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DIREITO PENAL IV – (5.

° ano diurno)
Prof. João Paulo Martinelli

DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE OS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

Formas qualificadas

Art. 223 - Se da violência resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de oito a doze anos.

Parágrafo único - Se do fato resulta a morte:

Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.

Presunção de violência

Art. 224 - Presume-se a violência, se a vítima:

a) não é maior de catorze anos;

b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;

c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência.

Ação penal

Art. 225 - Nos crimes definidos nos capítulos anteriores, somente se procede mediante queixa.

§ 1º - Procede-se, entretanto, mediante ação pública:

I - se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de recursos
indispensáveis à manutenção própria ou da família;

II - se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou


curador.

§ 2º - No caso do nº I do parágrafo anterior, a ação do Ministério Público depende de


representação.

Aumento de pena

Art. 226. A pena é aumentada:

I - de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;

II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,


companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem
autoridade sobre ela;
AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL:

A ação penal nos crimes contra os costumes, em regra, é privada. Quer dizer,
procede-se mediante queixa-crime. Deve a vítima ou seu representante legal interpor, no
prazo legal, a queixa-crime. Conforme Hungria, esta foi a opção do legislador por
entender que, em muitos casos, é preferível o silêncio da vítima à movimentação do
Estado, uma vez que envolve sua profunda intimidade.

A ação penal deverá ser oferecida pelo ofendido ou seu representante legal. A
partir do novo CC, entende a doutrina que, a partir dos 18 anos, a titularidade é exclusiva
do ofendido.

O prazo para o oferecimento da queixa-crime é decadencial. Contam-se seis


meses para o oferecimento, a contar do dia em que a vítima e seu representante souberem
quem foi o autor do delito.

A queixa deverá ser oferecida por procurador com poderes especiais. Caso o
ofendido for pobre, o juiz nomeará advogado dativo para que proponha a ação penal.
Segundo o art. 32, § 1.°, do CPP, “pobre é aquele que não pode prover às despesas do
processo sem privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família”.
No entanto, para o art. 225 do CP, a pobreza converte a ação privada em ação pública
condicionada à representação da vítima.

Se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto,


tutor ou curador, a ação também é convertida. A ação é pública incondicionada. Nas
formas qualificadas, quando há resultado morte ou lesão corporal grave, a ação também é
pública incondicionada.

Por fim, a Súmula 608 do STF diz: “No crime de estupro, praticado mediante
violência real, a ação penal é pública incondicionada”. Vale o mesmo entendimento para
o atentado violento ao pudor. Nos casos de violência presumida ou grave ameaça a ação
penal é privada.

OBSERVAÇÕES:

Na ação penal privada, pode o ofendido renunciar ao direito de queixa antes de


iniciar a ação penal. Também é possível o perdão do ofendido até o trânsito em julgado
da sentença condenatória, devendo o acusado aceitá-lo para extinguir a punibilidade.

Lembrando as aulas anteriores, os crimes de estupro e atentado violento ao pudor


são hediondos em suas formas simples e qualificada, mas não quando há violência
presumida.
DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOAS

Nesta capítulo, o bem jurídico a ser tutelado é a moralidade pública sexual.


Segundo Cezar Bitencourt, a intenção do legislador é evitar o incremento e o
desenvolvimento da prostituição, por ser o lenocínio um dos crimes mais degradantes e
moralmente censuráveis, que a civilização ao longo de toda a história não conseguiu
eliminar.

MEDIAÇÃO PARA SERVIR A LASCÍVIA DE OUTREM

Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena - reclusão, de um a três anos.

§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu


ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja
confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos.

§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência.

§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

1) Tipicidade objetiva:

A conduta incriminada consiste em induzir a vítima a satisfazer a lascívia de


outrem. A lei refere-se a outrem, que deve ser pessoa determinada, de qualquer sexo.
Caso a pessoa não seja determinada, configura-se o crime do art. 228 (favorecimento da
prostituição).
A lascívia a ser satisfeita não pode ser a do agente. Aquele que induz alguém a
satisfazer a própria lascívia PODE praticar o crime de corrupção de menores, dependendo
da idade da vítima.

2) Tipicidade subjetiva:

O dolo é a consciência e a vontade de levar a vítima a praticar a ação que objetive


a satisfazer a lascívia de outrem. Se o agente for movido pela finalidade do lucro, a pena
será acrescida pela multa (§ 3.°).

3) Consumação: O crime está consumado com a prática do ato libidinoso destinado à


satisfação da lascívia. O simples induzimento não configura o crime.

4) Formas qualificadas (§ 1.° e § 2.°): São quatro as hipóteses:


a) Menoridade da vítima: a vitima é menor de 18 anos e maior de 14 anos. Se for
menor de 14 anos, há violência presumida (forma qualificada do art. 327, § 2.°);

b) Autoridade do agente: O agente é ascendente, descendente, marido, irmão,


tutor ou curador, ou pessoa a quem a vítima esteja confiada para fins de educação, de
tratamento ou de guarda. Por exemplo, professor, enfermeiro etc.

c) Violência, grave ameaça ou fraude: Esta hipótese abrange a violência


presumida, por força do art. 232.

d) Pelo fim de lucro: O agente é movido pela finalidade do lucro. Como leciona
Fragoso, se o crime for praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena corporal, a
pena de multa. Pune-se, assim, o lenocínio mercenário, que constitui, sem dúvida,
hipótese mais grave pela maior torpeza das razões que levam o agente a delinqüir.

5) Sujeitos do delito:

a) Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Atenção à forma qualificada do § 1.°.
Aquele que se satisfaz não comete o crime, pois o tipo penal diz satisfazer a lascívia de
outrem. No caso da vítima ser menor de 14 anos, aquele que se satisfaz incorre em crime
de estupro ou atentado violento ao pudor, por presunção de violência.
b) Sujeito passivo: Pode ser qualquer pessoa, de qualquer sexo. A idade pode
influir na forma qualificada.

6) ATENÇÃO: Satisfazer a própria lascívia não é crime. A conduta incriminada é induzir


a vítima a satisfazer a lascívia de outrem.
“Não constitui induzimento visando a satisfazer a lascívia de outrem a conduta do réu, servindo
de intermediário da proposta desonesta feita por aquele à vítima” (TJSP – AC – Rel. Octávio Lacorte – RT
297/139).

7) Habitualidade: A conduta não exige habitualidade para sua configuração criminosa.

FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO

Art. 228 - Induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá-la ou impedir que alguém a
abandone:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos.

§ 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do artigo anterior:

Pena - reclusão, de três a oito anos.

§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:


Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência.

§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

1) Tipicidade objetiva:

A prostituição é o exercício habitual do comércio carnal, do próprio corpo, para a


satisfação sexual de indeterminado número de pessoas.
São dois os requisitos fundamentais: indeterminação do número de pessoas e
habitualidade. Há julgados que dispensam a habitualidade neste crime.
O tipo penal incrimina as condutas de induzir ou atrair alguém à prostituição,
facilitá-la ou impedir que alguém a abandone.
Mesmo que a vítima já seja prostituída, pode ocorrer o crime de facilitação. O
agente, no caso, proporciona as condições para que a pessoa prostituída desenvolva suas
atividades já iniciadas.

“Existe favorecimento quando a pessoa é levada à prostituição ou impedida de abandoná-la, não


excluindo a facilitação o fato de a vítima já ser prostituta, revelando, inclusive, haver percorrido diversos
lugares nas mesmas circunstâncias” (STJ – 6.ª T. – REsp. 118.181 – Rel. Min. Fernando Gonçalves).

“Induzir é aconselhar, inspirar, mover ou arrastar. Mais do que isso fez a ré, em relação à menor.
Atraiu-a à sua casa de prostituição, favorecendo, assim, a perdição da menor. Não se configura, portanto,
a hipótese de mera tentativa, já que a menor foi induzida, atraída, à prostituição pela ré” (TJSP – AC –
Rel. Mendes França – RT 316/462).

“Não importa que a vítima tivesse mal comportamento a ponto de ser mandada embora da casa
de seus pais, pois, o que fica, o que permanece como ofensa à lei penal, é o proceder da acusada ajudando
a primeira a aliciar homens para a mantença de congressos sexuais, e facilitando o indigitado proceder
com a cessão de quarto em sua casa onde os mesmos congressos se desenrolavam” (TJSP – AC – Rel.
Onei Raphael – RT 322/498).

“Pratica o delito do art. 228 do CP aquela que facilitar a prostituição da filha menor, agindo,
quer comissivamente, quer omissivamente, pois tem o dever jurídico de evitar a perdição da mesma”
(TJSP – AC – Rel. Adriano Marrey – RT 417/93).

“Não se pode interpretar como induzimento ou atração para a prostituição simples convite para
mudar de praça, mais atrativa e com mais amplas perspectivas para a chamada vida fácil, exercida pela
acusada e pela vítima, ambas meretrizes” (TJSP – AC – Rel. Silva Leme – RT 438/368).

“A intenção de lucrar não constitui elementar do crime de favorecimento da prostituição, sendo,


tão-só, circunstância qualificadora, servindo de supedâneo para a aplicação da pena de multa, nos termos
do art. 228, § 3.°, do CP” (TJCE – HC – Rel. José Eduardo de Almeida – RT 770/621).

2) Tipicidade subjetiva:

O dolo é a consciência e a vontade de praticar alguma das condutas do tipo,


acrescido do especial fim de levar alguém à prostituição ou impedir que dela se retire.
3) Consumação:

O simples início de uma vida de prostituição já consuma o crime. A prostituição é


um estado, e não um ato sexual. Por isso, o ato sexual não é fundamental para a
consumação. Basta a vítima estar à disposição de comercializar o próprio corpo com
habitualidade ou ser impedida de deixar a condição de prostituta.
Para a configuração do delito é desnecessário que a vítima se entregue às
múltiplas conjunções carnais, pois o que o agente pretende é moldar a vontade da vítima
para que esta se dedique à prostituição.
Por ser crime habitual, não admite tentativa.

4) Sujeitos do delito:

a) Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher.

“Não pode ser considerado cúmplice ou co-autor do favorecimento à prostituição da vítima, o


motorista profissional que a conduz, em seu veículo e a pedido, ao lupanar indicado” (TJSP – AC – Rel.
Márcio Bonilha – RT 491/292).

b) Sujeito passivo: Também pode ser qualquer pessoa, até mesmo a pessoa
prostituída.

5) Formas qualificadas: São as mesmas do crime anterior.

CASA DE PROSTITUIÇÃO

Art. 229 - Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a
encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou
gerente:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

1) Tipicidade objetiva:

Casa de prostituição é o local onde as prostitutas permanecem para o exercício do


comércio sexual.
Hotéis e motéis estão excluídos deste conceito. Tais estabelecimentos não têm
como finalidade primeira a atividade da prostituição; recebem todos os tipos de hóspedes
como, por exemplo, casais de namorados, indivíduos que pernoitam etc.
É necessário que, no local, as prostitutas estejam à espera do “freguês”, que haja
efetiva negociação do próprio corpo.

“É indispensável à configuração da modalidade de lenocínio no art. 229 do CP a prova da


habitualidade nele empregada – a qual decorre do verbo ‘manter’ – verificável através da prévia
sindicância destinada à apuração das atividades desvirtuadas do estabelecimento. O que o texto legal
incrimina é a manutenção de local destinado permanente e habitualmente ao agasalho de casais para fins
sexuais, não bastando para a tipificação o comportamento ocasional” (TJSP – AC – Rel. Jarbas Mazzoni
– RT 620/279).

“Sem a comprovação, no inquérito policial, da habitualidade, requisito essencial à configuração


do delito de casa de prostituição, inexiste justa causa para a ação penal” (TJSP – HC – Rel. Nélson
Fonseca – RT 595/339).

“É necessário, para a configuração do delito, que o estabelecimento tenha se transformado em


local de prostituição e não apenas em lugar reservado para encontro de casais e namorados, para uma
conversa mais reservada, troca de amplexos e atos libidinosos, tomada de bebidas e lanches” (TJSP – AC
– Rel. Gentil Leite – RT 100/443).

“A circunstância de não ter a acusada participação no proveito obtido da prostituição por suas
pensionistas é irrelevante à configuração do delito do art. 229 do CP” (TJSP – AC – Rel. João Garcia –
RT 50/341).

2) Tipicidade subjetiva:

O dolo é a consciência e a vontade de manter estabelecimento destinado à prática


da prostituição.

3) Consumação:

Consuma-se com a manutenção do local, com habitualidade. Por ser crime


habitual, não admite a tentativa.

4) Prostituta que atende em local próprio: Não há crime, pois prostituir-se é fato atípico.
Manter local para a prática de um ato lícito não é crime.

“A prostituta que, em sua casa, se entrega a quem a solicita, não mantém, em face da lei, casa de
prostituição: apenas exerce o meretrício” (TJSP – Ap. – Rel. Emeric Levai – RT 182/299).

5) Casas de massagens: Há decisões que entendem não existir o crime na manutenção de


“casas de massagem”.

“Ainda que se considere muito restrita a rubrica ‘casa de prostituição’, constante do art. 229 do
CP, a interpretação do dispositivo não pode ser abrangente a ponto de alcançar estabelecimentos
comerciais que, explorando saunas, banhos, massagens, relax, duchas e bar, não se destinam
especificamente a encontros para fins libidinosos. Tal ampliação da ‘mens legis’ abriria a porta à
analogia, vedada na lei penal” (TJSP – AC – Rel. Castro Duarte – RT 619/290).

6) Questão importante: Teoria social da ação. A sociedade moderna tolera a manutenção


de casa de prostituição? A partir do momento em que a sociedade não se incomoda mais
com certas condutas, não seria legítima a repressão do Estado por meio do direito penal.
7) Flagrante: O crime definido no art. 229 é permanente, por isso, enquanto não cessa a
permanência entende-se o agente em flagrante delito. A prisão em flagrante pode ser
efetuada a qualquer momento do dia ou da noite.

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