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RAE-256 - Abril 2023
RAE-256 - Abril 2023
Abril 2023
Fracasso: porta
para a restauração
Cursos de
Espiritualidade
Católica Retiro espiritual baseado em
Santo Inácio de Loyola
A
Pe. Lourenço Ferronatto, EP
WWW.RECONQUISTA.ARAUTOS.ORG
Transmissão da Santa Missa
diariamente às 19h (horário de Brasília)
Ano XXII, nº 256, Abril 2023
SumáriO
Escrevem os leitores ���������������������������������������� 4 Beato Miguel Rua –
A vitória de Dom Bosco
ISSN 1982-3193
Revista de cultura
e inspiração católica
O “rio chinês” (Editorial) . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 30
publicada por:
A voz dos Papas – A grandeza do fracasso
Associação Brasileira
Arautos do Evangelho Nossa participação na
CNPJ: 03.988.329/0001-09 Paixão de Cristo
www.arautos.org.br . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 34
Comentário ao Evangelho – Educadora exímia,
Diretor Responsável:
Mario Luiz Valerio Kühl A aurora marial da mãe extremosa
Ressurreição
Conselho de Redação: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 38
Severiano Antonio de Oliveira;
O conselho de Maria Arautos no mundo
Silvia Gabriela Panez;
Marcos Aurelio Chacaliaza C.
Administração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 40
Rua Diogo de Brito, 41 A espiritualidade de Santa
02460-110 - São Paulo - SP Aconteceu na Igreja e
Bernadette Soubirous –
admrevista@arautos.org.br no mundo
Equilíbrio, fé e
humildade
Assinatura e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 44
atendimento ao assinante:
“E ficarei mais branco História para crianças... –
(11) 2971-9050 do que a neve” Escute este conselho!
(nos dias úteis, de 8 às 17:00h)
Assinatura e Participação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 46
Assinante (anual): .............. R$ 204,00 únicos
Vitimação: um chamado Os Santos de
Participante (por tempo indeterminado):
para todos? cada dia
Colaborador.................... R$ 40,00 mensais
Benfeitor......................... R$ 50,00 mensais
Grande Benfeitor............ R$ 60,00 mensais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 23 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 48
Exemplar avulso................ R$ 17,00
Convertido pela beleza Como grãos de areia?
Os artigos desta revista poderão ser da Igreja
reproduzidos, desde que se indique a fonte
e se envie cópia à Redação. O conteúdo das
matérias assinadas é da responsabilidade
dos respectivos autores.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 26 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 50
verdade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Santidade o Papa Bento XVI? Gostaria
inclusive com a vida, se preciso for. Ou muito de ter um. Grato por sua atenção.
somos de Deus ou somos do mundo! John Knipper
Carmen Pardo Via catholicmagazine.news
Verdade, sabedoria e fé Madri – Espanha
no comentário ao Evangelho Ufania de ajudar
Sou leitor da revista Arautos do Sabedoria nos comentários o trabalho dos Arautos
Evangelho desde seu início. Em cada e fé nos corações Aproveito com muito prazer a opor-
nova edição ela se supera a si mesma, Apenas umas linhas para desejar tunidade de poder escrever-lhes para
e é sempre uma grata surpresa. A seção aos Arautos do Evangelho, esta bendi- dar minha modesta opinião sobre suas
da qual mais gosto é a Comentário ao ta associação, que Deus a guarde por atividades. Regozijo-me com o traba-
Evangelho, de Mons. João Scognami- muitos anos para que continuem difun- lho que fazem: ufano-me de ajudar,
glio Clá Dias; lendo a da edição de ja- dindo em todo o mundo o amor a Deus com uma pequena contribuição anual,
neiro, fiquei estupefato ante tanta ver- e à sua Mãe Santíssima de Fátima. a sua e nossa associação, que põe em
dade, sabedoria e fé do autor. Quero manifestar-lhes meu agra- prática os valores cristãos, o apoio, a
Uma vez mais, agradeço e felicito decimento mais sincero por envia- esperança e o amor. Não tenho com-
por elaborarem e difundirem a me- rem-me todos os meses, pontualmen- petência para convidá-los a continuar
lhor revista católica do mundo. Desejo te, a ilustríssima revista Arautos do neste caminho, mas reitero minha forte
muitas bênçãos para todos os arautos. Evangelho. Leio detidamente todos os estima. Muito obrigado.
Antonio Modernell artigos que os irmãos arautos escre- Agostino Perri
Mercedes – Uruguai vem, muito interessantes para todos Itália – Via e-mail
os católicos. Com quanta sabedoria
Um Coração que é nosso, fazem seus comentários, com uma Oração cheia de gratidão
dependendo de nossa entrega intensa fé em seus corações! Nós, Bela reflexão no artigo de dezem-
No texto de São João Eudes, inti- leitores desta Revista, ficamos emo- bro passado, intitulado Presença régia
tulado “Voltai ao meu Coração, que é cionados com suas santas palavras e vitoriosa do Divino Infante. Ajudai
todo vosso”, ensina-nos ele a acolher o e a cada dia cremos mais. Queremos minha família, meu Menino Jesus. De
Coração de Jesus para nossa salvação, animá-los para que continuem editan- modo especial, peço pela conversão de
a qual depende de quanto estejamos do mensalmente este presente do Céu. meu marido e para corrigir todos os
dispostos a dar de nossa parte. Antonio Díaz meus defeitos. Ajudai-me a conservar
Madri – Espanha minha família, afastai nossos inimi-
Luiz Gavilanez
gos. Mãe Santíssima, cobri-nos com
Via revistacatolica.org
Exemplo de mulher, vosso santo manto. Para meus filhos,
Ser de Deus ou do mundo… esposa e mãe peço que sempre conservem a Fé que
Dona Lucilia é um exemplo de mu- lhes transmito. Peço também por to-
Lendo o artigo A Companhia de
lher, esposa e mãe, como se vê no ar- das as famílias do mundo inteiro!
Jesus em face das perseguições – Re-
sistência e reação! Tive um frêmito de tigo Infalível socorro materno. Todos Victoria Bearzi
admiração, pensando na Companhia esses exemplos nos ajudam, hoje, a Via revistacaolica.org
de Jesus e sua luta heroica ante as di- sermos melhores como mulheres, es-
posas e mães. Rezemos diariamente o Rosário
famações e perseguições da época.
Muitas pessoas marcaram a História Elizangela Alexandrino A Santíssima Virgem nos diz que o
da Igreja, por suas virtudes heroicas. Via revista.arautos.org Rosário é a melhor arma que podemos
Assim, nós, católicos do sécu- portar, como nos recorda o artigo O
lo XXI, devemos seguir seus exemplos, Pedido de um exemplar Santo Rosário – Arma eficaz contra os
hasteando nossa bandeira de intenções Louvado seja Deus agora e sempre! inimigos de Deus. E nos aconselha a
retas e íntegras neste mundo de pecado Nossa Senhora das Vitórias, rogai por que o rezemos diariamente e sempre o
e afastado de Deus, sendo luz nas ruas, nós. Como posso adquirir um exem- levemos no bolso.
nos ambientes, no trabalho, etc., lutan- plar da revista Arautos do Evangelho, Rafael Maria
do contra o maligno e defendendo a edição de fevereiro de 2023, com Sua Via revistacatolica.org
E ntre as várias metáforas que Dr. Plinio Corrêa de Oliveira utilizou para des-
crever o percurso do ser humano nesta terra, ocupa especial destaque a que ele
denominou de “rio chinês”.
Como se sabe, devido à topografia acidentada da China, seus cursos d’água re-
cortam trajetos particularmente sinuosos. Por vezes, os afluentes parecem até que
vão retornar à fonte, quando, na realidade, estão apenas se desviando dos obstáculos
e concentrando energia para desembocar no rio principal e seguir seu fluxo rumo
ao mar.
Algo semelhante se passa em nossas vidas, pervadidas de impasses aparentemen-
te insolúveis, quando não de aflitivas estagnações num verdadeiro “vale de lágri-
mas”, como recorda a oração da Salve Rainha.
Por vezes nos iludimos de que avançar velozmente em linha reta pelo rio seja si-
nônimo de acerto na via escolhida; no entanto, no fim podemos nos deparar com um
desfiladeiro sem saída… Nesse sentido, alertou Santo Agostinho: “Bene curris, sed
extra viam – Corres bem, mas fora do caminho”. Não adianta correr muito, é preciso
correr na pista certa. Com efeito, no mundo ativista em que vivemos somos tentados
a pensar que nosso sucesso se mede pela intensidade da ação – ou febricitação. No
entanto, águas agitadas não refletem o céu! E mais: as máquinas barulhentas são,
em geral, as menos produtivas…
256
Todavia, em nossa navegação cotidiana nem sempre sabemos se estamos no
rumo certo. Como proceder? Mesmo na borrasca e com Jesus “dormindo” na barca,
Número 3
Abril 202
devemos confiar de que Ele tem o leme nas mãos (cf. Mc 4, 35-41).
O Senhor permite que passemos por infortúnios justamente para nos provar. Nes-
sas encruzilhadas da vida, não sejamos como os discípulos, que naquela intempérie
invectivaram: “Mestre, não Te importa que pereçamos?” (Mc 4, 38). A resposta de
Jesus sintetiza qual deve ser nosso estado de espírito em situações de crise: “Por que
o: porta tendes medo? Ainda não tendes fé?” (Mc 4, 40). É preciso, antes de tudo, coragem
Fracass o
s tauraçã
para a
r e e confiança.
De fato, os Santos se forjaram na docilidade aos desígnios do Altíssimo e na cer-
teza de que Ele conduzia a nau de suas vidas. Para alguns teólogos, a essência da
“Descida ao santidade não consiste simplesmente na prática constante das virtudes ou no estado
Limbo”, de perfeição – embora sejam estes condições fundamentais –, mas sobretudo no
por Fra Angélico - abandono à Divina Providência ou, em outras palavras, na conformidade de nossa
Museu de vontade com a divina. Afinal, como ressalta o Apóstolo, nada “poderá nos separar
São Marcos, do amor de Deus” e, “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8, 39.31).
Florença (Itália) Essa foi precisamente a atitude da mais santa das criaturas: Nossa Senhora. Dian-
Foto: Reprodução
te do impasse criado pelo anúncio do Anjo, do qual pendia a Redenção de toda a
humanidade, Maria Se entregou inteiramente nas mãos da Providência: “Eis aqui a
escrava do Senhor; faça-se em Mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).
A confiança em Deus deve ser tal que, se for preciso, o “rio chinês” pode até se
estancar, como aconteceu com o Mar Vermelho, para proteger o povo eleito. Não
nos esqueçamos, porém, de que as águas também “voltaram e cobriram os carros e
cavaleiros de todo o exército do faraó, que os haviam seguido no mar; e não escapou
um só deles” (Ex 14, 28). Assim continuarão os rios chineses a fazer seu curso na
História. ²
Nossa participação na
Paixão de Cristo
Em Lourdes, a Virgem ensina o valor redentor da dor; dá coragem, paciência,
resignação; eleva o olhar interior à verdadeira e completa felicidade, que
Jesus nos assegurou e preparou para além da vida e da História.
N
este tão significativo solação e de amor à Igreja e a toda a terra é a sua orientação rumo ao Céu.
dia em que recordamos humanidade. Como o povo de Israel, também a hu-
a primeira aparição de manidade se encontra em caminho,
Maria Santíssima em
O sentido da vida e sua meta é a Jerusalém Celeste.
Lourdes, elevemos também nós ao na terra é sua orientação As palavras do profeta Isaías valem
Senhor, com suas próprias palavras, rumo ao Céu para os homens de todos os tem-
o hino de júbilo e de gratidão: “Sua Com efeito, há nessas aparições pos, são atuais também para nós:
misericórdia se estende de geração um significado que permanece sem- “Em Jerusalém sereis consolados”.
em geração sobre aqueles que O te- pre válido, e que devemos conservar A perene tentação do homem, uma
mem!” (Lc 1, 50). […] como uma preciosa herança. Em me- tentação que o progresso hodierno
A primeira leitura nos propõe ados do século passado, enquanto se torna singularmente sutil e aliciante,
uma reflexão sobre as palavras do alastravam insidiosamente o racio- é a de circunscrever à terra todas as
profeta Isaías que, durante o exílio, nalismo e o ceticismo, Maria, Aquela expectativas, concentrando seus es-
confortava o povo de Israel com a que acreditou na palavra do Senhor, forços na construção de uma morada
expectativa do retorno a Jerusalém, vinha ajudar e confirmar na autênti- terrena cada vez mais segura e con-
a Cidade Santa, e com a certeza de ca e genuína Fé cristã a família dos fortável.
que, apesar de todas as dolorosas vi- crentes. Por certo, a Fé não condena o em-
cissitudes pelas quais ele havia pas- Em Lourdes, Maria recordou ao penho em melhorar as condições de
sado, Deus não tinha abandonado o mundo que o significado da vida na vida na terra. Pelo contrário, ela en-
povo da aliança e continuava sendo sina que tal empenho deve ser visto
sempre sua alegria e seu conforto: e interpretado na perspectiva da ta-
“Como uma criança que a mãe con- O significado refa de dominar a terra, confiada por
sola, em Jerusalém sereis consola- Deus ao homem já no início de sua
dos. Vós a vereis e vosso coração se da vida na terra história. O que a Fé não admite é que
alegrará” (Is 66, 13-14). é sua orientação a etapa terrena seja considerada pelo
Recordando as aparições de Nossa homem como sendo a fase definitiva
Senhora em Lourdes, podemos apli- rumo ao Céu, de sua existência, pois ela não é senão
car também a nós e à nossa história as uma fase provisória, a ser vivida em
palavras do antigo profeta: Deus quis de onde o homem função do verdadeiro ponto de chega-
que Maria Santíssima aparecesse de- da, situado além do tempo, no âmbito
zoito vezes à pequena Bernadette, de
deve haurir conselho da eternidade.
11 de fevereiro a 16 de julho de 1858, e esperança Nossa Senhora veio a Lourdes fa-
para deixar uma mensagem de con- lar do “Paraíso” ao homem para que
Reprodução
comendação válida
para sempre. Nossa
Senhora de Lourdes
Gustavo Kralj
Francisco Lecaros
a Evangelho A
1
No primeiro dia da sema- 3
Saíram, então, Pedro e o tadas no chão 7 e o pano que
na, Maria Madalena foi ao outro discípulo e foram ao tinha estado sobre a cabe-
túmulo de Jesus, bem de túmulo. 4 Os dois corriam ça de Jesus, não posto com
madrugada, quando ain- juntos, mas o outro discípu- as faixas, mas enrolado num
da estava escuro, e viu que lo correu mais depressa que lugar à parte. 8 Então entrou
a pedra tinha sido retirada Pedro e chegou primeiro ao também o outro discípulo,
do túmulo. 2 Então ela saiu túmulo. 5 Olhando para den- que tinha chegado primeiro
correndo e foi encontrar Si- tro, viu as faixas de linho ao túmulo. Ele viu, e acredi-
mão Pedro e o outro discí- no chão, mas não entrou. tou. 9 De fato, eles ainda não
pulo, aquele que Jesus ama- 6
Chegou também Simão tinham compreendido a Es-
va, e lhes disse: “Tiraram o Pedro, que vinha correndo critura, segundo a qual Ele
Senhor do túmulo, e não sa- atrás, e entrou no túmulo. devia ressuscitar dos mortos
bemos onde O colocaram”. Viu as faixas de linho dei- (Jo 20, 1-9).
A aurora marial da
Ressurreição
A Liturgia nos convida a participar da alegria que inundou
Nosso Senhor no instante entre todos grandioso no qual
Ele retomou seu Corpo Sagrado. A fim de termos uma ideia
desse gáudio, podemos contemplar seu eco fidelíssimo no
Coração de Maria.
õ Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Espanta o fato de Maria Madalena ter ido pro- Os dois discípulos saem às pressas, sem a menor
curar São Pedro e São João, e não Nossa Senhora. reflexão, em direção ao Santo Sepulcro. De algum
Por algum motivo misterioso, a Santíssima Vir- modo, eram eles os culpados pela cegueira dos de-
gem vivia os acontecimentos ligados à Ressurrei- mais, já que São Pedro fora constituído Príncipe
ção num certo isolamento. Quiçá a incredulidade dos Apóstolos e São João havia recebido como he-
dos discípulos os impedisse de procurar sua pre- rança a custódia da Virgem. Ambos enxergavam
sença e pedir seus conselhos. apenas a realidade concreta; a ótica da fé não luzia
A falta de fé da Madalena fazia com que tudo em seus corações. Eles, que deveriam ter sido os
fosse trevas para seu espírito. O fato de o Sepul- porta-estandartes da esperança, deixaram-se con-
cro estar aberto, em vez de constituir um sinal tagiar pela febricitação da informante e partiram,
da vitória de Cristo, se lhe afigurava como o re- velozes, para ver com as vistas da carne o que o
sultado de um furto sacrílego: teriam subtraído olhar interior não podia contemplar.
Fábio Kobayashi
de Maria na História o pano mortuário. O
da Igreja. Somente que significava tudo
Igreja se através d’Ela quis o aquilo? Pedro consi-
abalavam Filho derramar suas derou esses detalhes,
melhores graças sobre mas não descobriu
pelo cruel os Apóstolos e sobre neles o primeiro indí-
toda a Igreja. cio da Ressurreição. Se
desmentido naquele momento hou-
Caridade hierárquica
da Cruz, vesse analisado o Sudário,
ao ver as marcas discretas
5
Olhando para dentro, viu
a Virgem as faixas de linho no chão,
Imaculado Coração de Maria - Igreja de
mas inconfundíveis do Divi-
mas não entrou. no Mestre teria caído de joe-
custodiava em Santa Cecília, São Paulo
lhos e de seus lábios brotaria
seu Coração São João soube honrar a veneranda idade de a mais bela confissão de fé. Entretanto, o medo
São Pedro e, sobretudo, sua condição de chefe da que a situação embaraçante lhe causava, parali-
o admirável Igreja. O fato de não querer entrar no Sepulcro sou seu espírito.
antes dele indica uma atitude respeitosa, que su- Totalmente diversa teria sido a atitude de Nos-
depósito da fé blinha o caráter hierárquico da caridade cristã, a sa Senhora. Propensa a adorar qualquer vestígio
qual, ao contrário da demagogia igualitária, pri- de seu Divino Filho, Ela veneraria com torrentes
ma em observar a ordem instituída por Deus em de entusiasmo aquelas relíquias e, diante de seus
todas as realidades criadas e, de forma especial, olhos, se desvelaria o extraordinário segredo que
no Corpo Místico de Cristo. o Sudário continha. Só voam as inteligências que
Sem dúvida, essa atitude conquistou para o se deixam levar pelas asas da convicção da vitória!
Discípulo Amado graças preliminares à fé na
Ressurreição. Nela se percebe a influência de
Acende-se a chama da fé, pela
Maria Santíssima que, em sua profunda humilda- influência de Maria
de, Se comprazia em honrar toda sorte de supe- 8 Então entrou também o outro discípulo,
rioridade, esquecendo-Se de Si mesma e de suas que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele
prerrogativas régias. viu, e acreditou. 9 De fato, eles ainda não ti-
nham compreendido a Escritura, segundo a
O primeiro indício da Ressurreição
qual Ele devia ressuscitar dos mortos.
6
Chegou também Simão Pedro, que vinha
correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as Os discípulos não compreendiam porque lhes
faixas de linho deitadas no chão 7 e o pano faltava a principal ferramenta para perscrutar
O
rnada com as mais insig- alma do cristão as virtudes teologais dons de ciência e entendimento; a
nes graças, Maria foi, e e cardeais, que o inclinam a realizar esperança e a temperança, pelo dom
sempre será, objeto de fi- boas obras.1 Contudo, considerando do temor; a prudência, pelo dom de
lial admiração. Com efeito, que após o pecado original a von- conselho; a justiça, pelo dom de pie-
contemplam os fiéis de todos os tem- tade do homem se tornou fraca e as dade; a virtude da fortaleza, pelo dom
pos os encantos de sua alma santíssi- virtudes não lhe são suficientes para de fortaleza.
ma, a insondável dimensão de suas alcançar a santidade, o Altíssimo
virtudes e a magnificência com que lhe concede também os sete dons do
O dom de conselho
o Senhor A coroou, concedendo-Lhe Espírito Santo: entendimento, sabe- O dom de conselho é, pois, um
– propriamente sem medida – todos doria, ciência, conselho, fortaleza, hábito sobrenatural que dá à alma a
os dons. piedade e temor de Deus, os quais capacidade de julgar pronta e segura-
Entre os mais belos títulos atribuí- são hábitos sobrenaturais infusos que mente, por uma espécie de intuição,
dos pela piedade católica a Nossa Se- atuam sobre as virtudes, robustecen- o que convém fazer, sobretudo nos
nhora, está o de Mãe do Bom Conse- do-as e conduzindo-as a seu pleno casos mais dificultosos. Seu objeto
lho, o qual exprime uma sublime reali- desenvolvimento. próprio é “a boa direção das ações
dade: além de ter gerado o “Conselhei- Através dos dons, a alma recebe particulares”.3 Ele nos permite conci-
ro admirável” (Is 9, 5), Ela foi plena não apenas um convite sobrenatu- liar a simplicidade com a astúcia, a fir-
das maravilhas operadas pelo Espírito ral para praticar o bem ou evitar o meza com a suavidade, e nos auxilia
Santo através do dom de conselho. mal – como é próprio às virtudes –, no caminho em direção a Deus.
Como terá sido a atuação deste mas uma moção especial do Espírito Este dom acaba sendo uma dis-
dom n’Aquela que foi perfeita desde Santo que a impele a executar aquilo creta luz a nos guiar entre as obscu-
a concepção e digna de ser invocada que Deus deseja.2 Desse modo, eles ridades da fé, e torna nossas almas
como “cheia de graça” (Lc 1, 28)? exigem mais docilidade do que ativi- misericordiosas à medida que são
dade, à maneira de um navegante que acrisoladas pelos sofrimentos, por
Dons e virtudes no pode usar remos, ou ser levado pela seus próprios defeitos e debilidades, e
caminho da santidade força do vento que enfuna as velas de até pela comprovação da malícia dos
O homem foi criado para conhe- seu navio. As virtudes ajudam a avan- homens.
cer, amar e servir ao Senhor nesta ter- çar – porém, com trabalho e dificul-
ra, e dar-Lhe glória no Céu por toda a dade –, enquanto os dons impulsio-
O conselho em Maria
eternidade. Chamado a participar da nam a alma a obedecer prontamente Por serem hábitos sobrenaturais,
vida divina, ele é elevado pelo Sacra- às menores inspirações da graça. os dons do Espírito Santo seguem
mento do Batismo à ordem sobrena- Por outro lado, cada um dos sete proporcionalmente a graça, de ma-
tural e admitido como filho de Deus dons está relacionado de forma espe- neira que, quanto mais elevada é uma
no seio da Santa Igreja. cial com a perfeição de alguma virtu- alma, mais intensa se verifica a atua-
Juntamente com a graça santifi- de. Assim, a caridade é aperfeiçoada ção dos dons nela. Por consequência,
cante, no Batismo são infundidas na pelo dom de sabedoria; a fé, pelos em Maria Santíssima atingiram eles
um grau excelso, como menciona Uma vida regida pelo conselho um amor inspirado pelo Deus de
o Pe. Philipon: “Depois de Cristo, Analisando a vida de Maria, en- misericórdia”.7
a Mãe de Jesus, Mãe de Deus e dos contramos diversas ocasiões em que
homens, Mãe do Cristo total, foi a a luz do conselho iluminou de modo
Maria: Conselheira admirável!
alma mais dócil ao Espírito Santo. mais marcante seus atos. Por exem- Enfim, o dom de conselho fez de
[…] Cada um de seus atos conscientes plo, em sua apresentação no Templo, Maria a perfeita Mãe do Verbo En-
procediam d’Ela e do Espírito Santo, foi ele que A levou a discernir ser carnado, Aquela que realizou em
e apresentavam a modalidade deifor- da vontade de Deus firmar, desde a plenitude seus desígnios, a nova Eva,
me das virtudes perfeitas sob o regi- infância, o voto de virgindade; e no resplandecente de fidelidade e pureza
me dos dons”.4 momento da Anunciação, antes de virginal. Nossa Senhora manifestou-
Pelo dom de conselho, Nossa Se- manifestar seu consentimento, fê-La -Se ao mundo como “Conselheira ad-
nhora revestia de perfeição até mesmo querer conhecer as disposições divi- mirável”, ao revelar os planos divinos
as mais insignificantes ações, e em nas, para então oferecer-Se totalmen- no Magnificat e indicar aos homens
tudo agia – sob a inspiração do Espíri- te ao Senhor.6 o caminho da salvação: cumprir a
to Santo – da maneira mais convenien- Nas Bodas de Caná, igualmente, vontade de seu Divino Filho. Ela sus-
te para a glória de Deus e o cumpri- foi o dom de conselho que Lhe ins- tentou a Igreja aos pés da Cruz, per-
mento de seus desígnios de salvação.5 pirou a humilde audácia de contradi- mitindo-lhe atravessar as agruras da
Em suma, Ela transformava em atos zer os desejos aparentes de seu Filho, Paixão e consolidando-a para a vinda
concretos as mais altas luzes recebidas advertindo com solicitude aos servos: do Espírito Consolador.
na contemplação. “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Animados por essas considerações,
Por isso, à Santíssima Virgem Como observa o Pe. Gardeil, “Ela or- nos momentos de prova, de sofrimen-
podem-se aplicar com toda a pro- dena aos servidores que façam tudo to e de incerteza, recorramos com
priedade as palavras da Escritura: “O o que disser seu Filho, e o milagre confiança a este Bom Conselho cha-
conselho te guardará e a prudência te se realiza. Seu conselho prevaleceu, mado Maria, e não duvidemos nunca
conservará” (Pr 2, 11). porque era no fundo o conselho de de sua poderosa intervenção!
1
Cf. CCE 1803. 3
ROSCHINI, OSM, Gabriel. 2.ed. Madrid: Palabra, 1983, 6
Cf. ROSCHINI, op. cit.,
Instruções marianas. São Pau- p.357-358. p.176-177.
2
Cf. ROYO MARÍN, OP, An-
lo: Paulinas, 1960, p.176.
tonio. La Virgen María. 2.ed. 5
Cf. ROYO MARÍN, op. cit., 7
GARDEIL, OP, Ambroise. Les
Madrid: BAC, 1997, p.306. 4
PHILIPON, OP, Marie-Michel. p.319. dons du Saint-Esprit dans les
Los dones del Espíritu Santo. Saints dominicains. Paris: Vic-
tor Lecoffre, 1905, p.192.
Equilíbrio, fé e humildade
Mais do que ter sido arauto da Virgem por suas palavras,
Bernadette configurou-se a tal ponto com seu chamado que
sua existência constituiu um apelo à conversão tão eficaz
quanto as águas que banham a Gruta de Lourdes.
õ Fábio Henrique Resende Costa
É
impossível pensar na cida- sos caminhos interiores pelos quais a tão cara a Deus e a Nossa Senhora,
de de Lourdes, hoje em dia, Providência a conduziu, com vistas ao teremos condições de conhecê-la com
sem associá-la à impac- cumprimento de uma sublime missão. mais profundidade, a fim de melhor
tante figura do santuário Descobertos certos véus dessa alma imitar suas virtudes.
regurgitando de fiéis, que para lá se di-
rigem a fim de rogar a Deus um favor
Características psicológicas
ou uma graça, por intermédio de sua de Bernadette Soubirous
Mãe Santíssima. Contudo, bem outra Como ponto de partida, aplique-
era a realidade em 11 de fevereiro de mos a atenção num pormenor que,
1858, quando por primeira vez Nossa a qualquer pessoa dotada de um in-
Senhora apareceu a Bernadette Sou- cipiente senso grafológico, causa
Reprodução
e o cárater decidido
e equilibrado com
que traçou para si
um plano de vida
Escrito de Santa Bernadette
Ademais, a caligrafia de San- da perfeição, a começar por aquilo Mais aplicação à santidade do que
ta Bernadette desvenda sua índole que diz respeito à vida interior: à saúde”.
afetiva, de alguém transbordante de “1º) Nunca desanimar, ver a santa E ainda nesta esteira, com o fito de
generosidade e amor pelos outros, vontade de Deus em tudo o que vai esclarecer para si – e para os anos vin-
bastante sensível ao trato recebido. me acontecer, agradecer-Lhe por douros – o eixo em torno do qual deve
Não é à toa que, à vista de alguma tudo, pensando que é para o meu girar a vida cotidiana de uma alma
criança, estabelecia-se logo uma liga- maior bem que Ele o permite. consagrada, afirmará a Santa: “Uma
ção que as aproximava, a ponto de os “2º) Trabalhar para me tornar in- religiosa deve viver na mortificação
pequenos formarem roda em torno da diferente a tudo quanto disserem ou como um peixe na água; não é o mes-
vidente… pensarem de mim minhas superioras mo quando uma religiosa não é mor-
Sua escrita não desmente, enfim, ou minhas companheiras; desapegar- tificada. A aplicação séria em todos os
a tendência ao isolamento, talvez por -me de tudo, para me dedicar uni- deveres leva necessariamente ao exer-
ela não encontrar nos outros os mode- camente a agradar a Deus e salvar cício da mortificação contínua em to-
los de virtude e de retidão impostos minha alma. Lembrar-me frequente- dos os momentos. Se não se mortifica,
a si, e buscados com tanto empenho. mente deste dito: ‘Só Deus é bom, e falta-se aos deveres. De onde vêm as
só d’Ele espero a recompensa’; violações da regra e dos votos? De
Plano de vida expresso em “3º) Jamais amizades particulares, onde vem o relaxamento de algumas
suas notas íntimas amar todas as minhas irmãs somente comunidades? Vêm do fato de não
Cabe ressaltar que a santificação para agradar a Deus”. se pôr em prática ou não se manter
não é somente fruto de uma dádiva o exercício da mortificação. […] Na
divina; a conquista da santidade se ci-
“Uma boa freira deve minha opinião, [uma irmã mortifica-
fra numa luta constante, da qual não pedir a Deus…” da] poderia entrar no Céu sem passar
estão isentos nem mesmo os gran- Graças a essa conduta virtuosa en- pelas chamas do Purgatório!”
des místicos. Pelo contrário, Deus cetada desde quando Nossa Senhora
exige dos seus amigos uma renúncia lhe confidenciou seus primeiros ane-
Atração pela vida
ininterrupta e, em geral, duríssima. los em Massabielle, a vidente pôde humilde e escondida
Quando bem analisado, o itinerá- resumir a santidade numas curtas No tocante à sua humildade, um
rio espiritual dessas almas de escol frases, impregnadas tanto de Teolo- fato ilustrativo ocorreu entre ela e
se revela tão – dir-se-ia – “normal”, gia quanto de caridade, e aplicáveis certa irmã de hábito, Josephine. Dado
“comum”, que enche de esperança a a qualquer batizado que enseje alcan- que Bernadette reagia com vigor nas
todos os homens. çar o Céu: relações e conversas cotidianas, por
Em um dos seus pequenos cader- “Uma boa freira deve pedir a Deus: causa de seu temperamento, ela aca-
nos de notas íntimas, já no título a Mais humildade que humilhação, bou por incorrer num destrato. Tendo
Santa francesa resume o plano por ela Mais paciência que sofrimento, se separado da referida irmã, deu-se
delineado: “Fazer sempre o que custa Mais vontade que obras, conta de sua imperfeição em desvi-
mais”.1 À vista disso, Bernadette tra- Mais amor que ações, giar sua “susceptibilidade” e voltou
çou para si algumas metas que exter- Mais abandono que ordens, para lhe pedir desculpas, mediante o
nam sua seriedade e afinco na busca Mais atos que palavras, seguinte bilhete:
Reprodução
ria outro consolador senão Jesus, te, pura dádiva divina, alheia ao
e Jesus crucificado. Ele somente, concurso da vontade disciplina-
fiel amigo, entre meus dedos ge- da e aos exercícios de virtude.
lados, em minha tumba levarei. Ó Santa Bernadette no Convento de
Claro está que a santificação é
loucura das loucuras, apegar-me a Saint-Gildard, Nevers (França) favor gratuito de Deus, mas isso
outra coisa que não a Ele”. não deve gerar a falsa ideia de
que Ele não anela nossa participação
Lições dos textos transcritos ativa em sua consecução, dado ser a
É interessante apreciar certo cos-
Deus escolheu vida um combate.
tume adotado por Bernadette, cuja Bernadette para ser Espiritualidade cheia
origem não se conhece bem, mas
que não deixa de ser louvável: em uma lição viva daquilo de luz e equilíbrio
meio aos seus inúmeros escritos, ela Assim sendo, se as notas íntimas
se esforçou por copiar livros inteiros
que Lourdes espelhava de Bernadette nos revelam claramen-
de meditações! Ao que parece, dado para todo o mundo: te sua confiança, e os escritos copia-
o regime de pobreza religiosa, não dos nos sugerem suas preferências e
podendo ter em posse os livros per- o milagre da aceitação escolhas profundas, suas cartas me-
tencentes à biblioteca conventual, a recem atenção especial. Elas calam
Santa não encontrou melhor saída do do sofrimento fundo na alma, porquanto externam
que os copiar… as virtudes dominantes desta espiri-
Entre esses textos artisticamente De fato, a partir de seu fiat, a Pro- tualidade cheia de luz e equilíbrio: a
transcritos pela Santa francesa, figura vidência escolheu Bernadette para humildade e a fé.
uma carta de Santa Joana de Chantal ser, embora ignorada e reclusa num Um exemplo nos será suficiente
a São Francisco de Sales: “Ó Senhor convento, uma lição viva e valiosa da- para comprová-las: a missiva endere-
Jesus, não quero mais escolha, to- quilo que Lourdes passava a espelhar çada ao Papa Pio IX, a pedido e insis-
cai na corda do meu alaúde que Vos para todo o mundo: o milagre da acei- tência de um prelado, Dom Ladoue,
agrade; sempre, e para sempre, só so- tação da dor, do sofrimento e até da datada de 17 de dezembro de 1876:
ará esta única harmonia: Sim, Senhor derrota e do fracasso, se for preciso. “Santíssimo Padre,
Jesus, sem se, sem mas, sem exce- Se nos causa admiração saber que “Jamais teria ousado tomar a plu-
ção… Fiat em tudo e em mim”. uma menina foi eleita como porta- ma para escrever a Vossa Santidade,
Hugo Grados
A
o longo dos séculos a piedade da pela menor sombra de mal. A Vir- de beber da fonte miraculosa e supli-
católica outorgou à Santíssi- gem foi sempre santa, em virtude da car a cura de seus males. Aquelas pe-
ma Virgem belíssimos títu- santidade do fruto de seu ventre. dras brutas e frias, tornadas tão atra-
los, recolhidos com esmero Rezar a Maria Imaculada consiste, entes pela presença de Nossa Senhora,
pela Santa Igreja e conservados até os pois, em suplicar, desde o abismo de são “testemunhas” dos inúmeros mi-
dias atuais. Nossa Senhora do Perpé- nossas misérias, Àquela que é purís- lagres da graça operados em favor dos
tuo Socorro, Mãe do Bom Conselho, sima por excelência que não apenas peregrinos.
Auxiliadora dos Cristãos e milhares nos limpe de toda culpa, como tam- Apesar do incontável número de
de outras invocações exprimem, cada bém arranque definitivamente as más coxos, cegos, surdos, acidentados e
uma a seu modo, as incontáveis prer- tendências e defeitos que carregamos deficientes de toda espécie que alcan-
rogativas de Maria e os mais variados em nosso interior, tornando-nos puros çaram a cura, o mais belo milagre ali
matizes de sua misericórdia. como Ela; em suma, consiste em pe- realizado pela Santíssima Virgem é a
Dentre elas se destaca, por sua im- dir que Nossa Senhora nos comuni- transformação dos corações. De fato,
portância e sublimidade, a Imaculada que a sua própria “imaculabilidade”,1 ainda mais abundantes do que os en-
Conceição. Foi a própria Santíssima na eloquente expressão de São Maxi- fermos miraculados são aqueles que
Virgem quem Se apresentou ao mun- miliano Maria Kolbe. se viram “lavados por dentro”, e tive-
do enquanto detentora desse augusto Graças particularmente profundas ram restaurados – ou mesmo instaura-
privilégio, manifestando seu desejo nesse sentido são derramadas em pro- dos – o amor a Deus e a vida da graça
de ser assim invocada pelos fiéis. Ora, fusão num santuário muito famoso no em suas almas.
qual é a causa mais profunda desse mundo inteiro: o de Lourdes. Ali, onde Percebe-se nisso a razão simbólica
desejo de Maria? “a Imaculada Conceição” dignou-Se de Nossa Senhora ter feito jorrar na
A palavra imaculada significa sem aparecer a uma simples jovenzinha, as gruta uma fonte: assim como a água
mácula. No que diz respeito a Nossa mais variadas e impressionantes res- limpa e purifica os corpos de suas má-
Senhora, indica que Ela foi preserva- taurações físicas e espirituais se pro- culas, a graça alveja até o mais ínti-
da de toda mancha, inclusive a do pe- duzem, fazendo-nos pensar que, ver- mo da alma daqueles que de Maria se
cado original, com a qual os homens dadeiramente, o Céu desceu à terra. aproximam.
são concebidos desde a expulsão de
Adão e Eva do Paraíso Terrestre. Pre-
Por que uma fonte? Um incrédulo que
destinada para ser a Mãe do Verbo de Desde 1858, ano das aparições em renasce para a graça
Deus Encarnado, portanto da Pureza Lourdes, acorrem à Gruta de Massa- “Um corpo sadio que guarda um
em essência, não poderia Ela ser toca- bielle fiéis de todo o mundo, desejosos coração adoentado jamais encontrará
Sumário
Vitimação: um chamado
para todos?
Se “o cristão é um outro Cristo”, todo católico deve
Juan Carlos Villagómez
Reprodução
não se contentam com a simples para dar alegria e glória a Deus
prática dos Mandamentos e lan- com seus sacrifícios voluntá-
çam-se generosamente em uma rios, na maioria dos casos Deus
via mais árdua, desejosas de atin- só atrai a esse caminho as almas
gir uma maior identificação com o a quem confia a missão de me-
Divino Mestre. Trata-se dos sacer- Santa Teresinha do Menino Jesus dianeiras: devem sofrer e expiar
dotes e das pessoas consagradas por outros a quem sua imolação
a Deus que, por meio da prática dos aproveitará, seja atraindo sobre eles
conselhos evangélicos, possuem a graças de misericórdia, seja cobrin-
missão de mais especialmente abraçar
A alma consagrada do-lhes os pecados aos olhos da
o estado de vítima: “Tender à união submete-se a justiça divina. Daí se infere que nin-
com a adorável Vítima é, sim, um de- guém se poderia meter por si mesmo
ver essencial do cristão, mas tender à uma “imolação em tal missão. […] Essas pessoas,
perfeição da união é dever essencial escolhe-as Ele próprio e, por serem
do religioso”.4
sem reserva, sem livres, pede-lhes sua aceitação vo-
Esses se decidem, movidos por esperança alguma luntária. Dando-lha, elas se põem à
grande amor, a levar não somente um sua mercê. E Ele então delas usa de
pedaço da Cruz de Nosso Senhor, mas de deixar, um dia, o modo soberano”.7
carregá-la por inteiro, sem medir esfor- Entregando-se por inteiro à vontade
ços, sem pensar na própria fadiga nem altar do sacrifício” de Deus, elas se tornam “cópias perfei-
nos méritos que possam vir a adquirir. tas do Crucificado. […] A Paixão de
O único objetivo que os impele é con- bém com Ele ressuscitar para uma Cristo, depois de as ter marcado com
solar e aliviar o Coração de Deus. vida toda sobrenatural. seu vinco, passa por elas para exercer
A alma consagrada submete-se A simples vida cotidiana dessas em outras almas, pelas quais expiam,
a uma “imolação sem reserva, sem almas atrai sobre a terra as mais pro- os frutos de salvação. São, pois, porta-
esperança alguma de deixar, um dia, fusas bênçãos celestes e obtém para doras da graça do Calvário”.8
o altar do sacrifício”,5 renuncia à sua os pecadores eficazes graças de ar- As almas-vítima sabem que mes-
vontade, seus critérios e seus senti- rependimento e conversão. Prova-o mo seus atos de fé mais ardentes e
mentos num verdadeiro martírio in- de forma maravilhosa o exemplo de suas melhores resoluções não têm
cruento, através do qual não consuma Santa Teresinha do Menino Jesus, que consistência nem fortaleza, se não es-
sua existência, mas com Cristo morre com seus pequenos sacrifícios – car- tiverem corroborados pelo sofrimen-
a cada dia (cf. I Cor 15, 31) para tam- regados de altíssimas intenções – foi to; abraçar a cruz lhes é uma exigência
1
Cf. GIRAUD, MS, Sylvain- 2
Cf. LEHODEY, Vital. Le saint 6
MONIER-VINARD, SJ, H. In- 7
Idem, ibidem.
-Marie. O espírito e a vida de abandon. 7.ed. Paris: J. Gabal- trodução. In: CHARMOT, SJ, 8
Idem, p.15.
sacrifício no estado religio- da, 1935, p.74. F. Apelo ao amor. Mensagem
so. 2.ed. Petrópolis: Vozes, do Coração de Jesus ao mun-
9
Idem, ibidem.
3
GIRAUD, op. cit., p.20.
1951, p.17. do e sua mensageira S óror Jo- 10
CLÁ DIAS, EP, João Scog-
4
Idem, p.63. sefa Menéndez. 4.ed. Conta- namiglio. Meditação sobre
5
Idem, p.28. gem: Líttera Maciel, 1998, a Última Ceia. São Paulo,
p.12. 1/3/1994.
A
literatura de nossos dias, Estes casos comportam, evidente- para deixar o lugar a seu sucessor
acorrentada à sensualidade, mente, algumas variantes. Ou o cri- mais feliz.
está em franca crise de as- me corta o nó górdio de uma vida su- Evidentemente, porém, estas com-
suntos. Esta crise é, mesmo, pérflua, que ameaçava durar demais; binações também são limitadas,
o mais sério problema [com] que têm ou o adultério brutal põe termo a uma e se esgotam ao cabo de algum
de lutar todos os literatos hodiernos. situação incômoda; ou o cônjuge tempo. De tal sorte que, quem se
O cinema, o romance, a novela, a supérfluo se suicida discretamente, entrega assiduamente à leitura de
poesia, tudo enfim está assolado por romances durante cinco anos, fica
uma tremenda crise de temas. conhecedor de todo o estoque amo-
Os enredos giram eternamente em roso de nossas livrarias. E, com um
torno de casos amorosos. Ora, os as- pouco de argúcia, poderá ver, logo
pectos amorosos da vida, por mais ao ler as primeiras páginas, qual o
que nos modernizemos, só podem desfecho da história, desfecho este
dar lugar a quatro combinações: que depende das inclinações do
ou são duas pessoas casadas que autor, e dos sentimentos e posi-
abandonam seus respectivos la- ção que atribui aos personagens
res para constituírem juntas um do romance.
Reprodução
Nuno Moura
convívio de todos, fazia dentro de si
um vácuo tremendo.
Tendo abandonado todos os seus
amigos, destruído todas as suas antigas Vendo o ódio dos maus contra a Hóstia Consagrada, ele discerniu
ilusões, perdido todos os seus parentes, a veracidade da Igreja Católica e passou por uma penosa conversão
vivia isolado em Paris, em um pequeno Ostensório contendo o Santíssimo Sacramento
quarto, onde passava dias infindáveis,
em companhia de um gato, a maldizer peso de todos os vícios e de todas as odeia a Hóstia consagrada pelos sa-
indefinidamente o século XIX. baixezas. Sobre o altar, um Cristo rin- cerdotes católicos, é porque realmen-
Foi então que conheceu um pseu- do num rictus ignóbil, ultrajante. Toca te ela é o Corpo de Cristo. Logo, a
domédico, Des Hermies, fidalgo, uma sineta, entra o sacerdote. Come- Igreja Católica é verdadeira.
déclassé,2 que frequentava rodas de ça a Missa, entre contorções dos pre- Daí uma conversão dolorosa, pe-
espíritas, de mágicos, astrólogos, sentes. Quando chega o momento da nosa, que se vai arrastando através de
etc., no basfond 3 canceroso que exis- Consagração, o sacerdote pronuncia inúmeras lutas, de combates sem fim,
te em Paris. as palavras sacramentais, banhado travados contra a carne rebelde às in-
A princípio, seduziu-o no amigo em suor, a voz repassada de ódio, o junções da vontade, e o espírito rebel-
o cunho original e misterioso de sua olhar carregado de estranhos eflúvios de às exigências da Fé.
vida. Esta sedução se acentuava à diabólicos. Distribui a Sagrada Euca-
medida que ia privando com as pes- ristia aos presentes, que a profanam
Êxtase diante das belezas da
soas mais chegadas a Des Hermies, abominavelmente. Gargalhadas satâ- Liturgia e dos templos católicos
todas elas atacadas de um misticismo nicas, blasfêmias tremendas, insultos Quando entra em uma igreja, exta-
acatólico e doentio, que exalava os implacáveis, nada se poupa ao Corpo sia-se diante das belezas da Liturgia
miasmas da mais absoluta putrefação adorável de Nosso Senhor. católica. Sua alma se eleva até os pés
espiritual. Manifestações evidentemente dia- de Deus ao som do órgão, ao desen-
Levado por suas inclinações de di- bólicas irrompem por todos os lados. rolar grave e compassado da música
letante, Huysmans não recuou à vista É o triunfo de Satanás, glorificado pe- sacra. Poucas almas, como a sua, sen-
de tal ambiente. los assistentes num delírio de abjeção tiram as belezas do cantochão. […]
e de infâmia. Frequentando assiduamente as igre-
Salutar reação ante os horrores Enojado, ferido nos poucos senti- jas de Paris, a todas surpreende nas suas
de uma Missa negra mentos que ainda lhe restavam, Huys- horas de mais intensa sentimentalidade.
Sobreveio-lhe, nessa ocasião, em mans se esgueira pela porta e foge Ora é Notre-Dame de Paris, reten-
condições misteriosas, um convite espavorido. do nas suas ogivas seculares uns restos
para que assistisse a uma Missa ne- Desde então uma grande preocupa- de claridade coada através dos vitrais,
gra, celebrada em honra do demônio ção assaltou sua inteligência, e acabou enquanto some no céu, lentamente,
por um sacerdote privado de ordens trazendo-o submisso aos pés da Igreja. tristemente, um sol crepuscular. Ora
sacras. Vira o demônio, vira o espírito das tre- é uma igreja operária, na qual observa
Excitada fortemente sua curiosida- vas, urdindo contra a Sagrada Eucaris- detidamente as mulheres paupérrimas,
de, aceita o convite e é conduzido a um tia as mais tremendas infâmias. os mendigos, os operários exaustos,
lugar estranho, em que se amontoam Ora, refletia ele, se o demônio, de os miseráveis dos arrabaldes de Paris,
mulheres e homens carregados com o cuja existência já não posso duvidar, que vêm dirigir a Deus, depois de um
dia de intenso trabalho, preces infin- te o gênero novo de apologética que Resolve-se, então, impulsionado
dáveis, enquanto, de dentro do taber- Huysmans tentou instituir. pelos conselhos de seu amigo sacer-
náculo, o Senhor invisível os consola, Não o preocupam os argumentos dote, a fazer em uma Trapa longínqua
repetindo mudamente o Sermão da filosóficos, as contendas científicas, um retiro de alguns dias.
Montanha: “Bem-aventurados os que em que os silogismos se digladiam Entra-se então na parte mais inte-
choram, os que sofrem, os que têm pró ou contra a Fé. Já dissera o poeta ressante do livro.
sede de justiça…” francês que, à force de raisonner, on
No entanto, Huysmans ainda não perd la raison.4
Beleza moral das Ordens
ousou aproximar-se dos Sacramentos. Faz da Igreja uma descrição mate- contemplativas
Recai no pecado com tal facilidade, rial objetiva, através da qual procura Cumpre dizer que, à maneira dos
que nem se atreve a aproximar-se do fazer ressaltar, com inimitável habi- antigos cristãos, que proibiam aos
tremendo tribunal da Penitência. […] lidade, os lampejos de sobrenaturali- pagãos a assistência aos mistérios
dade que se desprendem da Liturgia sagrados, sentimos o desejo de vedar
Lampejos de sobrenaturalidade magnífica, enriquecida por um sim- a leitura do que se segue a espíritos
na vida da Igreja bolismo comovedor, do cantochão incrédulos, que terão provavelmente,
Aproximado, pelos acontecimen- estupendo, nas suas imprecações ve- para a incomparável beleza moral da
tos, de um sacerdote francês inteli- ementes, no tumultuar de suas con- vida trapista, o riso estulto ou o tro-
gente e virtuoso, Huysmans começa trições, na explosão de seus surtos de cadilho alvar com que um hotentote
a frequentar as cerimônias religiosas confiança na Providência Divina, no comenta a complicação – para ele
católicas, que despertaram nele im- lacrimejar harmonioso de seus ofícios inútil – de um mecanismo moderno,
pressões indeléveis que nos legou em de defuntos. cujo funcionamento está acima de
páginas magistrais. Impressionam-no sobremodo as sua compreensão.
Suas descrições da tristeza tene- Ordens Religiosas, nas quais vê, com Segundo o dogma da Comunhão
brosa do De profundis, das impreca- razão, a cristalização do espírito evan- dos Santos, cuja aceitação é impos-
ções ardentes do Miserere, da alegria gélico. ta pela Igreja a todos os fiéis, os so-
exultante do Magnificat, são páginas Fascinam-no as penitências das frimentos de uma alma podem ser
literárias que glorificam o idioma em carmelitas, as austeridades implacá- aplicados em expiação dos pecados
que foram escritas. veis das beneditinas e das sacramen- de outra. Satisfeita, assim, a justiça
Aliás, constitui a obra de Huysmans tinas, os rigores das regras monásticas divina, pode a misericórdia incitar o
uma aplicação interessantíssima do na- em geral. pecador à conversão.
turalismo a assuntos religiosos, aspec- Entre todas, porém, uma Ordem [Daí] a importância das Ordens
to este que a enche de originalidade. chama sua atenção, pela estupenda Religiosas que, na contemplação de
Sob o ponto de vista estritamente beleza de seus princípios constituti- Deus e na penitência incessante, en-
religioso, interessava principalmen- vos: a dos trapistas. cerram (deveríamos dizer sepultam)
A vitória
de Dom Bosco
Muito mais do que um discípulo, um amigo,
um filho ou um sucessor, Deus deu para
São João Bosco um outro ele mesmo para
expandir sua obra.
õ Ir. Mariana de Oliveira, EP
A
continuação e a perpetuida- mesmo. A mesma doçura, a mesma João Batista era um homem tra-
de de uma Ordem Religio- humildade, a mesma simplicidade, a balhador, honrado e muito inteligen-
sa dependem, em grande mesma grandeza de ânimo, a mesma te, motivo pelo qual exercia um bom
parte, da ação e fidelidade alegria que irradia a seu redor. Tudo ofício na Real Fábrica de Armas, em
de seus membros em relação à pessoa é milagre na vida e nas obras de Dom Borgo Dora, pequeno distrito da capi-
escolhida pelo Espírito Santo para es- Bosco. Contudo, esta perpetuidade tal piemontesa. Dentro da própria ma-
tabelecer um novo carisma na Igreja. dele mesmo em Dom Rua me parece nufatura, ele conseguiu uma vivenda
Para isso, ao longo da história das fun- o maior de todos os milagres.”1 para sua família. Foi nesse cenário
dações, Deus não deixou de suscitar que o pequeno Miguel cresceu e estu-
homens que fossem reflexos exímios
Os primeiros anos dou, tendo por professor e catequista
de seus mestres e que prolongassem a Turim foi o berço de Miguel Rua. um capelão e por companheiros os fi-
atuação deles. Nascido em 9 de junho de 1837, últi- lhos dos demais operários.
À maneira da torre de uma igreja mo fruto das segundas núpcias de João Aos oito anos, o menino já estava
numa grande cidade, abandonada em Batista Rua com Joana Maria Ferrero, pronto para a Primeira Comunhão.
meio a gigantescos arranha-céus e era o benjamim de uma família de fer- Entretanto, uma nuvem veio toldar
pavorosa cacofonia, mas que anuncia vorosos católicos, como o atesta seu o céu azul daquela família: em 2 de
sua presença aos homens pelas so- Batismo, ocorrido somente quarenta e agosto de 1845, faleceu o exímio pai e
noras badaladas do sino que abriga, oito horas após seu nascimento. fiel esposo. Curiosamente – ou provi-
assim o fundador vê projetada e per- dencialmente! – um mês após a morte
petuada, por meio de seus discípulos, de seu progenitor, o jovem órfão co-
a missão providencial a que foi cha- Após a morte de nheceu um outro João…
mado. E uma bela comprovação dessa
realidade contemplamos na vida do seu progenitor, Encontro marcante
Beato Miguel Rua: ele foi como que o o pequeno Miguel O Oratório fundado pelo Pe. João
sino que fez ressoar ao longe o espíri- Bosco, dedicado à educação e forma-
to e a mentalidade de São João Bosco, Rua conheceu um ção religiosa das crianças pobres, já se
fundador da Congregação Salesiana. tornara conhecido na populosa Turim
Com efeito, um frade capuchinho outro João, que de então.
que o conheceu assim se exprimiu Certo dia, Ramón Batista, um
certa vez: “Vi um milagre: Dom Bos-
seria para ele um companheiro de Miguel na escoli-
co ressuscitado! Dom Rua não é só o verdadeiro pai nha da Real Fábrica de Armas, leva-
sucessor de Dom Bosco, é outro ele va uma bela gravata que comprara
Reprodução
A cena se repetiu várias vezes, e o que façam esta prova e os que a fa- Desde a primeira
jovem Rua se retirava cogitando so- rão mais tarde, receberão o nome de
bre o que queriam dizer tal gesto e tais salesianos”.2
palavras… Desse modo se iniciou a Congrega-
ção Salesiana, e Dom Rua parece ter
Primeiro alicerce aberto o caminho aos que passariam
da fundação salesiana no “concurso”. Em 25 de março de
Desde esses primeiros encontros, 1855, por convite de Dom
São João Bosco discerniu misteriosa- Bosco, ele fez sozinho
mente que o pequeno Miguel estava os votos de obediência,
destinado a ser seu principal auxilia- castidade e pobreza.
dor na congregação que viria a fundar. Oficialmente, a socie-
Se iniciava um relacionamento que dade salesiana acolhia
duraria para sempre. seu primeiro rebento!
Tão logo foi possível, Dom Rua Sobre aquele rapaz de
tornou-se o secretário de Dom Bos- dezoito anos, o funda-
co, fato que lhe permitiu acompanhar dor lançava os funda-
de perto a laboriosa vida de seu pai mentos de sua obra.
Sumário
missão – a fundação de uma casa sale- do e provavelmente sofrendo atrozes
siana em Mirabello Monferrato, tam- dores –, Dom Rua perguntou aos
bém na região do Piemonte – revelou que o assistiam:
o segredo que sempre coroaria de êxi- — Quando eu morrer, onde me co-
to todos os seus empreendimentos: locareis?
“Em Mirabello tratarei de ser Dom Confundidos pela incômoda
Bosco”.3 E assim o foi! indagação, o diretor espiritual da
congregação, Dom Pablo Álbera,
Dom Rua na consideração respondeu:
Reprodução
de Dom Bosco — Nós não pensamos nisso.
“Se o Senhor me dissesse que Estamos pedindo por vossa cura e
iria morrer logo e que escolhesse para que continueis fazendo todo
um sucessor, pedindo em seu favor o bem que fazeis.
todas as qualidades e virtudes que eu Dom Rua insistiu, mas, compre-
quisesse, asseguro-te que não saberia endendo o embaraço que causava ao
o que pedir a Deus, porque tudo isso seu interlocutor, explicou gracejando:
vejo que já tem Dom Rua”.4 Com essas — Fiz essa pergunta para saber,
palavras se exprimiu o carismático fun- quando chegue o Juízo Universal,
dador dos salesianos, quando seu discí- onde devo ir recolher as minhas po-
pulo contava somente trinta anos. Ele São João Bosco e o Beato Miguel Rua bres cinzas. Pode ser que eu me dirija
se orgulhava daquele filho. Dom Fran- em 3 de maio de 1886 a um lugar onde não as encontre, e
cesia – coetâneo de ambos no Oratório comece a dar voltas de um lado para
– escreveu que o jovem conquistou o o outro…
coração de Dom Bosco desde cedo. Possuía Dom Rua Assim era Dom Rua: tão diferen-
É portentoso que um fundador pos- te e, ao mesmo tempo, tão outro João
sa fazer tais afirmações de um mem- características Bosco!
bro de sua família espiritual. Deus ga-
lardoou o grande Dom Bosco dando- pessoais distintas das Um vínculo que até a
-lhe não só um filho, um seguidor, um morte respeitou
discípulo, um amigo, mas como que
de seu mestre. Nesse Estamos em 1868. A célebre Con-
um “outro ele mesmo”. sentido, sua missão gregação Salesiana se expande, os
trabalhos só aumentam e a afluência
Personalidade consistiu também de membros do instituto por ocasião
do Beato Miguel Rua da inauguração da Igreja de Maria
Bem acertada é a afirmação de São
em completá-lo Auxiliadora é imensa. Dom Rua não
Paulo, “uma estrela difere da outra” se encontra bem de saúde. Fazendo
(I Cor 15, 41). Por mais que Dom organizador, mas, sobretudo, de alma pouco caso da doença, cumpre nor-
Rua fosse aclamado por seus contem- humilde e transbordante de fé. malmente suas obrigações, sempre
porâneos como um outro Dom Bosco, Seu semblante era sorridente, sua repetindo a frase que se tornou famo-
algumas de suas características pes- presença discreta, seu ânimo perpe- sa em seus lábios: “Tudo para o Se-
soais eram distintas das de seu mes- tuamente sereno. Seu coração, no nhor! Seja feita sua santa vontade!”5
tre. Nesse sentido, sua missão con- entanto, era ardente e seus horizontes Um dia, no entanto, a enfermidade dá
sistiu também em completá-lo. Com muito largos! A capacidade que tinha indícios de ganhar o duelo: ele pare-
efeito, a distinção entre ambos não de dominar e levar a bom termo uma ce prestes morrer, e seu pai espiritual
os separou, mas os uniu, com vistas série de empreendimentos ao mesmo está ausente.
à realização do desígnio de Deus em tempo, dava-lhe saliente nota de de- Ao saber da grave situação daque-
relação a eles e à obra salesiana. terminação. le filho tão dileto, Dom Bosco afirma
Unânime é o reconhecimento acer- Também era manifesto seu bom quase em tom jocoso: “Dom Rua,
ca das qualidades de Miguel Rua: ho- humor, inclusive nas horas mais não parte sem minha permissão”.6 E
mem de nobre caráter, de retidão de difíceis. Em 2 de abril de 1910, por vai tranquilamente jantar. Após isso,
consciência, de agudíssima inteligên- exemplo, estando a quatro dias da dirige-se ao leito do enfermo, que
cia e prodigiosa memória, de talento morte – e, portanto, em grave esta- pede com voz fraca:
Yakir - Pixabay
Sumário
A grandeza do fracasso
Será possível que o fracasso seja um modo escolhido pelo
Criador para restaurar a grandeza original da humanidade?
Reprodução
recordar-se de Deus e das inúmeras
graças que havia recebido no relacio-
namento com Ele. Desse modo procu-
rava, em certo sentido, superar a tre- O fruto proibido era a “consolação” que o demônio oferecia à sua provação
menda sensação de isolamento pela e a resposta aos seus anseios: “Sereis como deuses!”
qual passava. Adão e Eva comem o fruto proibido -
Catedral de São Miguel e Santa Gúdula, Bruxelas
Como o demônio teria
se aproveitado disso A autossuficiência leva seja, tratava-se da consumação de
O demônio – como excelente psi- à mediocridade uma vida em que Adão não mais pre-
cólogo – diagnosticou o estado no Adão começou a viver uma rotina cisaria de Deus. Bastando-se a si mes-
qual o primeiro varão se encontrava e, independente de Deus, de “ateísmo mo, ele se tornaria o modelo e o senhor
sem dúvida, procurou tirar dali algum prático”, poderíamos dizer. Ele acredi- da criação. E a conclusão da história é
proveito. tava em Deus e até Lhe dirigia preces, conhecida…
Ele trabalhou os seus sentidos ex- mas não O tinha presente em seus afa-
ternos e internos com a intenção de zeres durante o dia, não recordava as
Qual foi a falta de Adão?
aguçar sua sensibilidade em relação graças recebidas, alimentava cada vez No que consistiu, então, o pecado
às maravilhas da ordem da criação. A mais a confiança em si, que lhe dava a de Adão?
princípio, deve ter deslumbrado Adão sensação de autodomínio, de fortaleza Seria ridículo crer que, pelo sim-
ressaltando os aspectos naturais das e de superioridade.3 Enfim, ele havia ples fato de ele comer uma fruta, toda
belezas do Paraíso, relegando Deus encontrado uma posição mediana en- a humanidade tenha visto para si fe-
Criador a uma atenção secundária, tre a rejeição a Deus e a grandiosa chadas as portas do Céu. É claro que
para depois, com o passar do tempo, vocação que possuía. Numa palavra, há por detrás um pecado mais profun-
fazer com que ele O pusesse à mar- havia caído na mediocridade.4 do. O ato material, representado pela
gem de suas considerações. Foi o que O demônio só apresentou o fruto ingestão do alimento proibido, foi
provavelmente aconteceu… Nos- proibido a Adão quando percebeu que uma mera consequência dessa dispo-
so primeiro pai já não admirava no ele havia se habituado a um estado de sição anterior.5
mundo os reflexos divinos, mas de- predisposição para o pecado, ou seja, Não há dúvida de que, se “o prin-
leitava-se com os esplendores de cada de confiança em si mesmo, falta de vi- cípio de todo pecado é o orgulho”
criatura em si mesmos, como se essas gilância e visão naturalista. (Eclo 10, 15), foi este, em última aná-
qualidades refletissem a ele, homem, A tentação foi “talhada” à medida lise, a causa da falta de nosso primei-
e não a Deus. de Adão, e o fruto proibido era a “con- ro pai. Esta é, aliás, opinião corrente
O terreno estava pronto para que o solação” que o demônio oferecia à sua entre os Padres da Igreja.6 Entretanto,
demônio o fizesse dar mais um passo provação e a resposta aos seus anseios: há outro aspecto a ser ressaltado neste
em direção ao fruto proibido.2 “Sereis como deuses!” (Gn 3, 5). Ou capítulo da origem da humanidade.
Esta é uma prova à qual são panham. Eis aqui uma pe- Sobre a disposição de alma
Thiago Tamura
1 2
Sumário
Gloriosa marca das almas fiéis
O virginalíssimo conúbio de Maria e José consistia, so-
bretudo, em uma troca de corações pela qual as gra-
ças que habitavam o interior de um eram vividas pelo outro,
cumprir a vontade divina, mesmo quando ela exija abra-
çar a tragédia e a derrota. E só seguirão os passos do San-
tíssimo Casal os que se dispuserem a trilhar essa via com
permitindo-lhes compartilhar os mesmos anseios. Enquan- generosidade, paciência e constância, aceitando todos os
to o Glorioso Patriarca lucrava com o manancial de graças malogros e absurdos que o Senhor lhes queira enviar.
existente no Imaculado Coração da Virgem, Ela hauria do O fracasso que Deus pede hoje, sempre prenuncia a
esposo as forças, a determinação e a confiança que pulsa- grande vitória de amanhã. Aqueles que, no frio e na escuri-
vam em seu ígneo coração. dão da noite das provações e das lutas interiores, souberem
A grandeza de uma alma não se mede tanto pelos suces- manter aceso o fogo de seus corações com o calor da con-
sos obtidos em seus empreendimentos, mas pela humildade fiança e a luz da certeza da vitória, serão dignos de contem-
serena com que ela submete sua vontade aos desígnios di- plar, no raiar da aurora, o brilho esplendoroso da Estrela da
vinos e pela determinação de seguir adiante com confiança, Manhã. ²
apesar dos próprios fracassos, por considerá-los o melhor CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio.
caminho para alcançar a vitória de Deus. A serenidade Maria Santíssima!
diante do infortúnio é a gloriosa marca das almas verdadei- O Paraíso de Deus revelado aos homens.
ramente fiéis. São Paulo:
Nossa Senhora e São José são o augustíssimo exemplo Arautos do Evangelho, 2020,
dessa fidelidade, despretensão e sublime disposição de v.II, p.333-335
ções propícias para a manifestação da fraquezas, para que habite em mim a virtude como um elemento a mais en-
grandeza sobrenatural, como afirma força de Cristo” (II Cor 12, 9). tre tantos outros. Ora, para sanar este
São Paulo: “Semeado no desprezo, [o Todo homem carrega em seu inte- “vírus”, Deus permite fracassos mo-
corpo] ressuscita glorioso; semeado na rior a tendência – intensificada pelos numentais que levam a pessoa dar-se
fraqueza, ressuscita vigoroso” (I Cor efeitos do pecado original – de apegar- conta de que, sem Ele, nada pode fazer
15, 43). Por isso, é de um enorme bene- -se àquilo que possui e, lastimosamen- (cf. Jo 15, 5).
fício para nós sentirmos nossa própria te, até àquilo que não possui, mas que Por essa razão, nossa vida na terra,
debilidade, pois assim nos prepara- julga ter. E essa concepção deturpada para cada qual segundo sua medida, é
mos para reconhecer mais facilmente se manifesta com frequência na vida uma alternância de triunfos e fracas-
que as obras grandiosas que fazemos espiritual, inclusive nos mais fervoro- sos, a fim de que, diminuídos os ris-
não vêm de nossas qualidades pes- sos. Concebe-se um método, aplica-se cos de nos apropriarmos das dádivas
soais, nem mesmo das virtudes que o esforço e, como resultado, julga-se divinas e criadas as condições para re-
possamos praticar, mas sim de uma possível alcançar a santidade por mé- conhecermos nossa própria fraqueza,
participação na onipotência de Deus, rito próprio, quase se diria “natural”. possamos servir de instrumentos efi-
como declara mais uma vez o Após- A oração, segundo tal concepção, en- cazes para as grandiosas intervenções
tolo: “Prefiro gloriar-me das minhas tra na “composição” do progresso na de Deus. ²
de certo modo, princípio para ência), viver livre e felizmen- compatível com a mediocrida- Deus de duas maneiras. Uma
si mesmo” (SANTO AGOS- te sua vida” (BARTMANN, de” (ROYO MARÍN, op. cit., delas condiz com a que apre-
TINHO. La Ciudad de Dios. Bernardo. Teologia Dogmáti- p.547). sentamos: “O primeiro ho-
L.XIV, c.13, n.1. In. Obras ca. São Paulo: Paulinas, 1962, mem pecou também desejan-
5
“Não se chegaria a uma obra
Completas. 6.ed. Madrid: v.I, p.450). do assemelhar-se a Deus, no
má, se uma vontade má não a
BAC, v.XVII, 2007, p.101). seu próprio poder de agir, de
4
“A magnanimidade é uma vir- houvesse precedido” (SANTO
modo que, em virtude da pró-
3
“Ele cometeu, diríamos nós tude que leva a empreender AGOSTINHO, op. cit., p.101).
pria natureza, pudesse con-
hoje, um pecado de ‘natura- obras grandes, esplêndidas e 6
Cf. BARTMANN, op. cit., seguir a bem-aventurança”
lismo’; não querendo receber dignas de honra em todo gê-
p.448. (SÃO TOMÁS DE AQUI-
de Deus a norma de sua pró- nero de virtudes. Impele sem-
7
São Tomás de Aquino explica NO. Suma Teológica. II-II,
pria vida, julgou poder bas- pre ao grandioso, ao esplêndi-
que a soberba de Adão consis- q.163, a.2).
tar-se a si mesmo (autossufici- do, à virtude eminente; é in-
tiu em querer assemelhar-se a
N em de longe as palavras
de Dona Lucilia eram
desprovidas de signifi-
cado e atração. Todavia,
mais do que por elas, era especialmen-
sua voz melodiosa, modulada confor-
me o tema e o estado de espírito do in-
terlocutor. As inflexões eram meigas,
variadas e acolhedoras.
Às vezes procurava dar realce às
por um dossel, de madeira trabalha-
da, do qual pendiam duas grandes
cortinas rendadas, que desciam qua-
se até o chão.
Plinio, sempre afeito às correlações,
te através de suas atitudes e modos de palavras movimentando nobre e discre- notava como aquele móvel era perfei-
ser que ela transmitia aos outros, so- tamente suas finas e bem proporciona- tamente adequado à alma dela, a qual,
bretudo aos filhos, o desejo de fazer o das mãos de dedos longos, pele alva e por sua elevação, apreciava estar en-
bem, e de trilhar as vias da perfeição sedosa como arminho. Sabia graduar volta em digno e bem alinhado arranjo.
moral. Símbolo vivo das virtudes por de maneira exímia as manifestações de O inocente menino também discernia a
ela praticadas, sua presença impregna- benquerença. Um simples cumprimen- semelhança entre o agrado de sua mãe
va, intensa e discretamente, de refrigé- to dela era rico em significado. pelo dossel e o gosto dela por toda or-
rio, luz e paz qualquer ambiente onde Todos esses aspectos da personali- dem de coisas baseada em princípios
estivesse. dade – olhar sereno, pequenos gestos, que, de consequência em consequên-
voz de timbre aveludado, sorriso lumi- cia, baixam em cascata até os últimos
Olhar sereno, voz aveludada, noso – manifestavam o cerne de sua e mais ínfimos detalhes. Por fim, ainda
sorriso luminoso alma pervadida pela fé, que habitava um fator levava Dona Lucilia a estimar
Seu olhar era sereno e de um casta- sempre um píncaro de considerações a nobre cobertura fixada sobre seu lei-
nho muito escuro; a luminosidade dos e perspectivas elevadas. Seu modo de to: sentia-se de algum modo protegida,
olhos era de uma intensidade cambian- ser defluía dessas alturas, conferindo- correspondendo tal impressão a um
te, em função do quanto queria carac- -lhe uma atitude tal que tornava impos- traço de sua mentalidade.
terizar o que dizia. Quando alegre, por sível, a quem quer que fosse, dela se Era notável, em Dona Lucilia, o
apreciar a pessoa a quem se dirigia, seu aproximar sem muito respeitá-la. fato de reunir em si duas qualidades
brilho era meigo e envolvente. Se as aparentemente opostas: ao lado dessa
circunstâncias exigiam posturas sérias,
Elevação e retidão, elevação e retidão – a elevação não
seu reluzir era profundo, carregado e com muita doçura é senão uma forma excelente de reti-
definido. No movimento dos olhos, Isso fazia os encantos de seu fi- dão –, a doçura. Ela era elevada por-
sempre compassado, revelando um lho, Plinio. Por exemplo, quando que doce, e doce porque elevada. São
interior sem efervescências, bem se re- ele entrava no quarto dela para dizer duas qualidades que, segundo o con-
fletia sua temperança. bom-dia ou boa-noite e pedir-lhe a ceito moderno, se excluem, pois, uma
Quem a conheceu jamais se esque- bênção. O aposento era espaçoso, pessoa afeita ao sublime afastaria os
cerá das suavidades harmônicas de de pé direito alto e a cama encimada outros de si, tenderia ao severo e a se
1 2 3
México – Em 19 de fevereiro, fiéis de origem libanesa receberam a Imagem Peregrina do Imaculado Coração
de Maria no Club Libanês, para uma Missa presidida por Dom Georges Miled Saad Abi Younes, OLM, Bispo
da eparquia de rito maronita no México, e concelebrada por Dom Joseph Spiteri, Núncio Apostólico no
país (fotos 1 e 2). Neste mês, a Virgem de Fátima visitou ainda a Paróquia Nossa Senhora da Esperança,
na capital (foto 3).
Fotos: Guillermo Castillo
Honduras – As famílias da cidade de Intibucá tiveram a grande alegria de receber a Imagem Peregrina do
Imaculado Coração de Maria no mês de janeiro, durante uma Missão Mariana realizada na região. Em cada casa,
houve a coroação da imagem da Santíssima Virgem e um momento de oração.
Marlon Castellanos
Estevão Mezquita
Guatemala – Desde o dia 11 de fevereiro, seis novos oratórios do Imaculado Coração de Maria estão
peregrinando entres as famílias da Paróquia dos Santos Reis e do Senhor de Esquipulas, no município de
Cuyotenango. A entrega dos oratórios ocorreu durante a Santa Missa, antes da qual a Imagem Peregrina
percorreu as ruas da cidade em procissão.
Timothy Ring
saúde e administração do Sacramento da Unção dos em Lima, no Peru, e nas cidades brasileiras de Salva-
Enfermos para os que necessitavam. Nas fotos abaixo, dor (BA) e Ponta Grossa (PR).
Xavier Jacob
Ronny Fisher
Paraguai México
Xavier Jacob
Eric Salas
Guilherme Abiti
Jano Aracena
Charles Batista
Caieiras (SP) – Dom Benedito Beni dos Santos, Bispo Emérito de Lorena, honrou com suas sábias palavras a abertura
do ano acadêmico do Instituto Teológico São Tomás de Aquino e do Instituto Filosófico Aristotélico-Tomista, dos Arautos
do Evangelho, no dia 28 de janeiro. Sua Excelência discorreu sobre o sacerdócio, a Eucaristia e o celibato clerical.
Roberto Hernández
Charles Batista
Flávio Grossi
1 2 3
Sacramento da Crisma – Jovens e adultos preparados pelos Arautos do Evangelho receberam em fevereiro
o Sacramento da Crisma. Acima, cerimônias realizadas na Paróquia Santa Helena, em San Salvador, por
Dom Luigi Roberto Cona, Núncio Apostólico em El Salvador (foto 1); na Paróquia Nossa Senhora das Graças,
em Mairiporã (SP), por Dom Sérgio Aparecido Colombo, Bispo de Bragança Paulista (foto 2); e na casa dos
Arautos em Salvador (BA), por Dom Valter Magno de Carvalho, Bispo Auxiliar da capital baiana (foto 3).
Fotos: Délio Almeida
São Sebastião (SP) – Com o fim de auxiliar as milhares de famílias desabrigadas devido às fortes chuvas que
atingiram o litoral norte de São Paulo em fevereiro, os Arautos do Evangelho promoveram a arrecadação de água
potável, mantimentos e roupas, os quais foram distribuídos aos necessitados através da paróquia local.
Jovismar Peixoto
1 2
Omar García
Fernando Machado
Valdeci da Silva
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Retiros espirituais – Por ocasião do feriado de carnaval, foram realizados diversos retiros espirituais para
os cooperadores e simpatizantes dos Arautos do Evangelho. Além das palestras proferidas por sacerdotes
arautos e dos períodos de meditações, os participantes puderam desfrutar de abençoados convívios com Jesus
Sacramentado. Nas fotos acima, aspectos dos retiros pregados nas cidades brasileiras de Maringá (foto 1),
Nova Friburgo (foto 2), Rio de Janeiro (foto 3) e Campos dos Goytacazes (foto 5), bem como em Bogotá,
na Colômbia (foto 4).
Reprodução
pos Católicos dos Estados Unidos pu- lidade do mundo moderno, mais de
blicou os resultados de uma enquete três mil pessoas participaram do Ro-
sobre o perfil dos religiosos que pro- sário pela Juventude Espanhola, reali-
fessaram votos perpétuos ao longo do zado na cidade de Madri no dia 11 de
ano de 2022 no país. A análise foi rea- Nomeado novo prefeito para fevereiro. A multidão de devotos per-
lizada pelo Centro de Pesquisa Aplica- a Biblioteca Vaticana correu diversas ruas do centro da capi-
da ao Apostolado da Universidade de O Pe. Mauro Mantovani, SDB, foi tal em direção à Praça de Espanha, re-
Georgetown e obteve dados revelado- recentemente nomeado como Prefeito citando o Terço entremeado com cân-
res sobre as tendências entre os jovens da Biblioteca Apostólica Vaticana. ticos religiosos, enquanto sacerdotes
que hoje abraçam a vida consagrada, O sacerdote salesiano, natural de atendiam Confissões e abençoavam os
demonstrando a importância da forma- Moncalieri, Itália, é doutor em Filoso- transeuntes que os procuravam.
ção católica na família, como primeiro fia e Letras pela Universidade Ponti- A iniciativa, que reuniu religiosos
impulso para a vocação religiosa. fícia de Salamanca, na Espanha, e em e leigos por terceiro ano consecu-
De acordo com a pesquisa, que Teologia pelo Angelicum de Roma, tivo, contou com a participação do
abordou cento e quatorze professos, além de membro da Pontifícia Acade- Arcebispo de Madri, Cardeal Carlos
cinquenta e dois homens e sessenta e mia São Tomás de Aquino e do Comi- Osoro Sierra, que alentou os jovens a
duas mulheres, a idade média dos no- tê Científico da Agência da Santa Sé “darem testemunho público de nossa
vos consagrados é de trinta e três anos. para a Avaliação e Promoção da Qua- Fé”. Emilio Esteban-Hanza, um dos
Dentre os entrevistados, 84% declara- lidade das Universidades e Faculda- organizadores do evento, salientou a
ram ser filhos de pais católicos, 91% des Eclesiásticas. Desde 2007 é pro- importância da presença dos símbolos
foram educados por um casal unido fessor titular da Universidade Pontifí- religiosos numa sociedade cada vez
pelo matrimônio e 30% têm um sacer- cia Salesiana de Roma, onde também mais secularizada, para “que lembrem
dote ou religioso na família. Ademais, exerceu os cargos de reitor, vice-reitor a todos o sentido transcendente de nos-
antes de abraçar a vida consagrada, e decano das Faculdades de Filosofia sas vidas, e que estamos neste mundo
70% deles rezavam com frequência o e de Ciências da Comunicação Social. com o objetivo de conquistar o Céu”.
Santo Rosário, e 77% participavam da
Adoração Eucarística. Quanto à edu-
Normas disciplinares Aeroporto norte-americano
cação, 48% frequentaram uma escola aplaudidas por pais e alunos tem nova capela
primária católica e 36% uma universi- Olga Narváez, diretora do Colégio O Aeroporto Internacional Harts-
dade católica. Misael Pastrana Borrero, na cidade de field-Jackson, localizado na cidade
Rivera, Colômbia, proibiu terminan- norte-americana de Atlanta e conside-
Fátima recebe quase cinco temente o uso de telefones celulares rado um dos mais movimentados do
milhões de peregrinos em sala de aula, assim como relacio- mundo, tem agora assistência sacra-
Ao longo do ano de 2022, o San- namentos amorosos entre os estudan- mental e uma capela com reserva do
tuário de Nossa Senhora de Fátima, tes durante o período escolar. Santíssimo. A bênção do local foi re-
em Portugal, recebeu um total de Em seu discurso de apresentação alizada por Dom Gregory John Hart-
4.937.294 peregrinos, o que constitui das normas que regem a instituição, mayer, OFM Conv, Arcebispo Metro-
um aumento de 481,9% em relação ao Olga lembrou aos pais, professores e politano, no dia 13 de fevereiro.
facebook.com/ilgitsj?fref=nf
to, Itália. As religiosas dominicanas cumento avalia em sessenta e três pá-
que cuidam do santuário constataram ginas as informações coletadas ao lon-
o ocorrido ao perceber danos na porta go do ano de 2022 a respeito da pres-
do sacrário e verificar as imagens das são exercida pelo Partido Comunista
câmeras de segurança. Chinês. Segundo o estudo, os altos
Apesar dos esforços dos carabi- mandatários do país têm forçado cada
neiros e das religiosas, as Hóstias não vez mais os fiéis a se submeterem à
foram encontradas. O Bispo de Prato, ideologia política do governo, usando
Dom Giovanni Nerbini, manifestou Na tragédia, um sinal meios como a demolição sistemática
profunda tristeza pelo ato sacrílego e o de esperança de igrejas, a penalização de reuniões
desejo de promover uma Adoração ao O catastrófico terremoto de magni- de culto com multas exorbitantes, a
Santíssimo e uma Missa em reparação tude 7,8 na escala Richter que assolou negação dos direitos fundamentais a
por mais esta profanação, que ultraja a a Turquia no dia 6 de fevereiro deixou cidadãos cristãos, a detenção dos líde-
Fé Católica e a Presença Real de Nos- dezenas de milhares de mortos e desa- res religiosos que resistem.
so Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. parecidos, e imergiu o país num panora- Especialmente alarmante é a cifra
ma de desolação. Contudo, um sinal de de desaparecidos entre clérigos – in-
Jovem cristã atacada com esperança se manteve de pé em meio à clusive Bispos – e leigos. Muitos ca-
ácido no Paquistão devastação geral: na cidade de Alexan- tólicos foram arbitrariamente presos
Sunita Masih, uma paquistanesa de dreta, uma imagem da Virgem Maria em todo o país, recebendo penas des-
dezenove anos, foi brutalmente agredi- permaneceu incólume entre as ruínas da proporcionais, sem direito a defesa,
da com ácido por seu vizinho muçul- Catedral da Anunciação, principal igre- sem assistência médica e sem contato
mano, Kamran Allah Bux, após negar- ja do Vicariato Apostólico da Anatólia. com seus familiares.
“ P
rimeiro-tenente Louis quanto para lá se dirige, vêm-lhe à tarefas mais importantes, pelo bem do
Laforge, sua obediên- mente pensamentos como: “A qual conjunto. Por mais que ele seja ainda
cia, competência e bom missão o meu comandante me convo- inexperiente, tenho a certeza de que o
desempenho nos trei- cará? Ele, sempre muito sábio, deve senhor mesmo sairá beneficiado desta
namentos e combates lhe mereceram ter escolhido o quartel-general inimi- convivência e aprenderá novos princí-
subir de patente. Tenho a honra de go para eu atacar, ou então uma base pios a respeito do comando.
nomeá-lo Capitão Louis Laforge, do secreta, ou até…” E a cada passo uma Sem ousar levantar qualquer ou-
Quadro de Aviação da Aeronáutica nova ideia surge. tra objeção, Louis bate continência e
Francesa!” Entra na sala, bate continência e acata a ordem dada:
Ano de 1944, em plena Segunda permanece na posição de sentido até — Sim, senhor!
Guerra Mundial. Tal notícia era uma o superior lhe dar a permissão de es- — Pode se retirar.
grande consolação para quem se en- tar à vontade. Na manhã seguinte o capitão se di-
contrava em meio a inúmeras bata- — Vou lhe conceder uma recom- rige à entrada da base aérea, a fim de
lhas. Desde sua entrada no exército, pensa pelos nobres serviços prestados se encontrar com seu auxiliar. O jo-
Louis desejava servir inteiramente à nossa companhia. Amanhã chegará vem tenente está à espera e seus olhos
ao que tanto amava: sua pátria, berço aqui um segundo-tenente; chama-se percorrem todos os cantos, à procura
de reis intrépidos e exemplos de fé, Bernard-Jean e foi designado como de seu chefe imediato. Louis se apro-
como São Luís IX, e de camponeses seu auxiliar. Enquanto ele estiver sob xima e diz:
aguerridos que, desejosos do triunfo suas ordens, o senhor deve paulatina- — O senhor é o Segundo-Tenente
da Fé Católica, derramaram o sangue mente instruí-lo na arte da guerra, a Bernard-Jean?
nas lutas da Vendée. fim de que se torne um bom aviador, — Sim, senhor! Às ordens! Estou
O Capitão Laforge possuía muita pois fará parte de nossa equipe. pronto para obedecê-lo no que for
experiência. Servia à Força Aérea ha- — Mas, major, há duas décadas preciso.
via duas décadas. As tarefas rotinei- sirvo à Aeronáutica e nunca precisei — Muito bem. Começaremos da-
ras, as executava de olhos fechados: de um ajudante. Creio que agora não qui a uma hora.
ligar o avião, ajustar os alvos de tiro, será o momento de receber um… O jovem sai, apronta-se rapidamen-
verificar a altitude e a reserva de com- — Capitão Laforge, quando subi- te e volta, ansioso, para cumprir seu
bustível para o deslocamento, conferir mos nos quadros da oficialidade, todos dever. A cada dia que passa, ele apren-
o funcionamento da aeronave, etc. nós, tanto peritos quanto novatos, pre- de com maior avidez tudo quanto lhe é
No dia 30 de abril, o novo capitão cisamos de um assistente nos afazeres transmitido e esforça-se o máximo em
é chamado ao gabinete do major. En- comuns para podermos nos d edicar às ser um apoio para o superior.
Francisco Lecaros
e vivendo de esmolas. Faleceu em
Roma, aos trinta e cinco anos. Igreja Romana.
A
bandonados ao calor caus- egoisticamente como grãos de areia… Pelo contrário, resistiremos in-
ticante do sol, que dardeja Estaremos indenes aos males que tal victos se soubermos nos apoiar no
em seu máximo fulgor, os comportamento implica? próximo, quando nosso relaciona-
grânulos quase insignifi- Todos nós, sem exceção, fomos in- mento está fundamentado no amor a
cantes de uma terra infértil formam os seridos numa sociedade: na família, Deus. Amparando-nos mutuamente,
desertos ou as praias que se espalham na religião, na escola, no trabalho, no e assumindo a fraqueza ou a alegria
pelo orbe: a abundante areia, incapaz círculo de amizades, na vocação re- alheias como próprias, não nos aba-
inclusive de reter a elevada temperatu- ligiosa… Contudo, embora estejamos teremos ante desastres interiores ou
ra que recebe durante horas, espalha- próximos uns dos outros e até eventu- exteriores, mas, unidos a nossos ir-
-se pelos continentes e está à mercê do almente executemos algum afazer ou mãos na Fé, resistiremos como um
vento, que a leva para longe de onde missão em parceria, podemos cair na penhasco que enfrenta incólume fu-
originalmente estava. tendência de nos preocuparmos ape- racões e mares encapelados. Obser-
Entre grão e grão, nenhuma cone- nas com nossos próprios interesses, vemos a rocha e comprovaremos: ela
xão existe; não há irmandade ou liga- sem estabelecer um verdadeiro vín- é firme porque constitui um único
ção, nem sequer um relacionamento culo de alma com os demais. elemento; ao se desagregar torna-se
mútuo. Cada um parece ignorar a ex- E esse deplorável modo de pro- areia, que perambula sem rumo por
tensa sociedade da qual faz parte. Sob ceder não deixará de ter consequên- onde o vento a conduz.
o efeito da água juntam-se, é verdade, cias… A primeira delas é o risco de Façamos um propósito nesta rá-
mas não formam uma unidade. Facil- não desenvolvermos nossa persona- pida meditação: nada de egoísmos!
mente se separam uns dos outros, para lidade, pois só atingimos a plenitude Doemo-nos aos outros, interessemo-
estar chacun dans sa chacunière.1 de nós mesmos junto aos outros, ja- -nos por eles, consolidemos com
Há na areia aspectos muito bonitos mais sozinhos. nosso próximo laços de verdadeira
que poderíamos ressaltar, mas parta- Ademais, o egoísta está sujeito a ser caridade. Desviemos nosso olhar de
mos deste pormenor de sua constitui- arrastado por qualquer ventania, com nós mesmos, para deitá-lo naqueles a
ção para reflexionar sobre certas ati- prejuízo para sua vida terrena e eterna! quem podemos auxiliar. Tal decisão
tudes nossas e indagar se agimos bem Com efeito, quem conseguirá superar atrairá graças para nossa santificação
Iago Casabiell González (CC by-sa 4.0)
ou mal, moralmente falando. os sofrimentos da existência presente e a dos demais, e concorrerá para que
Enquanto seres inanimados, esses e alcançar o Céu escorado apenas em os planos de Deus se cumpram na
granulozinhos não têm consciência suas próprias forças? Já o Eclesiastes História. ²
de seu “individualismo”, pois se trata deixou consignado o seguinte ensina-
de uma característica da natureza com mento: “Se um vem a cair, o outro o
a qual Deus os criou. O mesmo, po- levanta. Mas ai do homem solitário: se 1
Expressão francesa que pode ser usa-
rém, não se passa conosco quando, em ele cair não há ninguém para o levan- da para exprimir disposições egoístas, no
nosso relacionamento social, vivemos tar” (4, 10). sentido de “cada um em seu mundinho”.
No alto, Parque Cultural de Ahaggar (Argélia); logo abaixo, diferentes amostras de grãos de areia do Museu
Wiesbaden (Alemanha). No fundo, areia da praia de Morouzos, Ortigueira (Espanha)
Sumário
Santa Gema Galgani,
fotografada aos vinte
e um anos
Reprodução