de suas propriedades, ela instalou

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sondas de monitoramento, a fim de receber outros membros da missão de


forma mais segura.

Mas da mesma forma que as notícias de Colares chegavam até a Ilha


do Meio, as atividades da loira estrangeira também chegaram até outras
regiões. Por fim, muitos moradores da ilha reclamaram ao delegado local
sobre os estranhos hábitos da loira estrangeira. Ao mesmo tempo, em
função do combate dos militares à Guerrilha do Araguaia, estabelecida
próxima da ilha, os militares que monitoravam a região também souberam
das estranhas atividades da mulher estrangeira e do incremento dos
avistamentos de luzes estranhas desde a sua chegada.

Desta forma, o comando da aeronáutica contatou o capitão Henry,


que estava próximo, em Colares, investigando os ataques de feixes de luz
á população. E o capitão entrou em contato com o delegado de Colares e
solicitou que ele localizasse e levasse a senhora Spencer para a
delegacia, onde ela deveria aguardar por ele para ser interrogada.

Assim, numa tarde bastante tranquila, Taihin estava em sua casa


aparentemente lendo Shakespeare. Mas no interior do livro aberto, ela
preenchia e enviava para as naves os relatórios e as fotos de diversos
locais que havia visitado na região, bem como dados sobre sua
população.

Como os policiais haviam deixado Colares, o delegado solicitou ao


capitão Henry dois soldados para acompanharem o escrivão. O fusca da
polícia militar parou próximo ao portão da casa de Taihin, o escrivão e os
dois soldados desceram e entraram na propriedade. Taihin encerrou sua

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comunicação, fechou o livro e foi ao encontro deles, que solicitaram sua


presença imediata na delegacia.

Numa época de forte repressão por parte da ditadura militar, ser


escoltado pela polícia era algo, no mínimo, aterrorizante, tendo em vista
que a ditadura, no Brasil, foi marcada pela tortura, pelo assassinato e pela
constante ocultação dos cadáveres das vítimas. Porém, Taihin, a senhora
Spencer, se manteve estranhamente tranquila durante todo o trajeto e
mesmo ao entrar na delegacia. Ela sabia que havia uma nave oculta bem
acima dela.

Enquanto aguardava a chegada do capitão Henry, ela solicitou a um


dos soldados para ir ao banheiro e foi prontamente conduzida ao banheiro
comum, usado pelos policiais. Uma vez dentro do banheiro, ela contatou a
equipe que a esperava e que já estava monitorando sua posição, e saiu
pela janela, entrando direto no cone de energia e planando rapidamente
até a nave.

O soldado que a esperava do lado de fora do banheiro estranhou a


demora, bateu na porta diversas vezes e a chamou. Como ninguém
respondeu, ele arrombou a porta. O banheiro estava vazio.

Os policiais e os soldados fizeram uma busca pelos arredores da


delegacia, mas não a encontraram.

Cerca de vinte minutos depois, o capitão Henry finalmente chegou à


delegacia e foi informado do ocorrido. Juntamente com o delegado e três
soldados, ele foi até a casa da senhora Spencer. Para a surpresa de

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todos, a casa estava completamente vazia, não sendo encontrado


nenhum objeto pessoal dela. Havia apenas uma mesa e uma cadeira.

Taihin agora correria perigo se retornasse à Terra e os mentores da


missão, no planeta dos visitantes, determinaram o retorno dela junto com
a próxima nave de reabastecimento.

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Capítulo 5

Fevereiro de 1978

Um grupo de seis militares se deslocou até a Ilha de Mosqueiro,


próxima a Colares, onde havia muitos relatos de luzes, de objetos e, até
mesmo, de pessoas desaparecidas. O capitão determinou que fosse
montado o acampamento numa região de vegetação baixa, nos limites de
uma zona de mata mais fechada. Durante todo o dia não ocorreram
quaisquer incidentes.

Logo após o anoitecer, os homens foram alertados por um estranho


zunido. Não era possível saber de onde vinha o som. Alguns segundos
depois, o grupo foi surpreendido pela presença de uma enorme nave em
forma de bola de futebol americano, circundada por luzes brancas. A nave
pairava no ar a cerca de cem metros acima do solo.

No chão, sob as ordens do capitão, um dos militares começou a filmar


enquanto o objeto realizava manobras de subida e descida. Após a
terceira subida, o objeto desceu completamente, aterrissando a cento e
cinquenta metros do grupo. Nenhum dos militares conseguiu esboçar
qualquer reação, embora quase todos amaldiçoassem mentalmente o
comandante por haver iniciado os contatos e os colocado naquela
situação. Não havia volta.

Mesmo por trás da vegetação mais densa, era possível ver a luz da
nave. Em seguida, os soldados conseguiram ver movimento. Alguns

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segundos depois, oito silhuetas de cabeças e de ombros despontaram


entre a vegetação. Quando foi possível divisar os contornos de seres
vestindo macacões e capacetes, os militares já não podiam mais reagir.
Com terrível tranquilidade, observaram o grupo de visitantes se
aproximarem. Seus capacetes tinham um visor escuro, de modo que
não era possível identificar seus traços físicos.

Os visitantes pararam a uns dez metros do grupo e um deles se


aproximou do capitão Henry. Não trocaram palavras, pelo menos
nenhuma que se poderia ouvir. Mas a mensagem na mente do capitão
foi clara: “Não interfiram”.

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Capítulo 6

Junho de 1981

A nave da equipe dois, que continha os laboratórios de geografia, de


geologia e de botânica, sobrevoava a floresta amazônica a baixa altitude,
fazendo um rastreamento mais profundo do relevo local.

No centro de uma das salas de pesquisa da nave, estava projetado o


relevo da região, que, para a surpresa dos alienígenas, mostrava diversas
estruturas artificiais, como pirâmides, ruínas de fundações de antigas
construções e túneis. Todas as estruturas, a olho nu, estavam
perfeitamente camufladas pela selva densa e vasta.

Alguns membros da tripulação se amontoavam em frente a uma tela


translúcida que mostrava, em tempo real, as imagens captadas por uma
das sondas enviadas. A sonda percorreu o interior de abrigos feitos com
palha e madeira, pertencentes a uma tribo de índios que jamais teve
contato com outras espécies de humanos. Em frente à tela, todos deram
um passo para trás quando um dos índios tentou tocar na sonda com uma
lança. Vendo que a sonda era inofensiva, outros membros da tribo se
aproximaram. As imagens foram um deleite para o espírito científico dos
alienígenas.

Sem qualquer aviso, a nave sofreu uma queda vertical brusca,


amassando grandes árvores, afastando um bando de pássaros e pairando
a poucos metros do solo. Com um gesto rápido da mão esquerda, um dos

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pilotos ativou uma projeção holográfica do sistema propulsor da nave e


verificou uma falha momentânea no gerador eletromagnético.

A seguir, ele recalibrou os três eixos de captação magnética e digitou


uma rota. A nave ganhou altitude e se deslocou rapidamente em direção
Nordeste.

- O modo de camuflagem continua funcionando bem! Foi um susto!


Em breve faremos a troca das naves e de parte da nossa tripulação –
comentou um dos pilotos.

- Sim, mais alguns dias e irei pra casa. Penso muito em meus
próximos – fala outro piloto.

- Enquanto estou em missão, meus próximos estão vivendo com meus


genitores – comenta o terceiro piloto.

De fato, alguns dias depois, uma nave de proporções gigantescas se


aproximou da Terra e estabeleceu uma órbita de seis mil quilômetros de
distância da superfície terrestre. A nave imensa entrou em contato com as
cinco naves em missão na Terra e todas elas assumiram a rota de
encontro com a nave maior.

Quatro horas depois, as cinco naves estavam alinhadas com o centro


alongado da grande nave e, assim, se acoplaram com ela. Dentro das
naves, os tripulantes organizam suas vestimentas, os únicos objetos
pessoais que possuíam a bordo, e passaram para o interior da grande
nave. Lá dentro, confraternizaram com os tripulantes recém-chegados e
reuniram-se para a reorganização das equipes. Mais da metade dos

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visitantes retornaria ao seu planeta de origem, sendo substituída por


outros. Esta troca ocorria, mais ou menos, a cada três anos.

Sary e os comandantes de cada uma das quatro naves optaram por


permanecer em missão na Terra. Eles foram convidados para a missão
devido às suas qualidades, de modo que poderiam optar por continuar ou
não longe de casa. Taihin deveria regressar definitivamente ao seu
planeta natal.

Após ser estabelecida a organização dos tripulantes da missão na


Terra, eles reuniram-se num grande espaço comum, onde trocaram
notícias de seu lar com os tripulantes da nave maior, assistiram gravações
de peças culturais, semelhantes aos filmes produzidos na Terra, comeram
frutos e pequenas guloseimas trazidas de seu planeta e que não poderiam
ficar armazenados durante o longo tempo da sua missão cientifica,
conversaram e dançaram.

Enquanto isso, alguns encarregados passavam amostras de minerais,


de plantas e de animais para a nave maior, além de fazerem cópias de
todos os dados obtidos nas pesquisas dos quatro laboratórios. Também,
trocaram os cartões de dados entre os computadores das naves e das
sondas que estiveram na Terra e as naves que os substituiriam. Por fim,
trouxeram a bordo os tripulantes que precisariam ficar mais tempo nos
casulos, em razão do stress causado pela estada em um planeta distante,
pouco conhecido e potencialmente hostil, além do confinamento ao interior
da nave.

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Mais tarde, todos se recolheram para descansar em quartos


compartilhados por três indivíduos, com exceção dos comandantes, que
possuíam acomodações individuais.

Após cerca de cinco horas de sono restaurador, os alienígenas


estavam descansados para retomar suas atividades. As cinco equipes
se agruparam e cada uma assumiu uma nova nave, que trazia
equipamentos mais modernos e já estavam guarnecidas com
mantimentos, com acessórios e com novos instrumentos para pesquisa
nos laboratórios, e sondas mais modernas para os próximos três anos
de missão.

A imensa nave começou, então, a liberar as novas naves. De cima da


ponte de comando, foi desconectada uma das naves. Das laterais do
casco alongado, se desconectaram mais quatro naves. Todas as cinco
naves rumaram de volta para a Terra e a grande nave de transporte
retornou ao seu planeta de origem.

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Capítulo 7

Outubro de 2013

A jovem Cassandra Minski caminhava apressada pelas ruas tortas e


mal projetadas da sua cidade, no Sul do Brasil. Apertada num longo e fofo
casaco preto de nylon, seus pés voavam a bordo dos tênis prateados
sobre o asfalto molhado no cruzamento oblíquo da praça do quartel.
Levantou o guarda-chuva verde-água e admirou pela milionésima vez o
prédio antigo do quartel, com suas histórias de fantasmas, com os
recrutas que correm pelas ruas ressonando seus gritos de guerra e com o
avião Xavante AT-26 que repousava sobre um pedestal próximo ao
mastro da bandeira. Que maravilhosas historias o piloto deste avião não
teria para contar. A proximidade com o fio da calçada a fez voltar para sua
realidade.

Desde os doze anos ela convivia com visões de espíritos. Tudo


começou nas férias de julho da sexta série, quando ficava deitada na
cama tomando chocolate quente e vendo televisão, enquanto sombras
com olhos sinistros passavam pelo corredor. Quando a mãe soube, tratou
logo de chamar um senhor, médium de uma casa espírita conhecida, para
conversar com ela sobre as visões, para lhe explicar o que era
mediunidade. A conversa com ele, na época, pareceu sem sentido, pois
Cassandra, de alguma forma, sabia o que se passava e achava natural.

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Mas nunca esqueceu os sapatos de couro de cobra que o tal senhor


usava, nem a casa espírita em que ele trabalhava.

Agora, vinte e dois anos depois, ela fazia o caminho inverso. Foi ela
quem procurou a casa espírita para sanar os problemas que a
mediunidade muito aflorada lhe trouxe. Eram muitos espíritos, dia e noite,
à sua volta. Pediam, falavam, xingavam. Outros não diziam nada. Uns
mandavam recados para os parentes, outros eram famosos.

Isso não estava certo, de alguma forma que ela não sabia dizer.
Então, procurou o centro e os médiuns logo deram o diagnóstico: ela
precisava se desenvolver, trabalhar e disciplinar a mediunidade. E a
encaminharam para um grupo de desenvolvimento mediúnico.

Ao passar em frente ao asilo, ela não pôde deixar de admirar o jardim


quase morto e sem vida, contrastando com uns velhinhos que se
aglomeravam na porta interna, tentando absorver a vida que passava
apressada do lado de fora. Ela sentiu falta das ervas daninhas que
cresciam aos montes nos canteiros daquele jardim pálido, durante o
verão, e que davam pequenas flores brancas que exalavam cheiro de mel.

Ao dobrar a esquina do asilo e pegar a reta final no rumo à casa


espírita, ela lembrou que estava levando consigo um visitante que
aguardava desde a manhã para enviar uma mensagem. Embora ela já
tivesse sido colocada a par do conteúdo da mensagem, preferiu seguir a
disciplina do centro e pediu ao espírito que aguardasse e se manifestasse
somente na sessão de desenvolvimento mediúnico.

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Algumas quadras adiante, ela entrou no estreito beco onde ficava a


casa espírita e irrompeu rapidamente pela porta, rumo ao corredor de
acesso ao segundo andar. Na sala da sessão de desenvolvimento, ela
sentou fora da mesa, numa cadeira encostada na parede, pois ainda
deveria ficar umas seis sessões somente observando, para, então, decidir
se continuaria ou não a frequentar a casa espírita. Infelizmente não era
possível, para ela, ficar somente observando, pois sua altíssima
sensibilidade a fez receber comunicações desde o primeiro dia. Ela
separou papel e lápis e aguardou o início dos trabalhos.

Naquele dia em especial, haviam muitos espíritos organizados do lado


de fora para impedir que as reuniões se realizassem normalmente. Mas
ela já estava acostumada com forças que remam contra a maré. Ela
mesma era uma força oposta à natureza humana do ponto de vista da
maioria das pessoas. Não só por ser médium, mas por ser médium
demais, ver demais, sentir demais.

Após a leitura e o estudo de um capítulo do Evangelho, os dirigentes


da mesa deram início aos trabalhos de desenvolvimento mediúnico. A
primeira comunicação que Cassandra recebeu foi a incorporação de um
dos líderes malignos que estavam na vigília em frente ao centro para
atrapalhar os trabalhos. Os mentores da casa o deixaram entrar
propositalmente para que pudesse ser orientado, mas era um espírito
resistente e obstinado no mal, da mesma forma que muitas pessoas o
são. Um dos dirigentes da mesa se aproximou dela e conversou com o
espírito, o convencendo a ir embora.

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Em seguida, Cassandra pegou papel e lápis e começou a escrever.


Era uma mensagem longa, de um amigo para outro.

Ao final dos trabalhos, enquanto todos os médiuns reuniam-se para


a oração final, ela entregou a mensagem aos dirigentes da mesa. Após
a oração, eles pediram a ela que lesse a mensagem. Para os dirigentes
da mesa, a psicografia recebida por Cassandra, por envolver pessoas
famosas, foi considerada uma brincadeira de espíritos perversos para
desacreditar a médium, que acabou sendo encaminhada para uma
sessão de desobssessão.

A sessão de desobssessão era uma reunião de médiuns para a qual


os espíritos perturbadores e perseguidores eram levados coagidos por
outros espíritos, a fim de serem orientados a deixarem a vítima em paz.
Alguns destes espíritos aceitavam os conselhos dos médiuns e eram
encaminhados para locais de tratamento, no pano espiritual. Outros ainda
continuavam a perseguir sua vítima por um longo tempo.

Cassandra tinha plena certeza de que a mensagem recebida era real.


O espírito comunicante foi extremamente educado e paciencioso em
aguardar o momento de se comunicar. Além disso, ele passou para a
médium um grande sentimento de amor e de amizade pelo destinatário da
mensagem. Isso não acontecia no caso de almas desajustadas, mal
intencionadas ou brincalhonas, pois não conseguiam manter a farsa por
tanto tempo. Assim, ela decidiu nunca mais retornar àquela casa espírita.

A decisão de Cassandra agradou, secretamente, a muitos dos outros


médiuns da casa. Pregando diariamente a amorosa doutrina de Alan
Kardec, não podiam repudiar um ser tão diferente às claras. Mas seus

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corações rejubilavam-se de alívio por não precisarem mais suportar a


presença daquela médium tão jovem e tão cheia de potencial, que poderia
aparecer muito mais do que eles.

Com o passar dos dias, auxiliada por seus mentores espirituais,


organizou o trabalho assistencial aos espíritos em sua própria casa. Por
fim, chegou à conclusão de que gostava de viver entre os dois universos,
gostava da presença dos espíritos, fossem eles bons ou maus, pois a
lembravam de que a morte não existe e de que era possível deixar o
corpo físico, permanecendo lúcido e produtivo, mas isso dependeria da
vontade e do esforço de cada um.

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Capítulo 8

Após o derradeiro contato, em fevereiro de 1978, quando os


alienígenas pediram que não houvesse interferência dos militares em suas
ações na região amazônica, o capitão Henry mandou um dos soldados ao
correio postar lembranças da região para sua família, pois ainda
demoraria alguns dias para revê-los.

Os soldados desmontaram o acampamento e aguardaram o barqueiro


que os levou de volta até Belém, onde seguiram para o Comando da
Força Aérea no Estado do Pará, o I COMAR.

Na sede do I COMAR, em reunião com seu superior a portas


fechadas, o capitão Henry relatou os contatos em detalhes, ou pelo
menos, em todos os detalhes que conseguia lembrar, e entregou o filme e
os doze rolos de filme fotográfico. Sem medo de sanções mais graves,
admitiu ter dado o passo inicial para os contatos com os visitantes, ao
sinalizar em código Morse. E deu o recado deles, de que os militares não
deveriam interferir nos acontecimentos na floresta amazônica.

Sem expressar qualquer reação, o superior pediu que ele aguardasse,


pegou o rolo maior de filme e os doze filmes fotográficos e deixou a sala
por cerca de vinte minutos. Após este tempo, retornou com dois guardas
que escoltaram o capitão até uma sala de interrogatórios, onde ele
permaneceria sem poder sair por dois dias seguidos. De tempos em
tempos vinham pessoas diferentes, superiores da Força Aérea ou homens
com roupas civis sem identificação, que o interrogavam, sempre com as

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mesmas perguntas. De onde eles vêem? Como eles são? Demonstraram


alguma fraqueza? O que eles querem? Você conseguiu pegar algum tipo
de equipamento deles? Para a maioria das perguntas também havia
sempre a mesma resposta:

- Não sei. Minha missão era apenas investigar os fatos.

Na madrugada do terceiro dia, o capitão estava dormindo sentado,


com a cabeça apoiada sobre a mesa, quando despertou com a porta da
sala abrindo. Uma equipe de quatro guardas entrou e o levou, muito
sonolento, para um carro. O grupo se deslocou dentro do complexo do I
COMAR para trás de um prédio, sem iluminação alguma. Mas as luzes
da cidade e da lua quase cheia refletiam num helicóptero.

O grupo subiu a bordo do helicóptero e em pouco tempo


desembarcou na base aérea do COMGAR, o Comando de Operações
Aéreas da III Fae ou Terceira Força Aérea, em Brasília, o centro tático e
estratégico da Aeronáutica. O helicóptero pousou no campo de terra
vermelha atrás de um complexo estrategicamente cercado por árvores,
para o qual o capitão seguiu a pé, escoltado pelos quatro guardas bem
armados.

No saguão do prédio ele foi recebido por uma mulher, chamada


exclusivamente de Doutora. A mulher de cabelos negros e de voz seca
vestia um jaleco branco sem qualquer identificação. Ela fez sinal para dois
enfermeiros, que levaram o capitão para uma sala. Dois guardas ficaram
na porta.

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Na sala completamente branca, havia um forte cheiro de álcool, o que


deixou o capitão enjoado. Ele detestava ambientes hospitalares e aquela
sala parecia demais com um ambulatório, embora estivesse claro que não
deveria parecer. No canto, havia uma mesa de vidro com uma cadeira
confortável, alguns armários metálicos fechados e uma câmera com tripé.

- Você tem um cigarro? – pediu o capitão a um dos enfermeiros.

O homem trajado de branco, também sem nenhuma identificação, fez


um sinal negativo com a cabeça e indicou a ele que sentasse numa
espécie de cadeira de dentista, porém de aparência muito mais
confortável. Ao lado da cadeira havia um pedestal de metal com uma luz
azul muito bonita. Na parede em frente à cadeira havia um grande vidro
espelhado.

A Doutora retornou à sala.

- Capitão Henry, pode deitar. Fique à vontade – disse, tentando


parecer simpática.

- Onde eu estou? O que está acontecendo?

- O senhor está no Comando da Força Aérea, em Brasília.

- Eu sei disso! Quero saber o que está acontecendo. Já respondi tudo


que eu sabia. Não me lembro de mais nada. E preciso ir pra casa...

- Por isso o senhor está aqui.

A Doutora tirou uma pequena seringa do bolso do jaleco.

- Vou lhe aplicar um calmante e o senhor vai se sentir bem melhor.


Pode confiar! Levante a manga da camisa.

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- Eu não preciso de calmante, eu estou calmo e agora eu quero saber


o que está acontecendo – disse o capitão, já visivelmente irritado.

A mulher olhou para um dos enfermeiros, ele se aproximou do capitão


e começou a levantar a manga da sua camisa. O capitão Henry percebeu
que não tinha como escapar e que protestar seria inútil, e deixou a mulher
lhe aplicar o calmante ou seja lá o que fosse.

Não demorou quase nada para ele começar a sentir como se


estivesse flutuando. Um enfermeiro o ajudou a deitar na estranha cadeira,
que era muito macia. Ele se sentiu quase fora do corpo, sentiu um calor
aconchegante e a mente vazia.

O outro enfermeiro trouxe um cobertor e ligou o ar condicionado, tirou-


lhe os sapatos, dobrou o pedestal da luz azul e o colocou em frente ao
rosto do capitão. Por fim, posicionou a câmera.

- Capitão Henry, olhe para esta luz azul. Sinta o seu corpo confortável.
Você está seguro e confortável – disse a Doutora - Pense onde o senhor
estava antes de vir para cá.

- Na base de Belém.

- Ótimo capitão. Vou chamá-lo de Ulysses, está bem?

- sim.

- Ulysses, o que você foi fazer na Base de Belém?

- Fui notificar meus superiores sobre os eventos de Colares.

- Porque você foi mandado á Colares?

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- Para colher dados sobre os ataques à população e para dispersar


informações fantasiosas.

- Que tipos de ataques ocorreram em Colares?

- Ataques de seres extraterrestres. Atordoavam a pessoa com luzes e


depois colhiam sangue.

- Você sabe por que tiravam sangue das pessoas?

- Para fazer análise, eu acho, e produzir vacinas.

- Que tipo de informações fantasiosas você deveria dispersar?

- De que eram extraterrestres, que eram discos voadores.

- Você teve contato com os discos ou com algum tripulante?

- Sim.

- Quantas vezes?

- Duas.

- Como foi a primeira vez?

- Não!

- Ulysses, como foi seu primeiro contato? – insistiu a Doutora.

- Não! – o capitão tentou levantar da cadeira, mas foi contido pela


médica.

- Me conte como foi o primeiro contato...

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O capitão franziu a testa e enrijeceu os músculos, fechando os


punhos.

- Estou dentro da nave. Ele desceu flutuando e eu subi junto com ele.
Eu não consigo me mexer. Ele tem um aparelho e está tirando sangue do
meu braço. Dói.

- Há outros homens na nave com você?

- A minha patrulha. Estão todos aqui. Presos pelos braços. E tem uns
baixinhos. Tenho medo deles. Eles têm instrumentos.

- Eles falaram com você?

- Não. Só me olham.

- Como eles são?

- Parecidos conosco. Olhos estranhos.

- Como era nave por dentro?

- Tem uma mesa de vidro do meu lado, um teclado com letras


estranhas que desce do teto e uma porta que desaparece na parede.

- Eles possuem alguma arma? Você viu alguma arma?

- Não. Não portavam nada que eu tivesse visto, mas as naves têm um
sistema de defesa.

- E você sabe como funciona esse sistema de defesa das naves?

- Sim. Paralisa as pessoas à distância.

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A Doutora fez um sinal com a cabeça para um dos enfermeiros e ele


preparou outra injeção. Ela aplicou delicadamente no braço do capitão.

- Ulysses, agora eu quero que você pense no segundo encontro. Os


visitantes lhe disseram alguma coisa?

- Não. Mas...

- Mas... O que eles disseram?

- Eles mostraram.

- Mostraram o quê?

- Nós!

- Nós quem?

- Nossa sociedade, nossas armas, nossas tropas, nosso governo.


Eles sabem de tudo e conhecem tudo sobre nós.

- Como eles mostraram isso pra você?

- Na minha mente.

- E eles disseram alguma coisa?

- Não interferir.

- Não interferir em que?

- No que estão fazendo, pesquisando.

- Como você se sentiu?

- Com medo.

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O capitão Henry foi mantido naquela sala por três dias seguidos. Às
vezes, eram feitas as mesmas perguntas, outras vezes as perguntas
variavam um pouco. Como não havia janelas, ele não tinha percepção do
tempo, se era dia ou noite. A medicação que recebia também não ajudava
muito, o deixava sem reação, tonto e com náuseas constantes.

***

Na nave da equipe três, um operador de monitoramento estava


salvando os dados diários de localização, sinais vitais dos implantados e
vivências dos terráqueos monitorados. No painel de controle, ele inseriu
um cartão metálico do tamanho de um cartão de crédito, mas que possuía
uma capacidade inimaginável de armazenamento de dados.

De repente, num painel lateral soou o barulho semelhante a um sino e


uma tela holográfica surgiu sobre o painel. Na tela, apareceu a imagem do
capitão e diversos caracteres que mudavam constantemente, deixando o
operador preocupado e perplexo.

Com um comando do operador, apareceu no holograma a atividade


neural do capitão, que se mostrava difusa, lenta em alguns pontos do
cérebro e excitada em outras regiões.

O operador entrou em contato com o comandante da nave, que


acessou os dados fisiológicos do capitão.

- Devo desconectá-lo ou desativá-lo? - perguntou o operador.

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-Qualquer informação que ele tenha dado não é uma ameaça para
nós – respondeu o comandante.

- Posso, então, bloquear a hipnose para preservar sua mente? –


insistiu o operador.

- Não temos permissão para intervir em nenhum acontecimento


relativo aos seres deste planeta. Nossas ordens e nossos limites foram
bastante precisos – e o comandante encerrou a comunicação.

***

No andar superior, a Doutora era aguarda por seis homens, sendo


cinco militares e um civil com forte sotaque americano.

- Mais algum resultado diferente, Doutora? - perguntou um dos


militares.

- Ainda nada. Sempre as mesmas respostas e já fui o mais fundo que


podia. Não descarto a possibilidade de já ter havido outra intervenção
psíquica durante os contatos. Mas, o certo, é que ele tem absoluta certeza
de que os ataques em Colares foram causados por extraterrestres.

- Nós também temos esta certeza – disse outro militar.

- A menos que seja alguma tecnologia russa que não conhecemos


ainda – interveio o estranho com sotaque americano.

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- A questão, agora, é o que fazer com o capitão Henry. Se este


assunto vazar ou se ele revelar suas certezas... – ponderou outro militar.

- Não, Ulysses é devotado ao trabalho e à Força Aérea. Jamais


colocaria a carreira fora por vontade de vazar informações que ele sabe
que só causariam pânico – disse um dos militares – Além disso, se algo
acontecer com ele neste momento, nós seremos alvos de especulações e
os acontecimentos de Colares ganharão mais força e veracidade. Sem
contar que o homem é um arquivo vivo sobre os fatos. Poderemos
precisar de mais dados no futuro, que somente ele poderá fornecer.

- Com o devido respeito, senhores – interveio novamente o americano


– Este caso representa uma ameaça não só à soberania do Brasil, mas
também pode ser uma ameaça ao mundo, à sociedade humana. Apliquem
o código neutro ao seu capitão e aos demais membros de sua equipe e
retirem imediatamente seus homens de Colares. Assumiremos daqui.

Um dos militares acenou afirmativamente com a cabeça para a


Doutora e ela deixou a sala. Ela sempre fez seu trabalho sem questionar
nada, mas em tempos de Ditadura Militar e com tantos grupos pegando
em armas para lutar por ideais duvidosos e sabe-se lá que outros motivos,
mas deixar um estrangeiro ditar as regras era um perigo, sobretudo vindo
de uma nação cujas estratégias imperialistas eram por demais sutis,
inteligentes e, sobretudo, vorazes.

Ao mesmo tempo, o mundo vivia a Guerra Fria, onde tínhamos de um


lado os EUA, claro representante da ordem mundial capitalista, e de outro
lado a URSS, que representava o socialismo. O apoio à instalação de
ditaduras militares nos países da América Latina, incluindo o Brasil, foi a

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forma encontrada pelos EUA de assegurar a perpetuação do sistema


capitalista no continente americano e, consequentemente, no mundo,
além de consolidar a hegemonia norte-americana nas Américas.

Na América Latina, os EUA atuando juntamente com o governo


brasileiro da época, delineavam os passos políticos de cada país, de
forma a garantir a presença do capitalismo no bojo estatal e espantar de
vez o “fantasma do comunismo” do país e da região.

A Doutora entrou na sala onde estava o capitão Henry, sonolento


sobre a cadeira. Mediu-lhe o pulso, a pressão e a temperatura. Aplicou-lhe
outra injeção. Puxou a luz azul para frente de seu rosto e focalizou a
câmera.

- Ulysses, sou eu. Você está bem? Está confortável?

Ele apenas acenou positivamente com a cabeça.

- Nós vamos conversar um pouco e, quando você se sentir melhor, o


comandante gostaria de vê-lo em sua sala. Agora, relaxe e imagine seu
corpo, procure sentir cada membro e soltá-lo confortavelmente sobre a
cadeira. Visualize está linda luz azul, fique com a luz.

O capitão Ulysses tentou se ajeitar na cadeira, mas sua mente


mergulhou num mar azul, numa imensidão sem sensações, sem em cima
ou embaixo, sem som, era apenas a sua mente e nada mais. De repente,
ouviu uma voz familiar.

- Ulysses, vou lhe dar três comandos e vou contar até três. Depois
disso, você não se lembrará de nossas sessões, nem desta sala, nem de
mim. Você me entende?

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- Entendo.

- Você não se lembrará de ter entrado na nave extraterrestre. Você


não falará sobre os fatos de Colares com ninguém. Se alguém estiver na
iminência de descobrir o que você nos contou aqui, você se matará.
Repita para mim...

- Não vou me lembrar de ter entrado na nave extraterrestre. Não vou


falar sobre os fatos ocorridos em Colares. Se alguém estiver para
descobrir o que eu sei, devo me matar.

- Vou contar até três e você vai dormir um pouco, vai acordar bem
disposto e voltará para sua família. Um... Dois...Três.

***

Na nave de monitoramento, o operador assistia a tudo, aparentemente


impassível. Mas em seu íntimo, ele lamentava a falta de limites entre os
próprios terrestres e sua sorte infeliz.

No mesmo instante, surgiu em sua mente a voz do comandante, que


sentia sua aflição. Não temos autorização para nos envolver nos
problemas dos nativos deste planeta. Ainda não.

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Capítulo 9

Já haviam se passado cerca de trinta dias desde que Cassandra


recebeu a mensagem na casa espírita e, embora ela não tivesse mais
visto o espírito que enviou a mensagem, a ideia de que deveria mandar o
seu conteúdo para o destinatário continuava martelando em sua cabeça.
Ainda que os dirigentes da casa espírita tivessem ficado com a mensagem
original e, provavelmente, a tivessem colocado fora, ela ainda lembrava
dos pontos importantes.

Numa manhã, decidiu enviar a mensagem, mesmo achando que o


destinatário deveria receber centenas de mensagens parecidas do mundo
todo e que, provavelmente, não daria importância à dela. Ainda assim,
decidiu cumprir com sua obrigação, pois sempre encarou a mediunidade
como uma ferramenta de trabalho do plano espiritual em favor do próximo.
Tinha uma obrigação a cumprir.

Sentou-se em frente ao computador e começou a digitar:

Olá

No dia 22 de outubro último, recebi uma mensagem psicografada do


coronel Henry, endereçada a você, num centro na cidade de Rio Grande/
RS. Entretanto, o dirigente da mesa a classificou como "uma brincadeira
de espíritos maus" porque ali não se poderia receber mensagens de gente
famosa, e, mesmo sem o aval dos demais médiuns, me solicitou que não
repassasse a mensagem.

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Contudo, pelo teor simples, direto e sem solicitações que possam


parecer absurdas, além do fato de o Sr Henry ter esperado uma manhã
inteira para que pudesse se manifestar somente no centro, creio não
haver empecilhos para não cumprir com meu dever.

Na mensagem, que li antes que fosse colocada fora, o coronel Henry


agradece a você e diz que "o considera um amigo", que "sabe sobre suas
lágrimas sinceras" e também afirmou estar sozinho no momento do
suicídio e que este ato fora "programado psicologicamente". Também
afirmou que, no outro plano, "encontrou a sua verdade" e que torce para
"que você encontre a sua um dia".

Se despediu desejando sorte a você no seu trabalho como


pesquisador, mandou "sinceras lembranças" a uma pessoa chamada
Prestes (não me disse quem é este), e no fim, se mostrou bastante
aliviado e emocionado.

Era isto.

Abraços

Cassandra

Clicou em Enviar e não esperou por respostas.

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Capítulo 10

A cerca de dois mil quilômetros de distância da pequena cidade de


Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul, uma resposta à Cassandra
foi enviada.

Oi Cassandra, muito obrigado pela mensagem! Fiquei impressionando


com isso. Absolutamente impressionando.

Por favor, me diga: você ou alguém mais do centro conhecia o Henry?


Sabe quem foi? O que fez? Ele falou mais alguma coisa além disso?

É muito importante eu saber destes detalhes e também se você acha


que eu poderia ir até o seu centro, aí em Rio Grande, passar por uma
seção e tentar me comunicar com ele. Acha possível?

Agradeço imensamente sua resposta. Aguardarei ansioso. Por favor,


se possível, também me dê seus telefones.

Abs, Gesser

Amir Gesser era um ufólogo mundialmente famoso, editor de revistas


do gênero, escritor de livros e de artigos, além de organizar diversos
eventos sobre ufologia. Aos quarenta anos, aparentava ser bem mais
jovem, era alto e magro, com corpo bem proporcional e com uma leve
tendência a uma postura curvada, em razão de passar longas horas
sentado, enquanto lia ou escrevia sobre ufologia. Era o maior conhecedor

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dos ataques ocorridos em Colares, cuja investigação foi chamada de


Operação Prato pelo capitão Henry.

Gesser e o capitão se conheceram em 1997, quando esse, já


reformado como coronel, o procurou para contar sua versão dos fatos
ocorridos não só em Colares, mas em toda a faixa amazônica. O coronel,
na época, deu uma longa entrevista a Gesser e a Jonas Prestes,
relatando os ataques, os seus encontros com seres e com naves, o pânico
da população e a ordem do comando da FAB para atribuir os ataques à
ação de animais ou à histeria coletiva.

O ufólogo logo percebeu a enorme carência emocional do coronel. Era


um homem frio, fechado, mas com uma explosão interna de sentimentos,
de culpas e com uma vontade muito grande de ser útil, de fazer algo de
bom e de correto para a Humanidade.

Após comandar a Operação Prato, entre os anos de 1977 e 1978, o


coronel seguiu com suas atividades normais até se aposentar da Força
Aérea, em 1992. Ao se desligar da instituição, sentiu-se livre para
questionar suas ordens e suas atitudes durante a Operação Prato. Não
era mais um militar sujeito ao código de conduta e queria falar o que
sabia.

Desde então, vivia numa depressão profunda e tinha crises de pânico.


Como nunca procurou ajuda especializada, bebia muito e fumava demais,
o que ajudou a agravar a situação.

Alguns anos antes, quando teve a ideia de escrever um livro sobre


tudo o que tinha vivido na Amazônia, ele entrou numa crise depressiva

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fortíssima, que culminou na sua primeira tentativa de suicídio, quando


tentou se enforcar no banheiro de sua casa. No ano seguinte, com a ideia
persistente em divulgar o que sabia, tentou pela segunda vez acabar com
a própria vida ao cortar profundamente um dos pulsos. Não morreu, mas
lesionou um nervo do braço esquerdo, o que lhe fazia perder a força neste
membro.

Gesser percebeu a bomba que tinha nas mãos. Era o depoimento de


um militar. E não era qualquer militar, era o comandante de Operação
Prato. Isso poderia trazer consequências muito ruins a ele e ao coronel,
mas como o próprio militar nada temia, ele foi adiante. Assim, muniu-se de
câmera e de gravador e, acompanhado pelo amigo e ufólogo Jonas
Prestes, foi ao encontro do coronel.

Durante dois dias os ufólogos entrevistaram e conversaram com o ex-


militar. O coronel, pela primeira vez em muitos anos, sentiu-se útil e
respeitado. Viu em Gesser alguém em quem poderia confiar, um amigo.
Gesser enxergou na sua fonte não somente a oportunidade de trazer à luz
o caso ufológico mais impressionante e mais importante já ocorrido no
país, mas também uma pessoa que precisava de uma nova oportunidade
na vida, de amizade e de compreensão. O coronel era um homem
apagado, mas que queria viver.

Homem inteligente e ávido leitor da vasta literatura ufológica, o


coronel apresentou sua opinião sobre os ataques em Colares. Para ele,
não eram ataques, eram pesquisas.

- Os visitantes estão nos investigando, nos pesquisando, colhendo


sangue para conhecer nossas doenças e, talvez, produzir vacinas para

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que, imunizados, possam entrar em contato conosco sem riscos para


ambos os lados – declarou ele.

Para a entrevista, o coronel Henry recebeu os dois pesquisadores em


sua casa por alguns dias. E, na tarde em que eles partiram, o ex-militar
sentou-se na sala de sua casa com um copo de uísque, pensando na
repercussão que seu desabafo teria. Sentiu um enorme alívio, como se
um grande peso tivesse sido retirado de suas costas.

Por um instante, o coronel segurou o copo no ar com a mão tremula.


E lembrou-se de algo que havia guardado por dezenove anos no mais
absoluto segredo. Largou o copo numa mesinha de canto, levantou-se e
foi até uma grande estante de madeira escura, na sala de jantar. No fundo
de uma das portas, dentro de uma caixa maior, coberta por vários papeis
e por contas antigas, estava uma caixa de papelão forrada com um papel
brilhante de cor castanho claro.

Ele retirou a caixa da estante com cuidado, a levou para cima da


mesa e a abriu. Bem em cima havia um plástico com um bloco de folhas
datilografadas contendo um relato minucioso de tudo o que ele conseguia
se lembrar sobre a Operação Prato. Era o rascunho de um futuro livro
que, um dia, gostaria de editar, para que todos soubessem a verdade.
Porém, teve medo de fazer isso sozinho, pois conhecia muito bem as
atividades não oficiais da inteligência da Aeronáutica.

Colocou o rascunho ao lado da caixa e retirou um envelope pardo e


pesado com selos postais e o com o carimbo do posto de correio de
Colares. Data: 25 de fevereiro de 1978. Remetente: U. Henry.
Destinatário: D. Henry, Brasília, Distrito Federal.

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Abriu o envelope e despejou dentro da caixa seis tubos de filme


fotográfico. Dentro de cada tubinho haviam negativos das fotos tiradas por
ele com a câmera do delegado, em Colares. O coronel pegou um dos
negativos, aleatoriamente, e colocou contra a luz do lustre, vendo a
imagem de dois homens dentro de uma nave. Em outro negativo havia
uma sequência de fotos de um ser com capacete e vestimenta clara. E em
muitos negativos havia imagens de naves e de luzes.

Retirou os seis filmes de dentro da caixa e tornou a olhar dentro do


envelope do correio. Havia, ainda, uma latinha bege contendo um rolo
de filme 35 mm. Levantou-se e, de outra porta da estante, retirou um
pequeno projetor velho. Encaixou o filme e apagou as luzes. Na parede
da sala de jantar, entre dois quadros, ele pode reviver a surpresa e o
pânico daqueles dias no final dos anos 70. Na sua frente passavam
sequências de pessoas estranhas dentro de pequenas naves, seres
flutuando no ar, naves maiores dançando no céu noturno da Amazônia,
com suas luzes coloridas e cegantes, e também a fuga súbita destes
objetos a altíssima velocidade. Muitas dessas fotos e imagens eram
exclusivas dos filmes que estavam com ele e a Aeronáutica não tinha
cópias.

Como um bom estrategista, o coronel achou melhor não revelar a


existência do material aos ufólogos. Ele esperava que, tornando publica
sua experiência, isso de certa forma o blindaria contra qualquer tentativa
de acobertamento dos fatos por parte da Força Aérea. E ele sabia muito
bem que isso poderia incluir a sua eliminação. Entretanto, ele pretendia

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revelar o conteúdo dos filmes no futuro, quando fosse mais seguro para
ele.

Após a entrevista, os ufólogos mantiveram contato com o coronel


Henry por algumas semanas. Até que Jonas Prestes o convidou para dar
uma palestra sobre sua experiência durante a Operação Prato, no Rio de
Janeiro. Prestes e Gesser combinaram com o coronel de, após a
palestra, o levar para uma sessão de hipnose a fim de extrair mais dados
que estivessem bloqueados, e, também, para atestar ao público, de forma
definitiva, a veracidade dos fatos narrados por ele. As datas da palestra e
da sessão de hipnose seriam definidas mais adiante, pois ambos os
pesquisadores ainda precisavam organizar o material da entrevista e
terminar a edição de um livro, além de organizarem um encontro ufológico
que ocorreria nos próximos meses.

Poucos dias depois, o coronel Henry estava na sala de estar com sua
esposa e com sua filha, assistindo ao noticiário e pensando sobre a
repercussão de falar sobre a Operação Prato ao vivo, para um grande
público. Num impulso, o coronel levantou-se e subiu até segundo andar da
casa.

- Aonde você vai, pai? - perguntou a filha.

- Vou lá no quarto descansar um pouco – respondeu o coronel Henry.

Após cerca de uma hora sem que o coronel retornasse, a filha subiu
no quarto para ver o que o pai estava fazendo e o encontrou inconsciente
e caído ao lado da cama. Sobre o criado mudo havia duas cartelas de
tranquilizantes completamente vazias e uma garrafa com resto de uísque.

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***

Minutos depois do suicídio do coronel Henry, o operador de controle


da equipe de monitoramento foi verificar a atualização dos dados
recebidos dos nativos implantados. Em frente à sua cadeira, se abriu a
tela holográfica azulada onde apareciam milhares de caracteres luminosos
brancos. Um pequeno ponto apresentava a cor laranja e uma sequência
de caracteres que iam diminuindo a cada minuto. Por fim, todos os
estranhos símbolos desapareceram. O coronel estava morto.

Com um gesto rápido, ele selecionou o ponto alaranjado e deu um


comando de voz:

- Desativar implante.

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Capítulo 11

A Land Rover preta entrou na elegante Avenida República do Líbano,


no bairro Jardim Paulista, atrás do Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Cruzou a rua em meio às árvores e mansões, um local tranquilo que
contrastava com o trânsito intenso das avenidas do outro lado do parque.

Através da grande fachada envidraçada, a secretária viu quando o


carro subiu a calçada e a porta da garagem subterrânea se abriu. O carro
entrou. Em poucos minutos, seus ocupantes estavam no saguão do
pequeno prédio de três andares da Truth – Assessoria Empresarial.

Os dois homens vestindo ternos impecáveis se aproximaram do


balcão e a secretária levantou o leitor biométrico. Eles encaixaram os
polegares, o leitor emitiu um bip e sua entrada foi liberada. Ao passarem
pela primeira porta blindada, o guarda atrás do vidro apontou para o leitor
de retina.

Coronel Saul Crenshaw – LIBERADO

Capitão Dale Alexander - LIBERADO

Com a entrada novamente liberada, eles cruzaram a segunda porta


blindada e subiram as escadas.

Contrariando a indicação do enorme letreiro em aço inox na fachada


do prédio, os dois homens não entraram num escritório comum, de
assessoria empresarial, mas no enorme quartel general de controle da
CIA no Brasil. Nas diversas salas do prédio funcionavam centrais de

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análises de dados, de monitoramento militar e de decodificação de


informações. Ali, os agentes da inteligência norte-americana se uniam a
militares americanos infiltrados.

O pequeno prédio de esquina, com dois andares e garagem


subterrânea era um ambiente confortável para a montagem da central da
CIA. Sua escada central de granito escuro levava a um átrio no segundo
andar, onde os agentes podiam ver uns aos outros por meio de vidros que
separavam as salas. Existiam apenas duas peças com paredes e portas
opacas, onde entravam e saiam pessoas estranhas, que raramente eram
vistas novamente no local.

Entretanto, o escritório possuía duas curiosidades: o lixo e os


funcionários da copa. Com exceção dos banheiros, não existiam cestas de
lixo em nenhum outro local. E mesmo o lixo dos banheiros desaparecia
rotineiramente duas vezes ao dia. Quem o recolhia era um enigma, assim
como quem preparava as refeições que os agentes comiam na pequena
cozinha e quem servia o café que aparecia misteriosamente sobre as
mesas durante o expediente.

A CIA começou sua atuação ostensiva no Brasil pouco antes do Golpe


de 1964, prevendo com vinte e quatro horas de antecedência a deposição
do presidente João Goulat. A agência estava a serviço dos interesses
americanos em estabelecer ditaduras anticomunistas na América Latina
de forma necessária e provisória. Assim, a CIA atuava, também, na face
oposta do processo, ajudando a fortalecer forças de resistência com o
apoio secreto a comícios de rua pró-democracia e o encorajamento de
sentimentos democráticos e anticomunistas no Congresso Nacional. O

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resultado deste jogo muito bem orquestrado pelo governo norte-americano


foi a subjugação dos comunistas pelos militares, que, depois, tomaram o
poder por pouco tempo e foram depostos para dar lugar a um estado
verdadeiramente capitalista.

Hoje, a CIA atua livremente no país, reunindo-se rotineiramente com


agentes da Polícia Federal para tratar de assuntos relativos ao combate
do terrorismo. EUA e Brasil admitem que os acordos de cooperação entre
a Embaixada dos EUA e a Polícia Federal são uma formalidade. Os
americanos estão espalhados pelo país atrás de informações sobre
terroristas residentes no Brasil, brasileiros ou não. Eles dão a linha das
investigações aos policiais e apontam quem deve ser o alvo de
investigações.

Contudo, pouco se sabe sobre o quanto esta cooperação se estendeu


em relação à CIA, uma vez que a agência faz bem mais do combater o
terrorismo em solo brasileiro. O mínimo de que se tem conhecimento é
relativo à espionagem de políticos e de pessoas comuns que possam se
tornar ameaças aos assuntos estratégicos americanos na América Latina.

Na sede da Truth, ao ver o coronel rumar para sua sala, um agente


rapidamente pegou um papel de cima da mesa e correu atrás dele.

- Coronel! Uma novidade interessante.

O coronel leu o conteúdo do papel e deu uma risada.

- Isto é sério? De onde veio?

- Do e-mail do ufólogo, o senhor Amir Gesser – respondeu o agente,


ofegante.

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- Deve ser uma brincadeira ou esta jovem está querendo publicidade. O


que realmente aconteceu na Amazônia, o coronel Henry levou para o
túmulo. Mas continue monitorando esses dois. Bom trabalho, rapaz!

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Capítulo 12

Cassandra, você tem Skype? Se não, baixa ele (é bem simples) e


assim podemos conversar bastante sem custo. Não que o custo impeça,
mas a liberdade de falar pelo Skype (e se você tiver webcam, melhor)
compensa muito. Tenta e me diz. Me adicione: agesser1 e vamos em
frente.

Abs, Ges

A mensagem deixou Cassandra radiante. Seria importante falar com


Gesser, afinal, ela mesma tinha mais perguntas do que respostas. E
também, após receber a mensagem do coronel Henry, ela pesquisou um
pouco sobre o ufólogo e sobre o próprio coronel e suas experiências na
Amazônia.

Em poucos minutos, instalou o Skype e adicionou o ufólogo. À noite, o


ufólogo a chamou.

Quando ela confirmou a mensagem em vídeo, o ufólogo viu na sua


frente uma jovem de cabelos molhados, recém saída da piscina, sentado
em algum lugar ao ar livre e trajando um vestido preto tomara-que-caia, o
que deixava em evidência seus ombros largos e definidos. Foi impossível
o ufólogo não demonstrar certo desconcerto. Para disfarçar, ele se

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remexeu na cadeira, ajeitou a webcam e tomou um gole de vinho. Não


entendia o desconforto que a visão daquela jovem lhe causava.

Cassandra o olhava fixamente e procurava parecer calmo, tentando


fazer as palavras saírem, pois ela nunca imaginou falar com o maior
ufólogo do mundo. Sem muita cerimônia, fez logo a sua pergunta, que era,
na verdade, uma afirmação:

- Tenho uma impressão muito forte de que estes visitantes não têm
um padrão moral como o nosso. Mesmo que estejam pesquisando,
levantando dados a nosso respeito, eles não parecem se importar com as
consequências disso para as vítimas. Não se importam em como as
pessoas irão se sentir – disse ela.

- Eu creio que os militares têm a mesma opinião sobre eles -


assegurou o ufólogo.

Gesser contou a ela como conheceu o coronel Henry, como foi passar
dois dias na casa do militar, ouvindo seus relatos sobre a Operação Prato,
e o quanto se ressentia de não haver editado a gravação da entrevista a
tempo, pois tinha que fechar a edição de uma revista, além de ter outros
compromissos importantes. Ele acreditava que se tivesse enviado a
entrevista antes para os meios de comunicação, o coronel veria o
resultado de sua corajosa abertura e o quanto contribuiu para trazer a
verdade à tona, e, talvez, não tivesse se suicidado. Ao narrar estas
impressões, os olhos de Gesser se encheram de lágrimas.

Cassandra, sentindo a dor daquele interessante desconhecido,


argumentou que houve, de fato, uma programação psicológica, somada

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ao trauma inconsciente das duas abduções e a uma personalidade


soturna, o que resultou na profunda depressão do coronel, o levando a
atentar contra a própria vida. E que nada poderia mudar ou adiar a
tragédia.

A conversa seguiu em tom mais ameno depois. O ufólogo contou a ela


sobre sua trajetória na pesquisa sobre contatos extraterrestres, sobre
suas viagens e sobre as visitas aos locais onde ocorriam fenômenos e em
como fez uma vigília em Colares, nos mesmos locais em que o grupo do
coronel Henry esteve acampado entre o final de 1977 e o início de 1978.
No entanto, ele afirmou que nada foi visto, que não presenciou nenhum
fenômeno atípico durante a vigília.

- Mas me conte um pouco sobre você. O que você faz? - perguntou


ele.

- Eu trabalho com ciências exatas, dou aula particular e faço


pesquisas. E estudo para um concurso na área de navegação –
respondeu Cassandra.

- Nossa! Você é bastante ocupada – concluiu Gesser, surpreso com


as atividades incomuns do médium.

- E me diga uma coisa, você já tinha ouvido falar no coronel Ulisses


antes? Já teve notícias sobre a Operação Prato? – quis saber ele.

- Sobre esta operação tive poucas informações, a maioria delas li no


seu site. Eu visito mais o site Anomalies of Mars, sobre Marte e suas
anomalias fotografadas pelas sondas enviadas pela NASA. É o site que
eu mais gosto.

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Enquanto eles conversavam, Cassandra sentiu a abrupta


aproximação do coronel Henry e seu impulso para tomar o controle e
digitar algumas palavras ao amigo. Mas não permitiu que ele o fizesse,
uma vez que era ela quem estava conversando e aquele não seria um
momento propício para passar comunicações mediúnicas.

Naquela noite, Gesser foi dormir pensando em Cassandra, o que


lhe trazia constrangimento e estranheza.

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Capítulo 13

23 de dezembro de 2013

Por voltas das quatorze horas e trinta minutos, Cassandra estava


sentado em sua escrivaninha de vidro, estudando, pois se preparava para
uma prova muito difícil na área de navegação. Estava imersa em cartas
náuticas e em cálculos de fusos horários e de linhas de posição de navios.

Desde que se mudara para a nova casa, há poucos meses, mantinha


sempre a porta dos fundos aberta. Antes, morava num apartamento
enorme, mas não tinha pátio. Agora, o pátio da nova casa, mesmo sendo
de tamanho modesto, era uma benção. Ela havia instalado uma piscina de
borda inflável, mas que já ajudava a espantar o calor. Tinha cordas de
roupas enormes para dependurar tudo o que precisasse, além de ainda
contar com dois alpendres para proteger os quase cem cactos que
colecionava. E havia bastante espaço para fazer exercícios. Podia ver o
céu sem ter a visão ofuscada por fios e por cabos da rede elétrica, nem
por prédios mais altos.

De repente, ela ouviu um barulho no pátio. Parecia alguém pulando o


muro. Mesmo sabendo que isso seria quase impossível, pois os muros ao
redor do pátio tinham mais de três metros de altura, ela levantou e foi ver
o estava acontecendo.

Ao chegar ao pátio, viu um de seus gatos olhando fixo para o telhado


e se virou para tentar ver o que era, pois às vezes outros gatos da

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vizinhança se aproximavam e seus gatos ficavam agitados. Olhou bem


para cima da casa e não viu outros gatos.

No mesmo instante, sentiu uma forte presença, mas já estava


acostumada com isso. Deve ser um espírito. Mas o seu gato novamente
sinalizou que algo estava errado. O animal imediatamente se achatou no
chão, entrou em casa se arrastando e se escondeu.

Cassandra entrou também e, como não era nada demais, tornou a


deixar a porta aberta para ventilar a casa. E sentou novamente para
estudar.

Após alguns segundos, percebeu que alguém entrou na cozinha e se


virou para ver. De frente para ela, em pé entre a mesa e a pia, estava um
ser usando uma roupa branca perolada colada ao corpo, dos pés à
cabeça, com o rosto coberto por um visor escuro. Ao redor do pescoço, a
roupa tinha um arremate largo em tom verde oliva perolado. O estranho
ser usava um cinto branco não muito largo, equipado com um aparelho
quadrado que estava de lado, quase nas costas do ser.

Ela pôde notar, ao redor do visitante, uma espécie de nuvem de


energia. Continuou olhando para o visitante, que percebeu que estava
sendo visto. O ser ficou desconcertado e tentou fazer um gesto brusco,
mas se conteve. Então, com calma, ajustou alguma coisa no aparelho que
trazia no cinto. Mas Cassandra continuava enxergando ele.

O ser caminhou devagar para o pátio e a jovem se espichou na


cadeira giratória para ver aonde ele ia. Ao olhar para o pátio, percebeu

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que outros dois seres o esperavam do lado de fora, trajados da mesma


forma. Ela levantou e foi até o pátio, mas já não havia mais ninguém.

Sem perder tempo, Cassandra fez um desenho rápido do visitante, o


escaneou e o enviou um email para Gesser, relatando o ocorrido.

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Capítulo 14

24 de dezembro de 2013

Exatamente às quatorze horas e trinta minutos lá estava Cassandra


estudando novamente. Já fazia três anos que ela cumpria essa mesma
rotina. Levantava as 5:45 horas da manhã, mas às vezes dormia até as
6:00 horas. Escovava os dentes, fazia ioga, tomava banho e ia estudar. Já
tomava o café da manhã com os livros na mão. Às vezes, interrompia o
estudo e ficava olhando as cartas náuticas e as fotos de satélite presos na
parede a sua frente, só para ter o prazer de saber que já estava quase
preparada para a prova prática, na qual teria que cumprir uma faina
completa de manobra de uma embarcação. O único problema é se me
derem um navio de passageiros, que é fácil demais de manobrar. Ela se
preparou para o pior, para as piores condições e para fazer tudo sozinha.

Achou melhor voltar a se concentrar na parte teórica. De súbito, seu


raciocínio foi interrompido por uma voz e por uma visão. Ela viu um
homem forte, de ombros largos, mas sem músculos exagerados, de
cabelos castanhos bem claros e levemente ondulados, caídos exatamente
na altura dos ombros. Seu rosto tinha uma expressão pouco amigável e
parecia cansado. Seus olhos eram castanhos esverdeados, iguais aos dos
humanos, mas arredondados e a íris era ligeiramente maior, com cerca de
dezessete milímetros de diâmetro, o que os fazia parecerem bem maiores.

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Como se falasse e sussurrasse ao mesmo tempo, o homem mostrou


um código de comunicação em Morse, para ser enviado em cores
diferentes: um sinal longo amarelo, dois sinais longos verdes e um sinal
curto vermelho. Na mente de Cassandra ecoou outra mensagem: pessoas
comuns, apenas estudiosos. E a imagem de militares camuflados
portando rifles de longo alcance. Militares armados não. Cores são
instruções apenas para navegadores nossos. O ser mostrou a imagem de
naves na mesma região onde o coronel Henry esteve nos anos 70, mas
deixou claro que eram imagens de dias atuais. Também mostrou que não
tinha a intenção de matar ou de causar qualquer mal, a menos que seja
necessário e demonstrou uma indiferença marcante em relação aos
humanos terrestres.

Cassandra anotou o código no primeiro papel que viu pela frente e


decodificou seu significado. TME. Ela não se lembrava de todos os mais
de cem códigos de comunicação por sinais, mas sabia que aquele, em
especial, não existia. Para tirar a dúvida, acessou sua biblioteca digital e
abriu o ICS – International Code of Signals, utilizado no mundo todo para
comunicações de navios e de aeronaves. Realmente, TME não existe.
Vou tentar por partes do código, deve fazer algum sentido ou não usariam
código Morse.

Lá estava. T indicava um sinal recebido e conhecido por aeronave, e


não por navio. Indicava que a mensagem era para uma aeronave. ME
indicava o curso para um lugar e deveria, tecnicamente, ser seguido de
coordenadas. TM indicava uma direção. Se não fossem indicadas as
coordenadas geográficas nem a direção, TME significaria algo do tipo:

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“aeronave deve me encontrar aqui”, ou seja, no mesmo local da emissão


do sinal.

Isso não faz sentido e é tão desnecessário... A menos que queiram


demonstrar o quanto conhecem sobre nossos sistemas de comunicação.
Conhecem tudo...

Mas ela estava mais intrigada com outra questão. A comunicação em


si. A comunicação telepática feita em duas frequências distintas emitidas
quase ao mesmo tempo equivalia a uma pessoa falar e sussurrar ao
mesmo tempo, assuntos diferentes. Frequências altas se relacionam a
ondas eletromagnéticas de altas energias e de altos potenciais elétricos
irradiados no cérebro. Este estado estava relacionado com o melhor
estado de percepção e explicava o tipo de mensagem mais clara. Já
mensagens em baixas frequências eram captadas pelo limiar entre
consciência e inconsciência, pois eram emitidas em ondas de menor
potencial elétrico e captadas desta forma pelo cérebro. Eram como um
sussurro telepático.

Em tantos anos de vivência mediúnica, ela nunca tinha visto uma


comunicação espiritual daquele tipo, realizada em frequências distintas.
Tampouco jamais ouviu falar de médiuns que recebessem mensagens
daquela forma. Comunicação mediúnica com tamanha qualidade era algo
raríssimo e denotava certo grau de proximidade e de convívio contínuo
com o espírito. Isso a levou a descartar que pudesse ser alguma
comunicação espiritual maliciosa. O plano espiritual também não estava
livre de pessoas más ou bobas, que se divertiam à custa dos outros.

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Todos estes fatos somados a levaram a fazer uma constatação, de


que estava lidando com seres de alto potencial intelectual, com enorme
conhecimento sobre a espécie humana e sobre cultura terrestre, com o
poder de usar isso da forma que melhor lhes conviesse, com poder de
controlar situações e, provavelmente, com um avanço tecnológico incrível.
Seja como for, ela não saiu da comunicação com a melhor impressão
sobre os visitantes.

Organizou seus pensamentos e suas conclusões, e mandou um e-


mail para Gesser.

ola! de uma olhada no anexo.

abraço

Cassandra

No documento anexo ela narrou todos os fatos e suas impressões:

Já são décadas de estudo da nossa espécie. Se fossem nos atacar,


colonizar ou escravizar, já teriam feito. Não sei o que você irá decidir
sobre o encontro, mas tenho certeza de que a conversa será breve e
objetiva, sem mensagens apocalípticas ou sobre o meio ambiente. Caso
decida ir, reúna um grupo, filme, divulgue.

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Capítulo 15

Eram quase nove horas da noite e o coronel Crenshaw abriu a porta


da Land Rover preta no subsolo do elegante prédio em São Paulo. Atirou
sua pasta no banco traseiro e o iPhone, no banco do carona. Afrouxou a
gravata e entrou no carro. Colocou o cinto de segurança. Um guarda
acionou o controle para abrir o portão da garagem.

O coronel acelerou para subir a rampa e sair, quando quase atropelou


o capitão Alexander. O jovem capitão dos Marines americanos atirou seu
corpo forte de um metro e oitenta e cinco de altura em cima da Land
Rover e grudou um papel no para - brisa.

- Coronel! Coronel! Me desculpe. Acabamos de receber.

O coronel baixou o vidro blindado da porta.

- Dale, quase matei você. Deixa eu ler isso.

Pensando que poderia perder os fabulosos petiscos do restaurante do


Blue Tree Hotel, onde estava indo jantar, pegou o papel das mãos do
capitão, disfarçando a má vontade.

- A brincadeira destes dois está ficando séria. Convoque uma reunião


com os agentes para amanhã cedo e quero o computador desta moça
aberto e com relatório de cada arquivo, e os telefones grampeados. E
quero todas as movimentações do Gesser a partir de agora, pra quem
ele liga, o que ele fala, tudo. Boa noite, capitão.

- Boa noite, senhor.

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Capítulo 16

Gesser passara os últimos dias atribulado com a elaboração de uma


coluna para um site de ufologia e com a organização de mais um encontro
ufológico. Sua mesa estava um caos, com papeis, com números de
telefone, com listas de pessoas para quem já deveria ter ligado, com uma
lista de hotéis, com fotos para escolher. Abriu o e-mail e lá estava outra
lista gigantesca de mensagens para colocar em dia.

Em meio à correria, vez ou outra pensava em Cassandra. A moça de


cabelos cacheados, de boca carnuda e de olhos penetrantes lhe parecia
muito interessante, mas o teor de sua última mensagem absorvia muito
mais a atenção e a preocupação dele.

Alguns anos antes de entrevistar o coronel Henry, ele, junto com


outros ufólogos, foi até Colares e o grupo fez vigílias em diversos locais.
Na época ele não sabia exatamente onde ou se os militares da Operação
Prato haviam travado algum contato com os OVNIS, então acamparam
mais ou menos próximos de onde alguns moradores relataram ter visto
luzes estranhas. Mas eles mesmos jamais viram ou ouviram nada de
diferente durante as suas vigílias.

O máximo que ele conseguiu foi apurar informações mais precisas,


como o início do fenômeno, no Estado do Maranhão, a Leste do Estado
do Pará. Lá, o fenômeno teve as mesmas características de Colares e as
vítimas eram sempre ribeirinhos ou pessoas que viviam isoladas na zona
rural. E a Operação Prato foi criada para atender as ocorrências

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maranhenses devido às solicitações de apoio da Força Aérea por parte de


delegados e de prefeitos.

Com a chegada dos militares à região, o fenômeno parou de ocorrer e


se deslocou para o Pará, onde também fez vítimas com as mesmas
características: pessoas que viviam em locais mais isolados, de difícil
acesso.

Quando os militares foram para Colares, os ataques também


cessaram e não mais voltaram a ocorrer, embora ainda hoje seja intensa a
movimentação de OVNIS na região.

Este tempo todo, depois de trinta e seis anos, eles finalmente querem
um encontro? Porque não mandaram um recado antes, por uma das
vítimas? E se ela estiver inventando isso... Publicidade talvez, atenção, ou
pode ser uma louca. Médium, mas louca. Gesser tentava buscar uma
resposta para os fatos, pois conhecia o passado, não entendia o presente
e não sabia o que fazer no futuro desta situação.

Naquela noite ele foi dormir pensando nisso. No quanto seria louco
organizar uma expedição de ufólogos, mandar códigos coloridos no meio
da mata e encontrar um alienígena. E se alguém ficasse sabendo antes,
seria um inferno. Haveria todo tipo de gente se enfiando na floresta
Amazônica em busca de um contato. Uns querendo saber o sentido da
vida, outros querendo ser abduzidos. Sem contar na hipótese de histeria
coletiva de membros de seitas que poderiam organizar suicídios em
massa, pensando ser o fim do mundo. Ele pensou no caos financeiro,
pensou em muitas coisas e dormiu.

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Algum tempo depois, o ufólogo acordou com um barulho estranho,


escutou vários estalos, como o girar de uma catraca. Sem saber de onde
vinha o barulho, foi até a janela do seu apartamento e bem à sua frente
havia um disco enorme, preto, em formato piramidal.

Correu para o escritório e pegou uma filmadora, conferiu a bateria e a


ligou. Afastou as cortinas para filmar, enquadrou o objeto, que permanecia
imóvel, e o observou pelo visor de cristal líquido da câmera. O objeto abriu
uma pequena janela triangular na face voltada para ele. Ele levantou os
olhos e olhou direto para dentro do disco. Não havia nada lá dentro, era
uma sala vazia com paredes metalizadas. Voltou a enquadrar o objeto no
visor da câmera, quando viu uma silhueta surgir na janela do OVNI.

Dane-se, vou garantir a filmagem. É a filmagem pela qual esperei a


vida toda.

A silhueta do ser estranho permaneceu na janela e ele, com cuidado


para não tirar o objeto do foco da câmera, olhou devagar para frente e
pode ver Cassandra o encarando com seus olhos penetrantes.

O ufólogo deu um grito de pavor e levantou da cama, encharcado de


suor. Trêmulo. O coração acelerado. Passou a mão nos cabelos molhados
e tirou a camiseta. Saiu do quarto e foi para a sala. Sentou no sofá, sem
saber o que pensar e tentando se recuperar do pesadelo. Respirou fundo
e foi tomar um banho morno.

Enquanto a água morna caia sobre o seu corpo, ele foi se acalmando
e pôde pensar com mais clareza. A grande oportunidade da uma vida

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inteira de pesquisa estava se concretizando na sua frente. E se


Cassandra estiver dizendo a verdade? Se tudo for real?

Pensou no custo da viagem para várias pessoas, em quem convidar e


no quanto já havia gasto em inúmeras viagens a todos os cantos do
mundo, sempre atrás de pistas antigas, sempre sentindo que chegava
atrasado, décadas atrasado, centenas de anos atrasado, milhares de anos
atrasado. Sempre atrás dos acontecimentos. Sempre atrasado.

Ao sair do banho, resolveu reenviar o e-mail de Cassandra para seu


colega e amigo de muitos anos, Jonas prestes.

Me dê sua opinião.

Abraços, Gess

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Capítulo 17

29 de dezembro de 2013

Eram oito horas da manhã, quando o telefone tocou. Gesser estava


na cozinha tomando café e correu para o escritório para atender.

- Fala, meu querido! Recebi o email - gritou Prestes, do outro lado da


linha.

- Pois é ... Achei melhor pedir uma boa segunda opinião. Como você
está? - Gesser não escondeu sua insegurança.

- Aqui está tudo bem, tudo na mesma. Olha só, eu li o anexo que ela
te mandou e, sinceramente, acho melhor ver isso direito, ver bem quem
ela é ... Não dá pra se atirar assim, senão qualquer maluco te manda uma
coisa dessas e você vai atrás. Mas, que é bem interessante, isso é.

- Tive até pesadelo com isso. Vou dar mais um tempo e qualquer
coisa te aviso. Mas vou te ligar direto, não vou mandar por e-mail, se uma
coisa dessas vazar...

- Vai ter gente acampada na tua porta. Fica com Deus, meu irmão! -
se despediu Prestes.

- Um abraço!

***

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A mais de dois mil quilômetros de distância, bem ao Sul do Brasil,


Cassandra estava se alongando após algumas posições de ioga. Já tinha
virado hábito, acordava, escovava os dentes, tomava água, bastante
água, e fazia ioga. Só depois disso, o seu dia começava.

O dia estava quente e ensolarado. Ela tomou um banho e preparou o


café sem café. Sua primeira refeição era sempre uma banana amassada
com linhaça dourada e com aveia. Ela mesma se rotulou como uma
péssima gaúcha, o nome de quem nasce no Sul do Brasil, onde
churrascos e chimarrão de erva mate são obrigatórios. É desfeita grave
recusar um ou outro, dois símbolos da hospitalidade gaúcha. Ela
detestava ambos. Era vegetariana e não tomava mate.

Em torno das dez horas da manhã, ela foi até o banheiro arrumar o
cabelo e pintar os olhos. Sempre usava rímel e delineador preto nas
pálpebras superiores.

Uma voz invadiu sua mente. Olá Cassandra. E a imagem do homem


de cabelos castanhos claros, caídos nos ombros, e de olhos castanho
esverdeados surgiu no seu pensamento.

Desta vez, ela resolveu não perder a oportunidade e disparou uma


pergunta: porque na região do Amazonas?

Alguns segundos depois, ela sentiu uma conexão mental muito forte,
quase como uma pressão na cabeça, e pôde ver claramente que havia
chegado à nave, um outro ser. De feições bem mais agradáveis e mais
parecidas com os brasileiros daquela região do Norte do país, ele era um
jovem aparentando cerca de trinta anos, altura média de

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aproximadamente um metro e setenta e cinco centímetros, pele morena


como se estivesse bronzeado, cabelos negros e ondulados, penteados
para trás com um bonito volume, olhos castanhos escuros e o rosto
amigável e muito bonito. Ao se firmar a conexão mental entre ambos,
Cassandra soube que ele foi correndo até um aparelho branco do
tamanho de um micro-ondas e que estava suado porque acabara de
chegar à nave e trocou rapidamente as roupas terrestres por um macacão
branco, sem cobrir a cabeça. No lado esquerdo do macacão havia uma
etiqueta retangular com uma esfera azul no centro. Ela também soube que
o visitante estava em missão, misturado à população de uma cidadezinha
do Norte do país.

O bonito visitante tomou a frente da conversa, pois parecia muito


habituado aos costumes e ao modo de pensar dos nativos terrestres. Para
testar o grau de passividade do povo e o tempo de reação dos grupos de
proteção de vocês. Aquela faixa de território tem a temperatura propícia
ao desenvolvimento de inúmeras doenças. O tipo de pessoas que
pesquisamos tem características que só seriam encontradas ali, estão
longe de tratamentos de saúde, não têm boa higiene nem maiores
cuidados ambientais, logo apresentam uma gama muito grande de
doenças genéticas, de parasitas, de problemas decorrentes de falta de
nutrientes, de doenças que só se encontram neste clima. Analisamos
também o Sudeste asiático, mas a população e o governo deles não são
suficientemente amigáveis.

Mas o que vocês querem conosco? Na mente de Cassandra veio a


lembrança de todos os filmes de ficção que ela havia assistido, com

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alienígenas atacando e escravizando pessoas. Para sua imagem mental a


resposta veio rápida. Não necessitamos de escravos porque temos uma
tecnologia bastante avançada para realizarmos tudo o que precisamos.
Além disso, nosso povo é esforçado e trabalhador. Levamos uma vida
bem mais simples em nosso lar. Muitos dos artefatos que vocês veem
foram desenvolvidos especialmente para missões deste tipo. Mas outros
mundos com biodiversidade deste tipo ficam muito longe.

Cassandra não perdeu tempo, e disparou: porque vocês não se


apresentam para mim?

Para poupar você, porque precisamos de aliados. Entre sábios e entre


líderes. Precisamos que uma nação fale por nós. Em outra mensagem
mental, enviada simultaneamente, foi relatado que os visitantes
conheciam a geopolítica de todos os países, sabiam quais nações
poderiam ser receptivas e quais tentariam dominá-los e à sua tecnologia.
Também sabiam que, em território brasileiro, estariam a salvo, de certa
forma, da intervenção efetiva e violenta de outros países.

Pode me chamar de Lucas. O bonito estranho revelou que escolheu


este nome terrestre para se misturar às populações, pois apreciava muito
a sua sonoridade.

Ok. Sei que me observam e sabem o que eu penso. Sei que estão
traduzindo meu pensamento para o idioma de vocês. Cassandra foi direta.

Perfeito, respondeu Lucas.

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E ela continuou. Proponho que se apresentem adequadamente para


mim e tentarei convencer cientistas a encontrá-los. Tenho certeza de que,
com evidências, não recusarão um encontro.

Consultarei líder. Resposta depois. Foi a resposta de Lucas.

Cassandra, de súbito, sentiu um forte enjoo e tontura. Gostaria de me


desconectar agora. Não me sinto bem...

Isso que queremos evitar, falou Lucas.

Dois minutos depois, o último contato dos alienígenas:


Agradecemos. Em poucos minutos, a jovem já se sentia melhor. Porém,
naquele dia, mais tarde, voltou a passar mal e procurou o hospital próximo
à sua casa. Chegou lá agitada, trêmula e com taquicardia. Não havia
outros motivos para tais sintomas, que vieram a aparecer horas depois da
conversa com os visitantes. Sua pressão sanguínea estava normal, sua
glicemia também estava normal, e sua oxigenação, excelente. Mas ela
estava em choque.

Sem poder dizer o motivo do seu estado, ganhou um comprimido de


Vallium e ficou algumas horas em observação.

Chegou em casa e dormiu um pouco.

Bem no final da tarde, acordou com taquicardia novamente.


Apavorada, retornou ao hospital. A mesma médica a examinou novamente
e constatou que não havia taquicardia. Era um ataque de pânico. Colocou
Cassandra numa sala de observação e saiu. Minutos depois, retornou

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acompanhada de outro médico, que conversou com ela e que confirmou


se tratar de uma crise de pânico. A médica administrou um comprimido de
Alprazolam, lhe deu uma receita para uma caixa do medicamento e a
liberou, com a recomendação de que não ficasse sozinha, pois, sob o
efeito do calmante, poderia cair e se machucar.

Cassandra deixou o hospital sob um forte temporal. Chamou um táxi e


foi pra casa, pensando na recomendação da médica. Infelizmente, ela
teria somente a companhia dos seus dois gatos, pois morava sozinha, seu
melhor amigo havia ido para outra cidade há alguns anos e a colega de
faculdade mais chegada era, na verdade, uma péssima pessoa, com a
qual não podia contar. Também não tinha parentes, com exceção de uma
tia que morava em outra cidade. Seus pais haviam morrido e ela era filha
única.

Chegou em casa já tonta devido ao efeito do remédio. Deitou e


adormeceu vendo o teto do quarto girar.

***

No dia seguinte, acordou atordoada por causa do medicamento. Não


estava acostumada a tomar remédios para dormir ou para relaxar. Aliás,
nem estava acostumada a relaxar.

Sentou na cama e ouviu: Estamos monitorando sua saúde.

Agora ela tinha certeza de que os relatos sobre implantes


extraterrestres, dos quais já ouvira falar, eram reais e certamente estavam

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em algum lugar do corpo dela. Mas onde estava o implante? Ela passou a
mão pela cabeça, pelos braços, pelas pernas e pelo abdome. Nada. Só
pode estar num lugar, nas costas. Tentou apalpar as costas, mas não
alcançou direito. Azar. Se eu não senti nada até agora, não vai me fazer
mal e não vou me preocupar com isso. Pode até nem ser um implante.

***

Outubro de 2013

Dois grandes olhos castanhos esverdeados olhavam fixamente para


uma projeção do relevo brasileiro, exposto como uma parede translúcida e
brilhante em frente à sua cadeira. O aparelho na cabeça do homem,
semelhante a um fone de ouvido pequeno, enviava um comando do seu
cérebro direto ao minúsculo computador. A imagem se aproximou dele,
desceu até a parte mais ao Sul do relevo e aumentou até aparecerem dois
pontos brilhantes.

Na região Sul do país, duas pequenas sondas que se encontravam


hibernando no fundo do mar foram reativadas e se deslocaram até as
localizações dos pontos luminosos monitorados pela nave.

Não demorou muito para que uma das sondas chegue ao mais fraco
dos pontos, numa zona serrana. Uma imagem surgiu na tela da nave, era

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um homem, um agricultor caminhando em meio a uma plantação dourada,


e sua imagem apareceu no canto direito superior.

A outra sonda, no litoral Sul, encontrou o ponto mais brilhante. Era


uma jovem e sua imagem, sentada numa mesa de vidro, surgiu em
seguida. Era Cassandra.

- Sary, encontrei duas afinidades energéticas. Ambas opostas. Ao Sul


– comunicou o visitante.

- Entendido. Escaneie as características – determinou o líder da


missão.

- Já fiz isso, as sondas fizeram a leitura dos espectros. O que se


encontra mais ao Sul possui limites próximos aos nossos padrões –
respondeu o visitante, que rastreava e monitora nativos que
apresentassem leituras energéticas mais próximas às do seu povo.

O líder da equipe recebeu a mesma imagem captada pela nave de


monitoramento, girou sua cadeira centro e oitenta graus e visualizou a
projeção luminosa de cinco naves semelhantes. Com um comando
mental, uma das imagens passou à frente das outras.

- Terceira equipe, prepare uma conexão contínua com a afinidade


encontrada. Estou enviando os dados magnéticos para navegação –
determinou o líder.

- Entendido. Partindo para o Sul. Mantemos contato – respondeu Eilin,


o comandante da terceira equipe, de monitoramento e de interação.

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Na nave da terceira equipe, sobre o painel de navegação pairava um


holograma da Terra com suas linhas de indução magnética de um polo a
outro, brilhantes em um tom branco leitoso. Sobre cada linha, que
apresentava pequenos desvios, havia centenas de marcações em
caracteres estranhos. Um arco de uma das linhas, no hemisfério Sul do
planeta, mudou a cor para laranja e a nave cruzou o céu do Brasil em
altíssima velocidade.

Não demoram mais do que quinze minutos para chegar a uma


pequena cidade no litoral Sul, localizada na ponta de um istmo rodeado
pelas águas do Oceano Atlântico.

Três navegadores posicionados simetricamente na sala de navegação


executaram um comando simultâneo num painel e o casco externo da
nave começou a refletir o ambiente exterior, tornando-se invisível a olhos
destreinados e aos radares da estação de monitoramento do 5° Distrito
Naval, o Comando da Marinha na região.

A nave subiu acima das nuvens finas que recobriam a cidade naquela
noite e duas figuras pequenas se posicionaram sobre a escotilha, no
andar inferior da nave. Os dois seres tinham cerca de um metro e vinte de
altura, eram magros e usavam um macacão cinza escuro cobrindo suas
cabeças um pouco desproporcionais. Seus imensos olhos negros
confirmavam sua identidade, eram de uma outra espécie dos chamados
greys ou cinzentos.

Estes pequenos seres habitavam uma das luas do planeta natal dos
visitantes. Seu lar constituía um protetorado e eram apreciados como
médicos, como cientistas e como técnicos devido à sua incrível

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inteligência, embora possuíssem menor capacidade emocional e de


empatia.

Algumas das diversas espécies de pequenos seres de pele


acinzentada e de personalidade fria eram frutos de manipulações
genéticas realizadas por alguns povos a fim de criarem trabalhadores para
as funções mais arriscadas ou mais monótonas.

Os pequenos técnicos encaixaram um visor transparente no capuz da


roupa e se posicionaram. Um deles carregava uma espécie de estojo.
Sobre eles desceu um tubo metálico de dupla parede. A parede interna do
tubo começou a girar e logo eles a sentiram alargar e ondular. Era a
aceleração à velocidade da luz. A escotilha se abriu e um cilindro
transparente e ondulante desceu sobre o telhado de um apartamento e o
atravessou.

Os dois seres escutaram um estalo forte e se viram na sala de estar


de um apartamento. Ao se virarem para trás, observaram um gato branco
os fitando com os pelos arrepiados, em cima do sofá. Atravessaram um
curto corredor e chegaram ao quarto. Cassandra dormia de bruços,
coberta por um edredom e com a TV ligada. Um deles abriu o estojo,
retirou uma espécie de caneta e a encostou na cabeça do jovem. Ela
entrou num sono ainda mais profundo. O outro ser levantou o edredom,
pegou uma espécie de pistola e a encostou bem no meio das costas de
Cassandra, do lado direito da coluna vertebral. A pistola fez um barulho,
como um chiado baixo. O pequeno cinzento voltou a tapar a moça.

Eles saíram do quarto e voltaram para a sala, se colocando na mesma


posição em que chegaram, e surgiu um cilindro vibrante ao seu redor. Os

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pequenos desapareceram com o som de um estalo forte e o cilindro se


desfez aos poucos.

Na nave da primeira equipe, o líder foi notificado.

- Sary, aqui é Eilin, líder da terceira equipe. A conexão contínua com


a afinidade foi realizada. Estamos voltando.

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Capítulo 18

Já fazia alguns dias que Cassandra não tinha notícias de Amir


Gesser. Ele deve estar super ocupado com a organização de alguma
conferência... Ou viajou.

O dia estava quente e ensolarado. Ela aproveitou a sombra no pátio


para sentar um pouco e relaxar. Estava com a câmera fotográfica na mão,
tirando fotos dos gatos. Um deles, o preto, havia sido adotado há pouco
tempo e ela gostaria de enviar fotos dele para o grupo de protetoras de
animais que o recolheram e o colocaram para adoção. Tirou algumas
fotos e aproveitou para olhar as mais antigas, que estavam salvas na
memória da câmera.

Os gatos corriam pelo pátio aproveitando a brisa e pulavam um em


cima do outro. Quando cansaram e ficaram quietos, Cassandra aproveitou
para tirar mais umas fotos.

O toque do celular a fez entrar na casa e, ao atender, guardou a


câmera no lugar de sempre, atrás do monitor do computador. Eram tantos
cabos e tantos carregadores de celular de todas as marcas, além de pen
drives e de tablets, que ela encheu duas caixas e, o que sobrou, foi
estrategicamente escondido atrás do monitor do computador, para ficar
mais à mão para o uso imediato.

À noite, ela foi para o computador ver as notícias e checar as


mensagens no Facebook. Lembrou das fotos que havia tirado dos gatos
mais cedo e conectou o cabo USB no computador para baixá-las da

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câmera. Baixou as fotos e escolheu algumas delas para postar para as


protetoras de animais.

Depois, baixou as fotos mais antigas e nomeou o arquivo com a data


delas de uma semana atrás. Checou os e-mails e tornou a abrir as fotos
antigas pra ver o que havia no arquivo e deletar as fotos ruins.

Ao passar os olhos pelas miniaturas, em três delas percebeu a


imagem de estranhos. Ela não havia recebido nenhuma visita. Clicou na
primeira foto estranha e lá estava. Em pé, ao lado do sofá, na sala
estreita, estava um bonito rapaz de pele bronzeada e olhos grandes.
Imediatamente ela reconheceu Lucas, devidamente trajado com uma
calça justa azul escura e com uma blusa da mesma cor, com a etiqueta
branca com uma esfera azul no lado direito. Atrás dele, ao fundo, na
cozinha, havia outra pessoa. Um homem mais velho, de cabelos claros
caídos no ombro, usando uma roupa igual à de Lucas.

Seu coração disparou. Eu não tirei fotos dentro de casa. Não tirei
estas fotos!

Uma segunda foto, do pátio, mostrava Lucas em pé em frente à


piscina.

A terceira foto era um close de Lucas e do outro homem. Seus olhos


iluminados tinham cílios longos e um tom esverdeado com raias cor de
mel. Eram lindos aqueles olhos. Sua pele parecia não ter pelos, não
tinham barba, nem espinhas, nem cravos, nem sinais. Suas sobrancelhas
não tinham um único pelo fora do lugar. Mas, notou que descendo pelo

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pescoço dos dois homens, havia manchinhas, como sardas grandes,


tapadas pela blusa justa.

Suas roupas, de mais perto, pareciam não serem feitas de tecido. Ela
não conseguia distinguir as linhas que se entrelaçavam para compor os
tecidos e nem as costuras. E eram feitas de um material bem fino, tanto
quanto uma folha de papel.

Cassandra ficou parada em frente à tela do computador, pensando se


estava em choque ou não. Não, não estava. Na verdade, ela já esperava
por algo assim, por algum fenômeno estranho. Só achou que seria um
encontro direto, como o pouso de uma pequena nave em frente à sua
casa. Mas, isso, era sutil demais, porém, era real.

Sem pensar muito, anexou as três fotos num email para Gesser.

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Capítulo 19

No luxuoso prédio da Truth – Assessoria Empresarial, em São Paulo,


um técnico da CIA interceptou o e-mail.

Caro Gesser

Veja os arquivos anexos.

Acredito que seja a confirmação do convite que já recebemos.

Abraços

Cassandra

O técnico abriu os anexos e os imprimiu, junto com a mensagem do


e-mail. Saiu de sua sala envidraçada e bateu à porta da sala do Coronel
Crenshaw. Ele abriu a porta e o Coronel estava ao telefone. Ao ver o
agente, fez um gesto para que o rapaz entrasse na sala.

Enquanto falava com alguém da embaixada americana no Brasil, o


coronel espalhou as folhas impressas sobre a mesa e deu um pulo na
cadeira.

- Lory, eu ligo depois. Até mais – e desligou o telefone o mais rápido


que pôde.

Olhou para o técnico.

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- Ela recebeu alguma resposta sobre isso?

- Ainda não, senhor.

- Pois entre no e-mail do Gesser e apague esta mensagem. E me


chame o capitão Alexander, faremos uma intervenção.

- Sim, senhor!

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Capítulo 20

As imagens da câmera não saíam da cabeça de Cassandra. Os olhos,


tão expressivos, tão lindos. Mas ela se recusava a admitir que aqueles
olhos externassem almas pouco amigáveis. Se os olhos são as janelas da
alma, aquelas poderiam ser janelas para uma paisagem não tão bonita.
Ou poderia ser, simplesmente, uma má impressão devido ao abismo de
diferenças que há entre a psique terrestre e a dos visitantes. Era certo que
eles tinham seus próprios valores morais, seus códigos de conduta e suas
leis, e que iriam agir de acordo com elas onde quer que estivessem.

Ela sabia que precisava deixar este assunto um pouco de lado e


cumprir com as tarefas diárias. Uma delas era enfrentar o enorme calor
que fazia na rua à tarde e ir ao supermercado.

Trocou de roupa. Nos lábios, passou um hidratante incolor. Retocou o


delineador dos olhos. Voltou para o quarto e se olhou no espelho, de
frente, de lado. A calça legging e a camiseta esportiva de tecido
tecnológico eram suas roupas favoritas, e combinavam com os tênis
sempre novos e da sua marca favorita. Perfeito.

Cassandra abriu a porta de casa e viu a rua quase deserta. Aqui


sempre parece domingo. A rua tranquila era muito diferente daquela onde
ficava o seu antigo apartamento, no qual vivia pedindo silêncio aos
vizinhos.

Saiu, passou a chave na porta, ajeitou o cabelo e deu três passos.

- Moça! Moça! Cassandra! – alguém gritou.

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Ela olhou para trás e viu um homem de terno cinza e de óculos


escuros andando rápido em sua direção. Do outro lado da rua, outro
homem, de terno preto e, também, de óculos escuros, estava saindo de
um carro prateado com os vidros filmados bem escuros.

- Boa tarde! Gostaria de conversar com você. É importante - disse o


estranho.

- Quem é você? - perguntou Cassandra, um pouco assustada.

- Meu nome é Henrique. Esse é Alexander. Por favor, podemos falar?


– disse o homem, apontando para a porta da casa dela.

- Sobre o querem conversar? O que houve? – por algum motivo ela


se lembrou do filme Homens de Preto.

O agente da CIA olhou para os lados.

- Sobre seu contato - disse baixinho.

- Ahn... Olha, não temos nada para conversar. Com licença – e


Cassandra foi andando em direção à esquina.

Os dois homens a seguiram.

- Por favor, é muito importante. É questão de segurança nacional...


Você sabe disso - insistiu o agente Henrique.

Ela pensou por alguns segundo e voltou para casa. Abriu a porta e
apontou o sofá. Os homens entraram e ela notou as suas camisas
encharcadas de suor por baixo dos ternos.

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- Querem um suco gelado? - perguntou ela, demonstrando


contrariedade.

- Sim, por favor - pediu o agente Henrique.

Os dois agentes passaram os olhos pela casa e se detiveram no


quarto, onde havia uns dez pares de tênis enfileirados lado a lado,
próximos a um espelho grande, todos da mesma marca. Numa ponta da
cama dois gatos dormiam abraçados. Na outra, estava uma pilha de
roupas esportivas. E na parede sobre a cabeceira da cama, havia um
quadro com três imagens do planeta Marte, fotografadas pela sonda
Curiosity: uma pequena planta, o pôr do sol e as dunas com arvores.

Quando Cassandra voltou da cozinha com os dois copos, o capitão


Alexander tirou os óculos escuros. Ela percebeu seus lindos olhos
castanhos esverdeados. Seu corte de cabelo no estilo militar e sua
postura perfeitamente ereta o traiam.

- A que devo a honra da visita de um militar e ... Outro militar... Ou da


ABIN... Ou da CIA ... Ou? - perguntou ela, de forma bastante direta.

- Trabalhamos para o governo e precisamos falar sobre as fotos –


explicou Henrique.

- Então vocês invadiram meus e-mails? - constatou Cassandra, nada


surpresa.

- Sim, infelizmente. E pedimos que você não mande estas fotos e nem
nenhuma outra informação para mais ninguém – disse o agente Henrique.

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Bem que ela já estava estranhando o fato de não ter tido uma
resposta de Gesser logo cedo.

- Aqui, agora, é uma democracia. Ninguém me diz o que fazer. Se


houve um contato, deve ter tido algum motivo. Mas, vocês de certo já
devem saber o motivo, porque sabem da presença deles aqui no Brasil há
anos. E certamente também já devem ter tido algum contato - as palavras
de Cassandra saíram como projéteis sobre os dois agentes.

- Nós respeitamos a sua democracia e o seu país, mas... – tentou


argumentar o agente Henrique.

- Espere aí, de onde vocês são? Não são do governo brasileiro? -


esbravejou Cassandra.

- Trabalhamos para o governo americano, junto à embaixada aqui no


Brasil - disse o capitão Alexander, com um moderado sotaque americano.

Cassandra olhou o capitão Alexander nos olhos, admirando seu rosto


de proporções perfeitas, o nariz reto, os olhos esverdeados, os ombros
largos. Ele não estava a acostumado a isso, a contatos diretos, a alguém
que não tivesse medo ou respeito de seu trabalho. O capitão ficou
levemente corado e desviou o olhar.

Enquanto admirava o agradável rosto do militar, Cassandra fazia


conjecturas.

- Mais fácil ainda! Vocês, americanos, assumiram a Operação Prato


na Amazônia nos anos 70. Sabem mais do que eu e já devem ter feito
contato com eles. Então? – disse ela.

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Ela falava com uma firmeza e com uma convicção muito grandes,
fazendo os agentes da CIA perderam o controle da situação. Olhava direto
nos olhos do capitão Alexander, que tentou manter-se firme, até que
baixou os olhos e respirou fundo.

- Veja bem, aí está o problema – o capitão olhou para o agente


Henrique – Nós, de fato, estamos monitorando a Amazônia, mas nunca
contatamos eles – explicou ele, tentando parecer o mais amigável
possível.

- Isso é mentira – afirmou Cassandra, sem poder acreditar no que


estava ouvindo.

O capitão se remexeu no sofá, demonstrando um grande desconforto


em revelar certos detalhes, mas Cassandra lhe parecia irredutível e
cabeça dura. Por fim, ele achou melhor abrir alguns dados para
demonstrar confiança.

- Tentamos código Morse, sons, luzes, cores, bandeiras, música... E


eles só fizeram voos rasantes sobre nossas cabeças, pareciam nos
provocar. Por fim, caças norte-americanos sobrevoaram a floresta e
dezenas de naves grandes e pequenas bailavam ao redor dos caças e
depois sumiam a velocidades altíssimas. Nós, de verdade, não temos
boas impressões a respeito deles.

- Garanto que nem eles de vocês, Sr. Alexander – disse ela.

O agente Henrique perdeu a paciência.

- Nós queremos evitar uma intervenção mais incisiva. Você entende?

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- Sr. Henrique, se este for mesmo seu nome, o senhor pode escrever
no seu relatório que eu não intenciono cooperar com vocês. Ok? -
respondeu Cassandra, parecendo bastante decidida.

- Nós podíamos considerar uma oferta financeira, então – interveio o


capitão Alexander.

- Como é que é? Sr. Alexander, eu tenho princípios e eles não estão à


venda. Especialmente em se tratando de algo que pode mudar a vida das
pessoas neste planeta. Agora, se me dão licença, eu preciso sair.

Nessa altura da conversa, Cassandra estava fingindo estar indignada


com as ofertas moralmente indecentes dos agentes. Na verdade, ela
sempre achou que uma conversa com agentes da CIA seria assim, com
meias verdades, com ofertas indecentes e com ameaças.

Os dois homens levantaram, abriram a porta e saíram. Cassandra


fechou a porta e sentiu o coração acelerado. Estava apavorada, mas teve
medo de demonstrar isso aos dois estranhos. Podiam ter me matado aqui
dentro. Ela viu pelo olho mágico da porta quando os dois entraram no
carro e partiram.

Aguardou uns minutos, abriu a porta e não viu sinal deles. Então,
fechou a porta com a chave e foi fazer suas compras.

Em frente ao supermercado havia uma farmácia. Cassandra achou


melhor entrar lá, pois era um local pequeno e seria mais difícil ser
espionada.

Pegou o telefone celular do bolso e ligou para Gesser. Contou sobre


as fotos e sobre a visita que recebera.

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- Cassandra, eram homens da CIA! – disse Gesser, do outro lado da


linha.

- Meu deus! Até imaginei, mas eles se esquivaram muito durante a


conversa – comentou ela.

- É provável que nossos telefones também estejam grampeados. Vou


te mandar uma mensagem agora no site que você mais gosta. Você me
entendeu? No site que você mais gosta. Em alguns minutos você pode
olhar, que a mensagem já estará lá.

- Certo. Abraços e te cuida! - se despediu ela, ansioso pelo desfecho


daquela situação.

Cassandra saiu da farmácia, atravessou a rua e fez as compras


normalmente no supermercado. Voltou para casa cuidando
minuciosamente ao redor, mas não viu nenhum carro suspeito, nem
nenhuma pessoa esquisita na rua. Guardou as compras e salvou as fotos
num pen drive. Trocou de roupa e de sapato, e saiu.

Foi até uma lan house próxima da sua casa.

No site que você mais gosta. Ela lembrava muito bem que durante a
conversa com Gesser através do Skype, mencionou que gostava de
acompanhar as descobertas dos rovers enviados a Marte e que entrava
quase diariamente no site Anomalies of Mars. Lá, havia fotos de
anomalias como florestas, lagos e animais, coisas que contrariavam a
versão da NASA de que o planeta vermelho era inabitado e estéril.

Gesser era famoso no mundo todo, conhecido como o maior ufólogo


do mundo e era, também, colaborador do site favorito de Cassandra. Ele

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tinha uma coluna semanal e acesso ao servidor do site para fazer


diretamente as postagens.

No Rio de Janeiro, Gesser desceu um andar no prédio em que


morava e pediu a um amigo para usar o seu computador. Entrou no
servidor do site, digitou um recado para Cassandra e recarregou a sua
página do site. Na página principal do site, lá estava o recado:

Crie uma nova conta de email na lan e me envie as fotos para este
endereço:ges2001@yahoo.com espere que já te respondo.

Cassandra imediatamente criou uma nova conta, carregou as fotos e


as enviou para Gesser. Ele estava aguardando pela mensagem enquanto
colocava os assuntos em dia com o amigo que lhe cedeu o computador.

Ao abrir as fotos em anexo, o ufólogo perdeu o fôlego. Por alguns


instantes, não pode nem organizar os próprios pensamentos. Era o sonho
de uma vida inteira se concretizando à sua frente.

Em seguida, ele respondeu ao e-mail de Cassandra:

Muito obrigado, querida Cassandra. Me realizei na profissão que


escolhi.

Convite aceito! Em dois dias vou organizar tudo e te retorno com uma
posição.

AbsGess

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Gesser entrou novamente no servidor do site e retirou a mensagem.


Foi para o seu apartamento pensando em quem convidaria para o
encontro com os extraterrestres.

***

O Coronel Crenshaw estava em uma sala envidraçada no prédio da


Truth – Assessoria Empresarial, conferindo listas de suspeitos de
terrorismo para enviar à Policia Federal. Nem todos os nomes tinham,
realmente, algo a ver com terrorismo, mas os agentes americanos
preferiam este argumento para capturar ou para monitorar as atividades
de traficantes, de potenciais opositores políticos, de agentes duplos
foragidos, de agentes da inteligência de outros países, enfim, preferiam
não lavar sua roupa suja na frente dos outros. O terrorismo foi a melhor
desculpa dos últimos tempos para as atividades da inteligência.

O seu telefone tocou:

- Coronel, aqui é o Capitão Alexander. Resultado negativo na


intervenção. A garota é irredutível. Não houve, nem mesmo, acordo
financeiro.

- Ela mencionou se pretende levar as imagens à imprensa? -


perguntou o Coronel, preocupado.

- Não Coronel! Ela demonstrou maior tendência em proteger o que


sabe e aos visitantes. Provavelmente vá tentar encontrá-los - respondeu o
Capitão.

- Mas este encontro pode ser em qualquer local, como vamos saber?

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- Senhor, eu creio que eles, os extraterrestres, por alguma razão, não


pretendem se aventurar fora da região que já dominam há anos, a
Amazônia - ponderou o Capitão.

- Vamos continuar monitorando suas atividades, se ela viajar,


intervimos. Pode retornar à central, Capitão.

- Entendido, senhor.

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Capítulo 21

Dois dias depois, Cassandra foi a uma lanhouse e abriu o e-mail que
criou para se comunicar com Gesser.

Cassandra, nós iremos numa equipe de quatro pessoas, eu, Prestes,


ufólogo e meu amigo, o professor Anton, que é astrofísico e colaborador
de meus artigos, e você.

Nos encontraremos aqui no Rio na próxima sexta-feira e daqui iremos


de carro direto até o Pará. Estou lhe mandando passagens aéreas com
saída de Porto Alegre. Retire-as no guichê do aeroporto.

Abs

Gesser

Ainda era segunda-feira. Cassandra tinha bastante tempo ainda para


pensar, para recusar o convite. Pensou em todos os filmes que já tinha
visto sobre espionagem e sabia que tudo o que tinha visto podia se tornar
real. E se a CIA os encontrasse e os matassem? E se os seguissem e
aparecessem durante o contato? E se fossem presos e torturados? E se o
contato não se realizasse? E se acontecesse de fato?

Mesmo com todas estas indagações martelando em sua cabeça, ela


começou a organizar alguns compromissos. Pediu a uma amiga que
cuidasse dos seus gatos e que colocasse água nas plantas, remarcou as

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aulas de física e de matemática que dava. Tomou cuidado para não fazer
ligações de seu telefone celular, nem mandar mensagens relativas à sua
viagem por e-mail.

Foi até a rodoviária da cidade e comprou passagens de ônibus para


Porto Alegre, a capital de seu Estado. Respirou fundo ao se lembrar das
cinco horas de viagem até lá. Estava tudo acertado.

***

Na manhã de terça-feira, o Coronel Crenshaw estava em seu


apartamento em São Paulo, no bairro Moema. O imponente prédio
branco, com grandes janelas antirruídos e com sacadas de metal, o
faziam sentir-se isolado e acima das pessoas comuns, que passavam lá
em baixo do tamanho de formigas, correndo rumo ao trabalho.

Ele vestiu a camisa e levou uma xícara de café para a sacada.


Olhando o horizonte se perder num oceano de prédios, o Coronel sentiu
saudades de casa, de seu país, da neve que tornava sua vizinhança em
Arlington mais acolhedora. Era impossível não se lembrar do filho, Josh,
morto em combate no Afeganistão. Era um bom filho e morreu pelo seu
país. Não. Isso não amenizava sua dor.

Seu telefone tocou. Era um número estranho.

- Coronel Crenshaw falando!

- Bom dia, Coronel. Tenho uma informação para o senhor. É sobre uma
pessoa chamada Cassandra. Eu sei que ela está sendo monitorado.

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O Coronel reconheceu imediatamente a voz de um dos muitos


informantes da CIA no Brasil.

- Pois não. Do que se trata?

- Ela irá de avião de Porto Alegre até o Rio de Janeiro, na sexta-feira.


Todos irão se encontrar na casa do Gesser para ir até o Pará, de carro. É
isso.

- Obrigado pela informação.

- De nada, Coronel. Até mais.

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Capítulo 22

Quinta-feira. Meia-noite. Cassandra saiu do banho e escolheu uma


calça confortável para viajar. Sua passagem estava marcada para as duas
horas da madrugada. Dava tempo de pegar o voo das oito horas da
manhã para o Rio.

Ela terminou de arrumar a mochila. Sempre foi muito prática e não se


imaginava puxando uma enorme mala com rodinhas em plena floresta
amazônica. Conferiu os vários cartões de memória da câmera para
registrar qualquer acontecimento.

A uma e trinta da manhã, ela chamou um táxi e foi para a rodoviária.

Ao redor dos ônibus já havia algumas pessoas com bolsas e com


malas esperando a hora de partir. Cassandra parou junto delas.

Após alguns minutos, o motorista do ônibus abriu o bagageiro e as


pessoas com bagagem grande se enfileiraram para guardar as malas. Os
outros passageiros se aproximaram da porta do ônibus, onde um fiscal
conferia as passagens e os lugares dos assentos.

Cassandra se encaminhou para a porta do ônibus com calma. Não


percebeu que atrás dela chegaram dois homens de terno.

- Senhora, queira no acompanhar, por favor - disse uma voz seca


atrás dela.

Cassandra se virou e reconheceu o agente Henrique.

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- Pois terão que me tirar daqui à força. Tenho um compromisso e não


vou a lugar nenhum com vocês - disse ela, em tom baixo para não chamar
atenção.

- Vai sim – disse o agente, abrindo o paletó discretamente e


mostrando uma pistola num coldre.

O outro agente pegou a mochila da mão dela e Henrique fez um sinal


com a mão, mostrando a direção do carro. Ela viu o sedan prateado
estacionado do outro lado da rodoviária, na calçada da praça do quartel.

Ao se afastarem das luzes da rodoviária, Cassandra viu a praça às


escuras. Do outro lado, estava o prédio do quartel, com as luzes do
pátio interno acesas.

O agente Henrique destravou o alarme do carro e o outro agente


entregou a mochila para Cassandra e abriu a porta de trás para ela
entrar. Ela baixou a cabeça para entrar. Baixou-se mais, passou por
baixo do braço do agente e correu em disparada para o quartel. Os
agentes correram atrás dela e, sem conhecer o terreno, tropeçaram nas
pedras que circundavam a pista de corrida ao redor da praça.

Cassandra avistou o soldado de sentinela na guarita e gritou por


socorro. O soldado se abaixou e pegou o fuzil. Ela encostou-se ao portão
do quartel e gritou por socorro novamente.

Os agentes chegaram correndo perto da guarita e o soldado apontou


o fuzil.

- Parados. Para trás!

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Um militar escutou os gritos de Cassandra e abriu o portão. Ela


entrou, quase o derrubando no chão, e fechou o portão.

- Calma, moça. O que aconteceu? - perguntou o homem de farda.

- Dois homens... Me atacaram - Quem iria acreditar que eram da CIA?


, pensou ela.

Os agentes, acuados pelo soldado de fuzil em punho, voltaram para o


carro.

No pátio do quartel, Cassandra foi se encaminhando para o portão


dos fundos, que saia na rua de trás.

- Obrigado por me ajudar – disse ela – Posso sair pelo outro portão?

- Sim, sim. Está tudo bem? A senhora quer ligar para alguém? –
perguntou o militar, preocupado.

- Não, obrigado. Obrigado...

Ela saiu pelo portão dos fundos, que dava para uma rua com um
grande canalete, foi até a esquina do quartel, onde ficava o prédio de um
posto de saúde, e dobrou numa rua estreita e escura. Parou e respirou.
Continuou caminhando e entrou na rua que passava na frente do quartel,
tomando o rumo oposto. Ela lembrou que a duas quadras dali, naquela
rua, havia um sobrado abandonado.

Ao chegar no velho sobrado, abriu o portão enferrujado, entrou no


pátio e sentou atrás do muro.

Ok. Agora, como chegar no Rio?

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Tirou o notebook da mochila e fez uma pesquisa na internet.

Imagens.

Carteira de identidade.

Em meio às dezenas de imagens que abriram na sua frente, ela


escolheu uma que possuía frente e verso, nome de mulher e número de
CPF gravado no verso.

Salvou a imagem e a abriu no Paint.

Nos seus arquivos, escolheu uma foto sua, copiou e colou sobre a foto
da identidade. Salvou a imagem num pendrive.

Em seguida, entrou no site da polícia e fez uma declaração de perda


de documento. O site emitiu uma cópia da declaração com um número de
protocolo, que ela também salvou no pendrive.

Guardou o notebook de volta na mochila e saiu de trás do muro do


velho sobrado. Foi andando tranquilamente por ruas secundarias rumo ao
centro da cidade. Atravessou o centro comercial e foi para a zona
portuária, onde estavam os escritórios das agências marítimas e onde era
o núcleo de prostituição da cidade, há muitos anos atrás. Agora, restavam
umas poucas boates mais comportadas e uns bares quase sem
movimento.

De longe, ela avistou o toldo desbotado: Taberna – Girls, International


Calls and Internet.

Cassandra entrou no lugar e sentiu náuseas com o cheiro de suor e


de perfume barato das pessoas.

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- Tem impressão? – perguntou ela, apontando para os computadores.

- Cinco reais a hora e um real por impressão preto e branco. Não


temos cartucho colorido - disse a atendente.

- Quero um computador.

Do computador do bar, ela enviou a identidade e a declaração de


perda de documento para a impressora.

Na saída do bar, ela pegou um táxi.

- Aeroporto, por favor.

Quando o táxi saiu da cidade e pegou a estrada rumo ao aeroporto,


Cassandra se lembrou dos aviões pequenos que passavam próximos à
sua casa e, com medo, pensou se a única companhia aérea que operava
em sua cidade fazia manutenção constante nas aeronaves.

No balcão do pequeno aeroporto, tirou da mochila a impressão da


identidade.

- Uma passagem para Porto Alegre, por favor.

- Pois não. Temos um voo às cinco da manhã.

- Ótimo - disse ela.

- Documento, por favor – solicitou a balconista.

- Eu só tenho o xerox, mas tem meu CPF junto. Perdi minha


identidade.

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A atendente viu de relance que a foto no xerox era a da jovem à sua


frente e emitiu a passagem.

- Tenha uma boa viagem, senhora Tereza Silva.

Ela nem se importou com o fato de a data de nascimento da


identidade lhe envelhecer dez anos, pagou em dinheiro e saiu do saguão.
Achou melhor esperar num lugar mais reservado, sentada numa mesa no
fundo da única lanchonete do aeroporto.

***

Ao ser surpreendida pelos agentes no momento do embarque na


rodoviária, o padrão de stress de Cassandra se traduziu em alterações de
seus sinais vitais e de suas ondas mentais. Essas alterações foram
imediatamente captadas pela equipe da nave de monitoramento, que
enviou uma sonda esférica para acompanhá-la.

***

O agente Henrique ligou para a central da CIA em São Paulo e relatou


a fuga de Cassandra para o Capitão Alexander.

- Capitão, nós seguimos o ônibus até fora da cidade e ela não entrou.
Ainda está em Rio Grande.

- Agente, aguarde um momento que vamos verificar o banco de dados


do aeroporto da cidadezinha – respondeu o Capitão.

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Cinco minutos depois, o Capitão retornou ao telefone.

- Ela ainda está na cidade. No aeroporto não tem registro algum. A


essa hora, ela já está em casa, com certeza.

- Vamos ficar de olho na casa, Capitão - respondeu o agente.

O dia começou a amanhecer e os agentes estavam a uma quadra de


distância da casa de Cassandra, dentro do carro.

- Algum movimento ela vai fazer com certeza, já que não pôde ir
encontrar os outros no Rio de Janeiro – concluiu o agente Henrique.

***

O pequeno avião de dez lugares aterrissou no aeroporto de Porto


alegre e Cassandra se sentiu aliviada. Não confiava em aeronaves
pequenas.

Ao entrar no saguão do aeroporto Salgado Filho, foi para a fila


comprar passagens.

- Olá! Tem algum voo para o Rio agora às oito horas?

- O das oito está lotado. Mas temos dois assentos no das sete e trinta
explicou a moça no guichê.

- Melhor. Quero uma passagem só - disse ela, abrindo a carteira para


pagar a passagem.

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- A senhora tem identidade?

- Sim. É um xerox. Perdi a minha.

Ela entregou a impressão da identidade junto com a declaração de


perda de documento para a balconista da companhia aérea. E lamentou
ter que pagar pelas passagens, sendo que Gesser já havia pago
passagens no nome de Cassandra, mas ela não podia correr o risco de
pega novamente pelos agentes da CIA.

- Somente ida, senhora?

- Sim – respondeu ela.

- A senhora tem bagagem para embarcar?

- Não. Só bagagem de mão.

- Perfeito. Aqui está sua passagem, senhora Tereza. Faça uma boa
viagem.

- Obrigada e bom trabalho – Cassandra agradeceu aliviada.

Uma hora depois, ela desembarcou no Rio e achou melhor não ligar
para Gesser, que tinha ficado de buscá-la no aeroporto mais tarde. Pegou
um táxi e foi direto para o prédio do ufólogo.

Ela estava tão estressada e tão cansada, que nem reparou muito na
vista da Cidade Maravilhosa.

No apartamento de Gesser, o interfone tocou.

- Senhor Gesser, tem uma jovem aqui embaixo, chamada Cassandra.


Ela disse que o senhor a está esperando – disse o porteiro, desconfiado.

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- Que estranho. Sim, claro, mande-a subir, por favor.

Gesser abriu a porta do apartamento e aguardou o elevador chegar ao


seu andar. Quando a porta do elevador abriu, ele viu Cassandra pela
primeira vez, ao vivo. Sentiu um frio no estômago, mas tentou disfarçar.
Ela parecia mais jovem e mais bonita pessoalmente.

- Que prazer enorme te conhecer - disse ele, abrindo os braços para


abraçá-la.

- O prazer é meu, Gesser. Você não vai acreditar no que aconteceu.

- Vamos entrar e você me conta tudo enquanto tomamos um bom café


– disse o ufólogo, pegando a mochila de Cassandra.

Ela contou em detalhes sobre como conseguiu escapar dos agentes


da CIA e chegar até o Rio.

Gesser ficou boquiaberto com a inteligência de Cassandra em


escapar da CIA, mas não pareceu muito impressionado com a atitude dos
agentes, pois, anos atrás, também já havia passado pela mesma coisa.

Há cerca de vinte anos, ele e Prestes começaram a investigar mais a


fundo sobre a Operação Prato. Fizeram inúmeros contatos com oficiais da
Força Aérea em busca de pistas ou de informações mais concretas, sem
muito sucesso. Até que resolveram ir ao Pará, para a ilha de Colares, falar
com pessoas que haviam presenciado os fenômenos e outras que haviam
sobrevivido aos ataques.

Ao retornarem para o Rio, foram abordados no aeroporto de Belém,


capital do Pará, por cinco homens que jamais se identificaram como

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agentes do governo. Eles os levaram para duas salas separadas do


aeroporto e os interrogaram por quase seis horas. Depois de inúmeras
ameaças e de terem câmeras e gravadores confiscados, os dois ufólogos
foram liberados.

- Cassandra, eu sinto muito, muito mesmo. Nunca tive a intenção de


te colocar em risco – lamentou ele.

- Tudo bem, eu vim porque eu quis. Se existe algo a ser descoberto


ou a ser revelado para o bem comum, então valeu o susto! – disse ela,
colocando um pedaço de pão quentinho na boca.

O interfone tocou novamente.

- Senhor Gesser, o senhor Prestes chegou – avisou o porteiro.

- Pode mandar subir. Obrigado.

Quando Prestes chegou ao apartamento de Gesser, os dois ufólogos


se abraçam com entusiasmo. Desde o incidente em Belém, Prestes fora
morar em outro estado, em Santa Catarina. Mas sua amizade se manteve
firme e forte ao longo dos anos.

- Prestes, esta é Cassandra, a moça das fotos - apresentou Gesser.

- Olá! – Prestes deu um aperto de mão firme em Cassandra.

- Agora vamos esperar o Anton, que tinha um compromisso cedo, mas


já vai chegar. – disse Gesser.

- Então vou acompanhar vocês no café. Posso? – disse Prestes, já se


sentando na mesa.

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- Vou pegar mais leite na cozinha - disse Gesser.

Os dois ufólogos estavam contando sobre suas viagens e suas


pesquisas para Cassandra, quando o interfone tocou novamente. Era o
doutor Anton.

- Anton, esta é Cassandra e este, você já conhece – apresentou


Gesser, apontando para Prestes.

- Já conheço muito bem. Como vai Prestes?

- Bem, doutor, que prazer revê-lo.

- E esta jovem... - o doutor Anton pegou a mão de Cassandra – Me


diga, como foi receber o contato? Eu vi as fotos e fiquei impressionado.

- Eu também fiquei, doutor – disse ela.

- Me chame de Anton, por favor.

Gesser foi até o quarto e voltou com uma mochila enorme e com uma
bolsa maior ainda.

- Gesser, nós vamos numa viagem de pesquisa, não vamos nos


mudar para o Pará – disse Prestes, apavorado com o tamanho da
bagagem do amigo.

- É o equipamento básico, lanterna, barraca, notebook, câmera,


gravador, você sabe, o de sempre. Podemos ir então?

Os quatro desceram até a garagem e Gesser abriu o porta-malas da


SUV branca. Todos guardaram as suas bolsas e entraram no carro.

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Cassandra sentou na frente, com Gesser, que lhe deu um mapa


rodoviário.

- Você será minha navegadora.

- Se nos perdermos, a culpa é sua – riu Prestes.

O grupo saiu do Rio de Janeiro e pegou a estrada rumo ao Norte.

***

O Coronel Crenshaw estava em sua sala, reunido com o Capitão


Alexander, quando seu telefone celular emitiu o som de mensagem. Ele
deu uma olhada:

Ela chegou no Rio. Todos estão indo para o norte de carro. SUV
branca.

- Meu caro Capitão Alexander, você terá muito trabalho pela frente -
disse o Coronel, olhando para o capitão.

Os agentes da CIA emitiram um alerta para as polícias rodoviária,


estadual e federal, com as fotos de Gesser e de Cassandra. Eles ainda
não tinham a confirmação de outros acompanhantes.

Em mais de quarenta anos de atuação da CIA no Brasil, o Coronel


nunca tivera notícias de alguém tão resistente às pressões da agência.
Como ela escapou de dois agentes treinados numa cidade tão pequena?
Porque não se intimidou com a presença dos agentes? Como chegou ao

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Rio sem ser detectada nos aeroportos? Porque ela foi contatada? O
Coronel não fazia ideia de como responder a estas perguntas.

***

Brasília

O diretor da ABIN – Agência Brasileira de Inteligência – reuniu os


vários documentos e fotos obtidos pela CIA, enviados pelo seu informante,
sobre o contato de Cassandra com Gesser e com os visitantes, os
organizou numa pasta e agora andava apressado pelos corredores do
Palácio do Planalto, a sede do governo brasileiro. Ao chegar à porta do
gabinete da presidente, o secretário levantou de sua mesa:

- Diretor, me desculpe, mas não o esperávamos.

- Claro que não, eu não avisei que estava vindo. Mas é urgente – e
seguiu em frente para entrar no gabinete.

O secretário se colocou na frente do diretor:

- A presidente está despachando...

- Como eu disse, é urgente – insistiu o diretor da ABIN.

Com agilidade, o diretor desviou do rapaz e entrou no gabinete.

- Senhor diretor! Garanto que o assunto é urgente! - disse a


presidente, abaixando a cabeça e olhando o diretor por cima dos óculos.

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- Desculpe, senhora presidente, mas é urgente mesmo. Nossos


infiltrados na CIA nos enviaram estes dados e ... Prefiro que a senhora
mesma veja.

A presidente pegou a pasta e examinou demoradamente os


documentos, as fotos e as transcrições de telefonemas e de e-mails.
Enquanto aguardava, o diretor caminhou em direção à janela do enorme
gabinete, decorado com sobriedade e com um toque de brasilidade
conferido pelos dois grandes e coloridos quadros de Djanira, intitulados
"Praia do Nordeste" e "Colheita de Banana”. Ele pensou em como o tom
de verde dos quadros combinava com o da bandeira nacional e com o
da outra bandeira, contendo o escudo nacional, ambas colocadas em
frente à vidraça.

- Diretor...

Ele se virou e rapidamente se aproximou da mesa da presidente.

- Onde eles estão agora? - perguntou a presidente, tranquilamente.

- A caminho da Amazônia, senhora presidente.

- Pelo que eu pude ver, eles aceitaram os riscos desde o início.


Providencie para que eles consigam alcançar seu objetivo e, depois, me
traga os resultados.

- Sim senhora, com licença.

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Capítulo 23

- Pessoal, acho melhor pararmos para dormir em algum lugar – disse


Cassandra, já cansada depois de quatorze horas de viagem com poucas
paradas em postos de gasolina – Não sei vocês, mas eu preciso de uma
boa refeição.

- Eu concordo – disse o Dr. Anton, ajeitando os óculos no rosto suado.

- Ok. Vamos parar no próximo hotel e amanhã cedo seguimos viagem


– concordou Gesser.

Alguns quilômetros à frente, o grupo avistou o letreiro do hotel


Palmas.

- É aqui!! Uma cama por favoooorrrrr! – gritou Cassandra.

Após o check-in, todos acomodaram as bagagens nos seus quartos e


se encontraram no restaurante para jantar.

- Então, moça? Quais as suas expectativas para o grande encontro? –


perguntou Prestes, em tom brincalhão.

- Se, e apenas se, houver um encontro, acho que nem eu e nem


ninguém aqui está preparado. Qualquer coisa que a gente ensaie dizer ou
fazer vai acabar saindo ao contrário - ponderou Cassandra.

- Isso é verdade, minha cara – completou o Dr. Anton – Este é um


evento para o qual ninguém está suficientemente pronto.

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- Eu só sei que, se acontecer, eu quero estar lá, e quero que


aconteça! – disse Gesser, e levantou o copo – Um brinde a eles, aos
visitantes!

- A eles! – completou Cassandra.

Após o jantar, todos estavam exaustos e foram descansar em seus


quartos.

***

Um alerta de mensagem soou no telefone do Coronel Crenshaw e


ele encostou o carro para ver o que era.

BR 040. Hotel Palmas. SUV branca

O Coronel ligou rapidamente para o Capitão Alexander, que estava a


postos na base próxima ao heliporto.

- Capitão, avise sua equipe para se preparar para intervir. Eles estão
na BR 040, Hotel Palmas. Pegue-os fora do hotel, com discrição, e os
traga para cá.

- Entendido, senhor.

Vinte minutos depois, o diretor da ABIN também recebeu uma


mensagem em seu telefone:

Estão no hotel palmas, BR 040. SUV branca. Intervenção na saída do


hotel

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***

Cassandra não conseguia dormir e foi sentar na beira da piscina do


hotel. Ela se lembrou dos agentes que a perseguiram na sua cidade e
pensou que ainda deveriam estar à sua procura. Será que da próxima vez
terei tanta sorte?

Ela viu a água da piscina ondular com a brisa da noite e o ar se


encheu com o perfume forte de Dama da Noite. Este cheiro lhe remeteu a
lembranças da adolescência, dos verões na casa dos avôs, que tinham
esta planta no jardim. Riu sozinha ao lembrar que a avó implicava com o
cheiro forte da planta e dava surras de vara na pequena árvore para
derrubar as flores.

- Rindo sozinha?

- Gesser! Caiu da cama? – exclamou Cassandra, assustada.

- Estou muito ansioso e sempre tenho dificuldade em dormir fora de


casa. Tenho insônia em todas as viagens - lamentou o ufólogo.

- Senta aí, vamos conversar que o sono chega - disse Cassandra,


sorridente.

- Eu estava pensando nos meus filhos. Tenho medo de não voltar a


vê-los - disse Gesser – Estou fazendo isso mais por uma obrigação
pessoal, de pegar o fruto da minha busca de tantos anos. Mas,
sinceramente, tenho medo desse envolvimento da CIA, do governo ou de
sejam lá quem forem estas pessoas.

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- Não sabia que você tinha filhos. E... Eu também tenho medo.

- Tenho dois filhos, sou separado há bastante tempo. E você? Tem


alguém te esperando lá no Sul?

- Dois gatos. Não tenho ninguém mais - disse Cassandra, com ar


irônico.

- Não, impossível. Você deve ter um namorado – insistiu ele.

- Não, não tenho. No momento, outras coisas absorvem minha


atenção.

- Ainda não me acostumei com este seu jeito objetivo, quase técnico,
de ver a vida. Você é jovem... Precisa se abrir.

- Você também! Nem casou de novo...

- No momento, tem outras coisas que absorvem minha atenção –


Gesser se esforçou para ser irônico e riu, olhando nos olhos de
Cassandra.

Os olhares se cruzaram.

- Nossa! Agora está aparecendo o cansaço. Meu dia começou de


forma bem estressante. Vou dormir - disse Cassandra, claramente
tentando fugir de assuntos mais íntimos com o ufólogo.

- Já?

- Sim. Boa noite.

Gesser ainda ficou um tempo sozinho na beira da piscina. Agora


realmente havia algo absorvendo sua atenção: Cassandra.

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***

Um pouco mais tarde, naquela madrugada, um casal chegou ao hotel


para pernoitar. Após se registrarem, enquanto o marido efetuava o
pagamento, a esposa foi até o carro pegar sua maleta de maquiagem.

No estacionamento escuro, ela abriu a maleta cheia de cremes, de


batons e de perfumes, e pegou um objeto pequeno, pouco maior do que
uma caneta e bem mais grosso.

Ao passar pela SUV branca de Gesser, ela rapidamente se abaixou e


entrou sob o veículo. Girou a ponta do objeto que tirou da maleta de
maquiagem, pegou um isqueiro no bolso da calça e acendeu um
minúsculo, mas potente, maçarico, apontando a chama para um dos lados
do eixo das rodas traseiras do carro.

***

Na manhã seguinte, bem cedo, após o café, todos entraram na SUV


branca para seguir viagem. Ao manobrar no estacionamento do hotel, o
carro sofreu um baque e parou.

Todos desceram e ficaram atônitos olhando a SUV com o eixo traseiro


quebrado e com as rodas tortas em direções opostas.

- É muito azar! – Gesser esbravejou irritado.

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- Calma, vamos dar um jeito! Mas eu acho que o conserto demora –


disse o Dr. Anton.

Enquanto Gesser ligava para a seguradora, um casal, que também


saia do hotel, se aproximou para ver o estrago de perto.

- Que azar vocês tiveram, hein? – disse o homem.

- Pois é, vamos tentar locar um carro pra seguir viagem – disse


Cassandra.

- Para onde vocês vão? Nós estamos indo para o Norte, visitar minha
sogra. E nosso carro tem sete lugares - o homem pareceu bastante
simpático.

- Não se preocupe, vamos tentar locar um carro – disse Prestes,


seguro de que a situação se resolveria rapidamente.

Gesser se aproximou, irritado.

- A seguradora vai mandar um reboque amanhã.

- Não tem locadoras de carro por aqui – disse a mulher.

- Meu nome é Charles e esta é Rebeca, minha esposa – o homem


estendeu a mão para cumprimentar Gesser – Daremos uma carona para
vocês. Eu estava dizendo para o seu amigo que nós também vamos para
o Norte.

Gesser olhou para Cassandra com ar irônico. É meio estranho um


casal sozinho querer dar carona para quatro pessoas desconhecidas.

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- Se não teremos carro para locar e nem para seguir viagem tão cedo,
então acho melhor sermos práticos – disse baixinho, o Dr Anton,
apontando para o casal.

- Por mim, tudo bem. Nem tem outra alternativa, mesmo – disse
Cassandra.

- Está bem, mas rachamos a gasolina – avisou o ufólogo para


Charles.

Os quatro sabiam que não podiam se demorar, pois a CIA estava


tentando atrapalhar sua aventura e podia encontrá-los a qualquer
momento.

Todos colocaram suas bagagens no porta-malas do carro verde


musgo do casal e seguiram viagem.

Há alguns metros da saída do hotel, cruzaram com um comboio de


três SUV pretas em alta velocidade. O Dr. Anton olhou discretamente
para trás e pode ver o comboio parando na entrada do hotel.

***

O diretor da ABIN recebeu uma mensagem no seu celular:

Já estamos com eles. São quatro pessoas. Cassandra, Gesser,


Prestes e Dr. Anton.

Com exceção da jovem Cassandra, os demais eram todos nomes


conhecidos no mundo ufológico e também do governo, pois há anos

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Gesser, Prestes e Dr. Anton lutavam para a liberação completa de


documentos confidenciais ligados às investigações de fenômenos
ufológicos por parte do governo e dos militares. Além disso, Gesser era
mundialmente famoso, com livros vendidos em diversos países e com
entrevistas dadas para muitas redes de televisão.

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Capítulo 24

- Vocês se importam se fizermos um desvio pela BR 116 e pegarmos


a MG 126, meu GPS mostra que é um caminho mais curto? – disse
Rebeca, olhando para os passageiros no banco de trás – E aqui na
internet diz que houve um acidente grave pouco antes de Barbacena.
Teve várias vítimas... - Rebeca levantou o iPhone para mostrar a eles que
tinha conexão com a internet.

- Acho que não vai nos atrasar muito – disse Charles.

Os quatro caronas suspiraram aliviados por saírem da rota principal.

- O que importa é chegarmos lá. Vocês vão para que cidade? –


perguntou Gesser, mais tranquilo.

- Vamos para Belém – o casal respondeu em coro, formando uma


sintonia engraçada. Os dois riram - E vocês, para onde vão? - perguntou
Rebeca.

- Vamos para Tailândia, não o país, a cidade, é no Sul do Pará – se


adiantou o Dr. Anton– Vamos gravar um documentário.

- É mesmo, sobre o quê? – perguntou Rebeca.

- Sobre fenômenos sobrenaturais que estão ocorrendo na casa de


uma família – Dr. Anton sempre achou que o melhor esconderijo é,
justamente, deixar o objeto o mais à mostra possível. E uma meia verdade
seria uma desculpa razoavelmente boa para a verdade.

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- Que interessante – comentou Charles – Escutem, ali na frente tem


um posto, vamos fazer uma parada, ir ao banheiro e comprar um lanche.

- Que bom! Preciso mesmo ir ao banheiro - disse Prestes.

Charles parou o carro e abasteceu, enquanto todos iam para a loja de


conveniências. Prestes comprou um suco e um chocolate, depois foi ao
banheiro. Rebeca olhou no seu iPhone e viu que já eram dezesseis horas
e vinte minutos.

Charles entrou na lojinha e abraçou Rebeca.

- Poxa, meu amor, você não larga este iPhone!

- Culpa sua, que me deu de presente – e deu um selinho nele – Vou


só mandar uma mensagem para minha mãe, avisando que já estamos a
caminho.

***

O telefone do diretor da ABIN faz um bipe de alerta de mensagem.

Me envie o horário que nosso agente recebeu a informação de


mudança de rota.

***

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No luxuoso prédio da Truth – Assessoria Empresarial, o Coronel


Crenshaw estava na sala de criptografia, quando um agente bateu na
parede de vidro.
- Coronel, seu telefone!

O Coronel foi para sua sala e olhou a mensagem recebida:

Mudança de rota para a br 116 e MG 126. Grand Picasso verde


musgo.

Ele avisou imediatamente o Capitão Alexander, para que sua equipe


fizesse uma nova intervenção,

Intervenção MG 126, 5km antes de rochedo de minas. Sem erros nem


enganos desta vez. Leve-os para a base civil de Belém.

***

O diretor da ABIN recebeu uma nova mensagem:

Intervenção na MG 126 5 km antes de rochedo de minas.

E avisou a equipe de campo.

Intervenção na MG 126 5 km antes de rochedo de minas. Msg


recebida 16:30hs.

***

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A CIA não brinca em serviço! - pensou Rebeca.

De volta ao carro, após o posto de gasolina ficar bem pra trás, Rebeca
começou a demonstrar certo desconforto.

- Nossa! Eu devia ter comprado uma garrafa extra de água. Que sede!
Prestes, posso tomar um pouco do seu suco?

- Claro, Rebeca, à vontade! – e ele alcançou a garrafa para ela.

Rebeca tomou um gole. Baixou a garrafa e pingou várias gotas de um


líquido contido num frasco plástico minúsculo. Levantou a garrafa e fingiu
beber mais. E a devolveu para Prestes.

- Obrigada! Desculpe, está quase no fim. Tome antes que descongele


mais. Acho que vamos demorar a ver outro posto.

- De nada! – e Prestes terminou de tomar o que restou do suco.

Passaram cerca de quarenta minutos e Prestes começou a suar frio


no banco de trás.

- Prestes, você está pálido! Está se sentindo bem? – perguntou o Dr.


Anton.

- Sim, deve ser pressão baixa com este calor. Estou bem - respondeu
ele, tentando disfarçar o enorme mal-estar.

Alguns quilômetros à frente, Prestes pediu para Charles parar o carro.


Abriu a porta, correu para o acostamento e vomitou. Ele ficou um tempo
parado agachado e, quando se sentiu melhor, voltou para o carro. E já
estava quase entrando no veículo, quando correu de volta para o
acostamento e, desta vez, entrou mato adentro.

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No carro, todos percebem que ele estava com uma terrível diarréia e
ninguém queria ir até lá.

- Prestes, está tudo bem? – gritou Gesser.

Ninguém respondeu.

- Prestes? - gritou Dr. Anton.

Charles saiu do carro e acompanhou Gesser até atrás de um enorme


arbusto. Os dois encontraram Prestes desmaiado, com as calças
abaixadas e todo sujo. Charles pegou toalhas de papel no porta-malas e
limpou Prestes, o colocando de volta no carro.

- Vamos até a próxima cidade, que deve ter um posto médico –


sugeriu Charles.

Uma hora e meia depois, eles chegaram numa cidade pequena


chamada Bicas e procuraram o posto médico. Prestes recebeu soro e
continuou vomitando sem parar. Não tinha forças para ficar em pé.

Todos estavam em volta da maca.

- Pessoal, não sei se consigo continuar... - resmungou Prestes.

Uma enfermeira, que estava controlando o soro, disse que havia


ônibus diretos para o Rio de Janeiro saindo de Juiz de Fora, a cerca de
quarenta quilômetros de distância.

- Se vocês não se importam, eu vou ficar aqui e amanhã vou para Juiz
de Fora, depois pro Rio e pego um avião pra casa. Isso deve ser uma
baita virose por causa dessas comidas de posto de gasolina – gemeu
Prestes, com a voz trêmula e se sentindo ainda mais sem forças.

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- Não era pra ser, meu amigo - disse Dr. Anton, tocando o ombro
suado de Prestes.

- Se cuida – Gesser o abraçou – Te ligo assim que voltar pro Rio e te


conto tudo!

Todos entraram no carro e seguiram viagem.

Rebeca não largava o iPhone. X9 fora de combate.

Na sede da ABIN, em Brasília, o diretor recebeu a mensagem e riu.

***

Quando Gesser e Prestes foram detidos pela CIA, no aeroporto de


Belém, vinte anos antes, ao retornarem de Colares, também foram
muito resistentes aos argumentos dos americanos.

Prestes, finalmente cedeu à oferta financeira, que ele negociou


habilmente por quase duas horas, na tentativa de aumentar o valor. Em
troca de continuar monitorando e entregando à CIA todas as
informações que obtinha sobre os avanços de outros ufólogos,
especialmente de Gesser, ele conseguiu receber alguns milhões, livres
de impostos.

Dias depois de serem detidos no aeroporto em Belém, com a


desculpa de estar sofrendo de um grande stress causado pelo
interrogatório no aeroporto, Prestes se despediu de Gesser e mudou-se
para uma praia no estado de Santa Catarina. Desde então, vivia da

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renda de vários investimentos bem sucedidos e levava uma vida


discretamente confortável.

Alguns anos depois, quando Gesser e ele foram entrevistar o coronel


Henry, ele ofereceu o fornecimento dos dados da entrevista à CIA em
troca do recebimento de mais uns poucos milhões.

O comando militar tomou conhecimento da transação e acrescentou


uma pequena missão para Prestes. Ele convidaria o Coronel para falar
publicamente sobre a Operação Prato e, também, para fazer uma sessão
de hipnose a fim de trazer à tona informações escondidas no
subconsciente do militar.

Prestes deu a idéia para Gesser e o convite acionou as instruções que


a Doutora passou ao capitão Henry na base da Aeronáutica em Brasília,
em 1978. O resultado, infelizmente, foi o suicídio do Coronel.

***

Sem falar nada para os três caronas, Charles entrou na BR 267, para
contornar a cidade de Rochedo de Minas. Já era tarde quando os
viajantes entraram no pequeno município de Santa Bárbara do Tugurio.

-Tem apenas um motel, vocês não se importam, não é? – avisou


Rebeca.

- Não, nãão! - Cassandra e Gesser se olharam.

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A Grand Picasso verde musgo entrou nos portões do motel e uma


atendente, atrás de um vidro preto, falou pelo interfone:

- Pois não. Que tipo de quarto deseja?

- Quatro quartos simples, por favor – pediu Charles.

Por meio da discreta câmera instalada na estrada do motel, a


atendente visualizou carro com o casal na frente e mais três pessoas no
banco traseiro.

- Sinto muito, mas não são permitidos grupos nos quartos.

Todos no carro ficaram desconfortáveis. Gesser riu.

- Ficaremos em quartos separados – explicou Charles.

- Lamento senhor. Temos apenas duas suítes disponíveis. E somente


um quarto simples.

Charles olhou para os passageiros no banco de trás e todos


acenaram positivamente com a cabeça.

- Ok. Pode ser – concordou o ufólogo.

Gesser alcançou dinheiro para Charles, que também passou seu


cartão de crédito. Uma gaveta se abriu e eles pegaram as chaves.

Charles colocou o carro no box de sua suíte e deu as outras chaves


para Gesser, para Cassandra e para o Dr. Anton.

- Eu fico no quarto. Vocês dois podem ficar na suíte, que é maior –


disse Cassandra.

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Ela pegou sua mochila e deu boa noite a todos.

No pequeno quarto decorado em tons de bordô, ela admirou os


quadros de péssimo gosto dependurados na parede. Mas se sentiu grata
quando viu uma pilha de toalhas bem brancas e um box bem limpo.

Tomou um banho demorado, passou seus hidratantes e deitou na


cama para ver televisão, mas havia apenas canais pay-per-view com
filmes eróticos.

- Inspirador, se eu não estivesse sozinha... – ela falou consigo


mesma.

Uma batida de leve na porta contrariou seus pensamentos.

- Olá, Gesser. Está tudo bem?

- Pensei em te trazer um pouco do conforto da suíte - disse ele,


mostrando uma garrafa de champanhe numa das mãos e duas taças na
outra.

- É uma boa surpresa. É impossível ver televisão aqui, não é a melhor


programação pra solitários, se é que você me entende.

Gesser riu e entrou no quarto. Colocou as taças em cima de uma


pequena mesa e começou a abriu o champanhe.

- Então, Cassandra, você não teve mais notícias do Coronel Henry?


Nenhum contanto novo? – perguntou ele, numa tentativa de disfarçar seu
nervosismo.

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- Seguidamente eu o sinto por perto e, às vezes, ele me fala algumas


coisas, mas são mensagens sem o conteúdo que você espera. Em geral,
são agradecimentos por levar até você os recados dele – explicou ela.

O ufólogo, enfim, abriu a garrafa e serviu o champanhe nas


duas taças, alcançando uma delas para Cassandra, que a levantou
fazendo um brinde.

- Ao pobre Prestes, que perderá um fato histórico.

- Assim espero! É... Não! Não esperava que ele perdesse... Quero
dizer, espero que o fato seja histórico... Que aconteça – disse o ufólogo,
completamente atrapalhado.

Cassandra já estava rindo da confusão de Gesser.

- Desculpe, fico nervoso... Perto de você. Quase não ficamos a sós.

- E por que você quer ficar a sós comigo? – perguntou ela, com ironia
e com um sorriso malicioso.

Gesser ficou vermelho.

- Para estar com você... Descobri que gosto de estar com você. Não
sei o está acontecendo comigo...

Gesser se aproximou de Cassandra. Ela baixou os olhos e tornou a


levantar a cabeça. Era quase impossível resistir ao charme daquele
homem alto e charmoso. Por alguma razão, se sentia protegida perto dele.
Mas procurava algo que não estava acontecendo. Queria o arrepio na
coluna, as borboletas no estômago, a excitação sem freios, nem pudores,

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a vontade de ser um só com o outro. Definitivamente, não havia arrepio,


nem borboletas, nem desejo.

Cassandra desviou o olhar e se afastou.

Sentindo que o ufólogo ficou desconfortável, puxou assunto e lhe fez


muitas perguntas sobre ufologia. E para sua total surpresa, ele não tinha
respostas para a maioria delas.

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Capítulo 25

Pela manhã, assim que o sol surgiu, Charles chamou a todos. Queria
seguir viagem o mais cedo possível. Todos se arrumaram rápido e se
acomodaram no carro.

- Tomaremos café no próximo posto! - disse Rebeca, colocando o


cinto de segurança.

Vários quilômetros à frente, o grupo parou num posto de gasolina para


abastecer e tomar café na lanchonete do posto. Charles não quis sair do
carro e Rebeca levou um cappuccino e um sanduíche para ele. O grupo
não se demorou e logo seguiu viagem.

Após cerca de três horas e quase duzentos e setenta quilômetros,


Charles e Rebeca trocavam olhares. Onde estava CIA? Até agora estava
tudo tranquilo demais.

Não demorou muito para Rebeca ficar atenta a um zumbido estranho,


longe. Com o vento da estrada, ficava difícil saber de que lado vinha o
barulho estranho. Três minutos depois, as sombras de dois enormes
helicópteros pretos Apache Block III cobriram o carro.

Dr. Anton sentiu um frio no estômago ao ver a metralhadora M230


apontada para ele. Ao olhar mais para cima, pela janela do carro, ele pôde
ver o enorme pássaro negro carregado de foguetes Hydra 70 e de mísseis
AIM-92 Stinger. Era uma visão assustadora.

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Um dos Apaches desceu mais e um soldado de uniforme preto fez


sinal a Charles para que parasse o carro. Charles acelerou o mais que
pôde, continuando escoltado pelos helicópteros.

- Parem o carro e desçam com as mãos na cabeça. Parem o carro e


desçam com as mãos na cabeça – todos no carro escutavam as ordens
emitidas pelo alto falante de um dos helicópteros.

- Vamos atirar. Repito: vamos atirar – a voz parecia ameaçadora.

Charles acelerou ainda mais.

O piloto ao lado de Charles gesticulou para que ele parasse o veículo.

Duzentos metros à frente, um caminhão rodotrem de nove eixos,


carregado com sessenta toneladas de soja, dobrou uma curva larga. O
motorista avistou a cena cinematográfica à sua frente e acionou os freios.
As duas carrocerias se acavalaram uma sobre a outra e a de traz tombou,
fazendo com que a outra virasse e a cabine também. O caminhão
tombado perpendicularmente à pista deslizou por quase cem metros,
retorcendo o metal e deixando para trás um longo rastro de soja.

Charles tentou parar o carro e freou bruscamente.

O Apache do lado do carona subiu e passou por cima do caminhão.

Com a distração do piloto em fazer Charles parar, o outro helicóptero


chocou sua parte inferior contra o chassi do caminhão, tombou de bico e
virou de cabeça para baixo atrás do caminhão. O combustível escorreu
rapidamente e a aeronave explodiu.

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A Grand Picasso bateu no caminhão a baixa velocidade, mas foi


suficiente para que uma longa ponta de metal retorcido entrasse pelo
para-brisa, estourasse o air bag e transpassasse a cabeça de Charles.

Rebeca empurrou o air bag do carona, que começava a esvaziar


devagar, se abaixou, sacou uma pistola Glock ponto quarenta e saiu do
carro.

- Fiquem no carro e se abaixem – gritou Rebeca.

Todos no carro a ouviram, mas ninguém compreendeu o que a agente


da ABIN disse. Estavam todos em choque.

Dr. Anton olhava a ponta de ferro que saía por trás da cabeça de
Charles, com cabelos e pedaços do cérebro, que caíram nos pés de
Gesser. Sou um cientista, não um guerrilheiro, nem um soldado... Não fui
feito para isso.

Cassandra se esticou e abriu a porta do carro. Pegou a mão do Dr.


Anton.

- Calma, Anton. Venha comigo e fique abaixado. Vem Gesser.

Os três sentaram no chão, encostados no carro, ao lado de Rebeca.


Eles continuavam ouvindo o barulho do outro helicóptero. Não demorou
muito para que o Apache cortasse a fumaça negra, que subia do
helicóptero em chamas, e passasse sobre suas cabeças.

O helicóptero se voltou para eles e pousou poucos metros atrás do


carro. Quatro soldados trajados de preto saíram da aeronave com os
rostos escondidos atrás das miras dos fuzis XM25.

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Rebeca se abaixou no chão e atirou nas pernas dos soldados.


Foram tiros precisos e três deles foram atingidos, caindo no chão aos
gritos. O quarto soldado se adiantou e contornou o carro, apontando o
fuzil direto para Rebeca, enquanto os outros se arrastavam para dentro
da aeronave.

A agente se virou para ele e o olhou nos olhos. Sempre fora uma
mulher digna e dedicada à soberania e à segurança de seu país. Não
havia outra forma de morrer que não fosse encarando seu assassino de
frente. O tiro a curta distância explodiu o crânio da agente, respingando
sangue e vários pedaços de cérebro e de ossos sobre Cassandra, que
estava bem ao seu lado.

Gesser e Dr. Anton baixaram a cabeça, sabendo que seriam os


próximos. O soldado mirou o fuzil em Cassandra, que o encarou imóvel.

Atrás do soldado, ela viu surgir um rosto conhecido.

- Moça, você me custou soldados bons e um helicóptero! – disse o


Capitão Alexander, pegando Cassandra pelo braço e atando suas mãos
com um lacre plástico.

O Capitão também imobilizou Gesser e Dr. Anton, e todos subiram a


bordo do Apache, sob a mira do único soldado que restara em pé. O
sangue de Rebeca encharcou as roupas de Cassandra e agora escorria
no assoalho do helicóptero. O cheiro fez Dr. Anton vomitar mais de uma
vez.

O militar tinha ordens do Coronel Crenshaw para levar todos para a


base de Belém, no Pará. Mas, antes, depois de alguns minutos de voo,

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desceu num hangar próximo a uma pista de terra, ao que parecia, em


meio a uma plantação.

Uma grande caminhonete preta aguardava o pouso. De dentro dela


saíram quatro homens vestidos de preto, que ajudaram a levar os homens
feridos para a camionete. Depois voltaram e entraram a bordo do
helicóptero, que novamente levantou voo.

Durante toda a viagem, o Capitão Alexander se limitou a olhar os


prisioneiros sem lhes dirigir uma única palavra.

Pela cabeça de Cassandra passavam pensamentos terríveis. Ela se


lembrava das inúmeras reportagens que viu sobre como alguns
guerrilheiros foram assassinados pelos militares durante a ditadura. Eles
eram colocados em aviões e lançados no mar. Também se lembrou das
histórias de sobreviventes que viveram para contar sua rotina de torturas
nas prisões militares. E se lembrou da entrevista que assistiu com a
jornalista Maria Leifert, que foi presa e torturada na época da ditadura
militar no Brasil, quando estava grávida de apenas um mês. A jornalista
narrou que, ao ser presa, foi colocada nua em uma sala completamente
escura, junto com uma cobra chamada, ironicamente, Maria. A jornalista
não foi picada pela cobra, sobreviveu e seu filho nasceu saudável, mas
certamente jamais deve ter se esquecido do que passou.

Cassandra já não tinha mais certeza se o futuro chegaria para ela.

***

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A bordo de sua nave, Sary observava as mudanças bruscas nas


ondas mentais de Cassandra, evidenciando um grande stress.

Ele teve vontade de intervir, abreviar o sofrimento da contatada e falar


com ela antes que fosse morta. Mas, sob a disciplina impecável que regia
todas as ações dos visitantes, ele se lembrou do protocolo do
Experimento de Contato, que proibia a intervenção nos assuntos dos
terráqueos.

Por outro lado, ele também se lembrava da grande prova de confiança


que obteve de Cassandra, ao confiar-lhe um pequeno segredo que
poderia custar a segurança dos seus colegas e o êxito da sua missão na
Terra. O que deveria ser apenas uma amostra de boa vontade por parte
dos visitantes, transformou-se numa prova de seriedade e de boa fé por
parte da jovem, ao não revelar a confissão de Sary a ninguém. E ele sabia
que a sua contatada nem mesmo pretendia fazer tal revelação, nunca.

Então, ele decidiu usar um dos recursos do implante de Cassandra, a


gravação de som. A um simples comando mental para o painel iluminado
da nave, o implante começou a enviar o áudio de tudo o que ela falava e
ouvia. O som chegava um tanto abafado, mas era filtrado pelo computador
da nave e gravado para estudo posterior, caso ela fosse morta pelos
homens que a capturaram. Será difícil encontrar outro contatado com
estas características, pensou o comandante.

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Capítulo 26

O sol já estava se pondo quando, do helicóptero, Cassandra começou


a enxergar várias serpentes luminosas, cheias de curvas, recortando a
mata. Eram muitos rios sinuosos e ela percebia que, agora, estava sobre
a floresta amazônica.

O helicóptero Apache seguiu a trilha do rio Capim, que ia se alargando


até se unir ao rio Acará, na baía do Guajará, que emoldurava Belém, a
capital do estado do Pará.

O grupo sobrevoou o açude Água Preta, a Leste de Belém, passou


por Ananindeua, outra cidade, e seguiu para uma região composta por
diversas ilhas, formando um verdadeiro mosaico. Nesta região, a
aeronave se preparou para pousar num pequeno município chamado
Murinim.

O piloto pousou habilmente numa clareira cercada de árvores altas e


os soldados arrastaram Gesser, Cassandra e o Doutor Anton para fora.

Do meio da mata, vieram correndo três homens vestidos de preto. Na


porta da aeronave, eles bateram continência para o Capitão Alexander e,
em seguida, arrastaram Dr. Anton e Gesser com bastante violência. O
Capitão segurou Cassandra pelo braço e a levou atrás do grupo. Todos
passaram pelo meio das árvores e avistaram os muros de uma casa
grande, cercada por câmeras e por fileiras de cercontina.

Gesser e Dr. Anton foram colocados, ainda com as mãos atadas,


dentro de uma sala com uma mesa e algumas cadeiras. Ao entrarem, eles

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viram o Capitão levar Cassandra por um corredor comprido e escuro.


Ambos temeram pelo que poderia acontecer com ela, especialmente
Gesser.

No final do longo corredor, o Capitão abriu a porta de uma peça


escura e mandou Cassandra entrar. Ele acendeu a luz, puxou uma faca
do cinto e cortou o lacre plástico que prendia as mãos dela. O militar saiu
sem dizer uma palavra e a jovem escutou quando ele trancou a porta por
fora.

Cassandra não entendeu o que estava acontecendo e ficou surpresa


ao olhar o confortável quarto em que foi colocada. Havia uma cama box
de casal com lençóis limpos, um edredon e travesseiros fofos, ar
condicionado, uma escrivaninha com uma cadeira giratória, uma televisão
e um banheiro bastante limpo. E havia janelas. Ela foi em direção à janela
do quarto, mas suspirou ao perceber que existiam grades. Tentou a janela
do banheiro, mas esta possuía grades também.

Ela escutou um barulho na porta e ficou em pé no meio do quarto. O


Capitão Alexander entrou trazendo uma sacola com toalhas limpas,
roupas e um par de tênis.

- Você pode usar o chuveiro se quiser. Aqui tem toalhas e na sacola


tem itens de higiene. As roupas devem servir e os tênis também.

- Onde estão os outros?

- Serão interrogados, assim como você – respondeu ele, em tom seco.

Cassandra não disse mais nada, apenas olhou o Capitão, que desviou
o olhar e saiu.

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Ela examinou a blusa esportiva branca e a calça legging da mesma


marca. O tênis também era da sua marca favorita, embora, em sua
opinião, as roupas daquela marca deixassem um pouco a desejar nas
variações do corte e na qualidade dos tecidos. Como ele sabe?? - pensou
Cassandra.

O Capitão lembrava muito bem da sua visita à casa de Cassandra, no


Sul do Brasil. Lembrava do estilo de roupas que ela estava usando e dos
dez pares de tênis que viu em seu quarto, enquanto tomava o suco gelado
que ela serviu. Todos os tênis eram da mesma marca.

Cassandra tomou um banho e se vestiu. Tanto as roupas, quanto o


tênis serviram perfeitamente.

Ela sentou na cama e ficou olhando para o quarto, pensando se não


havia câmeras vigiando tudo o que fazia. Não encontrou nada suspeito.

A porta tornou a se abrir e o Capitão entrou com uma bandeja. A


colocou em cima da escrivaninha e saiu.

Cassandra sentou na escrivaninha e olhou para a bandeja. Um prato


grande com salada de maionese, alface, arroz e um bife bem passado.
Uma garrafa de água mineral, um copo de plástico, uma maçã, uma faca
sem ponta e um garfo. Me trouxeram talheres! Tolinhos... Ela comeu e
olhou para a janela. Estava escuro e ela estava exausta. Não iriam me
trazer roupas e janta, para depois em matar. Não é lógico. Não faz
sentido. E dormiu tranquila.

***

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Em outra sala, Gesser e Dr. Anton passaram a noite toda sentados


e com as mãos presas com lacres. Gesser não conseguia deixar de
pensar no que poderia estar acontecendo com Cassandra.

***

No meio da noite, enquanto algumas nuvens se amontoavam sobre a


região, soprando uma chuva fina e morna sobre a floresta, que
encrespava a superfície dos inúmeros cursos d’água que recortavam a
região, uma pequena esfera opaca, pouco maior do que uma laranja,
planava no ar, subindo vagarosamente ao longo do muro nos fundos da
casa que servia de cativeiro para Cassandra e para os ufólogos.

A sonda passou sobre a cercontina cortante instalada no alto do muro


e desceu lentamente até o solo coberto com grama. Atravessou um pátio
de cerca de doze metros de largura e chegou até a janela do quarto onde
Cassandra estava. Passou entre as grades e entrou no quarto,
transmitindo as imagens para a nave do comandante. Ele observava a
contatada dormir tranquilamente.

Sary preferiu monitorar pessoalmente o estado de sua contatada e,


embora o monitor à sua frente mostrasse um estado emocional mais
tranquilo, ele precisava ver como a moça estava. O comandante pensou
no quanto tinha agido de forma profissional, atendo-se ao protocolo da
missão como se fosse uma religião que o adestrava a não ter
sentimentos, nem a fazer juízos. Mas, em seu íntimo, se esforçava para

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compreender como os terráqueos conseguiam ser tão nocivos a outros


membros de sua sociedade.

Em seu planeta natal, cujos cidadãos eram criados sob a égide de


uma disciplina impecável, era um evento raríssimo a falência moral de
alguém. E, mesmo assim, tal queda se referia mais às faltas com as
obrigações sociais ou de trabalho, sem jamais chegar à violência de
qualquer tipo contra outras pessoas.

No entanto, longe de se mostrarem traumatizados com os horrores


que testemunharam na Terra, os visitantes classificaram os terráqueos
como criaturas inferiores sob todos os aspectos. Desta forma, possuíam
uma má vontade natural em lidar com os nativos. Cassandra era uma
exceção.

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Capítulo 27

De manhã cedo, o Capitão Alexander e um soldado entraram na sala


onde estavam Gesser e Dr. Anton. Soltaram suas mãos e o Capitão
sentou no lado oposto da mesa.

- Então... Onde será o encontro?

- Que encontro? – perguntou Gesser.

- Ora Sr. Gesser, não se faça de bobo. Já sabemos de tudo. Do


contato, das fotos e do encontro que vai acontece – disse o Capitão,
demonstrando uma enorme impaciência.

- Se você já sabe de tudo, vá e se encontre com eles – disse o Dr.


Anton, já bastante cansado.

- Não podemos. Já tentamos durante mais de trinta anos. E, agora,


esta jovem foi contatada. Mas ela é jogo duro, de forma que terei de
arrancar as informações de vocês, literalmente, se for necessário.

- Nós não marcamos um lugar, não fizemos planos. Só íamos perto de


Colares... – Gesser se deteve.

- Ah! O código. Temos o tal código também. Em minha opinião, tal


código é desnecessário, já que Cassandra foi contatada de outra forma.
Para nós, é só uma demonstração de profundo conhecimento que os
visitantes têm sobre os nossos sistemas de comunicação, de defesa, de
transporte... Enfim, nem creio que sejam tão amigáveis - ponderou o
Capitão

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- Então você sabe que eles foram específicos: nenhum militar por
perto! – disse Gesser.

- Este problema será resolvido em breve.

- Então vocês já têm tudo. Onde está Cassandra? Deixem-nos ir


embora – disse Dr. Anton.

O Capitão e o soldado saíram da sala sem falar mais nada.

- Gesser, o que está acontecendo? – perguntou o Dr.Anton.

- Eu não faço idéia, Doutor. Talvez eles saibam de algo que não
sabemos ou tenham alguma estratégia. Mas estou é preocupado com
Cassandra. Não quero imaginar o que pode ter acontecido com ela –
Gesser esfregou os pulsos doloridos e roxos.

***

O Capitão Alexander entrou no quarto onde Cassandra estava


dormindo, colocou uma bandeja com suco e pão com geleia sobre a mesa
e recolheu a bandeja deixada com o jantar.

Com a bandeja quase vazia na mão, observava Cassandra dormir. De


repente, ela despertou assustada, com aquele homem parado, a
encarando.

- Bom dia! Volto em uma hora para conversarmos.

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O Capitão abriu a porta, olhou para o bife ainda no prato, parou e


tornou a fechar a porta. Virou-se para Cassandra e perguntou:

- Você não gostou do bife? Eu mesmo fiz.

- Sou vegetariana. Que diferença isso pode fazer para você? –


respondeu ela.

O militar não disse nada e a deixou sozinha.

Cassandra tomou um banho, se vestiu, tomou o suco e comeu o pão


com geleia.

Não demorou muito até o Capitão retornar. Cassandra estava sentada


na cama e o militar puxou a cadeira giratória e sentou perto dela.

- Tenho ordens de acompanhar o encontro.

- Não haverá mais encontro. Eles foram claros: nada de militares.


Além disso, você realmente acha que eu levaria vocês junto? Para quê?
Para atacar os visitantes e tomar as suas naves? – respondeu Cassandra.

- Certo, Cassandra, os alienígenas confiam em você. E, inicialmente,


tenho ordens acompanhar a conversa, saber o que eles querem aqui,
porque estão aqui.

- Quero ver Gesser e o Dr. Anton. – gritou Cassandra.

- Infelizmente isso não é possível.

- Por quê? O que vocês fizeram com eles?

- Eles estão bem, mas estão isolados.

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O Capitão ficou em silêncio por alguns segundos, enquanto


Cassandra o encarava de maneira séria e fria. Ainda assim, ela notou o
volume do peitoral musculoso do militar sob a camisa. Tão bonito... Uma
pena que seja um cretino! O militar olhou para baixo, desconcertado,
como se lesse os pensamentos dela.

- Bom, você já se deu conta de que eu não vou cooperar, não é?


Então me solta ou me mata – determinou Cassandra.

- Eu quero saber mais uma coisa.

Cassandra o olhava com raiva.

- Porque você quer proteger estas criaturas que nós nem sabemos se
são hostis? E se eles estiverem usando você para chegar à sociedade
humana e nos dominar culturalmente. São assim que acontecem as
verdadeiras invasões e dominações de um povo sobre o outro – disse o
Capitão.

- Este tipo de estratégia seu povo conhece bem, não é mesmo? –


respondeu ela com ironia - Mas eu vou te responder. Acontece que, seja
como for, eu considero o contato como uma forma de confiança. E jamais
vou trair isso. Se eles não nos atacaram militarmente até agora, é certo
que não o farão. Mas, se planejam uma invasão mais sórdida e sutil, como
você disse, é porque as sociedades terrestres permitirão, na ânsia por
poder, por um conhecimento que não estão preparados para ter, por uma
qualidade de vida da qual ainda não são merecedores. Entendeu?

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O Capitão não esperava uma resposta dessas. Olhou para Cassandra


e viu uma pessoa com a mente e os valores absolutamente livres e
verdadeiros. Não ousou julgar se eram certos ou errados.

- Vou deixar você pensar mais um pouco e mais tarde conversamos.

Ele girou a cadeira, se levantou e colocou a cadeira no lugar,


deixando Cassandra sozinha novamente.

Antes do militar sair, a jovem já havia começado a pensar, mas não


sobre ser acompanhada ao encontro com os visitantes. Ela estava
visualizando um modo de fugir.

Ela aguardou o resto da manhã, pois sabia que receberia o almoço.

De fato, ao meio dia, o Capitão trouxe o almoço. Desta vez, havia


macarrão ao alho e óleo e diversos legumes cozidos no vapor, uma
garrafa de água mineral e uma barra de chocolate. Chocolate é golpe
baixo, pensou ela.

Cassandra comeu tranquilamente. Aguardou o Capitão vir recolher o


prato e os talheres. Depois, foi até a janela e cuidou o movimento do lado
de fora. Estava tudo em absoluto silêncio.

Ela foi até a cadeira giratória, se abaixou e desatarraxou o parafuso


que prendia o encosto. O parafuso grosso tinha uma cobertura plástica
bastante resistente, embora fosse oca. A cobertura tornava o manuseio
mais confortável e era semelhante a uma tampa com saliências
sextavadas. Ele soltou a outra extremidade do parafuso, que ficava presa
no centro da peça plástica.

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Depois, foi até a porta e, usando as bordas das partes sextavadas da


peça plástica, desenroscou os dois parafusos que prendiam a fechadura
da porta. Usando a peça como alavanca, puxou o pino que segurava a
maçaneta da porta e a retirou. A fechadura se deslocou um pouco do
lugar. Cassandra foi até o banheiro e pegou a escova de dentes que o
Capitão havia trazido para ela, colocou o cabo da escova num pequeno
espaço entre o mecanismo da fechadura e a porta e forçou. Uma parte da
fechadura desencaixou do corpo metálico do mecanismo e caiu para
dentro da porta, que era oca, levando junto a lingueta e a trava da porta.

Cassandra não se importou com o barulho abafado da fechadura


caindo. Ela sentia que não havia guardas do lado de fora da sua porta. E
estava certa.

Agora, ela aguardaria o Capitão tentar abrir a porta, puxaria a porta para
dentro e o pegaria de surpresa. Claro que não vai dar certo, mas prefiro
morrer buscando a liberdade, que aqui, presa e com medo. Cassandra
ficou imóvel, parada do lado da porta, aguardando pelo militar.

***

Poucos minutos depois, na sala do início do corredor, o Dr. Anton não


se sentiu bem.

- Gesser, eu estou me sentindo tonto e com dor de cabeça.

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O astrofísico começou a suar frio e sentiu o coração acelerar. De


repente, levou as mãos na cabeça e caiu no chão tremendo em
convulsão.

Gesser começou a gritar e a esmurrar a porta.

- Socorro, alguém ajude. Socorro!

Três soldados armados entraram na sala. Um deles examinou o


Dr.Anton, que estava imóvel e de olhos abertos, com a respiração
irregular.

- Parece um AVC – disse o soldado, olhando para os outros.

Gesser tentou se abaixar para ajudar o amigo, mas foi impedido pelos
soldados, que o mandaram sentar.

Um dos militares pegou o rádio comunicador e chamou o Capitão, que


veio correndo.

- Vamos levar ele para a enfermaria. Tragam uma maca.

Um dos soldados desapareceu e retornou em alguns segundos


empurrando uma maca barulhenta pelo corredor.

Cassandra escutou a movimentação e percebeu que havia algo


errado. Abriu a porta devagar e pôde ver uma maca dobrando o corredor,
seguida pelo Capitão Alexander. Ao ouvir uma porta bater, ela saiu do
quarto, caminhou silenciosamente pelo corredor e subitamente abriu a
porta da sala onde estava Gesser.

O soldado que vigiava o ufólogo dentro da sala se surpreendeu ao ver


Cassandra abrir a porta e Gesser, sem pensar, puxou uma cadeira e o

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golpeou na cabeça, pegou sua arma e puxou Cassandra para a porta da


frente da casa. A porta estava destrancada, mas havia três soldados de
vigia do lado de fora.

Gesser apontou a arma para eles e puxou o gatilho. A arma estava


travada e ele nunca tinha atirado antes. Os soldados sacaram suas armas
e apontaram para eles, rindo do despreparo do ufólogo.

Quando um dos militares foi prender as mãos de Cassandra, ela se


lembrou das aulas de capoeira topázio que havia feito muitos anos atrás.
A capoeira topázio era um estilo mais livre e menos poético de capoeira,
que mistura várias artes marciais, como jiu-jitsu, boxe e técnicas de
defesa pessoal. Não foram muitas aulas, mas o pouco que aprendeu, ela
jamais esqueceu. O rosto do antigo mestre surgiu na sua mente. Olhe
para sua mão e puxe com força. Olhe para a mão e puxe! O soldado a
pegava firme pelos pulsos. Ela olhou para as duas mãos e as empurrou
para baixo com toda a força. O golpe fez o militar ir para frente e ela lhe
acertou uma cabeçada fortíssima no nariz. Por instinto, o guarda levou as
duas mãos ao rosto e Cassandra sacou a pistola dele, a apontando para o
outro soldado, que estava armado.

- Baixe isso. Você vai se machucar.

Ela continuou olhando para o soldado e puxou a pequena trava lateral


para trás. O tiro foi certeiro no rosto do militar que, por impulso, apertou o
gatilho e deu um tiro que não a acertou.

Gesser se jogou para o lado e Cassandra atirou no militar que o


segurava.

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Por fim, ela apontou a arma para o soldado que estava no chão com o
nariz quebrado e com o rosto completamente ensanguentado, mas não
teve tempo de atirar porque o Capitão Alexander e um soldado vinham
correndo para fora. Gesser e Cassandra correram o mais que puderam,
sem olhar para trás.

O soldado mirou neles, mas o Capitão abaixou sua arma com a mão.

- Deixe. É a segunda vez que ela nos engana. Preciso dela viva e eu
sei para onde eles vão.

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Capítulo 28

Gesser e Cassandra entraram na floresta que rodeava o vilarejo. A


jovem lembrava bem da imagem que viu quando estava no helicóptero. À
Oeste havia um rio.

- Cassandra, acho que os despistamos - disse Gesser, ofegante.

Cassandra parou e se abaixou. Respirou fundo.

- O que houve com o Dr. Anton? – perguntou ela.

- Teve um ataque. Passou mal e parece que foi um AVC. Eles o


levaram para outra sala, uma enfermaria, eu acho. Coitado, isso é culpa
minha. Não devia ter envolvido ele e o Prestes nisso – os olhos do ufólogo
se encheram de lágrimas.

- Tudo isso é muito inesperado, muito irreal. Mas não tem volta. Os
americanos têm algum interesse no contato e não sabemos qual é -
Cassandra parecia decidida.

- E os visitantes têm algum interesse em nós, que também não


sabemos do que se trata. Ter vindo para cá pode ter sido um erro terrível -
ponderou Gesser.

- Agora estamos aqui, vamos fazer o que viemos fazer. Vem, vamos
seguir até o rio, onde é mais fácil conseguir ajuda - disse Cassandra, indo
na frente do ufólogo.

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Os dois caminharam na mata fechada até encontrarem o leito de um


rio estreito. Adiante, eles avistaram um trapiche de madeira e uma lancha
atracada.

- Veja, uma lancha! Vem, vamos pela mata para não sermos vistos - e
Cassandra puxou Gesser pela camisa.

Os dois voltaram para trás dos arbustos altos da mata e abriram


caminho até o trapiche. O lugar parecia deserto e Cassandra saiu
silenciosamente dos arbustos e subiu no trapiche, que balançou com o
peso dela.

Com passos rápidos, ela entrou na pequena lancha de dezoito pés,


deu uma olhada na cabine e percebeu que o painel era uma bagunça,
com fios à mostra, mas, pelo menos, o contato era por botão, sem chaves.
Graças a Deus tem um GPS!

Cassandra sentiu uma batida forte na embarcação, olhou para trás e


viu que era Gesser pulando pra dentro.

- Agora vamos para Colares – disse Gesser, cuidando para os lados,


com medo de que o dono da lancha aparecesse.

Cassandra ergueu o botão de contato e o motor começou a girar.


Ligou o GPS.

- Poxa! Tem a carta náutica local integrada! – disse ela, animado.

No pequeno monitor do aparelho surgiu uma imagem semelhante a


um quebra cabeças. O Norte do Pará era composto por um grande
número de ilhas encaixadas umas nas outras, separadas por rios

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estreitos, cujas águas se encontravam na Baía do Sol e na Baía de Santo


Antônio, e todos desaguavam no mar através da grande Baía de Marajó.
Rapidamente, Cassandra traçou o rumo para Colares, sob o olhar confuso
de Gesser.

- Como você se acha nisso aí? Pra mim este mapa é confuso demais
– comentou ele.

- Muito estudo – disse Cassandra, aparentando segurança no controle


da situação – Vamos lá.

Ela girou uma direção preta e empurrou levemente um manche para


frente. O barulho do motor aumentou e a lancha se afastou devagar do
píer, levantando uma fumaça escura do motor velho. Gesser olhava pra
trás, ainda com medo de ser pego pelo dono, roubando a embarcação, ou
pelos militares americanos.

O barco fez uma pequena curva e Cassandra o colocou do lado direito


do estreito canal de água, aumentando a velocidade.

- Tomara que tenha combustível suficiente – disse ela.

Gesser abriu um pequeno armário e encontrou comida. Biscoitos


salgados e uma caixa de suco de uva.

- Não tem nenhum colete salva vidas...

Cassandra nem escutou o comentário de Gesser, estava


concentrada na navegação e com medo de ser alcançado pelos
militares. Acelerou ainda mais e a pequena lancha branca cortou as
águas do rio estreito a quinze nós.

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Em pouco tempo, chegaram a uma bifurcação e o rio se alargou.


Gesser comia os biscoitos olhando direto para Cassandra,
impressionado com a habilidade dela no manejo da embarcação. E
pensava no Dr. Anton. Minha culpa. Nunca devia ter o metido ele
nisso...

A noite começava cair e Gesser observou os pássaros voando para as


copas das árvores. Uma brisa leve entrava pela janela da cabine.

- Gesser, vou diminuir a velocidade porque está escurecendo.

- Não entendi...

- Estou perdendo o alcance de visão e esta região tem bancos de


areia e nem todos podem estar marcados na carta náutica – Cassandra
estava cansada e sem muita paciência para explicações técnicas – E
vamos seguir sem luzes, para não chamar a atenção. Não se preocupe
porque não tem um tráfego intenso aqui.

- Como faremos o sinal? Minha bolsa com os equipamentos ficou no


carro do Charles ou seja lá qual era o nome dele.

- Procure uma lanterna, deve ter alguma aí, em algum canto.

Gesser começou a remexer nos armários apertados da cabine.


Depois, desceu para a parte inferior, onde havia uma cama tipo beliche,
roupas, material de pesca e mais armários. O cheiro não era dos melhores
e ele sentiu náuseas.

Os armários estavam cheios de ferramentas, mais roupas, garrafas de


bebidas e comida estragada. Ele revirou algumas roupas que estavam

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sobre uma das camas e encontrou uma lanterna grande. Testou para ver
se funcionava e a lanterna ligou, emitindo uma luz tão intensa quanto um
holofote.

- Perfeito!

Gesser subiu para a cabine.

- Olha só que maravilha! – disse ele, ligando a lanterna no rosto de


Cassandra.

- É bem forte, deve servir. Além disso, de algum modo, eles já devem
saber que estamos aqui - disse Cassandra, sem saber que, brincando,
dizia uma grande verdade, pois uma pequena sonda esférica seguia a
lancha entre as árvores que circundavam o leito do rio.

A noite caiu e eles observaram a silhueta da mata, iluminada pela luz


da lua quase minguante. Cassandra olhou pela janela da cabine e
admirou o céu estrelado. Em sua cidade, as luzes das casas e dos postes
não permitiam que se vissem as estrelas menores, que formam
verdadeiras nuvens de luz no espaço.

- Gesser, já estamos perto - disse ela, mostrando o monitor do GPS –


Nós estamos aqui – e apontou para duas ilhas no meio de um rio bem
largo – acho que devemos sair pela Baía do Sol e ir pela costa até
Colares. Podemos mandar o código da praia mesmo, que é mais afastada
da luzes das casas – Gesser escutava Cassandra e olhava concentrado
para o monitor.

- Vamos parar um pouco para descansar, estou exausto.

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- Eu também – disse Cassandra, diminuindo a velocidade da lancha e


manobrando entre as duas ilhotas.

Por fim, ela parou a embarcação e saiu para o pequeno convés,


remexendo nas redes de pesca que estavam entulhadas num canto.

- O que você está procurando? – perguntou Gesser.

- A âncora! Deve ter uma por aqui, senão, seremos levados pela
correnteza – disse Cassandra, com um sorriso animado no rosto.

Ela começou a tirar as redes e as bóias de isopor para o lado. Por fim,
encontrou um alter enferrujado, com duas anilhas de cada lado, preso a
uma corrente por um cadeado. E ficou em pé com as mãos na cintura.

- Eu não acredito nisso! – disse ela, rindo – Gesser, venha dar uma
olhada na âncora...

Gesser se aproximou por trás de Cassandra e, num gesto muito


rápido, passou uma corda em seu pescoço, apertando com toda força. A
jovem caiu, tentando puxar a corda, mas sentiu a cabeça latejar. Gesser
montou em suas costas e apertou a corda com mais força.

- Me desculpa, me perdoa – ele sussurrou em seu ouvido – Mas eu


não posso deixar uma desconhecida levar o crédito por um acontecimento
que me pertence. Eu dediquei minha vida a isso, eu mereço todo o
reconhecimento... Sinto muito...

A visão de Cassandra escureceu e ela sentiu a cabeça latejar mais


e doer. Tentou mover os braços, mas já não tinha forças. Seu diafragma

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se contraiu, buscado o ar, que não entrava nos pulmões. O peso de


Gesser sobre suas costas causava uma dor insuportável.

Cassandra estava tentando desesperadamente se manter


consciente, quando sentiu uma explosão de sangue ao seu redor. Por
uma fração de segundos, ela experimentou a sensação de que sua
cabeça explodira. Era o fim, ela percebeu que morrera. Era uma
sensação péssima, surreal.

Gesser caiu por cima dela e a corda se a afrouxou. Embaixo dos


quase cem quilos do ufólogo, Cassandra tentava retomar o fôlego e se
arrastava devagar pelo convés, tirando o braço de Gesser de cima das
suas pernas. Ela respirou fundo e viu, confusa, o corpo de Gesser sem a
cabeça. Ao redor, no convés da lancha, estavam espalhados os pedaços
de pele, de ossos, de cabelos e de cérebro do ufólogo.

Ela esfregava o pescoço dolorido, quando um cone de luz a alcançou.


A luz não permitia que ela visse a fonte, mas, após poucos segundos, ela
conseguiu ouvir o barulho de um helicóptero que se aproximava muito
rápido.

Sem reação alguma, prensada no costado do convés, ela não


percebeu a descida de um soldado por uma corda. Ele habilmente a
segurou pela cintura e a levou para cima.

O Apache voou rente à copa das árvores e ela instintivamente se


agarrou ao militar trajado de preto, usando uma touca balaclava, enquanto
a corda era puxada para dentro da aeronave. O vento frio da altitude da
nave a despertou, ela respirou fundo e olhou o soldado nos olhos.

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Cassandra se desesperou ao reconhecer o Capitão Dale Alexander e


tentou se livrar dos seus braços, sem se dar conta de que sofreria uma
queda mortal. Mas ele a apertou firme e a empurrou para dentro da
aeronave.

Cassandra se segurou na borda da porta e se arrastou para dentro,


caindo sobre um rifle Barret M82A1 de longo alcance com mira noturna
infravermelha. Em choque, ela se encolheu num canto e olhou para o
piloto, também de uniforme militar e de touca.

O Capitão entrou na aeronave, recolheu o equipamento de rapel e


fechou a porta. Ele tirou o capacete preto e atouca, tomou fôlego e
acariciou o rifle Barret.

- Foi um bom tiro... E na hora certa! – disse ele, sorrindo.

- Obrigado... Eu acho... – Cassandra agradeceu, confusa, ainda com


muita dor no pescoço.

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Capítulo 29

O Apache negro sobrevoou o céu, oculto pela noite. Em seu interior, o


jovem Capitão observa Cassandra tomar água, exausta por causa da
fuga. Ele fez um sinal para o piloto e o helicóptero começou a dar várias
voltas na região próxima a Colares. Uma tela no painel mostrava uma
imagem da região completamente recortada por rios estreitos e sinuosos,
que mais parecem cobras abrindo caminho entre a mata fechada. Uma
imagem já familiar para Cassandra.

- Já vamos descer – disse o Capitão.

Cassandra espiou pela janela, mas tudo o que conseguiu ver foi a
mata escura.

Em poucos minutos a aeronave pousou no leito de um curso d’água


estreito. O Capitão abriu a porta, desembarcou e esticou a mão para
Cassandra, indicando que ela também deveria descer.

Os pés da moça afundaram na areia úmida e fina. Ao redor, era tudo


escuridão. Acima, somente as estrelas e a lua.

O militar tirou a pistola do coldre na cintura e a entregou ao piloto,


junto com dois pentes de munição. Depois, puxou uma pequena caixa
plástica preta e pegou um objeto cilíndrico e largo.

Cassandra ficou mais confusa ainda e com medo. Sem arma no meio
da floresta escura!

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O Capitão fez um sinal com o polegar para cima ao piloto e fechou a


porta do Apache. O helicóptero levantou voo e rapidamente desapareceu
atrás das árvores. Seu barulho ficou cada vez mais distante até que
silenciou por completo.

- O que vamos fazer? – perguntou Cassandra ao militar.

- Você tem um encontro. Vamos!

Os dois caminharam um pouco até um ponto com areia mais firme. O


Capitão Alexander olhou para o céu e ligou o artefato que retirou do
helicóptero. Era uma espécie de lanterna com leds coloridos em quatro
cores básicas, amarelo, vermelho, verde e azul.

Enquanto ele ajustava a intensidade da lanterna, surgiu um som


agudo que aumentava de intensidade. Em segundos, os dois viram uma
luz branca cruzar o céu em direção Nordeste, a uns quinhentos metros
acima deles.

O Capitão ligou a lanterna e começou a sinalizar em código morse.


Um sinal longo com luz amarela. Dois sinais longos com luz verde. E um
sinal curto com luz vermelha. TME. Aeronave deve me encontrar aqui. Ele
repetiu o código três vezes. Cassandra olhava fixamente para o céu.

Quase um minuto após a emissão do último sinal, Cassandra escutou


uma voz.

- Olá, Cassandra.

Era uma voz desconhecida, masculina, cristalina e tranquila.

Ela olhou ao redor, procurando por alguém que parecia estar próximo.

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- O que foi? – perguntou o militar.

- Você não ouviu? Um homem me cumprimentou.

O Capitão Alexander olhou ao redor e também não viu ninguém.

Acima deles, chegou uma nave discóide preta e muito grande. O


aparelho era silencioso e estava com a camuflagem ativada, refletindo a
luz ambiente.

A nave desceu devagar e Cassandra só a percebeu quando já estava


a poucos metros acima da água. Ela puxou a manga do casaco do
Capitão e ele se virou, enxergando uma silhueta imensa e difusa sobre a
água.

O disco desativou o modo de camuflagem e uma escotilha redonda se


abriu na parte de baixo da nave, lançando um cilindro de luz branca.

Cassandra e o militar assistiram extasiados a um homem descer


flutuando na luz e se aproximar da margem do rio. Atrás dele desceu
outro. Cassandra os reconheceu das fotos que apareceram
misteriosamente na sua câmera fotográfica. O Capitão Alexander também
os reconheceu.

Os dois homens estranharam a textura macia da areia úmida e


caminharam devagar ao encontro de Cassandra. Os dois pararam na sua
frente e ela, instintivamente, esticou a mão direita com a palma virada
para cima. Um dos seres, que ela conhecia pelo nome de Lucas, pousou
suavemente a sua mão sobre a dela e sorriu.

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- Bom conhecer você - disse Lucas, recolhendo a mão macia, morna e


de unhas perfeitas e bonitas.

O outro homem esticou a mão com a palma voltada para cima para
Cassandra. Ela colocou sua mão sobre a do visitante.

- Meu nome é Eilin.

Cassandra percebeu que o visitante não exalava qualquer cheiro e


tinha uma aparência de perfeita limpeza e hidratação da pele e dos
cabelos.

O militar se aproximou dos dois seres e imitou o gesto de Cassandra,


recebendo o cordial cumprimento dos visitantes.

- Dale Alexander.

- Bom conhecer você, Dale – disse Lucas.

- Olá! – disse Eilin.

Cassandra começou a lembrar de todas as perguntas que gostaria de


fazer a um alienígena. Mas, antes que abrisse a boca, os seres se viraram
para a nave. Dentro do cilindro de luz desceu outro ser que Cassandra
não reconheceu. Era um homem alto, de corpo bem proporcional e forte,
pernas longas, cabelos castanho claros lisos, com um corte reto na altura
dos ombros e penteados para trás. Seus olhos eram serenos e tinham cor
de mel, evidenciando ainda mais o tamanho da íris. A jovem admirou as
proporções perfeitas do rosto, o nariz reto e pequeno, a boca rosada, as
maçãs do rosto alinhadas com o maxilar. Embora ele aparentasse ter
cerca de quarenta anos, existe nele uma aura de experiência, de

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sabedoria e de comando que traíam sua jovialidade, denunciando que


deveria ser bem mais velho que os demais.

Ele passou por Eilin e por Lucas, olhando Cassandra nos olhos. Ao se
aproximar dela, estendeu a mão direita. A jovem colocou sua mão sobre a
dele e o visitante a cobriu com sua mão esquerda.

- Sou Sary, comandante desta expedição.

- Estou certa de que você já me conhece – disse Cassandra, tomado


por uma grande euforia. Ela sentiu como se o mundo ao redor
desaparecesse e como se houvessem somente aqueles olhos grandes cor
de mel e nada mais.

- Sei tudo sobre você e sobre os que deveriam estar aqui com você.
Também acompanhei seu esforço para estar aqui agora – Cassandra
ficou surpreso pela fluência do visitante no idioma dela, quase não havia
sotaque.

Sary apontou para a longa margem do rio.

- Podemos caminhar um pouco?

Cassandra o acompanhou, caminhando devagar. O Capitão


Alexander, Lucas e Eilin seguiram os dois.

- Cassandra, gostaria que você e seu amigo – disse Sary, virando-se


para o Capitão Alexander – Falassem de nós para o seu Governo.
Gostaríamos muito de poder travar um intercâmbio, uma amizade e uma
convivência com seu povo. E que seu Governo fale de nós a outros
governantes.

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- Sary, por qual motivo vocês estão aqui?

- Seu planeta foi descoberto por meu povo há mais de quinhentos


anos. No entanto, fazem apenas cinquenta anos que conseguimos vir até
aqui e estudar vocês, sua natureza e os demais seres vivos. Temos um
arquivo de mapeamento genético e fisiológico bastante vasto, mas sempre
somos surpreendidos por novas espécies.

Cassandra lembrou subitamente dos ataques em Colares e no


Maranhão, ocorridos na década de setenta. Antes que ele pudesse
perguntar qualquer coisa sobre isso, Sary lhe respondeu:

- Em Colares, fizemos um estudo completo. Analisamos a reação de


vocês à nossa presença, bem como a reação das suas guarnições de
proteção, que permaneceram por lá para nos estudar também. Coletamos
fluídos suficientes para produzir proteção contra todas as suas doenças
contagiosas. É por este motivo que podemos, enfim, travar este encontro
sem risco para nós.

Mas Cassandra não estava satisfeita e disparou:

- Você não pensou no mal que causaria àquelas pessoas? Elas


ficaram traumatizadas e algumas morreram em decorrência dos males
causados pelo contato...

- Para o meu povo, a sua espécie é inferior. Vocês são especistas em


relação às pequenas variações da sua matriz genética. Nós classificamos
as espécies pela capacidade mental e moral.

A explicação de Sary soou como um soco na honra de Cassandra,


como uma integrante da humanidade terrestre. Ao mesmo tempo,

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explodiram na mente dela imagens de assassinatos, de crianças


morrendo de fome em países pobres, de armas atômicas, do abate de
animais, e ela sentiu uma vergonha profunda.

Sary, percebendo seus pensamentos, aguardou que ela se


recompusesse. O que não demorou quase nada.

- De onde vocês vêm? – perguntou ela.

- Viemos de um planeta maior do que a Terra, próximo à constelação


de Lira. Não é tão quente quanto aqui, possui uma população menor e a
biodiversidade é bem menor também. Duas luas vibram ao nosso redor.

- Nem tudo é tão bonito aqui. Temos fome, guerras, violência... Como
você já sabe.

- Embora, em meu lar, já tenhamos resolvido estes fatores de forma


satisfatória, não devemos interferir em sua política. Nosso objetivo é
conhecimento apenas. O auxílio deverá ser bem dosado.

- Sim, é importante que possamos cumprir todas as etapas do nosso


desenvolvimento. Não podemos pular degraus - lamentou Cassandra.

- Mas uma pequena ajudinha em algumas áreas eu creio que seria


bem-vinda – disse Sary, com um olhar travesso, sabendo que não
pretendia cometer nenhum pecado tão grave.

Cassandra sorriu e Sary pegou sua mão. Ele olhou para o Capitão
Alexander.

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- Dale, nós gostaríamos que nossas intenções chegassem até seu


Governo. Através de Cassandra, se ela assim permitir, iremos saber a
resposta e, então, organizaremos um novo contato.

Cassandra acenou positivamente com a cabeça.

- Repassaremos de imediato as suas intenções. Cuidarei


pessoalmente disso – disse o Capitão.

O grupo já estava um tanto longe da nave. O disco começou a


deslizar sobre a água do rio e se aproximou deles. A escotilha se abriu
novamente, lançando um cilindro de luz.

- Nos despedimos aqui e agradecemos o seu tempo, a sua paz


conosco e o seu esforço – disse Sary, ainda segurando a mão de
Cassandra.

- Foi um enorme prazer poder fazer parte disso – disse o militar,


olhando para os três visitantes.

- Espero que possamos nos ver em breve, Sary – disse Cassandra –


Até breve, Lucas e Eilin.

Sary sorriu, soltou a mão da jovem de forma relutante e caminhou até


a margem do rio.

- Sary! – gritou Cassandra, correndo em direção a ele.

O comandante parou e se virou.

Ela olhou o extraterrestre nos olhos.

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- Porque eu? Porque me escolheu entre milhões de pessoas que


moram na Terra? Qual o padrão da sua escolha para os contatados? –
ela tinha a voz embargada, passando uma emoção que não sabia de
onde brotava.

Sary ajeitou carinhosamente os cabelos de Cassandra, que


voavam com o vento que começava a levantar na noite. E secou uma
lágrima que caía, sem saber porque caía.

- Nós não escolhemos ninguém. Apenas reencontramos velhos amigos.

O visitante se virou para a nave e começou a flutuar até entrar no


cilindro de luz. De dentro da luz, ele acenou para Cassandra e para o
Capitão, enquanto subia a bordo.

Lucas e Eilin foram atrás de Sary e também acenaram antes de


entrar na nave.

Silenciosamente, a nave entrou em modo de camuflagem, ganhou


altitude e desaparece no céu escuro.

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Capítulo 30

Cassandra e o Capitão ficaram um longo tempo olhando para o céu,


reorganizando seus pensamentos, seus princípios, suas crenças.

Sem dizer uma palavra, o militar colocou a mão no bolso, pegou um


telefone celular e discou um número.

Quinze minutos depois, o barulho do Apache negro surgiu longe e foi


aumentando. O helicóptero finalmente aterrissou no mesmo ponto onde os
deixara.

O Capitão colocou a mão no ombro de Cassandra e os dois correram


para a aeronave, lutando contra o vento do rotor ainda ligado. Quando
eles entraram e fecharam a porta, o jovem finalmente relaxou, sentada
sobre um dos assentos.

O militar enviou uma mensagem de texto e ficou olhando a tela do


telefone. Dois minutos depois, chegou uma resposta. Ele olhou para
Cassandra e sorriu.

- Daqui a pouco você vai poder descansar. Estamos indo para


Brasília.

- Por quê? Eu preciso ir para minha casa. Quase morri para estar aqui
hoje. E mais de uma vez! – protestou ela.

- A presidente está esperando você.

Ela não podia acreditar no estava ouvindo.

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- A presidente sabia de tudo? E mandou você aqui? – ela estava


atônita com a surpresa.

- Bem, ela, pessoalmente, não. Reporto-me, extra oficialmente, ao


diretor da ABIN.

- Mas... Espere! Eu achei que você trabalhasse na CIA. Você é


americano.

- E trabalho! E também discordo de... Digamos... Noventa por cento


da política externa americana – disse ele, parecendo muito sincero e
relaxado.

- Você também testemunhou tudo, pode falar com a presidente.

- Não, não posso. Eu sou um marine, trabalho para o governo


americano, assessorando as ações de campo da CIA no Brasil – disse
ele, com certo sarcasmo.

Cassandra deu um tapa na própria testa. Ela se recostou no


assento e tentou descansar um pouco, sem se preocupar com o
compromisso que a aguardava em Brasília.

O sol estava querendo nascer, quando o helicóptero chegou a


Brasília. Da janela da aeronave, Cassandra viu o enorme e organizado
cemitério Campo da Esperança. Em frente ao cemitério, o helicóptero
pairou sobre uma pista de cimento com uma enorme estrela amarela e
pousou no complexo da ABIN, estrategicamente atrás de um dos
prédios. O campo era cercado por árvores e por arbustos fechados,
protegendo o helicóptero dos olhares curiosos.

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Ao descer da aeronave, Cassandra foi recebida pelo diretor geral da


ABIN e por dez agentes, que a cercam cuidadosamente. O diretor
cumprimentou o Capitão Dale Alexander e o piloto do Apache.

- Finalmente nos conhecemos, Capitão – disse o diretor, sem


conseguir esconder a satisfação por participar de um evento tão marcante.

- Foi uma honra, senhor. A terra da liberdade é onde podemos agir de


acordo com nossos princípios – respondeu o Capitão.

Eram cinco horas da manhã e o céu apresentava sua tonalidade


dourada, que logo daria lugar aos primeiros raios de sol.

O Capitão deu as últimas instruções ao piloto, que levantou voo de


volta à sede clandestina da CIA no Pará.

Os agentes da ABIN escoltaram Cassandra e o Capitão por dentro


dos vários prédios da agência até chegarem a um estacionamento interno,
onde todos embarcam num discreto carro popular fortemente blindado.

No melhor hotel de Brasília havia um quarto reservado para


Cassandra e outro para o Capitão Alexander. Eles entraram direto, sem
fazer check-in. Quando o elevador chegou ao andar térreo, o ascensorista
rapidamente saiu e deu lugar para o grupo. Todos se amontoaram no
elevador e um dos agentes apertou o botão da cobertura.

Cassandra agradeceu ao diretor e ao Capitão, e entrou no quarto


luxuosamente decorado. Seis agentes da ABIN ficaram de guarda no
corredor. À sua espera, havia uma mesa de café da manhã com as
melhores iguarias do hotel. No centro da mesa tinha um envelope branco
contendo um bilhete:

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“Escolha o que quiser para vestir nas lojas do hotel. Atenciosamente,


Diretor.”

Em meio a tantos confeitos, doces, bolos, frutas, sucos, chás, café,


ele se serviu de um copo de suco de laranja, passou geleia de uva numa
fatia de pão integral e comeu, sem muita demora.

Seu corpo implorava por descanso. Ela tirou a roupa suada, regulou
o ar condicionado em dezessete graus e desabou na cama king size,
tapada com um edredon. A cama era macia e confortável, como só os
bons hotéis conseguiam arrumar. Qual será o segredo dos hotéis para
arrumarem a cama assim... Tão gostosa...? E dormiu profundamente.

***

No quarto em frente, o Capitão leu o bilhete do diretor da ABIN,


enquanto comia um pedaço de bolo de chocolate. Em seguida, ele foi para
o banheiro e tentou relaxar sob a água morna do chuveiro. Fechou os
olhos e tentou esvaziar a mente, mas uma imagem teimava em
permanecer: Cassandra.

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Capítulo 31

Às sete horas da manhã, o Coronel Crenshaw estava saindo do


chuveiro, quando recebeu um telefonema da sede da CIA em são Paulo.

- Senhor, bom dia, senhor! – disse a voz trêmula de um dos analistas.

- Bom dia, Roberto. Conseguiu localizar o Capitão Alexander?

- Senhor, acabamos de receber uma ligação da equipe do Pará. De


acordo com o relato do piloto, o Capitão Dale Alexander foi baleado e
jogado para fora da aeronave ontem à noite, quando sobrevoavam a
floresta. Os dois alvos obrigaram o piloto a descer e fugiram. O helicóptero
retornou danificado, com perfurações compatíveis com projeteis e com o
sistema de GPS danificado. Mas o piloto afirma ter uma ideia de onde
possa ter caído o corpo do Capitão e a equipe de lá aguarda instruções
para proceder ao resgate do corpo.

- Obrigado, Roberto. Informe nosso escritório em Washington para


enviar um representante à residência dos familiares do Capitão e informar
que ele desapareceu em missão.

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Capítulo 32

Às onze horas da manhã, o Capitão Alexander desceu até o andar


térreo do hotel, acompanhado por dois agentes da ABIN, escolheu uma
muda de roupa e sapatos numa das lojas, e subiu de volta à sua suíte,
para se trocar. Em dez minutos, deixou o quarto e perguntou a um dos
agentes que faziam guarda na porta do quarto, se Cassandra já havia
acordado.

- Ela saiu mais cedo, senhor. Desceu até a loja e voltou para o
quarto, senhor.

O militar deu uma leve batida na porta do quarto de Cassandra e


aguardou.

A porta se abriu e a jovem surgiu sorridente, usando um vestido preto


com discretos cristais aplicados, combinando com os sapatos também
cravejados com cristais, de muito bom gosto.

Ele a olhou por alguns instantes. Bonita, elegante e atraente.

Cassandra também não pôde deixar de admirar o homem alto e de


corpo perfeito, sem esconder a surpresa de o ver arrumado como civil,
num moderno conjunto de calça e colete de paletó azul escuro e camisa
branca com gravata também azul. A cor realçava seus olhos claros.

A jovem abriu os braços.

- Era o que tinha na loja...

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- Está perfeito para a reunião - disse o Capitão, sem a menor intenção


de disfarçar seu interesse – Vamos?

Acompanhados pelos agentes, os dois entraram no discreto carro


blindado da agência e rumaram para o Palácio do Planalto.

O grupo entrou por uma porta lateral e se dirigiu até o elevador. No


terceiro piso, chegaram à antessala do gabinete presidencial. Durante
todo o trajeto, um dos agentes abria as portas para Cassandra e para
Dale. Um dos secretários da presidente levantou-se rapidamente e abriu a
porta do gabinete.

O coração de Cassandra acelerou ao entrar na sala da presidente.


Chamaram a sua atenção dois enormes quadros coloridos de Djanira, o
contraste entre os móveis mais antigos, como a escrivaninha da
presidente, com suas cadeiras forradas em couro marrom, do período do
ex-presidente Getúlio Vargas, e os móveis mais modernos, escolhidos
pela própria presidente, como o conjunto de sofás Navona, do designer
Sergio Rodrigues. Havia um clima de brasilidade, que soava exótico aos
visitantes estrangeiros e, ao mesmo tempo, acolhedor a qualquer
brasileiro.

Do centro da sala, se aproximou a presidente, com um largo sorriso e


a mão esticada para cumprimentar o diretor da ABIN.

- Meus parabéns, meu querido! Missão cumprida – disse ela ao


diretor.

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- Missão cumprida, senhora presidente – respondeu o diretor, em tom


aliviado – Mas nada seria possível sem a coragem desta jovem. Esta é
Cassandra Minski.

A presidente olhou Cassandra nos olhos. Havia uma força que


emanava da alma daquela mulher e que, de imediato, contaminava a
todos ao seu redor. Existia nela um misto muito bem equilibrado de
amabilidade e de firmeza, fazendo com que ela conseguisse manter o
controle à sua volta apenas com um olhar. Ela não poderia ser outra
coisa, senão a presidente, pensou Cassandra.

- É um prazer muito grande. O diretor me colocou a par de alguns


detalhes sobre sua jornada para chegar até o Pará. Os outros detalhes,
você é quem vai me contar.

- Obrigada, senhora presidente. O prazer é meu – respondeu


Cassandra.

- É presiden-ta! Com “a” ... - ela corrigiu Cassandra, olhando-a com os


olhos oblíquos, em tom de brincadeira.

A presidente olhou para o Capitão Alexander.

- O senhor deve ser o nosso contato na CIA, Capitão Dale Alexander


– e apertou a mão do militar com firmeza.

- Sim, senhora! - respondeu ele, quase batendo uma continência para


a Chefe de Estado.

Ela foi se virando para sentar no sofá e pousou a mão sobre o ombro
do Capitão.

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- Relaxe, o senhor já nem é mais militar e nem faz mais parte do


mundo dos vivos – brincou a presidente - Vamos nos sentar, quero saber
de tudo – ela apontou o conjunto de estofados ao grupo.

A porta do gabinete se abriu e entrou um garçom devidamente


uniformizado, trazendo um carrinho com café e com vários tipos de
biscoitos, que ele arrumou com perfeição e com rapidez sobre a mesa de
centro.

Cassandra e Dale relataram todos os fatos que vivenciaram para


poderem chegar ao encontro com os alienígenas. Tanto a presidente,
quanto o diretor da ABIN se mostraram profundamente surpresos com o
relato, mesmo já terem sido colocados a par de muitos dos
acontecimentos. A presidente se deteve nas características físicas e
psicológicas dos extraterrestres, fazendo inúmeras perguntas à
Cassandra e ao ex-militar.

Por fim, Cassandra anunciou a intenção dos visitantes.

- Senhora Minski, eu e o diretor iremos avaliar os riscos e as


consequências da continuidade destes encontros, sejam eles sigilosos ou
abertos, e então entraremos em contato com você. E também
gostaríamos que você nos mantivesse informados sobre novas
ocorrências, sobre novos contatos – disse a presidente à Cassandra, ao
final de duas horas e meia de reunião.

A chefe de estado aparentava cansaço e as olheiras denunciavam a


noite sem dormir, à espera de notícias sobre o encontro com os visitantes.

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- Senhor Alexander, o Brasil é muito grato pela sua ajuda, por manter
a nossa contatada em segurança – ela olhou em direção à Cassandra – E
nós também compreendemos que, agora, o senhor está em situação de
risco, assim como o Brasil. O senhor, porque se tornou um traidor para o
povo americano. E o Brasil, por acobertar e por se valer da sua traição
para conseguir essa vantagem estratégica, que é contato com uma
civilização mais avançada. Caso o senhor seja “plotado” pelo governo
americano, poderá haver péssimas consequências diplomáticas para nós.
Enfim, nós também pagamos a conta quando precisamos – disse ela ao
ex-capitão. Em seguida, olhou com cumplicidade para o diretor da ABIN.

O diretor completou o posicionamento da presidente.

- Capitão, o senhor foi dado como morto em missão aqui no Brasil e, a


esta hora, os militares americanos já devem ter informado sua família...

- Tenho apenas um tio distante e dois primos, senhor- interrompeu o


ex-militar.

- Certo... - disse o diretor – O senhor receberá uma nova identidade


como um legítimo cidadão brasileiro e fará parte da folha de pagamento
como analista da ABIN, tendo os mesmos benefícios dos demais. Mas
não poderá trabalhar de fato conosco, porque não poderá nunca mais ser
visto. Deverá levar uma vida discreta e, de preferência, em uma cidade
que não tenha sedes da ABIN ou da CIA.

- Eu agradeço, senhor diretor.

A presidente e o diretor se levantaram.

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- Cassandra, foi um prazer conhecê-la. Um agente da ABIN


acompanhará você direto ao aeroporto e até a sua casa. Manteremos
contato através da agência - a presidente apertou mão dela
carinhosamente com as duas mãos.

- Senhor Alexander, creio que não nos veremos novamente, mas


tenha certeza de que somos muito gratos ao senhor.

- Foi uma honra, senhora. E também será um prazer viver na


verdadeira terra da liberdade e da paz.

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Capítulo 33

Vários dias se passaram após o retorno de Cassandra para sua casa


e para sua rotina normal. Era sábado à tarde e ela estava fazendo uma
faxina no computador, removendo arquivos que não tinham mais utilidade,
salvando em DVD os arquivos úteis e ativando a limpeza de disco.

Desde que voltou, ela ainda não havia esquecido um detalhe sequer
da sua aventura. Todos os momentos ficavam voltando à sua mente e ela
ainda não acreditava na dimensão que tomou a sua simples decisão de ir
com um grupo de ufólogos para um suposto encontro com ETs, que
poderiam nem aparecer.

Ela ligou a televisão para escutar as notícias, enquanto organizava


seu computador. No telejornal, o apresentador falou brevemente sobre um
ufólogo que organizou uma excursão à floresta amazônica, atrás de
contatos com extraterrestres, mas acabou sendo sequestrado e morto por
bandidos, junto com um amigo que, ao que tudo indicava, sofreu um
infarto durante o sequestro. Cassandra ainda não podia acreditar na
terrível conversão do ufólogo, de homem gentil e interessado, em
assassino frio e calculista.

Ainda aguardava uma resposta da ABIN sobre os próximos encontros


e ficava imaginando qual poderia ser a decisão da presidente.

Acionou a limpeza de disco e a compactação de dados do seu


computador. Enquanto esperava, ela acessou a internet e entrou num
portal de informações. Na primeira página, se deparou com uma foto

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antiga da presidente, bem jovem, com os cabelos escuros e de óculos,


com a legenda “O Passado da Presidente”. Era ano de eleições e a
oposição fazia questão de trazer à tona a participação da presidente na
luta armada contra a Ditadura Militar nos anos 60 e 70. O texto relatava os
nomes falsos que ela utilizava naquela época, o seu envolvimento em
assaltos a bancos para levantar fundos para a guerrilha e o assassinato
de militares usando bombas caseiras. Ela foi presa pelos militares,
torturada, processada e passou vinte e oito meses na cadeia.

Lendo o texto sobre a juventude da presidente, marcada por ideais


marxistas, Cassandra se lembrou da mulher forte que conheceu em
Brasília. E também se lembrou de suas próprias opiniões fortes, que
seguidamente comentava nas redes sociais. Da mesma forma, percebeu
que, com ou sem autorização presidencial, poderia contatar os visitantes
alienígenas e divulgar este fato. E uma lista imensa de atos de liberação,
que também promoviam a liberdade e a dignidade humana, passearam
por sua mente: o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a liberdade
política e religiosa, a livre expressão, a paz que somente uma nação livre
de fato pode proporcionar ao seu povo. Sem pensar na questão político-
partidária e sem julgar o caráter legal ou criminoso das ações dos jovens
guerrilheiros contra a Ditadura Militar, Cassandra sentia apenas gratidão
àqueles jovens que lutaram nos chamados Anos de Chumbo, como ficou
conhecido o período mais repressivo da Ditadura no Brasil, para que ela,
hoje, desfrutasse de plena liberdade.

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Perdida nestes pensamentos, ela mal percebeu que alguém batia à


sua porta. Ela levantou e foi olhar através do olho mágico. Cassandra não
acreditou no que seus olhos viram e imediatamente abriu a porta.

- Acho que esta sua cidade é discreta e distante o suficiente dos olhos
da CIA ... – disse Dale Alexander.

Cassandra não falou nada. Pulou no seu pescoço e o beijou como


nunca havia beijado ninguém. Sentiu o gosto da sua boca e o cheiro da
sua pele. Passou a mão pelo seu cabelo liso e um pouco mais crescido, já
perdendo o estilo militar. Dale a apertou nos braços fortes e definidos, a
fazendo se sentir segura e desejada. A levantou do chão, deu dois passos
para dentro da casa e empurrou a porta com o pé.

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Epílogo

Três meses depois...

Num domingo de outono, Cassandra e Dale saíram de casa de manhã


cedo para irem à feira. Caminhavam devagar entre as bancas coloridas
pelos legumes e pelas frutas, e cheirosas por conta das ervas, das flores,
dos doces, dos peixes e dos queijos.

Dale parou numa banca para escolher tangerinas. Enquanto esperava


que o atendente pesasse as frutas, sussurrava a frase “eu te amo” em
diversos idiomas no ouvido de Cassandra, que sorria, tentando alcançar o
cheiro gostoso da pele dele.

Cassandra deu passo para trás e esbarrou em duas pessoas que


estavam bem ao seu lado. Ao se virar para pedir desculpas, os dois
homens tiraram os óculos escuros.

- Olá, Cassandra.

- Lucas... Eilin...!

Fim

(?)

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Bastidores

Caro leitor, uma grande parte das minhas obras é baseada em fatos
reais e, no meu caso, levo as inspirações reais a um nível um pouco mais
profundo. Assim, este livro foi um tanto mais do que simplesmente
baseado na Operação Prato e em seus protagonistas, e contarei quais
partes foram reais e, se possível, quais personagens são reais.

Apesar de a trama ter um embasamento real muito grande, achei


mais justo tratar esta obra oficialmente como ficção científica por me
parecer mais justo com os leitores que jamais passarão por situações tão
incomuns.

Iniciando pelos e-mails que compõem o texto, os e-mails trocados


entre a personagem Cassandra e um ufólogo, aqui chamado de Gesser,
são reais. O nome real do ufólogo não será mencionado.

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Da mesma forma, a pessoa que recebeu a psicografia do Coronel


Hollanda, também recebeu uma pequena nota de reprimenda do centro
espírita, cujos membros acreditavam que havia interferência da
imaginação do médium por conta de um suposto consumo de filmes e
livros sobre extraterrestres, o que não era verdade.

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Ainda sobre o Coronel Hollanda, aqui mencionado como coronel


Ulysses Henry, todos os fatos ocorridos com ele e narrados nesta obra
foram informados pelo mesmo por meio de contato mediúnico. Contudo, a
forma como ele cometeu o suicídio, bem como as tentativas anteriores,
foi modificada a pedido do mesmo.

Todos os cenários retratados no livro eram reais, especialmente o


mais bizarro deles, a sede da CIA em São Paulo, que tinha, de fato, como
fachada, a filial brasileira de um escritório de advocacia.

O código indicado pelos extraterrestres é real e foi mantido na


narrativa do presente livro. Ao receber as letras indicativas TME, a pessoa
que inspirou a personagem Cassandra realmente consultou o ICS
(International Code of Signals), que é um código de comunicação da
OTAN utilizado por todas as forças armadas. A análise dos pedaços do
código foi feita exatamente como aparece descrito no livro e a pessoa
realmente chegou à conclusão de que tal código era desnecessário e que,
na verdade, era uma tentativa dos alienígenas de demonstrarem que
conheciam profundamente os sistemas de comunicação militar da Terra. E
é importante lembrar a você, caro leitor, que a oferta de contato foi feita
exclusivamente no ano de 2014 e nunca mais voltou a ser cogitada pelos

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visitantes por razões que fogem ao objetivo da história narrada em


Amazônia.

Foi realizada uma profunda pesquisa histórica sobre detalhes da


Ditadura Militar iniciada em 1964, logo, o relato da tortura sofrida pela
personagem da jornalista Maria Leifert é baseado no relato da jornalista
Mirian Leitão, vítima de tortura durante a Ditadura. Seu relato foi
amplamente divulgado pela mídia.

Também é importante citar que não possuo vínculos nem


preferências políticas. Porém, achei importante retratar a presidente Dilma
Roussef, em exercício na época dos fatos, do mais modo respeitoso
possível, tendo em vista o cargo que ocupou.

Por fim, a personagem Cassandra Minski é o nome fictício de uma


pessoa real que vivenciou os fatos narrados no livro e que, realmente,
possui todas as habilidades, conhecimentos e hábitos que a personagem
demonstra na trama. Mas deixo com você, caro leitor, a investigação
sobre a verdadeira identidade desta personagem tão peculiar.

Obrigada por ter me acompanhado nesta aventura.

Carol Corrêa

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Carol Corrêa é escritora e pesquisadora em Ciências Exatas, tendo


como áreas principais a Física do Esporte, a Engenharia Planetária e os
sistemas de ensino. Também se dedica aos filhos Ana Carolina e Luis
Fernando, ao gato Terrível e a uma centena de cactos. É vegana, e
praticante de ioga e de Kettlebell Russian Training. Além de ficção
científica, também escreve outros gêneros literários e pequenos.

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