Você está na página 1de 65
RES 38 Benedito Nunes INTRODUGAO AFILOSOFIA DA ARTE Direcso Benjamin Adal samira Yours! Preparagto de texio \fany Paseo Baste coordanagio de Composiezo etetSreenscoe te oe Nae ter Ya Sumario Diree bar de Aadlo sie oe Ane WilfonYokocs pivina da Rocha Corte ape Asya Normans ms. i ky Primeira parte — Conceitos preliminares. « Sy Fa cores kang penance 7 2 tlowia go Belg NS 0 2 Estética Filosofia da Ante n AEs. 1 ee ee ino ds Ae ee ‘Grif Carbon, 5.0 Belo e a Ante "7 Kal, én, pes ——— 0 doutns pane <2 [A primolra edicdo desta obra 4. Atividade artstica ¢ contemplacio. _ fol uma publicagao da Editora Burt, Pract rin 2% ‘em colaborapao com 3 1 Powscs — B Universidade de S80 Paulo, Ate mio de onemplaio x Co ISBN 978 85 08 03251-8 Segunda parte — Arte © Reslidade as oa 5A imitacio 3 ‘A miner me HI Beas om Tees aos esrvados pla Esta Ata Am. a ‘Re Otaane Aves e ina 400 6. Espirito e imaginagao “6 Stopauos ae CEP oswdo ate A fost de Kent 4% Fraguens 606 1X een ut a ° Tl: (01) 39002100: Fe (1) 3000-1786 7. Jogo estético aparéncla st Aacanes ete cducrto gee ‘ponise pres fom pase area & 8.Arte © conhecimento a Oiealsmo de Sebeling © Heel a © lettin sande Bron = al 1 loin da formar smbtss ——— 6 9.Arealidade da Arie n O gue expeaior a Egret ¢felognomonla 2 Expres «comin a Shtoma, ia sano Gaba B Oselementos mats? a, fowtoce ¢ maps emcee a Torooira parte — Arie e Existéncia " 410. Arte @ Moral 8 Conta ewe valores : Siecle ov maid 5 Ormeau. = te Onesie 4 pesonaiade er (Alomar ea pg ose eae com 11. As condigées socials da Arte 5 ‘Oatratsmo tasane ——— » 8 rant Moi a 1 Valor dis eolonan ea soncesierde-mando 8 12.A vida historia das artes —— » 1 temporaade ae 0 Concepserdoomand. 101 13, Transtiguragso ou morte? _ © prognasieo de Hexel oO Aeraner nrc —— a ‘revo Sor dor 14, Balango e perspectiva —— ‘Attra & dec? oO 6 paradoxo de Onaga 2 downed Baca Epllogo SS he PRIMEIRA PARTE Conceitos preliminares 1 A reflexdo filosdfica e a Arte © pensamento antigo No século VI a. C., 0s primeros fi losofos aregos preocuparam-se em ‘conhecer s elementos constitutivos das coisas. Els investigaram a [Natureza, & busca de um principio estivel, comum a todos os sees, ‘que expicasse a sua origem e as suas transformagaes. Fsicos (physio Jogo’), como foram chamados por Arist6teles, esses primeiros filbso- fos, de Tales a Anaximencs, fundaram wma tradieao de estudo da Natureza, seguida e aprofundada por Herdclto e Parménides, Piti- oras e Empédocles, Anaxigoras e Deméerito, 'Na segunda metade do século V a. C., 0s Sofistas, professores| da juventude ateniense numa época de erst, insprados mais pelo in- teresse pratico do que por uma intengao tedrica pura, debateram, en- tre outras ins, o Hem, a Virtude, o Belo, a Lei ea Justica,Formu- Jando, arespeito de seu Conte, teses ousadas c contraditsrias. Nao obstante a falta de rigor e 0 propésto de confundlir os adversarios, ‘com a habilidade de raciocinio que os notabilizou, os Sofistas tiveram © indiscutivel mérto de introduzir, no estudo da sociedade e da cltu- ‘a, 0 ponto de vista reflexivo-citico que caracterza a filosofia. Mas seria preciso esperar por Sécrates (470-399 2. C.), misto de pedagogo e de fildsofo, que procurou definir 0s valores morais, asprofises,o govern eo comportament soci pra que et om toe vita eisinuause temblm na apresagi das ats, Sores ‘ue discria sabre odos or atuntoshumanoy,enrou ceri ve, n0 tc do pintor Parisi, ew este pergunoto que «Patra pode represen. perguna de Strate er una nda oan ae Cauda esstnca da Pint, que transports pars.o dominio das are 4 tude ntrrogatva que tina sido astm pelo fSstos pe fs em rela be colts aos valores mori Plait (27.347 aC), diipulo de Socrates, fe, no sudo 20-4 repibica, um confrono, que toraou deck plas imple cs ova que ener, entre Ate Reaiade Levande em conta © eardler cepresetativo da intra e da Esclura fisto com lla, nes log, nto a6 que esas res exo mio aaixo da ver dei clera que intlgecia mana se destin a conker, como também que, em comparaglo com os cbjeivos da cnc, € spt floa a avidade daqueles que pita eesalpem, pois o qe prod zem €inconlstentevluséiio, Por outro lado, latso observa gue 2 Pocsa ca isi cxercem in inca mute grande sobre o nosso fstaos de timo, « que aletam, posiiva ou negatives, 0 com portamento moral dos homers. ‘eros assim qe Platt suscou tts orden de problemas ceca das artes em gral primeira abrange a questo da ctl das obras please ecu, comparads com a prpria eadade; ase funda, arelagdo entre cas ea Belen: ea tre, finalmenty dz Teaeto aos estos mori pcos dt Misa eda Poesia. De trode al contete, onde a atividade artisea nf ice laa do po biema mais grad edad do conheinent, dosed da Bla da vide pollen e moral, Plato conseglsprotematiza, ito £. ansfommarem problema fossa a exten ea finldade des artes, assim como, um seul ates, os soo anteriores a Sra tes haviam probleatizado « Natures. Jno bastava is a in bles ug da Pntra, da sca eda Poesia, Agora, elas amb pasta a constr objeto de investiga tcrica. Eo pensamento Tacional qu a inerpea sobre eu valor, sua raudo de sr eo seu Iugarnaexstencia humana ‘Anos mas tarde, no seul Va, C.,Anstteles @843224.C.), disciple de Plato, sragas &perspectva aera peo seu mete, fe desevoler, numa obra de apt importncia, a Pode, ies telativas&orgem da Poesia ea concetuagio das ateros poco, Tas qu, pelt ua dca e onlay epescten sone to, piel tora expla da Arte qc a Anguldae no lego De Plotino a Santo Podemos notar, por ese igsio quatro Tomés de Aquino da ilosofia grega que acabou dese ft to, a tarda incidéncia da reflexao filo- sofia nas artes, A histéria do pensamento, desde a decadéncia dessa hlosofia(séeulo I a. C.aséculo IIT d. C.),cujo perfodo de desagre- tasao coincide com a fase inicial da elaboragio doutrindria do eris- fianismo, até a Idade Média, demonstra-nos que essa incidéncia € ‘Abstraindo 0s escrtos sobre Poesia © Musica dos discipulos de Aristoteles, dos estdicose dos epiciireos, que se perderam, © que, a julaar pelo que deles incorporaram os gramaticos ¢retéricos gregos ‘romans, nada de fundamental acrescentaram & Poétfea, nenhuma speculag de importncia acerca da Arte encontramos antes de Plo- {ino (204270 d, C.), a nfo ser o pequeno Tratado sobre o sublime, wribuido @ Longino (século La, C.). A Epistola aos Pisdes (século {i C), de Horacio, que Quintiliano denominow arte poétic, é mais tum cédiga de preceitos, que teaduzem a experitncia de um poeta, do tive uma reflexdo filoséfica. Plotino, conforme veremos, concede } Arte uma importincia metafisica e espiritual que ela no poderia mais ter para os pensadorescrstos, propensos a consideré-la objeto thundano, estranho i indole das questdes religiosss que os preocupa- ‘a, quando nfo indigna de conhecimento, porque contraria, pelas ‘has vineulagdes com a maria e com a sensibilidade, a0 ascetismo ‘vanzlico, infenso ao mundo e suas pompas, a carne € suas solicit 'A medida que vai deerescendo o interesse intelectual pela Arte, lnnenstica-se, em seguimento tradicio platOnica, a importancia f- losiicae teoldgica da idia de Beleza, elevada por Dionisio Areopa~ pita (séeulo Vd. C.), dcategoria de nome divino, eau, para Santo Tomés de Aquino (1225-1274), na sintese do pensamento medieval, 1 Suma feoldgica, de sua autoria, um dos aspectos fundamentais do Ser, jumtamente com a Verdade e 0 Bem. 'A Beleza, para 08 fildsofos medievais, pertence estencialmente Deus. Ea luz superior, o britho da Verdade Divina nas coisas, fazendo-sesensivel aos olhos do espirto. A relagdo entre a Beleza € lis aes nao € essencial, mas acidental, Os Doutores da Iereja nao fevonteceram na vocagdo da arte, por eles conceituadia de modo muito al, a voeagdo do Belo. _mernopusho A oso Da AKT A filosofia do Belo Foino Renascimento que se dew a unio teériea do Belo com a Are, unio que uma terevira iia, ade Natureza, a qual nessa época adquiru sent do preciso, ajudou a consumar. Conjunto de Fendmenos sujcitos a leis, contendo formas perfetas, como pensava Leonardo da Vinci, ‘a Natureza € a fonte do Belo que o artista revelara com a suas pro” ‘dugoes, as quais se concede uma consisténcia semilhante & do Uni verso material esensvel, agora valorizado. Falar-se-, dai por dante, numa beleca natural, a que a arte tem que se suite, e que, para cla transplantada, gera a beleca artstica ‘Admitiuse, jd no séeulo XVIII, que essa beleza natural estes: parsa nas coisas, onde se oferece ao delete do esprito, sobretudo por intermédio da visa edo ouvido. As obras de arte também proporcio- nam 0 mesmo deleite aqueles que sabem encontrar nelas as marcas Uuniversais do Belo. Foi ness século que surgiu uma nova disciplina filosifica, com 0 objetivo de estudar o Belo e suas manifestagdes na ‘Arte. Seu fundador, Alexander Gottich Baumgarten (1714-1762), dis- ipulo do fildsofo Christian Wolff, denominow-a Estética, publicen- do, em 1750, a Aesthetica sive theoria liberalium artium (Esética ‘Teoria das Artes Liberals), que conceitua essa disciptina como cin. cia do Belo e da Arte, A reflexio filoséfica em tomno da Arte detivou, assim, para uma ciencia que fez da apreciagSo da Beleza o seu tema fundamental. Pruto de ceras tendéncias manifestadas no pensamento tebrico desde 0 sé- culo XVII, nova ciéncia concebeu a Arte como aquele produto da atividade humana que, obedecendo a determinados principios, tem por fim produzirartficialmente os miltiplos aspectos de uma sé be- leza universal, apandgio das cofsas natura, 2 Estética e Filosofia da Arte A Estética Antecedentes (© que caracteriza a Estéica no € simplesmente 0 estudo do Be- Jo. Os fildsofos antigos trataram do assunto, empregando a no¢lo de Beleza, conforme exporemos no prdximo capitulo, em muitas ace bes. A oviginalidade da Esética, na qualidade de disciplin flosofi- a, € vineular ese extudo a uma perspectiva definida, ja vislumbrada pelos timidos tedricos das ates dos fins do século XVI e do século XVIIL, mas que sé na primeira parte da Critica do jutzo (1790), de Kant, configurou-se integralmente. "Em suas Reflexes erticas sobre a poesia e a pintra (1719), 0 ‘Abade Du Bos via no delete do esprit 0 efeit essencial do Belo. ‘Que mais se podera dizer sendo que esse efeto, provocad, sob cer- tas condigdes, tanto pelas coisas como pelas obras do homem, € imodiato? Doissentidos, vista eo oud, desmpenham fun prinor dial na producio de tal delete. O Belo, que ndo reside nas impres- ses visuaise auitivas, manifesta-se principalmente por intermédio elas, a uma espécie de visdo interior, da qual, na primeira metade do século XVII, Shaftesbury (1671-1713) falava, Mais prSxima do sentimento do que da Raza, ess visio interior constitu, para Addi son (1672-1719), uma faculdade inata,espectica, que éprivilégio da espécie e que permite ao homem deleitar-se com 0 reconhecimento do Belo. Esse delete nto se compara com qualquer outro: € um pra- zet do espirto, em fune2o do qual as coisas naturais nos agradam fou desagradam. Ao julgarmos, segundo 0 agrado ou desagrado que Sentimos, que uma coisa ou uma obra é bela, ¢0 delete experiment do fundamento das nosss juzos de gosto. Originando-se da quali- dade das impressdes recebida, ele acompanha determinadas formas, relagGes ou particularidades da matéria, eaptadas pelo owvido e pela visto. Francis Hutcheson (1694-1746), um dos pioneros da Estetica, ao afirmar que a Beleza rina onde quer que a percepoao apreenda relagoes agradiveis, deixava bem elaro que o Belo éespirtual, mas que sua producto depende da sensibilidade. 'Nao é pela faculdade de conhecimento intelectual que o Belo & captado, nem a sua impressio corresponde & experitneia rudimentar 4a satisfagao de um desejo fico. Apreendendo:o, relacionamo-nos Jmediatamente com uma determinada ordem de impresses, de sent ‘mentos, de emogoes, cujo efeito geral o delete, ¢ plenamente stista ‘rio, no sentido de que se basta a si mesmo. Assim, de tudo 0 que prodiuz essa satisfag sui generis, podemos dizer que é Belo, que pos- Sua dimensto da Beleza, dimensao aberta ao esprit através da Sen- sibilidade. Em grego, a palavra aisthesis, de onde derivou esta, sig- nica 0 que € sensivel ou 0 que se relaciona com a sensbildade, A Estética de Baumgarten Foi a perspectiva do Belo, como dominio da sensibilidade, ime- diatamente relacionado com a'percepgdo, 0s sentimentos e a imagi- nnagdo, que Baumgarten incorporou a0 contetdo dessa diseiplina, a ‘qual apareceu numa época em que a Beleza ea Arte eram, geralmen- te, ou marginalizadas pela reflexdofilos6fiea, que a tnha na conta de irrelevantes, ou consideradas apenas sob © aspecto racional das ‘norma aplicaveis ao reconhecimento de uma ¢ & produc da outra ‘A Estética de Baumgarten inspirou-se, sobretudo, na idéia de que a Beleza e seu reflexo nas artes representam uma especie de eonbeci- mento proporcional & nossa sensbilidade, confuso e inferior a0 eo- ‘nhecimento racional, dotado de clareza e que tende para a verdade. ‘Baumgarten definiu o Belo como a perfeicdo do conhecimento sensivel, e dividi a Estética em duas partes: a redrea, onde estuds ts condigdes do conhecimento sensivel que correspondem a beleza, a price, na qual, oeupando-se da ciagao postica, chega& esbovar toma espécie de Iogica da imaginacto, que contém os principios ne testis a formagio do gosto e da capacidade antistica. A contribuigdo de Kant © imputsodo qua resitaram os proses sbseqients a Es tka tenese 8 Emmml Kant (721800, porter sid ee quem etelcosfmmente, em sua Crier do uo, autonoma dese ino go Bao, qc Bamgasncondeou obj ge conesinento nt admit us modaiades de expen: a conosco consent inetalpopsment de), nseparavel Jo one ome on tan formar nas ae cola de sas acs {Pr Rie cate as fins moras qe procuramos ating oa wid € {pul erte,fnamentaa pa io ou no sentiment dos ‘sieeve non nse independent da nature el Que sexs Ese star comeya termina com os objtos qu 8 PO- ra and prs mesos oer espera alent ‘ea trata que ao visas conesertoe 8 consecgso seem teat pcos david. Ea sited contemplative cr erediternado. Consqueteente,afrma-o Kant 0 Belo €pr- la ss cots que ara sem conto gue nos mis a elgg dsarssda, Por eux plas, sof rez 0 Bo Sitio ae obo da enpeninia extn, ual scaretriza pola a conpalede (to dering pot cones) plo desiree (cconcmplatv) © ea aorta Gem fnalidade nies) Dens my guest do lo comets, depois Kan, aquest Jn experince etc, dierentrmentsinteprtads pels Urns tendons ou coments do sealo XIX ‘As principais tendéncias muito cil, analisando-se a experiéncia esttia, compreen der o porque do aparecimento dessas tendéncias ede suas pretensbes. ais so os aspectos de toda experiénciaesttica: um, subjetivo {o sujet que sentee jules), € outro, objetivo (os objetos que condi-

Você também pode gostar