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“ Capacitação de agentes
comunitários de saúde de uma
Unidade Básica de Saúde em
Município Piauiense

Ticianne da Cunha Soares Dinah Alencar Melo Araujo


UFPI UFPI

Tamires da Cunha Soares Monaliza Sousa dos Anjos


UFPI
UFPI

Gabriel Barbosa Câmara


Ariella de Carvalho Luz UFC
UFPI
Valéria Araújo Cassiano
Maria de Fátima Sousa Barros Vilarinho UNIFACISA

UFPI

Matheus Henrique da Silva Lemos


UFPI

10.37885/200700590
RESUMO

O presente artigo objetivou capacitar os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para


preencher os formulários do sistema e-SUS e conhecer os desafios que esta atividade
gera. Trata-se de um relato de experiência vivenciado por profissionais e realizado em
uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) de município da região central do Piauí. Esse
projeto foi desenvolvido através de três reuniões com seis ACSs, onde foram realizadas
capacitações referentes ao preenchimento de fichas preconizadas pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), visitas domiciliares e levantamento epidemiológico. Para o
desenvolvimento deste trabalho, utilizou-se a metodologia de Charles Maguerez. Os
resultados da pesquisa evidenciaram a falta de conhecimento da população e das ACS
sobre a relevância dos dados gerados pelas fichas do e-SUS e como estas contribuíram
negativamente para consolidação do sistema e a assistência de saúde. Conclui-se que
após esta intervenção houve a capacitação necessária, onde os ACS reconheceram
a grande missão e importância que lhes é dada, para ajudar a manter e proporcionar
qualidade de vida a comunidade.

Palavras- chave: Agentes comunitários de saúde; Sistemas de informação; Estratégia


saúde da família.
INTRODUÇÃO

A implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) pelo Ministério


da Saúde (MS) possui por finalidade promover, bem como reorientar o modelo assistencial
a nível municipal e questões relacionadas à atenção primária, prestadas a população. Deste
modo, este novo arranjo assistencial é adotado como padrão substitutivo da forma de trabalho
tradicional na rede básica de saúde (Speroni, Fruet, Dalmolin, & Lima, 2016).
O agente comunitário de saúde (ACS) tem a sua construção de identidade observada
através de situações vividas no seu trabalho, como a criação de vínculo com as pessoas da
sua área, nas relações de trabalho com os integrantes da equipe de saúde e os agentes que
compõem os serviços dispostos na rede. Este, deve assumir responsabilidades de levantar
as necessidades de saúde do local onde reside ou onde atua profissionalmente e procurar
medidas de intervenção junto à equipe multiprofissional para melhorar a qualidade de vida
e as condições de saúde da população de sua abrangência (Speroni et al., 2016).
Suas atribuições são diversas, entretanto, de acordo com Tomaz (2002) estas podem
ser resumidas em desenvolver atividades que identificam as situações de risco; realizar a
orientação das famílias e da comunidade; e o encaminhamento dos casos e das situações
de risco por eles identificados aos demais membros da equipe de saúde. Dentre essas,
merece destaque o cadastramento das famílias e a visita domiciliar. O cadastramento das
famílias por micro área no território de atuação realizado com o preenchimento de fichas
específicas e a visita domiciliar que consiste na atividade mais importante do processo de
trabalho do ACS (Brasil, 2009).
Dessa forma, o trabalho do ACS contribui com o planejamento e implementação de
ações em saúde tanto a nível local, ao conduzir as informações do seu território de cobertura
para a Estratégia Saúde da Família (ESF), quanto a nível nacional, ao alimentar os dados dos
sistemas de informação do MS, o que configura a importância de seu papel na maximização
e consolidação da atenção primária à saúde (APS) (Rodrigues, Santos, & Assis, 2010).
Em seu trabalho, atuam como mediadores entre a equipe e a comunidade, desenvolve
ações em três dimensões: técnica, operando com saberes da epidemiologia e clínica; política,
utilizando saberes da saúde coletiva; e de assistência social, possibilitando o acesso com
equidade aos serviços de saúde, o que lhe confere uma condição especial.
O presente artigo objetivou capacitar os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para
preencher os formulários do sistema E-SUS e conhecer os desafios que esta atividade gera.

METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência vivenciado por profissionais e realizado em uma

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ESF de município da região central do Piauí. Esse projeto foi desenvolvido através de três
reuniões com os ACS em que se realizou capacitações referentes ao preenchimento de
fichas preconizadas pelas OMS, visitas domiciliares e levantamento epidemiológico.
Para o desenvolvimento deste trabalho, utilizou-se a metodologia de Charles Maguerez,
conforme ilustra a figura 1. Este tipo de metodologia constitui um rico caminho para estimular
o desenvolvimento de saberes diversos pelos seus participantes, essa riqueza está em suas
características e etapas, mobilizadoras de diferentes habilidades intelectuais dos sujeitos,
demandando, no entanto, disposição e esforços pelos que a desenvolvem no sentido de
seguir sistematizadamente a sua orientação básica para alcançar os resultados educativos
pretendidos (Colombo & Berbel, 2007).

Figura 1. Arco de Maguerez (Berbel, 1998).

O Arco de Maguerez consistem em 5 etapas, conforme ilustra a figura 1. Berbel


(2012) descreve essas etapas como: 1 - Observação da realidade: Diz respeito ao momento
de observar e registra a realidade, dados e/ou informações a serem utilizadas nas etapas
posteriores; 2 - Pontos – chave: É o momento que se realiza a síntese da realidade, onde
se elegem os elementos cruciais para resolução do problema em questão; 3 - Teorização: É
onde se investiga e se estuda sobre o problema, com base nos pontos-chaves; 4 - Hipótese
de solução: É a etapa em que se elabora, com base no que se foi estudado, as possíveis
ações (solução) de intervenção da realidade observada; 5 - Aplicação à realidade: Imple-
mentação das ações propostas na realidade que se observa.

Primeira etapa - Observação da realidade

Durante a estadia na referida UBS, foi possível observar a dinâmica do trabalho da equi-
pe, as atividades desenvolvidas e a execução dos principais programas preconizados pelo
MS. A identificação do problema se deu após a participação de uma reunião semanal com

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os ACSs, na qual evidenciou-se uma deficiência na realização de suas atividades básicas,
enfatizada pela preocupação da enfermeira em relação a problemas como: ausência de da-
dos valorosos para o preenchimento correto das fichas de notificação do SINAN, incompleta
caracterização da população para o levantamento epidemiológico e a falha no repasse de
informações para a comunidade sobre os dias específicos para cada tipo de atendimento,
evidenciando a necessidade da capacitação desses profissionais.

Segunda Etapa - Pontos Chaves

Após identificação do problema, elencou-se como os pontos chaves: não completude


das fichas; ausência do levantamento epidemiológico; e abordagem domiciliar deficiente.

Terceira Etapa - Teorização

Para desenvolver suas atividades legalmente como profissão, o ACS tem suas ações
legitimadas pela Lei Federal nº 11.350, de 5 de outubro de 2006 (Brasil, 2006). Desse modo,
o ACS exerce, sob a supervisão do enfermeiro, ações de prevenção de doenças e promoção
da saúde por meio de visitas domiciliares ou comunitárias para monitoramento de situações
de riscos das famílias, de forma individual ou em âmbito coletivo, em concordância com as
diretrizes do SUS (Speroni et al., 2016).
O ACS, por suas características próprias de vínculo com a comunidade e com a equipe
de saúde, é considerado o principal elo entre esses dois elementos, possibilita o fortaleci-
mento do vínculo entre os profissionais de saúde e a família e proporciona a aproximação
das ações de saúde ao contexto domiciliar (Cardoso & Nascimento, 2010; Filgueiras & Sil-
va, 2011; Santos, Saliba, Moimaz, Arcieri, & Carvalho 2011). Além disso, o ACS tem papel
protagonista no que se refere à relação de trocas de experiências, aos saberes populares
de saúde e à identidade com a cultura, linguagem e costumes de sua própria comunidade
(Costa & Ferreira., 2012; Santos et al, 2011).
Acredita-se assim, que o ACS represente um elemento essencial na reorganização
dos serviços de saúde (Bezerra, Espírito Santo, & Batista Filho, 2005; Cardoso et al., 2010;
Peres, Caldas, Silva, & Marin, 2011). O ACS representa um recurso humano central e es-
tratégico na implantação de ações de promoção da saúde, envolvendo as pessoas, seus
conhecimentos e entornos (Pedraza, Rocha, & Sales, 2016).
A construção da identidade do ACS é observada em situações vividas no seu trabalho
como na construção do vínculo com os indivíduos da sua comunidade, nas relações de tra-
balho com os integrantes da equipe de saúde e demais agentes que compõem os serviços
dispostos na rede. Ao desenvolver seu trabalho, o ACS convive com algumas situações como

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a responsabilidade pela transformação do modelo biomédico para um modelo onde o foco
da atenção é a própria comunidade, a incorporação de outros profissionais nas equipes de
saúde, acarretando em um trabalho em equipe fragmentado (Speroni et al., 2016).

Fichas do E-SUS

Sistema de Informação Atenção Básica (SIAB) é um software desenvolvido pelo DATA-


SUS em 1998, cujo objetivo centra-se em agregar, armazenar e processar as informações
relacionadas à Atenção Básica (AB) usando como estratégia central a Estratégia de Saúde
da Família (ESF), e é por meio dessas informações que o MS toma decisões de gestão da
AB em nível nacional. Entretanto, o SIAB não deve ser compreendido e utilizado somente
para esse fim.
Este sistema é parte necessária da estratégia de SF, pois contém os dados mínimos
para o diagnóstico de saúde da comunidade, das intervenções realizadas pela equipe e os
resultados sócio sanitários alcançados. Dessa forma, todos os profissionais das Equipes
de Atenção Básica (EAB) devem conhecer e utilizar o conjunto de dados estruturados pelo
SIAB a fim de traçar estratégias, definir metas e identificar intervenções que se fizerem
necessárias na atenção da população das suas respectivas áreas de cobertura, bem como
avaliar o resultado do trabalho desenvolvido pela equipe (Brasil, 2017).
O SIAB foi desenvolvido com o propósito de dar suporte operacional e gerencial ao
trabalho de coleta de dados da ESF, gerar informações para os gestores, auxiliar e agilizar
o processo de tomada de decisões, baseando-se nas necessidades da população. Este
sistema de informação é diferente de outros sistemas, caracterizando-se por ser um sistema
territorializado. Por meio do SIAB, é possível descrever a realidade socioeconômica, sina-
lizar a situação de adoecimento e morte na população, avaliar a adequação dos serviços e
ações de saúde, além de contribuir para o monitoramento da situação de saúde em áreas
geográficas definidas (Carreno, Moreschi, Marina, Hendges, Rempel, & Oliveira, 2015).

Levantamento epidemiológico

A epidemiologia pode ser definida como o estudo da distribuição e dos determinantes


de estados ou eventos relacionados à saúde em populações especificas. Os estudos epi-
demiológicos podem ser muito úteis no enfretamento e controle dos problemas de saúde.
O uso da epidemiologia como ferramenta para o conhecimento da realidade da distribuição
das doenças na população é de extrema relevância para o planejamento de ações e orga-
nizações de saúde (Duarte & Barreto, 2012).
A Vigilância Epidemiológica é definida pela Lei n° 8.080/90 como “um conjunto de

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ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos
fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de
recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. A partir
de tais ações há o realojamento de recursos e ações para determinada área.

Visitas domiciliares

Uma das atividades intrínsecas à ESF é a visita domiciliar, que proporciona ao pro-
fissional adentrar o espaço familiar e assim identificar suas demandas e potencialidades.
Portanto, a visita domiciliar enseja ampla visão das condições reais de vida da família e
possibilita a interação em ambiente familiar e social, através do conhecimento do cotidiano,
cultura, costumes e/ou crenças de uma determinada sociedade, o que torna essa vivência
enriquecedora para ambos (Drulla, Alexandre, Rubel, & Mazza, 2009).
Algumas dificuldades têm sido mencionadas como fatores importantes para o desempe-
nho profissional dos ACSs, inclusive para o desenvolvimento da visita domiciliar. O excesso
de atribuições, o alto número de famílias a serem acompanhadas, a falta de valorização
profissional, a baixa remuneração e a falta de apoio de outros profissionais da equipe foram
fatores citados como obstáculos por ACSs em diferentes localidades do país (Pedrosa &
Teles, 2001; Ferraz & Aerts, 2005; Ávila, 2011; Galavote, Prado, Maciel, & Lima, 2011; Ke-
bian & Acioli, 2014). O domínio desses fatores em municípios de maior complexidade pode,
talvez, implicar maiores dificuldades no exercício do trabalho do ACS. Percebemos ainda
que esses fatores são desfavoráveis aos desafios impostos aos ACSs, o que pode repercutir
negativamente nas relações recíprocas entre os membros da equipe de saúde da família, os
ACSs e as famílias, bem como na satisfação dos ACSs com o trabalho (Pedraza et al., 2016).

Quarta Etapa - Hipóteses de solução

• Realização de atividades práticas sobre as fichas a serem preenchidas pelos ACSs;

• Elaboração de fichas e estimulação no seu preenchimento para o levantamento


epidemiológico;

• Realização de rodas de conversa para promoção da autonomia da equipe, ressal-


tando sua importância para o funcionamento das atividades da unidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Durante a primeira parte da capacitação, foram apresentadas aos ACSs as fichas do
e-SUS, onde eles deveriam realizar o preenchimento completo dos campos. A primeira
ficha apresentada foi a de “Visita Domiciliar”, que busca por meio de sua estrutura coletar
as informações sobre a realização de visitas domiciliares do ACS e passam a ter o registro
individualizado da comunidade. Os agentes mostraram não ter dúvidas com relação ao
preenchimento dos campos necessários, porém relatam que devido à grande demanda de
famílias, a qualidade dos dados coletados e a frequência das visitas podem ter interferências
negativas.
Lima, Corrêa, & Oliveira (2012), afirmam que o cotidiano do Agente Comunitário de
Saúde é permeado por atividades variadas, que vão desde a assistência direta a indivíduos e
famílias até o apoio educativo e tarefas de cunho burocrático, como o cadastramento familiar.
Para isso, o ACS realiza o preenchimento de instrumentos para diagnóstico demográfico e
sociocultural da comunidade; o registro de nascimentos, óbitos, doenças e outros agravos à
saúde para fins exclusivos de controle e planejamento das ações de saúde e visitas domici-
liárias periódicas para monitoramento de situações de risco à família. As fichas preenchidas
devem permanecer em poder do próprio ACS durante o ano, para o acompanhamento dos
usuários da sua microárea de abrangência.
Mensalmente, devem preencher o consolidado desse acompanhamento juntamente com
o enfermeiro para o fechamento do Relatório da Situação e Acompanhamento das Famílias
na Área/Equipe. O ACS responsável pela microárea deve manter consigo uma via. Todas
essas fichas devem ser atualizadas sempre que necessário, ou seja, quando há ocorrência
de eventos como nascimento ou morte de algum membro da família e inclusão de parente
ou agregado no grupo familiar (Lima et al., 2012).
Em seguida, foi explanada a ficha de “Cadastro Domiciliar” que identifica as caracte-
rísticas sócio sanitárias dos domicílios no território das equipes de AB. Este cadastro busca
identificar, ainda, situações de populações domiciliadas em locais que não podem ser con-
siderados domicílio (situação de rua, por exemplo), no entanto devem ser monitorados pela
equipe de saúde.
Não apresentaram dúvidas sobre as informações repassadas, confirmaram ser um
formulário bastante simples. Porém, relatam que os indivíduos da área ainda ficam um
pouco apreensivos com relação a pontos abordados como: orientação sexual, histórico ou
a presença atual de doenças negligenciadas, como a Hanseníase e Tuberculose, mesmo
havendo grande afinidade entre eles. Outro ponto negativo é a ausência dos domiciliados
no momento da visita, fato que tem ligação com o trabalho destes, levando muitas vezes os
ACSs a trabalharem durante os finais de semana para conseguirem acesso a essa população.
Para Drulla et al., (2009), visita domiciliar é indicada como método adequado para

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iniciar o trabalho com indivíduos, família e comunidade, pois facilita conhecer suas práticas
assistenciais e as dinâmicas familiares. Essa, pode ser realizada de duas formas. A primeira
é chamada visita domiciliar Fim, que tem objetivos específicos de ação na atenção domiciliar
terapêutica e visita aos pacientes acamados. A segunda é a visita domiciliar Meio, onde se
efetua a busca ativa da demanda reprimida e a promoção e prevenção da saúde efetiva
mediante educação em saúde de forma individualizada. Estas duas interpelações constituem
um método ativo e dinâmico, viabilizando sua implementação na população alvo, suscitan-
do seu interesse por questões de saúde, orientações ligadas às formas de organização do
serviço, resolução de problemas, anseios e temas gerais de saúde.
A explicação da ficha de “Cadastro Individual” consistiu em repassar que a mesma
identifica as características sóciodemográficas, problemas e condições de saúde dos usuá-
rios no território das equipes de AB. Após a discussão sobre o assunto, pontos importantes
surgiram com relação à fidelidade dos dados coletados, quando os indivíduos são indagados
sobre a renda familiar ou ocupação atual, já que muitos recebem auxílios do governo e tem
a visão de que podem perder o benefício se repassarem as informações corretas, acabam
ocultando informações. Além disso, muitos moradores apresentam resistência em repassar
as informações referentes a outros dados pessoais como Registro Geral (RG) e Cadastro
de Pessoa Física (CPF).
A ficha de cadastro individual indica as características sociodemográficas, anseios,
problemas e condições de saúde dos clientes no território da equipe de AB. Tem por objetivo
compreender as informações sobre os clientes que estão registrados na área da equipe de
AB. Ressalta-se que toda vez que o ACS realizar um cadastro individual, terá de preencher
esta atividade também na Ficha de Visita Domiciliar (Brasil, 2014).
O outro instrumento mostrado foi a “Ficha de Atividade Coletiva”, usada para registrar
ações administrativas, reuniões da equipe, ações de saúde, atividades coletivas de promo-
ção de saúde ou ainda atendimento em grupo. As agentes informaram que reconhecem a
relevância do registro das reuniões, pois são vários os encontros entre si e com a enfermeira
da equipe para organizar os dados referentes ao trabalho, sendo um registro do que estão
desenvolvendo em relação à comunidade, bem como em relação às atividades em grupo,
realizadas muitas vezes no ambiente de espera para as consultas, em que há um espaço de
comunicação com as ACSs que estão na unidade, onde tiram dúvidas sobre atendimentos,
serviços etc.
A ficha de atividade coletiva é utilizada para registrar as ações desenvolvidas pela
equipe de acordo com as demandas do território e a capacidade da equipe de planejar as
ações. É nessa ficha que devem ser apontadas as ações estruturantes para o planejamento
e organização dos métodos de trabalho da equipe, tais como reuniões de equipe, reuniões

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com outras equipes e/ou outros órgãos, e as ações em saúde direcionadas a população,
como atendimentos e avaliações em grupo, atividades de educação em saúde e mobiliza-
ções sociais (Brasil, 2014).
Na segunda parte da capacitação referente ao Levantamento Epidemiológico, após ter
sido abordado a importância de fazê-lo, evidenciou-se algumas dificuldades em preencher
um instrumento simples oferecido pela enfermeira, que abordam pontos como o número de
diabéticos, hipertensos, gestantes, crianças menores de dois anos, idosos, além de outras
informações relevantes ao conhecimento da população, além da importância epidemiológica,
justifica-se pelo fato de ter começado a trabalhar há pouco tempo na unidade, de modo a
requerer mais informações sobre o seu território de trabalho.
Conforme refere Rouquayrol & Silva (2013), o perfil epidemiológico é um indicador
observacional das condições de vida, do processo saúde-doença e do estágio de desen-
volvimento da população. De acordo com a Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90, a saúde
tem fatores determinantes e condicionantes, como a alimentação, a moradia, o saneamento
básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer, entre outros,
e esses fatores embasam o estudo do perfil de uma comunidade, o qual deve se compro-
meter com uma análise verossímil das condições de saúde da população, construindo o
desenvolvimento de um sistema de saúde.
Há uma preocupação no conhecimento do perfil epidemiológico dos pacientes a serem
atendidos para a adequação das práticas de saúde como afirma Carvalho, Pinho, & Garcia
(2017). Portanto, compreender as necessidades da atenção primária de saúde na rede pública
se tornou um exercício necessário, para o gerenciamento, programação e planejamento em
saúde. Ao final, mesmo com todas as divergências apresentadas pelos agentes, frisou-se
a relevância de procurarem através de estratégias na abordagem direta com a população,
a contribuição para formação do levantamento epidemiológico.
Outro ponto abordado foi à importância de visitas regulares a comunidade para per-
petuar informações sobre horários dos atendimentos, exames, e a rotina do serviço, prin-
cipalmente referente aos programas de saúde da mulher, o qual foi informado que há uma
grande deficiência em relação à realização do rastreamento do câncer de colo do útero, pois
antigamente o profissional de Enfermagem era do sexo masculino, isso causava um pouco
de receio nas mulheres da comunidade.
No que se refere às visitas domiciliares, na maioria das vezes ocorrem corretamente,
com pessoas colaborativas e dispostas a escutar e apoiar o trabalho dos agentes, um vín-
culo de confiança foi estabelecido na área, porém se faz necessário à abordagem correta
e explanação da importância de repassar as informações para completude dos dados refe-
rentes à área.

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Vilela, Silva & Jacson Filho (2010) declaram que as visitas domiciliares são atividades
indispensáveis para o estabelecimento da relação entre ACS e a população, configuran-
do-se, também, como o principal instrumento que possuem para a promoção da saúde da
população assistida. Sob outra perspectiva, as visitas domiciliares são ações valorosas que
somam como produção da unidade.
Com relação ao preenchimento dos formulários, foi perceptível o entendimento dos
agentes com relação aos campos a serem preenchidos, porém não reconheciam ao certo o
seu papel na consolidação destes dados e na importância que representam para unidade,
deixando claro a necessidade da educação permanente, capacitações e reciclagens para o
grupo, autores como Lima et al., (2012) já abordaram a relevância destas ações para o e-sus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após este estudo foi possível entender a importância do Agente Comunitário de Saúde
para consolidação dos dados SISAB e da efetivação da Vigilância Epidemiológica no terri-
tório. Suas ações permeiam um protagonismo incomum em outros profissionais da rede de
serviços, onde suas atitudes repercutem em toda a população assistida por este profissio-
nal. Ponderado isso, vale ressaltar que tal dinamicidade do ACS junto ao serviço de saúde
será possível quando os gestores, trabalhadores do SUS e o próprio usuário atuarem em
conjunto, objetivando a melhoria dos fatores condicionantes à saúde.
A demais, encontrou-se certa resistência quanto a alimentação do sistema e-SUS,
contudo a equipe da referida UBS estava aberta para contribuir com a melhoria do serviço.
Conclui-se que o presente estudo possibilitou a ampliação do conhecimento sobre o trabalho
desenvolvido pelos ACS, como também, os ACS reconheceram a grande missão e impor-
tância que lhes é dada para ajudar a manter a qualidade de vida da comunidade.

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Saúde em Foco: Temas Contemporâneos - Volume 1 513

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